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Efeitos de rotação de culturas sobre o controle de doenças

Um dos mais notáveis efeitos da rotação de culturas tem sido na redução na população de fitopatógenos.
fitopatógenos
Os agentes causais das doenças de plantas podem ser classificados em parasitas biotróficos e necrotróficos.
necrotróficos
Controle de doenças radiculares
Controle de doenças da parte aérea
Controle de doenças da haste da soja
Os agentes causais do cancro da haste (Diaporthe phaseolorum f. sp. meridionalis), da podridão branca da haste (Sclerotinia
sclerotiorum) e da podridão parda da haste (Phialophora gregata), podem ser controlados, em parte, pela rotação de culturas.

A rotação de culturas de verão controla o cancro da haste da soja, pois o agente causal é necrotrófico e só permanece viável,
enquanto houver resíduos de soja no solo.

Deve-se levar em consideração que, existe outros hospedeiros do patógeno, tais como tremoço azul que, se semeado no inverno
em lavoura onde ocorreu a doença, poderá aumentar a quantidade de inóculo.

O fungo S. sclerotiorum,
sclerotiorum forma esclerócios que sobrevivem no solo até oito anos.

Se estes esclerócios forem enterrados a mais de três centímetros de profundidade, não conseguirão lançar os esporos no ar.

Portanto, uma lavra profunda ou preparo convencional, poderiam contribuir para a redução drástica desse patógeno.

A permanência de esclerócios na superfície, em lavoura manejada com programa contínuo de plantio direto irá beneficiar tais
patógenos, provocando o aumento da intensidade dessa doença.

Para podridão parda da haste da soja, a rotação de culturas diminui a quantidade de inóculo no solo, contudo não erradica o
patógeno.

Apesar disso, com um verão de rotação, reduz-se até 30% o número de plantas com sintomas dessa doenças.
Efeitos de rotação de culturas sobre o controle de plantas daninhas
A rotação de culturas permite o controle de muitas espécies de plantas daninhas que vegetam em sincronismo com uma
determinada cultura.

Cada cultura é, geralmente, infestada por plantas daninhas que possuem as mesmas exigências da espécie econômica e
apresentam os mesmos hábitos de crescimento.
Ex:
capim-arroz (Echinochloa crusgalli), em lavoura de arroz,
o apaga-fogo (Alternartthera ficoidea), em lavoura de milho,
o nabo (Raphanus raphanistrum), em lavoura de trigo
o caruru-rasteiro (Amaranthus deflexu), em cana-de-açúcar, são alguns exemplos dessa associação.

Quando são aplicadas as mesmas práticas culturais, seguidamente, ano após ano, no mesmo solo, a associação plantas daninhas-
cultura tende a ampliar-se, refletindo, negativamente, na produção, na qualidade dos produtos e nos lucros.

A rotação de culturas deve ser programada de tal forma que, interrompa o ciclo biológico das plantas daninhas comuns e mais
difundidas, utilizando-se espécies competitivas, cujo hábito de crescimento sejam contrastantes, além do uso de técnicas
culturais adequadas.

A rotação de culturas quando é acompanhada do emprego de sementes isentas de propágulos de plantas daninhas, torna-se um
método eficaz para manter o solo livre de espécies indesejáveis.
Efeitos de rotação de culturas no crescimento de plantas

Esta cobertura vegetal do solo pode proporcionar, tanto efeitos positivos como negativos, sobre o crescimento de plantas.

Os efeitos positivos são observados no controle de plantas daninhas, da erosão e da oportunidade de semeadura das culturas
em sua melhor época.

Os aspectos negativos estão relacionados aos efeitos alelópaticos sobre o desenvolvimento de plantas e sobre as doenças de
cereais que se multiplicam em tecidos mortos deixados na superfície do solo, causando a diminuição do rendimento de grãos das
culturas em sucessão.

O efeito está relacionado diretamente, com a quantidade de palha da cultura anterior.

Os resíduos de aveia, de centeio, de azevém + ervilhaca e de nabo forrageiro, colhido no mesmo dia, deixaram o terreno mais
limpo de plantas daninhas do que em relação ao trigo, ao triticale e ao tremoço.
Alelopatia e seus efeitos

Existem dúvidas se as substâncias alelopáticas representam o produto final do metabolismo celular ou se são sintetizadas pelas
plantas com funções específicas. Alguns pesquisadores defendem a primeira hipótese, pois existem maiores quantidades de
agentes aleloquímicos nos vacúolos das células, onde seriam depositados para evitar sua própria autotoxicidade. Já, outros,
consideram que a produção desses compostos é regida pelas leis da genética e que estão sendo constantemente sintetizados e
degradados pelas plantas.
O efeito das substâncias inibidoras é mais pronunciado em solos arenosos do que naqueles ricos em matéria orgânica, pois a
inativação e destruição das toxinas são mais lentas em solos pobres.
pobres

Baseado nesses aspectos, é de se esperar maior influência alelopática em solos arenosos do que em solos ricos em
microrganismos e frações coloidais.

Compostos químicos com efeitos alelopáticos

Entre os agentes alelopáticos, existem mais de 300 compostos secundários vegetais e microbiológicos pertencentes a muitas
classes de produtos químicos e esse número continua aumentando com a realização de novas pesquisas.

Essa diversidade entre estruturas aleloquímicas é que dificulta os estudos de alelopatia.

Outra complicação é que a origem de um aleloquímico frequentemente é obscura e sua atividade biológica pode ser reduzida ou
aumentada pela ação microbiológica, oxidação e outras transformações.

Possíveis fontes de aleloquímicos no ambiente das plantas incluem numerosos microrganismos, certas invasoras, uma cultura
anterior ou mesmo a cultura atual. Similarmente, as espécies afetadas podem ser os microrganismos, as invasoras ou a cultura.
A inibição alelopática resulta da ação conjunta de um grupo de aleloquímicos que, coletivamente, interferem em vários
processos fisiológicos e dependem da extensão dos estresses bióticos e abióticos associados. A alelopatia está estreitamente
ligada a outros estresses ambientais, incluindo temperaturas extremas, deficiências de nutrientes e de umidade, radiação,
insetos, doenças e herbicidas. Essas condições de estresse freqüentemente aumentam a produção de aleloquímicos,
aumentando o potencial de interferência alelopática.
Na Figura verifica-se que após a liberação pela “planta doadora”, um composto aleloquímico pode seguir por diferentes vias (ou
ser alterado), até causar o efeito alelopático na “planta receptora”.
Vias prováveis seguidas por compostos aleloquímicos da liberação pela planta doadora até causar o efeito alelopático na planta receptora.
Adubação verde e alelopatia

Inicialmente, a inibição alelopática exercida pelos restos de culturas foi atribuída à ação de impedimento físico da camada
vegetal ou, até mesmo, ao impedimento da passagem de luz, que é importante para a germinação das sementes de certas
espécies.
Considerações finais
Trabalhos mais antigos revelaram que, quando a monocultura era praticada durante anos seguidos, evidenciava-se a liberação de
alguns compostos, durante a decomposição dos restos vegetais, que se acumulavam no solo até atingirem concentrações
inibidoras do crescimento da própria planta.

Para que isto fosse evitado, recomendava-se a prática de rotação de culturas.

Entretanto, como pode ser observado, a inibição alelopática não é somente sobre plantas de diferentes espécies.

O exemplo mais expressivo de auto-inibição é do trevo vermelho, conhecido na Europa desde o século XVII.
Verifica-se o efeito negativo de restos culturais da colza sobre a soja em plantio direto, diminuindo a altura de plantas e sua
produtividade. Isto tem sido verificado, em períodos secos, com má distribuição de chuvas, durante o estabelecimento e o
desenvolvimento da soja após a colza.
Insetos de importância econômica associados às espécies vegetais usadas como adubos verdes

O surgimento de pragas está relacionado, principalmente, à simplificação do agroecossistema, através do cultivo de extensas
áreas com uma só espécie de planta (monocultura).

Muitos são os insetos associados a espécies vegetais condicionadoras de solo.


Entretanto, dependendo da área, da região e das espécies cultivadas, podem ou não acarretar danos e, como consequência,
prejuízos para esses cultivos.
Muitas espécies de insetos, consideradas pragas, têm comportamento variado de acordo com as condições edafoclimáticas,
sistemas de cultivo, entre outras.
Caracterização dos insetos e suas relações com as plantas condicionadoras de solo
Insetos subterrâneos

Cupins subterrâneos ou cupins fitófagos (Ordem Isoptera)

São geralmente citadas, atacando plantas vivas, as espécies Procomitermes triacifer, Heterotermes spp., Syntermes molestus,
Neocapritermes spp. e Coptotermes sp..
Coros, pão-de-galinha, bicho-bolo ou escarabeídeos (Ordem Coleoptera, Famlia Scarabaeidae)

Algumas espécies têm sido relatadas atacando tanto gramíneas como leguminosas. São elas: coró-do-trigo (Phyllophaga sp. e
Phytalus sanctipaulí), coró-das-pastagens {Diloboderus abderus) e coró-pequeno (Cydocephala flavipennis).
Insetos de superfície
Lagarta rosca (Agrotis ipsilon - Ordem Lepdoptera, Família Noctuidae)
Descrição e biologia
Os adultos são mariposas com 35 mm de envergadura cujas asas anteriores são marrons com algumas manchas pretas e as
posteriores semitransparentes. Cada fêmea pode colocar até mil ovos. As lagartas possuem coloração marrom, cinza ou quase
preta, podendo atingir até 50 mm de comprimento. Durante o dia, geralmente, permanecem sob torrões ou em galerias e,
quando tocadas, enrolam-se, daí o nome vulgar de lagarta-rosca.
Lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus - Ordem Lepidoptera, Família Pyralidae)
Formigas cortadeiras (Atta spp. e Acromyrmex spp. - Ordem Hymenoptera, Família Formicidae)
Insetos da parte aérea
Insetos mastigadores
Vaquinhas (Diabrotica spp. e Cerotoma spp. - Ordem Coleoptera, Família Chrysomelidae) e
Burrinho (Epicauta atomaria - Ordem Coleoptera, Família Meloidae)
Planejamento de um sistema de rotação de culturas
A rotação de culturas

em função de seus benefícios conservacionistas e econômicos, constitui-se num requisito fundamental


para a viabilização do sistema plantio direto como um negócio agrícola sustentável.
Manejo de restos culturais e de culturas de cobertura do solo

Culturas destinadas à produção de grãos

Manejo dos restos culturais

À exceção da cultura do milho, a colheita das demais culturas deve ser efetuada o mais próximo da superfície do solo possível,
almejando-se com isto facilitar a operação de plantio da cultura subsequente.
Culturas destinadas ao pastoreio

O estádio da planta para o início do pastoreio é variável com a espécie, sendo sua observação importante para garantir a
eficiência da prática.
Contudo, esse período é essencialmente dependente do comportamento do clima, das condições de fertilidade do
solo e do estado das plantas pastoreada.
Culturas destinadas à cobertura do solo

No planejamento de sistemas de rotação de culturas nem sempre é possível contar exclusivamente com espécies geradoras de
renda direta, como as produtoras de grãos ou de forragem.
Acúmulo e distribuição de matéria orgânica
A manutenção de restos culturais na superfície do solo provoca alterações com reflexos diretos na fertilidade do mesmo. Os
efeitos são marcantes são:
Redistribuição no perfil

No plantio direto deixa de existir a camada arável dando lugar a outra camada enriquecida com resíduos orgânicos, que alteram
a dinâmica da matéria orgânica e a liberação de nutrientes no solo.
Nitrogênio: mobilidade e perdas
O movimento da água tende a ser descendente em função de canais existentes e o nitrato tende a acompanhar esse fluxo para
camadas mais profundas. A cobertura de solo promove menor perda de água por evaporação, com maior retenção na superfície,
favorecendo o fluxo de água pelos microporos.

O cultivo consecutivo de milho por 8 anos, cuja relação C/N de resíduos é superior a 50, proporcionou a imobilização de
nitrogênio por longo período. Deve-se considerar o efeito marcante dos invernos rigorosos das regiões temperadas (USA) que
interrompem a atividade biológica do solo.

Observou-se no plantio direto um conteúdo de N-mineral,


N-mineral ao redor de três vezes superior ao preparo convencional, na camada
de 0-7 cm.
Respostas de culturas a nitrogênio

Teores de nitrogênio e de carbono na matéria seca e relação C/N de diversos materiais.


Plantas para Cobertura Verde C N C/N Estágio de amostragem
%
Aveia Preta 42,37 1,00 42,3 Grão leitoso
Centeio 43,10 1,92 22,44 Grão leitoso
Palha de Milho 47,01 0,93 64,38 Resíduos de colheita
Ervilhaca Comum 42,74 2,83 15,10 3ª floração
Ervilhaca Peluda 43,10 2,30 18,74 Plena floração
Lentilha 45,66 2,20 20,75 3ª floração
Nabo Forrageiro 35,43 2,18 16,25 Pré-floração
Serradela 41,49 2,25 18,63 Plena floração
Fósforo: acumulação e distribuição

O não revolvimento de solo, restringe à praticamente duas, as opções


de aplicação de fósforo para as culturas: no sulco de semeadura (ao a acumulação de fósforo na camada superficial
lado e abaixo de semente) ou a lanço sobre a superfície do solo.
Calagem em solos sob plantio direto

Do ponto de vista químico, trabalhos em solos tropicais de Porto Rico, verificara efeito da calagem até 61 cm de profundidade,
quando grandes quantidades de calcário e fertilizantes nitrogenados foram aplicados na superfície. Observaram que sem
aplicação de nitrogênio, o movimento de calcário não foi expressivo. Postulou-se que o nitrogênio do fertilizante reagia com
elementos oriundos da dissociação do calcário (Ca e Mg), formando sais solúveis, sujeitos a lixiviação pelo movimento
descendente de água.

A explicação biológica é através do incremento de minhocas nesse sistema, promovendo a mistura solo/corretivo e
transportando para a subsuperfície. Nas observações visuais nos primeiros anos do experimento, constara grande número de
canais desses organismos a profundidades de até 60 cm, e em várias dessas galerias fora encontradas raízes em
desenvolvimento. Por outro lado, em condições brasileiras, a natureza dos solos é de eleva acidez e está estreitamente ligada à
presença de alumínio em subsuperfície. As condições climáticas permitem intensa lavagem de bases, pois, em geral, o mineral de
argila predominante é a caulinita, que possui baixa capacidade retenção de cátions.

Em levantamento de população de minhocas, constatou-se em um Latossolo Vermelho Amarelo, na região de Castro, sob plantio
direto, há 16 anos, 597.600 minhocas/ha, enquanto na gleba ao lado, foi interrompido o plantio direto (com 15 anos), com o
cultivo de batata e posteriormente no cultivo de milho, encontraram-se 41.420 minhocas/ha.

No SPD a tendência da acidificação é inferior ao PC. O que se verifica em situações como essa, é a elevada taxa de infiltração
de água no solo, possibilitando o transporte de partículas finas de calcário para profundidades maiores no perfil, por efeito de
arraste, permitindo a reação de neutralização, melhorando as condições de desenvolvimento radicular.

No SPD, a tendência da acidificação é inferior a do preparo convencional devido a menor taxa de mineralização do material
orgânico acumulado na superfície, com menor liberação de ácidos orgânicos, além do maior conteúdo de água no solo,
promovendo maior diluição da solução de solo.
Produção e taxas de decomposição da biomassa vegetal

Durante o processo de decomposição, os constituintes dos tecidos sofrem o ataque de enzimas microbianas,
ao mesmo tempo em que são sintetizadas novas células. Ocorre assim o aumento da população microbiana do
solo e finalmente, produtos do metabolismo são excretados ao meio, onde são acumulados e/ou novamente
metabolizados.
Ambiente do solo e velocidade de decomposição dos restos culturais

Os resíduos culturais respondem diferentemente ao ambiente do solo. Os resíduos que permanecem na


superfície do solo, decompõem-se mais lentamente do que quando esses resíduos são incorporados ao solo
pelas operações de preparo do mesmo.

A taxa de decomposição de restos culturais é uma indicação da liberação de substâncias ao meio ambiente.

A permanência de restos culturais por um determinado período sobre o solo é desejável, tanto sob os
aspectos de conservação de solo e de economia de água, como para o controle de plantas daninhas.

No entanto, sob o ponto de vista fitossanitário, não é desejável que eles aí permaneçam por períodos
relativamente longos.

Dessa forma podem, constituir-se em fonte de inoculo para fitopatógenos para as próximas culturas.

Manejo dos restos culturais

O manejo, tanto mecânico como químico, da aveia preta e do azevém, deve ser realizado no mínimo 20 dias
antes da semeadura do milho, para evitar possíveis efeitos alelopáticos de restos culturais sobre as plantas
desta cultura.
Adubação verde: estratégia para uma agricultura sustentável

Ao longo de milhares de anos, diferentes povos têm realizado uma agricultura baseada no manejo dos
materiais disponíveis nas propriedades rurais. Dentre esses materiais, destacam-se aqueles de origem
orgânica (esterco, restos de cultura, composto, etc.) que possibilitam uma melhoria da qualidade do solo e
um aumento da produtividade vegetal.

No final do século XIX, essa forma de fazer agricultura foi transformada por descobertas científicas que
abriram caminho para o uso de fertilizantes minerais. Os aumentos de produtividade decorrentes da
utilização de tais produtos fizeram com que vários agricultores abandonassem as práticas de adubação
orgânica, criando um modelo de agricultura cada vez mais dependente de insumos externos às propriedades
rurais. A introdução de novas técnicas como o uso de agrotóxicos, variedades melhoradas geneticamente e
maquinária ao longo do século XX aumentaram cada vez mais essa tendência. Convencionou-se chamar o
avanço das indústrias química, mecânica e do melhoramento genético na área agrícola como “Revolução
Verde”.

Nas décadas de 1950 e 1960, a “Revolução Verde” atingiu os países do Terceiro Mundo. Os governos locais
criaram linhas de crédito atreladas à compra de insumos agropecuários, enquanto as principais escolas de
agronomia destes países reformularam seus currículos, valorizando as técnicas associadas ao novo modelo
agrícola.

A partir da década de 1970 = sérios problemas = “Revolução Verde”.

A degradação da capacidade produtiva dos solos,


associada à proliferação de pragas e doenças,
causou um empobrecimento dos agricultores, devido ao aumento dos custos de produção.
Além disso, observou-se uma menor qualidade dos alimentos produzidos.
Desta forma, diversos grupos de agricultores e profissionais da área rural têm proposto a adoção de
práticas que favoreçam os processos biológicos (fixação biológica de nitrogênio, ciclagem de nutrientes,
etc.) encontrados nos agroecossistemas, como uma alternativa ao modelo agrícola da “Revolução Verde”.
Dentre as diversas práticas, merece destaque a adubação verde, que consiste na utilização de plantas
em rotação ou consórcio com as culturas de interesse econômico. Tais plantas podem ser incorporadas
ao solo ou roçadas e mantidas na superfície, proporcionando, em geral, uma melhoria das
características físicas, químicas e biológicas do solo.

Efeitos da adubação verde nas características do solo

Efeitos químicos
Efeitos físicos
Devido à aumentos na porosidade e agregação do solo, a tendência de uma área protegida por cobertura vegetal é possuir uma
> taxa de infiltração de água. Um solo submetido à intensidade de precipitação de 60 mm/h ainda sofria infiltração de água
quando a taxa de cobertura era de 100 %, enquanto nesse mesmo solo descoberto houve infiltração de apenas 20 a 25 % da
água da chuva.

A ocorrência de camadas compactadas promovidas pelo uso de implementos agrícolas pesados reduz a infiltração de água no
solo. Esse efeito pode ser atenuado através do cultivo de adubos verdes que apresentam um sistema radicular bem
desenvolvido, como o guandu, tornando possível um rompimento dessas camadas.

A manutenção da cobertura vegetal promovida pelos adubos verdes permite ainda uma retenção mais eficiente da água na
superfície do solo, além de reduzir a oscilação térmica na camada superficial.
Efeitos biológicos
O cultivo com leguminosas favorece um aumento na população de fungos micorrízicos nativos do solo. Esses
microrganismos associam-se às raízes das plantas cultivadas, aumentando a absorção de água e nutrientes e
permitindo um melhor aproveitamento dos fertilizantes aplicados ao solo,
solo principalmente os fosfatados.

Como consequência da melhor nutrição, as plantas micorrizadas desenvolvem maior tolerância às doenças e à
seca. Ao contrário das bactérias fixadoras de nitrogênio dos gêneros Rhizobium e Bradyrhizobium, que se
associam apenas às leguminosas, os fungos micorrízicos arbusculares (MA) são capazes de estabelecer
simbiose com praticamente todas as plantas cultivadas. Uma vez que a produção de grandes quantidades de
inoculante desses microrganismos ainda apresenta limitações de ordem prática, torna-se fundamental a
adoção de práticas de manejo de solo e de plantas que favoreçam a população de fungos MA nativos do solo.
Dentro desse contexto, a adubação verde merece especial atenção.

Outro grupo de organismos do solo favorecido pela manutenção de uma cobertura vegetal são as minhocas.
minhocas

Elas atuam na redistribuição de resíduos orgânicos no perfil do solo, contribuindo na decomposição da MO.
Através da abertura de canais, as minhocas também favorecem a maior aeração e infiltração de água no
solo.

A adubação verde mostra-se ainda eficiente no controle de nematóides.


nematóides

Alguns mecanismos responsáveis pela redução do número de nematóides pelo cultivo de adubos verdes:

(1)A decomposição de algumas espécies vegetais no solo libera diferentes substâncias aleloquímicas;

(2)Os resíduos vegetais adicionados ao solo incrementam sua atividade biológica, aumentando o número e as
espécies de organismos, o que conduz a um equilíbrio natural que reduz a possibilidade de haver
predominância de uma espécie fitopatogênica. Pesquisas têm demonstrado que as crotalárias, mucunas e o
guandu são algumas das espécies de adubos verdes que apresentam melhores efeitos no controle de
nematóides.
Comportamento ecofisiológico dos adubos verdes

Cada espécie vegetal apresenta determinadas exigências com relação à fertilidade do solo e ao clima. Uma
consequência disso relaciona-se ao fato de plantas mais rústicas desenvolverem-se bem em solos pobres,
enquanto solos férteis apresentam geralmente plantas mais exigentes. Desta forma, torna-se importante
fazer a escolha das plantas mais adequadas ao uso como adubos verdes a partir das condições
edafoclimáticas observadas em diferentes regiões.

•Leguminosas adaptadas às baixadas úmidas: •Leguminosas adaptadas às condições de seca:

Feijão bravo do Ceará (Canavalia brasiliensis)


Centrosema (Centrosema pubescens)
Feijão mungo (Vigna radiata)
Cudzu (Pueraria phaseoloides)
•Leguminosas adaptadas às condições de sombreamento:
•Leguminosas adaptadas às condições de fogo:
Cudzu (Pueraria phaseoloides)
Centrosema (Centrosema pubescens) Feijão de porco (Canavalia ensiformis)
Siratro (Macroptilium atropurpureum) Trevo branco (Trifolium repens)
Soja perene (Glycine wightii)
•Leguminosas adaptadas às condições de baixa
•Leguminosas adaptadas às condições de frio: fertilidade do solo:

Ervilhaca (Vicia sativa) Crotalaria spectabilis


Trevo branco (Trifolium repens) Feijão bravo do Ceará (Canavalia brasiliensis)
Trevo vermelho (Trifolium pratense) Feijão de porco (Canavalia ensiformis)
Guandu (Cajanus cajan)
Indigofera (Indigofera spp.)
Seleção de leguminosas para a adubação verde

Na escolha de leguminosas que serão utilizadas como adubos verdes, deve-se levar em consideração algumas
características dessas plantas. Com relação ao hábito de crescimento, podem apresentar um comportamento
ereto, prostrado ou volúvel. Quando plantadas em consórcio com outras culturas, as leguminosas de hábito
de crescimento volúvel podem atuar como plantas trepadeiras, exigindo cuidados no sentido de que não
prejudiquem a cultura consorciada.

Características de algumas leguminosas utilizadas para adubação verde

Espécie Ciclo Hábito de Semente


Nome vulgar Nome científico Crescimento Dureza Massa (g/100 sem.)
Feijão bravo C. brasiliensis anual Volúvel Não 58,8
Feijão de porco C. ensiformis anual Ereto Não 114,0
Crotalária C. juncea anual Ereto Não 5,0
Mucuna cinza M. pruriens anual Volúvel Não 110,0
Mucuna preta M. aterrima anual Volúvel Não 68,0
Calopogônio C. mucunoides perene Volúvel Sim 3,5
Siratro M. atropurpureum perene Volúvel Sim 1,4
Cudzu P. phaseoloides perene Volúvel Sim 1,2
Soja perene G. wightii perene Volúvel Sim 0,5
Galáxia G. striata perene Volúvel Sim 3,4
Centrosema C. pubescens perene Volúvel Sim 3,4
Desmódio D. ovalifolium perene semi-ereto Sim 0,2
Estilosantes E. guianensis perene Ereto Sim 0,2
Amendoim forrageiro A. pintoi perene Rastejante Não 14,0
Outra classificação que pode ser feita em relação às leguminosas diz respeito às plantas perenes e anuais.
As leguminosas pertencentes ao primeiro grupo são capazes de rebrotar após a realização de um corte,
enquanto as anuais não apresentam essa capacidade de rebrota. De forma geral, as leguminosas anuais são
capazes de cobrir o solo mais rapidamente que as perenes.

Período de tempo necessário para a cobertura completa do terreno por algumas leguminosas utilizadas como
adubos verdes

Espécie Época de plantio Cobertura do Terreno (dias)

Calopogônio março 105-110

Siratro março 105-110

Cudzu março 105-110

Estilosantes março 135-140

Amendoim forrageiro maio 190-195

Amendoim forrageiro dezembro 105-110

Centrosema dezembro 90-95

Galáxia dezembro 115-120

Mucuna cinza dezembro 35-40


Formas de utilização dos adubos verdes
A adubação verde pode ser classificada, de acordo com sua utilização, em:
Adubação verde de primavera/verão em cultivo solteiro
Consiste no plantio dos adubos verdes no período de outubro a janeiro.
janeiro A ocorrência de
chuvas, associada às altas temperaturas desta época do ano, permite a produção de grandes
quantidades de massa verde. Quando se utilizam leguminosas, ocorre também um grande
acréscimo de nitrogênio ao solo.
A principal desvantagem deste tipo de adubação verde está na ocupação de áreas agrícolas
durante um período em que são cultivadas plantas de interesse econômico.
econômico Uma alternativa
para esse problema seria o plantio de leguminosas em glebas em pousio na propriedade,
deixando-se as outras partes para as culturas comerciais. No ano seguinte, seria realizada
uma rotação.
Adubação verde de outono/inverno em cultivo solteiro
Consiste na semeadura dos adubos verdes entre fevereiro e abril. abril Ocorre ainda uma
diminuição da infestação do terreno por ervas invasoras e redução das perdas de nutrientes
do solo.
O efeito da adubação verde de inverno com feijão de porco na cultura do milho, constatando
que a leguminosa permitiu um aumento da produção de grãos de milho de forma similar à
adição de 80 kg de N/ha na forma de ureia.
A forma de manejo dos resíduos de adubos verdes também traz influências marcantes sobre
a produção de culturas comerciais subsequentes. A manutenção dos resíduos de feijão bravo
do Ceará e feijão de porco em cobertura sobre o solo elevaram em 96 % a produção de
mandioca e em 68 % a produção de quiabeiro, quando comparadas às produções obtidas com a
incorporação dos resíduos.
Além de aumentar a produtividade de culturas comerciais, o pré-cultivo com adubos verdes
permite ainda um aumento na população de microrganismos benéficos do solo. A adubação
verde de outono/inverno com crotalária e mucuna preta permitiu maior colonização das raízes
de batata-doce por fungos micorrízicos arbusculares nativos do solo em comparação ao solo
sem vegetação.
Adubação verde consorciada com culturas anuais

O adubo verde é semeado nas entrelinhas da cultura comercial, permitindo a produção


durante todo o ano. Esse sistema mostra-se particularmente interessante em pequenas
propriedades rurais, pois permite otimizar o aproveitamento de fatores de produção como
energia radiante, água e nutrientes.

Um exemplo deste tipo de adubação verde consiste no consórcio do milho com leguminosas.
No caso da utilização de feijão de porco ou caupi, a semeadura do milho pode ser feita
juntamente com o adubo verde. Já no caso da mucuna preta, a semeadura das leguminosas
deve ser feita depois do plantio do milho. Através do consórcio de feijão de porco com milho,
torna-se possível obter aumentos de até 15 % em relação ao milho solteiro.

Esse tipo de consórcio não é indicado para condições de reduzida disponibilidade de água,
ocasionadas por ocorrência de veranico ou plantio em período seco do ano, sem irrigação.

Nas condições de clima tropical e subtropical, há uma rápida mineralização de matéria


orgânica que pode ser seguida por perdas de nitrogênio. Visando avaliar o fornecimento desse
nutriente no momento de maior exigência da cultura do milho, Em um experimento de campo
com adubação verde simultânea, onde caupi foi semeado nas entrelinhas do milho e cortado
quando as plantas começaram a florescer, por volta de 50 dias após a semeadura. Constatou-
se que a adubação verde aumentou significativamente o teor de N total das folhas de milho,
analisadas oito dias após o corte das leguminosas, enquanto a produção de grãos de milho foi
aumentada em 16 % quando as duas linhas de caupi foram utilizadas como adubo verde
(incorporadas ou deixadas em cobertura).
Adubação verde consorciada com culturas perenes

Nesta modalidade, o adubo verde é cultivado entre as linhas de frutíferas ou de outras plantas
perenes. Devem ser evitados adubos verdes muito agressivos, como as mucunas preta e cinza,
realizando o coroamento das plantas quando for necessário.
Dentre as vantagens da adoção desta prática estão o controle de erosão, redução da incidência
de ervas invasoras e atenuação das perdas de nutrientes do solo.

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