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Reinhart KOSELLECK.

História dos conceitos e


história social
In: KOSELLECK, Reinhart. FUTURO PASSADO: contribuição
à semântica dos tempos históricos. Trad. Wilma Maas e Carlos
Pereira. Rio de Janeiro: Contraponto; PUC-Rio, 2006, pp. 97-
118.
Hermenêutica gadameriana
Gadamer (1900-2002)
Década de 1940: Leipzig, Marburgo;
Década de 50: Frankfurt/Heidelberg
1968: EUA e Itália
Aluno de Heidegger; torna a hermenêutica importante no século
XX;
Hermenêutica: ato de compreender fundado nos textos da
tradição e nos produtos do espírito;
Compreender = universal: todo o saber humano tem por base uma
pré-compreensão que o antecede. Gadamer, vol 1, p. 71:
pauldadas em Bourdieu.
Concepção radical de fusão entre linguagem e história.
Relações entre
História dos conceitos e história social
Longa tradição de debate das relações entre as palavras e as
coisas; entre pragmata e dogmata;

H Social: serve-se de textos para deduzir fatos e dinâmicas


fora dos textos (textos = caráter de referência). Objetos:
formações das sociedades, estruturas constitucionais;

H Conceitos: métodos da história da filosofia, da


gramática e filologia históricas, da semasiologia e da
onomasiologia. É um estudo da significação com
metodologia própria.
Definições cf Dicionário Houaiss

Semasiologia: Estudo da significação cuja metodologia de


análise parte das formas linguísticas para indicar as noções ou
conceitos a elas correspondentes; sematologia. Técnica
lexicográfica de partir de significantes para esclarecer, em
dicionários e afins, os significados que lhes correspondem (p.ex.,
mirmecólogo = 'especialista em formigas') [É o que fazem os
dicionários habituais de língua geral.]

Onomasiologia: Estudo da significação cuja metodologia de


análise parte das noções ou conceitos para determinar as formas
linguísticas a eles correspondentes. Técnica de partir de
significados para indicar, em dicionários e afins, os significantes
que lhes correspondem.
Relação HC/HS (continua)
Sem conceitos comuns não pode haver uma sociedade e,
sobretudo, não pode haver uma sociedade política;

Por outro lado, conceitos fundamentam-se em sistemas


político-sociais que são mais complexos do que unidades
linguísticas organizadas sob determinados conceitos-chave.

“Uma sociedade e seus conceitos encontram-se em uma


relação de polarização que caracteriza também as
disciplinas históricas a eles associados”. (p. 98)

Aborda relações HS /HC em 3 níveis: Métodos da HC e


HS; HC = disciplina autônoma; Teoria da HC e da HS.
I - Métodos da história dos conceitos e da
história social
“Portanto, a HC é, em primeiro lugar, um método especializado
da crítica das fontes que atenta para o emprego de termos
relevantes do ponto de vista social e político e que analisa com
particular empenho expressões fundamentais de conteúdo social ou
político. É evidente que uma análise histórica dos respectivos conceitos
deve remeter não só à história da língua, mas também a dados da
história social, pois toda
semântica se relaciona a
conteúdos que ultrapassam a dimensão linguística”.
(p. 103)

Batalha semântica e crise: definir, manter e impor posições políticas;

HS não pode prescindir da HC.


II - A história dos conceitos como
disciplina autônoma
Metodologia da HC: tratar conjuntamente espaço e
tempo, com a perspectiva sincrônica de análise:
Dimensão sincrônica: traduzir significados
lexicais em uso no passado para a compreensão
atual;
Análise sincrônica é completada de forma diacrônica: a
redefinição de significados lexicais anteriores é um dos
mandamentos básicos dos estudos diacrônicos = uso de
conceitos modernos para compreender conceitos
antigos (p.104)
II - A história dos conceitos como
disciplina autônoma
“Em uma segunda etapa, os conceitos são separados de seu
contexto situacional e seus significados lexicais investigados
ao longo de uma sequência temporal, para serem depois
ordenados uns em relação aos outros, de modo que as análises
históricas de cada conceito isolado agregam-se a uma história
do conceito”. (p. 105) = HC separa-se da HS:
Neste estágio, o método histórico-filológico se sobressai e a HC
perde seu caráter subsidiário em relação à HS;
Na perspectiva diacrônica se pode avaliar a duração e o impacto de
um conceito social ou político: palavras que permanecem não são,
por si só, indício da permanência do significado: ex do burguês (pg
105);
Do ponto de vista temporal os conceitos políticos
e sociais encontram-se em três grupos

Conceitos tradicionais (Ex. Aristóteles): significados


lexicais permanecem em parte;
Conceitos de mudança: mesma palavra; grandes
alterações = significado só recuperado historicamente;
Conceito de novidade (neologismos): situação inédita =
novas palavras;
Neologismo: emprego de palavras novas, derivadas ou
formadas de outras já existentes, na mesma língua ou não.
Atribuição de novos sentidos a palavras já existentes na língua
Antônimos: arcaísmo. (Dicionário Houaiss)
É possível um HS da língua, mas a HC tem
delimitação mais rigorosa
Diferença entre conceito e palavra: todo o conceito é uma palavra,
mas nem toda a palavra é um conceito social e político;
Conceitos são generalizantes e polissêmicos;
Sentido de uma palavra pode ser determinado pelo seu uso, um
conceito, ao contrário, deve manter-se polissêmico;

O conceito é indicador dos conteúdos compreendidos por ele, é


também fator: abre horizontes e limita experiências e teorias =
concepção performativa = tensão conceito/fatos

HC sem HS: somente em situações formuladas linguisticamente;

HC não é fim em si mesma, apesar de ter metodologia própria: há


premissas teóricas comuns entre HC e HS.
“Os conceitos são, portanto, vocábulos nos quais se concentra
uma multiplicidade de significados. O significado e o
significante de uma palavra podem ser pensados
separadamente. No conceito, significado e significante
coincidem na mesma medida em que a multiplicidade da
realidade e da experiência histórica se agrega à capacidade de
plurissignificação de uma palavra, de forma que seu
significado só possa ser conservado e compreendido por meio
dessa mesma palavra”. (p. 109)

“Só é passível de definição aquilo que não tem história”.


(Nietzsche)
O método da história dos conceitos é capaz de superar o círculo
vicioso da palavra em direção ao objeto e vice-versa:
“Estabelece-se uma tensão entre conceito e fatos, tensão
que ora se neutraliza, ora parece novamente irromper à
superfície, ora parece ser irremediavelmente insolúvel. É
possível registrar continuamente a existência de um hiato
entre fatos sociais e o uso linguístico a ele associado. AS
alterações de sentido linguístico e as alterações dos fatos, as
alterações das situações políticas e históricas e o impulso
para a criação de neologismos que a elas correspondam
relacionam-se entre si das mais diversas maneiras.” (p.111)
FERES JR e JASMIN, “História dos conceitos: dois momentos de um encontro
intlecletual. In: História dos conceitos: debates e perspectivas. RJ: Loyola/PUC-
Rio/IUPERJ, 2006, p. 25

Relações entre mudança conceitual e social = diversas


formas; 4 possibilidades (depreendidas do texto de
Koselleck)
O estado de coisas e o conceito permanecem estáveis ao
longo de um período de tempo;
Conceito e realidade se transformam simultaneamente;
Conceitos mudam sem que haja uma mudança
concomitante da realidade, ou sejam a mesma realidade é
conceituada de modo diverso;
O estado de coisas muda, mas o conceito permanece o
mesmo.
III – Teoria da HC e teoria da HS

HC busca estado sincrônico e alterações no eixo diacrônico


= HS em busca das estruturas;

Coincidência realidade/conceito = tensão produtiva para HS;

Câmbio entre sincronia e diacronia = estratificação de


significados para HS: curto, médio e longo prazo;

Conceitos = categorias formais para a HS (condições de


histórias possíveis # histórias reais: experiência X
expectativa);

Quanto mais estrutural a HS, mais ela depende da HC;


Reinhart Koselleck
Uma História dos Conceitos:
problemas teóricos e práticos
Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 5, n. 10, 1992,
p. 134-146.
1. O que é um conceito que pode ter
uma história?
“A história dos conceitos coloca-se como
problemática indagar a partir de quando determinados
coneitos são resultados de um processod e
teorização.”
2. Utilização/emprego de
conceitos
Todo o conceito é concomitantemente fato (FATOR!) e
indicador: é não apenas efetivo como fenômeno
linguístico, como indica também algo que se situa para
além da língua.

Relação entre conceito e conteúdo é necessariamente


tensa.

“Considero teoricamente errônea toda postura que reduz a


história a um fenômeno de linguagem, como se a língua
viesse a se constituir na última instância da experiência
histórica”.
3. Critérios seletivos da escrita de uma
história dos conceitos
Todo o conceito se articula a um certo contexto sobre o qual
também pode atuar;

Contextualização pode ser feita nào só de um parágrafo no


texto, mas em unidades maiores (conjunto de textos de
diferentes características: livros, panfletos, cartas, jornais etc);

“Interrogar acerca das possibilidades de formulação


conceitual efetivamente passíveis de serem deduzíveis do
léxico de uma língua”;

Procedimento metodológico da HC: seleção dalquilo que diz


respeito ou não a um conceito.
4. Hipótese: o conceito só pode ser
pensado/falado uma só vez
Sua formulação teórica/abstrata relaciona-se a uma situação
concreta e única (caráter único do conceito);

Mas então, podem os conceitos ter uma história? Diferenciar uso


pragmático da semântica:
O uso pragmático (sincrônico) da língua é sempre único,
irrepetível:
Mas o que eu digo somente pode ser compreendido na medida em
que há conhecimento da semântica do que é dito (conhecimento
prévio do significado das palavras);
A diacronia está contida na sincronia: temporalidades diversas da
linguagem. Mudanças semânticas são mais lentas que as do uso
pragmático.
5. A força diacrônica (contida na sincronia)
deve ser passível de ser mensurada
Trabalho empírico a partir de três tipos de fontes, para
descrever as estruturas temporais dos textos
(elementos que se repetem ou não):
Fontes linguísitcas quotidianas (únicas no seu uso):
como as manchetes de jornais ;
Gênero zeit: dicionários e enciclopédias que permitem
detectar alterações de significados das palavras;
Textos que permanecem inalterados após sucessivas
edições: textos clássicos.
6. Tese principal
A semântica comporta sempre em si estruturas de repetição, mas a
semântica possibilitará ou proibirá diferentes formas de repetição;

A HC só é possível a partir da separação entre sprachausage (uso


pragmátido da língua) e sachanalyse (semântica);

Há uma separação analítica entre apreensão linguística e realidade


concreta dos fatos:
Só então posso perguntar às fontes de que história concreta elas são
indício e que qualidades possuiriam para forjar história (Problema do
uso ortoxo e ingênuo da linguagem da linguagem do marxismo
leninismo para compreender um conceito inexistente no vocabulário:
facismo. Acabou entendido como estágio mais avançado do
capitalismo).

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