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Pedro Tiago de Souza Costa

Ogàn Ònilú t’Òsógìyán do Ilè Asé Odé Tá Ofá Sí Iná

Sobre os discursos de gênero dentro dos cultos Afro-Brasileiros na leitura de


Ruth Landes

Prof. Orientador: Eduardo Henrique de L. Guimarães


Introdução

O Candomblé é uma religião Afro-Brasileira que se desenvolve a partir da Diáspora


Africana no contexto do tráfico transatlântico, tendo a cidade de Salvador como sua grande
referência.

Os debates de classe, raça, gênero são desenvolvidos para compreensão dos modos
heterogêneos de compreensão da sexualidade e do corpo para a sociedade
Para situarmos os debates de gênero e raça, neste trabalho, analisarei o livro fundamental e
pioneiro para o assunto o : Cidade das Mulheres. Escrito pela antropóloga Ruth Landes há
mais de 60 anos. Trazendo o ponto de vista de Foucault e suas críticas acerca dos discursos
de poder colocados sobre sexualidade, tentarei construir o debate sobre gênero dentro das
religiosidades afro-brasileiras, entre o que (re)significações da tradição exortam para as
perspectivas contemporâneas.
Objetivo/Desenvolvimento

 Quanto aos debates relativos a gênero dentro do Candomblé, uma obra de fundamental
importância é Cidade das Mulheres de autoria de Ruth Landes. Antropóloga americana,
que veio ao Brasil no período da ditadura varguista para estudar as comunidades
negras. Incentivada por sua orientadora, Ruth Benedict, e estimulada pelas leituras de
Franz Boas e pelos debates da época sobre o masculino e o feminino, encontrará em
Salvador nas comunidades de Candomblé. A primeira parte do livre será uma
apresentação do seu diário de campo, descrevendo suas sensações e emoções ao se
deparar com o campo, colocando suas impressões diante dos lugares e dos sujeitos que
encontrou na sua trajetória no Brasil. Suas impressões sobre gênero estará presentes nas
suas observações quando encontrara as mulheres negras do candomblé baiano,
envolvida com os debates universalistas do feminismo do período, formulará a noção
de Matriarcado dentro do candomblé.
 Sobre as questões de sexualidade para definir a identidade de gênero dos participantes a
autora classificará, com o rigor “científico”, a homossexualidade masculina com as
categorias de “passivo” e “ativo”.

“Um ou outro pode ser objeto de vigorosa condenação social e, em consequência,


viver como um proscrito, enquanto ao outro se reconhece um papel na sociedade”
(LANDES, 1947. p. 283).

O objetivo do nosso trabalho é observar como no discurso feminista da autora estará


imbuído de valores totalizantes e repressores acerca da sexualidade dentro da religião
do candomblé. Analisando o discurso utilizado acerca da sexualidade com o olhar
repressivo, o que Foucault em sua História da Sexualidade categoriza a hipótese
repressiva como, como resultado do discurso de poder-saber sobre o sexo, no Ocidente,
desde o século XIX, observando como as reproduções dos mecanismos que se serviram
como forma de controle dos corpos como Sciencia Sexualis. Os objetivos específicos
está em perceber como este modo de pensar ocidental sobre o sexo influenciaram sobre
maneira o modo de compreender as identidades de gênero dentro do corpo ritual,
arregimentando e criticando os sujeitos do corpo social dos integrantes do culto.
Considerações finais
 Nossa pesquisa pretende observar como o discurso da sexualidade no Candomblé ainda
possui forte cargo discriminatório das identidades de gênero para as tradições. Tais
práticas, talvez poderíamos pensar influenciadas pela “Ars Erótica”, se tornavam
reguladoras dos corpos, como na Sciencia Sexualis, foram reproduzidas e reforçadas
pelo campo científico. Não desmerecendo a importância do trabalho de Landes, em que
“o trabalho de Landes foi excluído com base na sua preocupação com a questão de
gênero e por causa do seu estilo narrativo...” (BASTIDE apud HEALEY, 1996, p. 156),
seu trabalho ainda está inserido no contexto histórico da época. Nossa reflexão em cima
de Foucault sobre a implementação perversa:

“A implementação das perversões é um efeito-instrumento: é através do isolamento, da


intensificação e da consolidação das sexualidades periféricas que as relações do poder
com o sexo e o prazer se ramificam e multiplicam, medem o corpo e penetram nas
condutas. E, nesse avanço dos poderes, fixam-se sexualidades disseminadas, rotuladas
segundo idade, um lugar, um gosto, um tipo de prática”. (FOUCAULT, 2015, p.54).
Bibliografia
 BASTIDE, Roger. O candomblé da Bahia: rito nagô. 3ª edição. São Paulo: Nacional, 1978. Nova Edição: São Paulo, Cia. das
Letras, 2001.

 BASTIDE, Roger apud HEALEY, Mark. Os desencontros da tradição em Cidade das Mulheres: raça e gênero na etnografia de Ruth
Landes. 1996, p. 154. Link Acesso < https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cadpagu/article/view/1865/1986>

 CARNEIRO, Edison. Candomblés da Bahia. Salvador: Publicações do Museu do Estado e Secretaria de Educação e Saúde da
Bahia, 1948.

 DANTAS, Beatriz Góes. Vovó Nagô Papai Branco. Usos e Abusos da África no Brasil. Rio de Janeiro: Graal, 1988.

 FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade. Vol.1, 14. Ed. Rio de Janeiro: Graal, 2001.

 HOBSBAWM, Eric. “Introdução” In: HOBSBAWM, Eric. RANGER, Terence. A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1984, p. 9-23.

 LANDES, Ruth. A Cidade das Mulheres. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.

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