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Belucha era uma jovem bruxinha, alta,

magra e loirinha, que vivia na Terra do Faz-de-


Conta, no País dos Milagres.
Era tão linda a Bruxa Belucha! E tão diferente das
outras bruxas velhas e resmungonas do seu país!
Quando a jovem bruxinha ia à horta regar as
couves e as alfaces, o Sapo Sapudo dizia para os
seus irmãos e para os seus primos:
- Belucha não é uma bruxa. É antes, uma fada
encantada do século XXI. Reparai bem nos seus
olhos verdes e cintilantes! Parecem mesmo duas
estrelas resplandecentes a brilhar de felicidade ou
duas esmeraldas que enriquecem o seu rosto
com uma beleza surpreendente!
Belucha ouvia o discurso do sapo. E sorria, sorria
sempre com imensa ternura no olhar, dizendo:
-Olá Sapo Sapudo! Hoje estás mais barrigudo…
- Pudera! Já comi todos os bichos, bichinhos e
bichões que queriam destruir a tua horta! – dizia o
Sapo Sapudo, com os olhos cheios de encanto e
admiração.
Na verdade a Bruxa Belucha era exactamente o
contrário das outras bruxas más e vingativas que
ainda viviam naquela terra. Em vez de um nariz
enorme, afiado e repelente, tinha um pequeno,
delicado e arredondado narizito. Em vez de um
queixo enorme, pontiagudo e assustador,
apresentava um queixinho muito bem feito, muito
bem torneadinho. Em vez de uma pele rugosa com
pêlos horrorosos na cara, mostrava um rosto
atraente, suave e muito branquinho. Em vez de
uma dentuça amarela e malcheirosa, apresentava
uns dentes brilhantes, alvos como a neve, todos
muito iguais, todos certinhos e alinhados. Em vez
de usar uma vassoura para viajar de um lado para
o outro, dispunha de um belo cavalo branco, de
crina dourada, muito elegante e veloz, que corria tão
depressa como o vento e parecia ter asas para voar.
Em vez do cheiro a alho, a bruxinha exalava um
inebriante perfume de flores campestres.

A Bruxa Belucha gostava que todos os seres do


planeta Terra e do Universo inteiro, desde o mais
pequenino ao mais corpulento, vivessem felizes e em
completa harmonia. Ela era incapaz de fazer mal a
alguém, de fazer sofrer alguém, de dificultar a vida a
quem quer que fosse. Pelo contrário! Tudo fazia para
criar a felicidade em seu redor, para ajudar a resolver
problemas, dos mais simples aos mais complicados,
para conseguir que os sonhos de todos as seres se
realizassem…
Uma manhã, ainda o Sol não havia acordado,
esticando os seus braços quentinhos e acolhedores
sobre a Natureza adormecida, a Bruxa Belucha, que
estava na sua casinha, ouviu um choro angustiado,
uma voz que se lamentava:
Estou farto, pronto! Estou farto da ingratidão das
pessoas e da vida que levo. Os homens não
compreendem a ajuda que lhes dou nas hortas e,
quando me encontram, dão-me pontapés. As crianças
olham para mim, acham-me muito feio e repugnante,
apanham-me e atiram-me violentamente contra o
chão. O milhafre voa por cima de mim e tenta
apanhar-me para me comer. E eu não faço mal
a ninguém! Vivo apenas para ajudar… É certo que
como os bichos, bichinhos e bichões, mas só faço
isso para permitir que os legumes e as hortaliças
cresçam bem viçosos e verdinhos. Estou farto disto!
Farto! Quem me dera mudar de vida, transformar-me
em homem para não ter medo de nada!
Belucha abriu a janela da sua pobre e velha
casinha. Uma casa no meio das árvores, construída
com troncos carcomidos e cobertos de ramos. Abriu
a janela e viu o Sapo Sapudo mergulhado numa
enorme e profunda tristeza, as lágrimas a correr, a
correr tanto que formavam um pequeno regato…
Um minúsculo fiozinho de água que os rouxinóis e os
pintassilgos tentavam secar, bebendo a melancolia
do sapo e cantando alegremente, cantando sempre,
até que os ares se enchessem de sonoros e
melodiosos trinados.
A bruxinha teve pena do sapo. Saiu de casa,
abeirou-se dele e disse-lhe com voz meiga:
-Olha, sapinho amigo! Eu compreendo a tua dor e a
tua desilusão, mas, infelizmente neste mundo não há
nada nem ninguém que não sofra. A vida é assim
mesmo. Há momentos de alegria e momentos de
tristeza, momentos de encanto e momentos de
desencanto, momentos de dor e momentos de
prazer…
Com olhar triste, o sapo levantou a cabeça e
afirmou:
-Mas, Bruxa Belucha, parece que os homens
andam sempre felizes e que são os donos do
mundo…Dominam todos os animais, fazem o que
lhes apetece…
-Estás enganado, querido sapinho! O que tu
afirmas é uma pura ilusão. O homem parece
realmente o animal mais feliz da natureza, mas é o
que mais sofre. Parece mandar em todos os
animais, matando-os e aprisionando-os, mas é
dominado e maltratado por outros homens. No
fundo, ele é o mais infeliz dos animais, o que tem
menos liberdade – afirmou a Bruxa Belucha.
- Mesmo assim eu queria ser homem para
mandar e para não ser espezinhado – insistiu o
sapo.
Já que estás tão determinado vou fazer-te a
vontade! Mas com uma condição: terás de viver de
uma forma completamente diferente de todos os
outros homens. Amarás e respeitarás sempre todos
os seres da Natureza: animais, plantas, água, ar
solo… Não os maltratarás, não os matarás, não os
poluirás, não lhes causarás qualquer dano. A tua
vida, em todos os momentos, terá de ser um exemplo
vivo de felicidade, harmonia e encanto. Estás pronto
para te transformares em homem e viver de acordo
com as minhas regras? – perguntou a bruxa.
-Estou! – respondeu convictamente o sapo.
Belucha pegou nos seus apetrechos de bruxa,
colocou as mãos em cima da cabeça do Sapo
Sapudo e pronunciou as palavras mágicas que todas
as bruxas costumam usar:
-Abracadabra!
Ouviu-se um pequeno ruído, o Sol brilhou mais
intensamente e… o sapo transformou-se num belo e
garboso príncipe.
-Estás satisfeito, agora? – perguntou a Bruxa
Belucha.
O sapo mirou-se dos pés à cabeça e encheu-se de
vaidade. Depois, afirmou:
- Claro que estou! Gosto muito do meu aspecto.
Sou elegante e …príncipe.
- Pronto! Podes ir à tua vida. E não te esqueças
das regras… - disse a bruxinha.
O sapo, agora príncipe, não moveu um só pé.
Parecia colado ao chão.
-Que estás aí a fazer? Precisas de mais alguma
coisa? – perguntou Belucha.
- Sim… Tenho necessidade de uma companheira
– disse o Sapo, olhando para a sua amiga Sapo
Sabichona.
-Num abrir e fechar de olhos, a Bruxinha
transformou a Sapo Sabichona numa bela princesa.
- E agora, já tens tudo o que querias? –
perguntou, de novo, Belucha.
- Bem…Falta-me uma casa para viver com a minha
amada. – afirmou o sapo.
A bruxa olhou para um enorme pedregulho, ali à sua
beira. Estendeu as mãos sobre ele e disse, fechando
os olhos:
-Abracadabra!
De imediato, o pedregulho se transformou num
palácio enorme, com jardins floridos à volta.
-Agora ide e vivei tal como eu vos disse. Se assim
não for, voltareis à vossa condição de sapos.
Entendido? – interrogou a bruxa.
- Está descansada, amiga bruxinha. Faremos tudo
o que nos disseste – respondeu o príncipe Sapo
Sapudo.
Despediram-se com lágrimas nos olhos.
O príncipe Sapo Sapudo e a princesa Sapo
Sabichona entraram no palácio. Passados alguns
dias casaram e, como não podia deixar de ser, a
Bruxa Belucha foi a madrinha. Houve uma grande
festa em que compareceram todas as pessoas,
bichos, bichinhos e bichões das redondezas.
Pouco tempo depois, o príncipe e a princesa,
agora reis daquela região, criaram uma escola onde
exerciam a função de professores. Todos os outros
seres vivos das redondezas eram seus alunos.
Ensinaram então as mais variadas formas de viver
sem problemas. Sem conflitos, sem guerras…
Ensinaram todos os animais, incluindo o homem, a
respeitarem-se, a ajudarem-se uns aos outros, a
serem bons, solidários e amigos. Ensinaram, enfim,
que a felicidade só se conquista com amor, verdade,
justiça…
Daí em diante, tudo foi diferente naquela terra.
Havia paz e harmonia. Havia trabalho e pão. Havia
um perfeito equilíbrio da Natureza, sem agressões,
sem violências, sem poluição…
De longe, a Bruxa Belucha observava, encantada,
tudo o que acontecia naquela terra e sentia-se feliz,
muito feliz…

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