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CRISE DO CAPITAL,

CONSERVADORISMO E
NEOFASCISMOS
Teoria Política. Programa de Pós-Graduação
em Políticas Públicas – UFMA.
O QUE TRAZ DE VOLTA A DISCUSSÃO
SOBRE O FASCISMO?
• Ascensão de movimentos e partidos de extrema direita em vários países do mundo
• O termo fascismo ou neofascismo é suficiente para compreender essa realidade atual?
• Neofascismo (regenerar o fascismo clássico) ou pós-fascismo (herança do fascismo
clássico, mas vem mudando suas formas)? (TRAVERSO, 2019)
• O fascismo no século XX foi fruto de uma severa e sistêmica crise social, política e
econômica
• Descontentamento, movimentos reacionários e violentos, que passam a ser
instrumentalizados pelo grande capital
• Filósofo esloveno
• Maiores influências: Lacan e
Marx
• Desenvolve uma teoria
lacaniana do totalitarismo na
obra “Eles não sabem o que
fazem: o sublime objeto da
ideologia” (1989)
• Textos utilizados: Não
podemos abordar a crise dos
refugiados sem enfrentar o
capitalismo global (2015);

SLAVOJ Žižek “Alguém disse totalitarismo?


– Cinco intervenções do mal
uso de uma noção” (2013)
• Elisabeth Kübler-Ross: os cinco estágios (negação;
CRISE DOS raiva; negociação; depressão; aceitação) – se
aplicam à reação da opinião pública e das
REFUGIADOS autoridades da Europa ocidental ao fluxo de
refugiados da África e do Oriente Médio. Só nunca

EO houve, de fato, a aceitação


• Soluções dadas: abrir amplamente as fronteiras ou
CAPITALISMO proteger o seu próprio modo de vida e deixar que os
africanos resolvem seus próprios problemas

GLOBAL • Qual seria a melhor opção?


O CONGO DE HOJE E OUTROS EXEMPLOS DE UM
TIPO INSURGENTE DE ESCRAVIDÃO
• Caso do Congo de hoje: a situação caótica não é um infortúnio, e sim uma
conjuntura ocasionada pelas intervenções imperialistas. O país não existe mais
como Estado unificado.
• Alguns países não muito ricos do Oriente Médio (Turquia, Egito e Iraque) são
mais abertos aos imigrantes do que alguns países mais ricos (Arábia Saudita,
Kuwait, Emirados Arábes, Qatar). Mas “estamos todos nisso”.
• Uma nova configuração de escravidão: restrição a direitos civis; controle total dos
trabalhadores imigrantes; uso massivo de trabalho forçado. Essas diferentes
formas de exploração são uma necessidade estrutural do capitalismo global.
UM TABU DA ESQUERDA
• Segundo o autor, a esquerda precisa abandonar a ideia pré estabelecida de que “uma
maneira de proteger o modo de vida” é em si mesma protofascista ou racista.

• A verdadeira ameaça ao estilo de vida das pessoas que conseguem permanecer em seus
locais de origem não são os estrangeiros, e sim o modo de produção capitalista global.

• A única maneira de sair desse impasse é movendo-se para além da tolerância ou


respeito em direção a uma luta comum.
CITAÇÕES PARA REFLEXÃO
• “A participação da extrema direita no governo não é uma punição pelo “sectarismo” da
esquerda e pela não aceitação de novas condições pós-modernas – ao contrário, é o preço
que a esquerda paga por ter renunciado a qualquer projeto político radical, por ter aceitado
o capitalismo de mercado como “a única alternativa possível” (p. 235-236)

• Precisamente como marxistas, não deveríamos ter medo de reconhecer que os expurgos sob
o stalinismo de certa forma eram mais irracionais que a violência fascista: paradoxalmente,
esse mesmo excesso é um sinal inconfundível de que o stalinismo, em contraste com o
fascismo, era um caso de revolução perversa autêntica. (p. 93) – Diferença prática entre
stalinismo e nazismo segundo o autor.
PROPOSTAS AO PROBLEMA
• A Europa deve reafirmar seu empenho em proporcionar condições dignas para
a sobrevivência dos refugiados;
• A Europa deve se organizar e impor regras e regulamentos claros;
• Novos tipos de intervenção internacional terão que ser inventados, para evitar
as “armadilhas neocoloniais”
• Proposta mais difícil de ser implementada: mudança econômica radical que
deve abolir as condições sociais que CRIAM refugiados. Uma possível
reinvenção do socialismo?
O DRAMA É QUE A EUROPA SE POLARIZA ENTRE
DOIS PROJETOS: O NEOLIBERAL DAS ELITES E O
DE EXTREMA DIREITA (CANELA, JOAN)

• Crise econômica, crescimento da direita radical, profundo mal estar social


são elementos que nos fazem pensar nos anos 30
• Fascismo clássico x fascismo atual
• Comunismo como ameaça no século XX e islamismo como ameaça no
século XXI
DOSSIÊ
NEOLIBERALISMO E
NEOFASCISMO
NEOLIBERALISMO E NAZIFASCISMO
• Sob o neoliberalismo, recriam-se as condições e os ingredientes do
nazifascismo;
• Ênfase na economia, produtividade, competitividade, lucratividade e
racionalidade instrumental;
• Predomínio da lógica do capital em praticamente todas as esferas da vida social;
• O predomínio do neoliberalismo, como prática e ideologia, leva consigo não só
uma guerra sem fim contra o socialismo, mas também contra a social-
democracia;
• Fábrica de tensões, fragmentações e contradições;
• A mesma guerra do neoliberalismo contra a social-democracia e o
socialismo favorece a fabricação e a generalização de ideologias,
organizações e práticas nazifascistas;
• O nazifascismo desenvolve-se como regime político, cultura política,
técnica de conquista e manutenção do poder e mitos racistas de eugenia e
purificação racial;
• O capitalismo global não fermenta apenas o neoliberalismo, fermenta
também o nazifascismo;
• A indústria cultural tem sido também uma ativa fábrica da cultura
nazifascista;
- exacerbação dos fatos;
- espetacularização;
- culto da violência.
• Inimigos do Neoliberalismo: democracia de massas, Estado de bem-estar e
os sindicatos;
• Principais traços das reformas neoliberais:
- redefinição (e limitação) das funções do Estado e de suas despesas;
- redução do número de funcionários das entidades públicas;
- desregulamentação e privatizações.
• O neoliberalismo econômico leva a uma política conservadora;
• A ascensão do fascismo é demarcada por uma grave crise das condições
de reprodução do capital;
• O fundamentalismo de mercado neoliberal firma suas bases de apoio
numa aposta perigosa: “o mercado não regulado produz crescimento
contínuo, amplia as oportunidades econômicas e sociais, bem como as
escolhas e acessos ao consumo)”;
• A falência da utopia, do ponto de vista lógico, é algo previsível e, para
milhões de seres humanos, algo já empiricamente constatado e
vivenciado;
• Sem uma autocrítica da esquerda nas suas diversas tendências não é
possível uma crítica do neoliberalismo;
• A hegemonia da desregulamentação neoliberal é, por fim, a reação contra
o não-funcionamento, tanto do regulacionismo social-democrata quanto
do modo de produção estatal comunista.
GEOPOLÍTICA DE UM RETORNO ANUNCIADO. HYBRIS NEOLIBERAL
NA REGIÃO LATINO-AMERICANA E DIREITIZAÇÃO DO MUNDO

• José Guadalupe Gandarilla Salgado:


Doutor em Filosofia Política pela
Universidade Autônoma
Metropolitana-Iztapalapa, Pesquisador
e Titular da Universidade Nacional
Autônoma do México no Centro de
Pesquisas Interdisciplinares em
Ciências e Humanidades.
1) NEOLIBERALISMO COMO FASCISMO SOTERRADO.
ALGO MAIS QUE ARREPIANTES AFINIDADES

• Semelhanças entre a situação atual do mundo e a do anos que precedem


a consolidação do fascismo na Europa no segundo quarto do século
XX.
• Estabelecimento de tendências fascistas na resolução de conflitos
sociais.
• Fascismo subterrâneo.
• Neoliberalismo: reversão de conquistas sociais e retraimento das ações
de governo. Expansão pelo mundo inteiro. Mais de 04 décadas.
• Walter Benjamin – “Rua de mão única”.
• Estranho paradoxo: “as pessoas só têm em mente o mais
estreito interesse privado quando agem, mas ao mesmo tempo
são determinadas mais que nunca em seu comportamento
pelos instintos da massa. E mais que nunca os instintos de
massa se tornaram desatinados e alheios à vida”.
• Burguês médio; aqueles que, mesmo sem reunir tais condições
na distribuição econômica, sustentam as posições sociais
daquele grupo dominador e explorador.
• Fascismo – “diversidade de alvos individuais se
torna irrelevante perante a identidade de forças
determinantes”.

Religião secularizada de mercado e


mito do progresso.
• Aceitação crescente do fascismo na Europa dos anos 30 do
século XX e incidência do programa neoliberal de forma
global.
• Benjamin repudia a indiferença. Gramsci – “ódio aos
indiferentes”.
• Gramsci – o destino de uma época é manipulado segundo as
ambições de pequenos grupos ativos.
• “Como o fascismo, o neoliberalismo mostrou todo um
arsenal de procedimentos com finalidades de expulsão
e despossessão de comunidades, povos ou países
inteiros”.

• Hipótese: estabelecimento de relação estreita entre o


fascismo europeu e o neoliberalismo global.
2) A M(m)matrix(z) neoliberal
• Obra de Ludwig von Mises ou Friedrich Hayek, da Escola Austríaca de
Economia.
• Reabilitação do capitalismo do segundo pós-guerra.
• Mão visível e autoritária do Estado – consolidação das sociedades de
mercado.
• Ruptura histórica: endividamento do terceiro mundo; eleição dos
princípios neoliberais.
• Dogmas neoliberais hayekianos e friedmanianos:
axiomas de uma ordem econômica naturalizada;
estratégia de os disseminar por toda a sociedade;
• Lógica econômica – desenho organizacional
inquestionável.
• Princípio da lei.
• “uma engrenagem jurídica finamente provida de um
‘institucionalismo conservador de alto impacto’, de
parlamentares que operam e fazem lobby a seu serviço sem
vergonha nenhuma, pois devem pagar os favores que lhes
permitiram um lugar nas cômodas bancadas do poder
legislativo, dos atos de corrupção abertos ou encobertos nas
instâncias judicializadas em que se resolve, finalmente, a
correlação de forças sociais”.
• “A partir do julgamento do “Mensalão” (2012) inicia-se uma série de modificações legais
e práticas que criam uma nova legalidade e um modus operandi reproduzido e
intensificado pela Operação Lavajato (desde 2014) e disseminado por tribunais e
instâncias judiciárias. As mais importantes por sua influência no processo político são a
adoção da teoria do “domínio do fato”, a prisão após condenação em segunda instância, o
instituto da “delação premiada”, a utilização abusiva da prisão preventiva e da prisão
provisória, o uso e abuso da condução coercitiva. A teoria do domínio do fato, que
permite a criminalização sem provas ou atos de ofício dos superiores hierárquicos dos
acusados de corrupção, foi utilizada no processo do chamado “Mensalão” e serviu para
atingir membros do alto escalão do governo Lula e importantes lideranças do PT,
contribuindo para o avanço do antipetismo em diversos setores sociais e para enfraquecer
eleitoralmente o partido e seus aliados de esquerda”. (MACIEL, David. 2020.
“MUDANÇAS POLÍTICAS E INSTITUCIONAIS NA CRISE DA NOVA REPÚBLICA:
RUMO A UMA NOVA INSTITUCIONALIDADE POLÍTICA”).
• Século XXI – domínio incontestável no neoliberalismo;
“novo razão do mundo”.

• Qualidade de totalização.
• “Por meio da racionalidade neoliberal, fez-se das pessoas
um mecanismo transmissor das lógicas que governam
seu funcionamento”.
3) AMÉRICA LATINA COMO CAMPO DE
LUTA
• “O novo século de nossa América abriu-se a outro tipo de
aventura, permitiu-se a nos oferecer uma imagem um tanto mais
alentadora”.
• “Progressistas”, “desenvolvimentistas” e “neopopulistas” .
• “América Latina é um campo de tensão e de conflito onde se
joga e se jogou a deriva do neoliberalismo; de sua imposição, da
tentativa de sua retração e agora de um enigmático retorno”.
• Visão negativa do “populismo” – legitimidade à reestruturação
neoliberal.
• De outro lado, existiam ideias que iam de encontro a esse
processo.
• Pobreza e a concentração e acumulação de riquezas – crise de
representatividade política.
• Processos políticos de grande mobilização e erupção popular.
• MST e o PT com Lula, Hugo Chávez na Venezuela,
Rafael Correa no Equador e Evo Morales na Bolívia.
Uma “prática política que abraçou os caminhos da
mobilização social”.
• Panorama agudo de crises. Reversão dos avanços.
Panorama ainda mais agressivo das forças mais
influentes do capital.
• Amplo programa de perda direitos, precarização
integral da resistência.
• “Ordoliberalismo” – Aspecto mais violento de ataque a
instituição social. “Máscara” de incidentes parlamentários,
comissões de investigação ou ações de judicialização da
política.

• Neuroliberalismo” de Hugo E. Biagini – interiorização que


se instalou como o senso comum.
“O que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que
aconteça quanto porque a massa dos homens abdica da sua
vontade, deixa fazer, deixa enrolar os nós que, depois, só a espada
pode desfazer, deixa promulgar leis que depois só a revolta fará
anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma
sublevação poderá derrubar” (Gramsci, 2011, p. 19-20).
BOLSONARO E O
NEOLIBERALISMO
PAULANI, Leda Maria. Dois anos de desgoverno – três vezes
destruição, 2021. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/78-
noticias/606306-dois-anos-de-desgoverno-tres-vezes-destruicao-
artigo-de-leda-maria-paulani. Acesso em: 25 jul. 2021.
NEOLIBERALISMO

• Mínima intervenção do Estado


• Abertura da economia
• Privatizações
• Flexibilidade das lei trabalhistas

o REDUÇÃO DOS GASTOS PÚBLICOS


NEOLIBERALISMO E BOLSONARO

• Deputado Jair Bolsonaro

• Candidato Bolsonaro em 2018

• Primeiros 2 anos de governo

• Pré-candidato a reeleição em 2022


DEPUTADO JAIR BOLSONARO

• Plano Real
• Petrobras e Telecomunicações
• Reforma Administrativa
• Reforma da Previdência
• Vale do Rio Doce
DEPUTADO JAIR BOLSONARO

• Fascismo cultural:
Anticomunista doente, racista, machista, homofóbico, misógino e tirano,
ou seja, um digno representante do fascismo cultural.

(PAULANI, 2021)
DEPUTADO - CANDIDATO

O golpe de 2016; à propagação de fake news; do desconforto dos


estratos superiores com a circulação de pretos e pobres em espaços
antes a eles interditados; à armação jurídico-institucional impedindo
Lula de concorrer às eleições; à ininterrupta ascensão das igrejas
neopentecostais; do ódio ao PT, cuidadosamente cultivado, a partir
da operação Lava Jato; à indiferença das massas frente ao
impeachment; à prisão de Lula.
(PAULANI, 2021)
CANDIDATO BOLSONARO

• Apoio conservador
• Paulo Guedes
• Agenda Liberal:
o Reformas
o Privatizações
o Flexibilização de Leis Trabalhistas
PRIMEIROS 2 ANOS DE GOVERNO

No balanço da primeira metade de seu mandato o governo não


entregou o que prometeu: a reforma administrativa está empacada,
as privatizações não saem do papel, os trâmites para a efetivação da
carteira verde e amarela não andam e a capitalização da previdência
também não saiu, apesar de aprovada a reforma.

(PAULANI, 2021)
PRIMEIROS 2 ANOS DE GOVERNO

• Redução dos Ministérios


• Reforma da Previdência
• Reforma Administrativa
• Reforma Tributaria
• Carteira de Trabalho Verde e Amarela
• Privatizações:
Correios, Eletrobras, Telebras, Casa da Moeda, EBC, Lotex, Codesp, Emgea, ABGF,
Serpro, Dataprev, CBTU, Trensurb, Ceagesp, Ceasaminas, Codesa, Ceitec.
PRÉ-CANDIDATO A REELEIÇÃO

• Enfraquecimento da “agenda liberal”


• Pandemia de COVID-19
• CPI da COVID
• Redução da popularidade do governo

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