CAPÍTULO 3 – INDÚSTRIA CULTURAL – Pg. 86 Admirável chip novo Mas lá vem eles novamente, eu sei o que vão Tenha, more, gaste, viva fazer: Pense, fale, compre, beba Reinstalar o sistema Leia, vote, não se esqueça Use, seja, ouça, diga Não, senhor, Pense, fale, compre, beba Leia, vote, não se esqueça Sim, senhor, Não, senhor, Sim, senhor Use, seja, ouça, diga Tenha, more, gaste, viva Pane no sistema, alguém me desconfigurou Aonde estão meus olhos de robô? Pense, fale, compre, beba Eu não sabia, eu não tinha percebido Leia, vote, não se esqueça Eu sempre achei que era vivo Use, seja, ouça, diga Parafuso e fluido em lugar de articulação Até achava que aqui batia um coração Não, senhor, Sim, senhor, Não, senhor, Sim, Nada é orgânico, é tudo programado senhor E eu achando que tinha me libertado Mas lá vem eles novamente, eu sei o que vão fazer: Reinstalar o sistema
os meios de comunicação, tais como a televisão, o rádio, a internet, o cinema, são agentes que promovem a socialização e, como Gramsci chamou, são “aparelhos da hegemonia”. Mas o que significa dizer que os meios de comunicação são agentes socializadores?
Tomando a televisão como exemplo, é possível perceber que os programas
exibidos mostram determinados aspectos da realidade e omitem outros. Isso não quer dizer que a televisão está necessariamente manipulando as pessoas, mas que tudo o que é veiculado pressupõe uma construção anterior que dá visibilidade para algumas informações, práticas, valores e sujeitos e invisibiliza outras tantas dimensões da realidade. Nesse processo, os conteúdos veiculados pela televisão, bem como por qualquer outro meio de comunicação, podem incentivar certos comportamentos e desencorajar outros, legitimar certos saberes e deslegitimar outros, empoderar certas pessoas e desempoderar outras. Efetivamente não há nenhum problema em reconhecer que os nossos valores são construídos. Isso faz parte da dinâmica da cultura. O problema começa quando deixamos de perceber esses processos de construção e passamos a aceitar o que os meios de comunicação oferecem como uma única realidade. Ao analisar os noticiários televisivos franceses, o sociólogo Pierre Bourdieu chamou esse processo de uma forma de “violência simbólica”. Ou seja, um processo pelo qual os espectadores recebem os conteúdos como se fossem a única maneira aceita e valorizada de se viver ou interpretar o mundo, sem revelar que tais conteúdos são apenas visões estereotipadas que formam uma hegemonia cultural. TELEVISÃO
surgiu no Brasil na década de 1950 com a primeira rede de
transmissão, a TV Tupi. Muitas programações fazem parte do contexto cultural de uma grande parte parcela da população brasileira, como as novelas, e tendem a apresentar certos tipos de comportamentos; por exemplo, a violência.
algumas programações tendem a reforçar aspectos positivos de
comportamentos como campanhas solidárias, programas voltados às questões sociais ou ambientais, também relacionadas à cultura e à informação
Entretanto, existem algumas programações que são mais visualizadas
e que fazem o sucesso da televisão em determinado tempo e lugar. INTERNET
se desenvolveu no Brasil aproximadamente na década de 1990
atualmente é considerada um dos principais agentes de socialização.
Apresenta, hábitos de consumo, modelos de comportamentos e uma
gama de informações que podem ser questionadas, propondo muitas vezes uma ideologia.
pode posicionar-se de forma crítica ou não aos modelos culturais
vigentes e funcionar como um dos mecanismos de controle casuais, ou seja, promover o isolamento social mesmo possibilitando que um indivíduo fale com o mundo instantaneamente. Os agentes de socialização são necessários , pois tudo que acontece à nossa volta, em nossa cidade, em nossa comunidade e em nossa família é importante para o nosso crescimento, para o cumprimento de nossos papéis na sociedade, para que compreendamos todo o tecido social. E, por isso, devemos participar ativamente da sociedade e da teia de relações, não apenas em rede pela internet. Produção cultural ou consumo? Qual é a ideologia dos meios de comunicação?
O termo “indústria cultural” foi primeiramente utilizado pelos filósofos Theodor
Adorno e Max Horkheimer, da Escola de Frankfurt, na década de 1940. Conforme citam Horkheimer e Adorno (1997, p. 45): “Desde o começo é possível perceber como terminará um filme, quem será recompensado, punido ou esquecido; para não falar da música leve em que o ouvido acostumado consegue, desde os primeiros acordes, adivinhar a continuação e sentir-se feliz quando ela ocorre”. A indústria cultural, nessa perspectiva, tende a propor comportamentos e validar outros. Ela está inserida na sociedade e promove normas, regras por meio de estilos de vida, propagandas, hábitos e conceitos. O indivíduo é ideologizado por essa indústria cultural que, mesmo no seu lazer, acaba recebendo inúmeros apelos de consumo, de comportamento e de práticas sociais. O cinema, por exemplo, envolve o espectador ansioso pelo enredo do filme em teias e mecanismos psicológicos. Ele projeta nas pessoas as suas necessidades, não as reais ou básicas, mas aquelas aparentes de um sistema que nos faz consumir de maneira voraz. E o consumidor acabaria ficando sempre insatisfeito como se o que acabara de comprar não mais o contentasse, pois inúmeras cores e novos modelos estão sendo lançados e chegarão às lojas em poucos dias. Desse modo, os espectadores, transformados em consumidores, estariam presos a uma luta, uma competição, que não teria fim. E o que se comprou talvez já não seja o último modelo. Isso lhe causa uma frustração e insatisfação constante. Um ritmo desenfreado de possibilidades estéticas e artificiais. Como se libertar, então, das amarras colocadas pelo sistema de consumo? Como pensar de forma diferente da ideologia dominante? Segundo os autores, isso poderia ocorrer com a arte. A arte poderia libertar o indivíduo e propor uma autonomia de pensamento e descobertas.