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2.1.1.

Demonstração e argumentação
LÓGICA FORMAL

Estuda as condições formais que os argumentos dedutivos devem cumprir


para serem considerados corretos ou válidos.

Qualquer argumento dedutivo pode ser avaliado do ponto de vista formal :


é possível demonstrar a sua validade ou invalidade, independentemente da
verdade ou plausibilidade das suas premissas e conclusão.

Mas para um argumento dedutivo ser aceitável, persuasivo


e convincente não basta ser formalmente válido: as suas
proposições devem também ser verdadeiras.
Exemplo

As pessoas muito inteligentes têm direito à liberdade. 


Os assassinos em série são pessoas muito inteligentes.
Logo, os assassinos em série têm direito à liberdade.

Apesar de ser considerado válido, este argumento dedutivo parte


de premissas duvidosas, discutíveis, polémicas e chega a uma
conclusão totalmente inaceitável.

Embora se possa demonstrar que o argumento é formalmente válido, tal argumento


dificilmente terá a capacidade de convencer um vasto número de pessoas, sendo
possível argumentar a favor ou contra cada uma das suas proposições.
Além dos dedutivos, usamos argumentos indutivos, por analogia, de
autoridade – argumentos cuja validade depende de aspetos que vão para lá
da sua estrutura formal.

LÓGICA INFORMAL

Tentativa de desenvolver um modo de avaliar e analisar os


argumentos que ocorrem na linguagem comum, partindo do seu
conteúdo/matéria e do seu potencial persuasivo.

Tem em atenção todo o tipo de argumentos cujo potencial


persuasivo não dependa apenas de critérios formais, mas também
de critérios dialéticos, informais.
Está relacionada com
LÓGICA
esquemas argumentativos
INFORMAL num contexto de diálogo.

RETÓRICA ARGUMENTAÇÃO

Arte de bem falar e de argumentar. Tem por objetivo persuadir e convencer um


auditório a respeito de determinado assunto, levando-o a aceitar que uma certa
tese ou opinião é preferível àquela que se lhe opõe.
Para conduzir alguém a uma
Para conduzir alguém a uma
conclusão apenas verosímil,
conclusão que resulte necessariamente
plausível, preferível e razoável,
das premissas, precisamos apenas de o
demonstrar seguindo os critérios da:
teremos de argumentar seguindo os
critérios da:

LÓGICA FORMAL RETÓRICA

DEMONSTRAÇÃO ARGUMENTAÇÃO

Argumentar é fornecer razões a


Demonstrar é fornecer provas lógicas favor ou contra uma determinada
irrecusáveis, encadeando proposições tese ou conclusão, tendo por
de tal modo que, a partir da primeira, finalidade provocar a adesão das
se é racionalmente constrangido a pessoas a essa tese, pelo que é
aceitar a conclusão. necessário que ela lhes pareça
razoável.
visa mostrar a relação/conexão necessária entre visa provocar a adesão do auditório a uma tese
a conclusão e as premissas OBJETIVO verosímil, plausível, preferível, provável

caracteriza-se pela univocidade própria da caracteriza-se pela equivocidade própria da


lógica e das suas regras linguagem natural
D A
E permite uma única interpretação pela permite uma pluralidade de interpretações pela R
pobreza da linguagem formal riqueza da linguagem natural
M LINGUAGEM G
O reduz-se a um cálculo lógico-formal
apresenta razões a favor ou contra uma U
determinada tese
N M
S é independente da matéria ou conteúdo é dependente da matéria ou conteúdo
E
T N
R é impessoal ao nível da prova: a validade não é pessoal: dirige-se a indivíduos em relação aos T
OPINIÃO
A depende em nada da opinião quais se esforça por obter adesão
A
Ç Ç
é isolada de todo o contexto é contextualizada
à Ã
O CONTEXTO O
é dominada pela autoridade lógica E é dominada pela intersubjetividade
AUDITÓRIO

é independente do orador e do auditório é dependente do orador e do auditório

Apesar de distintas, demonstração e argumentação não estão separadas: nos diferentes discursos são
combinados processos simultaneamente demonstrativos e argumentativos .
A procura de adesão do auditório
SER Ser que comunica: tem opiniões, crenças, valores e tende a partilhá-los com os
HUMANO outros, desenvolvendo um ponto de vista próprio sobre o mundo em que vive.

Na comunicação que estabelece com os outros, ele pode querer marcar uma
posição, convencer alguém, defender a sua opinião, etc.

Domínio da argumentação e da retórica

Imagem 1 Imagem 2
Imagem 2
Imagem 1 A imagem procura alertar para os perigos
da água poluída sobre as crianças.
A imagem representa a água em forma de A pistola de água, “brinquedo” no mundo
cogumelo, tal como a bomba atómica, ocidental, é uma metáfora forte para
referindo que “1,5 milhões de crianças morrem evidenciar o poder de uma arma, que, por
a cada ano por beber água poluída”. conter água poluída, mata tanto como a
A bomba serve de metáfora eficaz para verdadeira.
evidenciar a destruição e a devastação que a A imagem da criança a pontar a arma
água poluída pode causar. contra si própria sugere que a água
poluída presente na arma é mortal e bebê-
la seria suicídio.
1. Quem transmite as
A UNICEF é o orador responsável pelas imagens/campanhas.
mensagens?

2. O que se está a tentar A posição ou tese que se pretende defender é a de que todas as
defender? crianças têm o direito a não beber água poluída.

3. A quem se dirige cada Estas imagens dirigem-se a um auditório universal, ou seja, a toda
uma das imagens? a humanidade.

O meio/instrumento usado é a imagem, a qual, em caso de


4. Parece-lhe eficaz o
campanhas que visam chegar a um auditório universal, constitui o
meio usado?
meio mais eficaz, dado não sofrer constrangimentos linguísticos.
Argumento

Conjunto de instrumentos usado para suportar ou justificar a


razoabilidade e plausibilidade de uma tese ou opinião.

Esses instrumentos podem ser imagens ou um conjunto de


proposições usadas para suportar a tese ou conclusão.

A argumentação é um conjunto de técnicas cuja finalidade


consiste em provocar ou aumentar a adesão de um auditório às
teses que se apresentam ao seu assentimento.

Importância da relação entre o orador e o auditório.


Orador

Deve conhecer previamente as motivações, as


aspirações, os valores e as crenças do auditório.

Na posse desse conhecimento, poderá adaptar ao


auditório o tipo de linguagem, de exemplos, etc.

Modo de tornar a argumentação eficaz,


garantindo uma boa receção da tese.
Elementos da argumentação

Opinião do Contexto de
Orador Argumento Auditório
orador receção

Conjunto de
Opinião opiniões, valores e
Aquele que Pode tratar-se de juízos que um
formulada para
Pertence ao argumenta, em uma pessoa, de auditório partilha
convencer,
domínio do seu nome ou em um público, de e que têm um
podendo ser
verosímil: tese, nome de outrem, um conjunto de papel essencial na
apresentada por
causa, ideia ou expondo a sua públicos ou receção do
escrito, argumento: na
ponto de vista. opinião a um mesmo do
oralmente, pela aceitação, rejeição
auditório. próprio orador.
imagem, etc. ou adesão
variável.
Processo
argumentativo

Nem sempre o auditório é uniforme e homogéneo.

Num único auditório, podem existir pequenas especificidades.

Elas obrigam o orador a fazer um discurso mais abrangente ou a


procurar argumentos que vão ao encontro das várias particularidades.

Para que a tese obtenha a adesão desejada, o orador pode ter de ir ao


encontro de diferentes auditórios particulares, adaptando os argumentos
e a linguagem às suas distintas características e motivações.
Orador: APAV.
Tese: A violência é um crime que deve ser denunciado.

Argumento 1 Argumento 2
Quem não te respeita Há marcas que
não te merece. ninguém deve usar.

Auditório 1:
Auditório 2:
jovens
mulheres
(do sexo feminino e
(jovens e adultas).
masculino).

Contexto de receção:
Contexto de receção:
crenças dos jovens em
crenças das mulheres em
idade escolar relativas
relação à violência e em
ao namoro, ao assédio
relação à sua própria
verbal e à violência em
dignidade.
geral.

Adesão, ou não, à tese.


Persuadir e convencer:
ethos, pathos e logos
Processo argumentativo

Objetos de acordo

Premissas admitidas pelo auditório: podem ser crenças, valores e


verdades que fazem parte da opinião coletiva do auditório.

Do âmbito do real: Do âmbito do preferível:


factos, verdades e valores, hierarquias e
presunções. juízos de valor.

O orador deve começar por escolher o objeto de acordo que melhor se


ajuste às motivações do auditório, para o persuadir ou convencer.
PERSUADIR CONVENCER

Objetivo do discurso Segundo Objetivo do discurso


dirigido a um auditório C. Perelman dirigido a um auditório
particular. universal.

Persuade-se um Convence-se um
auditório particular, auditório universal, a
tendo em conta a sua partir de argumentos
especificidade afetiva, racionais que são
valorativa, etc. universalizáveis.

Um discurso convincente é aquele cujas


premissas e cujos argumentos são
universalizáveis, isto é, aceitáveis, em princípio,
por todos os membros do auditório universal.

Mas, dado que o discurso argumentativo combina a arte de persuadir


com a de convencer, não se deve estabelecer uma distinção demasiado
rígida entre os dois conceitos.
Dimensões da relação retórica
segundo Aristóteles

ETHOS PATHOS LOGOS

A eficácia da argumentação persuasiva depende destes três pilares fundamentais:


do facto de ajuizarmos (logos), do facto de os juízos nos parecerem credíveis e
fiáveis (ethos) e do facto de nos provocarem impressões por via das emoções que
em nós despertam (pathos).
Ethos

Um dos aspetos que nos levam a confiar no discurso de alguém, a ouvi-


lo e a aderir aos argumentos é o caráter do orador, ligado à ideia que
temos da sua credibilidade.

Estamos predispostos a ouvir determinados assuntos se a cada um deles


corresponder um orador que consideremos especialista desse domínio
do saber.

Temos sempre expectativas positivas ou negativas do orador: confiamos


ou desconfiamos dele, e tendemos a dar crédito aos argumentos usados
por oradores que consideramos dignos de confiança, honestos, sinceros
e especialistas na área de saber em causa.
Pathos

Para conseguir persuadir e convencer o auditório, o orador deve também criar


uma empatia com tal auditório.

Criação de um ambiente de proximidade e de envolvência, suscitando no auditório


emoções que o predisponham a aceitar a tese proposta.

Adaptar-se ao auditório: pelos objetos de acordo, pela linguagem, pelo


conhecimento prévio das motivações e características dos interlocutores, pela
capacidade de captar e manter a atenção.

Um auditório impressionado, que sente, tem emoções e não é indiferente está mais
predisposto a aceitar a tese do que um auditório apático.

Os sentimentos que predispõem o auditório a aceitar uma tese podem ser positivos
ou negativos: depende do tipo de tese.
Logos

Encontra-se associado à consistência e à solidez do discurso.

A maneira como os assuntos são abordados e a consistência com que


os argumentos são apresentados fazem toda a diferença no processo
de adesão do auditório a uma tese.

Para ser eficaz, um discurso argumentativo deve fazer sentido, estar


corretamente estruturado e ser rico ao nível da informação, dos
factos ou das estatísticas que apresenta.
Dimensões da relação retórica

ETHOS PATHOS LOGOS

É a dimensão relativa
aos argumentos, ao
É a dimensão relativa É a dimensão relativa
discurso. O discurso
ao caráter do orador. ao auditório. Este
deve estar bem
Este deve ser virtuoso deve ser
estruturado do ponto
e credível para emocionalmente
de vista lógico-
conseguir a confiança impressionado e
argumentativo, para
do seu auditório. seduzido.
que a tese se imponha
como verdadeira.
DISCURSO DA
DISCURSO Exemplos de discursos que pretendem
PROPAGANDA
PUBLICITÁRIO cativar a atenção do auditório
POLÍTICA

É dirigido a um auditório
Faz promessas veladas.
específico.

Tenta responder a necessidades, Opta por mensagens curtas


DISCURSO
mas também as cria. (imagem/sonoridade), com pouca
PUBLICITÁR
IO informação.

Propõe de forma condensada uma


Atua a um nível implícito e
visão do mundo (sistema de
inconsciente, sugerindo associações.
valores).

É sedutor, pois dirige um apelo


específico à sensibilidade e à
emoção.
Propaganda política

Para ser eficaz deve ir ao encontro ou responder às necessidades


e preocupações manifestadas pela opinião pública.

OPINIÃO PÚBLICA

Conjunto de pensamentos, conceitos e representações gerais dos cidadãos


sobre as questões de interesse coletivo. É a voz da sociedade civil ou a
expressão da vontade coletiva.

Dá forma à política e pode, inclusive, derrubar governos.


Dois tipos de
opinião pública

Baseado nas instituições:


Não baseado nas instituições:
imprensa, partidos políticos,
comentários e conversas que as
associações, universidades,
pessoas têm sobre
comércio livreiro, rádio, teatro,
acontecimentos recentes.
cinema, televisão, etc.

Mas a opinião pública é, hoje, muito mais opinião de massas, opinião


(de)formada pelos meios de comunicação social.

Atualmente, não é tanto a opinião pública que dá forma à política, mas é mais o discurso
político, divulgado pelos meios de comunicação social, que dá forma à opinião pública.
OPINIÃO PÚBLICA

Dirige-se a vários auditórios Utiliza interrogações retóricas,


particulares. expressões ambíguas e repetições.

É sedutor, na medida em que DISCURSO


procura atrair as massas. DA Reforça opiniões prévias.
PROPAGAND
A POLÍTICA

É muitas vezes manipulador e Forma a opinião pública e é


demagógico. também formado por ela.
O discurso argumentativo – principais
tipos de argumentos e falácias informais
2.2.1. Tipos de argumentos
Discurso argumentativo
Estrutura e organização

Introdução Desenvolvimento Conclusão

Deve consistir na
Deve ser o mais breve
apresentação dos
possível, consistindo
argumentos
numa apresentação Deve apresentar uma
favoráveis à tese, bem
sumária da tese que síntese que permita
como dos argumentos
se irá defender, ao confirmar a
que servem para
mesmo tempo que se relevância da tese.
combater teses
procura captar a
opostas, do modo
adesão do auditório.
mais claro possível.

A linguagem deverá ser o mais clara e concreta possível e os argumentos devem


ser apresentados de um modo que permita distinguir as premissas da conclusão.
É também fundamental usar premissas plausíveis e verosímeis.
O QUE É A LÓGICA INFORMAL?

 1 –A lógica informal é o estudo de argumentos


cuja validade não depende exclusivamente da
sua forma lógica.

 2 – O estudo da lógica informal é necessário


porque usamos argumentos que, não excluindo a
possibilidade de a sua conclusão ser falsa, nos
dão razões para aceitarmos que a conclusão é
plausível, provável ou verosímil.
O QUE É A LÓGICA INFORMAL?

 3 - A lógica informal é necessária para avaliar os


argumentos que, apesar de dedutivamente
inválidos, dão algum apoio à conclusão.

 4 - A lógica informal estuda as regras ou padrões


que tornam um argumento forte.

 5 - A lógica informal é necessária porque


precisamos de uma lógica que não prescinda de
referências aos conteúdos.
O QUE SÃO ARGUMENTOS
INFORMAIS?
Os argumentos informais válidos são argumentos
em que a verdade das premissas (apesar de não
tornar a conclusão necessariamente verdadeira) é
razão suficientemente forte para acreditarmos na
verdade da conclusão.

Na âmbito da lógica informal, dizer que um


argumento é válido é dizer que é forte.

A lógica informal admite que os argumentos tenham


graus de força que oscilam entre o muito fraco e o
muito forte, passando pelo moderadamente forte.
O QUE SÃO ARGUMENTOS
INFORMAIS?
 Vejamos o seguinte argumento:

 João – «Não acredito que tenha ouro no


meu terreno. Nunca tive notícia de haver
ouro por estas bandas e em terrenos deste
tipo não é hábito encontrar ouro. Além
disso, já abri poços e caboucos e nunca vi
ouro nenhum.»
O QUE SÃO ARGUMENTOS
INFORMAIS?

 Apesar de o argumento ser forte pode haver ouro


naquele terreno e a conclusão ser falsa.

 Ao contrário da lógica formal (que permite confirmar a


validade do argumento apenas pela análise da sua
forma) a lógica informal tem necessariamente de
atender ao conteúdo das premissas.
O QUE SÃO ARGUMENTOS
INFORMAIS?
 Concluímos que um argumento é forte quando
pensamos que muito provavelmente a realidade não
vai negar a conclusão.

 Ou seja:

A lógica informal é o estudo de argumentos cuja


validade não depende exclusivamente da sua
forma lógica.
Tipos de argumentos

Argumentos Argumentos não


dedutivos dedutivos

Argumentos Argumentos por Argumentos de


indutivos (induções) analogia autoridade

Generalização Previsão

A validade dos argumentos não dedutivos não depende da forma lógica, mas do grau de
probabilidade, razoabilidade ou relevância das proposições que compõem o argumento.
Argumentos indutivos: GENERALIZAÇÃO
argumentos em que a conclusão acerca de um grupo de objetos é estabelecida a
partir da Argumento
observaçãocuja conclusão
Argumento de
cujauma
é mais
amostra
conclusão
geralgrupo
desse
é mais
do quede
a(s)objetos.
geral do que
premissa(s).
A generalização
a(s) premissa(s).
consiste em atribuir a todos os casos possíveis de certo género aquilo que se
verificou em alguns casos desse mesmo género.
REQUISITOS DE VALIDADE DAS GENERALIZAÇÕES:
- partir de casos particulares representativos;
- não existência de contraexemplos.

 
  EXEMPLO DE UMA GENERALIZAÇÃO VÁLIDA:
O cão Mondego tem pelo. Logo, todos os cães têm pelo.
Qualquer cão parece ser um caso representativo e ainda não se acharam contraexemplos .

EXEMPLO DE UMA GENERALIZAÇÃO INVÁLIDA:


O medicamento para a tosse teve efeitos secundários graves para a saúde do meu
primo. Logo, todos os medicamentos fazem mal à saúde.
Aquele medicamento não é representativo de todos os medicamentos e não será difícil
encontrar um contraexemplo suscetível de tornar ilegítima a conclusão.
AS GENERALIZAÇÕES

• A generalização não garante que a sua conclusão é


verdadeira.

• Como a conclusão é mais geral do que a premissa, a


generalização não pode garantir que um dos casos por
observar não venha a refutar a conclusão.

• O máximo que conseguimos com este tipo de


argumento é legitimidade para tratar a conclusão
como sendo muito provável.
AS GENERALIZAÇÕES
CUIDADOS A TER COM AS GENERALIZAÇÕES QUE FAZEMOS

Regra 1. A amostra deve ser ampla.


Quanto maior for a amostra observada mais forte o argumento
será.

Regra 2. A amostra deve ser relevante ou


representativa.
Uma amostra relativamente grande pode ser a base de uma
generalização mais fraca do que outra baseada numa amostra
menor que contenha informação mais relevante.

Regra 3. A amostra não deve omitir informação


relevante.
Um argumento, mesmo sendo baseado numa amostra ampla e
relevante, será fraco se omitir informação relevante
Argumentos indutivos: PREVISÃO
Argumento que, baseando-se em casos passados, antevê casos
não observados, presentes ou futuros.

A sua validade está dependente da probabilidade de a conclusão corresponder,


ou não, à realidade. Este é um tipo de argumento muito usado pelas ciências.

 
  EXEMPLO DE UMA PREVISÃO VÁLIDA:

Todos os 2700 feijões que retirei deste saco são brancos.


Logo, o próximo feijão que retirar deste saco é branco.
Trata-se de uma previsão válida, na medida em que é provável que a
conclusão corresponda à realidade. A verdade da premissa fornece uma forte
razão para aceitar a conclusão.
Argumento por analogia
Argumento que consiste em partir de certas semelhanças ou relações entre dois objetos ou duas
realidades e encontrar novas semelhanças ou relações.

O argumento por analogia baseia-se na comparação estabelecida entre as coisas,


supondo semelhanças novas a partir das já conhecidas.
 
  EXEMPLO DE UM ARGUMENTO POR ANALOGIA:
Quando alguém entra para uma equipa de futebol, concorda em obedecer às decisões do treinador.
A administração americana é como uma equipa de futebol. Logo, quando alguém entra para a
administração americana, concorda em obedecer às decisões do presidente.

Equipa de futebol = Administração americana


Treinador Presidente
 
Mas, se a administração americana é semelhante, em certos aspetos, a uma equipa de futebol, noutros
aspetos será diferente. Um argumento por analogia é válido se as semelhanças entre as realidades
forem mais relevantes do que as diferenças.

EXEMPLO DE UM ARGUMENTO POR ANALOGIA INVÁLIDO: Os raciocínios por analogia


O Universo é infinito. são muito frequentes na
A sociedade é tão complexa como o Universo. infância. Também a arte se
Logo, a sociedade é infinita.  baseia bastante na analogia.
OS ARGUMENTOS POR ANALOGIA

Vejamos o seguinte exemplo:

Como este cão é muito semelhante ao do Miguel,


também deve morder sem razão aparente.
OS ARGUMENTOS POR ANALOGIA

 Neste argumento, usam-se as semelhanças entre o cão do


Miguel e o cão sob observação para justificar a atribuição ao
segundo da propriedade de «morder sem razão aparente», já
verificada no primeiro.

 Como é frequente em contextos práticos, o argumento apenas


declara que existem semelhanças. Se estas fossem explicitadas,
obtínhamos um argumento com este aspeto:

O cão do Miguel é semelhante a este em raça, porte e


olhar nervoso.
O cão do Miguel morde sem razão aparente.
Logo, este cão morde sem razão aparente.
OS ARGUMENTOS POR ANALOGIA
CUIDADOS A TER COM AS ANALOGIAS QUE FAZEMOS

Regra 1. A amostra deve ser suficiente.

Regra 2. O número de semelhanças deve


ser suficiente.

Regra 3. As semelhanças verificadas


devem ser relevantes.
Argumento de autoridade
Argumento que se apoia na opinião de um
especialista para fazer valer a sua conclusão.

Requisitos para ser considerado válido:


•o especialista usado deve ser um perito no tema em questão;
•não pode existir controvérsia entre os especialistas do tema em questão;
•o especialista invocado não pode ter interesses pessoais no tema em causa;
•o argumento não pode ser mais fraco do que outro argumento contrário.

EXEMPLO DE UM ARGUMENTO DE AUTORIDADE VÁLIDO:

Einstein disse que  E = mc². Logo, E = mc².


 (A energia é igual à sua massa multiplicada pela velocidade da luz ao quadrado....)

EXEMPLO DE UM ARGUMENTO DE AUTORIDADE INVÁLIDO:

O futebolista X disse que  E = mc². Logo, E = mc².


 
OS ARGUMENTOS DE APELO À AUTORIDADE

Num argumento de apelo à autoridade declara-se que a


conclusão é verdadeira pelo facto de uma pessoa ou
organização tidas por autoridades no assunto a declararem
verdadeira.
OS ARGUMENTOS DE APELO À AUTORIDADE

CUIDADOS A TER PARA QUE UM ARGUMENTO DE APELO À


AUTORIDADE NÃO SEJA FALACIOSO
Regra 1. As pessoas ou organizações citadas têm de ser
reconhecidos especialistas nas matérias em questão.
Defender o uso de uma vacina por recomendação da Organização
Mundial de Saúde é justificado. Mas defender a pena de morte ou o
consumo da cerveja Alpha por recomendação de um famoso futebolista
parece uma clara violação desta regra. A tradição designou esta falácia
por ad verecundiam – apelo a uma autoridade não qualificada.

Regra 2. Deve haver consenso entre os especialistas sobre as


matérias em questão.
Se não há consenso entre os especialistas, não faz sentido citar um
especialista para provar uma afirmação.
2.2.2. Falácias informais
EXEMPLOS DE OUTRAS
FALÁCIAS INFORMAIS

As falácias são raciocínios ou argumentos sem validade e


que por isso erram ou falham o seu objetivo. São
raciocínios errados.

• As falácias podem ser formais e informais.

• As falácias formais são erros de raciocínio que têm


unicamente a ver com a forma lógica.

• As falácias informais são erros de raciocínio que


não têm a ver somente com a forma lógica.
FALÁCIAS INFORMAIS
Argumentos inválidos, aparentemente válidos, cuja invalidade não resulta
de uma deficiência formal, antes decorre do conteúdo, da matéria, da
linguagem natural comum usada nesses argumentos.
Falácia da petição de princípio
Processo que consiste em assumir como verdadeiro aquilo que se pretende provar.

A conclusão é usada, de forma implícita, como premissa, encontrando-se muitas


vezes disfarçada com palavras de significação idêntica à das da conclusão.

Argumento circular

EXEMPLOS:

Andar a pé é um desporto saudável. Logo, andar a pé é um desporto que faz bem à saúde.
 
O ser humano é inteligente, porque é um ser que possui inteligência.
A FALÁCIA DA PETIÇÃO DE PRINCÍPIO OU DO ARGUMENTO CIRCULAR

«A Ford Motor Company produz os melhores automóveis dos


EUA. Sabemos que produzem os melhores carros porque têm
os melhores engenheiros. A razão pela qual têm os melhores
engenheiros é a de poderem pagar-lhes mais do que os
outros produtores. Obviamente, podem pagar-lhes mais
porque produzem os melhores carros dos EUA.»
Falácia do falso dilema
Consiste em reduzir as opções possíveis a apenas duas,
incompatíveis, que se supõe serem os únicos possíveis – ou tudo
ou nada, ignorando-se as restantes alternativas.

Trata-se, portanto, de extrair uma conclusão a partir de uma


disjunção falsa. «Falso dilema» é sinónimo de «falsa dicotomia».

Exemplo de uma disjunção falsa:


Ou votas no partido x ou será a desgraça do país.
(Outros partidos são ignorados.)

EXEMPLO DE UM FALSO DILEMA:

Ou votas no partido x, ou será a desgraça do país!


Não votas no partido x.
Logo, será a desgraça do país.
Exemplo:
 Ou estás do nosso lado ou contra nós.

 Ou continuo a fumar ou engordo.


Não quero engordar.
Logo, não posso deixar de fumar.

 Quando os árabes conquistaram Alexandria, o califa Omar justificou


deste modo a destruição da Biblioteca de Alexandria:
“Os livros da Biblioteca de Alexandria ou contêm os princípios do
Alcorão ou não. Se contêm os princípios do Alcorão, são supérfluos e
devem ser queimados. Se não contêm os princípios do Alcorão, são
nocivos e, se são nocivos, devem ser queimados.
Portanto, os livros da Biblioteca de Alexandria devem ser queimados”.

É um falso dilema, pois, como é óbvio, havia mais alternativas que o


califa não considerou.
Falácia do apelo à ignorância
(argumentum ad ignorantiam)

Comete-se esta falácia sempre que uma proposição é tida como


verdadeira só porque não se provou a sua falsidade ou como
falsa só porque não se provou que é verdadeira.

EXEMPLOS:

A alma é imortal. Na verdade, ninguém provou que a alma morre


com o corpo.

Não existem fenómenos telepáticos, porque até agora ninguém


provou que eles existem.
Falácia Contra o Homem
(ad hominem)
É o tipo de argumento dirigido contra o homem. Em vez de se atacar
ou refutar a tese de alguém, ataca-se a pessoa que a defende.

Os ataques pessoais poderão centrar-se, por exemplo, na classe social, no partido


político ou na religião da pessoa em causa, no caráter, nos interesses pessoais, etc.
Muitas vezes, o objetivo destes argumentos consiste em desviar as atenções
daquilo que está em causa.

EXEMPLOS:

A tua tese não tem qualquer valor, porque és um ex-presidiário.

Sartre estava errado a respeito do ser humano, porque não ia


regularmente à missa.
Falácia da derrapagem, “bola de neve” ou “declive escorregadio”

Esta falácia é cometida sempre que alguém, para refutar uma tese,
apresenta, pelo menos, uma premissa falsa ou duvidosa e uma série
de consequências progressivamente inaceitáveis.

Usa-se um exemplo que se estende indefinidamente para mostrar que um


determinado resultado indesejável inevitavelmente se seguirá.

Se permitirmos uma exceção a uma regra, mais e mais exceções se seguirão, o


que conduzirá à inevitabilidade de a regra ser totalmente subvertida ou de
haver consequências totalmente indesejáveis.

EXEMPLO:

É péssimo que jogues a dinheiro. Se o fizeres, vais viciar-te no jogo. Desse modo, perderás
tudo o que tens. Em consequência, se não quiseres morrer à fome, terás de roubar.
Exemplo:
Se beberes um copo de vinho, vais beber dois.
Se beberes dois copos de vinho, vais beber três.
Se beberes três copos de vinho, vais beber quatro.
Logo, se beberes um copo de vinho, vais tornar-te alcoólico.
Falácia do espantalho ou do boneco de palha
Esta falácia é cometida sempre que o orador, em vez de refutar o verdadeiro argumento do
seu opositor/interlocutor, ataca ou refuta uma versão simplificada, mais fraca e deturpada
desse argumento, a fim de ser mais fácil rebater a tese oposta.

Além de não tratar realmente a afirmação do adversário, o orador tende a criticar uma
posição diferente daquela que tinha sido originalmente defendida pelo oponente.

EXEMPLO:

António defende que não devemos comer carne de animais cujo processo de industrialização os
tenha sujeitado a condições de vida e morte cruéis.
Manuel refuta António dizendo: «António quer que apenas comamos alface!»

[Em momento algum António defende que não devemos comer todo e qualquer tipo de carne,
sugerindo que sejamos vegetarianos («comer alface»), mas apenas aquele tipo de carne sujeito às
condições descritas. O argumento é assim deturpado e simplificado.]
Falácia da causa falsa
(post hoc, ergo propter hoc)

A expressão «post hoc, ergo propter hoc» significa «depois disto, logo
por causa disto». Nesse sentido, a falácia da causa falsa surge sempre
que se toma como causa de algo aquilo que é apenas um antecedente
ou uma qualquer circunstância acidental.

EXEMPLOS:

Fiquei com dores de cabeça no dia em que a minha avó fez um bolo. O
bolo foi a causa das minhas dores de cabeça.

Quando faço testes em dias de chuva, tiro negativa. Por isso, a chuva é a
causa das negativas dos meus testes.
O DISCURSO ARGUMENTATIVO E PRINCIPAIS TIPOS DE
ARGUMENTOS E FALÁCIAS INFORMAIS

Falácia da falsa relação causal


Assumir precipitadamente uma relação causal com base na
mera sucessão temporal.

Este argumento falacioso é um tipo particular de falsa causa


(conclusão discutível acerca de causas e efeitos) e resulta da convicção
de que dois eventos que ocorrem em sequência cronológica estão necessariamente
interligados através de uma relação de causa-efeito. Esta falácia é muito característica
das superstições.

→ Quando o evento A acontece, em seguida o evento B também ocorre. Portanto, o


evento A é causa do evento B.
O DISCURSO ARGUMENTATIVO E PRINCIPAIS TIPOS DE
ARGUMENTOS E FALÁCIAS INFORMAIS

Falácia da falsa relação causal


Assumir precipitadamente uma relação causal com base na
mera sucessão temporal.

Vejamos um exemplo. Corria o ano de 1811, quando o astrónomo


francês Honoré Flaugergues descobriu um cometa brilhante, visível a
olho nu. O cometa Flaugergues foi visível durante 9 meses, tornando-se num dos
cometas com maior período de visibilidade da história da astronomia. Na mesma altura,
em Portugal era produzido um vinho do Porto que se revelaria de excelente qualidade,
classificado como um vintage de cinco estrelas. O nexo entre a qualidade do vinho do
Porto de 1811 (conhecido como Cometa) e o grande cometa do mesmo ano parecia assim
perfeita – uma colheita excecional só poderia ter resultado da passagem de um cometa
notável.

Porém, o facto de um evento ocorrer depois de um outro, por si só, não justifica a crença
de que exista qualquer ligação entre ambos.
Falácia do apelo à força
(argumentum ad baculum)

Consiste em obrigar alguém a admitir uma opinião recorrendo à


força ou à ameaça.

Submetidos a ameaças físicas ou psicológicas, os indivíduos são levados a


aceitar determinada conclusão ou tese, tendo em conta as consequências
desagradáveis que adviriam da sua não-aceitação

EXEMPLOS:

É bom que aceitem o aumento dos impostos se não querem que o país vá à
falência e venha aí uma ditadura.
 
É muito conveniente que se acredite no que diz o nosso livro sagrado. Se
alguém não acreditar, será queimado na fogueira.
Falácia do apelo à misericórdia
(argumentum ad misericordiam)

Esta falácia ocorre quando se apela ao sentimento de piedade ou de


compaixão para se conseguir que uma determinada conclusão seja aceite.

EXEMPLOS:

O meu ato, embora horrível, merece desculpa: naquele dia eu não estava
psicologicamente bem e doía-me o estômago.

Esperamos que aceite as nossas teses. No último mês, praticamente não


dormimos só para chegar a estas conclusões.
Falácia da Falsa Analogia

Fazer uma analogia significa comparar coisas


semelhantes, mas diferentes, apontando para suas
semelhanças.

A falsa analogia, por outro lado, ocorre quando dois


objetos são comparados e se afirma existir uma
semelhança entre eles, porém essa semelhança não
existe ou há diferenças expressivas que devem ser
consideradas.
Falácia da Falsa Analogia
Deviam permitir aos estudantes consultar seus livros durante as provas. Afinal, os
cirurgiões levam radiografias para se guiarem durante uma operação, os advogados
consultam seus papéis durante um julgamento, os construtores têm plantas e projetos
que os orientam na construção de uma casa. Por que, então, não deixar que os alunos
recorram a seus livros durante uma prova?

Por que não?  Nesse argumento, dois grupos de pessoas estão sendo comparados: os
estudantes e os profissionais formados. Os profissionais podem usar uma série de
recursos além dos conhecimentos que tem armazenados em sua memória quando
estão fazendo o seu trabalho. Se um profissional pode, nada mais justo que os
estudantes também não precisem depender apenas de suas memórias quando estão
fazendo provas.

Se essa fosse uma boa analogia, deveríamos concordar com a conclusão e concluir que
os estudantes devem ter a possibilidade de consultar suas anotações. Porém, essa é
uma boa analogia?

Ao avaliar uma analogia para saber se ela é boa ou não, é importante se perguntar se
não existem diferenças importantes entre as duas situações que justificariam um
tratamento desigual. Nesse caso, essa há uma diferença clara. Os estudantes estão em
situação de teste, no qual precisam demostrar seus conhecimentos. Já os profissionais,
não. Ou seja, são situações diferentes e não podem ser comparadas.
Falácia do apelo à autoridade
Falácia do Apelo ao Povo
(Argumentum ad populum)
Esta falácia ocorre quando se
sustenta que uma proposição é
verdadeira por ser aceite
como verdadeira por algum
setor representativo da
população.

Nestas falácias tenta-se


conquistar a concordância
popular, despertando
admiração e entusiasmo.

Ex: Campanhas eleitorais.


FALÁCIAS ASSOCIADAS AOS ARGUMENTOS INDUTIVOS

Falácia da Generalização Precipitada

Esta falácia ocorre quando uma generalização se baseia num


número muito limitado de casos.

São exemplos de generalização precipitada:

 concluir que as bebidas alcoólicas são prejudiciais


porque um familiar morreu devido ao abuso de álcool;

 concluir que a marijuana é saudável por ser usada no


tratamento de algumas doenças;
Jules, o australiano, roubou-me a carteira. Logo, todos os australianos são
ladrões.
Falácia da Amostra não representativa
Falácia da Pergunta Complexa

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