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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL

ULBRA GRAVATAÍ

Nome: Gabriela Paola Torres Gonzalez


Orientador: Prof. Dr. Ítalo Ogliari
Foi-se o tempo em que o discurso historiográfico e
o discurso literário eram separados pela ideia de
verdade. Aristóteles pensava que a história tinha a
verdade como fim e a arte poética apenas o
compromisso de parecer verdade.
Para Foucault a literatura é algo muito particular
que surge entre o final do século XVIII e início do
século XIX.

Antes do século XVIII a produção de linguagem


se dava por questões relativas à memória e a
familiaridade.

“Obras de linguagem” faz com que ambos


discursos se confundam.
O presente estudo tem como objetivo mostrar, a
partir de El cantar del Mio Cid, como o discurso
literário e histórico realmente se confundem na
constituição da memória cultural de uma nação, ou
seja, evidencia como a literatura é tão responsável
quanto o discurso histórico para construção do
imaginário nacional e de seus heróis.
Os textos literários são fatos históricos, já que seu
autor estava historicamente posicionado e sob
influência do momento em que estava vivendo.

“é praticamente impossível pensar em textos


literários sem considerar o contexto histórico em
que surgiram e a partir do qual ganham seu
significado único” (FERREIRA, 2010, p. 02).
Literatura e história eram consideradas como ramos
da mesma árvore do saber que buscava “interpretar
a experiência, com o objetivo de orientar e elevar o
homem” (HUTCHEON, 1991, p. 141).

O contexto histórico influencia no pensamento do


autor. O que está ocorrendo em sua época se
incorpora em sua obra. Assim, a ficção surge como
território daquilo que, apesar de não ser real,
carrega a possibilidade de se acreditar que tenha ou
possa ter ocorrido.
Desde a antiguidade até o século XX a literatura
concebe-se como instrumento regulador e
organizador das imagens ligadas a memória,
formando o imaginário do homem acerca de seu
passado.
Ramos diz que podemos compreender o discurso
literário como estrutura mediadora entre imagens
significativas para a construção da identidade de
uma nação.

O discurso literário pode também ser


compreendido como elemento que interfere na
constituição da identidade de uma nação percebida
por nós como (RAMOS, 2000, p. 88)
No ato de narrar, os fatos passados matizam-se, o
sujeito se dobra sobre a própria vida. Somos levados
a pensar como, pela narração de nossas lembranças,
vamos nos tornando sujeitos e nos inscrevendo na
história. Lembrar é narrar. Narrar é lembrar (...)
(BRAGA, 2000, p.88)
 El cantar de Mio Cid.

 Façanhas de um nobre guerreiro espanhol, chamado


Rodrigo Diaz de Vivar.

 Escrito por volta de 1140, quarenta anos após a morte de


El Cid.

 Joia literária, já que não se tem nada anterior na


literatura espanhola.
Ferreira afirma que “a atração que os temas da
história exercem sobre os escritores e poetas gera a
literatura de ficção, mitos, epopeia antiga, canções
de gesta” (FERREIRA, 2010, p. 4)

A obra nasceu da oralidade do povo (canções de


gesta). Recitadas nas praças pelos trovadores.

Foi a partir das façanhas da memória do povo que


as história das façanhas de El Cid tomou fama.
O autor do poema se inspirou no Cid real, mas por
conta do contexto histórico precisou romantizá-lo.

Reconquista da Espanha para os cristãos.

Essa imagem, não tão real do Cid, favoreceu a


identificação do povo e sua unificação após a
tomada dos reinos pelos espanhóis.
Chamado de “el que em buena hora nació” ou “el
que em buena hora ciño espada”.

“Y el Cid, que em buena hora ciño espada, así


habló: Martín Antonílez, caballero de valiente
lanza: si Dios me concede vida, te he de doblar la
paga. He gastado todo el oro y la plata: puedes ver
que nada traigo conmigo, y buena falta me haría
para todos los que me siguen.” (BLUMENFELD,
2009, p. 30)
 Descrição geográfica presente na obra, mencionando
cidades que existem e estão bem situadas.

 “Ya entra El Cid Ruy Díaz por Burgos; sesenta


estandartes lo acompañaban. Hobres y mujeres salen a
verlo; los burgaleses y las burgalesas se asoman a las
ventanas, todos afligidos y llorosos. De todas las bocas
sale el mismo lamento: - ¡Oh Dios, qué buen vasallo si
tuviese buen señor!” (BLUMENFELD, 2009, p.27)
 Mobilizava centenas de seguidores.

 “Le prepararon al buen Campeador una abundante


comida. Las campanas de San Pedro tañeron a todo
vuelo. En tanto, iban diciendo por Castilla cómo se
alejaba de su tierra el Cid Campeador. Unos dejaban sus
casas, otros heredades. Ese mismo día pasaban el puente
del Arlazón ciento quince jinetes; todos preguntaron por
el Cid Campeador. Martín Antonílez se reunió con ellos
y juntos se encaminaron hacia San Pedro, donde estaba
el bien nacido.” (BLUMENFELD, 2009, p 40)
 Trazia alegria ao seu povo.

 “¡Qué alegría en todas partes cuando el Cid ganó


Valencia y entró en la ciudad! Los que antes andaban a
pie, ya iban a caballo. ¿Quién podría contar el oro y la
plata que ganaron? Ahora todos son ricos. Sacada la
quinta parte por mandato del Cid Rodrigo, vio que le
tocaban treinta mil marcos en moneda; y en especie, ni
contarlo.” (BLUMENFELD, 2009, p.85)
 Força do guerreiro e sua devoção à pátria, ao seu rei e ao
cristianismo.

 “- ¡Gracias a Dios, señor de lo creado! Antes fui pobre y


ahora rico: poseo dinero, tierras, oro, heredades, yernos
míos son los infantes de Carrión; venzo en las batallas
cada vez que Dios lo quiere; moros y cristianos me
respetan. En Marruecos, tierra de las mezquitas, temen
que los asalte cualquier noche, aunque a mí no se me ha
ocurrido. No, no iré a buscarlos, que mejor me estoy en
Valencia, adonde, si Dios me lo consiente, me traerán
ellos el tributo, sea que me lo paguen a mí o a quien yo
ordene.” (BLUMENFELD, 2009, p.143)
Por fim, podemos perceber, ao término de nosso
estudo, que a relação entre história e literatura se
fundem e se confundem com a história do próprio
homem e de seu próprio imaginário.

Não existindo mais o ser empírico, tudo o que há


sobre ele é discurso, é coisa narrada. E assim,
novamente a literatura e a história se mostram
irmãs, consideradas como ramos da mesma árvore
do saber.
Ficou comprovado em nosso estudo, que mesmo
havendo registros históricos atuais, muito mais
comprometidos com uma verdade empírica do
herói aqui tratado, ou seja, tentando mostrar o
homem “real” e sua verdadeira história, o mito,
criado pela literatura, permanece vivo na história e
no imaginário espanhol, fazendo com que grande
parte daquilo que o homem tem como sua nação,
sua história e seus heróis sejam formados disso: de
uma bela e empolgante criação literária.
Estátua de El Cid em Burgos, Espanha
Estátua de El Cid, Zaragoza, Aragón,
Espanha.
Estátua do El Cid no Balboa Park, em San Diego, Califórnia - Estados Unidos
Monasterio de San Pedro de Cardeña (Burgos). Túmulo
do El Cid e sua esposa Dona Jimena
Reprodução do escudo usado por El Cid
em suas campanhas militares.
Tizona e Colada, as espadas de El Cid.

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