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ANP

Até o fim do monopólio estatal sobre o petróleo e o gás,


não se pensava em conflitos que pudessem existir dentro
deste segmento econômico, uma vez que somente a
União, através da Petrobras, explorava este segmento.
Previa-se que com o fim do monopólio, e início do
modelo de concessão e autorização, muitos conflitos
surgiriam, além da necessidade de regulamentar e
fiscalizar aspectos complexos relativo a exploração deste
segmento.
Por isso a ANP já estava prevista na Lei do Petróleo, ou
seja, existindo desde o momento em que tornou-se
possível a exploração pela iniciativa privada:
Art. 7o Fica instituída a Agência Nacional do Petróleo,
Gás Natural e Biocombustíves - ANP, entidade
integrante da Administração Federal Indireta,
submetida ao regime autárquico especial, como órgão
regulador da indústria do petróleo, gás natural, seus
derivados e biocombustíveis, vinculada ao Ministério
de Minas e Energia. (Redação dada pela Lei nº 11.097,
de 2005)
Parágrafo único. A ANP terá sede e foro no Distrito
Federal e escritórios centrais na cidade do Rio de
Janeiro, podendo instalar unidades administrativas
regionais.
A ANP é uma autarquia especial, ou seja, faz parte da
administração pública indireta, uma vez que é uma pessoa
jurídica de direito público.
Mas sua qualidade de autarquia especial a reveste de
grande autonomia em relação a União.
Já se tentou questionar sua existência perante o STF (e
ainda há outras ações tramitando), mas o entendimento
majoritário advoga pela sua constitucionalidade, pelos
motivos a seguir:
Como uma autarquia, a ANP está atrelada ao disposto
na lei, ou seja, sua autonomia é mais técnica do que
política, uma vez que as decisões de âmbito político
continuam sendo tomadas pelos agentes políticos
democraticamente eleitos;
Como dito anteriormente, não houve delegação da
competência da União para uma autarquia (o que seria
vedado constitucionalmente), uma vez que as decisões de
âmbito político continua sendo tomadas pela União, a
única que realmente pode legislar, através das leis
(caráter político), enquanto a ANP cabe apenas
regulamentar, ou seja, determinar procedimentos (caráter
técnico), e mesmo algumas decisões que poderiam ter
caráter político, continuaram na esfera direta do Poder
Executivo, como a formulação de políticas públicas,
planejamento e fixação de percentagem, através do
aconselhamento do CNPE e da fixação do Ministério de
Minas e Energia;
Existem outras autarquias que possuem
autonomia quase tão extensa quanto (senão até
mais) do que esta agência, como o BACEN, a CVM,
entre outras (as quais o questionamento sobre a
constitucionalidade é favorável);
A ANP, como as demais agências, aperfeiçoam a
democracia, uma vez que promovem a democracia
participativa (através de audiências públicas) buscando
aproximar as decisões técnicas da realidade vivida pela
sociedade e principalmente, pelos agentes envolvidos no
setor;
Por fim, elas cumprem uma função de grande relevo
para o crescimento econômico, uma vez que são vetores
do desenvolvimento técnico, industrial e econômico.
Isto posto, deve-se observar uma ADIn já tramitou no STF
questionando a constitucionalidade da Lei do Petróleo
(3.273-9, promovida pelo Governo do Estado do Paraná),
sendo que o STF confirmou a constitucionalidade,
enquanto outra ADIn ainda tramita, mas abordando
apenas alguns artigos da lei (que não foram discutidos no
outro processo), dentre os quais podemos citar o art. 8º,
que em síntese estipula a finalidade e as atribuições da
ANP, ou seja, sua declaração de inconstitucionalidade
esvaziaria a competência da ANP (esta última promovida
pelo PSOL, 3.596/05).
A ANP, como dito, é uma autarquia especial, revestida
portanto de grande autonomia com relação ao governo
do momento, de forma que o cumprimento das suas
atribuições está atrelado ao disposto na lei que a criou (e
demais modificações) e não as tendências políticas que
possam estar presente no governo, além de possuir
direitos e deveres em relação a administração pública
direta.
Como visto na aula anterior, cabe a ANP administrar os
bens da União no âmbito da sua competência (petróleo e
gás) e dentro dos limites territoriais desta última:
Art. 21.  Todos os direitos de exploração e produção de
petróleo, de gás natural e de outros hidrocarbonetos
fluidos em território nacional, nele compreendidos a
parte terrestre, o mar territorial, a plataforma
continental e a zona econômica exclusiva, pertencem à
União, cabendo sua administração à ANP, ressalvadas
as competências de outros órgãos e entidades
expressamente estabelecidas em lei. (Redação dada
pela Lei nº 12.351, de 2010)
Além disso, a finalidade da ANP consiste:
Art. 8o A ANP terá como finalidade promover a
regulação, a contratação e a fiscalização das
atividades econômicas integrantes da indústria do
petróleo, do gás natural e dos biocombustíveis,
cabendo-lhe: (Redação dada pela Lei nº 11.097, de
2005)

Como dito anteriormente, as competências da ANP


residem unicamente na esfera administrativa, sendo sua
inconstitucionalidade pouco provável.
I - implementar, em sua esfera de atribuições, a política nacional de petróleo,
gás natural e biocombustíveis, contida na política energética nacional, nos
termos do Capítulo I desta Lei, com ênfase na garantia do suprimento de
derivados de petróleo, gás natural e seus derivados, e de biocombustíveis, em
todo o território nacional, e na proteção dos interesses dos consumidores
quanto a preço, qualidade e oferta dos produtos; (Redação dada pela Lei nº
11.097, de 2005)
Implementar deve ser tido por executar, por em prática, ou seja, a ANP não cria
políticas públicas, apenas as leva a cabo.
com ênfase na garantia do suprimento:
A Lei 8.176/91 (Lei do Estoque Estratégico), criou as figuras do Sistema Nacional
de Estoques de Combustíveis e o Plano Anual de Estoques Estratégicos de
Combustíveis (o qual deve ser elaborado a cada exercício pelo Poder Executivo).
Novamente, a ANP somente executa uma política pública.
Observem que a exploração privada deste segmento deve obedecer as regras
pactuadas no contrato de concessão e as normas referentes ao Estoque
Estratégico.
proteção dos interesses dos consumidores quanto a preço:
esta competência é exercida conjuntamente com outros órgãos e autarquias
(Procons, etc.) e as decisões da ANP, mesmo no âmbito da sua competência, são
passíveis de revisão pelo Poder Judiciário
II - promover estudos visando à delimitação de blocos, para
efeito de concessão ou contratação sob o regime de partilha de
produção das atividades de exploração, desenvolvimento e
produção; (Redação dada pela Lei nº 12.351, de 2010)

Os estudos referidos neste inciso para delimitação de blocos para


exploração são de competência da ANP, contudo foi criada em 2004
a Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE – Lei 10.847), uma
empresa pública com a possibilidade de prestar serviços também
para a iniciativa privada, cujas funções no âmbito de pesquisa são
muito próximas as da ANP (até o momento, não foi identificado um
conflito de competência).
III - regular a execução de serviços de geologia e geofísica
aplicados à prospecção petrolífera, visando ao levantamento de
dados técnicos, destinados à comercialização, em bases não-
exclusivas;
Este inciso tornou bem da União a base de dados das reservas
petrolíferas. A leitura conjunta com o art. 22, §1º, mostra que
mesmo as informações anteriormente coletadas pela Petrobrás são
agora da União:
Art. 22. O acervo técnico constituído pelos dados e informações
sobre as bacias sedimentares brasileiras é também considerado
parte integrante dos recursos petrolíferos nacionais, cabendo à
ANP sua coleta, manutenção e administração.
§ 1° A Petróleo Brasileiro S.A. - PETROBRÁS transferirá para a
ANP as informações e dados de que dispuser sobre as bacias
sedimentares brasileiras, assim como sobre as atividades de
pesquisa, exploração e produção de petróleo ou gás natural,
desenvolvidas em função da exclusividade do exercício do
monopólio até a publicação desta Lei.
IV - elaborar os editais e promover as licitações para a
concessão de exploração, desenvolvimento e produção,
celebrando os contratos delas decorrentes e fiscalizando a sua
execução;

As questões pertinentes sobre licitações e concessões serão vistas


na aula seguinte. No momento, baste que se saiba que a função da
licitação e tornar pública e dar transparência a toda contratação
feita pela administração pública, enquanto a concessão refere-se a
transferir, por meio de contrato e após a licitação, o direito de
exploração sobre um bem público.
V - autorizar a prática das atividades de refinação, liquefação,
regaseificação, carregamento, processamento, tratamento,
transporte, estocagem e acondicionamento; (Redação dada pela
Lei nº 11.909, de 2009)

Para todas as demais atividades relacionadas a este segmento


econômico e que não sejam objeto de concessão (por não serem
bens públicos), deve-se buscar a autorização da ANP. Por exemplo,
por resolução da própria ANP, os pontos de abastecimento com
capacidade superior a 15m3 necessitam ser autorizados.
VI - estabelecer critérios para o cálculo de tarifas de transporte dutoviário e arbitrar
seus valores, nos casos e da forma previstos nesta Lei;
A ANP cabe apenas regular os critérios que os agentes utilizarão para fixação do preço do
transporte dutoviário. Este inciso está ligado ao art. 58, que trata do transporte dutoviário
do petróleo, seus derivados e gás natural.
Art. 58.  Será facultado a qualquer interessado o uso dos dutos de transporte e dos
terminais marítimos existentes ou a serem construídos, com exceção dos terminais de
Gás Natural Liquefeito - GNL, mediante remuneração adequada ao titular das
instalações ou da capacidade de movimentação de gás natural, nos termos da lei e da
regulamentação aplicável. (Redação dada pela Lei nº 11.909, de 2009)
§ 1o  A ANP fixará o valor e a forma de pagamento da remuneração adequada com
base em critérios previamente estabelecidos, caso não haja acordo entre as partes,
cabendo-lhe também verificar se o valor acordado é compatível com o mercado.
(Redação dada pela Lei nº 11.909, de 2009)
§ 2º A ANP regulará a preferência a ser atribuída ao proprietário das instalações para
movimentação de seus próprios produtos, com o objetivo de promover a máxima
utilização da capacidade de transporte pelos meios disponíveis.
§ 3o  A receita referida no caput deste artigo deverá ser destinada a quem
efetivamente estiver suportando o custo da capacidade de movimentação de gás
natural. (Incuído pela Lei nº 11.909, de 2009)
Devido a falta de menção aos biocombustíveis, é possível que surja conflito este o disposto
nesta norma e a Lei 7.029/82.
VII - fiscalizar diretamente e de forma concorrente nos termos
da Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, ou mediante
convênios com órgãos dos Estados e do Distrito Federal as
atividades integrantes da indústria do petróleo, do gás natural e
dos biocombustíveis, bem como aplicar as sanções
administrativas e pecuniárias previstas em lei, regulamento ou
contrato; (Redação dada pela Lei nº 11.909, de 2009)
A Lei 8.079/90 é também denominada de Código de Defesa do
Consumidor, e este inciso inclui a defesa do consumidor como uma
das funções da ANP.
VIII - instruir processo com vistas à declaração de utilidade
pública, para fins de desapropriação e instituição de servidão
administrativa, das áreas necessárias à exploração,
desenvolvimento e produção de petróleo e gás natural,
construção de refinarias, de dutos e de terminais;
Como já estudado, não cabe a ANP promover, diretamente, a
desapropriação ou a instituição da servidão administrativa, mas
apenas criar procedimento para instruir a decisão do Chefe do
Poder Executivo. Apesar da discussão da constitucionalidade das
atribuições da ANP, outras agências que não estão sofrendo tal
questionamento possuem uma competência ainda maior, como a
ANEEL, que pode, diretamente, promover a desapropriação.
IX - fazer cumprir as boas práticas de conservação e uso
racional do petróleo, gás natural, seus derivados e
biocombustíveis e de preservação do meio ambiente; (Redação
dada pela Lei nº 11.097, de 2005)
Cabe a ANP busca meios para tornar mais eficiente o consumo dos
combustíveis.
X - estimular a pesquisa e a adoção de novas tecnologias na
exploração, produção, transporte, refino e processamento;

Por conta deste inciso foi incluída nos contratos de concessão uma
cláusula fixando em 1% da renda bruta para ser utilizado pelas
concessionárias para P&D, além de ter sido desenvolvido outros
programas da ANP (PRH da ANP e apoio técnico do MCT na gestão
do CT-Petro – financiamento de pesquisas).
XI - organizar e manter o acervo das informações e dados
técnicos relativos às atividades reguladas da indústria do
petróleo, do gás natural e dos biocombustíveis; (Redação dada
pela Lei nº 11.097, de 2005)

Envolve todas as informações, comercializáveis (como já visto


antes) ou não.
XII - consolidar anualmente as informações sobre as reservas
nacionais de petróleo e gás natural transmitidas pelas
empresas, responsabilizando-se por sua divulgação;

Procurar, entre as publicações da ANP, o Anuário Estatístico, no


qual ela consolida as informações do setor.
XIII - fiscalizar o adequado funcionamento do Sistema Nacional
de Estoques de Combustíveis e o cumprimento do Plano Anual
de Estoques Estratégicos de Combustíveis, de que trata o art. 4º
da Lei nº 8.176, de 8 de fevereiro de 1991;

Como já explicado, cabe a ANP garantir a execução do disposto na


Lei do Estoque Estratégico.
XIV - articular-se com os outros órgãos reguladores do setor
energético sobre matérias de interesse comum, inclusive para
efeito de apoio técnico ao CNPE;

Busca adequar a administração pública ao entendimento moderno


sobre eficiência, economicidade e celeridade, uma vez que os vários
órgãos do Governo devem se comunicar para cumprir
adequadamente sua função.
XV - regular e autorizar as atividades relacionadas com o
abastecimento nacional de combustíveis, fiscalizando-as
diretamente ou mediante convênios com outros órgãos da
União, Estados, Distrito Federal ou Municípios.

Lembrem-se que a atividade relacionada ao gás natural é de


competência dos Estado (CF/88). Do ponto de vista prático, há uma
maior preocupação da ANP em disseminar
informação/conhecimento, uma vez que, devido ao monopólio, a
iniciativa privada é pouco desenvolvida. Em todo caso, seu dever de
fiscalizar está atrelado a Lei 9.847/99 (que dispõe sobre a sanções
administrativas).
XVI - regular e autorizar as atividades relacionadas à produção,
importação, exportação, armazenagem, estocagem,
distribuição, revenda e comercialização de biodiesel,
fiscalizando-as diretamente ou mediante convênios com outros
órgãos da União, Estados, Distrito Federal ou Municípios;
(Incluído pela Lei nº 11.097, de 2005)

A questão da regulação da produção dos bicombustíveis será vista


em aula própria.
XVII - exigir dos agentes regulados o envio de informações
relativas às operações de produção, importação, exportação,
refino, beneficiamento, tratamento, processamento, transporte,
transferência, armazenagem, estocagem, distribuição, revenda,
destinação e comercialização de produtos sujeitos à sua
regulação; (Incluído pela Lei nº 11.097, de 2005)

Reforça a natureza pública de todas as informações


recolhidas/produzidas pelos agentes do setor.
XVIII - especificar a qualidade dos derivados de petróleo, gás
natural e seus derivados e dos biocombustíveis. (Incluído pela Lei
nº 11.097, de 2005)
A ANP, por conta deste inciso e do art. 9º (a seguir), passou a
especificar (e fiscalizar) a qualidade dos combustíveis.
Art. 9º Além das atribuições que lhe são conferidas no artigo
anterior, caberá à ANP exercer, a partir de sua implantação, as
atribuições do Departamento Nacional de Combustíveis - DNC,
relacionadas com as atividades de distribuição e revenda de
derivados de petróleo e álcool, observado o disposto no art. 78.
Os incisos XIX a XXVIII e o art. 8-A e seus incisos foram incluídos
pela Lei 11.909/09 (Lei do ás Natural) e são especificações de
algumas atribuições já vistas

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