Você está na página 1de 5

Cento e quarenta sis( Vladimir Maiakovski ) Como cento e quarenta sis o sol-pr resplandece, Julho bem entrado, um calor

pesado na dacha. Curvava-se o cabeo de Pshkino para o morro de Aklov, e no sop da colina uma aldeia torcendo-se em telhados de casca. E atrs da aldeia um buraco, e a esse buraco, certamente, descia o sol todas as tardes, lentamente. E no dia seguinte de novo a inundar o mundo erguia-se vermelho. E dia aps dia terrivelmente a irritar-me l estava ele. E assim enfurecendo-me um dia, de raiva fiquei plido

e gritei: "Vai-te! Chega de preguiar no Inferno!" E prossegui: "Parasita! Entre as nuvens sem fazer nada e eu aqui - h tanto tempo sentado a desenhar cartazes!" E ainda: "Espera! Escuta, cabea doirada, porque no deixas essa vida, e no vens at minha casa tomar ch?" O que eu fiz! Estou tramado! Para minha casa, como um boi manso, estendendo os raios-passos andou o sol nos campos. No quero mostrar receio e retirar-me de costas. Mas j esto no quintal os seus olhos. J anda no meu quintal. Pela janela, pela porta, pelas gretas

escorre a massa do sol, tudo invade; e tomando alento, comeou a falar: "Afasto-me do fogo pela primeira vez desde a criao. Chamaste-me? Ento vamos ao ch, ao ch, poeta, com geleia!" Eu estava com lgrimas nos olhos meio louco de calor mas apontei-lhe o samovar: "Ento, senta-te, astro!" O diabo tirou da manga a minha audcia de lhe gritar desconcertado, sentei-me no meu canto, temendo o pior! Mas os estranhos raios do sol Correram, e a minha tenso esquecendo, sentei-me, a conversar com o astro calmamente. Falei disto, daquilo,

da horrvel ROSTA, mas o sol: "Muito bem, no te zangues, encara as coisas com simplicidade! E eu, julgas que brilhar fcil? Experimenta! A mim disseram-me que fosse brilhar, e eu brilho com toda a gana!" Demos assim lngua at ao escurecer isto , at noite passada. Que escurido esta! Em "ti" h eu e tu, coragem. E no tardmos a ficar amigos. Bato-lhe no ombro. E o sol tambm: "Tu e eu somos camaradas! Vamos, poeta, olhemos, cantemos neste mundo to chato.

Eu ponho a minha luz solar, e tu - a tua em versos." As paredes de trevas, as prises da noite, sobre a terra sero esmagadas pelos nossos dois ataques. A desordem de versos e de luz brilha naquilo que atinge! Cansa-se ento, e quer dormir, esquecer no sono. De repente - eu com toda a fora brilho e de novo o dia nasce. Brilhar sempre, brilhar em toda a parte, at ao dia em que a fonte da vida se esgote, brilhar e tudo! o nosso lema - meu e do sol!

Você também pode gostar