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- A Postura Ética do Pas- - Fanatismo em nome - IELB e Homossexualis- - Estudo Bíblico: Ana, p.
tor Luterano, p. 68 da fé, p. 41 mo, p. 77 78
- Ciência e Ética, p. 72 - Homofobia e Liberda- - Sermão: O preço de - Liturgia, p. 84
- Ética e Moral, p. 74 de de Opinião, p. 35 uma alma - Sermão, p. - Música: Aquecendo
- Oferta e Ética, p. 42 - O casamento, o pas- 66 Corações, p. 82
- Superstição e Ética, p. sarinho e o churrasco, - Simbologia: O Lírio
36 p. 86 Pascal, p. 71
Apresentação da Revista
EXPEDIENTE
Publicação mensal de pastores da Igreja
Eletrônica Teologia & Prática
Evangélica Luterana do Brasil (IELB) não oficial. A revista Teologia&Prática é uma iniciativa de pastores da
Tem como propósito divulgar textos teológicos/ Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB). Ela não tem caráter
pastorais, inéditos ou não, produzidos por oficial. Seu objetivo básico é coletar e compartilhar bimestral-
pastores da IELB, recuperar textos teológicos
mente, de forma organizada, via Internet, textos teológicos/pas-
escritos no passado e que não estão disponíveis
na Internet, divulgar de forma mais abrangente torais, inéditos ou não, produzidos por pastores da IELB e que
a teologia evangélica luterana confessional e a regularmente circulam em listas da Igreja. Além disso, procura
reflexão teológica na IELB, e ser uma ferramenta recuperar textos teológicos escritos no passado e que não estão
prática para as atividades ministeriais em disponíveis na Internet. Um objetivo subjacente é a intenção de
suas diferentes áreas. Os conteúdos são de
divulgar de forma mais abrangente a teologia evangélica lute-
responsabilidade dos seus autores.
rana confessional e a reflexão teológica na IELB. Além de pos-
Colaboradores desta edição: sibilitar a reflexão teológica, a revista quer ser uma ferramenta
Comissão de Culto da IELB; Cláudio Ramir prática para as atividades ministeriais em suas diferentes áreas.
Schreiber; Dieter J. Jagnow; Elieu Radins;
Gelson Neri Bourckhardt; Ismar L. Pinz; Jarbas
Hoffimann; Lindolfo Pieper (in memorian); Critérios
Marcos Schmidt; Mario Rafael Yudi Fukue;
Márlon Hüter Antunes; Martinho Rennecke; 1. A produção da revista é coordenada por voluntários. Um (ou mais) editor
Rui Gilberto Staats; Valdo Weber ; Waldyr é responsável para que exista um mínimo de organização na diferentes
Hoffmann. fases do processo.
2. A revista é fechada em PDF e carregada em um depósito da Internet, de
Imagens: onde poderá ser baixada livremente.
As imagens usadas nesta publicação são de livre 3. A revista tem circulação bimestral. Não há um número fixo de páginas.
acesso na Internet. Caso contrário aparecerá, ao 4. Um blogue serve de apoio para as edições, a fim de possibilitar a sua
divulgação pelos mecanismos de busca da Internet.
lado da imagem, a referência ao seu autor.
5. A revista é aberta a todos os pastores da IELB interessados em compar-
Editores: tilhar seus textos (meditações, estudos homiléticos, sermões, resenhas,
Rev. Dieter Joel Jagnow (editor chefe) ensaios, etc.), inéditos ou não. Cada autor é responsável pelo seu texto
Rev. David Karnopp (doutrinária, gramática e ortograficamente). Os textos devem ser enviados
Rev. Jarbas Hoffimann ao editor.
Rev. Mário Rafael Yudi Fukue Nota: O editor pode recusar — ou solicitar que seja revisado — algum
texto, caso julgue que ele afronte a doutrina da IELB. Para tanto, se neces-
Rev. Waldyr Hoffmann
sário, conta com voluntários para a avaliação. Não serão utilizados textos
Diagramador: de conteúdo político-partidário, que promovam o ódio ou a discriminação
Rev. Jarbas Hoffimann ou que firam os princípios e valores da Igreja.
6. A publicação dos textos enviados não é imediata. Existe uma tentativa de
diagramador.RT@gmail.com se ter variação de conteúdos em uma edição e em edições subsequentes.
O editor informa ao autor a situação de cada texto recebido.
Blogue 7. Há uma pauta mínima, no sentido de se buscar conteúdos que de alguma
http://www.revistateologia.blogspot.com forma abordem questões pontuais (exemplo: Reforma, eleições, Natal). A
pauta completa é determinada de acordo com as colaborações recebidas,
Twitter conforme a ordem de chegada.
@revistateologia
8. O organograma de produção é este:
a) Lançamento: até o dia 25 do segundo mês da edição
Colaborações: b) Preparação / Diagramação: do dia 1 ao dia 20 do segundo mês da edi-
Os textos a serem publicados na revista devem
ção
ser enviados ao editor
c) Recebimento dos textos: até o dia 20 do primeiro mês da edição
Contato/Editor:
revistateologia@gmail.com e-mail: revistateologia@gmail.com
blogue: http://revistateologia.blogspot.com
Leitura na Internet: tuíter: http://twitter.com/revistateologia
www.scribd/revistateologia
Ética
- A Postura Ética do Pastor Luterano, p. 68
- Autoridade e Ética, p. 12
- Ciência e Ética, p. 72
- Ética e Moral, p. 74
- Felicidade Ética, p. 4
- Oferta e Ética, p. 42
- Psicanálise e Ética, p. 52
- Superstição e Ética, p. 36
Artigos
- Direto ao Ponto, p. 87
- Fanatismo em nome da fé, p. 41
- Homofobia e Liberdade de Opinião, p. 35
- O casamento, o passarinho e o churrasco, p. 86
- Oxi-dantes, p. 51
Outros
- Estudo Bíblico: Ana, p. 78
- IELB e Homossexualismo, p. 77
- Liturgia, p. 84
- Música: Aquecendo Corações, p. 82
- Sermão: O preço de uma alma - Sermão, p. 66
- Simbologia: O Lírio Pascal, p. 71
Felicidade e Ética Rev. Jarbas Hoffimann
Quando se trata de Ética pode parecer estranho falar de felicidade. 1.1. Consumo não traz
Mas felicidade é, sem dúvida, um tema ético. Nós nos preocupamos felicidade
com nossa felicidade cada dia de nossas vidas. Mesmo que não nos
demos conta disto. Nos preocupamos com a felicidade própria. Com Os bens são uma necessidade
a felicidade dos parentes, amigos e filhos. Muitas vezes nos preocupa- real. Portanto ligam-se à satisfação
mos se os outros são mais ou menos felizes do que nós. Daí surgem das necessidades básicas do ser hu-
a inveja, o desamor, junto a inúmeras outras maldades que saem do mano. Nós necessitamos de comida,
coração humano. moradia, medicina e muitas outras
A felicidade humana é alvo de uma busca quase infinita. E aprovei- coisas que dependem do dinheiro.
tando-se desta busca o mundo à nossa volta oferece opções às milha- Contudo nada disso nos dará feli-
res para sermos felizes. O resumo destas ofertas da mídia é: felicidade cidade se nós não estivermos felizes
consumista, sexual e religiosa. conosco mesmos. Ou melhor: feli-
O tema felicidade é muito abrangente para ser abarcado por este zes com nosso Deus.
breve ensaio. Mas queremos olha-lo por uma ótica talvez pouco vista. Da mesma maneira que os meios
A ótica da ética. E no último capítulo veremos o que Deus tem a nos de comunicação alardeiam a “fe-
dizer sobre a felicidade. Será que é mais feliz o homem com Deus ou licidade” de se ter dinheiro, eles
sem ele? anunciam a inquietude dos “ricos
e famosos”. Pessoas que vão de um
casamento para outro. De uma reli-
1. A Felicidade do amigos. Se nosso cargo na empresa gião para outra. Talvez na incessante
for mais bem conceituado que os busca pela felicidade. Felicidade que
Consumo demais colegas. E muitas outras coi- no fim das contas eles se certificarão
A parentemente ser feliz é uma sas que poderiam ser citadas. de que não está ligada à felicidade
questão econômica. Pelo me- As pessoas e os meios de comu- de consumo. Está ligada à felicidade
nos isso pensa o mundo a nosso vol- nicação aproveitam-se dessa “ne- com Deus. Uma felicidade que só é
ta. E esse pensamento penetra nas cessidade de felicidade” para nos concedida pelo Deus todo podero-
nossas mentes também. Ser feliz é vender (ou pelo menos oferecer) de so.
uma questão de o que tenho ou não tudo. São condomínios que dizem: Ser feliz não é uma questão eco-
tenho. E às vezes uma questão de “venha ser feliz aqui”, oferecendo-se nômica. Realmente.
ter mais do que aquelas pessoas que em cada esquina. Os carros se en-
conheço têm. Nunca menos do que chem de papéis de propaganda de 2. Felicidade Sexual
elas. Isso me deixaria infeliz. bens de consumo que querem ser a
Parece que só seremos felizes solução para nossa felicidade. Sor- “Nós temos um casamento aber-
se tivermos um carro (ou mais) do teios anunciam: “ganhe a casa que to”. “É só sexo, na verdade ele ama é
modelo mais novo. A casa mais bo- vai fazer seus vizinhos morrerem de a mim. Nós concordamos com esta
nita da vizinhança. Se formos mais inveja”. situação para que assim cada um seja
bem sucedidos que os outros. Se Ser feliz é uma questão econômi- plenamente feliz”. “Assaltantes rou-
tivermos mais dinheiro que nossos ca. Será? bam Viagra e vendem no mercado
O sexo foi criado por Deus e abençoado por este no ve each other.” Sensual love and the physical rela-
casamento. Deus quer que nós sejamos felizes também tionship do not create this. “There must be har-
sexualmente. Contudo a felicidade não se restringe ao mony with respect to patterns of life and ways of
sexo. Felicidade é mais do que isso. Mesmo em um casal thinking.” The spouses serve each other in every
normal (que parece estar fora de moda) o sexo não é si- need, beginning with their physical relationship.
nônimo de felicidade. Mas ele pode ser essencial para o The station of marriage is comprehended in the
conjunto do casamento funcionar como Deus quer que law of love.”2
funcione. O apóstolo Paulo disse: “A mulher não tem
poder sobre o seu próprio corpo, e sim o marido; e tam- Diz ainda:
bém, semelhantemente, o marido não tem poder sobre o Marital love is characterized by faithfulness. It is
seu próprio corpo, e sim a mulher. Não vos priveis um ao “a covenant of fidelity. The whole basis and essen-
outro, salvo talvez por mútuo consentimento, por algum ce of marriage is that each gives himself or herself
tempo, para vos dedicardes à oração e, novamente, vos to the other, and they promise to remain faithful
ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa da to each other and not give themselves to any other.
incontinência”. (1Co 7.4-5). Quando nos unimos à pes- By binding themselves to each other, and surren-
soa amada, não temos mais direito egoísta sobre nosso dering themselves to each other, the way is barred
próprio corpo em detrimento à vontade do cônjuge. to the body of anyone else, and they content the-
Somos “um só corpo” unidos pela vontade de Deus. Essa
união, solidificada em Deus, com todos os direitos e 2 Althaus (1982), p. 92.Trad.: Primeiro de tudo, marido e mulher
deveres de um casal, é sinônimo de felicidade conjugal. foram criados um para o outro, felicidade Matrimonial aconte-
ce quando “marido e mulher cuidam um do outro, se tornam
O livro “The Ethics of Martin Luther” de Paul Althaus um, e servem um ao outro.” Amor sensual e relacionamento fí-
nos diz algo muito interessante sobre o casamento: sico não criam isto. “Deve haver harmonia no que diz respeito
First of all, husband and wife are created for each a padrões de vida e maneiras de pensar.” Os cônjuges servem
um ao outro em todas as necessidades, a começar pelo seu
other, Marital happiness results when “husband relacionamento físico. O estado de matrimônio é compreendi-
and wife cherish each other, become one, and ser- do na lei do amor.
mselves in the marriage bed with their one com- kingdom. “Now, if one of the parties were endo-
panion.” Within this covenant of fidelity, sexual wed with Christian fortitude and could endure the
desire and the physical relationship are different other’s ill behavior, that would doubtless be a won-
from what they are outside marriage. In a marria- derfully blessed cross and a right way to heaven.”3
ge properly lived under “the law of love” the sexual
relationship is not — as in prostitution — deter- Essas palavras nos esclarecem que Deus quer que o
mined by the selfish desire for pleasure but through casal seja feliz. Feliz em seu casamento. Que o casal seja
the will to serve the other with one’s own body, as abençoado por Deus através desse casamento e de uma
Paul says, 1 Corinthians 7.3. This law of love (to- vida — também sexual — boa e visando o bem estar do
gether with one’s own capacity to abstain) also de- outro. Primando pelo amor ao próximo.
termines the periods of abstention. Luther refers to Outro tema discutido hoje é o “casamento” entre
Paul’s authority in rejecting any other regulations homossexuais. Se nós concordamos que o casamento
of such abstention. The frequency of sexual inter- foi criado por Deus, sabemos que a união entre pesso-
course therefore need not be limited to what is ne- as de mesmo sexo é qualquer coisa, menos casamento.
Contudo quanto ao homossexualismo não há dúvida
que desagrada a Deus. E se desagrada a Deus é sinôni-
mo de infelicidade para o homem. Muitos “casais gays”
dizem-se felizes por estarem vivendo “plenamente sua
homossexualidade”. Mas até quando essa felicidade va-
zia durará?
Felicidade é garantida por uma relação estável com
Deus. Felicidade é dada por Deus, que quer que nós se- sorte e fica rico?”
jamos felizes. O sexo é importante. Ele foi criado por A desilusão que sente uma pessoa que buscou feli-
Deus. Que também criou o meio para que os casais cidade em religiões falsas e não encontrou certamente
possam viver plenamente sua vida sexual. Porém sexo é grade. Sabemos que na maioria das vezes a religião
pelo sexo não é sinônimo de felicidade. Por mais que é um recurso quase último. Muitas vezes as pessoas já
o mundo queira nos fazer crer nisso. A felicidade vai tentaram de tudo para serem felizes. Por fim tentam a
além. Chega até a Deus. E mais: vem de Deus. felicidade prometida pelas religiões.
Que feliz é uma união abençoada por Deus! Assim Da mesma forma que tratamos no capítulo sobre a
sexo é felicidade. felicidade sexual, a busca por felicidade que recorre às
religiões é movida pelo egoísmo. “Eu preciso ser feliz.
3. Felicidade “zen” Tenho tudo que o dinheiro poderia comprar, mas não
sou feliz. Tenho uma bela família e amigos, mas não sou
Proliferam-se às milhares as religiões da felicidade feliz. Meu casamento é ótimo, mas não sou feliz. Preci-
imediatista. “Você será feliz se encontrar-se com o seu so buscar paz com Deus”.
eu interior”. Porém será muito triste quando você al- O objetivo é ótimo. A felicidade verdadeira vem de
cançar esse “eu interior” perceber que ele (ou você) não Deus. Mas no caso citado acima a busca visa o homem
é nada sem Deus. por si. Sua felicidade. A busca parte do homem e é an-
A busca religiosa pode ser resumida a uma bus- tropocêntrica. Não visa aquela felicidade gratuita dada
ca pela felicidade. Alguns procuram religiões que os por Deus. Aquela felicidade que é dada mesmo nos
obrigam a viver quase como escravos. Outros buscam momentos de aflição. A religião verdadeira traz felici-
aquelas que praticamente não exigem nada. Hoje existe dade. Mas ela não parte do homem para Deus. Parte de
religião para todo o gosto. Religiões que proíbem jogar Deus para os homens. Diariamente.
bola e outras que proclamam o sexo livre entre todos
para uma maior comunhão. Todas dizem-se o caminho 3.1. Felicidade Gratuita
da felicidade.
É como o caso daquele adivinho que diz adivinhar As pessoas se perguntam: “O que é felicidade?
tudo: “Venha e conheça seu passado, presente e futu- Como eu faço para ser feliz? Por quê os outros são feli-
ro. Conheça seus números de sorte. Conheça-os e fi- zes enquanto eu não sou?” Elas esquecem que ser feliz é
que rico”. Muitas pessoas buscam ajuda nesse adivinho. algo relativamente simples. Consiste em estar “de bem
Muitas vezes sem se perguntar: “Se ele adivinha mesmo com Deus”. Estar amparado nas mãos protetoras do
tudo, por quê não descobre os próprios números da Pai. Desta felicidade nada pode nos derrubar. O dia-
bo, o mundo e a nossa carne podem até tentar tirá-la senvolver uma visão mais positiva e feliz da vida?6
de nós. Mas o Doador da felicidade já venceu o diabo, Como podem esperar que eu faça coisas que sin-
o mundo e a nossa carne. Deus nos dá diariamente a to estarem acima de minhas limitações? Quem
felicidade de podermos viver bem em toda e qualquer sabe se não sou tão inteligente ou talentoso como
situação. “Quer na amargura, quer na aflição, Deus es- os outros?7
tende a sua mão”. Como poderei livrar meu espírito de pensamentos
Não há o que temer. Deus vela por nossa felicidade. depressivos?8
de nós mesmos. Reconheceremos os (Ec 2.1; 7.6). É apegada às coisas Deus (Dt 33.29; Sl 63.5; 128.1-2;
nossos limites. Neste ponto necessi- materiais e deriva de suas posses ( Jó 146.5; Pv 3.13-18). O justo, que crê
taremos relaxar e tranquilizar-nos. 21.13; Sl 52.7), de seu poder ( Jó em Jesus Cristo, sabe que algumas
Neste ponto começa nosso 21.7; Sl 37.35), de sua gastronomia das situações difíceis, pelas quais
crescimento.O autor pergunta: Por (Is 22.13; Hq 1.16), de seu vinho passa, são demonstrações de amor
que não ser um vitorioso? Deste (Is 5.11; 56.12). É também apegada que Deus lhe dá ( Jó 5.17-27). Pa-
ponto em diante deveríamos ir me- a prazeres vãos ( Jó 21.12; Is 5.12). rece contraditório, mas é o amor
lhorando nossa meta (o eu ideal) Muitas vezes os maus, que acredi- de Deus demonstrando-se aos seres
até ao ponto máximo. Derrubando tam ser felizes sem Deus, prospe- amados.
cada barreira pessoal, ou de qual- ram em seus intentos (Sl 73.3, 16; E confiando acima de todas as
quer outra natureza. Em todos os Jr 12.1; Hq 1.13). Mas a felicidade coisas em seu Pai, o justo tem sua fe-
momentos nós estaremos no co- sem Deus é finita (Sl 73.17-20). licidade em fazer a vontade de Deus
mando do nosso desenvolvimento. Todo essa “felicidade” é derru- (Sl 40.8; Pv 16.20). Em estar junto
Seja eliminando cicatrizes emocio- bada pela inveja e ciúme (Es 5.13). com seus irmãos na fé (Sl 133.1).
nais ou reconhecendo nossas capa- É interrompida pelos julgamentos Compartilhando dos bens materiais
cidades sexuais, nós estamos no co- (Nm 11.33; Jó 15.21; Sl 73.18-20; que são dados pelo próprio Deus
mando. Sempre. Jr 25.10-11). Esta felicidade acabará (Ec 2.24-26; 3.12-13, 22; Jr 32.41).
No fim receberemos os aplau- pior do que se imagina (Pv 14.13; Mais do que tudo isso, Deus é res-
sos pelo espetáculo. Precisamos nos Am 6.1; Lc 6.25). ponsável pela salvação e felicidade
acostumar com a ovação, pois isso Que triste felicidade. eterna do ser humano (Is 12.2-3;
faz parte do sucesso que alcança- Rm 5.2; Fp 4.7).
mos. 5.2. A felicidade eterna do Felicidade maior não existe e ja-
Pena que Deus não existe, pois filho de Deus mais existirá.
até ele se curvaria a nós depois que
terminarmos os exercícios propostos
pelo autor deste livro. Ao menos esta Ao contrário da felicidade con-
é a sensação que o livro nos passa. seguida por si mesmo que é uma
Um livro de auto-ajuda excelen- felicidade pífia e passageira. Ou ao
te. Porém só para aqueles que não invés de uma felicidade que é pro-
vêem Deus como condutor de suas curada, mas nunca alcançada. A fe-
vidas. licidade real depende de Deus (Dt
28.63). É dada por ele e é eterna
5. Felicidade na Bíblia para os seus filhos (Sl 36.8). Ainda
enquanto estamos no mundo (Dt
30.9) podemos e seremos felizes
5.1. Os perversos são porque Deus assim o quer.
Deus nunca disse que o mundo
felizes por pouco tempo
seria “um mar de rosas” para os seus
A Bíblia traz exemplos de felici- filhos. Mas disse que eles passariam
dade e de suposta felicidade. Felici- por dificuldades. Contudo Deus
dade que dura eternamente e felici- está sempre com eles (Mt 28.20) e
dade que se vai como a água entre está velando para que sua felicidade
os dedos. A Palavra de Deus não diz seja maior que qualquer desgraça
que o perverso é infeliz. Mas pontua (Mt 5.3-12; 2Co 10.12). Os feli-
que tal felicidade se restringe a esta zes filhos de Deus não precisam ter
vida (Sl 17.14; Lc 16.25). Sendo medo quando passam por tais difi-
uma felicidade curta ( Jó 20.5), in- culdades (1Pe 3.14; 4.12-13). Pois
certa (Lc 12.20), limitada à vaidade sua felicidade está garantida por
Conclusão
Todas as pessoas querem ser
felizes. Alguns mostram mais
esse desejo, e outros ao contrá-
rio, vivem felizes suas vidas sem
nunca se preocuparem em ser fe-
lizes.
Podemos falar muita coisa sobre
a felicidade. Já existem discursos aos
milhares sobre o tema. Infelizmente
a felicidade que o mundo procu-
ra não dá lugar a Deus. O mundo
não vê que a felicidade depende de
Deus. Pois que felicidade poderá
ser maior do que ouvir de Deus:
“Venham, vocês que são abençoados
pelo meu Pai! Venham e recebam o
Reino que o meu Pai preparou para
vocês desde a criação do mundo”. (Mt
25.34). Sejam felizes eternamente.
Sejamos felizes eternamente.
Rev. Jarbas Hoffimann — Nova Venécia-ES,
pastor e membro da Comissão de Culto da Igreja
Evangélica Luterana do Brasil — co-editor e
diagramador desta Revista
Bibliografia
MALTZ, Maxwell. A imagem de si mes-
mo – Conheça a força de seu po-
der pessoal. Rio de Janeiro: Record,
1967.
PEALE, Norman Vincente. É fácil viver
bem. 3ed. São Paulo: Cultrix, 1964.
SHEDD, Russell P. A felicidade segundo
Jesus – Reflexões sobre as vem-
-aventuranças. São Paulo:Vida Nova,
1998.
ALTHAUS, Paul. The Ethics of Martin
Luther. Philadelphia: Fortress Press,
1982.
A
filosóficos e religiosos. No segun-
ética tem sido um assunto am- até às empresas (sejam de pequeno,
do capítulo, analisa-se a ideia de
plamente discutido em todos médio ou grande porte).
autoridade em diversos saberes das
os setores da sociedade e no mais Neste trabalho dois focos, no
ciências humanas, como filosofia,
diversos níveis. Se há esta discussão, entanto, serão enfatizados o do as-
teologia, psicologia e sociologia. No
seguramente, seu agente propulsor pecto da ética do ponto de vista da
terceiro capítulo, quer-se fazer uma
é a crise profunda de valores na qual “autoridade”; e o do ponto de vista
inter-relação entre a ética e a autori-
toda a sociedade está embebida. E, da gestão de pessoas e equipes. A ra-
dade e apresentar reflexões e propo-
já nesta afirmação, encontra-se um zão destas ênfases se dá em virtude
sições a respeito da ética e de como
grande dilema, pois, ao mesmo tem- da convicção que se pode obter de
o assunto autoridade torna-se um
po em que a sociedade clama por va- que os conflitos éticos decorrentes
de seus temas basilares, com base no
lores “mais nobres”, ela está envolta dos conflitos em relação à autorida-
que já foi visto nos capítulos ante-
com atitudes, práticas, perspectivas, de serem basilares para o surgimen-
riores. Por fim, no último capítulo,
atos e ações que contrariam estes va- to de novos conflitos de interesse, e,
serão apresentadas reflexões propo-
lores mais nobres em todos os seus também, a majoração da intensida-
sições para que se possa construir
segmentos, desde a família, às igre- de com que eles se dão.
um universo ético com respeito à
jas, aos administradores públicos, O intento nesta pesquisa é, pois,
autoridade, sob o enfoque da pers-
12 | Teologia | Abril e Maio, 2011
Autoridade e Ética
pectiva da ética cristã. livros, televisão, rádio, conversas dos para regular (orientar, corrigir,
A pesquisa é bibliográfica e bus- informais, seminários. punir, recompensar) os comporta-
ca em diversos saberes como filoso- Inicialmente, faz-se importante mentos dos indivíduos, ou grupos
fia, psicologia, teologia, adminis- trazer algumas definições e concei- de indivíduos, em uma determina-
tração de empresas e sociologia, as tos sobre a ética e sobre a autorida- da sociedade. Esses valores podem
bases para a apresentação do tema e, de. De modo mais genérico, muitas ser confundidos com o conceito de
naturalmente, quer apontar um ca- e diferentes formas de perceber ética “moral”, de maneira que ao se falar
minho, dentro da perspectiva cristã, e autoridade são apresentadas pela de ética se estaria também falando
para servir de base para a apresenta- conceituação teórica e por sua apli- em moral.
ção de um indicativo para a constru- cação prática. Ética e moral, então, segundo
ção deste universo ético com valores Algumas descrições da ética são Chauí (p. 340), “referem-se ao con-
mais nobres. feitas sob os seguintes termos: ética junto de costumes tradicionais em
previdente, ética existencial, ética uma sociedade e que, como tais, são
1. A caracterização do ideativa, ética ideológica (WEISS, considerados valores e obrigações
problema p.46); ética prudencial e pré-ética, para a conduta de seus membros”
ética cristã, ética idealista e ética na- ou, considerando a origem grega de
A ética tem tomado a frente de turalista (FORREL, pp. 35-76); éti- ethos, “significa caráter, índole natu-
grandes discussões, em todos os ca relativista, ética hedonista, ética ral, temperamento, conjunto de dis-
segmentos da sociedade, seja no estética (também chamada de ética posições físicas e psíquicas de uma
contexto educacional, político, tra- utilitarista) (WARTH, p. 46), en- pessoa” (Idem, p. 340). Estes costu-
balhista, econômico, familiar e tem tre outras. O que há de comum em mes ou valores estão enraizados em
oferecido oportunidade de discus- todas estas concepções é que todas, qualquer comunidade, e, evidente-
são nos mais diferentes meios de co- cada uma a seu modo, versa sobre mente, cada comunidade com seus
municação, sejam revistas, jornais, valores e costumes, os quais são usa- próprios valores e costumes, e têm
do expectador imparcial, ao tudo o que dificulta sua sobre- decisões e ações e nos resultados que
observador ideal, ou qualquer vivência e ajuda o inapto a so- almeja.
outro nome que lhe dermos.” breviver é mau.” O relativismo (FORELL, p.
54–58) oferece dificuldades mui-
Mas quem vai determinar isso? Então, que vença o melhor! A to grandes para estabelecer um
Quem vai estabelecer o que é o mais luta é pela sobrevivência. Se seres conceito inteligível de ética. Um
universal possível para os padrões de espécies diferentes ou da mesma sofista grego chamado Protágoras
éticos? Uma lei, o bom senso (de espécie precisam ser sacrificadas, se (FORELL, p. 55) sugeriu que “o
quem?), a razão, a intuição o livro a natureza tiver de ser dilapidada, homem é a medida de todas as coi-
de Singer? Posso obrigar os outros se grandes massas humanas tive- sas”. Não existe certo e errado; exis-
a adotarem minha maneira de per- rem de ser desconsideradas – que tem modos diferentes de se ver ou
ceber a vida e seus valores univer- assim seja. Tudo pelo progresso, avaliar uma mesma situação. Então
sais? Como tornar esses valores e pela ciência, pelo desenvolvimento. o que é certo e errado torna-se tão
princípios universalmente aceitos? Manda quem pode e obedece quem incerto e tão certo ao mesmo tem-
Na verdade, cada época e cada nova tem juízo. Há um grupo de pessoas po, quanto alguém pode gostar de
situação trariam novos fins a serem superiores, melhores, e que devem cores fortes e outros de cores sua-
alcançados, determinados pelas dominar, reinar, sobreviver. Esse ves. No relativismo não se discutem
necessidades coletivas. Não é fácil tipo de pensamento já levou a hu- valores como não se discutem gos-
a tarefa! Quem conseguirá dar à manidade a cometer os mais atrozes tos. Como conviver, então, quando
humanidade este consenso e quase crimes (humanitários, sociais, eco- duas ou mais pessoas disputam um
unanimidade! Talvez tenhamos que lógicos, etc.). E talvez não estejamos mesmo interesse sob óticas diferen-
aguardar o ser humano evoluir eti- assim tão distantes desta realidade tes e contraditórias? Poderá dessa
camente, como indivíduo e como hoje, embora o discurso divulgado disputa acontece um consenso, um
coletividade. Talvez alguém afirme na grande mídia seja o do bem estar acordo moral? Por isso, bem coloca
que essa evolução ética está acon- social da coletividade, em nome do Forrel em sua crítica ao relativismo
tecendo, talvez não. Ou, talvez seja progresso. ético, que embora pareça ser culto
tarde demais, quando, eventual- Há, no entanto, algo no natura- e sofisticado, ele não serve de base
mente, a humanidade estiver próxi- lismo que, se fosse observado como para se construir um universo ético
ma de atingir tal maturidade. é na natureza, no comportamento para a humanidade.
Outra forma de perceber um pa- animal, poderia ser usado como um “A contradição envolvida neste
drão ético é descrito por FORELL parâmetro razoável para a humani- ensinamento é óbvia. Em de-
(pp. 48–54 ) como sendo o natura- dade, pois, na natureza, o compor- fesa da amplitude de idéias,
lismo. Seu modelo é encontrado, tamento animal pela sobrevivência somos confrontados por pesso-
como sugere o nome, na é legítimo, visto que não se trata de as de mentalidade totalmente
natureza. Alguns o cha- uma luta por vaidades, invejas, ciú- estreita, que dogmaticamente
mam de “o desenvol- mes, interesses pela acumulação de defendem a verdade absoluta
vimento máximo do bens materiais ou pelo fascínio da que não existe verdade absolu-
processo evolucio- dominação sobre grandes grupos (o ta” (p. 57)
nário” (FORREL, que, na cultura humana, sempre re-
p. 48). Logo, orien- sulta em benefício de alguns poucos Quando, então, o assunto é auto-
tado pela Teoria da dominadores e não da coletivida- ridade, que autoridade poderá exis-
Evolução e pelo Da- de). O comportamento humano é tir um convívio no qual todos po-
rwinismo, sugere-se completamente diferente do com- dem ter razão, todos estão corretos
por esta perspectiva que portamento “animal”. A diferença e no qual todos, a seu modo, proce-
“como é o propósito da nature- fundamental está nos valores que se derão de tal forma que a sua posição
za que o apto sobreviva, tudo cultivam (aliás, afirmam que a cul- seja a válida? Serão as pessoas assim
o que contribui para a sobrevi- tura é exclusividade humana) como tão politizadas que ninguém se atre-
vência do mais apto é bom, e sendo seu ponto de partida para as verá a infringir o espaço alheio, o
interesse alheio, o poder e a respon- lerar um misto de utilitarismo com um sendo moral que lhes pos-
sabilidades dos outros? Parece que a hedonismo universalista, que, do sibilita distinguir o certo e o
possibilidade de uma tal relativida- ponto de vista do primeiro concei- errado. Esse senso moral é co-
de nos remeta ao conceito primeiro to, admite a busca do bem comum, mumente localizado na cons-
de anarquia, que se mostrou abso- mas que do ponto de vista do segun- ciência, mas até mesmo os de-
lutamente impraticável nos lugares do conceito, alguns serão prejudica- fensores desta teoria discordam
em que se pretendeu adotá-la. A dos, visto que não se pode agradar quando ao conteúdo exato da
experiência humana tem mostrado a todos. Isso, aplicado ao princípio consciência. Existem alguns
que há um mínimo de valores que da autoridade, parece ser um “prato que acreditam que a consci-
precisam ser absolutizados, para que cheio” para o debate. ência diz a todos que é errado
a vida social humana seja possível. Este ponto de vista tem sido am- matar, mentir, enganar, rou-
Entre estes valores, destacam-se o plamente aceito em todos os seg- bar ou cometer adultério, e que
respeito à vida, à liberdade, à pro- mentos da sociedade, pois vem ao
priedade, liberdade de expressão, encontro de uma suposta liberdade
entre tantos outros. e autonomia desejada por todas as
Ética hedonista é definida como pessoas. Poderá a busca pelo bem da
aquela que tem por base e por resul- maioria justificar o descaso com as
tado o prazer. Uma pessoa hedonis- minorias?
ta “acredita que a bondade de uma Contudo, há um movimento
ação depende inteiramente da quan- oposto a este pensamento, que, sob
tidade de prazer que ela venha lhe o argumento da luta contra a desi-
assegurar. O bem é identificado com gualdade, está impondo às maiorias
aquilo que dá prazer, e o mal com a aceitação do direito das minorias,
aquilo que causa dor (FORELL, p. sem o direito da contestação ou da
41). Embora pareça, em um primei- livre manifestação do pensamento.
ro momento, algo um tanto quanto A autoridade se impõe para esta-
desqualificado para se falar em éti- belecer direitos que, pelo desejado
ca, este princípio, na prática, não o caminho da conscientização, natu-
é. Quando se presta um pouco mais ralmente não aconteceria, ou teria
de atenção às propagandas merca- um longo caminho a percorrer até
dológicas, o seu grande trunfo ou atingir o nível desejado.
enfoque é o prazer, ou a satisfação O idealismo ético foi apresen-
de necessidades supérfluas, que são tado por filósofos proeminentes
desencadeadas nos possíveis con- (entre eles Immanuel Kant), que
sumidores pela força da emoção, defendem que os conceitos de cer-
da busca pela satisfação de sonhos, to e de errado só serão encontrados
prazeres, ou pela fuga da vergonha, fora do homem e fora do empirismo
do medo, do ser “démodé”. Em ou- naturalista. Esse ideal pode ser in-
tras palavras: busca de prazer e fuga tuitivo ou racionalista O primeiro
da dor. E o que as pessoas são capa- seria baseado em um princípio tam-
zes de fazer ou deixar de fazer para bém conhecido como “consciência”
transformar em realidade esta busca e que dá a todos um senso de dever.
ou fuga? A dificuldade do sistema é No entanto, a seguinte observação
evidente: prazer é o tipo de palavra pode ser notada:
que pode significar um milhão de “assim como os homens têm
coisas para um milhão de pessoas. olhos e assim podem ver e têm
O sistema democrático de admi- ouvidos e assim podem ouvir,
nistração da coisa pública parece to- da mesma maneira todos têm
é certo ser honesto, cortês, cora- derá levar a raça humana à extinção. do de beleza, vida confortável,
joso e justo. Quem quer que ne- Roubar é errado, pois, se for permi- segurança nacional, vida exci-
gue um fato tão óbvio, dizem, é tido que em alguma ocasião isso seja tante, prazer. Adultos buscam:
moralmente cego.” (FORELL, justo, então, quando alguém se sen- amor durável, fidelidade, va-
p. 38) tir prejudicado, perdendo bens por lor espiritual, unidade do ca-
meios que não são aceitos, como po- sal, filhos. Ricos e pobres terão
Por outro lado, outros propõem derá contestar ou reclamar? Assim, escalas de valores variados. Po-
uma visão puramente racional para os argumentos a respeito do que líticos e líderes terão outra es-
o estabelecimento dos valores que é certo e do que é errado tem base calas que aquelas dos que estão
levarão a uma conduta ética. O ar- apenas racional. ativos na economia e na agri-
gumento será silogístico. Matar é Quais serão as normas que pode- cultura.”
errado, pois se isso for tolerado, po- rão orientar as decisões éticas? Em
suma, os argumentos são ou teleo- Nas palavras de Warth, a ética é
lógicos ou formalistas (FORELL, apresentada como um assunto dire-
p 75). O formalista enfatiza a in- tamente relacionado a uma perspec-
tenção, enquanto um teleológico tiva espiritual, que ele aponta como
enfatiza o resultado. As duas for- sendo o “reino de Deus”, e a uma
mas, contudo, são usadas de modo escala de valores. Isso faz com que
simultâneo por todas as pessoas em o cristianismo tenha em suas raízes,
quase todas as situações (FORELL, em sua base de valores éticos, uma
p. 76). ideia muito distinta de todos os ou-
O que foi exposto até aqui, ao tros modelos já vistos anteriormen-
que parece, não é o suficiente para te. As outras proposições éticas têm
estabelecer uma perspectiva ética uma perspectiva puramente mate-
que dê sustentação e consistência rial, imanente (infelizmente, algu-
para sua prática no dia a dia. Por mas correntes da ética cristã já estão
isso, a fim de tentar suprir esta falta, se deixando tomar por essas visões
ver-se-á a perspectiva da ética cristã. “imanentista” da ética). Não se quer
Nela pode-se perceber um caminho dizer com isso que a ética cristã tra-
que é possível ser trilhado, na teoria te apenas da dimensão espiritual ou
e na prática. transcendental e que nada tem a ver
Na ética cristã, o motivo é o mais com a realidade corriqueira e con-
importante. Segundo Warth (p. creta das questões humanas. Muito
124), pelo contrário, a ética cristã acredita
“para o cristão, a escala de va- que somente quando uma pessoa (e
lores começa com o reino e a a coletividade) tem a consciência de
sua liberdade. As demais “coi- sua natureza espiritual é que pode-
sas” são acrescentadas (Mt rá também se reportar eticamente e
6.33). Essas coisas podem va- de maneira consistente nas relações
riar da escala de valores de pes- concretas com seus pares, discu-
soa para pessoa. Jovens têm es- tindo os interesses secundários, ou
calas diferentes dos adultos. aqueles que Warth chama de “ou-
Pesquisa entre jovens coloca- tras coisas”, respeitando os valores
ram como prioridades; equilí- primários.
brio interno, felicidade, igual- Os valores que o cristianismo
dade, segurança da família e chama de valores primários, podem
liberdade. Como menos im- ser observados nos Dez Mandamen-
portantes para o jovem: mun- tos. Não se trata de tentar relembrar
aqueles valores que se aprendem enfermo; o principio da probidade, à autoridade (psicologia, adminis-
na catequese, de forma engessada e da mesma forma, pois poderá usar tração, filosofia, sociologia), que é
simplista. Trata-se de poder perce- de subterfúgios, de mentiras, de fal- diferente da visão da teologia. As
ber que nestas orientações do Reino sidade ideológica; enfim, quem fere primeiras lidam apenas com o hu-
estão os grandes valores para que a um princípio, a rigor, fere todos. mano, com o material, com o ima-
humanidade possa conduzir-se da No entanto, é possível dizer-se que nente e, mesmo quando admitem
maneira mais harmoniosa, mais jus- o princípio da autoridade, na pers- uma perspectiva espiritual, na ver-
ta e mais respeitadora entre seus se- pectiva da ética cristã é basilar para dade, apenas o fazem como sendo
melhantes (embora, seguidamente, todos os demais, conforme será vis- uma manifestação puramente hu-
os seres humanos não se considerem to a seguir. mana; e, se for espiritual, será tra-
iguais, nem se tratem como tais). tada do ponto de vista da psique,
Esses valores podem ser descritos 2. A autoridade em ou da literatura, ou do imaginário,
como os grandes princípios ou valo- diversas perspectivas e não da uma dimensão espiritual
res éticos da sociedade: o princípio real, transcendente, que está além
da autoridade, o princípio da vida, o O assunto da autoridade é rele- da realidade humana e seja inde-
princípio da fidelidade, o princípio vante para muitas ciências. A psico- pendente dela. De toda forma, é
da propriedade, princípio da probi- logia, por entender que podem ha- da mais alta relevância abordar es-
dade2. ver muitos desvios de conduta por tas diversas compreensões, porque,
Naturalmente, não vamos agora parte dos indivíduos e de comuni- apesar de acreditar-se que a pers-
nem sequer descrever cada um de- dades, tanto da parte dos que exer- pectiva teológica é a que poderá dar
les, senão somente aquele que é mo- cem a autoridade (poder) como da uma resposta mais satisfatória a uma
tivo de nossa pesquisa e reflexão. O parte dos que são submetidos a ela visão ética consistente, são as outras
que vale dizer a respeito deles, e isso (obediência); a sociologia também visões que têm dominado a prática
tem um grande valor intrínseco, é estuda esta relação de modo mui- da ética em todos os tempos.
que, na verdade, eles não podem ser to particular, por entender que da Em seu livro “Psicologia da re-
dissociados e que nenhuma questão compreensão deste assunto podem lação de autoridade”, Roger Muc-
ética, deixará de ter suas implica- ser estabelecidos ou compreendidos chielli faz considerações muito im-
ções em todos os princípios acima muitos comportamentos e mecanis- portantes a respeito deste assunto,
mencionados. Por exemplo, se al- mos sociais; a filosofia também dela destacando o que considera como
guém furta, ele fere o princípio da se ocupa, porque está diretamente
propriedade, e também pode estará relacionada a assuntos caros a ela,
ferindo o princípio da fidelidade, se como moral, ética, poder, domina-
ele se aproveitou de alguma amiza- ção e a eterna busca por respostas
de ou condição profissional que lhe existenciais: De onde vim? Quem
facilitasse a apropriação indevida; sou? Que faço aqui? Para onde
assim também pode estar ferindo vou?; para a teologia, sem dúvida al-
o princípio da vida, visto que pode- guma, também é assunto de grande
rá estar tirando o alimento de uma interesse, pois o poder e a autorida-
criança ou os recursos financeiros de estão diretamente relacionados
para o tratamento de saúde de um ao conceito e existência de Deus, da
criatura e do Criador, da fé, da obe-
2 Estes termos são uma tentativa diência, etc; e, por fim, também das
de sumarizar os temas que
estão presentes em cada um dos
ciências relacionadas à Administra-
mandamentos, do quarto ao oitavo, ção de Empresas e à administração
que tratam, respectivamente, em geral.
da honra aos pais, de não matar, Como introdução, pode-se já
de não furtar, de não cometer afirmar que todas estas ciências têm
adultério e de não dizer falso
testemunho.
uma perspectiva em comum quanto
manifestações doentias da autorida- relatando que há pessoas que vêem e as decisões ali tomadas. Ele assim
de e da submissão, e também, como em seus superiores a figura de pai e escreve:
seria uma relação de autoridade na de mãe, e esperam deles proteção e “Em tese, ela corresponde a
qual poder e força, submissão e obe- afetividade; há subordinados que uma posição social e não a
diência seriam saudáveis. Entre as podem ver em seu superior um mo- uma pessoa. É dessa posição
psicopatologias da relação da auto- delo a ser seguido e a realização de que emana o poder da influên-
ridade, Muchielli aponta qualida- seus próprios sonhos; pode haver o cia. Esta influência é, em tese,
des importantes para as relações de subordinado masoquista, que gosta garantida e protegida pelas po-
autoridade, como a “vontade de po- de alguém que lhe faça cobranças de sições hierárquicas superiores a
der e o desejo de dominar” (p. 21). forma agressiva, ruidosa e arbitrária. ela e, além disso, atua com as
Afirma que são manifestações natu- A relação da autoridade é, então, normas da organização, isto é,
rais dos indivíduos e grandes fatores um caminho de duas vias, no qual, com a possibilidade de recom-
de motivação social. A “autocracia” quando uma delas está desequili- pensar e de sancionar segun-
ou a paixão pelo poder que, embo- brada, toda a relação sofre graves do os próprios comportamentos
ra sejam necessários ao “chefe”, po- prejuízos e, em consequência, todo nos papéis dos subordinados se-
dem ser marcados pela impaciência o universo ético. Desta forma, o jam conformes ou não-confor-
e por outros detalhes, e tender ao que se faz necessário é uma relação mes às normas da organiza-
comportamento doentio (p. 23), fa- saudável entre a autoridade e seus ção”. (p. 51).
zendo surgir o totalitarismo, o des- subordinados. Mas é importante
potismo e outras manifestações de que se perceba que até mesmo esta Segundo seus estudos, a autori-
autoridade assinaladas como sendo designação “autoridade X subordi- dade é vital para a sociedade huma-
prejudiciais à sociedade. Mas nem nado” já é carregada de significados na, pois a relação de poder e submis-
sempre é quem detém a autoridade que ideologicamente definem valo- são, que ele chama de “dominância”
que está doente. res e padrões éticos. tem repercussões da mais alta sig-
Segundo o mesmo autor, e isso Em uma proposição de como se- nificação para a sobrevivência da
é importante de se observar, mui- ria uma autoridade saudável, Muc- humanidade. Assim, pois, descreve
tas patologias de autoridade estão chielli assim escreve, relacionando-a estas repercussões:
diretamente vinculadas a psicopa- com o poder de influenciar grupos e “A ‘dominância’ aparece como
tologias dos seguidores (pp. 28-34), comunidades, bem como os valores um princípio, cuja função é
considerável: 1) estabilidade e
ordens internas; 2) economia
de agressões intragrupo, que
seriam perda de energia e re-
dução numérica do grupo; 3)
melhor defesa da comunida-
de; 4) sobrevivência do gru-
po em relação a seus predado-
res e inimigos hereditários; 5)
transmissão rápida de infor-
mações úteis e “educação” dos
jovens que devem aprender o
mais depressa possível os sinais
de perigo” (p. 46).
mente deles, os juízos de valor, (para que estejam em confor- dados com os quais nos re-
as avaliações sobre as coisas, midade com a consciência) e lacionamos desde nosso nas-
pessoas situações e são profe- de capacidade de deliberar e cimento: somos recompen-
ridos na moral, nas artes, na decidir entre várias alternati- sados quando os seguimos e
política, na religião. Juízos de vas; punidos quando os transgre-
valor avaliam coisas, pessoas, • ser responsável, isto é, re- dimos" (CHAUÍ, p. 340).
ações, experiências, aconteci- conhecer-se como autor da
mentos, sentimentos, estados ação, avaliar os efeitos e con- Uma das grandes forças que
de espírito, intenções e decisões, sequências dela sobre si e os moldam os valores de uma socieda-
como bons ou maus, desejáveis outros e assumi-la bem como de está nos costumes que acabam se
ou indesejáveis.” às suas consequências, res- firmando em diferentes épocas. As
pondendo por elas; duas palavras que muito comumen-
A diferença é entre a objetivida- • ser livre, isto é, ser capaz de te são usadas para descrever costu-
de e a subjetividade dos fatos. Fatos oferecer-se como causa inter- me são, como já havíamos apontado
que independem da interferência na de seus sentimentos atitu- acima, moral e ética. A primeira é
humana não fazem parte de ques- des e ações, por não estar sub- de origem da língua latina (mores)
tões éticas, a menos que estes acon- metido a poderes externos e a segunda de origem grega (ethos)
tecimentos possam ser atribuídos às que o forcem e o constran- e representam ambas, “ao conjunto
“divindades” ou às consequências jam a sentir, a querer e a fa- de costumes tradicionais de uma
de ações humanas anteriormente zer alguma coisa" (CHAUÍ, sociedade e que, como tais, são
praticadas. Como resultado disso, p. 337). considerados valores e obrigações
pode-se afirmar que toda ação já é Estes são os elementos que levam para a conduta de seus membros”
em si um juízo de valor, pois, via de este sujeito consciente a tomar de- (CHAUÍ, p. 340). Há, no entanto,
regra, os atos humanos são pensa- cisões. Estas decisões vão transfor- para a palavra de origem grega, uma
dos, intencionados, premeditados, mar-se em ações (ou omissões) e es- segunda interpretação para o termo
já carregados de juízo de valor em tas, por sua vez, serão tomadas com “ethos”, escrita com vogal longa, e
si mesmos, sejam valores formais ou base em valores. Podemos, então di- significa “caráter, índole natural,
teleológicos. zer, que a ética está nos valores que temperamento, conjunto de dis-
Segundo Chauí, um determina- cultivamos. Mas de onde eles vêm? posições físicas e psíquicas de uma
do assunto pode ser denominado de Segundo Chauí (p. 340), pessoa” (CHAUÍ, p. 340) e pode-se
“questão ética” se preencher certos “Nossos sentimentos, nossas disso argumentar que ética é um as-
requisitos: agente consciente, res- condutas, nossas ações e nossos sunto subjetivo, individual.
ponsabilidade, sujeito ético e a li- comportamentos são modela- A perspectiva da teologia será
berdade. Sobre o agente consciente dos pelas condições em que vi- abordada na sequência desta expo-
afirma que vemos (família, classe e grupo sição.
“O sujeito ético ou moral, isto social, escola, religião, traba-
é, a pessoa, só pode existir se lho, circunstâncias políticas, 3. A autoridade e a
preencher as seguintes condi- etc.). Somos formados pelos ética
ções: costumes de nossa sociedade,
• ser consciente de si e dos que nos educa para respeitar- Quando o assunto a ser tratado
outros, isto é, ser capaz de re- mos e reproduzirmos os va- é a ética, a quase totalidade dos es-
flexão e de reconhecer a exis- lores propostos por ela como critores, debatedores e pensadores
tência dos outros como sujei- bons e, portanto, como obri- fazem uma abordagem pragmática e
tos éticos iguais a ele; gações e deveres. Dessa for- pontual, ou seja, vão direto às ques-
• ser dotado de vontade, isto ma, obrigações e deveres pa- tões de conflito tais como pena de
é, de capacidade de contro- recem existir por si e em si morte, eutanásia, aborto, desmata-
lar e orientar desejos, impul- mesmos, parecem ser natu- mento, poluição do meio ambien-
sos, tendências, sentimentos rais e intemporais, fatos ou te, sacrifício de animais, impostos,
preços abusivos, direitos do con- damentais. Tais valores podem ser cas da maneira como “devem ser”,
sumidor, direitos humanos, ques- conscientes ou mesmo inconscien- elas não conseguirão sobreviver “na
tões morais relativas à sexualidade, tes. Eles são, via de regra, os valores vida real”. Por esta razão, vale a idéia
biogenética, eugenia, transgênicos, comuns de um meio que cerca o de que ética é aquilo que de fato é
etc. Alguns poucos tratam da ética indivíduo e permeiam a sociedade. vivenciado, praticado e assumido
levando em conta os pressupostos, Esses valores são assumidos nas rela- como válido nas relações do dia-a-
os fundamentos e as bases que le- ções que os indivíduos têm entre si e -dia, contrariando aquela idéia de
vam as pessoas e as comunidades a que vão se firmando e modificando que ética é utópica.
adotarem determinados compor- através dos tempos e dos aconteci- Por outro lado, aquilo que as
tamentos, posturas e condutas, que mentos. A ética humana é, então, pessoas fazem no dia a dia, pres-
são chamados de “conduta ética” ou um produto da cultura. Ela não é sionadas pelas circunstâncias, não
“postura ética” ou a falta delas. absoluta, nem pré-existente; mas pode ser aceito como sendo ético
A intenção, a partir deste mo- existirá na medida em que houver (ou como o valor e a prática que são
mento, é apresentar reflexões e relações humanas. reconhecidos como valores maiores
proposições a respeito da ética e de Quando então alguém afirma: e melhores), pois o ser humano e as
como o assunto autoridade torna-se “Isso não é ético!” “Você não tem comunidades humanas são capazes
um de seus temas basilares. Muitos ética!”, na verdade ela está afirmando de perceber e buscar valores maio-
dos conflitos éticos são, na verdade, que o comportamento e os valores res e melhores do que os individuais
conflitos de autoridade. Devemos, que levaram determinada pessoa ao e do que os que são praticados por
portanto, primeiramente apresen- comportamento demonstrado fe- sentimentos mais primitivos, como
tar algumas considerações a respeito rem os seus próprios valores e aque- o instinto de sobrevivência e a mera
da ética e sua ambiguidade entre o les valores e comportamentos tidos repetição tradicionalista de certos
real e o ideal; e, em segundo lugar, como aceitáveis em uma determina- costumes. Nesta perspectiva, por
investigar os conceitos de autori- da comunidade. E é por essa razão muito tempo e em quase todas as
dade e outros conceitos que estão que a idéia de uma ética idealista, sociedades e culturas humanas, pai
intrinsecamente a ela ligados, como em uma perspectiva até simplista, é e mãe devem ser vistos como autori-
poder, força, violência, dominação, muitas vezes aceita como a ética que dade. Não é este o mesmo conceito
responsabilidade, direitos e deveres; todos deveriam praticar, porque até que é estendido às demais institui-
e por fim, como esses dois conceito uma mente com perspicácia inferior ções sociais, como a escola, o traba-
anteriores podem ser vistos em situ- (se é que ela existe), pode perceber lho, o estado, os clubes?
ações concretas no âmbito da gestão que determinados valores e práticas Segundo Mucchielli, sob o enfo-
de pessoas e equipes e no mundo são irracionais e inaceitáveis, que que da psicologia,
dos negócios, no dia-a-dia das auto- ferem até o senso comum. Mas isso
ridades e dos seus subordinados. também leva a uma concepção de
Primeiramente, vale dizer que que uma coisa é “o que deveria ser” e
não existe povo ou pessoa sem ética. outra é “o que de fato é”.
A ética é sempre um reflexo dos va- O conflito fica, assim, estabe-
lores e pressupostos que a sociedade lecido. As coisas são vistas de tal
tem como sendo seus valores fun- forma que, se as pessoas forem éti-
“A autoridade é um fato de re- o descreve Mucchielli: denciam valores que o autor assim
lação. Não existe autoridade “Pode-se dizer, e é verdade, que relaciona:
“em si”; ela só existe pelo fato de só há líderes quando há segui- “o princípio da infalibilida-
existir aquele, aquela ou aque- dores. Um líder sozinho não de do chefe...; a exigência (sem
les sobre os quais se exerce, aos é líder e demonstra, pela au- explicações) de uma obediên-
quais se dirige e pelo poder de sência de seguidores, que não cia imediata ao pé da letra; a
influenciar seu comportamen- tem nenhum poder de influên- decisão solitária sobre assuntos
to, suas opiniões, suas ações, cia e que, portanto, não é um que envolvem o grupo...; a dis-
sua maneira de ser, de fazê-los chefe, mesmo que tenha o sta- tância e o isolamento do chefe,
tomar determinada direção, tus (e o boné). Inversamente, inacessibilidade aliada ao me-
indicada ou fixada pelo deten- há líderes que o são sem que- nosprezo pelos subordinados
tor da autoridade”. (p. 11). rer, impulsionados por seus se- (caso do grande chefe auto-sa-
guidores, sobrecarregados pela tisfeito e cheio de suficiência,
Em suas colocações, Mucchielli própria popularidade ou pelas que considera seus subordina-
passa uma primeira impressão de esperanças que numerosos se- dos como “robôs”, como cães,
que autoridade é um sinônimo de guidores voluntários colocam ou como gado)...; o absolutis-
poder. Mas de fato não é, embora em seus ombros. Pois não se vá mo do poder sem possibilida-
seja extremamente difícil, senão, querer pensar que todo mun- de de recurso por parte dos su-
impossível, corresponder às exigên- do procura ser chefe. A fuga às bordinados, fazendo lembrar o
cias da autoridade sem ele. A estas responsabilidades é mais fre- princípio do “ao bel prazer” e o
exigências pode-se chamar de “res- quente que a vontade de assu- do “direito divino”, reunindo
ponsabilidade”. Aqui se tem uma mi-las.” (p. 11). nas mãos do chefe a autorida-
tríade fundamental do conceito éti- de política, administrativa, re-
co da autoridade, juntamente com a Apesar destes aspectos naturais ligiosa e jurídica.” (p. 12).
noção de que onde há subordinado- da autoridade, pesa de maneira mais
res, ali haverá subordinados. E assim forte no trabalho exposto por Muc- A visão que Weber tinha de au-
chielli o conceito de autoridade vin- toridade é também uma grande
culado ao de poder e dominação, es- contribuição para a compreensão
pecialmente porque é mais comum do assunto, pois via três tipos dis-
acontecer a manifestação doentia
da autoridade do que a autoridade
equilibrada. Estas manifestações
doentias acontecem quando se evi-
tintos de autoridade. Essas formas Novamente podemos perceber canalização da potência, é sua
são repetidas em muitos pensadores que a autoridade é vista predomi- determinação” (ARANHA,
na área de administração de empre- nantemente como poder e como a pp. 212-214)
sas quando o assunto em questão é habilidade de usá-lo enquanto ins-
liderança. Vieira Marinho (MARI- trumento de coação sobre os ou- As formas como os líderes po-
NHO, p.1) descreveu de modo su- tros, com o fim de levá-los a fazer dem encontrar a força são muito
cinto o pensamento de Weber: o que o líder deseja. Contudo, ao diversificadas, e podem ser obtidas
“Diz-se que a principal con- abordar a autoridade racional-legal, por meios convencionais (conheci-
tribuição de Weber foi a teo- Weber acaba apresentando ideias a mento, empatia, dinheiro...) e por
ria sobre as estruturas de au- respeito da “Responsabilidade So- meios não convencionais (opressão,
toridade, a qual categoriza as cial Empresarial” (MARINHO, chantagem, engodos...).
organizações em termos das p.2), falando da responsabilidade Na filosofia, a autoridade é es-
relações de autoridade predo- que os administradores devem ter tudada também sob muitos aspec-
minantes. Ele descreveu o “po- em relação a “uma maneira de gerir tos ou perspectivas. Pascal expõe
der” como a habilidade de for- uma empresa, estando voltados para o modo pelo qual a força passou a
çar alguém a obedecer a uma questões não somente econômicas, ser justificada, conforme cita Ivonil
ordem a despeito de resistência mas também, sociais.” (IDEM, p. Parraz5:
e “autoridade” quando os co- 2). “É justo que o que é justo seja
mandos são voluntariamente Este é um oposto do que propôs seguido; é necessário que o que
obedecidos por aqueles que os Maquiavel, que via na autoridade é o mais forte seja seguido. A
recebem. Lógico que os subor- e no poder uma maneira de se al- justiça sem a força é impotente;
dinados legitimam o papel di- cançar objetivos e decidir questões a força sem a justiça é tirânica.
retivo quando baseado em au- práticas, sob a perspectiva de seu A justiça sem força é contradi-
toridade. Ele citou três tipos resultado para o grupo e os interes- ta, porque sempreexistem pes-
principais: a autoridade caris- ses da coletividade, mesmo que isso soas más. A força sem a justiça
mática, a autoridade tradicio- trouxesse prejuízos a certas pessoas é acusada. É preciso, pois, colo-
nal e a racional-legal. ou grupos de pessoas (ARANHA, car juntas a justiça e a força e,
A autoridade carismática ba- p. 234), estabelecendo as bases de para isso, fazer com que aquilo
seia-se nas características in- uma moral laica e tornando-se, que é justo seja forte ou que o
dividuais do líder, os coman- atualmente, um pejorativo para que é forte seja justo. A justiça
dos em sua inspiração, o que a quem exerce uma administração está sujeita à discussão. A força
torna instável. A autoridade sem escrúpulos, visando resultados é bem reconhecível e sem dis-
tradicional baseia-se na prece- e valendo-se dos meios que forem cussão. Assim, não se pôde dar
dência e no uso, os líderes ad- necessários para realizá-lo. Notada- força à justiça, porque a força
quirem a autoridade por he- mente, sua ética tem bases naturalis- contradisse a justiça e disse que
rança e os procedimentos são tas. Aqui também autoridade é vista ela era injusta, e disse que era
justificados no costume e na quase como um sinônimo de poder, ela, a força, que era justa. E
repetição. A autoridade racio- ou como diz Aranha, assim, não podendo fazer com
nal-legal baseia-se um siste- “para que alguém exerça o po- que o que é justo fosse forte, fez-
ma de regras e procedimentos der, é preciso que tenha força, -se com que o que é forte fosse
estruturados em cargos e fun- entendida como instrumento justo”.
ções concebidos para se atingir para o exercício do poder. (...)
determinados objetivos, que força não significa necessaria- 5 Ivonil Parraz em seu artigo “O
é livre dos do líder e dos pro- mente a posse de meios violen- disfarce da força” publicado na revista
“Kriterion: Revistade Filosofia”,
cedimentos tradicionais. Essa tos de coerção, mas de meios vol.47 no.114 Belo Horizonte Dec.
forma de organização é justa- que me permitam influir no 2006, localizada em http://www.
mente a “burocracia”. comportamento de outra pes- scielo.br/scielo.php?pid=S0100-
soa. (...) Em suma, força é a 512X2006000200005&script=sci_
arttext, acessada em 16/09/2009
Neste texto, autoridade e tirania o exercício da autoridade? Eis, en- O poder, segundo ela, tem a mes-
andam muito próximas. É uma vi- tão, algumas considerações. Diane ma dinâmica do amor, pois “quanto
são de poderes totalitários e absolu- Tracy, em sua obra “10 passos para o mais a pessoa dá aos outros, mais
tistas. Na democracia, no entanto, empowerment”, em sua introdução, recebe em troca” (TRACY, p. 163).
não é assim que acontece, conforme afirma que Esse poder está calcado em uma
argumenta Aranha (p.218), o que “Em nenhum lugar a busca pirâmide de valores, cujo escalona-
a torna muito frágil em alguns as- pelo poder é mais evidente do mento assim se
pectos do exercício da autoridade, que no ambiente de trabalho observa na figu-
pois na democracia não há modelos de hoje. Os administradores ra abaixo:
a seguir; na democracia, o exercício estão constantemente lutan- Com base
do poder muitas vezes se perverte do para aumentar o seu arse- nas colocações de Tracy, pode-se
nas mãos de quem o detém; na de- nal de poder, o que está certo. perceber claramente, que há
mocracia, aceitar a diversidade de Alguns poderão utilizar o po- alguém que detém o po-
opiniões, o desafio do conflito, a der visando vantagens pesso- der e o administra, a
grandeza da tolerância, a visibilida- ais; outros, o benefício da em- fim de alcançar os
de plena das decisões é exercício da presa. Independentemente da objetivos ense-
maturidade. “A condição do forta- maneira como os administra- jados pela
lecimento da democracia encontra- dores o utilizam, o fato é que
-se na politização das pessoas, que sem poder eles são incapa-
devem deixar o hábito (ou vício?) zes de atingir algo de
da cidadania passiva, do individu- significativo, ou-
alismo, para se tornarem mais par- tras pessoas ou
ticipantes e conscientes da coisa a sociedade
pública” (ARANHA, p. 218). É, em ge-
portanto, fundamental a educação ral”.
da sociedade (criar consciência nas
e entre as pessoas) para exercerem,
de modo consistente, direitos e de-
veres.
Estes exemplos são citados a fim
de se poder verificar que o assunto
autoridade é complexo e natural-
mente, controvertido. Os aspectos
que até agora se viu são de nature-
za mais teórica.
Mas como é que os prag-
máticos da administra-
ção de empresas e
gestão de pessoas
percebem e
entendem
Figura 1 — a “Pirâmide do Poder”, (TRACY, p. 163).
empresa. Esse detentor do poder “respeito”, “confiança” e “permissão quais seriam esses padrões de exce-
pode estar em qualquer patamar de para errar”, ainda assim tem-se a fi- lência? Quem vai estabelecê-los?
liderança dentro da empresa, cada gura de uma pessoa ou um grupo Eles virão de um consenso entre
qual com seu nível de liderança, de pessoas que vai determinar o real todos os colaboradores da empresa?
autoridade e influência. Em suma, significado destas palavras. Esse sig- Sobre quais aspectos eles poderão
todos devem seguir os padrões éti- nificado virá de sua base de valores tentar convencionar valores? Sobre
cos de uma pessoa que per- essenciais, que pode ser comungada salários? Sobre atendimento pós-
sonifica a empresa ou de liberalmente pelos subordinados ou -venda? Sobre jornada de trabalho?
uma equipe diretiva que a comungada por imposição de quem Sobre a remuneração dos executi-
represente. Logo, os padrões detém o poder. vos? Sobre o tratamento que os pa-
éticos serão aqueles que correspon- Na verdade, quando tais pas- res, os subordinados e os superiores
derem aos valores de seus adminis- sos são propostos por Tracy, ela devem exercitar entre si?
tradores. E por mais está apresentando uma perspectiva A partir de algumas poucas per-
que, neste quadro. pragmática para que a liderança em guntas, podemos observar que o es-
apareçam as uma empresa tenha vigor, dinamis- tabelecimento de valores éticos não
palavras mo, segurança, eficácia e eficiência. é assim tão facilmente democráti-
As questões éticas ficam um pouco co. Por outro lado, também não se
mais no universo da pressuposição. pode negar que tais procedimentos
Quando, por exemplo, apresenta o apontados por Tracy são do mais
passo “estabeleça padrões de exce- alto valor, pois qualquer pessoa que
lência”, e diz que “um administra- tenha sobre si responsabilidades
dor confere “empowerment” e um grupo de pessoas para gerir,
aos outros estabelecendo concordará que, sem um nível mí-
padrões de excelência nimo de organização, pouca coisa
que lhes permitem construtiva poderá ser feita, quer
alcançar seu po- seja em termos de resultados como
tencial pleno” em termos da busca de um equilí-
(TRACY, brio ou de uma convenção ética.
p. 35), Hoje há uma consciência muito
mais aclarada de que a centraliza-
ção do poder é maléfica e que a sua
delegação se faz imperativa, pois o
bom desempenho de uma atividade
empresarial não se baseia na capa-
cidade de seus “donos” ou de seus
representantes nos altos escalões
apenas. Antes, e muitas vezes
muito mais, depende do
bem desempenho de seus
subordinados, cola-
boradores e que,
portanto, eles
devem e pre-
cisam ter,
cada um na esfera de sua competên- de mais um ano de escândalos A ideia apresentada acima a
cia, a liberdade e poder de decisão. empresariais”6 são apontados alguns respeito da falta de consciência da
Assim o descreve Weiss a necessida- elementos sob a perspectiva da ética questão ética é muito pertinente. A
de deste fluxo de autoridade e poder e que são muito pontuais para com- falta de consciência não quer signi-
que se dá por meio de sua delegação: preendermos a resposta da pergunta ficar que as pessoas não têm conhe-
“Essa delegação de autorida- que intitula o artigo. O autor as- cimento do que seja certo ou errado,
de se dá quando a adminis- sim argumenta que a ganância não mais acertado ou menos correto. A
tração intermediária confere explica tudo, embora ela explique questão é que não têm
aos supervisores diretos um es- muita coisa. ou não estão preocu-
pectro de autoridade e designa “Realmente, parece que o di- padas em ter noção
responsabilidades no departa- nheiro em si não compensa o de o quanto alguns
mento; esses supervisores tra- risco envolvido nas ações des- de seus atos, envol-
tam de fazer o departamento sas pessoas”, diz Dunfee. Na vendo assuntos ou
cumprir as metas metas que maioria desses casos, havia mais ou menos relevantes em
contribuem para a obtenção quantias relativamente peque- um determinado contexto, têm
das metas empresariais. Isso nas “a ganhar e carreiras e re- consequências também mais ou
não quer dizer que os supervi- putações construídas ao longo menos impactantes sobre as ou-
sores devem, eles mesmos, rea- de uma vida inteira a perder. tras pessoas, sejam elas subal-
lizar o trabalho, a menos que a Não há lógica dizer que eles ternas ou superiores dentro de
administração superior assim foram movidos pelo dinheiro. um contexto sócio-político-
o designar” (WEISS, p. 19). Mas, então, quais seriam as -econômico.
outras justificativas possíveis? Toffler (TOFFLER, p.3),
Há na administração seguindo Uma explicação muito comum em sua pesquisa sobre ética
este modelo muito mais autonomia no campo da ética empresarial no trabalho, consultou vários
em vários segmentos da vida eco- — e isso pode parecer chocante empresários e gerentes de ne-
nômica em todo o mundo; há mais — é que eles simplesmente não gócios, a fim de apontarem em
consciência de uma responsabili- tinham consciência da ques- que áreas os problemas éticos
dade social; há muito mais clareza tão ética. (...) Outra explica- mais se manifestam. Os nú-
a respeito de tudo. Sem dúvida o ção possível é que pessoas ricas e meros são esclarecedores, pois
mundo está muito mais politizado de boa posição social sentem-se revelam que a maior parte deles
e, em muitos aspectos, melhor. Mas com direito a tudo.” está no universo da gestão de
ainda temos seriíssimos problemas pessoas e não propriamente no
quanto ao estabelecimento de pa- universo da gestão de negócios. Ve-
6 Ética Empresarial. Revista eletrônica
drões éticos no mundo dos negó- de propriedade da Wharton School jam os resultados na tabela ao lado.
cios e para a gestão de pessoas. da Universidade de Pennsylvania Apontamos tais números e as
Em um artigo intitulado “Por e Universia. In: htttp://wharton.
universia.net/index.cfm?fa= viewArti áreas de conflito, a fim de verifi-
que pessoas bem-sucedidas aban- cle&id=713&language=portuguese& carmos que um problema ético fica
donam a ética: o que está por trás specialId=Acessada em 17/03/2009 caracterizado quando uma pessoa,
às 20:38.
seja ela quem for, é prejudicada (ou
Área de conflito nº casos % total até mesmo, apenas sente-se preju-
dicada, desmerecida, desvaloriza-
Gerência de recursos humanos e
39 66,10% da). E muitas vezes, a razão de tal
administração de pessoal
sensação ou realidade de prejuízo
Gerência de elementos externos 10 16,90%
é decorrente de desconhecimento,
Gerência de risco pessoal versus de falta de consciência, como foi re-
7 11,90%
lealdade à empresa ferido acima, de que todos os atos,
Outros 3 5,10% decisões, posturas e valores têm
Total 59 100,00% consequências éticas. E, na verdade,
isso é muito mais profundo do que relacionamentos, e estes, em sua de se valerem do mesmo “direito”
cumprir ou não cumprir a determi- totalidade, desde os envolvimentos para situações análogas. Como uma
nação que prescreve a atribuição do afetivos aos “estritamente profissio- empresa pode (e penso que deveria)
cargo7. As questões éticas vão muito nais” (como alguns talvez gostem de dar suporte a empregados em situ-
mais além, pois dizem respeito aos referir). ação de risco, sem comprometer a
Como será possível, então, cons- saúde da empresa? Percebemos, nes-
7 Assim o coloca Toffler (1993, p.
22), dando a entender que a ética truir ou até mesmo ousar propor ta situação apresentada, que a ética
tem a ver com a responsabilidade um caminho para uma conduta transita nos dois pólos: do gestor e
funcional: “De forma simplificada, ética que seja tão abrangente e que do colaborador. Na verdade, o re-
responsabilidade funcional é o
conjunto de todas as atividades satisfaça? Assim questiona Toffler sultado nunca será satisfatório se
e obrigações especificadas pelo a respeito de uma possível (ou im- não houver uma postura adequada
papel formal de alguém. Apesar possível) responsabilidade ética dos de ambas as partes envolvidas na so-
da confusão sobre o que é um
papel, responsabilidades funcionais
gestores ou gerentes de negócios: lução de um determinado dilema ou
incluem, geralmente, todas aquelas “A questão ‘O gerente tem res- conflito ético. O que se deve buscar
atividades constantes na descrição ponsabilidade em uma situ- é o bem-estar8 de todos. No entan-
do cargo.”
ação ética?’ é crítica sob duas to, isso só será possível na medida
perspectivas: Ele deveria fazer em que a sociedade9 envolvida for
alguma coisa? Ele não deveria capaz de refletir, buscar e estabele-
fazer algo? Em primeiro lugar, cer os princípios e os valores que vão
se um gerente tem uma respon- nortear sua postura e conduta ética.
sabilidade e deixa de agir, ele Ter-se-á que trabalhar a ética de
está deixando de cumprir uma uma perspectiva formal e não tele-
obrigação sua. O gerente tam- ológica, ou seja, ética é uma questão
bém pode estar permitindo o de princípios, primeiro e, de resulta-
aparecimento de circunstân- dos, depois; e não o oposto. Em ou-
cias que poderão causar preju- tras palavras, “os fins não justificam
ízos ou outros resultados nega- os meios”, ou os resultados são “con-
tivos para as pessoas e/ou para sequência” e não o “impulso”.
a organização.” Quando aqui, pois, falamos de
autoridade, devemos compreender
Vejamos um exemplo que apa- que sempre existirão princípios e va-
rentemente poderia ser visto como lores que estarão balizando o com-
um assunto que não pertence à portamento ético das “sociedades”
responsabilidade do gestor de uma em que se vive.
empresa. Certo empregado tem em
casa um filho dependente de produ- 8 Aqui “bem-estar” pode significar
muitas coisas, dependendo do
tos narcotizantes e em razão disso, fundamento de valores que vai
algumas vezes, para acudir seu filho, embasar e definir “bem-estar”. Será
necessita ausentar-se do trabalho. diferente o entendimento se o
fundamento for hedonista, relativista,
Que responsabilidade tem o gestor naturalista, cristão, idealista ou
da empresa a este respeito? A solu- estético.
ção que muitos encontram seria, de- 9 Chamamos aqui de sociedade toda
e qualquer relação que envolva
pois de advertido o funcionário, de- duas ou mais partes interessadas.
miti-lo, porque suas ausências estão Quando as partes interessadas
prejudicando o andamento produ- puderem chegar a um consenso
a respeito dos valores e dos
tivo da empresa. Se por outro lado resultados pretendidos, mas muito
ele dá suporte a este colaborador, ele mais dos valores cridos, tanto mais
também dá a outros a possibilidade se conseguirá obter uma sociedade
ética de fato.
4. Uma proposta para aborda os problemas empresa- ciais as pessoas não são todas iguais
riais mais em termos de rela- em razão das funções que exercem,
construção de uma cionamentos do que de produ- embora sejam todas iguais diante de
prática ética. tos tangíveis” (NASH, p. 20). Deus e da Lei. Nesta relação de desi-
gualdade devido às responsabilida-
Quais são os princípios que po- Valores como justiça, confiabi- des e ao poder que cada indivíduo
dem nortear a conduta ética da uma lidade, honestidade e pragmatismo tem em relação à função que desem-
sociedade? No início deste trabalho (NASH, p. 33) fazem parte dela e penha, ele terá de tomar decisões.
expusemos seis grandes princípios sua proposta se caracteriza por dar São justamente estas decisões que
que a humanidade tem adotado ênfase ao serviço prestado aos ou- estarão carregadas de princípios ou
para orientar sua conduta ética, tros e à idéia clara de que a vanta- valores éticos e morais.
principalmente no mundo ociden- gem ou ganho não precisa necessa- Como, pois, ele vai tomar estas
tal: naturalismo, hedonismo, relati- riamente ser imediato (NASH, p. decisões? Que princípios orientarão
vismo, esteticismo ético, idealismo e 21). É justamente esta preocupação suas decisões? Que princípios têm
cristianismo. com o bem-estar do “outro” que ca- quem recebe as decisões que serão
Forell (1983), expõe estes seis racteriza a ética cristã, e, de forma tomadas? Se uma pessoa, incumbi-
princípios e propõe que apenas a muito particular, caracteriza como da de uma função de autoridade em
perspectiva do princípio do cris- o “outro” está relacionado quanto à uma empresa que tem por objetivo
tianismo poderia dar uma resposta questão da autoridade. a maior lucratividade possível, e ela
mais consistente para este propósi- Segundo o cristianismo, qual é (a pessoa) tem a responsabilidade
to. Há muitos escritores que apre- a origem da autoridade e como ela de gerenciar os recursos humanos,
sentam suas idéias para construir se dá no seio da sociedade? Warth como agirá se tem por tarefa ge-
um universo ético que, têm suas (WARTH, p. 103) diz que a auto- renciar um grupo de funcionários
matrizes (reconhecendo ou não), ridade vem de Deus e é estendida com o menor custo possível? Toda
muito aproximadas aos fundamen- à humanidade como uma extensão a sua ação poderá recair na tarefa de
tos do cristianismo e outros que os de sua própria autoridade. Essa au-
contestam veementemente. toridade se manifesta através das em três ordens básicas: a ordem
Um desses escritores que parece econômica ou familiar a ordem
ordens sociais10. Nestas ordens so- política e a ordem eclesiástica. São
inspirar-se nos princípios cristãos formas concretas de autoridade
é Laura L. Nash, que em sua obra 10 “Para exercitar esta aplicação da delegada por Deus, pelas quais Deus
“Ética na empresas: boas intenções autoridade, reconhecida pela fé, reina sobre todo mundo através de
à parte”, fala de uma ética, que de- Deus providenciou várias ordens nós e do próximo.” (WARTH. 2002,
sociais. Lutero agrupou essas p. 104)
nomina de “ética convencionada”
(NASH, p.21). Nesta sua proposi-
ção de caminho ético ela afirma que
“A ética convencionada forne-
ce uma combinação coerente
de motivação do lucro e valo-
res altruístas que ajudam a
confiança e a cooperação entre
as pessoas. Ela tem três aspec-
tos essenciais: 1) percebe, como
objetivo primário, a criação de
um valor em suas muitas for-
mas; 2) percebe o lucro e outros
retornos sociais não como obje-
tivos dominantes, mas como
resultado de outras metas; 3)
ou reduzir salários e benefícios dos sumo, um conflito de perdas e ga- tomada de decisão e assim escreve,
funcionários ou reduzir o número nhos (no mundo dos negócios). primeiramente o conflito:
deles, sem afetar a produtividade e Essas perdas e ganhos quase sempre “Mas e as decisões que temos de
ainda, se possível, aumentá-la. serão manifestos em seu aspecto tomar a cada minuto de nos-
Nash (NASH, pp. 40-44) fala de material. No entanto, eles também sa vida? Existe algum padrão
alguns desafios que um administra- podem ser afetivos, existenciais, pelo qual possam ser medidas
dor deverá ter para bem administrar morais, de imagem, de auto-estima, com precisão? Por exemplo,
de acordo com a ética convenciona- de reconhecimento, de valorização, você pode apresentar razões
da, cultivando qualidades que tam- de investimento no crescimento para a sua decisão de ler estas
bém podem ser estendidos a todos pessoal, de confiança, etc. páginas? Por que é que você
os que se preocupam em viver em Se uma empresa tem uma linha está lendo uma introdução à
um mundo com uma ética diferente ética reconhecidamente de base ética ao invés de um roman-
da atual. São eles os seguintes: 1) ha- “naturalista”, tudo será feito no sen- ce policial? (...) Como foi que
bilidade para reconhecer e articular tido de primeiro, fazer a empresa você chegou a tomar esta deci-
a ética de um problema; 2) coragem sobreviver, e ainda muito mais, de são. houve algum critério im-
pessoal para não racionalizar a má torná-la mais apta, mais capaz para portante que você usou para o
ética; 3) um respeito inato pelos ou- o mercado competitivo, no qual não orientar? Igualmente, quando
tros; 4) o valor pessoal derivado do basta ser bom; é necessário ser mui- você escolhe uma pessoa como
comportamento ético. to bom, senão o melhor! Essa luta amiga, em vez de outra, sua
Todo conflito ético será, em re- pode ser externa, com a concorrên- decisão é guiada por algum
cia, e pode ser interna, entre os pró- critério de atratividade?” (p.
prios funcionários, em uma disputa 20).
na qual, mesmo que todos possam
agir em colaboração, ainda assim, se Este é um conflito que na maio-
houver duas pessoas que podem gal- ria dos casos passa desapercebido,
gar uma posição de maior relevân- ou é realizado de modo “automáti-
cia, elas rivalizarão entre si. As de- co”, “irrefletido”. Todas as pessoas,
cisões que elas tomarão e os valores todos os grupos, todas as institui-
que terão prevalecimento depende- ções, todas as comunidades, todas
rão do princípio que as pessoas ado- as culturas, constroem para si uma
tarem em sua base de valores. base de valores. É nesta base de va-
Forell apresenta seus argumen- lores que as decisões são tomadas.
tos de como se dá o processo de Esse processo irrefletido é também
conhecido como “senso comum”.
Poderia alguém, mais tarde, depois
de ver o desfecho de uma determi-
nada situação, argumentar que não
possuía base para tomada de deci-
são, ou que tomou sua decisão por
acaso. Mas sua justificativa poderá
ser aceita? Creio que não! Sua con-
dição pode ser amenizada diante do
maior ou menor grau de instrução,
talvez.
Como então tomar uma decisão
de maneira mais consciente e mais
acertada? Assim descreve Forell:
“Devemos sempre ter em men-
se isso nos seguinte termos: “Se eu, toridade” que cada um e todos po-
o Senhor e Mestre, lavei is pés de vo- derão praticar a boa ética.
cês, então vocês devem lavar os pés Rev. Rui Gilberto Staats — São Gerônimo-RS,
uns dos outros. Pois eu dei o exem- pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil
plo para que vocês façam o que eu
fiz. Eu afirmo isso a vocês e é verda-
de: o empregado não é mais impor-
tante que seu patrão, e o mensageiro
não é mais importante que aquele
que o enviou” ( João 13.14–16).
Igualmente pode-se perceber
que a tão buscada ética, no sentido
de “prática de valores nobres e bons”
só será alcançada quando a socieda-
de a buscar por meio da educação,
do cultivo de valores básicos que
respeitem profundamente o outro,
sempre.
O Cristianismo propõe esta
educação, e procura ensinar que o
indivíduo e todos os grupos sociais
procurem perceber no outro a sua
autoridade, pois é no serviço à “au-
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WEISS, Donald . Aprenda a delegar com eficiência. Trad. Ibraíma Dafonte. São Paulo: Nobel, 1991
3. Causas da Superstição
A ação do diabo é a primeira e a mais forte. O ho-
mem é essencialmente religioso, ele precisa crer em algu-
ma coisa. Daí as diversas crenças. Todos crêem. O diabo,
aproveitando essa necessidade do homem de crer em al-
guma coisa, apresenta-lhe uma vasta gama de recursos
para todos os fins.5 As várias causas vemos a seguir:
• A insatisfação do sentimento religioso. Pessoas
que estão insatisfeitas com a sua religião, buscam
outros meios para os seus problemas.6
• A doença. A doença é o mal que mais aflige o ho-
mem: por isso, no combate à doença, a supersti-
ção encontra o terreno mais propício e fértil, to-
dos querem Ter esperança de cura.. isso, e certamente por muito mais, que a superstição
• O fantástico. A inclinação do homem para o existe.
fantástico, para o maravilhoso, para o inespera-
do, para as intervenções do além são um grande 4. Consequências da Superstição
apoio na difusão da superstição.
• A curiosidade. O grande desejo de tudo saber, A primeira consequência da superstição é o casti-
tudo experimentar, é outra fonte que apóia o go de Deus. Dt 18.9 nos diz: “... não aprenderás a fa-
crescimento da superstição. No caso da curiosi- zer conforme as abominações (os costumes nojentos)
dade, desempenha papel importante a cartoman- daqueles povos.” E ainda o versículo 12,
cia (leitura do futuro pelas cartas), a quiromancia diz: “... todo aquele que
(leitura do futuro pelas mãos), o horóscopo... faz tal coisa é abomi-
• A literatura supersticiosa, que invadiu o mercado nação ao Senhor”, e o
livreiro. Livros como: O Manual das Cartoman- versículo 14 encerra
tes, O Livro dos Sonhos, Guia Astrológico, Pla- dizendo: “... a ti o
neta, etc. isso faz aguçar a curiosidade do povo. Senhor teu Deus
Estas são algumas causas da superstições, é por tudo não permitiu tal
coisa. A Palavra
4 HOERLLE, Herberto. Superstição na forma em que mais se
manifesta. In Mensageiro Luterano, Agosto de 1963. Pg 88
de Deus é clara, é
5 I Pe 5.8 – “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, pecado, Deus não
anda em derredor como leão que ruge procurando alguém aprova, e quem não
para devorar.” abandona a supersti-
6 HOERLLE, Herberto. Superstição na forma em que mais se
manifesta. In Mensageiro Luterano, Agosto de 1963. Pg 88 ção vai para o inferno.
Palavra de Deus nos dá. ofensiva do Cristão para se defen- força mesmo, e isso precisa ser traba-
Deus nos protege e nos guarda, e der, bem como atacar ao diabo, e os lhado pelo pastor. Nós vimos que o
se estamos firmados nele, resistimos seus seguidores. pastor tem que saber lidar com esta
qualquer tentação, qualquer dificul- O pastor precisa estar conscien- situação, pois a superstição pode até
dade, qualquer provação, pois ele te que o problema da superstição estar incutida na cultura de deter-
estará conosco dando-nos força e existe, principalmente no Brasil, e minado lugar, por isso complica.
capacidade para isso. que isto tem que ser abolido, pois o O que o pastor deve fazer, é jus-
6º Resistir ao pecado, assim cristão de verdade não suporta isso. tamente aplicar a Palavra de Deus,
como diz em Efésios 6.10-18. As- Por isso, se o pastor usar a Palavra usar lei e evangelho, o resto Deus
sim podemos ver que a armadura de de Deus, certamente as pessoas se faz com seu Espírito Santo, como
Deus é a seguinte: convencem, e se arrependem, pois pastores, nós não somos deuses,
A verdade – Jesus é a verdade o Espírito Santo vai agir, mostrando mas instrumentos do Deus verda-
A justiça – A justiça de Cristo que quer a salvação de todas as pes- deiro para que as pessoas cheguem
(Rm 8.33) soas que crêem. a verdade, e possam ser salvas pela
O Evangelho – é o poder de verdadeira fé em Cristo, dada pelo
Deus para salvar a humanidade (Rm Conclusão Espírito Santo, e fazer também com
1.16) que as pessoas se neguem a praticar
A salvação – a esperança da sal- Este trabalho foi apenas para a superstição, pois ela não salva, mas
vação nos anima a lutar contra estas mostrar com este problema é com- condena eternamente.
coisas que não pertencem a Deus. plicado, pois envolve religiosidade. Rev. Cláudio Ramir Schreiber — Medianeira-PR,
A Palavra de Deus – É a arma Muitos acreditam que isso tenha pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Bibliografia
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Aurélio – Mini Dicionário da Língua Portuguesa. 3ª ed. Nova Fronteira. Rio de Janeiro,
1993.
JUCKSCH, Alcides. O pecado da superstição. 3ª ed. Sinodal. São Leopoldo, 1969. (Evangelizando o Brasil – Caderno 01).
Mensageiro Luterano – Editora Concórdia.
HATTEN, Willem C.Van. Superstição é abominação ao Senhor. In Mensageiro Luterano, março de 1980.
HEIMANN, L. Superstição – obra de Satanás. In Mensageiro Luterano. Fevereiro de 1967.
HOERLLE, Herberto. Superstição na forma em que mais se manifesta. In Mensageiro Luterano, Agosto de 1963.
HORSCH, Hans. Superstição – poucos falam, muitos praticam. In Mensageiro Luterano. Agosto de 1985.
KOCH, Kurt E. Fé e superstição. In Mensageiro Luterano. Junho de 1968.
Fanatismo em nome da fé
As notícias da morte de Bin Laden reavivaram as que ninguém engane vocês. Porque muitos vão apare-
cenas de terrorismo ocorridas na última década. É fato cer em meu nome” (Mateus 24.4). “O meu reino não é
que o desejo de vingança nestes anos, nunca as esquece- deste mundo” ( João 18.36).
ram, uma questão de tempo para se “fazer justiça”. Mas Nestes tempos que vão e que vem de guerra e apa-
com quem está a razão? Ou o direito de em nome da fé rente paz, onde todos são injustos e injustiçados e o de-
ou honra, se trucidem dezenas de milhares de pessoas, sejo de vingança está à flor da pele, todos precisam de
como tem sido? Quem são os verdadeiros mártires? um “Conselheiro Maravilhoso, Príncipe da Paz" (Isaías
O fanatismo em nome da fé, seja num Deus, propó- 9.6). Justiça já foi feita, afinal: “Cristo nos libertou para
sito, ou ideologia, tem em todos os tempos passado por que sejamos de fato livres. Por isso, continuem firmes
cima do que é o bem mais sagrado em qualquer tipo de nessa liberdade e não se tornem novamente escravos"
crença: a vida. A história revela tantas atrocidades em (Gálatas 5.1). Enquanto as armas e interesses forem
nome de uma pseudo-religião, carregada de ideologias deste mundo, formando todo tipo de mártir, continua-
e interesses humanos. Começou no Éden e tem coloca- remos neste caos. O desejo de justiça e a busca pela paz
do todos em risco. serão mais um capítulo sangrento.
Loucos por guerra santa distorcem valores, mani- A morte de Bin Laden foi mais uma batalha. Igno-
pulam pessoas como fantoches para atrair a honra para ro este tipo de mártir, vivo noutra certeza entre vida
si a qualquer custo, privando-as da vida plena. Igno- e morte: “em todo o Universo não há nada que possa
rância e distorção da verdade motivaram as Cruzadas, nos separar do amor de Deus, que é nosso por meio
a Guerra dos camponeses, a perseguição de Hitler - que de Cristo Jesus, nosso Senhor” (Romanos 8.39). Nele
tentou reescrever a Bíblia com o intuito de eliminar estou e vivo em paz!
as citações à cultura judaica. Ou do próprio Bin Rev. Márlon Hüther Antunes — Maceió-AL,
Laden que usou o alcorão para incitar ao terro- pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil
rismo. Uma regra simples, mas contraditória:
tentar pela violência e força da lei, promover
a paz. Um grande exemplo de intolerância
que nos cerca todos os tempos.
O apóstolo Paulo obcecado pelo fa-
risaísmo judaico confessou: “Eu era tão
fanático que persegui a Igreja” (Filipen-
ses 3.6). O próprio Jesus alertou contra o
falso cristianismo: “Tomem cuidado para
Oferta
Oferta e Ética
A
neiras de ofertar defendem. Entre
oferta é uma parte da vida
oferta voluntária e dízimo muitos
cristã que desde muito tempo
ficam perdidos nesse meio.
vem causando grande discussão en-
A Bíblia é a única fonte e nor-
tre as igrejas. Modelos de ofertas são
ma de doutrina. A oferta sendo
criados sempre se buscando a manei-
uma parte do nosso culto a Deus é
ra “correta”, ou a “melhor” maneira
natural que encontremos na Bíblia
de se ofertas. Essa preocupação tem
orientações quanto ao ofertar.
conseguido muitas coisas. Um fator
positivo é que as pessoas dão mais
atenção às suas ofertas. Mas, em
1.2. Antigo Testamento
contra partida, muitos ficam ator- Quando nos dirigimos ao Antigo
mentados. Não sabem muito bem Testamento para refletirmos sobre
como Deus espera que eles ofertem. a oferta é necessário fazermos uma
E as discussões levantadas portanto, distinção. Precisamos diferenciar
tem o seu lado negativo. oferta e sacrifício1. No Antigo Tes-
tamento essas duas partes do culto
estão muito ligadas. Essa ligação se
dá pelo fato de muitas ofertas serem
usadas justamente para o sacrifício.
No entanto, nem todas as ofertas se
destinavam ao sacrifício. Sacrifício
1 Enciclopédia Histórico Teológica da
Igreja Cristã, p. 44.
2. Maneiras de Ofertar
Ao longo da história da Igreja as
maneiras de ofertar sempre foram
muito variadas. A oferta regular que
(Lv 4.23). O sumo sacerdote trazia você, deixe a sua oferta ali, na frente
é recolhida no culto praticamente
junto com toda a comunidade e ofe- do altar, e vá logo fazer as pazes com
nunca foi colocada em questão. Os
recia um novilho (Lv 4.3,14). o seu irmão. Depois volte e ofereça a
Deus não estabeleceu uma forma sua oferta a Deus. Jesus mostra nessa
de oferta definitiva e única. Eram passagem que a oferta não é um sim-
diferentes de acordo com as ocasi- ples ato em si, mas é um conjunto.
ões. Dessa forma nos nossos dias as O Novo Testamento não nos
ofertas também tem uma amplitude mostra que o sistema adotado no
muito maior do que simplesmente Antigo Testamento não era válido.
aquele pouco de dinheiro que sepa- Para o povo daquele tempo as ofer-
ramos por mês para a igreja. tas foram agradáveis a Deus. Os sa-
crifícios hoje não precisam mais ser
1.3. Novo Testamento usados por que Cristo fez o sacrifí-
cio de uma vez por todas. Hb 9.11-
O sistema de ofertas e sacrifí-
10,18, mostra exatamente que Jesus
cios do Antigo Testamento não
é a maior oferta de Deus em favor
aparece mais com tanta clareza no
dos homens. O sacrifício de Cris-
Novo Testamento. De acordo com
to é eficaz e único ternamente. Os
algumas passagens podemos ver
sacrifícios do Antigo Testamento
que Jesus não desprezou o modo de
apontavam exatamente para a obra
oferta do Antigo Testamento. Em
de Cristo. O sangue derramado nos
Mt 8.4 Jesus,depois de curar um le-
sacrifícios era o antítipo do sangue
proso, pede que vá até o sacerdote e
derramado por Cristo na cruz do
ofereça a oferta de acordo com que
Calvário.
Moisés havia ordenado. Também
Depois de Cristo esse sacrifício
em Mt 5.23-24 Jesus diz: Portanto,
não precisa mais ser repetido. Ne-
se você estiver oferecendo no altar
nhum animal precisa ser sacrificado.
a sua oferta a Deus e lembrar que o
Isso não faz mais sentido. O próprio
seu irmão tem alguma queixa contra
Deus veio ao mundo para derramar
44 | Teologia | Abril e Maio, 2011
Oferta e Ética
2.4. Taxas
Essa forma de oferta é usada a
muito tempo. em tempos passados
ela ainda mais interessante. Muitas
vezes era imposto às famílias, de
acordo com os bens que possuía,
uma taxa. Ou ainda, pedia-se que
as famílias levantassem uma certa
quantia de dinheiro independente
dos seus rendimentos8.
8 Warning, p. 10.
Essa forma de oferta traz consi- de serem servidas. Quando se olha podem pensar que sempre que uma
go uma falta de compreensão mui- a oferta do ponto de vista da taxa, dificuldade surgir ela poderá ser
to grande sobre o que na verdade é o pastor pode se tornar esse pres- superada simplesmente se fazendo
a oferta do cristão. Nessa forma de tador de serviços. Os membros pa- uma festa.
oferta transforma-se a oferta numa gam para que ele trabalhe. Através Essa prática é muito comum em
obrigação mensal, sem a qual, se per- da taxa eles delegam a sua vida cristã congregações da IELB e também da
de o direito de receber os benefícios para que o pastor a viva em lugar IECLB. Em alguns casos esses even-
de pertencer à congregação. Muitos deles. Isso é muito perigoso. É prin- tos estão impregnados de forma
acham que precisam pagar uma taxa cipalmente prejudicial para a evan- tão profunda que não se consegue
para terem direito ao batismo, ins- gelização que se dá muito frequen- facialmente mudar a tradição. Em
trução, casamento e sepultamento. temente pelo testemunho pessoal alguns locais essas festas se tornam
A igreja é transformada em uma dos membros. eventos reconhecidos e aguardados
prestadora de serviços, pelos quais por toda uma região.
os membros pagam. A taxa dá uma 2.5. Outras Formas de
imagem de “igreja plano de saúde”. Levantar Ofertas 3. Dizimo
A taxa também da impressão
que pertencer a uma congregação é Quanto a rifas, bingos e outros
o mesmo que pertencer a um clube. jogos a IELB não recomenda que 3.1. Retrospectiva Histórica
Os membros pagam e tem o direito sejam usados para arrecadar dinhei-
Os debates recentes dentro da
de usufruir de suas dependências e ro. Essa decisão baseia-se no que
igreja cristã sobre oferta, são moti-
Paulo escreve em 1Co 10.23: “To-
vados pelas dificuldades financeiras
das as coisas são lícitas, mas nem
e não pela vivencia da vida cristã.
todas convêm; todas são lícitas, mas
Provavelmente se as dificuldades
nem todas edificam”9. Quanto a ba-
não tivessem aparecido a oferta não
zares, trabalhos manuais, chás ou
estaria em primeiro lugar nas pautas
almoços, a recomendação é que isso
de reuniões.
não seja o fim da congregação. En-
O movimento pentecostal colo-
tende-se como tempo e dons ofer-
ca ainda mais dúvida na cabaça dos
tados pelos membros. O dinheiro
membros de igrejas protestante his-
arrecado é empregado no trabalho
tóricas. Nesse realidade está a IELB.
do Reino de Deus10.
As igrejas pentecostais conseguem
Podemos dizer ainda que muitas
levantar verdadeiras fortunas em
igrejas na IELB foram construídas,
ofertas. Diante desse quadro sur-
em grande parte, com dinheiro ar-
gem muitas dúvidas. Por exemplo:
recadado em bazares, chás, almoços
“será que estou ofertando de manei-
e com trabalhos manuais. O perigo
ra correta? Será que a quantia que
que se corre quando se deixa essa
oferto é realmente a quantia que
prática livremente estabelecida em
Deus quer?” O discurso pentecostal
uma congregação, e de os membros
que a quantia de dinheiro dada é a
acharem que não precisam ofertar
proporção da fé coloca muitos em
regularmente. Isso ocorre sempre
desespero. Quer queria quer não
que quando uma congregação pas-
essas leis vão penetrando dentro das
sa por momentos de dificuldades.
congregações. E cabe ao pastor uma
Quando se promove algo desse tipo
orientação sobre o rela sentido da
e se consegue arrecadar o suficiente
oferta.
para sanar a dificuldade os membros
Abrimos um capítulo especial
9 Primeiro ao Senhor, p.51.
para o dízimo por entendermos que
10 Primeiro ao Senhor, p.51. é a modalidade de oferta que hoje
Abril e Maio, 2011 | Teologia | 47
Oferta e Ética
está mais em debate principalmente davam no estudo das contri- Não podemos colocar como apren-
dentro da IELB. O dízimo é a forma buições e sua teologia bíblica. der o ato mecânico de se dar dinhei-
usada pelas igrejas pentecostais para Como consequência, pastores ro para a igreja. Assim como cremos
que os seus fiéis ofertem. Essa é mais e líderes de congregações ado- que tudo em nossa vida é fruto da
uma tentativa de sanar os problemas tavam os melhores métodos de fé em Cristo, também o aprender
financeiros que apareceram. Dian- contribuição que conheciam; ofertar livremente é consequência
te do quadro de déficit procura-se aceitavam as práticas que da fé. Recebemos a fé no batismo
motivar os membros a ofertarem lhes pareciam ser as melhores mas durante toda a nossa vida cris-
afirmando que o dízimo é o único quando as exigências surgiam. tã estamos fortalecendo a nossa fé e
modo bíblico de ofertar. A necessidade evidente de con- crescendo no conhecimento da pa-
É interessante observarmos de tribuições era salientada pelos lavra de Deus.
onde surgem essas dificuldades no salários que tinham de ser pa- Muitas coisas não podem ser
ofertar. Waldo Werning em seu gos, as igrejas que tinham de aprendidas. O modelo de oferta que
livro “O chamado a Mordomia”, ser construídas, as contas para temos na bíblia é a oferta da viúva
traz uma análise retrospectiva de calefação, reparos e outras coi- pobre (Mc 12.44). Esse sentimento
critérios da mordomia das ofertas. sas indispensáveis. Faziam-se que moveu aquela oferta não pode
Werning diz que o passado europeu apelos a todos os membros para ser aprendido. Mas podemos mos-
contribui nos hábitos de contribui- cada um arcar com sua quo- trar que a oferta que Deus fez por
ção dos americanos durante muito ta das despesas. Antes de ado- nós, enviando Cristo é verdadeira
tempo11. O Brasil sofreu essa influ- tarem orçamentos regulares, motivação para se ofertar.
ência principalmente pelo fato de em algumas igrejas os mem-
grande parte dos membros da IELB bros contribuíam aos vários
ser de origem européia. A IELB fundos da denominação (ad-
principalmente sofre com esse fato. ministração geral, missões na
Não queremos agora colocar toda a Índia, na China, Seminários,
culpa dos problemas na mordomia etc.). As necessidades eram ex-
cristã nos nossos queridos ante- postas aos membros na media
passados que muito contribuíram em que surgiam. As pessoas en-
também para a propagação do evan- tão davam ou prometiam cer-
gelho. No entanto, é importante ta quantia para ajudar a co-
analisarmos os modos de vida das brir as despesas. E sempre se
congregações de onde eles vieram faziam presentes os “benefí-
para termos uma compreensão me- cios”, as rifas e as festas das pa-
lhor do que ocorre hoje em dia. róquias para ajudar a manter
Werning expõe a seguinte situa- as igrejas12.
ção:
Muitos protestantes, em par- No dias atuais já se denominou
ticular luteranos, vieram de esse tipo de discurso de “teologia da
igrejas estatais sustentadas por necessidade”. Podemos ver que no
impostos, nas quais não havia Brasil a influência desse tipo de pen-
contribuições regulares. Com samento tem reflexos ainda nos dias
tal precedente, as igrejas na de hoje. Analisando isso nos depa-
América por muitos anos não ramos com outra questão: precisa-
se preocuparam com o estudo mos ser educados na oferta. Sem dú-
bíblicos das contribuições cris- vida. A oferta é parte da vida cristã.
tãs. Nem teólogos europeus, Assim como aprendemos a cantar, a
nem americanos se aprofun- orar, também aprendemos a ofertar.
11 Werning. p. 9. 12 Werning. p.10.
3.2. Dízimo: A Maneira mentos em que o povo do Antigo Tudo o que temos e somos vem de
Testamento traziam as suas ofertas. Deus. Nós recebemos tudo de pre-
Correta de Ofertar Se queremos ser realmente bíblicos sente. Portanto não podemos nos
Certamente essa é a conclusão a quanto ao dízimos, então precisa- apossar da maioria e dar somen-
que muitos cristãos chegaram. No mos recolhe-lo somente uma vez te uma pequena parte para Deus.
entanto existe uma maneira que por ano, pois era assim que acon- Tudo é de Deus. O dinheiro que
podemos chamar de “100% corre- tecia. Não se recolhia de tudo, mas recebemos pelo trabalho que Deus
ta” na hora de ofertar? Afirmar que sim, dos produtos e animais indi- concedeu que tivéssemos nós o
o dízimo é a única forma de ofer- cados por Deus (Lv 27.30-32; Nm empregamos no nosso sustento, na
ta que Deus aprova, é incorreto. 18.21-32 e Dt 14.22-29)13. nossa educação, na saúde. Quando
Como já dissemos esse é o discurso Muitos tentam relacionar Jesus isso é feito com responsabilidade e
pentecostal. Um discurso que opri- com o dízimo de forma que possam de forma agradável a Deus também
me. Muitos membros da IELB estão encontrar apoio par as suas doutri- estamos sendo fiéis mordomos dos
sendo influenciados por pessoas que nas. De acordo com J. E. Dillard bens que ele nos concedeu. Oferta-
tem justamente a mesma idéia e vi- não temos na Bíblia que nos mos- mos em dinheiro pelo fato da igreja
são dos pentecostais. tre claramente que Jesus tenha sido precisar de dinheiro para a propaga-
Muitos dizem que essa é a for- dizimista. Mas de acordo com seu ção do evangelho, arcar com as des-
ma bíblica de se ofertar. O dízimo ponto de vista podemos concluir pesas que tem uma congregação. No
era uma das formas e um dos mo- que sim. Ele aponta dez fatores que entanto a forma de ofertarmos esse
nos levam a essa conclusão. Dentre dinheiro e a quantia não podemos
esses podemos citar o fato de Jesus bater o martelo e definir de acordo
ter sido educado em um piedoso lar com o nosso entendimento.
judeu; e os judeus piedosos eram di- Precisamos ter sempre em mente
zimistas. O Velho Testamento era a
bíblia daqueles dias, e sabemos que
Jesus amava a Bíblia14.
Para o apóstolo Paulo os argu-
mentos são praticamente os mes-
mos. Paulo pro sua vez parece ter
tido uma compreensão mais clara
da mordomia da oferta após a sua
conversão. Provavelmente Paulo
não se limitou ao dízimo após a sua
conversão.Segundo Dillard a
vida cristã de Paulo atingiu
o ideal, já que tudo o que ele
possuía estava consagrado a
Cristo15.
Como podemos observar
o dízimo tem os defensores fer-
renhos. Ignoram todas as outras
maneiras de ofertar para apoiar o
dízimo como forma ideal. A forma
ideal é colocar todas os bens ma-
teriais a serviço do reino de Deus.
que a oferta é livre e nessa liberda- as voltas com diferentes maneiras de A influência pentecostal ator-
de o cristão observará o modo que interpretar a verdadeira motivação menta muita gente. A pergunta que
deseja ofertar. A Comissão de Teo- para a oferta. se faz é: por que eles tem dinheiro
logia e Relações Eclesiais da IELB O tema da oferta, especialmen- e nós não temos? É preferível con-
tem um parecer muito bonito sobre te no últimos anos, tem sido muito tinuar da maneira que estamos do
essa questão da oferta. Diz assim: O debatido. A Igreja Evangélica Lute- que adotarmos o sistema de oferta
povo de Deus tem liberdade para rana do Brasil, especialmente, viu-se deles. Que é motivado pela coação
decidir sua maneira de ofertar para as voltas com diferentes maneiras de e pela barganha com Deus.
a obra do Reino de Deus16. Dentro interpretar a verdadeira motivação A maneira bíblica de ofertar é
dessa liberdade o cristão pode dar para a oferta. maravilhosa. É maravilhosa porque
o dízimo. Como também pode ter Depois do trabalho pronto po- é livre. O cristão dentro da liberda-
outra maneira de ofertar. Não pode- demos observar, como está coloca- de que Cristo lhe conquistou oferta
mos estipular uma lei e dizer que o do no próprio trabalho, que a oferta com o coração transbordando de
dízimo é a única maneira de ofertar acima de tudo é livre. Esse é o pres- alegria.
que Deus abençoa. suposto primeiro para a oferta. Não Rev. Elieu Radins — Vila Pavão-ES,
podemos criar leis que Deus não pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil
4. Conclusão admite. A oferta é culto de louvor
a Deus pelas bênçãos recebidas dia-
O tema da oferta, especialmen- riamente em nossas vidas.
te no últimos anos, tem sido muito
debatido. A Igreja Evangélica Lute-
rana do Brasil, especialmente, viu-se
16
Comissão de Teologia e Relações
Eclesiais da IELB in Mensageiro
Luterano, Set. 94, p.9.
Bibliografia
CAMPELO, Zacarias. Luz Sobre Mordomia. Rio de Janeiro, Casa Publicadora Batista, 1959.
COMISSÃO DE TEOLOGIA E RELAÇÕES ECLESIAIS DA IGREJA EVANGÉLICA LUTERANA DO BRASIL, Sistema de Ofer-
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DILLARD, J. E. Mordomia Bíblica. Trad. Lauro Bretones. Rio de Janeiro, Casa Publicadora Batista, 2º ed., 1957.
ENCICLOPÉDIA HISTÓRICO-TEOLÓGICO DA IGREJA CRISTÃ. Ed. Walter Elwell. Trad. Gordon Chown. São Paulo, Vida
Nova, 1998,Vol. III.
O NOVO DICIONÁRIO DA BÍBLIA. Ed. J. D. Douglas. Ed. da edição em Português: R. P. Shedd. Trad. João Bentes. São Paulo,
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PRIMEIR AO SENHOR, Manual de Mordomia Cristã da Igreja Evangélica Luterana do Brasil. Ed. Diretoria Nacional da Igreja
Evangélica Luterana do Brasil, Porto Alegre, Concórdia, 3º ed., 1996.
WERNING, Waldo J. O Chamado a Mordomia. Trad. Mário L. Rehfeldt. Porto Alegre, Concórdia, 1969.
Oxi-dantes
A sensação surreal causada pelas drogas pa-
rece a cada dia tomar mais conta de nossa
sociedade, demonstrando de forma devasta-
“todos pecaram” (Romanos 3.23), “porque o
salário do pecado é a morte” (Romanos 6.23).
A droga do pecado não destrói só o corpo, mas
dora como a mente pode ser oxidada, como a alma também – acabando com vidas, famí-
uma fuga oferecida pelas esquinas e desertos lias, esperanças.
da vida. Se a sensação é surreal, a guerra é Se antes o oxi não era considerado o grande
real. A falsa euforia há muito não faz acep- vilão das drogas, era porque dele não se tinha
ção de classe social, idade ou ocasião. É uma conhecimento ou não se dava atenção, pois
luta diária em muitos lares, conviver e tentar era velho conhecido só nas periferias da re-
tratar os estragos causados pela dependência gião norte. Hoje os olhos se abrem para este
química. E se a bebida, maconha, cocaína, cra- inimigo. Admitir o inimigo é o primeiro passo
ck, remédio e outras drogas lícitas ou ilícitas para se buscar ajuda, cura ou salvação. Ações
já eram os grandes fantasmas, agora se revela paliativas são apenas maneiras hipócritas de
um inimigo ainda pior: o Oxi! fechar os olhos para um problema e achar que
Mais letal que o crack (segundo estimativas tudo está bem, desde que as consequências
entre 600 mil a 1,2 milhões brasileiros já são não recaiam sobre mim, é o estrago da falsa
vítimas); Com um poder de vício ainda maior; euforia!
Uma composição ainda mais devastadora – Assim, multidões andam com a mente oxi-
pasta base de coca oxidada com querosene ou -dadas, pelo grande vilão, velho conhecido,
gasolina e cal – o oxi, mais acessível – cerca devastador e viciante – para este “hábito” há
de ¼ do valor de uma Pedra de crack – é a uma única saída, um único antídoto, remédio
nova e perigosa moda nas bocas de fumo. Pelo e salvação. “Eu sou o caminho, e a verdade, e a
corpo vai destruindo órgãos, da boca aos rins, vida; ninguém vem ao Pai senão
trazendo a morte rápida ao usuário e, cada vez por mim” (João 14.6). Este é
mais perto de todos. a solução para a droga do
Mentes “oxidadas”, vidas “oxi- pecado. Este é a solução para
dadas” – um rastro de pavor e a Salvação. Este é a solução para o
morte democratizada. A sécu- perdão. Para os demais, “há ca-
los o Apóstolo Paulo tratava do minhos que parecem certos, mas
assunto que assim como o oxi, podem acabar levando para a
vicia, destrói e leva a morte: morte” (Provérbios 14.12).
Rev. Márlon Hüther Antunes — Maceió-AL,
pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil
F
muito difíceis para a conclusão do
reud nasceu em 6 de maio de sob o anátema da maioria compac-
secundário). Um dos examinado-
1856, em Freiberg, hoje Pribor, ta’... Por outro lado, Freud apesar de
res elogiou seu estilo, preciso e ele-
Morávia. Originário de uma fa- não ser praticante nem ter orgulho
gante, notando nesse jovem o que
mília judia da pequena burguesia nacional que o ligasse ao judaísmo,
agrada aos leitores de suas obras
comerciante, viveu desde os 4 anos confessaria sentir irresistível atração
e que o levará a receber o Prêmio
em Viena, que deixou por Lon- pelos judeus e pelo judaísmo.”2 Em
Goethe de Literatura de 1929, pe-
dres, em 1938, quando perseguido 1881, recebeu o grau de médico. A
las qualidades estilísticas de seus
pelo Nazismo. Enquanto estudan- partir disso, iniciou sua especiali-
escritos.”1 Nessa época foi atraído
te no Gymnasium era o primeiro zação no ramo da neurologia. Sob
em rendimento escolar de sua clas- 1 PICCINI, Amina Maggi. Freud. São
Paulo: Editora Moderna, 1986. Pg. 14. 2 Idem, Ibid. Pgs. 8, 9.
orientação de Charcot, em Sorbon- ria de boas donas-de-casa que troterapia e pela hipnose. Depois
ne, determinou-se a pesquisar a sabem conservar indefinida- abandonou a hipnose, passando a
histeria sob o ponto de vista psico- mente seus empregados.’ Ela, adotar, como instrumento terapêu-
lógico. De Charcot, Freud reteve a que passou a ser chamada pe- tico, um simples estado de relaxa-
metodologia que muitas vezes con- los conhecidos de Frau Profes- mento do paciente. O terapeuta
tradizia pressupostos tidos como in- sor, nunca foi uma intelectual, analisava o paciente através das as-
falíveis na ciência. “Charcot nunca preferindo dedicar-se, com em- sociações livres. Nesse período, co-
se cansava de defender o direito de penho, às tarefas domésticas e nheceu o neurologista Breuer. “Os
observações contradizendo teorias aos filhos.4 dois trabalharam juntos durante al-
estabelecidas. Para ele, os fatos de- guns anos, e no curso deste período
viam ter a primazia. Consideramos, Já casado, estabeleceu-se como ‘catartizaram’ dezenas de pacientes
sobretudo nesse sentido, ser Freud especialista em sistema nervoso em histéricos, publicando em 1893 o
continuador da mensagem de Char- Viena. Tratava os nervosos pela ele- fruto de seus estudos, reunidos num
cot, imprimindo na Psicanálise a opúsculo intitulado Studien über
necessidade metodológica de que- 4 Idem, Ibid. Pg. 43.
rer aprender dos fenômenos sem se
deixar cegar por teorias prévias.”3
Em 1886, retornou a Viena. An-
tes disso, porém, trabalhou alguns
meses numa clínica de crianças em
Berlim. Ali fez observações sobre
as desordens nervosas presentes em
certas crianças.
Após o seu retorno a Viena,
Freud casou-se com Martha. O que
se tem dela é que era uma excelente
pessoa, uma verdadeira dona-de-
-casa:
Martha, esposa sempre dedi-
cada, não somente jamais per-
turbou a atividade do marido,
mas deve ter assumido, dentro
de casa, tudo o que pôde para
amenizar o andamento da-
quela. As inúmeras obras es-
critas por Freud durante o ca-
samento, que durou até o final
de sua vida, atestam a indireta
colaboração da esposa em saber
fazer com que, apesar dos tan-
tos filhos e da situação econô-
mica por vezes precária, fosse
possível prosseguir, sem inter-
rupção, um trabalho científi-
co tão vultoso. Ernest Jones re-
fere-se a Martha dizendo que
ela ‘pertencia à rara catego-
3 Idem, Ibid. Pg. 22.
Hysterie.”5 Nesta obra já estão expos- período febril e seus numerosos tra- se abrisse caminho através dos
tos certos conceitos fundamentais balhos foram publicados em diver- protestos e espavento dos clás-
da psicanálise: inconsciente, deslo- sas revistas científicas, monografias sicos psicólogos intelectualistas,
camento, ab-reação e recalcamento. e revistas especializadas. Sua obra da indignação dos moralistas e
Em 1896, afastou-se de Breuer, pois começou a receber mérito inter- da indiferença inicial dos psi-
este não reconheceu a etiologia se- nacional. Reagrupou em torno de quiatras. Áustria, Alemanha
xual das neuroses, prosseguindo seu si alguns discípulos: Adler, Stekel, e Suíça, inicialmente; Ingla-
caminho sozinho. Jung, Rank, e, em 1908, fundou a terra, América, Rússia e Po-
Em outubro de 1897 descobriu Sociedade Psicanalítica de Viena. lônia, depois; Itália e França,
o Complexo de Édipo e, em segui- Está claro que o estilo literário ultimamente, proporcionaram
da, lançou duas obras fundamen- de Freud contribuiu em muito para a Freud, em todos os campos
tais: A Interpretação dos Sonhos, a divulgação das suas idéias. Suas da cultura humana, numero-
publicada em 1900 e, Zur Psychopa- obras científicas são acessíveis até sos discípulos e continuadores
thlogie des Alltagslebens, publicada ao leitor simples. Junte-se a isso seus que traduziram suas obras e as
em 1904. Nesse mesmo ano decidiu carisma pessoal para com o público. divulgaram em seus respectivos
sintetizar suas técnicas e os resulta- O aspecto essencialmente di- países.6
dos de seus estudos, constituindo nâmico e empírico da psicolo-
um método que denominou Die gia freudiana, o atrevimen- Em 1909, foi convidado a fazer
Freudische Psychoanalytische Metho- to de suas afirmações, o estilo uma série de conferências sobre a
de. Daí provém o termo psicanálise. cativante do autor — bri- psicanálise nos EUA. Em 1910, era
A partir de 1905, a atividade lhante expositor e formidável realizado o primeiro Congresso In-
científica de Freud entrou em um polemista — e também o in- ternacional de Psicanálise, em Salz-
teresse crescente que se sentia burg. Nesse mesmo ano é fundada a
5 MIRA Y LOPEZ, Emílio. Os pelos estudos referentes ao in- Associação Internacional de Psica-
Fundamentos da Psicanálise.
Trad.: Joubert T. Barbosa. Rio de Janeiro: consciente – domínio vasto e nálise. A partir de 1910, concentra
Editora Científica, 1958. Pg. 25. inexplorado da alma huma- os seus esforços na multiplicação do
na — fizeram que a Psicanáli- movimento psicanalítico.
Entretanto, na medida em
que a instituição analítica se
expandia e se organizava, rup-
turas e cisões aconteciam entre
Freud e seus discípulos mais
próximos: ele se separou suces-
sivamente de Adler (1911),
de Jung (1913) e mais tarde
de Rank (1924) e de Feren-
czi (1929). A partir de 1920,
aconteceu uma reviravolta im-
portante na teoria freudiana,
com a introdução da pulsão
de morte. Freud propôs igual-
mente um novo modelo para o
aparelho psíquico, compreen-
dendo o ego, o id e o superego.7
A partir dos anos 20, Freud dedi- nalidade saudável elas devam tra- setor da personalidade orien-
cou-se aos grandes problemas da ci- balhar em harmonia — o id, o ego ta-se por uma fria moral uti-
vilização, dentro de uma perspectiva e o superego. A energia destas três litária, apoiada na razão ló-
psicanalítica. Vítima de um câncer forças é vista como energia mental. gica. Freud o distingue como
no maxilar, desde 1924, morreu em O id é constituído pelos instin- núcleo energético e intermedi-
23 de setembro de 1939, em Hams- tos. Há ário ou ‘Ego.’”10
tead, Londres. duas classes de instintos: os de-
nominados instintos tânicos, O ego é o principal atuante da
2. A Teoria Psicanalítica destruidores, ou instintos de personalidade, uma misteriosa mis-
Morte, de natureza sadomaso- tura de consciente e inconsciente,
quista, e os instintos criadores, representando sensações e ações. É
2.1. Psicanálise: Uma ou vitais, que se agrupam sob também o principal receptor das
Definição o qualificativo de Eros platôni- percepções do além corpo. Pensar
cos ou Libido. Essas forças, ini- e arrazoar são também funções do
Basicamente a psicanálise é uma ego.
cialmente amorfas e multívo-
teoria psicológica e método te- Parte do ego da criança torna-
cas constituem o extrato mais
rapêutico que trata de desor- -se diferenciada , pois incorpora as
profundo da atividade pesso-
dens mentais conhecidas como ordens e proibições que seus pais
al, e seu conjunto, fundamen-
neuroses; mais amplamente, é lhe dão. “O progenitor odiado é in-
talmente inconsciente, integra
uma teoria geral do desenvol- corporado à personalidade, em vir-
a parte desta.9
vimento emocional e da per- tude deste processo de introjeção e
sonalidade, construída qua- Visto que os instintos tem uma se converte em seu mais implacável
se integralmente por Freud. A fonte biológica, o id é de natureza juiz ou censor.”11 Freud chamou esta
terapia psicanalítica é indivi- orgânica. O principal objetivo de parte da estrutura da personalidade
dual e se estende por um perí- um instinto é reduzir a tensão asso- de superego. O superego é basica-
odo relativamente longo; atra- ciada através da estimulação desta mente inconsciente e tem impor-
vés da livre associação de idéias fonte. O objeto de um instinto é o tância na formação das neuroses.
do paciente, investiga-se a in- instrumento que realiza o objetivo. Ele é responsável pelo sentido in-
teração entre o consciente e o Por exemplo, matar a fome é o de- consciente de culpa que predomina
inconsciente, trazendo à tona sejo — objetivo — do homem. Seu em muitas desordens psicológicas.
medos e conflitos reprimidos e, instrumento — objeto — para eli- Por exemplo, a pessoa que sofre de
assim, as origens e mecanismos minar a fome é a comida. uma desordem obssessiva-compul-
profundos dos sintomas neuró- Há também as forças siva está obcecada com idéias de sua
ticos.8 derivadas paulatinamente da própria impureza, feiura e pecado.
ação corretora e modeladora Algumas vezes ela é compelida a
da experiência e da educação, lavar suas mãos, inconscientemente
2.2. Id, Ego e Superego que atuam criando por refle- ela está “lavando” sua culpa. “É ele
ou Princípio da xos resultantes da observação, também chamado ‘ideal do Ego’,
Divisão Tripartida da a bipolaridade consciente e pois as impressões que recebemos
Personalidade Adulta permitem separar o Eu (reali- na nossa mais recuada infância, tan-
dade subjetiva) do não-Eu (re- to as da educação direta como as da
A teoria psicanalítica explica o alidade objetiva), delimitando indireta, permanecem, em grande
funcionamento da personalidade assim a noção de auto-existên- parte, indeléveis durante toda a nos-
como a interação de forças. Tipica- cia e autodeterminação. Em sa vida e, por isso mesmo, influem
mente, três grupos de forças estão suas intenções e propósitos, este decisivamente na feitura do ideal
em conflito — embora na perso- com que pautamos nossa conduta
9 MIRA Y LOPEZ, Emílio. Os
8 Nova Enciclopédia Ilustrada Fundamentos da Psicanálise.
Folha. São Paulo: Publifolha, 1996. Vol. Trad.: Joubert T. Barbosa. Rio de Janeiro: 10 Idem, Ibid. Pg. 59, 60.
2. Pg. 802. Editora Científica, 1958. Pg. 59. 11 Idem, Ibid. Pg. 60.
diferenciados e comuns a outras funções vitais.17 observou que há um breve lapso de tempo no
qual não se observa aparentemente nenhuma
As fases evolutivas da Libido: manifestação objetiva de sexualidade
A) Período Terminutritivo — o bebê sente uma infantil.
vaga impressão de prazer, como quando satisfa- G) Período da Projeção Sexual — a
zem suas necessidades nutritivas e térmicas. “O criança projeta seu afeto sexual pri-
seio materno (ou o seu substituto) é considerado meiramente na pessoa de seu genitor
como parte do sujeito infantil, tudo está para ser de sexo contrário.21 Os filhos se encon-
engolido ou, eventualmente, rejeitado.”18 tram ligados aos pais por uma du-
B) Fase Oral — com o aparecimento da dentição, pla reação erótica — amor e ódio.
o prazer da criança se concentra na boca. Por isso Nessa época, as crianças começam
chupa os dedos e leva tudo à boca. “O seio nu- a preocupar-se com a sua procedên-
triente é experimentado, pelas fantasias infantis, cia.
como o eixo de todas as bondades possíveis: é alvo H) Período de Retorno — na puberdade
de uma paixão que não encontra paralelo na vida observa-se uma volta à fase do auto-
afetiva posterior. O seio bom tanto representa o -erotismo, junto com a satisfação
modelo de toda boa relação subsequente, como onanista e masturbadora. A
é também o núcleo do desenvolvimento do ego evolução da Libido persiste e
infantil... Por outro lado, a experiência de sentir a criança projeta pela segunda
fome, sem que o seio materno acorra para aplacá- vez a Libido no exterior — ge-
-la, é ódio puro, um inferno sem atenuantes.”19 ralmente se estende ao curricu-
C) Fase Anal — reter os excrementos é agora a nova lum familiar.
forma de prazer. “O prazer libidinoso é desperta- I) Último Período — é a obtenção
do principalmente pela lenta e intermitente fric- periódica do prazer sexual me-
ção de excrementos contra a referida mucosa. As diante a coabitação com pessoa
crianças acostumam-se, então, a reter seus excre- do sexo oposto. O que sobra da
mentos, visando um prazer maior no momento energia libidinosa é transformada
de sua expulsão... Pode ainda a zona erógena se em trabalho.
estender até a região glútea, muitas vezes, devido A libido, durante a sua evolução, “desde o
ao hábito que tem as empregadas de dar ‘palma- lactente ao adulto, passa por fases várias, e
dinhas’ nas crianças, para que se calem e adorme- quando ocorre de haver uma parada mais pro-
çam mais depressa.”20 longada, em cada uma delas, dá-se o que ele
D) Fase Uretral — período em que a criança retém chamou de fixação.”22 Assim, para Freud ha-
urina a todo instante. Fase relativamente curta ou verá problemas psíquicos quando o desenvolvimen-
muitas vezes conjugada com a fase anal. to da libido pára em algum período acima descrito.
E) Fase da Vista — compreende a idade dos 2 ao 5 “Estes conflitos resultantes de uma detenção da
ou 6 anos. Já próxima à segunda infância, o auto- evolução da libido, que não correspon-
-erotismo se expande por toda a superfície cutâ- dem ao desenvolvimento geral da per-
nea. A criança gosta de contemplar seu corpo.
Por exemplo, exibe-se nua diante dos outros. 21 “Quando Freud diz que a criança sente atração pelo genitor
do sexo oposto, não pretende insinuar com isso que ela
F) Período de Latência ou Recolhimento — Freud deseja manter relação sexual com o mesmo, como alguns mal
informados supõem. Não há, nem pode haver, nessa atração,
17 MIRAY LOPEZ, Emílio. Os Fundamentos da Psicanálise. desejo de posse. Absolutamente. Seria isso absurdo.Verdadeira
Trad.: Joubert T. Barbosa. Rio de Janeiro: Editora Científica, blasfêmia contra a pureza e inocência da criança. Mas revela,
1958. Pg. 66. desde logo, de certo modo – e não se pode negar —, a atração
18 HERRMANN, Fábio. O que é Psicanálise. São Paulo: Abril dos dois sexos. É a maneira pela qual as pessoas se procuram,
Cultural, Brasiliense, 1984. Pg. 59. simpatizam e finalmente se amam para obedecerem à divina
19 Idem, Ibid. Pg. 59. lei da natureza – crescite et multiplicamini.” In SILVA,Valmir A.
20 MIRAY LOPEZ, Emílio. Os Fundamentos da Psicanálise. Da. Revelações da Psicanálise. Rio de Janeiro: Edições
Trad.: Joubert T. Barbosa. Rio de Janeiro: Editora Científica, de Ouro, 1964. Pg. 51.
1958. Pg. 67. 22 SILVA, Valmir A. Da. Psicanálise Surpreendente e
Maravilhosa. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1964. Pg. 87.
58 | Teologia | Abril e Maio, 2011
Ética e Psicanálise Freudiana
na infância, senão quando adulta, mente não prejudica a liberdade. A vontade humana é livre na
a pessoa não conseguirá abrir-se às Sobre a posição de Freud, enten- escolha de obras e coisas que a
questões mais essenciais da vida hu- de-se que ele cria na possibilidade razão por si mesmo compre-
mana, como o diálogo e o desenvol- da marcha já iniciada poder ser al- ende. Pode, de algum modo,
vimento de uma visão de mundo — terada. É possível ao homem tomar realizar a justiça civil ou das
Weltanschauung. Diante disso, não consciência das forças que o impe- obras, pode falar de Deus, ofe-
se pode negar certos automatismos lem por trás e assim habilitar-se a recer a Deus certo culto através
ou hábitos determinados que ad- reconquistar sua liberdade. Cabe ao de obra exterior, obedecer aos
quirimos desde a tenra infância e o homem obter um máximo de liber- magistrados, aos pais. Pode,
levamos até nossa morte. dade e desembaraçar-se dos grilhões na escolha de obra exterior,
Todavia, aceitar tal fato não sig- da necessidade. Para Freud, a cons- impedir as mãos de cometerem
nifica render-se à idéia do determi- ciência do inconsciente é a condi- assassínio, adultério, furto.
nismo absoluto. Pelo contrário, sig- ção para uma liberdade da vontade Como ficou em a natureza hu-
nifica admiti-los para que o homem ativa.28 mana razão e juízo com respei-
possa conhecer-se — nosce te ipsum to a coisas sujeitas aos sentidos,
— e assim abrir-se aos estímulos 3.2. Livre Arbítrio e ficou também a escolha dessas
criadores, aos ensinamentos e às Impulsos Inconscientes coisas, bem como a liberdade e
virtudes que possibilitam a constru- faculdade de praticar a justiça
ção de uma vida mais equilibrada e, A Confissão de Augsburgo, Ar- civil.30
consequentemente, de uma socieda- tigo XVIII, afirma o seguinte sobre
de mais justa; evitando, desse modo, o livre arbítrio: No que tange à área espiritual
uma carreira louca para a morte — Quanto ao livre arbítrio se en- não temos opção; estamos natural-
si vis vitem para mortem — do ho- sina que o homem tem até cer- mente inclinados para a concupis-
mem e da sociedade. Nas palavras to ponto livre arbítrio para vi- cência e más ações:
de Dempsey: ver exteriormente de maneira Por isso, ainda que concedemos
Aceitar a parte instintiva da honesta e escolher entre aque- ao livre arbítrio a liberdade e
nossa natureza, aceitar a de- las coisas que a razão a com- faculdade de produzir as obras
sordem dos instintos erótico e preende. Todavia, sem a graça, exteriores da lei, não lhe atri-
agressivo, aceitar as sombras, o auxílio e a operação do Espí- buímos, contudo, aquelas coi-
significa na realidade ver atra- rito Santo o homem é incapaz sas espirituais, a saber: temer
vés delas... Como um indiví- de ser agradável a Deus, temê- a Deus verdadeiramente, crer
duo que aprende a guiar se -lo de coração, ou crer, ou ex- verdadeiramente a ele, estar
torna capaz de decisões criado- pulsar do coração as más con- verdadeiramente seguro e bem
ras fulmíneas só quando é tão cupiscências inatas. 29
saber que Deus nos considera,
senhor do funcionamento dos ouve, perdoa, etc.31
Conforme a Confissão de Au-
controles que a sua reação é au-
gsburgo, a doutrina cristã do livre No universo psicanalítico, o ho-
tomática, como um pianista é
arbítrio ensina que até certo ponto mem é mais regido por impulsos in-
capaz de nova beleza de inter-
temos liberdade para escolher as conscientes do que pela motivação
pretação só quando a técnica
coisas. Melanchthon nos esclarece racional. Nas palavras de Jostein
perfeita se lhe tornou uma se-
mais na Apologia da Confissão de Gaarder:
gunda natureza... um homem
Augsburgo: Freud achava que sempre ha-
é capaz de nova liberdade cria-
via uma tensão entre o homem
dora na decisão e na ação.27 28 FROMM, Erich. O Coração do
Homem. Seu Gênio para o Bem e o seu meio. Para ser mais exa-
Visto nesta perspectiva é possí- e para o Mal. Trad.: Octavio Alves to, uma tensão, ou um confli-
Velho. Rio de Janeiro: Zahar Editores, to, entre o próprio homem e
vel falar em determinismo de certas 1981. 6a edição. Pg. 141.
ações humanas; o que necessaria- 29 Livro de Concórdia. Trad.: Arnaldo
Schuller. São Leopoldo: Sinodal, Porto 30 Idem, Ibid. Pg. 238, 239.
27 Idem, Ibid. Pg 127. Alegre: Concórdia, 1993. Pg. 36. 31 Idem, Ibid. Pg. 239.
aquilo que seu meio exigia por outro modo... A síntese não Freud reconhece que pela sínte-
dele. Não seria exagerado di- é, pois, tão satisfatória como a se não lhe é permitido afirmar com
zer que Freud descobriu o uni- análise. A razão deste estado certeza a não existência do livre
verso dos impulsos que regem a de coisas, segundo Freud, está arbítrio. A sua resposta é demasia-
vida do homem. E isto faz dele no fato que conhecemos os fa- damente vaga e, portanto, não nos
um legítimo representante das tores etiológicos só qualitativa- permite emitir um juízo definitivo.
correntes naturalistas, tão im- mente e não na sua força rela- Didaticamente, podemos afir-
portantes em fins do século pas- tiva. Não sabemos nunca qual mar que o livre arbítrio concede
sado... Nem sempre é a razão das forças determinantes resul- liberdade ao homem no que tange
que governa nossas ações. Con- tará o mais fraco ou mais for- às coisas sujeitas aos sentidos. Já no
sequentemente, o homem não te.33 conceito psicanalítico, a liberdade é
é apenas o ser racional tão de- muitas vezes delimitada pela força
fendido pelos racionalistas do 33 DEMPSEY, Peter J. R. F r e u d , do inconsciente. Num certo senti-
Psicanálise e Catolicismo. Trad.:
século XVIII. Com frequência, José Derntl. São Paulo: Paulinas, 1966. do, ambos admitem que a liberdade
impulsos irracionais determi- Pg 123, 124. é limitada e jamais completa.
nam nossos pensamentos, nos-
sos sonhos e nossas ações. Tais
impulsos irracionais são capa-
zes de trazer à luz, instintos e
necessidades que estão profun-
damente enraizados dentro de
nós... Freud mostrou que essas
necessidades básicas podiam
vir à tona disfarçadas e tão
modificadas que não seríamos
capazes de reconhecer sua ori-
gem.32
acima. Mas o questionamento ético Segundo Victor Linn, certamen- suspensão do ético? Quando posso
que a Psicanálise faz surgir mostra te não significa negar a ética. O in- ter certeza que o indivíduo entende-
que às vezes ela foi além dos seus divíduo precisa entender-se amado -se amado por Deus? No caso de um
atributos originais: De uma terapia por Deus, superando suas neuroses. drogado, a questão ética é valoriza-
para ajudar pessoas, acabou tornan- A exigência ética seria um elemento ção da sua própria vida. Suspender
do-se uma filosofia de entendimen- acrescido ao processo contínuo de a ética no tratamento com o viciado
to e leitura do mundo. Bem o obser- cura. se estenderia dentro de quais limites?
vou Mira Y Lopez: “Esta enorme
MIRA Y LOPEZ, Emílio. Os
difusão foi, não obstante, prejudi- 35 3.5. Possibilidades de
fundamentos da Psicanálise.
cial ao autêntico valor científico da Trad.: Joubert T. Barbosa. Rio de Janeiro: Encontro entre a Ética e o
obra em si, uma vez que seu criador Editora Científica, 1958. Pg. 28. Ethos freudiano
— observador sagaz dos fatos — foi 36 Revista Estudos de Religião.
paulatinamente desinteressando-se Psicologia, Saúde e Religião De fato, são poucas as contri-
em diálogo com o pensamento buições da Psicanálise para a Ética.
34 SOUZA, Sonia M. R. de. Um outro de Paul Tillich. São Bernardo do
olhar: filosofia. São Paulo: FTD, Campo: Umesp, 2001.Vol. 16. Pg. 161. A Psicanálise teve uma função im-
1995. Pg. 186. 37 Idem, Ibid. Pgs. 170, 171. portante na desconstrução da ética
62 | Teologia | Abril e Maio, 2011
Ética e Psicanálise Freudiana
fundir as questões éticas. A À busca por um ideal ou verda- one’s emotions and interests to
confusão deriva-se da posição de que concentra todos os esforços the best purpose.44
relativista de Freud, que pre- e desejos do homem, Freud chama
sume que a Psicologia pode Weltanschauung. Ele mesmo nos ex- Para Freud, a virtude é a meta
auxiliar-nos a entender a mo- plica: natural do desenvolvimento do ho-
tivação dos julgamentos dos By Weltanschauung, then, mem. Este desenvolvimento pode
valores, mas não a estabelecer I mean na intellectual cons- ser bloqueado por circunstâncias
a validade desses mesmos jul- truction, which gives a uni- específicas e assim ter como resulta-
gamentos. 42 fied solution of all the proble- do a formação do caráter neurótico.
ms of our existence in virtue No entanto, o crescimento normal
A despeito de sua compreensão of a comprehensive hypothe- produzirá o caráter amadurecido,
relativista, Freud é um apaixonado sis, a construction, therefo- produtivo, capaz de amar e de tra-
pela verdade. “Ele exige uma fé apai- re, in which no question is left balhar.45
xonada na verdade, como a meta open and in which everything Consequentemente, a Psicanáli-
por cuja consecução o homem deve in which we are interested fin- se nega que somos vítimas indefesas
esforçar-se, e acredita na capacidade ds a place. It is easy to see that das circunstâncias; somos capazes,
do homem para assim esforçar-se, the possession of such a Wel-
visto ser dotado de razão pela Na- 44 FREUD, Sigmund. The Major Works
tanschauung is one of the ideal of Sigmund Freud. Editor: William
tureza... A Psicanálise é a tentativa wishes of mankind. When one Benton. Chicago: Encyclopaedia
para desvendar a verdade sobre a believes in such a thing, one Britannica, 1952. In New Introductory
própria pessoa.”43 Lectures on Psycho-Analysis. Pg. 874.
feels secure in life, one knows 45 FROMM, Erich. Análise do
what one ought to strive after, Homem. Trad.: Octavio Alves Filho.
42 Idem, Ibid. Pg. 39. and how one ought to organize Rio de Janeiro: Editora Guanabara,
43 Idem, Ibid. Pg. 40. 1983. 13a edição. Pg. 41.
Bibliografia
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FROMM, Erich. Análise do Homem. Trad.: Octavio Alves Filho. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1983. 13a edição.
FROMM, Erich. O Coração do Homem. Seu Gênio para o Bem e para o Mal. Trad.: Octavio Alves Velho. Rio de Janeiro: Zahar
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GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia: romance da história da filosofia. Trad.: João Azenha Jr.. São Paulo: Companhia das
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Grande Enciclopédia Larousse Cultural. São Paulo: Nova Cultural, 1998.Vol. 11.
HERRMANN, Fábio. O Que é Psicanálise. São Paulo: Abril Cultural, Brasiliense, 1984.
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MIRA Y LOPEZ, Emílio. Avaliação Crítica das Doutrinas Psicanalítcas. Trad.: Maria Abramo. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio
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Nova Enciclopédia Ilustrada Folha. São Paulo: Publifolha, 1996.Vol. 2.
PICCINI, Amina Maggi. Freud. São Paulo: Editora Moderna, 1986. Pgs. 8, 9.
Revista Estudos de Religião. Psicologia, Saúde e Religião em diálogo com o pensamento de Paul Tillich. São Bernardo do
Campo: Umesp, 2001.Vol. 16.
SAMPAIO, A. Leme. A Psicanálise e o Autoconhecimento. São Paulo: Ensaios, 1952.
SILVA,Valmir A. Da. Revelações da Psicanálise. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1964.
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SOUZA, Sonia M. R. de. Um Outro Olhar: Filosofia. São Paulo: FTD, 1995.
perder a sua alma? O que dará o ho- Natural de Minas Gerais. Pas- fundador da Rádio Comunitária e
mem em troca de sua alma?” (Ma- tor, escritor, professor e locutor Educativa Interativa FM de Jaru, da
teus 16.26). evangélico. Formado em teologia qual sempre fez parte da diretoria.
Jesus considera a nossa alma um pelo Seminário Concórdia. Cur- Idealizador da Fundação Luterana
tesouro imenso e extraordinário. sou letras na Universidade Federal de Apoio ao Menor. Responsável no
Ele se humilhou, morreu e ressusci- do Espírito Santo. Trabalhou como Brasil pela postagem de sermões em
tou com o objetivo de salvar a nossa pastor nos Estados da Bahia, Espí- português no site da Universidade
alma. O preço da alma, portanto, rito Santo e Rondônia. Professor de de Göttinger, Alemanha. Escreveu
é o sangue de Cristo derramado na línguas bíblicas (grego e hebraico) e para vários jornais e revistas, tanto
cruz. Diz o apóstolo Pedro: “Não foi História Eclesiástica no Seminário impressos como eletrônicos. Cida-
mediante coisas corruptíveis, como Teológico Beréia de Jaru-RO. Foi, dão Honorário de São Mateus-ES,
ouro ou prata, que fostes resgatados durante muitos anos, apresenta- Jaru-RO e do Estado do Espírito
do vosso fútil procedimento, mas dor do programa Santo; Pastor
pelo precioso sangue, como de cor- Cinco Minutos Emérito da Igreja
deiro sem mácula, o sangue de Cris- com Jesus em Evangélica Lute-
to” (1 Pedro 1.18,19). Temos nós a São Mateus-ES e rana do Brasil.
mesma consideração? Damos nós o Jaru-RO. Foi, por A mensagem
devido valor à nossa alma? duas vezes, conse- publicada aqui,
Judas vendeu a sua alma por di- lheiro distrital do foi a última pos-
nheiro. Esaú trocou a sua alma por Distrito Alto Rio tada por ele em
um prato de comida. O jovem rico Madeira, sócio seu blog pessoal.
considerou os seus bens mais valio-
sos do que a sua alma. Jesus chorou com a nossa alma. Façamos aqui- tome a tua coroa” (Apocalipse
sobre Jerusalém porque os seus ha- lo que Deus nos recomenda na sua 3.11).
bitantes não se preocupavam com a palavra: “Venho sem demora. Con- Lindolfo Pieper - falecido pastor da Igreja Evangélica
Luterana do Brasil (in memorian)
sua alma. serva o que tens para que ninguém
Milhares de pessoas trocam a sua
alma pelos tóxicos, pelo alcoolismo,
pela luxúria, pela prostituição, pela
ganância – ou por qualquer coisa
que satisfaz o corpo, porém mata a
alma.
O cristão é responsável pela sua
alma. Para não perdê-la ele estuda a
Palavra de Deus, participa dos cul-
tos e da Santa Ceia. Ele pratica a sua
fé e não leva a sua alma onde Deus
não pode estar.
O diabo é o maior inimigo das
almas. Enquanto Deus quer con-
duzi-las ao céu, ele quer levá-las ao
inferno. Por isso o conselho bíblico:
“Sede sóbrios e vigilantes: o diabo,
vosso adversário, anda em derredor
como leão que ruge, procurando
alguém para devorar. Resisti-lhe fir-
mes na fé” (1 Pedro 5.8).
Tenhamos, pois, muito cuidado
A postura ética do
os 10 mandamentos; o sermão do tros, de ônibus, ou a pé. Aliás, digno Outro fato que tem trazido
monte. de nota é registrar que a igreja é um problemas sem precedentes numa
Apesar disso, inúmeras situações dos poucos lugares no mundo onde comunidade é a falta de decoro no
aparecem e o ministério pastoral ricos e pobres se unem com o mes- lidar com as mulheres. Coisa triste
fica “balanceado”. Posturas negati- mo objetivo: louvar a Deus. Mesmo é ver tantos pastores se divorciando
vas acabam tomando conta do servo assim, se o pastor dá preferência aos
de Deus e a comunidade sofre, pas- mais afortunados em detrimento
sando por momentos delicados. dos outros, faltou com uma postu-
São muitos exemplos que pode- ra ética adequada. Além do mais, o
ríamos expor aqui. Vou me deter em ciúme por parte alguns pode causar
alguns mais comuns e que têm trazi- grandes problemas na comunidade.
do enormes prejuízos para os pasto- O mesmo fato ocorre quando se dá
res e congregações. Estes exemplos o inverso, ou seja, quando o pas-
carecem de uma análise profunda tor dá mais atenção ao pobre, em
e séria por parte dos pastores visan- detrimento aos mais afortunados.
do um fim proveitoso para a igreja. Enfim, se espera por um tratamen-
Mesmo que não estejamos imunes to igual, independentemente se este
ao erro, todo cuidado é necessário ou aquele tem muito ou pouco di-
para o bem da igreja. Vejamos al- nheiro. Não se mede o valor de uma
guns casos: pessoa pela sua riqueza ou pobreza,
Um exemplo de má postura ética e sim, pelo seu caráter. O pastor ja-
se dá quando ex-pastores telefonam mais deveria ficar constrangido em
ou escrevem para os membros das chamar a atenção de um ou de outro
suas Ex congregações, interferindo por terem ou não posses.
num trabalho que não é mais de
sua responsabilidade. Esta atitude,
sem dúvida alguma, irá dificultar o
trabalho do colega que o substitui e
que, respeitando as suas qualidades,
está tentando se ambientar no novo
desafio.
Outro exemplo se dá no lidar
com diferentes classes sociais que
existem dentro das igrejas. Quer
queiramos ou não, nem todos os
membros têm o mesmo poder aqui-
sitivo; uns vão à igreja de carro e ou-
ou tendo que mudar de congregação por não ter base bíblica sólida para
por não terem tido cuidado dian- tal. Tem crescido o número de casos
te das mulheres. Muitos acabam se em nossa sociedade que merecem
envolvendo de tal forma e não têm uma reflexão especial. Entre eles
mais condições, no aconselhamen- destacamos a Fertilização in vitro
to pastoral, manter o limite de suas (FIV), doação de órgãos, clonagem,
responsabilidades como pastor. Os desvios da sexualidade (homossexu-
escândalos destroem as congrega- alismo), casamentos/ajuntamentos,
ções e a família pastoral. divórcio e 2a ou 3a. núpcias, planeja-
Um outro problema a ser co- mento familiar (controle de natali-
locado e não menos importante dade e anticoncepcionais), direitos
refere-se às posturas dos pastores humanos (pena de morte, eutaná-
entre si. Criam-se muitas situações sia, suicídio, morte), etc. Todos es-
constrangedoras quando colegas tes casos são muito importantes. A
pastores falam mal ou do outro. É grande questão que se faz é: Como
preciso compreender que todos es- analisar estes casos eticamente / bi-
tão no mesmo barco; os contextos blicamente uma vez que também
em que cada um trabalha são dife- estamos sujeitos às leis do país (au-
rentes; os membros são diferentes; toridades)?
os estilos de trabalho são diferentes. Se houver falhas, qual o papel do
É importante alertamos a este fato, pastor? Em hipótese alguma, a so-
especialmente nesta época em que berba, a arrogância leva a algum lu-
está crescendo o número de congre- gar. Pode, sim, criar maiores proble-
gações que têm dois ou mais pasto- mas na comunidade, mal estar entre
res trabalhando em seu meio. os membros e pastor. Portanto, em
É preciso lembrar, também, que espírito de humildade, o pastor deve
o pastor seguidamente será aborda- buscar a sabedoria lá do alto para
do e deverá tomar uma postura so- contornar a situação. Não estamos
bre assuntos polêmicos da atualida- imunes à tentação; o próprio Lutero A ética cristã, intrinsecamente
de. Naturalmente respeitar-se-á os já dizia isto. Da mesma forma, se es- ligada às relações humanas, é desen-
princípios bíblicos cristãos. Se não pera da congregação, compreensão volvida no ser humano a partir do
estiver em condições, melhor abs- das faltas de seu pastor. Ele não é um momento em que ele se dá conta da
ter-se do que emitir um parecer que “super homem”. Precisamos ajudar a necessidade de externar a sua fé, em
possa lhe causar constrangimento, carregar os seus fardos também. amor a Deus e ao próximo. Parte do
pressuposto básico que é a sua con-
fiança no altíssimo que irá nortear
todas as suas ações.
Agindo com cuidado, sem dú-
vida alguma, estaremos nos apro-
ximando dos princípios éticos
cristãos. O que não está ao nosso
alcance, temos o próprio Senhor
Deus para nos ajudar e redirecio-
nar nos caminhos e ações mais coe-
rentes com a nossa fé cristã. Assim,
estaremos crescendo adquirindo a
maturidade espiritual.
Rev. Waldyr Hoffmann é pastor da Igreja Evangélica
Luterana do Brasil em Joinville-SC
O
Com
Lírio Pascala ressurreição de
Cristo na manhã de
Páscoa a fé cristã tomou um grande
impulso, para “Agora, depois de me-
lancolia e tristeza, saiu o Sol da Gló-
ria”, como Paul Gerhardt nos ensi-
nou a cantar. Após o inverno frio
e triste dos nossos pecados lá agora
surge a primavera da nossa salvação,
o Salvador Ressuscitou.
Entre os muitos símbolos da res-
surreição de Cristo, o Lírio da Pás-
coa é, sem dúvida o preferido e mais
familiar. Podem ser citadas duas
razões para isso: primeiro, o lírio
de Páscoa está prontamente dispo-
nível. É uma flor da primavera que
floresce durante a época da Páscoa.
Em segundo lugar, o lírio da Páscoa
é uma flor de extraordinária beleza,
sua cor branca simboliza a pureza.
As plantas tornam-se excelentes
símbolos da ressurreição, tanto de
Cristo como da nossa. O Salvador
disse: “Se um grão de trigo não for
jogado na terra e não morrer, ele
continuará a ser apenas um grão.
Mas, se morrer, dará muito trigo.”
( João 12.24). O corpo morto de
Cristo estava sepultado na terra,
mas na manhã de Páscoa ele voltou
à vida. Agora, Ele nos concede o
privilégio de participar na sua vida
que foi retomada, não só naquela
que nós, por arrependimento e fé,
diariamente ressuscitamos em vir-
tude de nosso batismo, mas também
Coríntios 15.43) — e foi criado Ele acabou com o poder da morte
naquela ressurreição do Último Dia
em pureza, como somos lembrados e, por meio do evangelho, revelou a
para a vida em nossos corpos glo-
pelo Lírio branco da Páscoa. vida que dura para sempre.” (2º Ti-
rificados. São Paulo escreveu sobre
Temos esta palavra do Apósto- móteo 1.10). Isso foi feito por Ele,
o corpo: “Quando ele é sepultado,
lo: “Mas agora ela foi revelada a nós que declara: “Eu sou a rosa dos cam-
é feio e fraco; mas, quando for res-
por meio do glorioso aparecimento pos de Sarom; sou o lírio dos vales.”
suscitado, será bonito e forte.” (1º
de Cristo Jesus, o nosso Salvador. (Cantares 2.1).
Abril e Maio, 2011 | Teologia | 71
Ética e Ciência Rev. Martinho Rennecke
Influência da Religião
Cristã nos Interesses da
Ciência
Se a principal motivação da ciência
era a luta pela existência, agora a moti-
vação poderia ser pela paz na existência.
O princípio da autoconservação con-
tra os outros, pode se converter em um
e
uma breve reflexão
O desafio da ética para cientes de que corremos o risco de filosófica que se consagra exclusiva-
desagradar àqueles que gostariam mente à moral como um princípio
a Igreja de ler, nessas páginas, um posicio- fundamental e absoluto do agir”.
V ivemos numa época de namento definitivo em qualquer (2009, p.2) Entretanto, o uso lin-
fascinantes desafios éticos para matéria. güístico cotidiano designa mora-
a Igreja. Contardo Calligaris, por lismo como “um pensamento mo-
exemplo, festeja o fim do “moralis- Ética, moral e graça ralmente rigoroso que reduz juízos
mo de origem”, aquele que ensinaria morais à mera norma (hábitos, tra-
Antes de tudo, há uma impor- dições, etc.), transformando a diver-
que “tudo é assim porque Deus e/
tante distinção entre ética e moral. sidade da vida moral num apanhado
ou os antigos disseram”. Ele escre-
A moral é “o conjunto de códigos de proibições”. (2009, p.2)
ve que a modernidade é uma épo-
ou juízos que pretendem regular as Em um sentido cotidianesco,
ca profundamente moral, “de uma
ações concretas das pessoas.” moralismo converte-se num ins-
maneira inédita pela forma e pela
Ela tenta responder à questão trumento de controle e exclusão de
intensidade.” Em um estado laico
“o que devo fazer”. A ética, por sua sistemas hegemônicos, oprimindo
como o Brazil, a Igreja precisa se
vez, constitui um “segundo nível de pela simples imposição irrefletida
posicionar em inúmeras questões
reflexão sobre os códigos, juízos e de áridas regras legalistas. Dessa
- do aborto aos direitos de homoa-
ações morais” (SCHAPER, 2009, forma, o moralismo transforma-se
fetivos. Por isso, neste breve artigo
p.2). A ética procura refletir sobre em patologia, que também atinge a
procuramos colaborar com o pensar
o mundo moral. Nela a pergunta religião, “levando-a muitas vezes a
sobre ética e moral na Igreja Lute-
relevante é “por que devo fazer”. De confundir o antigo com o eterno”
rana (e, por conseguinte, em toda a
forma simplificada, pode-se dizer (2009, p.3). vamos citar dois exem-
Igreja). Não pretendemos fornecer
que “ética é universal e permanen- plos de moralismo patológico:
nenhum “menu pronto” ou “tábua
te, enquanto que moral é cultural e 1. O regimentalismo pode ser
dos deveres” em qualquer assunto,
temporal”. uma patologia quando in-
mas apenas participar do fervilhar
Partindo dos pressupostos aci- capacita o povo de Deus em
de pensamentos sobre ética e moral
ma relacionados, pode-se definir julgar com bom senso. Muitas
na Igreja contemporânea. Estamos
“moralismo” como “toda tentativa vezes, para ser ético é preciso
74 | Teologia | Abril e Maio, 2011
Ética e Moral
contrariar o regimentum quo. Numa sociedade plural, o mo- O jardineiro lida com a terra e as
O samaritano contrariou o ralismo patológico não deveria ter particularidades de cada pedaço do
regimento cultural da época espaço nas igrejas. Adotar princí- jardim. O moralismo árido e seleti-
ao ajudar o judeu, mas seu agir pios gerais só pode ser decidido vo será do tipo astrônomo, onde se
foi ético; examinando sua complexidade efe- procurará aplicar regras seleciona-
2. nas congregações, o moralis- tiva. Dessa forma, não cairíamos no das de antemão, sem refletir sobre o
mo pode resultar em aridez erro de julgar os outros sem aceitar contexto. O moralismo moderno é
espiritual e no controle da que eles são meus semelhantes. Ao do tipo jardineiro, onde cada parti-
membresia pela adesão irres- reconhecer em mim os desejos do cularidade do contexto exigirá refle-
trita e formal à determinada outro, sou capaz de avaliar a condu- xão madura para justificar o “porquê
lista de normas. ta daqueles que o “reprimem menos se deve fazer” (moral) aquilo “que se
Num moralismo patológico, do que eu”. Nesse sentido, “é moral deve fazer” (ética) em determinado
perde-se assim a noção de “graça” quem passa constantemente pelos local (ethos).
divina, pois o moralismo exalta e impasses insolúveis de questões mo- Creio que essa é uma das vias
exige o esforço humano como ten- rais concretas” (2009, p.5). Somen- possíveis para reduzir a tentação do
tativa de obter bênçãos e salvação. te a manutenção do “kérigma” e da árido legalismo e do moralismo pa-
Deixa-se de focar o amor de Deus “graça” pode dinamizar a reflexão- tológico.
em Cristo para centralizar a atenção -ação na aplicação da ética e moral Rev. Mário Rafael Yudi Fukue,, é pastor da Igreja
no agir humano. Essa mudança de sem cair na tentação do árido lega- Evangélica Luterana do Brasil em São Paulo-SP.
foco oprime o povo e impossibilita lismo (p.5).
a reflexão e aplicação de princípios É nessa perspectiva que precisa-
éticos em “contextos culturalmente mos agir e reagir a todos os desafios Bibliografia
distintos e historicamente cambian- que se colocam à nossa frente. CALLIGARIS, Contardo. Moralistas
tes” (2009, p.5). imorais. In: Folha de São Paulo.
24/02/2005. Caderno Ilustrada.
Contardo define esse moralista O astrônomo e o SCHAPER, Valério Guilherme. Ética,
árido como “imoral” porque, ao se- jardineiro Moral e Moralismo: definições
lecionar as regras de seu decálogo e e distinções. São Leopoldo: EST,
2009.
ao julgar o próximo segundo seu sis- Há de se resgatar a metáfora do
tema de regras, ele procura esconder astrônomo e do jardineiro. O astrô-
seus erros e falhas. nomo observa as imutáveis estrelas.
a união homossexual
obrigação que tendes para comigo, não pra- ria a vontade expressa de Deus e dificulta,
ticando nenhum dos costumes abomináveis se não impossibilita, a oportunidade de tais
que praticaram antes de vós, e não vos con- pessoas revisarem suas opções e comporta-
tamineis com eles: Eu sou o Senhor vosso mento.
Deus” (Levítico 18.22,23,30); “Por isso Deus 8 - Repudiamos também, por consequ-
entregou tais homens à imundícia, pelas con- ência, a hipótese de ser dado a um casal
cupiscências de seus próprios corações, para homossexual a adoção e guarda de crianças
desonrarem os seus corpos entre si; seme- como filhos porque entre outros prejuízos de
lhantemente, os homens também, deixando formação, formará na criança uma visão dis-
o contato natural da mulher, se inflamaram torcida da sua própria natureza.
mutuamente em sua sensualidade, come- Fiéis ao nosso lema CRISTO PARA TODOS
tendo torpeza, homens com homens, e re- ensinamos que a igreja renova também o
cebendo em si mesmos a merecida punição seu compromisso de receber pessoas ho-
do seu erro” Romanos 1.24,27); “Ou não mossexuais no amor de Cristo visando que a
sabeis que os injustos não herdarão o reino fé em Jesus as transforme para a nova vida
de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, da qual Deus se agrada.
nem idólatras, nem adúlteros, nem efemi- Em nome da Igreja Evangélica Luterana do Brasil, Rev. Egon Kopereck —
nados, nem sodomitas, nem ladrões, nem Presidente IELB
avarentos, nem bêbados, nem maldizentes,
*(A posição da IELB atende ao disposto em parecer da Comissão de Teologia e
nem roubadores herdarão o reino de Deus”
Relações Eclesiais, da 57ª Convenção Nacional)
(1 Coríntios 6.9-10).
5 - Porque a homossexualidade transgri-
de a vontade de Deus e porque Deus enviou
a igreja a levar Cristo Para Todos, a igreja
se compromete a encaminhar o homossexual
dentro do que preceitua o amor cristão e na
sua competência de igreja, visando a que as
pessoas vivam vida feliz e agradável a Deus;
Mateus 19.5: “... Por esta causa deixará o
homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher,
tornando-se os dois uma só carne.”
6 - A IELB, repudiando qualquer forma de
discriminação, deve estar ao lado também
das pessoas de comportamento homossexu-
al, para lhes dar o apoio necessário e pos-
sam vir a ter a força para viver vida agradá-
vel a Deus.
7 - Diante disto repudiamos a idéia de se
conceder à união entre homossexuais o ca-
ráter de matrimônio legítimo porque contra-
Abril e Maio, 2011 | Teologia | 77
Estudo Bíblico Rev. Dieter Joel Jagnow
uma mulher de fé
“perverso”. Com o tempo, a palavra evoluiu para o
2. A oração é uma conversa com Deus. Canta ou fala- 3) O governo de Deus é total. Ele se ocupa com os
da. Em voz alta ou em silêncio. Pensando ou medi- grandes eventos da história e com os detalhes da
tando (Sl 19.14; Mt 9.20-22). E tudo está funda- nossa vida. Nele vivemos, nos movemos, existimos.
mentado na graça de Deus. Como Ana orou? Ele dirige os passos (Pv 16.9). A providência de
a) Chorando. Deus deve ser reconhecida por nós:
b) Em silêncio. a) Na prosperidade e na glória: 1 Cr 29.12; Dt 8.18.
3) Como orar? O valor da oração não está ligado à ex- b) Na adversidade: Jó 1.21; Sl 119.75.
tensão, linguagem, formulação, mas a nossa postura c) Em toda a nossa vida: Pv 3.6.
diante de Deus: se oramos ou não com fé, de cora- 4) Por causa disto, os cristãos são orientados para que
ção, seriamente. Devemos orar crendo firmemente confiem totalmente na providência de Deus (Mt
que Deus irá nos ouvir (1 Tm 2.8; Mc 11.24), mas a 6.32,33).
seu tempo e modo.
Para reflexão adicional
4) Devemos orar a Deus por diversas razões:
a) Para louvar e agradecer pelas suas bênçãos. 5) Como está a sua confiança na providência de Deus?
b) Para que nos conceda bênçãos materiais e espiritu- Você está ciente de que ele quer estar ao seu lado, em
ais. toda a sua vida? Você tributa suas vitórias apenas à
c) Em tempos de paz e alegria. sua própria capacidade? Você busca a Deus em to-
d) Em tempos de sofrimento e dor. dos os seus projetos de vida? O que a postura de Ana
pode lhe ensinar sobre o assunto?
5) Devemos orar em favor de nós próprios. E por quem
mais? D. Louvor a Deus
a) Mt 5.44: nossos inimigos.
b) 1Tm 2.1: todas as pessoas. 1) A palavra “louvor” tem sentidos como: exaltar,
Para reflexão adicional. enaltecer, glorificar, aprovar, aplaudir. Em sentido
cristão, pode-se dizer que é o culto a Deus através
6. Quando orar? Sem cessar (1Ts 5.17). do qual o cristão tributa a ele as bênçãos recebidas e
a) O que esse “sem cessar” deve significar para a sua lhe agradece por elas. Ele pode ser manifestado de
vida? diversas formas: oração, meditação silenciosas, can-
b) Com base nesta orientação bíblica, como você julga to, celebrações. Toda a vida do cristão deve ser uma
que está a sua vida de oração? Existe alguma coisa permanente atitude de louvar a Deus.
que você precisa mudar?
2) Analisando a vida de Ana, vemos que ela louvou a
Deus.
C. A Providência de Deus a) Que motivos ela tinha para louvar?
1. Deus ouviu a oração de Ana, porque ela confiou A rigor, nenhum — ou todos.
nele e lhe entregou o seu sofrimento e o seu pedi- b) Como ela louvou?
do. A Bíblia está repleta de promessa de que Deus Cantando.
ouve, atende, cuida; que ele providencia para os seus c) O que isso revela do caráter dela?
filhos o que for necessário para a sua salvação espiri- Que reconhece a bênção recebida de Deus e agradecer.
tual e a sua subsistência material. 3) Vamos ampliar esse tema. Leia os versículos abaixo e
2. A providência de Deus prometida: resposta às perguntas.
a) Deus tem cuidado de nós: 1 Pe 5.7; Mt 6.32; Lc a) Por que o cristão deve louvar a Deus? Ele tem mo-
12.7. tivos?
b) Deus nos fortalece, nos ajuda e cuida de nós: Is Porque Deus é: Sl 117.2; 118.1 (bondade, miseri-
41.10; 46.4. córdia).
c) Deus é nosso refúgio e nossa fortaleza: Is 25.4. Louvar pelas bênçãos: Ef 1.3; Sl 136.1 com 25 (es-
d) Deus nos faz seus filhos por meio de Jesus: Jo 3.16. pirituais e físicas).
Louvar a Deus: Ef 5.20 (sempre, por tudo, em
Aquecendo os Corações
M.: Valdo Weber (2006)
Arr.: Valdo Weber
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Litúrgica: Período de Páscoa Comissão de Culto da IELB
O casamento, o
passarinho e o
churrasco
A mídia centraliza o casamento real do prín-
cipe William e da plebeia Kate. No entanto, há
outro casal extremamente nobre que pode ser
observado em diferentes locais. Refiro-me a um
casal de passarinhos. João e a Joana de Barro.
Conta-se que este animal se acasala com uma
só fêmea. Constrói sua casinha com todo o cuida-
do e esforço, levando em conta o local e a direção
do vento dominante. Na exclusividade do rela-
cionamento do João de Barro temos um grande
aprendizado. Aprendemos que a grande arte do
homem não é conquistar todos dias uma nova
mulher, mas sim conquistar a mesma mulher to-
dos os dias.
Conta-se que um menino capturou um João
de barro com um alçapão (arapuca). Colocou-o
em um viveiro. O Passarinho logo começou a de-
bater-se na tela procurando voltar para o ninho.
A fêmea logo apareceu e também voava contra
grade para aproximar-se do seu amor. No outro presta!
dia os dois passarinhos estavam mortos, um de O churrasco levou a culpa, os assadores sai-
cada lado da tela. Morreram tentando aproxi- ram ilesos. Enganamo-nos quando desprezamos
mar-se um do outro. o casamento, quando o julgamos e condenamos
Deixando o lado mórbido de lado, aprende- a partir de pessoas que desprezam o tempero do
mos sobre o aproximar-se, sobre o “procurar” e verdadeiro amor. O Amor procura, compreen-
sobre o encontrar-se no outro. Relacionamentos de, defende, exorta, consola e serve de suporte e
são destruídos quando cada um procura os seus constante fundamento.
interesses. Jesus é a revelação perfeita do amor. Na Bí-
Foi Deus quem instituiu o casamento. Certa- blia, Cristo é descrito como o Noivo da sua ama-
mente nele está uma escola de ternura, um con- da Igreja. Pela sua noiva, Jesus deu sua vida! Fez
vívio para alegria. Pois tudo o que Deus faz é isso para derrubar a grade do egoísmo e revelar
bom! o tempero que deixa toda refeição saborosa. Que
Conta-se que um nordestino foi experimentar esse tempero acompanhe o famoso casal britâni-
o famoso churrasco gaúcho. Porém os assadores co e todos os anônimos decidem sempre voar em
se esqueceram de salgar a carne. O nordestino direção ao seu cônjuge.
experimentou e achou terrível! Voltou para sua Rev. Ismar L. Pinz — Pelotas-RS, pastor da Igreja Evangélica Luterana do
terra afirmando que o churrasco gaúcho não Brasil
Homoafeição e o cristão
E xiste um conflito óbvio e permanente da
nova lei da união civil homoafetiva com a
fé cristã. Mas, num país onde estado e reli-
pelo Senhor Jesus: “No começo o Criador os
fez homem e mulher. E Deus disse: Por isso o
homem deixa o seu pai e a sua mãe para se
gião não se misturam, a Constituição Brasi- unir com a sua mulher, e os dois se tornam
leira carrega a sabedoria divina ao dizer que uma só pessoa.” (Mateus 19).
“é inviolável a liberdade de consciência e de Por isto, mesmo quando a deputada Ma-
crença”. Enquanto esta regra permanecer, nuela D’Ávila prega que “qualquer maneira
devemos procurar a paz social e o respeito às de amar vale a pena” ao defender a relação
diferenças, mesmo que elas sejam tão opostas. homoafetiva, para os cristãos só existe um
O problema é a conduta extremista de cada amor conjugal que vale a pena: “Marido, ame
lado: paradas gays, incitações fundamentalis- a sua esposa assim como Cristo amou a Igreja
tas, agressões, propaganda da mídia contra os e deu a sua vida por ela” (Efésios 5.25). E se o
valores cristãos, ideologias. Enfim, esta guerra ministro Ayres Britto lembrou que “nas coisas
moral e imoral praticada por dois extremos. ditas humanas, não há o que crucificar, não
O cristão tem a tarefa de viver e pregar o há o que idealizar, há só o que compreender”,
Evangelho. Não precisa fazer novas leis, nem cabe lembrar que nas coisas divinas Cristo foi
julgar. Elas estão nos Dez Mandamentos e crucificado para idealizar um amor impos-
nas orientações da Bíblia, e quem julga é sível de compreender. Aqueles que seguem
Deus. Assim, o seguidor de Cristo não esta afeição divina fazem de
é juiz nem advogado, mas testemunha. tudo para viver o amor
Com respeito ao casamento e à famí- ideal no matrimônio e nas
lia, a regra divina é uma só desde o outras relações. Um desa-
princípio (Gênesis 2), confirmada fio cada vez maior nesta
sociedade carente de afeição
que vale a pena.
Rev. Marcos Schmidt é pastor da Igreja Evangélica
Luterana do Brasil em Novo Hamburgo-RS