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Leishmaniose: abordagem da doença em

felinos

Med veterinária Mestre Perla Noe


perlanoe@hotmail.com
22-05-2017
Introdução
• Zoonose causada por protozoário Leishmania
sp.: LT (cutânea, cutâneo-mucosa, cutânea
difusa) e LV (visceral)

• Presente nos cinco continentes. Considerada


doença reemergente

• Desafio para a saúde pública


Introdução
• Transmissão: flebotomíneos (Lutzomyia sp e
Phlebotomus sp.)

• Hospedeiros vertebrados silvestres: gambás,


roedores, tamanduás, canídeos, primatas e
preguiças.

• Hospedeiros vertebrados domésticos: cães


(principal reservatório LV), equinos, GATOS.
Introdução

• Doença em cães amplamente divulgada

• Gatos: antes não implicados no ciclo da


leishmaniose, ↑ de casos LF, poucas
informações

• Convívio íntimo e constante com o proprietário

• Hospedeiros acidentais? Hospedeiros


reservatórios?
Histórico e distribuição da doença

• África
Argélia
- 1912 – gato filhote que vivia com criança e cão
com LV - MO (Sergent,1912)

- 1948 – citologia/lábio, orelha ulcerados (Bosselut,


1948)

Egito – dois gatos filhotes, citologia lesões de pele


(Morsy et al., 1994)
Histórico e distribuição da doença

• Ásia
- Vietnã: um animal, citologia pele (Bergeron,
1927)

- Iraque: dois animais, histologia de pele (Machattie,


1931)

- Irã: quatro gatos, citologia baço e MO (Hatam et


al, 2010)
Histórico e distribuição da doença

•Europa
- Suíça : um animal (Schawalder, 1977)

- França: um (Dunan et al., 1989) ; um (Ozon et al.,


1998)

- Portugal: um (Costa-Durão et al.,1994)

- Espanha:dois (Herváset al.,1999)/um(Hervás et al.,1999)

- Itália: um (Poli et al., 2002)


Histórico e distribuição da doença

•Américas
-Argentina: um animal, 1927 (Brumpt, 1949)

- Venezuela: 3 gatos LT (Bonfante-Garrido et al., 1996)

- EUA: um caso de LT (Craig et al., 1986)


Histórico e distribuição da doença

•Américas
- Brasil:
 PA – amastigotas em nariz, orelhas) ( Mello,1940)
 MG – LT em gata (Passos et al.,1996)
 RJ – 2 casos de LT (Schubach et al.,2004)
 SP – LV – nariz, linfonodos enfartados ( Savani et
al., 2004)
 MS – LT – nariz, orelhas e patas (Souza et al.,
2005)
Espécies de Leishmania identificadas em gatos

Espécies de Leishmania isoladas de gatos

Fonte: Noe, P.; Babo-Terra, V.J. Leishmaniose felina – revisão de literatura. Clínica Veterinária, ano XXI,
n. 122, p.56-68, 2016
Epidemiologia
•Infecção experimental

- Leishmania infantum: 3 gatos, polpa esplênica


criança com LV, via pele e intraperitoneal, (-) (Laveran,
1913)

- L. infantum: polpa esplênica de crianças LV (-)


(Giordano, 1933)

- L. chagasi: emulsão de vísceras de cão LV, via


intraperitoneal (-) (Deane, 1958)
Epidemiologia
•Infecção experimental
-Leishmaniia donovani e L. chagasi (Kirkpatrick et al.,
1984)
Amastigotas IV L. donovani e L. chagasi, parasita em fígado,
baço e medula, sorologia +, sem doença clínica.
Promastigotas ID L. chagasi, sorologia +, sem doença clínica

- L.brasiliensis e L.amazonensis (Barbosa-Santos, et al


1988)
Promastigotas ID nasal, em gatos vacinados (Ag L. brsiliensis)
e não vacinados. Todos apresentaram sorologia +
L. amazonenses: cultura tec. nasal apenas dos não vacinados
Epidemiologia
•Infecção experimental

-Leishmania donovani (Angili & Githure, 1993)


Promastigotas, intracardíaca e IV, (-)

- L.brasiliensis e L.amazonensis (Simões-Matos et al.,


2004)
Promastigotas ID orelha e nariz, lesões de pele, após cura
clínica apresentaram sorologia +
Epidemiologia
• Vetor
Brasil
 Lutzomyia migonei – xenodiagnóstico gatos
inoculados por L. braziliensis, cabeça exposta,
vetores se infectaram (Simões-Mattos et al., 2005)

 L. longipalpis – xenodiagnóstico gatos


naturalmente infectados por L. infantum, vetores se
infectaram (Silva et al., 2010)
Epidemiologia
• Vetor
Peru

 Lutzomyia verrucarum e L. peruensis (L. peruviana


e braziliensis) – o gato como a 3ª sp mais sugada
depois do homem e bovino (Ogosuku et al., 1994)
Epidemiologia
• Vetor
Egito
 Phlebotomus langeroni (L. donovani e infantum) -
sangue de gato no trato digestivo (El-Sawaf et al.,1989)

Quênia
P. guggisbergi (L. tropica)- grande atratividade por
gatos (Johnson et al., 1993)
Epidemiologia
• Vetor
Espanha
 Phlebotomus perniciosus (L. infantum) - sangue
felino em vários vetores oriundos de várias regiões
(Colmenares et al.,1994)

Itália
P. perniciosus (L. infantum)- xenodiagnóstico gato
naturalmente infectado, 20% com sg felino, 4
infectadas com L. infantum (Maroli et al., 2007)
Epidemiologia
• Inquéritos sorológicos, moleculares e
parasitológicos

 Vários trabalhos,
 Diversas técnicas,
 Diferentes N (amostragem)
 Várias partes do mundo

 Grande variação nos resultados


Epidemiologia

Investigação molecular e parasitológica da infecção por Leshmania sp em gatos

Fonte: Noe, P.; Babo-Terra, V.J. Leishmaniose felina – revisão de literatura. Clínica Veterinária, ano XXI,
n. 122, p.56-68, 2016
Epidemiologia

Investigação sorológica da infecção por Leshmania sp em gatos.


Fonte: Noe, P.; Babo-Terra, V.J. Leishmaniose felina – revisão de literatura. Clínica Veterinária, ano XXI,
n. 122, p.56-68, 2016
Epidemiologia

Sorologia
Grande variação taxa de reagentes (0-68%), baixa
titulação de Ac

 Gatos infectados experimentalmente ou


naturalmente: baixa titulação, redução dos níveis de
Ac até soronegatividade.

Reações cruzadas com Toxoplasma sp.,


Trypanosoma sp. e riquetsioses, etc
Epidemiologia
Sorologia
Dificuldade na interpretação de resultados em
animais considerados hospedeiros não habituais

Desconhecida sensibilidade das técnicas


sorológicas quando usadas em felinos

↓ produção de Ac nas infecções por FIV e FeLV?

 Resitência natural dos gatos à Leishmania


Epidemiologia
•Co-infecção com doenças imunossupressoras?

 FIV – vírus da imunodeficiência felina


 FeLV – vírus da leucemia felina
 PIF – peritonite infecciosa felina
 Fatores estressantes

Não há consenso na literatura


Aspectos laboratoriais
• Sorologia: não há assoc entre sinais e sorologia +

• Leucopenia/Leucocitose (neutrofilia, eosinofilia,


monocitose)

• ↓hemácias, Trombocitopenia

•Hiperproteinemia (beta e gama globulinas)


semelhante aos cães, ↓ albumina

• ↑uréia/creatinina, bilirrubina, ALT, AST


Aspectos clínicos
• febre
• letargia
• icterícia, anorexia, perda de peso, emaciação
• vômitos, diarréia
• linfoadenomegalia
• hepatomegalia, esplenomegalia
• abortos
• lesões de pele
Aspectos clínicos
Lesões de pele – região mais afetada é a cabeça:
face, nariz, mucosa nasal, lábios, pálpebras,
orelhas
• eritema pruriginoso ou não
• alopecias
• descamações
• nódulos
• ulcerações
• ulcerações crostosas
Gato com leishmaniose cutânea causada por L. (Viannia) braziliensis (SCHUBACH et al., 2004).
Lesões causadas por L.
(L.) amazonensis.
SOUZA et al., 2005
Ulceração de lesões primárias em gato inoculado com L. braziliensis (SIMÕES-MATTOS et al., 2005)
Nódulo ulcerado em olho de gato infectado por L. infantum (POLI et al., 2002).
Gato com leishmaniose apresentando perda de peso, emaciação e desidratação (Noe &
Babo-Terra, 2016)
Gato com leishmaniose apresentando dermatite
2016) na região da cabeça (Noe & Babo-Terra,
Aspectos clínicos

•Trato digestivo: estomatite, gastrite - Hervás et al.,


1999

• Glomerulonefrite, nefrite, IRC - Hervás et al.,1999

• Manifestações oculares (uveíte, panoftalmia, etc.) –


Hervás et al., 2001; Leiva et al., 2005
Diagnóstico
• MÉTODOS PARASITOLÓGICOS
- Direto – citologia, histopatologia
- Indireto – cultura do agente

• MÉTODOS SOROLÓGICOS
- Detecção de Ac. Eficácia testes reduzida em gatos:
resposta imunológica variada, falta de padronização
dos testes

• MÉTODO MOLECULAR
- PCR: confirmação da presença do parasita,
identificação da sp. Linfonodos, baço, pele, sangue.
Diagnóstico
• Citologia
-Mais usada
-Lesões cutâneas, aspirado de linfonodos, medula
óssea, baço, fígado

• Sorologia: mais usados RIFI ELISA


- Baixa titulação
- Soronegatividade
- Baixa soroprevalência
- Resistência?
Esfregaço a partir de aspirado de linfonodo poplíteo de gato. Presença de numerosas
amastigotas dentro e fora de macrófago (POLI et al., 2002)
Formas amastigotas de Leishmania dentro de macrófago originárias de nódulo cutâneo de gato
(SAVANI et al., 2004).
a) amastigotas intra e extracelulares em esfregaço a partir de lesões de nariz. b) promastigota
após 5dias de cultura (SOUZA et.al., 2005)
Formas amastigotas de Leishmania sp. (setas) em esfregaço de sangue periférico (A) e
linfonodo (B). [Panótico rápido, objetiva de 100x]. Fonte: Antunes et al., 2016 Detecção de
Leishmania infantum em esfregaço de sangue de um felino doméstico. Acta Scientiae Veterinariae.
44(Suppl 1): 162.
Diagnóstico diferencial
•doenças causadas por fungos:
-histoplasmose, criptococose, esporotricose

•neoplasias:
-carcinoma epidermóide
-Fibrossarcomas, etc.

•dermatopatias
TRATAMENTO E PREVENÇÃO

Pouco eficiente, melhora clínica temporária

Coleira Seresto®
cães e gatos.
Imidacloprida + flumetrina
Considerações finais
• Aumento no número de casos

• Comportamento da doença em gatos - descrições


de casos clínicos

• Informações: prevalência, rel. vetor-hospedeiro

• Rara ou pouco diagnosticada?

• Papel do gato na epidemiologia.

• Inclusão da LF diagnóstico diferencial rotineiro de


doenças sistêmicas e dermatopatias felinas.
OBRIGADA!!!

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