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AS RECENTES ALTERAÇÕES DA LEI DE INTRODUÇÃO ÀS

NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO PROMOVIDAS PELA


LEI NO 13.655/2018
Polêmicas e perspectivas
CONSIDERAÇÕES INICIAIS

• Decreto-Lei no 4.657/42 - Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.


• Conteúdo – pouquíssimas normas de direito público (possui princípios
gerais, regras de aplicação de normas no tempo e no espaço, direito
internacional privado e direito processual)
• Aplicabilidade ampla
• Relevância (meta-norma)
PLS 349/2015
• Iniciativa do Sen. Antonio Anastasia.
• Elaborado pelos professores Carlos Ari Sundfeld e Floriano de Azevedo
Marques Neto.
• Justifica-se na necessidade de “elevar os níveis de segurança jurídica e de
eficiência na criação e aplicação do direito público”.
• Clara intenção de distribuir os ônus da escolha pública, compartilhando com
as instâncias de controle a responsabilidade pelo exame de alternativas,
consequências e obstáculos e dificuldades reais do gestor (é legítimo?
Desejável? Natural?)
• Obriga esferas administrativa, judicial e “controladora” (que é, na verdade,
administrativa).
OBJETIVOS
• Anular “fatores de distorção da atividade jurídico-decisória pública”:
• O alto grau de indeterminação de grande parte das normas públicas;
• A relativa incerteza, inerente ao Direito, quanto ao verdadeiro conteúdo de cada norma;
• A tendência à superficialidade na formação do juízo sobre complexas questões jurídico-
públicas;
• A dificuldade de o Poder Público obter cumprimento voluntário e rápido de obrigação por
terceiros, contribuindo para a inefetividade das políticas públicas;
• A instabilidade dos atos jurídicos públicos, pelo risco potencial de invalidação posterior,
nas várias instâncias de controle.
• Os efeitos negativos indiretos da exigência de que as decisões e controles venham de
processos (que demoram, custam e podem postergar cumprimento de obrigações);
• O modo autoritário como, na quase totalidade dos casos, são concebidas e editadas
normas pela Administração Pública.
CRÍTICOS DO PROJETO
• Consultoria Jurídica do TCU – análise preliminar
• Nota Técnica Conjunta n o 1/2018;
• Ofício conjunto de Associações (encabeçado pela ANAMATRA):
• magistrados do trabalho - ANAMATRA
• juízes federais - AJUFE
• procuradores do trabalho - ANPT
• procuradores da república - ANPR
• ministério público estadual - CONAMP
• Fiscais do trabalho - SINAIT
DEFENSORES DO PROJETO
• Parecer assinado 13 juristas nacionais a respeito das críticas da Consultoria do
TCU:
• Carlos Ari Sunfeld
• Adilson de Abreu Dallari
• Maria Sylvia Zanella Di Pietro
• Marçal Justen Filho
• Gustavo Binenbojm
• Egon Bockmann Moreira
• outros
PRINCIPAIS ARGUMENTOS CONTRÁROS AO PL
• Tentativa de criar saídas legais para comportamentos ilegais (reduto para a
impunidade);
• Emprego exagerado de TERMOS GENÉRICOS
• modo proporcional e equânime, interesses gerais, ônus ou perdas anormais ou
excessivos (art. 21),
• orientações gerais da época (art. 24),
• segurança jurídica de interesse geral (art. 25),
• solução jurídica proporcional, equânime, eficiente e compatível com os
interesses gerais (art. 26),
• prejuízos anormais ou injustos (art. 27) e
• interpretação razoável (art. 28).
PRINCIPAIS ARGUMENTOS CONTRÁROS AO PL

• Esvaziamento da LRF e da Lei de Improbidade Administrativa;


• Violação da independência judicial;
• Estabelece “interpretação casuística”
• Proíbe a punição de agentes públicos nos casos de culpa
(negligência, imperícia ou imprudência).
• Não guarda compatibilidade material com a LINDB, cuja finalidade
seria definir princípios de interpretação integradora.
PRINCIPAIS ARGUMENTOS FAVORÁVEIS AO PL
• Toda organização tende a atuar para maximizar o seu poder.
Nenhuma abre mão, com facilidade, do poder que tenha ou julgue
ter.
• Positiva parâmetros de interpretação e aplicação do direito público
bastante consensuais na Doutrina e na Jurisprudência (inclusive do
TCU);
• Na prática já vêm sendo observados e adotados no cotidiano das
esferas administrativa, controladora e judicial, porém de forma
fragmentada, assistemática;
• Já existe o dever de modulação dos efeitos das decisões judiciais
para manter a segurança jurídica (Lei 9.868/99 – art. 27 e CPC -
arts. 525, §13, 535, §6º e 927, §§ 3º e 4º).
PRINCIPAIS ARGUMENTOS FAVORÁVEIS AO PL
• A prerrogativa de modular efeitos de suas próprias decisões deve
ser exclusiva do STF? O legislador ordinário não poderia estendê-la
a outras autoridades, inclusive administrativas? (ex.:
restabelecimento de servidores a regime jurídico celetista – Min.
Ana Arraes).
• Não suprime competências institucionais dos órgãos de controle,
mas as complementa. Suas decisões já estão sujeitas a ceder
diante de pronunciamento judicial (regime não jurisdicional para
atividades de controle interno e externo).
• Não pressupõe que os magistrados se prestem a agir em conluio
com gestores imbuídos de má-fé.
PRINCIPAIS ARGUMENTOS FAVORÁVEIS AO PL

• O PL não é contrário a princípios ou conceitos jurídicos


indeterminados, mas apenas coloca em perspectiva o modo como
são empregados.
ANÁLISE PONTUAL DOS DISPOSITIVOS DO
PROJETO
MOTIVAÇÃO DECISÓRIA E RESPONSABILIDADE
ESTATAL

Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com
base em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as
consequências práticas da decisão.
Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da
medida imposta ou da invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma
administrativa, inclusive em face das possíveis alternativas.”
MOTIVAÇÃO DECISÓRIA E RESPONSABILIDADE
ESTATAL – ART. 20

Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com
base em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as
consequências práticas da decisão.
Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da
medida imposta ou da invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma
administrativa, inclusive em face das possíveis alternativas.”
MOTIVAÇÃO DECISÓRIA E RESPONSABILIDADE
ESTATAL – ART. 20
ARGUMENTOS CONTRÁRIOS:
1. O julgador decide com base no que há nos autos. A lei não pode impor que
o julgador analise possíveis alternativas. Não se pode exigir que o julgador
conheça a realidade de cada órgão por completo. (CONSULT/TCU)
2. A própria norma, no seu conjunto, introduz diversos valores jurídicos
abstratos, tais como "interesses gerais" ou "segurança jurídica de interesse
geral" ou “interesses gerais da época”. A quase totalidade das novas
disposições contam justamente com termos genéricos, enunciados abertos,
caracterizados por nível de abstração jurídica (ASSOCIAÇÕES);
MOTIVAÇÃO DECISÓRIA E RESPONSABILIDADE
ESTATAL – ART. 20
ARGUMENTOS CONTRÁRIOS:
3. O projeto se socorre de termos abstratos, passíveis de ampla margem para
interpretações e subjetivismos. Desprestigia a prolação de decisão,
inclusive judicial, com base em princípios (que trazem valores jurídicos
abstratos). Negar a possibilidade de decisão baseada em princípios é
recusar densidade normativa dessa fonte do direito. Além disso, transfere
indevidamente ao julgador os ônus e as responsabilidades inerentes à
atividade do gestor público. Há um risco de se converter os órgãos de
controle e órgãos judiciais em órgãos de consultoria jurídica da própria
Administração (MPF).
MOTIVAÇÃO DECISÓRIA E RESPONSABILIDADE
ESTATAL – ART. 20
ARGUMENTOS FAVORÁVEIS:
1. O dispositivo não exige conhecimento extra processual do julgador, mas
sim que concretize sua função pública com responsabilidade.
2. Veda, assim, motivações decisórias vazias, apenas retóricas ou
principiológicas, sem análise prévia de fatos e de impactos.
3. Clara aplicação do conhecido princípio da proporcionalidade, que exige ao
tomador de decisão a comprovação de que a medida a ser adotada é
adequada, necessária e proporcional em sentido estrito.
4. Embora possua forte viés consequencialista, não inova. Decorre do Estado
de Direito.
INVALIDAÇÃO DE ATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS
E O DEVER DE RESPONSABILIDADE – ART. 21

Art. 21.  A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial,


decretar a invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma
administrativa deverá indicar de modo expresso suas consequências jurídicas e
administrativas.
Parágrafo único.  A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando
for o caso, indicar as condições para que a regularização ocorra de modo
proporcional e equânime e sem prejuízo aos interesses gerais, não se podendo
impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das peculiaridades
do caso, sejam anormais ou excessivos.”
INVALIDAÇÃO DE ATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS
E O DEVER DE RESPONSABILIDADE – ART. 21

Art. 21.  A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial,


decretar a invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma
administrativa deverá indicar de modo expresso suas consequências jurídicas e
administrativas.
Parágrafo único.  A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando
for o caso, indicar as condições para que a regularização ocorra de modo
proporcional e equânime e sem prejuízo aos interesses gerais, não se podendo
impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das peculiaridades
do caso, sejam anormais ou excessivos.”
INVALIDAÇÃO DE ATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS
E O DEVER DE RESPONSABILIDADE – ART. 21
ARGUMENTOS CONTRÁRIOS:
1. Exige do julgador “exercício de futurologia”, transferindo a ele ônus que é
da parte (CONSULT/TCU).
2. A redação do parágrafo único apela para o uso abundante de termos
abertos e genéricos, que a justificativa do PL diz condenar (MPF).
INVALIDAÇÃO DE ATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS
E O DEVER DE RESPONSABILIDADE – ART. 21
ARGUMENTOS FAVORÁVEIS:
1. Não se trata de futurologia. Essas consequências são atinentes aos
direitos e fatos atrelados ao processo, ou seja, relativos a elementos
trazidos aos autos pelas partes.
2. A norma exige o exercício responsável da função judicante do agente
estatal. Invalidar atos, contratos, processos configura atividade altamente
relevante, que importa consequências imediatas a bens e direitos alheios.
3. Decisões irresponsáveis que desconsiderem situações juridicamente
constituídas e possíveis consequências aos envolvidos são incompatíveis
com o Direito.
INTERPRETAÇÃO NORMATIVA E GESTÃO
PÚBLICA – ART. 22
Art. 22.  Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados
os obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas
públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos administrados.
§ 1º  Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato,
ajuste, processo ou norma administrativa, serão consideradas as circunstâncias
práticas que houverem imposto, limitado ou condicionado a ação do agente.
§ 2º  Na aplicação de sanções, serão consideradas a natureza e a gravidade da
infração cometida, os danos que dela provierem para a administração pública,
as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes do agente.
§ 3º  As sanções aplicadas ao agente serão levadas em conta na dosimetria
das demais sanções de mesma natureza e relativas ao mesmo fato.
INTERPRETAÇÃO NORMATIVA E GESTÃO
PÚBLICA – ART. 22
Art. 22.  Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados
os obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas
públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos administrados.
§ 1º  Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato,
ajuste, processo ou norma administrativa, serão consideradas as circunstâncias
práticas que houverem imposto, limitado ou condicionado a ação do agente.
§ 2º  Na aplicação de sanções, serão consideradas a natureza e a gravidade da
infração cometida, os danos que dela provierem para a administração pública,
as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes do agente.
§ 3º  As sanções aplicadas ao agente serão levadas em conta na dosimetria
das demais sanções de mesma natureza e relativas ao mesmo fato.
INTERPRETAÇÃO NORMATIVA E GESTÃO
PÚBLICA – ART. 22
ARGUMENTOS CONTRÁRIOS:
1. Promove a interpretação casuísta. O alcance da norma será definido
conforme obstáculos reais do gestor e exigências das políticas públicas a
seu cargo. (CONSULT/TCU).
2. O dispositivo autoriza, em tese, uma lógica de que "os fins justificam os
meios". Afronta a responsabilidade objetiva do Estado e poderá ter o efeito
prático de construir campos de impunidade para o gestor. (ANAMATRA).
3. Veicula norma que poderá, na prática, inviabilizar a responsabilização do
administrador. Mais uma vez aqui, o legislador recorreu a expressões
abertas, lacunosas, propensas a subjetivismos: “obstáculos” e “dificuldades
reais” (MPF).
INTERPRETAÇÃO NORMATIVA E GESTÃO
PÚBLICA – ART. 22
ARGUMENTOS FAVORÁVEIS:
1. A única casuística que o dispositivo contido no artigo 22 do projeto admite
é a casuística natural e própria da interpretação jurídica. Interpretar o
Direito demanda a consideração dos fatos.
2. Não há, nisso, nada de novo ou excêntrico. As decisões na gestão pública
não são tomadas em um mundo abstrato de sonhos, mas de forma
concreta, para resolver problemas e necessidades reais.
3. A norma em questão reconhece que os diversos órgãos de cada ente da
Federação possuem realidades próprias que não podem ser ignoradas.
MUDANÇA DE INTERPRETAÇÃO NORMATIVA, REGIME DE
TRANSIÇÃO E COMPROMISSO PARA O AJUSTAMENTO DA
CONDUTA – ART. 23

Art. 23. A decisão administrativa, controladora ou judicial que estabelecer


interpretação ou orientação nova sobre norma de conteúdo indeterminado,
impondo novo dever ou novo condicionamento de direito, deverá prever regime
de transição quando indispensável para que o novo dever ou condicionamento
de direito seja cumprido de modo proporcional, equânime e eficiente e sem
prejuízo aos interesses gerais.
Parágrafo único. Se o regime de transição, quando aplicável nos termos do
caput, não estiver previamente estabelecido, o sujeito obrigado terá direito a
negociá-lo com a autoridade, segundo as peculiaridades de seu caso e
observadas as limitações legais, celebrando-se compromisso para o
ajustamento, na esfera administrativa, controladora ou judicial, conforme o
caso.(VETADO)
MUDANÇA DE INTERPRETAÇÃO NORMATIVA, REGIME DE
TRANSIÇÃO E COMPROMISSO PARA O AJUSTAMENTO DA
CONDUTA – ART. 23

Art. 23. A decisão administrativa, controladora ou judicial que estabelecer


interpretação ou orientação nova sobre norma de conteúdo indeterminado,
impondo novo dever ou novo condicionamento de direito, deverá prever regime
de transição quando indispensável para que o novo dever ou condicionamento
de direito seja cumprido de modo proporcional, equânime e eficiente e sem
prejuízo aos interesses gerais.
Parágrafo único. Se o regime de transição, quando aplicável nos termos do
caput, não estiver previamente estabelecido, o sujeito obrigado terá direito a
negociá-lo com a autoridade, segundo as peculiaridades de seu caso e
observadas as limitações legais, celebrando-se compromisso para o
ajustamento, na esfera administrativa, controladora ou judicial, conforme o
caso.(VETADO)
MUDANÇA DE INTERPRETAÇÃO NORMATIVA, REGIME DE
TRANSIÇÃO E COMPROMISSO PARA O AJUSTAMENTO DA
CONDUTA – ART. 23

RAZÕES DE VETO: “O caput do artigo impõe a obrigatoriedade de


estabelecimento de regime de transição em decisão administrativa, controladora
ou judicial que preveja mudança de entendimento em norma de conteúdo
indeterminado quando indispensável para o seu cumprimento, todavia, o
parágrafo único traz um direito subjetivo do administrado ao regime. Assim, o
dispositivo reduz a força cogente da própria norma e deve ser vetado, de modo
a garantir a segurança jurídica de tais decisões.”
MUDANÇA DE INTERPRETAÇÃO NORMATIVA, REGIME DE
TRANSIÇÃO E COMPROMISSO PARA O AJUSTAMENTO DA
CONDUTA – ART. 23
ARGUMENTOS CONTRÁRIOS :
1. A decisão judicial não impõe "novo" dever. O dever é anterior à decisão
judicial, por isso não faz sentido, ao menos na esfera judicial, a previsão de
um "regime de transição". (ANAMATRA e MPF)
2. Quanto ao parágrafo único, em relação aos Tribunais de Contas, a
proposta é inconstitucional, pois ofende o art. 71, inciso IX, da Constituição
Federal que outorga às Cortes de Contas a competência para “assinar
prazo para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias ao
exato cumprimento da lei, se verificada ilegalidade” (CONSULT/TCU)
MUDANÇA DE INTERPRETAÇÃO NORMATIVA, REGIME DE
TRANSIÇÃO E COMPROMISSO PARA O AJUSTAMENTO DA
CONDUTA – ART. 23
ARGUMENTOS FAVORÁVEIS:
1. Na linha da consagração da segurança jurídica e da proteção da confiança
legítima, inexistindo um regime de modulação, o dispositivo aqui analisado
cria um direito ao administrado que se surpreendeu com mudança de
interpretação.
2. Supera preconceitos jurídicos arcaicos, segundo os quais as autoridades
públicas não poderiam jamais ouvir e dialogar, devendo sempre impor e
castigar.
3. Quanto ao parágrafo único, as atividades mencionadas não são excludentes.
A obrigação de negociar a celebração de um compromisso para o
ajustamento da conduta não é antípoda da competência de assinar prazo
para a adoção de providência para o cumprimento da lei.
REVISÃO DE ATO OU NORMA E ORIENTAÇÕES
VIGENTES À ÉPOCA – ART. 24

Art. 24. A revisão, na esfera administrativa, controladora ou judicial, quanto à


validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja
produção já se houver completado levará em conta as orientações gerais da
época, sendo vedado que, com base em mudança posterior de orientação geral,
se declarem inválidas situações plenamente constituídas.
Parágrafo único. Consideram-se orientações gerais as interpretações e
especificações contidas em atos públicos de caráter geral ou em jurisprudência
judicial ou administrativa majoritária, e ainda as adotadas por prática
administrativa reiterada e de amplo conhecimento público.
REVISÃO DE ATO OU NORMA E ORIENTAÇÕES
VIGENTES À ÉPOCA – ART. 24
ARGUMENTOS CONTRÁRIOS :
1. Abuso de conceitos indeterminados. Criam modalidades e justificativas
abertas para eventual convalidação de ato ou de contrato inexistentes ou
nulos. (ASSOCIAÇÕES)
2. Os atos anuláveis, convalidados, seriam até aceitáveis. O dispositivo, no
entanto, abre espaço para, considerando a passagem do tempo, a
estabilidade das relações, a “orientação geral” que não foi à época
contestada, o ato inexistente ou o ato nulo se tornem válidos, ao contrário de
se considerá-los inexistentes ou nulos com efeitos ex tunc. (ASSOCIAÇÕES).
3. Alta indeterminação dos tremos empregados (mesmo diante da redação do
parágrafo único). (MPF)
REVISÃO DE ATO OU NORMA E ORIENTAÇÕES
VIGENTES À ÉPOCA – ART. 24
ARGUMENTOS FAVORÁVEIS:
1. A norma não abre espaço para convalidação de atos inexistentes ou nulos.
2. Visa à tutela da segurança jurídica e do princípio da confiança do
administrado frente à Administraçao.
AÇÃO DECLARATÓRIA DE VALIDADE DO ATO,
CONTRATO OU NORMA – ART. 25
Art. 25. Quando necessário por razões de segurança jurídica de interesse
geral, o ente poderá propor ação declaratória de validade de ato, contrato,
ajuste, processo ou norma administrativa, cuja sentença fará coisa julgada
com eficácia erga omnes.
§ 1º A ação de que trata o caput será processada conforme o rito aplicável
à ação civil pública
§ 2º O Ministério Público será citado para a ação, podendo abster-se,
contestar ou aderir ao pedido.
§ 3º A declaração de validade poderá abranger a adequação e a
economicidade dos preços ou valores previstos no ato, contrato ou ajuste.
(VETADO)
AÇÃO DECLARATÓRIA DE VALIDADE DO ATO,
CONTRATO OU NORMA – ART. 25
RAZÕES DE VETO: "A ação declaratória preconizada pelo dispositivo, cuja
sentença terá eficácia para todos, inclusive podendo dispor a respeito de
preço e valores, poderá acarretar em excessiva demanda judicial
injustificada, tendo em vista a abrangência de cabimento para a
impetração da ação por ‘razões de segurança jurídica de interesse geral’
o que, na prática, poderá contribuir para maior insegurança jurídica.
Ademais, há omissão quanto à eficácia de decisões administrativas ou de
controle anteriores à impetração da ação declaratória de validade, uma
vez que a atuação judicial pode se tornar instrumento para a mera
protelação ou modificação dessas deliberações, representando, também,
violação ao Princípio Constitucional da Independência e Harmonia entre
os Poderes.
AÇÃO DECLARATÓRIA DE VALIDADE DO ATO,
CONTRATO OU NORMA – ART. 25
ARGUMENTOS CONTRÁRIOS:
1. ao prever a submissão de sua análise ao Poder Judiciário, sem
que se aponte qualquer lesão ou ameaça a direito, mas, ao
contrário, apenas com a finalidade de se obter sentença
declaratória de validade, ofende os arts. 70 e 71 da
Constituição Federal (fiscalização contábil, financeira e
orçamentária), pois busca, pela via infraconstitucional, subtrair
da apreciação do Poder Legislativo e dos Tribunais de Contas
o exercício de suas competências. (CONSULT/TCU).
AÇÃO DECLARATÓRIA DE VALIDADE DO ATO,
CONTRATO OU NORMA – ART. 25
ARGUMENTOS CONTRÁRIOS :
2. Não se encontram explicitados o autor (Qual ente? De qual esfera?
Representado por quem? Na defesa de qual interesse? E muito
menos contra quem seria proposta essa ação declaratória.
(ASSOCIAÇÕES)
3. Além disso, Como a ação civil pública que já está prevista
possibilita, pelo legitimado, a discussão de cunho declaratório, com
projeção para o limite da competência territorial do órgão prolator,
não é correta a constatação de que a “nova” modalidade é que
propiciaria evitar-se decisões conflitantes. (ASSOCIAÇÕES).
AÇÃO DECLARATÓRIA DE VALIDADE DO ATO,
CONTRATO OU NORMA – ART. 25
ARGUMENTOS CONTRÁRIOS :
4. O parágrafo segundo coloca o MP no polo passivo (!),
subvertendo a função constitucional do MP. Ofensa aos arts.
127 e 129 da Constituição Federal (MPF)
5. Inverte toda a lógica de validade do ato administrativo.
6. Raros seriam os gestores seguros o suficiente para agirem de
ofício possuindo nas suas mãos o direito de buscar chancela
prévia no judiciário.
AÇÃO DECLARATÓRIA DE VALIDADE DO ATO,
CONTRATO OU NORMA – ART. 25
ARGUMENTOS FAVORÁVEIS:
1. As críticas lançam sobre todos os juízes do Brasil a suspeita
de que eles estariam sempre disponíveis para participar de
conluios, validando atos ilegais de modo desonesto
2. O que faz o artigo 25 nada mais é do que criar uma via
processual direta para que o Judiciário possa dar a última
palavra sobre a validade de atos em sentido amplo (atribuição
essa que, segundo o sistema constitucional brasileiro, já é
sua).
REGIME JURÍDICO GERAL DE NEGOCIAÇÃO ENTRE
AUTORIDADES PÚBLICAS E PARTICULARES – ART. 26
Art. 26. Para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação
contenciosa na aplicação do direito público, inclusive no caso de
expedição de licença, a autoridade administrativa poderá, após
oitiva do órgão jurídico e, quando for o caso, após realização de
consulta pública, e presentes razões de relevante interesse geral,
celebrar compromisso com os interessados, observada a
legislação aplicável, o qual só produzirá efeitos a partir de sua
publicação oficial.
REGIME JURÍDICO GERAL DE NEGOCIAÇÃO ENTRE
AUTORIDADES PÚBLICAS E PARTICULARES – ART. 26
§ 1º O compromisso:
I – buscará solução jurídica proporcional, equânime, eficiente e
compatível com os interesses gerais;
II – poderá envolver transação quanto a sanções e créditos relativos ao
passado e, ainda, o estabelecimento de regime de transição; (VETADO)
III – não poderá conferir desoneração permanente de dever ou
condicionamento de direito reconhecidos por orientação geral;
IV – deverá prever com clareza as obrigações das partes, o prazo para
cumprimento e as sanções aplicáveis em caso de descumprimento.
REGIME JURÍDICO GERAL DE NEGOCIAÇÃO ENTRE
AUTORIDADES PÚBLICAS E PARTICULARES – ART. 26

§ 2º Poderá ser requerida autorização judicial para celebração do


compromisso, em procedimento de jurisdição voluntária, para o fim
de excluir a responsabilidade pessoal do agente público por vício
do compromisso, salvo por enriquecimento ilícito ou crime.
(VETADO).
REGIME JURÍDICO GERAL DE NEGOCIAÇÃO ENTRE
AUTORIDADES PÚBLICAS E PARTICULARES – ART. 26

RAZÕES DE VETO:
§ 1º, II - “A celebração de compromisso com os interessados,
instrumento de natureza administrativa previsto no caput do artigo,
não pode, em respeito ao princípio da reserva legal, transacionar a
respeito de sanções e créditos relativos ao tempo pretérito e
imputados em decorrência de lei. Ademais, poderia representar
estímulo indevido ao não cumprimento das respectivas sanções,
visando posterior transação”.
REGIME JURÍDICO GERAL DE NEGOCIAÇÃO ENTRE
AUTORIDADES PÚBLICAS E PARTICULARES – ART. 26

RAZÕES DE VETO:
§ 2º - “A autorização judicial destinada à celebração de
compromisso administrativo com a finalidade de excluir a
responsabilidade pessoal do agente público viola o Princípio
Constitucional da Independência e Harmonia entre os Poderes, ao
comprometer a apreciação das esferas administrativa e de
controle”.
REGIME JURÍDICO GERAL DE NEGOCIAÇÃO ENTRE
AUTORIDADES PÚBLICAS E PARTICULARES – ART. 26
ARGUMENTOS CONTRÁRIOS :
1. uso excessivo de termos abstratos e abertos que têm o potencial de
gerar insegurança administrativa e judicial, além de tornar possível o
exercício de arbitrariedades e de liberdades incompatíveis com a
preservação dos direitos dos administrados. (ASSOCIAÇÕES)
2. O texto não contempla e especifica a preservação da indisponibilidade
dos bens públicos, que, exatamente por isso, exigem limites
previamente definidos, e legalmente versados, sobre qualquer hipótese
de negociação, ainda que dialogada (ASSOCIAÇÕES).
3. O instituto da transação, como é sabido, impõe concessões recíprocas.
O texto não prevê reciprocidade (MPF)
REGIME JURÍDICO GERAL DE NEGOCIAÇÃO ENTRE
AUTORIDADES PÚBLICAS E PARTICULARES – ART. 26
ARGUMENTOS FAVORÁVEIS:
1. O comando só se dirige à autoridade administrativa.
2. A intenção é eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação
contenciosa.
3. O órgão de assessoramento jurídico deve ser ouvido (deve ser observada a
legislação aplicável).
4. Razões de relevante interesse geral.
5. O possível exercício de arbitrariedades não surge a partir da possibilidade
de firmar termo de compromisso com os interessados.
6. A indisponibilidade de bens públicos decorre da lei (lato sensu). Observar
item 3.
COMPENSAÇÃO DE BENEFÍCIOS OU PREJUÍZOS
RESULTANTES DO PROCESSO OU DA CONDUTA DOS
ENVOLVIDOS – ART. 27

Art. 27. A decisão do processo, na esfera administrativa,


controladora ou judicial, poderá impor compensação por benefícios
indevidos ou prejuízos anormais ou injustos resultantes do
processo ou da conduta dos envolvidos.
§ 1º A decisão sobre a compensação será motivada, ouvidas
previamente as partes sobre seu cabimento, sua forma e, se for o
caso, seu valor.
§ 2º Para prevenir ou regular a compensação, poderá ser
celebrado compromisso processual entre os envolvidos.
RESPONSABILIZAÇÃO DO AGENTE PÚBLICO –
ART. 28
Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões
técnicas em caso de dolo ou erro grosseiro.
§ 1º Não se considera erro grosseiro a decisão ou opinião baseada em jurisprudência
ou doutrina, ainda que não pacificadas, em orientação geral ou, ainda, em
interpretação razoável, mesmo que não venha a ser posteriormente aceita por órgãos
de controle ou judiciais. (VETADO)
§ 2º O agente público que tiver de se defender, em qualquer esfera, por ato ou conduta
praticada no exercício regular de suas competências e em observância ao interesse
geral terá direito ao apoio da entidade, inclusive nas despesas com a defesa.
(VETADO)
§ 3º Transitada em julgado decisão que reconheça a ocorrência de dolo ou erro
grosseiro, o agente público ressarcirá ao erário as despesas assumidas pela entidade
em razão do apoio de que trata o § 2º deste artigo. (VETADO)
RESPONSABILIZAÇÃO DO AGENTE PÚBLICO –
ART. 28
RAZÕES DE VETO

§ 1º - “A busca pela pacificação de entendimentos é essencial para a segurança


jurídica. O dispositivo proposto admite a desconsideração de responsabilidade
do agente público por decisão ou opinião baseada em interpretação
jurisprudencial ou doutrinária não pacificada ou mesmo minoritária. Deste
modo, a propositura atribui discricionariedade ao administrado em agir com
base em sua própria convicção, o que se traduz em insegurança jurídica.”
RESPONSABILIZAÇÃO DO AGENTE PÚBLICO –
ART. 28
RAZÕES DE VETO

§§ 2º e 3º - “Os dispositivos criam direito subjetivo para o agente público obter


apoio e defesa pela entidade, em qualquer esfera, decorrente de ato ou conduta
praticada no exercício regular de suas competências, inclusive nas despesas
com a defesa. Tal como se apresenta, fica caracterizada a não exclusividade do
órgão de advocacia pública na prestação, podendo impor a cada entidade
dispêndio financeiro indevido, sem delimitar hipóteses de ocorrência de tais
apoios nem especificar o órgão responsável por esse amparo, o que poderia
gerar significativos ônus sobretudo para os entes subnacionais.”
RESPONSABILIZAÇÃO DO AGENTE PÚBLICO –
ART. 28
ARGUMENTOS CONTRÁRIOS:
1. pela proposta, o agente público pode ser negligente, imprudente e imperito
que nada lhe acontecerá, pois estará isento de responsabilidade
(CONSULT/TCU).
2. Os agentes públicos respondem por dolo ou por culpa, em qualquer grau, e
não apenas por dolo e erro grosseiro, como faz sugerir a proposição que, no
particular, entre em rota de colisão com o Texto Constitucional.
(ANAMATRA).
RESPONSABILIZAÇÃO DO AGENTE PÚBLICO –
ART. 28
ARGUMENTOS FAVORÁVEIS
1. No “erro grosseiro” estão incluídas situações de negligência grave,
imprudência grave ou imperícia grave.
2. Quanto à discussão a respeito da inviabilidade ou não de se
responsabilizar advogados e procuradores por suas opiniões exaradas em
processos administrativos. E neste ponto restou pacificado pelo Supremo
Tribunal Federal (Pleno) que somente haverá responsabilização em caso
de erro ou dolo grave. É o que se extrai do MS 24.073/DF. Veda-se aquilo
que Ruy Barbosa cunhou de 'crime de hermenêutica'.
3. OBSERVAÇÃO - atinge diretamente na aplicação do art. 10 da lei 8429
(Improbidade), pois ela só fala genericamente em dolo ou culpa.
CONSULTAS PÚBLICAS SOBRE ATOS
NORMATIVOS ADMINISTRATIVOS – ART. 29
Art. 29. Em qualquer órgão ou Poder, a edição de atos normativos por
autoridade administrativa, salvo os de mera organização interna, poderá ser
precedida de consulta pública para manifestação de interessados,
preferencialmente por meio eletrônico, a qual será considerada na decisão.
§ 1º A convocação conterá a minuta do ato normativo e fixará o prazo e demais
condições da consulta pública, observadas as normas legais e regulamentares
específicas, se houver.
§ 2º É obrigatória a publicação, preferencialmente por meio eletrônico, das
contribuições e de sua análise, juntamente com a do ato normativo.(VETADO)
CONSULTAS PÚBLICAS SOBRE ATOS
NORMATIVOS ADMINISTRATIVOS – ART. 29

RAZÕES DE VETO - “Configura-se de todo louvável o comando do dispositivo


de tornar obrigatória a publicação das contribuições oriundas das consultas
públicas que precedam a edição de atos normativos. Não obstante, a extensão
dessa obrigatoriedade à publicação também das respectivas análises, e de
modo concomitante à edição do respectivo ato normativo, poderia tornar
extremamente morosa e ineficiente a sistemática por parte dos órgãos ou
Poderes, ou mesmo retardar sua implementação, indo de encontro ao interesse
público e recomendando, assim, o veto do parágrafo.”

BNCC – 12 MILHÕES DE CONTRIBUIÇÕES.


ATUAÇÃO PARA AUMENTO DA SEGURANÇA
JURÍDICA – ART. 30

Art. 30. As autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança


jurídica na aplicação das normas, inclusive por meio de regulamentos,
súmulas administrativas e respostas a consultas.
Parágrafo único. Os instrumentos previstos no caput terão caráter
vinculante em relação ao órgão ou entidade a que se destinam, até
ulterior revisão.
ATUAÇÃO PARA AUMENTO DA SEGURANÇA
JURÍDICA – ART. 30

Responder consultas de particulares – atualmente vedado pela LAI (Lei


nº 12.527/2011), conforme art. 13 do Decreto nº 7.724/2012:

Art. 13.  Não serão atendidos pedidos de acesso à informação:


I - genéricos;
II - desproporcionais ou desarrazoados; ou
III - que exijam trabalhos adicionais de análise, interpretação ou
consolidação de dados e informações, ou serviço de produção ou
tratamento de dados que não seja de competência do órgão ou
entidade.

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