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Adolescência e desenvolvimento

Não vês como isto é duro


Ser jovem não é um posto
Ter de encarar o futuro
Com borbulhas no rosto"
CARLOS TÊ E RUI VELOSO
Aspectos fisiológicos
Numa fase de pré-puberdade, que dura mais
ou menos dois anos, ocorrem mudanças
corporais (caracteres sexuais secundários)
que preparam as transformações fisiológicas
da puberdade, isto é, a possibilidade de
ejaculação e a menstruação.
Nos rapazes aparecem pêlos nas pernas, no
peito, nos braços, nas axilas e na região púbica.
A voz muda e aparece a barba. O pénis cresce e
a sua pele fica mais escura; os testículos
aumentam.
Nas raparigas as ancas alargam e os seios
aumentam; aparecem pêlos nas axilas e na zona
púbica. Os órgãos genitais crescem e a sua pele
escurece.
• Nos rapazes e nas raparigas aumenta a
transpiração e o odor corporal modifica-se.
Aumenta a altura e o peso; o cabelo e a pele
tornam-se mais gordurosos podendo aparecer
temporariamente seborreia e acne. Outras
maturações físicas acontecem durante a
adolescência, como a ossificação da mão que
se completa, um aumento do tamanho do
coração e dos pulmões.
Os órgãos sexuais entram em funcionamento e
são estas modificações que vão marcar a
sexualidade adolescente por uma genitalidade e
possibilitam a capacidade da função
reprodutora.
Aspectos intelectuais
A adolescência é uma fase em que se obtém
uma maturidade intelectual. O pensamento
formal vai abrir novas perspectivas; exercitá-lo é
pôr-se questões, é problematizar jogando com
as várias perspectivas dos assuntos, é aprender,
é criticar, é interrogar o futuro e a sociedade1.
Vai ser possível pensar o futuro e pensar no
futuro".
O raciocínio hipotético-dedutivo é, no
desenvolvimento psicossocial, uma arma
poderosa nas opções profissionais, nos
caminhos que aspiram, na construção de
projectos de futuro.
O exercício destas novas capacidades cognitivas
de abstracção,
de reflectir antes de agir,
pode permitir uma distância relativamente aos
conflitos emocionais.
O gosto pela fantasia e pela imaginação, pelo
debate de valores, leva a uma melhor
compreensão de si próprio e do mundo.
Há uma exigência de coerência nas discussões
intermináveis, no questionar dos problemas e
nos argumentos expressos na defesa de uma
filosofia de vida, que são importantes na
formação de ideias próprias.
Reaparecimento do egocentrismo.
Esta mudança intelectual da
adolescência vai, pois, permitir
construir o "seu sistema pessoal",
como diz Piaget.
Existe como que um, mas trata-se
agora de um egocentrismo
intelectual - sente-se o centro e as
suas teorias sobre o mundo
aparecem como as únicas correctas.
Como consequência do
egocentrismo intelectual o
adolescente pode sentir-se alvo dos
olhares e atenções dos outros.
Interessa-se por:
problemas éticos e ideológicos, debate-os, faz
opções e constrói valores sociais próprios.
A lealdade, a coerência, a justiça social, a
liberdade, a autenticidade são alguns dos
valores mais defendidos, o que,
frequentemente, faz com grande radicalidade.
A revolta por uma sociedade diferente

Os adolescentes revoltam-se, frequentemente,


quando descobrem que a sociedade não se
coaduna com as aspirações e valores que
defendem. Eles desejam, quase sempre, uma
perfeição moral e expressam um grande
altruísmo.
As novas capacidades cognitivas de reflexão e
abstracção e o poder de jogar mentalmente com
várias hipóteses (raciocínio hipotético-dedutivo)
permitem-lhes debater ideias, apreendendo a
complexidade dos valores sociomorais, bem
como construir uma teoria própria sobre a
realidade social.
A adolescência está ligada a um novo estatuto e
papel na comunidade, daí a sociedade exercer
uma nova socialização com novas formas -
consciente e inconscientemente exercidas -,
como temos vindo a referir.
Construção da identidade
"Pode alguém ser quem não é?"
No entanto, se, no decorrer e no final da
adolescência, se obtém uma maturação
fisiológica, afectiva e intelectual, em
contrapartida não se obtém, regra geral, uma
maturação social. São hoje muito referenciados
os problemas sobre a aquisição de estatuto de
"jovem adulto" e a sua relação com o
prolongamento do tempo de escolaridade e a
crise de desemprego.
A forma como se vive a adolescência não só está relacionada com
a infância como com o meio comunitário envolvente nas suas
dimensões geográficas, económicas e socioculturais. A
adolescência está também relacionada com a forma como se fez a
aprendizagem da vida social e como se participou na vida cívica.
Este facto faz-nos levantar questões sobre o papel jogado pela
sociedade actual no processo de adolescência. Uma sociedade
concorrencial, violenta, consumista, dificilmente se oferece como
meio de vida estruturante, que se abra sobre agradáveis
horizontes, facilitando a construção de projectos de futuro.
Concluímos com um texto a que poderíamos atribuir o título:
Adolescência tempestuosa: mito ou realidade?
Precede a puberdade invariavelmente uma
adolescência tempestuosa e rebelde? Em determinada
altura, considerava-se que muitas crianças, ao
entrarem na adolescência, iniciavam um período de
grande tensão e infelicidade, mas os psicólogos
constatam agora que essa caracterização era, em
grande medida, um mito. Muitos jovens, segundo
parece, passam pela adolescência sem perturbações
apreciáveis nas suas vidas (Peterson, 1988; Steinberg,
1993).

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