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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LIME

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTAQÁO
DA EDigÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanza a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanza e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
W_ vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortaleca
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabal no assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.
A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confisca
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
•<y
ANO XllN! 120 DEZEMBRO 1969
índice

Sinaia dos Tempos 50S

I. VIDA MODERNA

1) "Quem sao os 'hippies' ?

Pode-se tentar explicar o seu modo de pensar e viver ?" 507

II. BIBLIA SAGRADA

2) "A historia bíblica do paraíso terrestre parece opor-se


aos dados do evolucionismo.

Como entender essa 'idade de ouro' da humanidade ?" 518

III. DOUTRINA

S) "A oracüo nao é urna luta contra Deus ?

Nao podemos chegar a mudar os planos de Deus ?" 530

i) "Deus parece vuiitas véz-.s desinteressar-se dos twmens.

Ar coisas acontecem como se nao houvesse Providencia" 580

IV. HISTORIA DAS RELIGI5ES

5) "Que paralelo pode haver entre Cristo e Buda ?

Assim como há fatos maravilliosos no vida de Cristo, tambént


os há na vida de Buda. Se aqueles provam a Divindade de
Cristo, também estes devem provar a Divindade de Buda" 537

CORRESPONDENCIA MIÜDA

RESENHA DE LIVROS

COM APROVACAO ECLESIÁSTICA


SINAIS DOS TEMPOS
As últimas semanas, no cenário nacional, íoram marcadas por
acontecimentos inéditos, que afetaram nao somente a consciéncia cí
vica, mas também o senso religioso da populacáo brasileira.
Os bons cristáos sentiram-se doloridos em conseqüéncia de quanto
ocorreu. E com razáo. Qual o discípulo de Cristo que nao ha de sofrer
ao verificar que, em última análise, o nome de cristSo e os interésses
do reino do Senhor é que sao menosprezados na opiniao pública? Que
poderia ser mais caro a um cristáo do que a exaltacao de Cristo e da
Santa Igreja?
Todavía lamentadores e queixumes nao podem ser a resposta do
auténtico íiel católico aos horneáis que atualmente o interpelam. — Que
tem o cristáo a dizer a si mesmo e aqueles que no momento para ele
olham, perplexos e interrogativos?

— Numa reflexao serena, eis o que se pode sugerir:


1) Temos consciéncia de que os dias, meses e anos que vamos
vivendo, nao sao senáo um segmento (alias, assaz exiguo) de grande
historia — a historia do povo de Deus — que comeea com Abraáo
(séc. XVTII a.C.) ou mesmo com os primeiros pais. Essa historia,
em poucas palavras, pode ser caracterizada como a historia da fórga
de Deus que se maniíesta na íraqueza do homem (cf. 2 Cor 12, 9s).
Sim; Deus quis confiarle aos homens; quis entregar seu Reino e sua
exaltacao ao ministerio das criaturas. Ora em todos os tempos houye
as que se mostraram falhas no desempenho de tao nobre funcáo. Dir-
•se-ia que as vézes a santidade do Altíssimo é densa ou pesada demais
para que o homem a car.regue; torna-se difícil a éste ser sempre um
espélho fiel da santidade de Deus. Tenham-se em vista os casos de
Jaco, Sansao, Davi, Salomáo e outros tantos que foram ricamente
visitados pela graca de Deus...
O cristáo, porém, tem consciéncia de que a fraqueza do homem
nao pode prevalecer contra a fórea de Deus; essa fraqueza mesma se
acha englobada no plano sumamente sabio do Criador, que dará á
Verdade e ao Bem a palavra final da historia.
Em conseqüéncia, o cristáo hoje renova sua fé no misterio da
Encamacáo, misterio do Deus que se oculta sob os véus das criaturas
e se comunica através délas na S. Igreja. Éste é o misterio central
do Cristianismo, do qual os acontecimentos recentes nao sao senáo
urna faceta.

2) O fiel católico, com as antenas de sua fé, também percebe


urna mcnsagem nos impressionantes eventos. O cristáo sabe que Deus,
permitindo a deficiencia de uns, exorta os outros a se tornar aínda
mais fiéis. A face humana da Igreja depende da contribuicáo de cada
um dos respectivos membros. Quem é reto e santo, dignifica e santi
fica o seu ambiente. £ o que S. Agostinho lembra em bela passagem
de seus sermóes:
«Vede os bons, que havels de imitar. Sede bons, e encontrareis
os bons. Se, porém, vos tornardes maus, julgareis que todos sao maus,
e isto é mentira; vos vos engañarles Sede bons, e nao vos f¡carao

— 505 —
despercebidos os bons. O sementante vai ao encontró do sen seme-
lhante» (ed. Morin 501).
Com outras palavras: em torno de nos nao há sámente tragos
negros ou maus exemplos, exemplos aptos a causar pessimismo. Por
graca de Deus, existem também almas fiéis e heroicas na S. Igreja:
saibamos voltar o olhar para elas e imitá-las. Quem pratica ou semeia
o bem. há de colhér o bem; suscitará em torno de si, e atrairá a si,
almas generosas, pois «o semelhante vai ao encontró do seu seme-
Ihantes; as criaturas aíins se procuram mutuamente. É para desejar,
por conseguirte, que cada fiel católico desde já se empenhe por exer-
cer ainda mais zélo e mais amor pela causa de Deus e de seus irmáos.
O mesmo S. Agostinho chega a dizer que, procedendo retamente,
somos capazes até mesmo de transformar os tempos. Com efeito, eis
outro trecho de seus sermóes:
«Os tempos sao maus, os tempos sao penosos, eis o que dizem
os homens».
A esta lamúria, táo antiga e tao moderna, táo nossa, que responde
o santo Bispo?
«Vivamos bem e os tempos seráo bons. Nos somos os tempos;
quais formos nos, tais seráo os tempos b
Mala témpora, laboriosa témpora, hoc dicunt homines. Bene vi-
vamus, et bona sunt témpora. Nos sumus témpora; quales sumus, talia
sunt témpora» (serm. 80,8).
Nos somos os tempos! Nos damos o colorido aos nossos tempos!
Com estas palavras. o S. Doutor quer avivar em seus ouvintes e
leitores a consc'éncia de que diante das injurias dos tempos, a atitude
crista nao é a inercia tristonha e perplexa, mas, sim, o redobramento
de entrega á Boa Causa, que vem a ser, em última análise, a causa
de Cristo e da S. Igreja.
Ainda em outra passagem S. Agostinho se xeferia á iminente
queda da cidade de Roma, que, para os fiéis cristaos do séc. V, signi
ficaría o fim do mundo. Dizia entáo o pastor de almas:
sRíOma que é scnao os Romanos?... Boma nao perecerá se os
Romanos n3o perecerem!» (serm. 81,9).
Ccm efeito. A grandeza de Roma consistía muito mais nos valores
de seus filhos do que ñas suas pedras e muralhas. Embora estas de
fato tenham caído em 476, Roma se perpetua através dos sáculos
mediante os tesouros do espirito dos Romanos. Algo de análogo se dá
com a face humana da Igreja; esta nao será desfigurada, mas apre-
sentar-se-á bela e lúcida, se fór bela e lúcida a fisionomía espiritual
de cada um dos fiéis católicos.
SSo estas as licfies que os dias presentes comunicam a todo discí
pulo de Cristo. Sejam também elas programa para o Novo Ano. En
cerrando 1909, entraremos em 1970 mais amadurecidos e entusiastas;
a juventude do cristao, com seu vigor espiritual, nao conhece decltnio,
mas. ao contrario, se renova dia por dia, ano por ano, porque cada
etapa aquí na térra mais nos aproxima da feliz eternidade, fonte de
toda robustez e de toda alegría!

Ao amigo leltor, Santo Natal e Feliz 1970!


E. B.

— 506 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»
Ano X — N« 120 — Dezembro de 1969

I. VIDA MODERNA

1) «Quem sao os Tiippies'?


Pode-se tentar explicar o sen modo de pensar e viver?»

Resumo da resposta: Os chippies» constituem um tipo de jovens,


principalmente espaciados nos E.U.A.. cujo comportaraento extra
vagante chama a atencáo do mundo inteiro.
Entendem protestar contra a rociedade de consumo, que valoriza
os produtos industriáis mais do que a pessoa humana e suas riquezas
intimas. Todavía, em vez de recorrer ao esrtudo e ao planejamento
em vista de urna reforma da presente ordem de coisas, entregam-se
ao consumo de entorpecentes e ao deboche moral; rejeitam qualquer
norma ética, apregoando absoluta liberdade de oomportamento para
todo homem.
É de se reconhecer e aplaudir a legitima inteneáo da juventude
moderna, que aspira por dias melhores e mais humanos. Todavía nao
se pode crer que o libertinismo de costumes e a fuga para «paraísos
artificiáis» sejam solucáo. O que há a fazer, é incutir á juventude
o amor ao ideal, amor que é inseparável de luta e sacrificio. Tal amor
será plenamente eficaz se fór nutrido pela adesñ.o a Deus, sem o qual
fácilmente se tornam precarios os mais belos ideáis humanos.

Resposta; Os «hippies» constituem um fenómeno que


muito tem chamado a atengáo do público nos últimos anos,
principalmente nos Estados Unidos da América. Ai dáo origem
a urna nova subcultura e provocam urna revolucáo na ética dos
americanos de classe media.

Noticiarios da imprensa escrita e falada divulgam as ati-


tudes dos «hippies», provocando comentarios contraditórios a
seu respeito. Há quem muito aprecie suas afirmacóes de altru
ismo, honestidade, alegría e náo-violéncia; sao éles que repetem
o axioma: «Fazei amor, e nao guerra» (Malte love, not war).
Há, porém, quem os reprove veementemente por suas expres-
sóes ou seus «slogans» eróticos, seus trajes singulares e pro
vocadores. O fato é que os «hippies» professam o intento de
subverter a sociedade ocidental mediante o «poder das flores»

— 507 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 120/19C9, qu. 1

e a fórga do exemplo. O famoso historiador inglés Arnold


Toynbee, levando a serio tal declaragáo, afirma que os «hippies»
sao urna luz vermelha, a qual aponía graves e iminentes peri-
gos á sociedade norte-americana; ésse estudioso julga que os
«hippies» norte-americanos estáo revivendo a historia dos pri-
meiros cristáos perseguidos, de que falam os primeiros capítulos
do livro dos Atos dos Apostólos.
Procurando fornecer material a quem reflete sobre o caso,
proporemos abaixo algo sobre a origem e o modo de viver
dos «hippies» — o que permitirá formular um certo juizo sobre
o assunto.

1. Origem e afitudes características

A palavra «hippy» deriva-se do adjetivo «hep», pertencente á giria


norte-americana, com o significado de «sabio, experimentado». «Hep>
passou a «hipe», cujo substantivo é «hlpster» *.

Na década de 1930, os negros que faziam parte das or


questras de «jazz» nos E.U.A., comecaram a se designar pelo
adjetivo «hippies». Neste vocábulo se manifestava o estado
sócio-psicológico da populagáo de cor, ou seja, o protesto dos
cidadáos negros contra a opressáo que os brancos lhes moviam.
Queriam os negros destarte dizer á sociedade: «Somos sabios
e ponderados. Por isto colocamo-nos á margem da sociedade e
impugnamos o estatuto social vigente nos E.U.A.»
Os «hippies» dos últimos anos sao herdeiros dessa atitude
de protesto dos negros, embora a grande maioria déles per-
tenca á raca branca (a proporcáo de pretos para brancos é
aproximadamente de 1/6 entre os rapazes e 1/13 entre as
mogas). Na década de 1960, apareceram os primeiros agrupa-
mentos dos «hippies» contemporáneos, que se localizaram em
Nova Iorque e Sao Francisco. O quarteiráo «Haight-Ashbury»
de Sao Francisco, de modo especial, oferecia condigóes favorá-
veis a que os jovens vivessem ñas rúas; a populagáo era tole
rante e o custo de vida barato.
Os «hippies» de nossos dias sao, de certo modo, os conti
nuadores, em termos extremados, da geragáo e da mentalidade
dos «Beats» (= ousados) que, já na década de 1950, se entre-
gavam ao libertinismo sexual, aos entorpecentes, ao nomadis-

1 O adjetivo «hippish» significa «fanático». Ñas páginas que se


seguem, usaremos o substantivo «hipismo» para significar o género
de vida dos «hippies» ou «the hippiedom».

— 508 —
OS «HIPPIES»: SIM OU NAO?

¿no, e simpatizavam com a mística oriental do Zen e dos Vedas.


Os «Beats», sendo mais moderados, preferiam cores sobrias
em suas pinturas, como o branco e o préto; os «hippies», ao
contrario, usam cores estridentes. Os «Beats» dangavam um
«jazz» que aínda tinha algo de frió e cerebral, ao passo que o
«rock» dos «hippies» já nao obedece a regras.

1) O segredo dos «hippies»

Poderse dizer que o segrédo do comportamento singular


dos «hippies» é o uso de drogas alucinogénicas, também chama
das «psicotrópicas» e «psicodélicas» *. Tais drogas sao produtos
químicos (vegetáis ou artificiáis): a maconha, a marijuana, a
cocaína, o ácido lisérgico, a mescalina do cactus, a psilocibina...
Destas substancias, algumas já eram conhecidas e usuais entre
os povos primitivos. Elas vém a ser como que um tapete má
gico mediante o qual a pessoa procura escapar da realidade
(muitas vézes dura) da vida cotidiana para entrar num estado
de euforia ou num paraíso artificial, usufruindo de grande paz;
experimenta bem-estar, interessa-se pela estética, concebe im
pulsos criadores; a pessoa entáo assume comportamentos novos,
revelando o que ela traz de sentimentos e afetos no mais inti
mo de si. O uso de tais drogas é mais excitante e atraente,
como também mais perigoso, do que qualquer aventura ofere-
cida por alguma agencia de viagens.

O consumo de drogas entre os «hippies» se dá freqüente-


mente dentro de um ritual quase religioso e místico; é com fé
e esperanza em melhores dias que éles ingerem tais produtos.

A marijuana é o principal dos entorpecen tes usados nos E.U.A.


Trata-se de urna planta que dá flores verdes e já era utilizada pelos
Indios do continente. É designada por varios nomos: khlf ou hashish
no Oriente Medio, bhang ou granja na India, roa na China, maconha
ou d.jama na América do Sul, maryjanc, tea (cha) nos E.U.A. Pode-
-se dizer que nao há. entre os «hippies». quem nao há a use, chegando
alguns a tomá-la tres vézes ao dia; pode ser cultivada com facilidade;
é servida sob forma de cigarros ou como ingrediente de bolinhos ou
aínda como tempero para o cha. Geralmente a marijuana produz sen
timentos de exaltacáo e euforia: a pessoa julga que passa a ver e a
ouvir melhor.

1 Segundo a etimología grega. cielo© significa «manifestar»; «psl-


codélico», portante, é o que manifesta a psyché ou a alma, o intimo
da pessoa.
«Psicotrópico» é o que provoca um comportamento (tropos) sin
gular da alma ou psyohfi.

— 509 —
6 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 120/1969, qu. 1

Outra droga muito usual no mundo dos «hippies» é o ácido lisér-


gico (LSD), dito «o detergente da mente», que provém de determinado
cogumelo. Influí profundamente no modo de pensar e agir do paciente,
íazendo-o ver a realidade maravilhosamente «colorida»; o sujeito passa
a «ouvir e sentir o seu sangue a correr ñas veías». É o uso do ácido
lisérgico que explica o gósto dos «hippies» por cores vivazes, espalha-
fatosas, flores e campainhas. Cf. «P.R.» 85/1967, pp. 3-12.
Os fabricantes e fornecedores de tais drogas se enriquecem extra
ordinariamente, como bem se compreende. O industrial August Owsley
Stanley tornou-se assim o «Henry Ford da Psicodélia» antes que o
ácido lisérgico fósse declarado ilegal no comercio.

Nos Estados Unidos, como, alias, em outras muitas nacóes,


a maioria dos consumidores de psicotrópicos sao jovens de 17
a 30 anos de idade. Pertencem á dasse media * e receberam
certa educacáo. Dizem-se preocupados e insatisfeitos com a
sociedade de consumacáo ou o mundo ocidental, mundo que
se rege pelo trabalho, o comercio e o poder fínanceiro. Nao
aceitam conciliacáo com os padróes e as contradicóes da vida
moderna norte-americana, de modo que se alheiam á sociedade,
vivem como «emigrantes» ou «expatriados» dentro das fron-
teiras da própria patria; procuram libertar-se da realidade
que os acabrunha, consumindo drogas, subtraindo-se ao re-
gime económico da sociedade e procurando afirmar sua iden-
tidade singular mediante urna conduta exótica.

Dizia um líder «hippy»:

«ó geracáo de meia-idade, olhem para voces mesmos, que precisam


de dois goles de urna bebida forte para ter coragem de conversar com
um ser humano. Olhem para voces, que precisam da mulher do pró
ximo para provarem a si mesmos que estáo vivos; olhem para voces,

1 Eis alguns dados colhidos na pesquisa recente de Walter


Holstein «Der Untergrund» (Neuwied und Berlín 1969), pp. 68s:
Em 1968, apuraram-se os seguintes dados em Nova lorque (East
Village):
«hippies» provenientes da classe alta, 12%; ... da dasse media
superior, 22%; da classe media mediana, 48%; da classe media infe
rior, 17%; da classe babea, 1%.
Em Sao Francisco (U.S.A.):
da classe alta, 8%; da classe media superior, 17%; da classe
media mediana, 49%; da classe media inferior, 18%; da classe baixa,
8%.
No total das duas cidades, 81% diziam ser solteiros, 19% casados.
Ainda nao tinham 15 anos de idade, 2%. Estavam entre os 15 e 18
anos, 11%; entre os 18 e 21, 16%; entre os 21 e 25, 30%; entre os 25 e
30, 21%; entre os 30 e 35, 12%; ácima de 35 anos, 8%.

— 510 —
OS «HIPPIES»: SIM OU NAO?

explorando a térra, o céu e o mar, visando lucros, e chamando isso de


Grande Sociedade! Sao voces que nos váo dizer como viver? Voces estáo
é brincando!»

Os «hippies» dizem desprezar o dinheiro (que éles chamam


«bread», pao) e a propriedade, mas acham que nao é cómodo,
nem agradável, morrer de frió e de fome.

Em outros termos: apregoam o fim da necessidade de produzir e


o inicio da necessidade de viver livremente. Em vista disto, preconizam
o ideal — já muito acariciado pelos antigos — de urna sociedade sem
dinheiro. Por conseguinte, em Nova lorque apareceram na Bolsa para
celebrar a morte simbólica do dinheiro: urna chuva de dólares caiu
entáo sobre os compradores da Bolsa, perplexos e atónitos. Com tal
gesto queriam os «hippies» significar ao público o seu desprézo por
dinheiro, apólices, títulos e outros «papéis»!

2) Proje$5o na vida norte-americana

Em 1966, julgavam os peritos americanos que a moda dos


«hippies» se extinguiría sem demora, pois seria insustentável;
contavam-se entáo cérea de meia-dúzia de redutos de «hippies»
nos E.U.A. Hoje em dia, porém, verifica-se que agrupamen-
tos de «hippies» váo surgindo em todas as grandes cidades
norte-americanas, desde Bostón até Seattle, desde Detroit até
New-Orleans; cada «colonia» congrega cérea de 50 membros.
Os «hippies» se estabeleceram também em París, Londres,
Nova Deli (India) e Katmandu; na Asia procuram, com afinco
e risco, obter a prego barato os poderosos alucinógenos do
Oriente e aprender as licóes de náo-violéncia e amor do bu
dismo. Embora os «hippies» sejam infensos a aritmética, éles
calculavam ser cérea de 300.000 em 1967 nos E.U.A.; as
informacóes oficiáis do Govérno reduziam ésse número, mas
reconheciam haver muitos milhares de «hippies». Verdade é
que nem todos se entregam com a mesma intensidade aos alu
cinógenos e suas conseqüéncias. O número désses jovens tem
crescido e tende a aumentar, como julgam os observadores.

Os «hippies» influem na vida pública norte-americana por


suas reunióes, seus cantos e seus pronunciamentos. Famosos
sao os seus discos. Em junho de 1967 reuniram-se em Nova
lorque com sua orquestra de guitarras e tambores para se
manifestar em favor dos proprietários de caes, que haviam
sido atingidos por leis tidas como iniquas; cantavam entáo:
«What is dog spelled back-ward? — Que é dog (cao) pronun
ciado de frente para tras?» A resposta seria: God (Deus)!...

— 511 —
8 «PERGUMTE E RESPONDEREMOS» 120/1969, qu. 1

Em Seal Beach (California), 2.500 devotos «hippies» reu-


niram-se para praticar o amor livre ao ritmo de tambores e
flautas. No Estado de Dallas, cem «fílhos das flores» reuniram-
-se em Stone Place Malí, praga pública dos «hippies», a fim de
protestar contra a proibicáo de lá se reunirem. Aínda em
junho de 1967, urna dúzia de jovens desfilou descaiga frente
á Casa Branca (Washington), prometendo lá voltar aos 4 de
julho a fim de pleitear, com muito fumo, a legalizagáo do con
sumo de marijuana.
Nos últimos tempos, os «hippies» tém promovido concen-
tracóes de fama mundial: em junho de 1969, havia 100.000
jovens em Hyde Park; 25.000 em julho, perto de Nova Iorque;
em agosto, 400.000 na cidadezinha de Bethel (U.S.A.). Em
agosto pp. esperava-se um agrupamento de 100.000 «hippies»
na ilha de Wight (Inglaterra); afluiram, porém, 200.000 jo
vens; em lugar de provocar tumultos, mantiveram-se em per-
feita paz e harmonía, apinhados de tal modo que era difícil
um pedestre passar entre éles; a policía nao precisou de inter-
vir; os postos médicos tiveram relativamente pouco trabalho;
música e fumo de cigarro enchiam a atmosfera.
É desta forma que os «hippies», a «geragáo bendita»,
pretendem exprimir seu protesto contra a sociedade do con
sumo e sua mensagem de amor e paz!...

3) A filosofía dos .«hippies»

Os jovens «hippies» sao dotados do dinamismo e do poder


criativo que caracterizam a nova geragáo. Estáo, porém, pos-
suidos de espirito de revolta. Pretendem concorrer para reme
diar á presente ordem social (regida pela produgáo e a con-
sumagáo, pelos planejamentos mais diversos, por suas fórgas
compulsivas, que nao raro reduzem o homem á qualidade de
piáo), preparando urna sociedade inteiramente nova, rica em
valores humanos, tais como o amor e o respeito. Ésse objetivo,
éles desejam alcancá-lo nao mediante o estudo e a ciencia; sao
antiintelectuais, preferem ceder á fantasía e aos sentimentos,
desprezando a lógica e os processos de educagáo americana,
que éles acusam de haver gerado a sociedade moderna.
Tomando drogas, os «hippies» julgam que poderio «cortar
os nos» (resolver os problemas) da sociedade. Acreditam fir
memente ñas vantagens e nos beneficios de seu tipo de vida,
embora reconhecam que, se o mundo inteiro se tomasse
«hippy», nao podoria subsistir. Praticando o amor como quei-

— 512 —
OS «HIPPDES»: SIM OU NAO?

ram e com quem queiram, julgam que apenas se devem pre


ocupar com «nao ofender a ninguém». É preciso, dizem, der-
rubar convencóes e tabus, que fazem parte do «ego» (eu) da
sociedade contemporánea; há tempos, um «hippy» realizou os
funerais do seu próprio «eu», funerais que ele tentava justi
ficar com as seguintes palavras: «Vocé tem que seguir o rio
que está dentro de si mesmo, até a nascente, e depois reco-
mecar o percurso».

Os próprios «hippies» dizem que o «hipismo» é mais do


que um estilo de vida. É um «sistemicida apolítico», ou seja, a
declaracáo de morte a todo sistema e método, sem ingerencia
na política. Compreende-se entáo que carecam de toda diregáo
ou forma de lideranca, assim como de qualquer organizacáo
jurídica: «espontaneidade», e nao «disciplina», os inspira.
Urna cangáo popular dos «hippies» reza o seguinte:

«Voces sao os cidadáos de urna nacáo,


Os cidadáos de urna nacáo, com legisladores, que fazem as leis,
Leis que vos mandam ser livres:
Livres para ter que cursar a escola até os 16 anos de idade,
Livres para prestar o servico militar obrigatórk».
Livres para pagar 60% de sous impostos em favor do orcamento
militar,
Livres para ver como sua liberdade é vigiada por policiais,
Que sao seus amigos e os deíendem
Contra vagabundagem, agitacao e o dcsejo de se marginalizarem
Para que voces scjam voces. mesmos>.

Urna máxima dos «hippies» recomenda: «Se alguém te


perguntar pelo chefe, responde-lhe que ele mesmo é o chefe».
Se houvesse um código de vida entre os «hippies», in
cluiría as seguintes linhas de comportamento, todas muito
flexíveis:

«Faze tuas coisas onde quer que tenhas de fazé-las e no


momento em que bem o quiseres.
Afasta-te. Deixa a sociedade como tu a conheceste. Deixa-a
mais e mais.

Sopra sobre a mente de toda pessoa bem comportada, que


possas atingir. Revira-a, se nao para as drogas, ao menos para
a beleza, o amor, a honestidade e o riso».
Sao estas normas que explicam hoje os mais estranhos
tipos de comportamento entre os «hippies»: cada um faz «a
sua coisa» como julga que a deve fazer.

— 513 —
10_ «PERGUNTE E RESPONDEREMOS! 130/1969, qu. 1

Urna nota de utopia ou irrealismo (de certo modo, zom-


beteiro e acintoso) perpassa toda a'filosofía dos «hippies»; já
foram classificados como herdeiros do «país de Cockaigne» *,
o país sem leis, em que as fadas satísfazem imediatamente aos
desejos de quem Já desembarca!
O modo de pensar «hippy» é também marcado pelo cinis
mo; Diógenes foi o filósofo cínico por excelencia, que vivia
barbudo e sujo em um tonel para protestar contra as conven-
Cóes da lógica social. Há, com efeito, grupos de «hippies» que
vivem de nabos, arroz escuro, peixe e favas, em sinal de pro
testo contra o «consumismo» (ou o afá de consumir produtos
varios e requintados) e os caprichos complicados e «compli
cantes» que se tornaram essenciais na economía norte-ame
ricana.

Os «hippies» gostam de apelar para certas figuras notá-


veis da antiguidade, tais como o rabino Hillel, do séc. I a.C,
mestre de modestia e paz; Jesús Cristo, tido como «a groovy
cat» («barra limpa»); Buda que, lembram éles com énfase, foi
filho de familia real, fugiu de seu palacio, afim de voltar para
lá mais tarde e enfrentar seu pai, o rei, sem outros apetrechos
que nao urna tigela de mendigo e a sinceridade; S. Francisco
de Assis, o qual deixou a familia de rico comerciante da Italia
para viver na pobreza, em meio aos pássaros e outros animáis;
Gandhi, que foi o arauto moderno da náo-violéncia paciente;
Aldous Huxley, o propugnador dos alucinógenos em seu livro
«Doors of Perception» (Portas da Percepcáo).
A chave de toda a ética «hippy», dizem, é o amor, que
deve abracar todos os homens indiscriminadamente, amigos e
inimigos; em Los Angeles, o «Sans Souci Temple» (Templo dos
Despreocupados), colonia de «hippies». traz o grande cartaz:
«Superzap them with the love! — Arrebatai-os repentinamente
com o amorb Certas acusares contra o comportamento dos
«hippies» foram, de urna feita, rejeitadas pelo juiz Hermán
Weinkrantz, da Corte Criminal dos E.U.A., com a alegacáo:
«Esta Corte nao recusará a protegió da lei aos que nao se
lavam, nao se calgam, nao se penteiam, nem se inibem!»
Paulatinamente nota-se certa evolugáo entre os «hippies»
no sentido de que alguns grupos váo valorizando o trabalho:
produzem objetos de cerámica e artefatos que se relacionam
com a música.

1 «Land of Cockaigne> é expressáo usada por um trovador inglés


do século XIV para indicar um país maravilhoso.

— 514 —
OS «HIPPIES»: SIM OU NAO? 11

Assim propostas as grandes linhas da mentalidade e do


comportamento dos «hippies», importa-nos tentar formular
sobre o assunto

2. Um juízo sereno

Os «hippies» tém-se tornado um pomo de discordia nos


E.U.A. e no mundo inteiro.
Na verdade, o fenómeno «hippy» é ambiguo, pois — pode-
-se dizer — apresenta duas faces ou dois aspectos contradi-
torios:

1) A face sinistro

O que, da parte dos jovens floridos, causa perplexidade


no público, é a sua total indiferenca aos padrees aceitos pela
sociedade como normas de vida morigerada; nao lhes importa
aprovagáo ou desaprovagáo da parte dos homens, como se
depreende do famoso adagio: «Faze a tua própria coisa, e
jamáis te preocupes com o que outros possam pensar, dizer
ou fazen».
Também provoca repulsa, da parte de muitos americanos,
o fato de que os «hippies» carecem de programa positivo. Os
Estados Unidos já conheceram outros movimentos de rebeliáo
nos últimos tempos, desde a revolta dos industríanos (há cin-
qüenta anos) até a dos ativistas da «Nova Esquerda» na dé
cada de 1960; todos estes, porém, apregoavam solugóes para
os problemas nacionais. Ao contrario, o movimento «hippy» é
marcado antes pelo menosprézo dos valores existentes do que
pelo desejo de assumir a problemática nacional e recolocar a
sociedade em caminhos retos.
A atitude negativa dos «hippies» é, consciente ou incons
cientemente, inspirada pelas idéias de Marcuse e Sartre. Prin
cipalmente Marcuse tomou-se o mentor da contestacáo gene
ralizada, contestacáo dirigida contra a sociedade moderna, dita
«de consumo», tanto ocidental (capitalista ou quase capitalista)
como oriental (socialista). Marcuse protesta, recusa..:, toda-
via nao prop5e solugóes positivas capazes de sanear o mundo
de hoje; é apelando para o poder da fantasia (em oposigáo á
razáo), do oros ou do amor livre (em oposigáo á disciplina)
que ésse filósofo pretende proporcionar melhores dias á huma-
nidade. Cf. «P.R.» 106/1968, pp. 405-16; 114/1969, pp. 229-
-239, onde se encontram longas exposigóes do pensamento de
Marcuse.

— 515 —
X2, «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 120/19C9. qu. 1

Ora, na medida em que Marcuse e os «hippies» assim pen-


sam (ou deixam de pensar), sao sujeitos á critica. É pelo
raciocinio e o estudo, pela disciplina e o autodominio, — e
somente por tais caminhos — que o homem pode encontrar
a si mesmo, aos seus irmáos e ao seu objetivo supremo. Re
nunciar á lógica, á filosofía e á dureza de vida vem a ser des-
figuracáo ou suicidio para o individuo e a sociedade.

Em outros termos: para que o homem encontré felicidade,


ele necessita de acalentar um ideal que polarize todas as suas
energías e ao servico do qual a pessoa se há de colocar gene
rosamente. É sámente no sacrificio exigido pelo servir que a
criatura se engrandece e nobilita; toda recusa a servir implica
definhar e morrer.

Com muita razáo, observa Pierre-Henri Simón: tém mé


rito os jovens
escoteiros e afíns, que créem nos valores humanos (hones-
tidade, brio, coragem, fidelidade ao dever);
tecnocratas, que acreditam nos recursos da civilizagáo e
da técnica e, com éles, se dispóem a atender a seus semelhantes
e a sociedade;
comunistas e socialistas, que, embora sigam urna filosofía
errónea, admitem que a historia tem sentido e que o homem
tem urna missáo a cumprir na térra com sacrificio e genero-
sidade.
Désses tres tipos de jovens diferem lamentavelmente aque
les que descréem de tudo, mostrando-se céticos ou quase
céticos...
É, sem dúvida, necessário reconhecamos sem subterfugio
as falhas da sociedade presente; é preciso valorizemos o tra-
balhador (homem) mais do que o trabalho (instrumento e
efeito do homem), como lembrava o Papa Paulo VI em sua
visita a Genebra. Todavía é preciso crer que nao se poderá
remediar aos males presentes se se empreender urna total
ruptura com o passado ou um «quebra-quebra» (material ou
mental) generalizado; a vida só se desenvolve verdadeiramente
se ela se mantém em continuidade com as suas origens ou
fontes; desde que corte o contato com estas, morre.
Eis as sabias palavras1 de Pierre-ffíenri Simón em sua
carta «Para um jovem de vinte anos»:

«Nao se recusa jamáis urna heranca; vive-se déla, .nada se faz


sem seu apoio, e nenhuma revolucáo, mesmo doutrinária, pode correr

— 516 —
OS «HIPPIES»: SIM OU NAO? 13

o risco de destruir todos os baluartes construidos pelos predeces-


sores...

Voces sao herdeiros, e seu primeiro dever de honestidade é reco-


nhecé-lo. Se vocé nao se deita á luz das estrélas — e isso quer dizer,
em termos nao poéticos, nos bancos e ñas sarjetas — é porque existe
a casa que o abriga e que nao foi construida por suas maos. Se vocé
caminha pela rúa, tudo que ela possui de prazeres e de comodidades
e que lhe é oferecido, so existe devido á capitalizacáo do trabalho e
dos dias de seus ancestrais. Se vocé morde um pedaco de pao, é
porque os homens plantaram o trigo para vocé... Compreendo que,
com a condicáo, ao menos, de que viva de seu trabalho, com ele vocé
paga a sociedade urna amortizacSo que lhe da direito a gozar das
vantagens déla; mas ésse sistema de trocas preciso e complicado, que
lhe permite, por exemplo, adquirir em cem dias de trabalho urna
máquina que lhe daria imenso esfórco para construir em toda urna
vida de cálculos e de trabalho manual, surgiu, por acaso, hoje de
manhá? E vocé nao vé a continuidade de esforcos. de descobrimentos,
de instituicóes seculares, das quais ele é o admirável resultado?...
Através das idéias, as obras daqueles que falaram e escrcveram
e dos que falam e escrevam ainda, eis ao seu alcance o tesouro de urna
civilizacao que nao lhe seria possível inventar, se vocé tivesse nascido
inteiramente nu, livre e miserável, na floresta em que algum tararavó
primata estaría ainda a estregar galhos secos para acender o ca
chimbo, que, alias, nao possuiria!» (pp. 73-75).

2) A face válida

Costuma-se dizer que em todo erro há um núcleo de ver-


dade. Ora também através das atitudes extravagantes dos
«hippies» transparece urna mensagem positiva. Por vias e cos-
tumes erróneos, éles chamam a atengáo do mundo para os
perigos de urna civilizacao cada vez mais empolgada pela pro-
ducáo e o consumo; preconizam maior valorizacáo dos bens
própriamente humanos num mundo que por vézes corre o risco
de colocar a máquina ácima do homem. É para desejar que
tal mensagem nao seja sufocada, mas encontré eco em muitos
homens — especialmente nos cristáos — dispostos a responder-
-lhe com coragem, confianca e otimismo. O que falta aos
«hippies», é compreender que a grandeza e a beleza da vida
consistem em assumir a luta e procurar abnegadamente sa
near o que deve ser saneado. Para realizar éste programa,
requer-se o verdadeiro amor ao próximo, verdadeiro amor que
nao se coaduna, no caso, com expatriamento e marginalizacáo,
mas está intimamente associado a humildade e paciencia. Sim;
quem quer colaborar e construir com seus semelhantes (sim
páticos ou nao, inteligentes ou nao) precisa de se muñir dessas
qualidades, que sao penhores de éxito. Por último, requer-se
a atitude básica entre todas, a saber: fé em Deus, amor sobre
natural cristáo. Com efeito, para construir algo em nossos

— 517 —
14 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 120/1969, qu. 2

días titánicos, tornam-se necessárias energía e benevolencia


tais que Deus, e Deus só, pode comunicar ao homem.

A propósito, podem-se citar, entre outras muitas, as interessantes


reportagens de «Time», july 7/1967, pp. 14-22; september 26/1969.
pp. 4047.
Como monografías sobre o assunto, merecem atencáo
W. Hollstein, «Der Untergrund. Zur Soziologie jugendlicher Pro-
testbewegungen». Berlín 1969.
A. Culter, «Die Hippies. Revolution im Ñamen der Liebe. Analysc
einer weltwelten Protestbewegung». München 1969.
G. Bonn, «Untar Hippies». Dusseldorf 1968.

ii. bíblia sagrada

2) «A historia bíblica do paraíso terrestre parece opor-se


ajos dados do evolucionismo.
Como entender essa 'idade de miro,' da humanidade?»

Resumo da resposta: O aparente conflito se resolve desde que


se levem em canta as mais recentes sentencas da exegese bíblica
católica.
É de fé que os primeiros homens foram inicialmente elevados a
um estado sobrenatural, ou seja, a filiagáo divina, estado em que
gozavam de felicidade e paz religiosas. Perderam tal estado em con-
seqüéncia de urna desobediencia a Deus. Ora, quando a Biblia descreve
o paraíso terrestre, nao tenciona propor um jardim localizado em
alguma parte do globo, mas tem em vista apenas ilustrar de maneira
figurada a harmonía de que os primeiros homens gozavam ñas suas
relagóes com Deus. O autor sagrado quis frisar o contraste entre a
situacáo do homem no mundo de outrora e a situacáo dos lempos
posteriores.
Tal harmonía nao implicava mudanca da configurado externa dos
primeiros homens nem do ambiente em que viviam; os primeiros pais
possuiam dons latentes em sua alma, ficando o seu desabrochar con
dicionado á fidelidade que prestariam á graca de Deus. Dissipa-se
assim o apregoado conflito entre os dados da Biblia e os das ciencias
naturais.
De resto, outro ramo do saber — a etnología, & qual está asso-
ciada a historia das Religides — confirma a doutrina bíblica segundo
a qual a morte e as desgracas dos homens nao sao algo de original,
mas se devem a urna desordem introduzida pelo homem no mundo.

— 518 —
PARAÍSO TERRESTRE E EVOLUCIONISMO 15

Resposta: É costume admitir-se que os primeiros homens


tenham sido colocados em lugar ameno e encantador (na
Mesopotámia?), onde gozavam de toda bonanca. Por seu as
pecto físico, teráo sido muito diferentes dos tipos que os fósseis
nos apresentam. A imprensa popular e o cinema exploram
com arte essa temática. Ora a paleontología professa a evo-
lucáo da especie humana a partir de formas primitivas e ru-
des, o que parece provocar choques com a narrativa bíblica de
Gen 2-3. Daí a necessidade de se rever o sentido que possa ter
o texto sagrado. ¡ ¡|
É o qué faremos abaixo, procurando o auténtico signifi
cado do paraiso terrestre e da justica original. A seguir, pro-
poremos um confronto com as ciencias modernas e a historia
das Religióes.

1. Paraíso bíblico: significado genuino

1. O texto sagrado dá a entender que, tendo criado o


homem, Deus o colocou em um parque próspero (paraíso ou,
em hebraico, gan), irrigado por quatro ríos: o Pisón, o Gheon,
o Tigre e o Eufrates... Tal paraiso estaría situado ao oriente
da Palestina, ou seja, na Mesopotámia.

Eis o teor da respectiva passagem bíblica:

«O Senhor Deus plantou um jardim no Éden, ao oriente, e néle


colocou o homem que havia formado. O Senhor Deus fez desabrochar
da térra toda especie de árvores agradáveis á vista e de saborosos
frutos para comer; a árvore da vida, no meio do jardim, e a árvore
da ciencia do bem e do mal. Um rio nascia no Éden e ia regar o
jardim, dividindo-se, a seguir, em quatro bracos. O nome do primeiro
é Pisón, rio que rodeia toda a regiáo de Evilat, onde se encontra
ouro, ouro puro, sem mistura; e também se encontram bdélio e 6nix.
O nome do segundo rio é Gheon, o qual rodeia toda a térra de Cus. O
nome do terceiro é Tigre, e corre ao oriente da Assiria. O quarto rio
é o Eufrates» (Gen 2, 8-14).

Os comentadores, procurando a situagáo geográfica do


paraiso bíblico, conceberam até hoje oitenta sentencas diversas;
chegaram a admiti-lo no Perú! Na verdade, o Tigre e o Eu
frates sao rios bem conhecidos: tém suas nascentes nos montes
da Armenia, e desembocam no Golfo Pérsico. O Pisón, porém,
e o Gheon nao podem ser identificados; tais nomes designam
grandes rios outrora conhecidos: o Nilo, o Indo, o Ganges...
O historiador judaico Flávio José, no inicio da era crista,
identificava o Pisón com o Indo e o Gheon com o Ganges

— 519 —
16 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 120/1968, qu. 2

(Ant jud. I 1,3 § 38,39). Também as regióes de Evilat e Cus


nao tém sido unánimemente interpretadas pelos exegetas (Ara
bia, Etiopia, Assíria...).

2. Hoje em dia, os exegetas, tendo penetrado melhor na


mentalidade e ñas intencóes dos autores bíblicos, percebem
claramente que o escritor, em Gen 2, teve em mira transmitir
mensagem bem diversa de urna noticia geográfica. Nao lhe
interessava dizer onde o primeiro homem fóra colocado, nem
ele o podia saber a distancia de centenas de milhes de anos;
para tanto, deveria ter recebido de Deus urna revelacáo
especial.
Em outras palavras: veriflca-se que o trecho de Gen 2
referente ao para'so é urna narrativa nao de índole científica,
mas, sim, de índole sapiencial: o que ela entende transmitir, é
urna filosofía ou urna conceituacáo de valores para que o ho
mem oriente a sua conduta de vida.
Procuremos entáo penetrar na mentalidade do autor bí
blico.

3. Duas perguntas voltavam constantemente ao espirito


dos israelitas:
1) Por que foram escolhidos Abraáo e, com ele, o povo
de Israel? Que sucedeu na historia da humanidade para que
nem todos os homens vivam na felicidade a Deus?
2) É possível que éste mundo, com toda a sua miseria
e dor, com doengas e morte, tenha saído realmente das máos
de um Deus bom? Éste mundo, táo marcado pela desgraca,
nao depóe contra Deus? — Tal era o tormentoso problema da
origem da dor e da morte, que perturbava os israelitas, como
também o homem moderno.
Ora a tais perguntas o autor sagrado intencionou dar res-
posta em Gen 2-3.
Mais explícitamente: o escritor bíblico teve em vista dizer
que a situacáo do homem no mundo, a principio, era bem dife
rente daquela que os seus descendentes puderam conhecer
através de milenios de historia; os primeiros homens viviam
num estado de felicidade espiritual e interior; gozavam da
amizade de Deus. O autor sagrado poderia ter dito tal verdade
em termos abstratos e filosóficos; já, porém, que tal nao era
a praxe literaria dos hebreus, o escritor procurou descrever a
felicidade espiritual e religiosa dos primeiros homens mediante
figuras familiares aos seus primeiros leitores, ou, mais preci-

— 520 —
PARAÍSO TERRESTRE E EVOLUCIONISMO 17

sámente, & psicología do beduino. Éste tem a experiencia do


calor e da sede do deserto. Por isto a imagem de um oasis ou
jardim regado por aguas abundantes significa para ele felici-
dade e paz, seguranca e repouso.
Consciente disto, o autor sagrado descreveu a bonanca
religiosa dos primeiros homens mediante a imagem de um
oasis fértil (a palavra gan significa «jardim», ao passo que
Éden, derivado do sumérico edin, tem o sentido de estope).

Para irrigar ésse oasis, citou os nomes dos quatro ríos


famosos... O número quatro significa totalidade, plenitude *,
ao passso que o rio lembra prosperidade, fertilidade, abundan
cia (sem agua nao há vida).

Um elemento esseneial para a riqueza da térra, principalmente


ñas regióes orientáis, é urna boa irrigacao; a abundancia de cañáis é
quase um refráo ñas cosmogonías (relatos da arigem do mundo) da
Mesopotámia, indicando vida* civilizacáo, prosperidade. A literatura
assírio babilonia e a ugarítica situavam ñas nascentes dos rios a mo
rada dos deuses ou, ao menos, um lugar privilegiado relacionado com
os deuses. Note-se, alias, que os nomes dos rios do paraíso designan»,
de certo modo, a sua pujanca: Pisón é «aquéle que pula»; Gheon,
«aquéle que brota»; Tigre, «aquéle que fluí rápidamente»; Eufrates,
«o grande rio de aguas profundas».

Por conseguirte, o paraíso bíblico há de ser entendido


em sentido simbólico; designa figuradamente um estado, e nao
um lugar, de felicidade. Essa felicidade, que afetava o homem,
era espiritual e religiosa. Nao é necessário admitir que "tal
harmonía do homem ñas suas relacóes com Deus afetasse tam-
bém o corpo dos primeiros pais e a natureza irracional que
cercava o homem. Pode-se muito bem crer que o homem pri
mitivo, religiosamente feliz, tinha as feicóes que os fósseis da
pré-história insinuam, como também se pode admitir que habi-
tasse em grutas e cavernas. O paraíso, para os primeiros pais,
era «estar com Deus», como, alias, para o bom ladráo, foi
«estar com Cristo logo após a morte» (ct Le 23,43).
A propósito vém as observagSes de A. Lapple, um dos
últimos comentadores da página bíblica:

«O paraíso na forma material em que a Biblia o descreve, nunca


existiu... A riqueza das imagens pretende fazer ressaltar a felicidade
e a ünperturbabilidade das relacóes do homem com Deus. Pretender

i Os mesopotámios e egipcios falavam dos quatro ángulos ou


das quatro partes da térra, das quatro direcóes do céu, dos quatro
ventos...

— 521 —
18 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 120/19C9, qu. 2

tirar da narracao (bíblica) informacSes sobre o aspecto exterior e as


facilidades intelectuais dos primeiros homens equivaleria a forcar o
texto. Déste nao se pode deduzir se o homem, antes do pecado, apre-
sentava urna imagem de beleza e de harmonía correspondente ás
concepgóes modernas ou se um selvagem, como o das ragas anteriores
ao homem de Neanderthal, era capaz de gozar da felicldade do pa
raíso terreáis («Mensagem bíblica para o nosso tempo». Lisboa 1968,
p. 91).

Vé-se, pois, que o que a Biblia quer ensinar, é o contraste


entre o estado de felicidade interior do homem antes do pe
cado e o estado que se seguiu a tal felicidade em conseqüéncia
da transgressáo de que fala Gen 3. Antes de pecar, o homem
possuia paz, alegría e bonanga, que ele perdeu pela desobedi
encia ao preceito divino.

2. A fustiga original

Pergunta-se agora: seria póssível deduzir da própria Biblia


as notas características da felicidade religiosa de que gozavam
os homens antes do pecado?

É sómente mediante urna reflexáo sobre o que se tornou,


segundo a Biblia, a condigáo do homem após o pecado, que se
pode depreender qual tenha sido ela antes da culpa.
Ora nota-se que o texto sagrado atribuí as seguintes san-
Cóes á criatura decaída:

1} Morta

O preceito dado aos primeiros país prometía: «No dia em


que comeres, certamente morreras» (Gen 2,17).

Fazendo eco a tais palavras, a sentenca proferida sobre


o homem réu assim soa: «Ao suor do teu semblante, comerás
o teu pao, até que voltes á térra, pois tu és pó e voltarás a
ser pó» (Gen 3,19). Tal sentenga impóe a morte prometida
em Gen 2,17.
A morte é, sem dúvida, um fenómeno natural, pois resulta
do necessário desgaste das fórgas do organismo. Todavía o
texto sagrado dá a saber que hoje o homem a padece em con
seqüéncia do primeiro pecado; donde se deduz que, anterior
mente á culpa, era, por privilegio de Deus, isento da neces-
sidade de morrer (trazia em si a possibilidade de nao morrer).

— 522 —
PARAÍSO TERRESTRE E EVOLUCIONISMO 19

Esta afirmacáo é clara e íreqüente na S. Escritura; tenham-se


em vista também as palavras de Sao Paulo: «Pelo pecado a morte
entrou no mundos (Rom 5,12) ou «O salario do pecado é a morte» (Rom
6,23). Por sua vez, o autor do livro da Sabedoria, no séc. I antes de
Cristo, asseverava: «Deus criou o homem para a imortalidade, e fé-lo
á imagem da sua própria natureza. Por inveja do demonio é que a
morte entrou no mundo> (Sab 2, 23s).

O dom inicial da imortalidade nao quer dizer que o ho


mem se perpetuaría neste seu modo de existir terrestre, mas,
sim, que passaria diretamente da existencia peregrina para a
gloria de corpo e alma, sem provar o transe da morte.

De resto, pódese observar que a Escritura costuma associar «fide-


lidade a Deus» e «vida», eonseqüentemen te, «infidelidade a Deus
(pecado)» e «marte»; ct Prov 3,ls; 10,16.27; 11,19. «Vida» em tal
caso significa a participacáo na vida feliz de Deus; aíeta, primeira-
mente, a alma, mas redunda em isengáo de morte para o corpo.
Paralelamente, «morte» designa o alheamento em relagao a Deus,
Sumo Bem; existir longe de Deus já nSo é «ver no sentido pleno da
palavra; equivale a morrer; tal morte decorrente do pecado tem, pri-
meiramente, significado espiritual (é a existencia da alma sem Deus);
todavía, segundo a Biblia, ela pode afetar também o corpo do homem,
destruindo-o. Estas idéias, assaz comuns ñas Escrituras, ilustram o
sentido auténtico das palavras de Gen 2,17 e 3.19.

Que o homem tenha gozado do dom da imortalidade no


sentido ácima proposto, é sentenca de fé, como notam os teó
logos até nossos días. Ct J. de Baciocchi, art. «Justice origi-
nelle», no dicionário «Catholicisme» VI. París 1967, col. 1306;
H. Volk, art. «Mort», em «Encyctopédie de la Foi» III. Paris
1966, p. 149. O Concilio do Vaticano II fala da «morte corporal
da qual o homem teria sido isento, se nao tivesse pecado»
(Const. sobre a Igreja no mundo contemporáneo, n' 18).

Há comentadores de Gen 3 que pensam diversamente do que acaba


de ser proposto. Julgam que o pecado nao acarretou a marte para o
genero humano. Os males que recairam sobre o homem em conse-
qüencia do pecado, conforme Gen 3,16-19, afetariam únicamente a vida
presente. A morte é mencionada nesses versículos, mas nao como pena
e, sim, como termo que pora fim aos males do homem; o autor sagrado
teria intencionado dizer que durante toda a sua vida terrestre o homem
padecerá.

Tal sentenca provém de autores protestantes. Nao encontrou voga


ñas escolas católicas. Cf. A. Chazelle, «Mortalité ou immortalité du
premier nomine?» em «Nouvelle Revue Théologique» 10 (1967), 1043-
-1068.

Além da morte, a Biblia propóe como conseqüéncia do


pecado o

— 523 —
20 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 120/19C9, qu. 2

2) Despertar da concupiscencia

Diz o texto sagrado que após o pecado «se abriram os


olhos de ambos (os primeiros pais) e verificaram que estavam
ñus» (Gen 3,7). Estes dizeres devem ser confrontados com os
que se referem ao estado anterior ao pecado: «Ambos estavam
ñus, tanto o homem como a mulher, e nao sentiam vergonha
disso» (Gen 2,25).
Há, pois, um contraste entre a situacáo anterior e a pos
terior ao pecado; aparece um desequilibrio no homem, urna
desordem, que lhe incute vergonha e temor: «Ouvi teus passos
no jardim e, cheio de médo porque estou nu, escondi-me» (Gen
3,10), respondeu o homem á interpelagáo de Deus. O motivo
de tal vergonha é claro; Deus mesmo o recorda: «Quem te
disse que estavas nu? Por certo, comeste o fruto da árvore
que eu te havia proibido de comer» (Gen 3,11).
Estas palavras (vazadas em estilo simples e antropomór
fico) indicam, conforme os comentadores, a manifestagáo da
concupiscencia no homem, no ámbito sexual como também em
outros setores; o pudor é a reacáo defensiva contra o désejo
sexual imoderado.
De tais observagóes se concluí que o homem, anteriormente
ao primeiro pecado, gozava do dom da integridade, também
dito «da imunidade de concupiscencia». Éste nao significava
ausencia de instintos e desejos naturais, mas implicava plena
submissáo da afetívidade sensível á razáo e á livre vontade do
homem. — Tal senten^a é pelos teólogos recentes considerada
«verdade próxima a fé» (cf. fontes indicadas á p. 19 [523]).

3) Dor

Antes do pecado, o homem devia trabalhar: «O Senhor


colocou o homem no jardim do Éden para o cultivar» (Gen
2,15).
Após o pecado, Deus impóe ao homem trabalho, realgando,
porém, o caráter doloroso do mesmo: «Da térra só arrancarás
alimento á custa de penoso trabalho em todos os dias da
tua vida. Produzir-te-á espinhos e abrolhos, e comerás a erva
dos campos. Comerás o pao com o suor do teu rosto» (Gen
3,17-19).
Em poucas palavras: viver, subsistir, para o homem, acar-
retará «sofrer e penar».

— 524 —
PARAÍSO TERRESTRE E EVOLUCIONISMO 21

A mulher, após o pecado, Deus assinala o parto doloroso.


O que quer dizer: a missáo ¿a maternidade — característica
da mulher — será, de modo geral, dolorosa.
Tenha-se também presente que a morte, conseqüéncia do
pecado, é geralmente precedida de precursores dolorosos.
Estas consideracóes tecidas em torno do texto sagrado
tém insinuado aos teólogos que o homem antes do pecado
estava isento de sofrimento e dor, mesmo que a térra produ-
zisse espinhos e abrolhos (como é de crer, pois o pecado nao
alterou a natureza das criaturas). Em outros termos: o homem
gozava de impassibilidade física relativa, ou seja, estava isento
de enfermidades e dores ligadas ao desgaste de sua natureza.
— Tal sentenga, em teología, nao é considerada «de fé», nem
«verdade próxima á fé», mas opiniáo comum.
Também é opiniáo oomom, nao sentenga de fé, que os
primeiros pais possuiam urna ciencia superior infundida por
Deus. Tal ciencia nada tinha da cultura técnica moderna, mas
pode-se entender como isengáo de ignorancia em relagáo as
coisas que os primeiros homens deviam saber. Em outras pa-
lavras: os homens, no seu estado inicial, puderam avaliar o
alcance do preceito de Deus e da atitude, obediente ou nao,
que tomariam frente a ele; puderam ser responsáveis.

Aínda é de fé a proposigáo segundo a qual os primeiros


genitores possuiam a graca santificante, ou seja, o dom sobre
natural que os tornava filhos de Deus e participantes da vida
trinitaria, em certa semelhanga do que ocorre com os justos
remidos por Jesús Cristo.

Enfim, o conjunto de dons concedidos ao homem no estado


paradisíaco — gra~a santificante, imortalidade, integridade,
impassibilidade, ciencia moral constituí o que se chama «justica
original».

Os teólogos, entre os sáculos XEE e XEX, muito escreve-


ram sobre o estado inicial do género humano. Todavía nem
tudo que propuseram a respeito, goza de igual certeza. Tra-
tava-se, por vézes, de minucias, das quais varías em nossos
dias perderam grande parte de seu interésse, pois, de um lado,
sabemos melhor que a Biblia pretende ser sobria ao apresen-
tar o estado dos primeiros homens e, de outro lado, as ciencias
naturais, desenvolvidas como estáo, exigem reconhegamos as
condigóes primitivas da vida de nossos ancestrais.
Por conseguinte, o que se deve sublinhar quando se fala
da justiga original, é o seguinte: o estado do homem neste

— 525 —
22 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 120/1969, qu. 2

mundo, tal como ele hoje é, difere daquele em que o homem


foi inicialmente constituido por Deus. «O homem afastou-se
voluntariamente do estado de felicidade que Deus lhe dera,
para procurar uma 'felicidade' escomida por si, que se revelou
ser desordem, dor, infelicidade. Desde o pecado original em
diante, todo o universo está num estado de desordem com rela-
fiáo a Deus. A narracáo bíblica é a resposta inequívoca e com
pleta a todas as perguntas sobre a origem do estado atual de
desgrasa: o próprio homem é a causa e o artífice da própria
queda» (A, Lapple, «Mensagem bíblica para o nosso tempo»
p. 107).
Ainda em outras palavras: o texto sagrado quer dizer que
a desgraga de que sofre o homem através dos séculos, nao é
désejada, mas tolerada por Deus; nao se verificaría se o ho
mem nao tivesse abusado de si mesmo, afastando-se de Deus.
Por conseguinte, frente aos males que afligem o género hu
mano, nao é a Deus, mas á liberdade do homem, que devemos
pedir contas.

3. Confronto com os ciencias naturais

Até os últimos tempos talvez se pudesse falar de discor


dia entre teologia e ciencias naturais no tocante aos primordios
da humanidade. A paleontología propóe inicios muito modestos
para a especie humana. Ao contrario, havia quem, por motivos
teológicos, insinuasse como que uma «idade de ouro» nos prin
cipios da historia. O filme «A Biblia» de De Laurentiis, que
teve projegáo mundial, incutia nítidamente tal impressáo.
Ora hoje em dia o aparente confuto está dissipado. Como?

A fé continua, sem dúvida, a ensinar a elevacáo dos pn


meiros homens á filiacáo divina e á justiga original; a teologia
nao pode abrir máo disto. Julga-se, porém, que essa justica
original nao se desabrochava sobre a face exterior do corpo
humano, mas era realidade latente na alma dos primeiros pais;
caso estes afirmassem sua fidelidade a Deus, teriam sido con
firmados na justiga e os dons latentes se teriam patenteado
no corpo e no ambiente de vida do homem. Ter-se-á dado ou-
trora algo de semelhante ao que ocorre hoje com o cristáo
em estado de graga: possui pela graga santificante um germen
de gloria celeste («o céu é a alma do justo», dizem os teólo
gos); nao obstante, essa realidade nova nao transparece no
corpo do cristáo nem no mundo em que ele vive.

— 526 —
PARAÍSO TERRESTRE E EVOLUCIONISMO 23

4. A historia das Religioes

Nao há dúvida, na pesquisa do estado primordial do gé


nero humano, háo de ser ponderados os resultados concretos
das ciencias naturais; elas ensinam ou insinuam fatos... To-
davia nao sómente tais ciencias merecem atengáo; também
deve ser levado em consideracüo o testemunho dos povos pri
mitivos, testemunho que outras ciencias — como a etnología
e a historia das Religioes — tém proposto com profusáo nos
últimos tempos.
Ora observa-se o seguinte: os povos antigos geralmente
professam que a morte e as miserias neste mundo nao sao algo
de originario, mas, sim, conseqüéncias de urna desordem intro-
duzida pelo homem ao transgredir a lei de Deus.

O fato de que os homens localizados ñas mais desconexas


regióes do globo, detentares hoje de urna cultura que corres
ponde aproximadamente á dos primordios da humanidade, pro-
fessem idéntica concepgáo a respeito da morte e do seu signi
ficado, insinúa que já a professavam quando se achavam reu
nidos numa só populacáo, antes de se dispersarem. Esta obser-
vacáo nao deixa de dar novo esteio á doutrina bíblica segundo
a qual Deus nao fez o mal nem a morte, mas estes infortunios
entraram no mundo em conseqüéncia do pecado; tal ensina-
mento parece, conseqüentemente, pertencer ao patrimonio
das nocóes primordiais do género humano e só se explica
devidamente se de fato corresponde á realidade histórica.
Naturalmente, cada tribo primitiva deu á narrativa do
primeiro pecado seu colorido próprio, caracterizado pelo am
biente de vida e pela mentalidade particular de tal ou tal clá;
nao é ésse colorido, variável de povo a povo, que interessa ao
presente estudo, mas é a mensagem doutrinária assim trans
mitida. Essa mensagem, em última análise, faz eco a Escritura
Sagrada (Gen 2-3), corroborando-a estupendamente.

Passamos, portante, a enunciar algumas das narrativas


dos povos primitivos referentes á origem da morte no mundo.

1) Em New South Wales (Australia) varias tribos afirmam que


os primeiros homens foram desuñados a nao moixer. Contudo era-
-lhes proibido aproximarse de certa árvore fica, em que abelhas sel-
vagons tinham íeito a sua colmeia. No decorrer do tempo, as mulhe-
res cobicaram o mel da árvore proibida, até que, belo dia, urna délas,
desprezando as admoestagóes dos homens, tomou do seu machado e o
arremessou contra o tronco; ¡mediatamente saiu déste urna enorme
coruja. Era a Morte, a qual de entáo por diante circula livremente

— 527 —
24 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 120/1969, qu. 2

sobre o mundo e reivindica para si tudo que ela possa tocar com as
asas.

2) Os pigmeus referem que Deus (Mugasa) a principio cxiou


dois rapazes e urna jovem, com os quais vivía amigavelmente na flo
resta, como pai com seus filhos, num lugar de toda bonanca; nada
faltava aos homens, nem tinham que recear por alguma perspectiva
de morte. Mugasa apenas lhes proibira que procurassem ver a sua
face. Habitava urna tenda, diante da qual diariamente a joyem tinha
que depositar lento para o íogo e um jarro de agua. Um dia, porém,
a moga, vencida pela curiosidade, escondeu-se atrás de urna árvore,
ficando á espreita do «Pai», que havia de aparecer. De fato, ela o pode
ver, quando estendia o braco reluzente de ornamentos a íim de apa-
nhar o jarro. A menina alegrou-se entáo profundamente e guardou o
segrédo do ocorrido. Mugasa, porém, percebera a desobediencia. Cha-
mou os tres irmaos a sua presenga e lhes censurou a falta, predizendo-
•lhes que havia de os deixar; para o futuro, a indigencia e a morte
pesariam sobre éles. Os prantos do grupinho humano nao consegul-
ram deter a sentenca; certa noite, Mugasa partiu rio ácima, e nao foi
mais visto. Quanto ao primeiro filho que nasceu á mulher, morreu
após tres dias de existencia...

3) Os Bagandas da África Central contam que Kintu, o primeiro


homem, depois de ter superado varios testes, obteve a licenja de se
casar com Nambi, urna das filhas de Mugulu (o Céu ou o Alto). O pai
da jovem. deixou que ela viesse com scu consorte para a térra, tra-
zendo ricos presentes, entre os quais urna galinha; ao despedirse do
casal, mandou que se apressasscm por sair, aproveitando o fato de
que o irmáo de Nambi, chamado Warumbe (a Morte) estava fora de
casa; recomendou-lhes outrossim que nao voltassem para apanhar o
que quer que tivessem esquecido. Durante a caminhada, porém, Nambi
verificou que chegara a hora de dar de comer á galinha; já que
esquecera o milho, consentiu entáo que Kintu voltasse á casa para
buscá-lo. Mugulu, o pai, ao rever o genro, irritou-se pela desobedien
cia; Warumbe (a Morte), estando de novo em casa, fez questao de
acompanhar Kintu; toda resistencia tendo sido va, a Morte desceu
com o casal para a térra, onde até hoje habita com os homens.

4) Graciosa é a historia que contam os japoneses: o principe


Ninighi se enamorou pela princesa «Florescente como as flores». O pai
da jovem, que era o Deus da Grande Moritanha, consentiu em seu
casamento, e deixou-a partir com sua irmü mais velha «Alta como
as rochas». Esta, porém, era tremendamente íeia, de sorte que o noivo
a mandou de volta para casa. Em conseqüéncia, o velho Deus amal-
digoou o genro, e declarou que sua posteridade seria frágil e delicada
como as flores!

5) Os «Bataks» de Palawan (ilhas Filipinas) contam que o seu


Deus costumava ressuscitar os mortos. Todavía certa vez os homens
quiseram enganá-lo, apresentando-lhe um tubaráo eníaixado como una
cadáver. Quando a Divindade descobriu a astucia, amaldigoou os ho
mens, condenando os a ficar sujeitos ao sofrimento e a morte.
6) No territorio de Uganda (África) os «Masai» referem que um
dos seres divinos ou Demiurgos deu a um homem a seguinte ordem:
tedas as vézes que morresse urna crianca, deyeria remover o cadáver
dizendo: «Homem, morre e vem de novo á vida! Lúa, morre, e desa
parece definitivamente!» Essas palavras produziam o efeito de res-

— 528 —
PARAÍSO TERRESTRE E EVOLUCIONISMO 25

suscitar. Um dia, porém, o dito eomissário da Divindade, posto diante


de urna crianca que nao lhe pertencia, houve por bem desobedecer,
invertendo os dizeres da famosa fórmula. Quando na vez seguinte
repetiu a frase certa sobre um de seus próprios filhos, verificou que
da perderá o seu poder. De entáo por diante acontece que, quando a
Lúa morre. ela volta á vida, ao passo que o homem, caindo ñas garras
da morte. é por esta detido.

Como foi dito atrás, as «estórias» que acabam de ser refe


ridas, nao nos interessam aqui pelas figuras infantis ou fanta-
sistas que apresentam, mas, sim, pela mensagem que em todas
elas, de algum modo, se repete; a morte e seus precursores
(as desgragas) nao sao originarios na historia do género hu
mano, mas nela entraram sub-reptíciamente por terem os
homens violado a ordem de coisas estabelecida por Deus.
— Ora é justamente isto o que o livro do Génesis ensina... A
convergencia de depoimentos difícilmente se explicaría se nao
correspondessem á realidade histórica.

Bibliografía seleta (o número de obras atinente ao assunto é


vastissimo):

A. Lapple, «Mensagem bíblica para o nosso tempo». Lisboa 1968.


V. Marcozzi, «Evolucáo hoje». Sao Paulo 1969.
M. Balagué, «Prehistoria de la salvación». Madrid 1967.
F. Festorazzi. «La Bibbia e il problema delle origini». Brescia 1967.
G. Lambert, «Le drame du jardín d'Eden», em «Nouvelle Revue
Théologique» 76 (1954) 917-48; 1044-72.
R. Lavocat, «Réflexions d'un paléontologiste sur l'état originel de
l'humanité et le peché originel», em «Nouvelle Revue Théologique» 89
(1967) 582600.
A. Chazelle, «Mortalité ou immortalité du premier homme?», em
«Nouvelle Revue Théologique» 10 (1967) 1043-1068.
A.-M. Dubarle. «Le peché originel dans l'Écriture». Paris 1967.
P. Grelot, «Réflexions sur le probléme du peché originel». Paris
1968.

E. S. Hartland, «Death and disposal for the Dead», em «Encyclo-


paedia oí Religión and Ethics» edited by James Hastings, vol. IV.
Edinburgh 1935, pp. 411s.

«P.R.» 28/1960, pp. 136-139; 139-147 (a respeito de justica original


e conseqüéncias do primeiro pecado).
«P.R.» 32/1960, pp. 329-333 (historia das Religióes e pecado ini
cial).
«P.R.» 86/1967, pp. 56-67; 501-514 (pecado original e poligenismo).

— 529 —
26 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS;. 120/19C9, qu. 3

III. DOUTRINA

3) «A bracao nao é ama Iota contra Deus?


Nao podemos cnegar a mudar os planos de Deas?»
4) «Deus parece militas vézes desinteressar-se dos ho-
mens. As coisas acontecem como se nao houvesse Providencia».

Resumo da resposta: Sao Paulo emprega a paiavra grega «agoon»


(= luta) no sentido que lhe davam os sabios gregos e judeus anterio
res ao Cristianismo; estes entendiam por «agoon» o esfórco do homem
que luta contra a natureza desregrada para chegar á perfeicáo espi
ritual. Para Sao Paulo, «luta» é, particularmente, a tarefa de evange
lizar; já que esta nao se faz sem oracáo, a própria oracáo 6 dita «hita»
no epistolario paulino; é algo em que o Apostólo e os cristáos se devem
empenhar com extremo fervor (cf. Rom 15,30).
É evidente que o homem nao luta contra Deus na oracáo; Deus é
absoluto e imutável. file quer dar as criaturas tudo de que necessitam
para conseguirem a vida eterna. Todavía Deus quer dar ao homem
nao como dá ás criaturas irracionais, que nao sabem o que recebem.
Quer que o homem, inteligente e livre como é, reconheca e deseje o
dom de Deus. Éste «reconhecer» e «desejar» se exerce na prece. Por
isto, Deus desde toda a eternidade decretou derramar seus beneficios
sobre os homens mediante oracoes. Assim a oracáo, longe de dobrar
a vontade de Deus, tende a íazer dos homens os colaboradores do Pai
do Céu. A auténtica prece é aquela que pede a Deus a vida eterna
mediante tais ou tais bens transitorios; Deus atende, dando por certo
a vida eterna; quanto aos bens transitorios que Lhe sugerimos, Ele
os concede caso nos convenham realmente; substitui-os, porém, por
outros, caso nao nos convenham aqueles. — Em conseqüéncia, deve-se
dizer que nenhuma prece bem feita é nula ou va.

Resposta: Procuraremos analisar conjuntamente as pro-


posigóes ácima; a resposta á segunda questáo se deduzirá
fácilmente de quanto tiver sido dito a respeito da primeira.
Comegaremos por elucidar o sentido da paiavra grega
agoon (luta), que S. Paulo recebeu do mundo helenista antígo
e utilizou ñas suas epístolas. A seguir, examinaremos o que
possa significar a expressáo «lutar na oracáo» segundo o pen-
samento do Apostólo e no conjunto das verdades da fé.

1. A luta (agoon) em Sao Paulo

1. O termo agoon designava, entre os gregos antigos,


um lugar de reunióes, principalmente reunióes esportivas, com-

— 530 —
ORAgAO: LUTA CONTRA DEUS? 27

petígóes atléticas; numa palavra, era o estadio. Posteriormente,


passou a designar a própria competicáo, a luta desenrolada
no estadio. Foi, por fim, transferido para o plano moral, signi
ficando os esfonjos e as privacóes que todo homem deve sus
tentar para praticar a virtude e realizar um nobre ideal.
Nesta última acepcáo o vocábulo era assaz usual entre
os judeus da Diáspora ou das colonias judaicas esparsas no
Imperio greco-romano. Usando a lingua grega, ésses autores
israelitas transpunham freqüentemente o vocabulario da lin-
guagem esportiva para o setor da Moral; tencionavam assim
designar, com énfase, o combate heroico que o homem reto
deve sustentar contra os assaltos do pecado e da natureza
desregrada a fim de obter a coroa da vida eterna; a paciencia
tenaz e a perseveranga magnánima caracterizavam tal homem
de Deus.
O texto do livro bíblico da Sabedoria 4,2, escrito por um
judeu do Egito no séc. I a.C, reflete bem essas concepcóes:

«(A virtude) na eternidade, cingida de coroa. celebra o seu triunfo,


por ter vencido em combates sem mancha>.

Tenha-se em vista também o texto grego do livro do


Eclesiástico:

«Até a morte, luta em prol da verdade; o Senhor Deus combaterá


por ti» (4,28).

A luta ou o certame do varáo fiel chegava ao seu auge,


quando lhe era necessário confessar a fé com o próprio san-
gue, sob a pressáo dos perseguidores; o mártir veio a ser, na
espiritualidade judaica pré-cristá, o lutador ou o atleta espiri
tual por excelencia. É o que aparece principalmente no 4» livro
dos Macabeus (apócrifo do Antigo Testamento).
2. No limiar da era crista, Sao Paulo recebeu o vocá
bulo agooji com os matizes que lhe haviam comunicado os seus
antepassados judeus. O martirio de Cristo na cruz em prol
da verdade contribuía para tornar aínda mais denso, na mente
do Apostólo, o conteúdo de tal termo: a vida do fiel discípulo
de Cristo nao podia deixar de lhe aparecer como um certame
renhido ou um combate de herói.
Conseqüentemente Sao Paulo designava suas lides apostó
licas como um agoon ou urna luta penosa (cf. 1 Tes 2,2). Servia-
-lhe de paradigma o atleta que, no estadio, de tudo se abstém
para conquistar urna coroa corruptível, incontestavelmente in-

— 531 —
28 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 120/1969. qu. 3 e 4

ferior á que está reservada ao cristáo vencedor no certame das


virtudes; cf. 1 Cor 9,25.

No fim da vida exclamava S. Paulo:

«Quanto a mim, ... o momento de minha partida se aproxima.


Combatí o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé» (2 Tim
4, 7s).

A Timoteo, seu sucessor no ministerio sagrado, Sao Paulo


tragava um programa formulado com o mesmo vocabulario:

«Combate o bom, combate da fé, conquista a vida eterna, á qual


fdste chamado e da qual íizeste bela confissüo perante multas teste-
munhas» (1 Tün 6,12).

Mais aínda: Sao Paulo designava como certame nao so-


mente as suas labutas penosas, mas também as suas oragóes
e as oragóes dos fiéis em prol do apostolado ou da propagagáo
do Evangelho. Orar e trabalhar vinham a ser, para o Apostólo,
duas facetas de urna grande luta ou do agoon cristáo. Assim,
por exemplo, escrevia aos Romanos:

«Rogo-vos, irmáos, ... que hitéis junto contigo ñas ora$5es que
dirigís a Deus par mim, para que eu escape dos incrédulos que estao
na Judéia» (15,30).

E aos Colossenses:

«Saúda-vos Epafrás, vosso patricio, ... que nao cessa de lutar


por vos em suas oracdes, para que... perseveréis no cumprimento de
tfida a vontade de Deus> (4, 12).

Em varias passagens de seu epistolario, Sao Paulo decla-


rava orar incessantemente pelos seus fiéis e pedia outrossim
as oragóes dos mesmos em prol da evangelizacáo. É o que se
depreende percorrendo, por exemplo, as duas cartas aos Tessa-
lonicenses:

«Sem cessar, rendemos gracas a Deus por todos vos, mencionando-


•vos em nossas oragOes. Ininterruptamente lembramos diante de nosso
Deus e Pai as obras de vossa fé...» (1 Tes 2,3).
«Por isto também nos nao cossamos de dar gracas a Deus, porque,
ao receberdes a palavra divina, ... a recebestes nao como palavra
humana» (1 Tes 2,13).
«Noite e día, oramos com extremo fervor, pedindo que nos seja
dado rever a vossa face e completar o que aínda falta á vossa fé>
(1 Tes 3,10).
¿Orai sem cessar. Dai gracas por tudo. Esta é em relacáo a todos
vos a vontade de Deus, em Cristo Jesús... Irmáos, orai também por
nos» (1 Tes 5,17sJ25).

— 532 —
ORACAO: LUTA CONTRA DEUS? 29

«Devemos, irmáos, dar continuamente gracas a Deus, por vossa


causa. É justo, parque vossa fé toma grande incremento, e cada vez
mais cresce a caridade mutua que anima a todos vos» (2 Tes 1,3).
«Oramos incessantemente por vos, a fim de que nosso Deus vos
torne dignos de seu chamado e realize, pelo seu poder, todo o bem
que desejais, e as obras de vossa fe» (2 Tes 1,11).
«Nos, irmáos amados pelo Senhor, devemos dar incessantes gra
cas a Deus por vos, porque Deus vos escolheu, como primicias, para
vos salvar» (2 Tes 3,13).
«Finalmente, irntaos, orai por nos, para que a palavra do Senhor
se propague rápidamente e seja glorificada, como tem sido entre vos»
(2 Tes 2,1).

Para Sao Paulo, portante, a oracáo vinha a ser o grande


recurso, posto ao alcance do próprio Apostólo e dos demais
discípulos de Cristo, para que todos compartilhassem a tarefa
de fazer chegar a «Boa Nova» até os confuís da térra. Com-
preende-se dentro dessa perspectiva que a oracáo fósse quali-
ficada como luta, ... luta em sentido figurado apenas; a
imagem do certame exprimía bem o profundo empenho com
que o orante pedia a Deus a ampia difusáo do Evangelho e
a salvagáo das almas. Em outros termos: o «lutar na oragáo»
paulino equivalia a «orar com extremo fervor», como dizia o
Apostólo mesmo em 1 Tes 3,10: «Noite e dia, oramos com
extremo fervor, pedindo que nos seja dado rever a vossa face
e completar o que aínda falta a vossa fé».
Contudo o extremo fervor, o empenho heroico, «atlético»,
do cristáo na oracáo nao significariam também que o orante
faz realmente violencia aos céus? Nao se pode dizer que,
pelas suas preces, o justo pode dobrar ou mudar a vontade
de Deus e arrebatar algo que a Onipoténcia Divina só a muito
custo concede?
É o que consideraremos no inciso abaixo.

2. Luta na oragao: sentido teológico

Refletindo sobre os quesitos ácima, verificamos imediata-


mente que um Deus contra o qual podemos lutar na esperanca
de Lhe arrebatar algo, é simplesmente um contra-senso; é urna
figura de mitología, que absolutamente nao cabe dentro da sá
razáo, — muito menos dentro da Revelagáo crista.
Ninguém pode pretender amoldar ou adaptar a vontade
de Deus á sua própria vontade. Por mais estupendo que pare-
cesse, o conceito de um Deus que o homem pudesse acomodar

— 533 —
30 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 120/1909, qu. 3 C 4

a si, a ninguém satisfaría; quando a criatura procura a Deus,


procura, consciente ou inconscientemente, o Ser Absoluto.

De outro modo, portante, há de se entender o valor ou a


eficacia da oracáo. É o que vamos ver por etapas:

1) Na verdade, Deus, que por defmigáo é sumamente


bom, só pode ter criado o homem por bondade, a fim de o
fazcr participar da sua própria bem-aventuranga. É vontade
de Deus, portante, que o homem mais e mais se assemelha ao
seu Criador, que será um día também o seu Consumador.

Em vista disto, Deus quer conceder aos homens todos os


meios de que necessitam a fim de conseguirem o seu verda-
deiro destino, isto é, a plenitude da vida, a vida eterna. Deve-
-se mesmo dizer com Sao Paulo que Deus é cioso de outorgar
á criatura beneficios muito maiores do que os que ela mesma
deseja ou concebe (cf. Ef 3,20).

2) Tal disposicáo de Deus é imutável. O Senhor nao a


retira ou cancela, nem o homem, por suas eventuais infideli
dades, pode jamáis extinguir a benevolencia do Senhor sempre
voltada para ele. Deus é o Absoluto; néle, portante, nao há
evolugáo.

3) Contudo, Deus, que fez o homem dotado de inteligen


cia e livre arbitrio, nao quer comunicar ao homem as suas
dádivas como Ele as comunica as criaturas irracionais, ou
seja, nao quer dar ao homem sem que éste reconheca e deseje
o dom de Deus. Precisamente o conhecer e o querer constituem
a dignidade do homem; por isto é que o homem nao pode
chegar á sua consumagáo sem exercer estes ates.

Com outras palavras: Deus precisa dos homens; precisa... nao


para Si, mas em vista déles, para tornar os próprios homens felizes.
Ele nao impoo aos homens o Bem Infinito, mas espera que éstos
digam o seu «Sim» consciente e generoso.

4) Ora justamente a indiferenga ou o pouco caso do


homem face aos dons de Deus criam freqüentemente obstáculo,
o único obstáculo, á munificencia divina.

Em outros termos: Deus, cm seu Amor, está sempre presente ao


homem. A recíproca, parém, nao é verídica: o homem nao está sempre
presente a Deus. Se a generosidade nunca falta da parte do Senhor,
ela falta, sim, muitas vézes, da parte do homem.

5) Conseqüentemente, a fim de que nos tornemos pre


sentes a Deus, Deus quer e manda que o homem ore; é, sim,

— 534 —
ORACAO: LUTA CONTRA DEUS? 31

pela oracáo que elevamos nossa mente a Deus e Lhe permi


timos nos comunique <os seus dons.
Permitimos... Como?

Sao Tomaz assim o explica:


a oragáo faz que o homem reconheca e confesse que
ele tudo recebe de Deus. Coloca-o, portante, mima atitude de
humildade, o que é condicáo básica para receber o dom do
Alto. O homem só é invadido por Deus quando se coloca como
o zero ou o vazio sequioso na presenga do Bem Infinito;
a oragáo conserva e aumenta na criatura o desejo de
possuir a Deus e as coisas de Deus. É éste desejo que Deus
requer do homem para que o possa satisfazer aos poucos e
finalmente saciar em plenitude (cf. In Math. VI 32; In IV
Sent., dist. 15, qu. 4, a. 7, sol. 1; Comp. theol. II 2; S. Th.
n/II 83, 13 e 14).

Destas consideragóes se depreende que a oragáo, longe de


ser urna tentativa de acomodar a vontade de Deus á do homem,
tende, ao contrario, a acomodar a vontade do homem aos
designios de Deus. Sao estes que o homem, cioso do seu ver-
dadeiro bem, deve desejar que se cumpram em qualquer hi-
pótese. O orante pode, sem dúvida, manifestar suas lícitas
aspiragóes ao Pai do Céu, pedindo as coisas grandes e peque
ñas que lhe parecam oportunas; tais aspiragóes, porém, ele as
subordinará á única aspiragáo que Deus nao pode querer frus
trar: a de possuir o Bem Infinito (Deus) nesta vida e na
vida futura. É também nesta perspectiva que Deus aceita as
súplicas do homem. Ele concede os bens que o orante pede,
caso convenham ao supremo objetivo de tal pessoa; em caso
contrario, o Senhor atende & prece, concedendo outros bens
que se harmonizam realmente com os interésses da sua cria
tura. Nao há oragáo vá ou inútil, desde que proferida dentro
déste quadro.

6) Se Deus quer que o homem ore para receber os seus


dons, compreende-se que a prece torna o homem, de certo
modo, colaborador de Deus. A oragáo vem a ser como o ins
trumento do qual Deus se serve para derramar sua liberali-
dade tanto sobre o orante como sobre todos os demais homens.
O Senhor, sem dúvida, quer dar as criaturas tudo que lhes
convém; mas, ao decretar dar tal ou tal bem, determinou que
o daría mediante a oracáo de tal ou tal pessoa; por isto é
indispensável que os homens orem, mesmo que Deus queira
dar e já saiba o que os orantes váo pedir. O Senhor quer que

— 535 —
32 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 120/1909, qu. 3 e 4

o homem ore nao por causa déle (Senhor), mas por causa do
homem mesmo.
7) Se tudo que é bom vem de Deus, percebe-se que a
própria graca de poder rezar, e de rezar, já é um dom, um
grande dom de Deus, mesmo quando julgamos estar em ex
trema penuria espiritual ou corporal. Quem reza, reza porque
Deus o está preparando para alcangar um bem maior. Por isto
pode-se dizer que quem ora, pedindo alguma coisa, de certo
modo já foi atendido: é Deus mesmo quem impele o homem a
pedir, e Ele nao o faria se nao quisesse consumar a sua obra,
dando um fruto valioso á prece de sua criatura. Mais breve
mente: rezar já é urna graga, e graga que Deus nos dá como
antecipagáo e penhor de maiores dons.

Está claro que o Senhor nao nos impele a rezar mediante


sinais sensíveis ou extraordinarios. Ele nos impele, sim, fa-
zendo-nos sentir nossa miseria, nossa solidáo ou o fastio das
coisas déste mundo; as circunstancias mesmas da vida cotidia
na, aparentemente cegas ou mecánicas, sao «a voz silenciosa»
de Deus que nos quer atrair á oracáo.

3. Oonclusóo

Remova-se o conceito de que a oracáo pode dobrar a von-


tade de Deus. O bem do homem consiste em se identificar
com os designios de Deus, e nao vice-versa. A genuína visáo
da realidade é teocéntrica, e nao antropocéntrica.
Cientes do papel da oracáo no plano de Deus, todos os
homens, justos e pecadores, deveriam recorrer asslduamente
á oragáo. Esta nao supóe outro título da parte do homem
senáo o reconhecimento da própria miseria e da incapacidade
de prover satisfatóriamente as aspiraootís de sua alma, aspi-
racóes que, em última análise, demandam o Bem Infinito,
como a agulha magnética inconscientemente demanda o seu
polo. Éste reconhecimento da miseria resulta da própria expe
riencia da vida; por isto é o que há de mais espontáneo em
todo ser humano, até mesmo naqueles que nao tém fe; estes,
sem contradizer a si mesmos, poderáo portanto muito bem
orar nestes termos: «ó Deus, se existes, dá-me a tua luz,
manifesta-Te a mim; dá-me o amor a Ti e, finalmente, dá-me
a vida, a vida que nao cede á morte». Por certo, tal prece,
feita com sinceridade e ardor, em caso algum será frustrada...

Em «P.R.» 17/1959, qu. 2, pág. 185 é abordado mais expDcíta-


mente o tema «oracáo e vontade imutável de Deus>.

— 536 —
CRISTO E BUDA . 33

IV. HISTORIA DAS RELIGI6ES . íí

5) «Que paralelo pode haver entre Cristo e Buda?


Assim como há fatos maravilhosos na vida de Cristo, tam-
bém ios há na vida de Buda. Se aqueles provam a Divindade
de Cristo, também estes devem provar a Divindade de Buda».

Rasumo da resposta: A figura de Buda é histórica, como afir-


mam os críticos. Todavía está envolvida em traeos lendários nume
rosos, de tal sorte que é difícil reconstituir exatamente a vida de
Buda. As fontes escritas hoje existentes a respeito do Iluminado íoram
redigidas séculos depois da morte désse personagem. Nesse intervalo
a fantasía e o fervor dos discípulos parecem ter engrandecido a figura
histórica de Buda com «estórias» portentosas.
Algo de diferente se dá em torno de Jesús Cristo: a crítica aceita
tenham side redigidos os Evangelhos no século I da era crista, poucos
decenios após Cristo. Foram redigidos em ambiente hostil, pronto a
denunciar e desmascarar toda noticia falsa ou alucinada concernente
a Cristo. Nem os Apostólos nem os judeus eram propensos a endeusar
homens, já que a educacáo israelita era estritamente monoteísta.
Além do mais, notam-se sobriedade e simplicidade despretensiosas ñas
narrativas evangélicas — o que parece significar que os Evangelistas
julgavam estar transmitindo fatos que se imporiam por sua veraci-
dade mesma, destituidos de qualquer artificio literario.

Rosposta: A imprensa e o cinema váo divulgando cada


vez mais a figura de Buda no Ocidente, inclusive no Brasil.
As facanhas atribuidas ao mestre hmdu impressionam o pú
blico e, por vézes, debeam dúvidas sobre a originalidade e a
exclusividade da figura de Jesús Cristo. É o que torna opor
tuno um exame sereno da documentacáo antiga referente a
Buda, a fim de que se possa estabelecer um confronto objetivo
com o que diz respeito a Jesús Cristo. — Abaixo tentaremos
esta tarefa, percorrendo as seguintes etapas: 1) as fontes
literarias referentes a Buda; 2) o auténtico e o náo-auténtico;
3) confronto crítico entre «Vida de Jesús» e «Vida de Buda>.

1. Fontes concernentes a Buda

Existe enorme quantidade de documentos oficiáis do bu


dismo, escritos em idiomas diversos (sánscrito, páli, tibetano,
mandchu, chinés, japonés...). Visam reproduzir a vida e a

— 537 —
34 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 120/1969, qu. 5

doutrina do fundador; diferem, porém, de tal modo entre si


lque, ém cada caso, é necessario que o estudioso investigue exa-
' tamente o lugar e a data de origem do documento, a fim de
poder julgar o valor histórico do mesmo.

Todos ésses documentos foram redigidos em sua forma


atual depois que o budismo comegou a se dividir em seitas (a
divisáo teve inicio um sáculo após a morte de Buda, a qual
ocorreu possivelmente em 480 a.C; antes do séc. in a.C, já
se notavam 48 escolas de budismo divergentes entre si).

A mais importante colecáo completa de documentos oficiáis bu


distas é o «Canon dos Theravidins», «a escola dos andaos», escrito
em Ilngua páli; está propagada em Ceiláo e no sul da India. O con-
teúdo dessa coletánea íoi introduzido em Ceiláo por via oral, mediante
missionários budistas, no século III a.C; íoi redigido por escrito em
Ceiláo no século I depois de Cristo. Ésse «Canon» apresenta variantes,
como se depreende da respectiva traducáo chinesa; o «Canon» páli
dá-nos a conhecer a existencia de varias seitas budistas.

Quanto á vida de Buda, exceto alguns episodios ¡solados


(que foram redigidos em época mais antiga), ela só é narrada
em documentos posteriores ao «Canon» páli, de modo que
nao há certeza nem mesmo a respeito das datas em que nas-
ceu e morreu Buda. Essas biografías tardías, de Buda apre-
sentam urna figura humana envolvida no maravilhoso; tenha-
-se em vista especialmente o «Lalita-Vistara», escrito no século
II da era crista, portante cérea de 600 anos após a morte do
mestre. Chama particularmente a atengáo a coletánea dita
«Jataka», a qual narra algumas das 500 (ou mais) encarna-
cóes de Buda anteriores á última! O núcleo dessas narrativas
parece datar dos séc. III/II a.C.

Dada a abundancia de tradicóes desconexas referentes a


Buda, alguns estudiosos, como Sénart e Kern, chegaram a
negar a historicidade de todas as narrativas concernentes a
Buda, reduzindo-as a fábulas; tentaram identificar Buda com
um herói solar (Vishnu ou Krishna) da mitología. Todavia,
por mais eruditos que fósscm ésses trabalhos, nao se impuse-
ram definitivamente aos estudiosos. Hoje em dia admite-se a
historicidade de Buda, assim como as grandes linhas de sua
biografía; os historiadores, porém, reconhecem que é impossível
delimitar o certo e o fantasista ñas narrativas que lhe dizem
respeito.

Em sintese, eis o que contam as fontes literarias refe


rentes a Buda:

— 538 —
CRISTO E BUDA 35

2. O «Iluminado»

1. A lenda de Buda, que abaixo se segué, compreende


doze pontos, de acordó com o próprio esquema budista. Para
entendé-la dcvidamente, requerem-se algumas observagóes pre
liminares.

Embora o budismo professe o panteísmo (tudo é Deus), tal lenda


supóe o politeísmo (a existencia dos muitos deuses que a religiáo
popular e antiga da India admitía). Supóe também a preexistencia e a
rcencarnacüo dos espiritos; o budismo admite que periódicamente
sobre a térra aparecem «Budas», isto é, homens iluminados, que vém
revelar aos seus semelhantes novas verdades e ajudá-los a se libertar
do ciclo das reencarnacóes. A influencia de cada Buda é passageira
o que exige a manifestagáo de «ovos e novos mestres, iluminados.
Dizem os documentos hindus que é muito difícil tornar-se um
Buda, pois exige caráter tenaz, comprovado através de numerosas
reenearnacóes.
Um futuro Buda é chamado «Bodhisatva>. O Bodhisatva deve pre-
encher tres condicóes:
ter desejado. no decorrer de numerosas existencias, tornar-se
um Buda (= iluminado);
— ter expresso essa vontade em termos inabalávcis;
ser designado por urna predieáo dos deuses para preencher tal
papel.
O «Jataka» refere que o último Buda (Siddartha ou Gautama ou
Cakyamuni), em mais de 500 existencias anteriores, íoi rei, mestre,
nobre, mercador, leáo, águia, elefante, lehre, rá, mostrándose em tudo
dotado de generosidade e espirito de sacrificio extraordinarios; para
tornar-se Buda, renunciava a tudo, entregava sua carne como pasto
para os animáis selvagens. deixava seus próprios filhos arrastar-se
na miseria... Antes de Buda Siddartha, já apareceram 24 Budas sobre
a térra. O próximo será, conforme a documentacáo antiga, Maitreya,
que ainda é Bodhisatva (hoje em día, porém, se diz que o famoso
hindú contemporáneo Krishnamurti é um novo Buda).

2. Podemos agora percorrer as etapas da lenda de Buda:


1) Depois que os deuses reconheceram com clareza quem
desempenharia o papel de Buda (= iluminado), foram ter com
o futuro Siddartha, na mansáo superior do céu, para rogar-
-lhe que aparecesse sobre a térra. Entáo o futuro Buda
estipulou que se manifestaría na época «tal» do mundo, no
Jambu-vidpa (= India), no reino do Meio e na capital Kapi-
lavastu, na casta dos Kshatriyas, e tomaría por máe a virtuosa
Maya.

2) Cientes disto, os quatro deuses supremos e suas mu-


Iheres transportaram em sonho Maya para o Himalaia; lá ela

— 539 —
36 «PERGUNTE J2 RESPONDEREMOS■- 120/1909. qu. 5

foi banhada, ungida, revestida, ornamentada de flores, e, por


fim, colocada numa gruta de ouro. Nesta o futuro Buda
penetrou em seu seio sob a forma de elefante branco. Essa
conceigáo maravilhosa foi denunciada ao mundo por 32 sinais
extraordinarios.

3) Em Lumbina, debaixo de urna árvore, nasceu final


mente o Bodhisatva. Os velhos brámanes que assistiam á sua
máe, o reconheceram como futuro Buda. Ao oitavo dia, o
menino recebeu a nome de Siddhartha (= o que chegou á
meta).

4) Muitos particulares na vida do menino revelaram a


sua dignidade. Urna vez, as mulheres que déle cuidavam, o
deixaram debaixo de um bambú; quando voltaram, verificaram
que, enquanto a sombra de todas as outras árvores se trans
ferirá para o lado oposto, o bambú continuava a cobrir com
a sua folhagem o menino mergulhádo em suas meditacóes.
Urna vez que o haviam levado ao Templo, as imagens dos
deuses se inclinaram diante déle. Na escola, o jovem enchia
de admirac.áo os mestres, dada a maturidade do seu espirito.

5) A partir dos dezesseis anos, o pai fez com que o prín


cipe levasse vida luxuosa e prazenteira. Casou-se entáo com
Yacodhara (ou Gopa), que ele obtivera em torneio de cava-
leiros; teve um filho chamado Rahula.

6) Quando os deuses viram que chegara o momento,


para o principe, de abandonar o mundo, fizeram-no encontrar
cm passeio quatro sinais de seu novo destino: um velho, um
doente, um cadáver e um monge. Desejoso de obter a sereni-
dade representada por ésses tipos humanos, Siddharta conce-
beu a idéia de abandonar o mundo. Certa vez, algumas dan-
garinas exibiram-se com todos os seus atrativos na presenca
do príncipe; éste.porém, as viu no fim da festa desfiguradas
e feias; entáo o mundo inteiro lhe apareceu como urna casa
em chamas, da qual ele deveria escapar quanto antes; a ver-
dadeira felicidade só lhe parecía possível mediante a extingáo
dos desejos (nirvana), da loucura e da inquietude do coracáo.
— Langou um derradeiro olhar sobre a esposa e o filho; subiu
no seu cávalo, acompanhado de seu fiel servidor, e deixou a
cidade. Em breve, mandou de volta o companheiro e o animal.
Um anjo entáo lhe levou os oito objetos necessáVios a um
monge mendicante: tres pegas de paño como roupa, urna ga
mela, urna faca, urna agulha, um cinto, um crivo.

— 540 —
CRISTO E BUDA 37

7) O Bodhisatva pós-se a viver como mendigo. Entregou-


-se á renuncia violenta e á meditagáo profunda em Uruvilva,
juntamente com cinco companheiros. Ao cabo de seis anos,
estava exausto; reconhecia que seus exercícios ascéticos nao o
levavam ao termo almejado. Comecou entáo a comer melhor,
o que provocou o desprezo de seus companheiros para com ele.
Aproximava-se, porém, o dia em que devia obter a dignidade
de Buda. Um dia, recebeu de urna jovem chamada «Sujata»
um prato de ouro. — A seguir, acompanhado pelos deuses e
os genios, retirou-se para a floresta e sentou-se ao pe de urna
. árvore.

8) O Maligno, porém, dito «Mará», percebendo que


Siddartha estava para ser iluminado, reuniu inumerável exér-
cito de maus espíritos para o deter no caminho do progresso;
as sugestóes, porém, de paixáo, inquietude e volúpia (filhas de
Mará) nao conseguirán! abalá-lo. Quando o Maligno reconhe-
ceu que nao poderia prevalecer, convidou o Bothisatva a entrar
inmediatamente no nirvana (desencarnaeáo) sem apregoar a
sua mensagem. Todavía Siddharta o repeliu; em conseqüéncia,
os deuses e os genios celebraram a vitória do Profeta sobre o
Tentador.

9) O Bodhisatva chegou ao conhecimento perfeito que o


tornou Buda (= iluminado), mediante urna tríplice intuicáo
que ocorreu em tres vigilias sucessivas. Passou em revista
todas as existencias anteriores, todo o presente e o encadea-
mento das causas. Foi entáo que pronunciou palavras célebres,
a saber: depois de numerosas encarnacóes e sucessivos renas-
dmentos dolorosos, conhecera enfim o arquiteto da mansáo;
ésse arquiteto, porém, nao reconstruiria mais, pois o nirvana
estava atingido (palavras um tanto misteriosas!).

Buda permaneceu mais sete semanas sob a árvore da


bodhi (= intuicáo) ou ñas cercanias. Recebeu alimentacáo de
dois mercadores que passavam e que se tornaram seus pri-
meiros discípulos. Hesitava propagar a doutrina á qual che-
gara com tanto sofrimento; todavía os deuses supremos foram
humildemente rogar-lhe que nao deixasse o mundo correr
para a ruina; prometeu entáo manifestar-se como Buda e re
velar a verdade.

10) Pouco depois, Buda realizou a primeira pregacáo em


Benarés. Foi reunindo discípulos cada vez mais numerosos,
rematados em diversas classes sociais; a pedido de sua tía
Gotami, que o tratara após a morte prematura de sua geni-
tora, resolveu admitir mulheres na vida monástica. Deparou-
38 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 120/1969, qu. 5

-se, porém, com adversarios e inimigos, chefiados por £>eva-


datta, primo do mestre, que fomentou um cisma entre os mon-
ges de Buda.

11) Nos últimos meses de vida, com oitenta anos de


idade, Buda resumiu mais urna vez seus ensinamentos e deu
aos discípulos as derradeiras instrucóes e exortaeóes, mostran-
do-lhes a precariedade !a qual estáo sujeitas todas as coisas.
Resistiu á tentacáo do Maligno, de entrar no nirvana antes de
proclamar essas últimas licóes. Em conseqüéncia, pode desa
parecer tranquilamente, certo de que a verdade subsistiría no
gremio de seus discípulos.
Morreu em Kusinara por ter comido carne de porco (ou
javali) assada, que o ferreiro Cunda Ihe apresentara! Anteri
ormente declarara que desejava ser enterrado como um grande
rei. Tendo galgado todos os degraus da meditagáo, entrou no
nirvana.

12) Os Mallas de Kusinara encarregaram-se de prestar


as honras postumas ao cadáver de Buda. Inciheraram-no com
grande pompa e recolheram os respectivos restos, que os ho-
mens e os reís passaram a disputar entre si. Essas reliquias
foram distribuidas, e em muitos lugares construiram-se cape-
las para as conservar.

Embora nao haja. certeza absoluta, julga-se que Buda viveu


de 560/556 a 480/476 antes de Cristo.

3. A título de complemento e ilustracáo, váo aqui refe


ridos dois traeos particulares da encarnagáo de Buda apresen-
tados pelo «Lalita-Vistara» (a principal das biografías antigás
do «Iluminado»):

a) O Bodhisatva (futuro Buda) preexistia junto aos deuses lora


do mundo. Desceu do Tushita (mansao divina) para o seio de sua
müe Maya Devi, e, para cumprir predigoes dos brámanes e do Rigveda
(código religioso hindú), tomou. nessa descida, a forma de um ele
fante, munido de seis chifres, coberto por urna rede de ouro, portador
de cabera vermelha, maxilares abertos e forma majestosa. Oito sinais
precursores anunciaram a sua vinda á mansao de Cuddhodana. O pa
lacio limpou-se por si mesmo: todos os pássaros do Himalaia acorre-
ram. testemunhando júbilo por seus cantos; os jardins cobriramse
de flores; os tanques encheram-se de flores de lótus; os instrumentos
de música puseram-se a produzir sons melodiosos, sem que íófsem
tocados; enfim, o palacio foi iluminado por esplendor mais belo que os
do sol e da lúa.
b) Durante todo o tempo que o Bodhisatva passou no seio de
Maya Devi, permaneceu sempre apoiado sobre o flanco direito e sen
tado de pernas cruzadas. Entáo alguns dos filhos dos deuses surpre-

— 542 —
CRISTO E BUDA 39

enderam-se por verificar que o Bodhisatva, «puro e isento de toda


mancha, muito elevado ácima de todos os mundos, o mais precioso
de todos os seres», permanecía no sangue impuro de urna genitora,
quando os simples reis dos Gandarvas, dos Nagas e dos Jakshas evi-
tam sempre as manchas do corpo humano. Bodhisatva, entño. den a
saber aos filhos dos deuses que Brahma (divindade antiga dos hindus)
o foi visitar no seio de Maya Devi; Brahma, com a cabega, saudou os
pés do pequenino, e ofereceu-lhe urna gota de orvalho que continha
o que há de melhor em materia de perfume, licor e vitalidade, nos
tres mil milheiros de mundos. Após Brahma. Cakra, o mestre dos
deuses, os quatro grandes reis dos deuses inferiores, quatro deusas
e urna multidao de divindades foram adorar o Bodhisatva, servir-lhe
e receber déle o ensinamento da leí.

3. Que há de histórico ?

Os estudiosos, conscientes do grande número de tragos


lendários que ornamentam a figura de Buda, julgam que ao
menos os seguintes dados podem ser tidos como históricos:
Buda foi filho de um rei da estirpe dos Cakya, povo guer-
reiro situado ñas encostas do Himalaia. Viveu no palacio de
seu pai, em gozo dos prazeres da vida, até os 29 anos de idade,
quando resolveu deixar o mundo para procurar o bem supremo.
Esperava a salvacáo, seguindo os ensinamentos dos brámanes
(mestres religiosos da antiga India) e entregando-se a severas
mortificacóes. Todavia, após seis anos de esforcos, verificou
que devia abandonar tais práticas; recebeu a «iluminacáo» da
verdade, que ele se pos a pregar levando vida de monge men
digo e viandante. Granjeou muitos discípulos, que ele orga-
rrizou em urna Ordem monástica. Morreu em idade avangada.
Os dados biográficos ulteriores — as narrativas de mila-
gres e facanhas — de Buda devem ser considerados com olhar
crítico e cético, pois encerram elementos de mitología e tradi-
góes estranhas.

Estabelecamos agora um confronto com

4. A figura de Jesús Cristo

Quatro sao as observagóes que se podem propor neste


confronto:

1) Os Evangelhos foram escritos no decorrer do sáculo I


mesmo, poucos decenios após a morte e a ascensáo do Senhor
Jesús (ano de 30 ou 33); a primeira redacáo escrita é a de

— 543 —
40 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 120/19C9, qu. 5

S. Mateus (em aramaico), a qual é atribuida aos anos de


50/55. Sao Joáo, o último Evangelista a escrever, redigiu sua
obra por volta do ano 100 na Asia Menor (Éfeso). Na verdade,
foi encontrado no Egito em 1935 um fragmento de papiro
(n* 457) portador dos dizeres de Jo 18.31-33.37s; tal papiro
deve ter sido escrito no Egito, como julgam os críticos, em
principios do sáculo II. A descoberta désse papiro (que se
acha guardado na John Raylands Library em Manchester)
veio confirmar a noticia de que o Evangelho de Sao Joáo já
se achava redigido na Asia Menor por cérea do ano 100 (em
30 anos, aproximadamente a duragáo de urna geracáo humana,
o texto de Sao Joáo terá passado da margem setentrional para
a meridional do mar mediterráneo i). Em nossos dias, portanto,
com o progresso dos estudos literarios e historiográficos, já
nao se pode admitir (como admitiam críticos liberáis no sáculo
passado), tenham sido os Evangelhos redigidos no decorrer do
sáculo ¿ ou mesmo a partir do ano de 150. Admitindo táo
longo intervalo entre Jesús e a redagáo escrita dos Evangelhos,
os críticos podiam propor a hipótese de que o Jesús dos Evan
gelhos fósse um Jesús falsamente aureolado, divinizado, em
contraste com o Jesús real da historia. Urna vez, porém, esta-
belecida a proximidade entre Jesús e o surto dos Evangelhos,
verifica-se que estes escritos devem reproduzir o eco vivo da
realidade histórica.

É digno de nota o íato de que os críticos racionalistas foram aos


poucos aceitando os dados da antiga tradicSo crista. Por exemplo,
Strauss, em 1835, admitía que os tres Evangelhos sinóticos (Mt, Me,
Le) tivessem sido redigidos a partir do ano de 150. Eis outras teses:

Mateus Marcos

Baur, 1847 130134 150 cérea de 150


Volkmar. 1870 105-110 75 80 cérea de 100
Keim, 1873 cérea de 68 cérea de 120 cérea de 90
Weiss, 1890 70 69 80
Harnack, 1897 70-75 65-70 78-93

Ao contrario, os documentos biográficos concernentes a


Buda sao todos assaz tardios; o principal déles, o «Lalita-Vis-
tara», como dito atrás, foi escrito no sáculo II da era crista,
portanto cérea de 600 anos após a morte do «Iluminado». Vé-se
assim que houve o tempo necessário as divagagóes da fantasia
dos discípulos em torno de Buda.

2) Os hindus nao eram alheios a endeusar seres huma


nos. As suas tradicóes religiosas mais antigás eram politeístas
(admitiam, e ainda admitem, muitos deuses),. Buda mesmo

— 544 —
CRISTO E BUDA 41

nao combateu os deuses populares; apenas silenciou a respeito


déles.
Ao contrario, a mentalidade dos Apostólos e dos judeus
em geral era radicalmente infensa 'á nocáo de endeusamento.
Um dos mais solenes principios religiosos de Israel era o mo
noteísmo ou a unicidade de Deus. No século n antes de Cristo,
os irmáos macabeus morreram mártires por nao aceitaren! as
idéias e as práticas do paganismo que os sirios lhes quiseram
impor. Donde se vé que a proclamacáo da Divindade de Jesús
Cristo nos Evangelhos deve ter fundamento objetivo; ela supóe
que Jesús se tenha credenciado com dizeres e feitos de modo
a se impor á fé dos discípulos. Leve-se em conta também que
a profíssáo de que Jesús é verdadeiro Deus, data dos primeiros
anos da pregacáo crista.

3) Note-se outrossim que o mundo judeu e o mundo


greco-romano em que os Apostólos pregaram, eram hostis tanto
á figura como á doutrina de Jesús. A mensagem de um Deus
que pela cruz veio salvar a humanidade, nao podía deixar de
ser extremamente chocante para quem a ouvia nos sáculos
I/II; Sao Paulo atesta que ela parecía ser, «para os judeus,
escándalo; para os gregos, loucura» (cf. 1 Cor 1,23). Por con-
seguinte, pode-se admitir que os ouvintes da pregacáo dos
Apostólos estivessem dispostos a denunciar e desmascarar
qualquer mentira, fraude ou invencáo alucinada concernente
a Jesús; se os Apostólos fugissem da realidade histórica, idea
lizando a figura de Cristo, o público os tena desmentido. Nao
houve, porém, quem refutasse os dizeres dos Apostólos; a his
toria refere apenas ameacas e martirios infligidos aos prega-
dores do Evangelho, nunca, porém, urna refutagáo.

Ao contrario, as noticias concementes a Buda se propa-


garam no mundo hindú e oriental, onde Siddharta era alta
mente conceituado; em tal ambiente o público nao estava em
condicóes de exercer a crítica que exerceu em relacáo a Jesús
Cristo; lendas e «estórias» puderam aparecer e transmitir-se
sem encontrar os obstáculos que teriam encontrado no Ocidente
«estórias» concernentes a Cristo.

4) Alias, deve-se reconhecer que também no tocante a


Jesús a imaginacáo popular cedeu a divagacóes lendárias. Com
efeito, nos sáculos II/V surgiu a literatura dos chamados
«apócrifos», em que se referem numerosos milagres e porten
tos realizados por Cristo ou em torno de Cristo. A fantasía
dos cristáos parece ter sido a criadora de tais «estórias»; o
seu estilo foge ao verossímil e aos trámites da Sabedoria Di-

— 545 —
42 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 120/19CO, qu. 5

vina. Ora a Igreja nunca reconheceu as narrativas dos apó


crifos, mas distinguiu-as raudamente da literatura genuína, ou
seja, dos quatro Evangelhos canónicos. Vé-se, pois, que a
Igreja teve consciéncia de que a verdade dos fatos concer-
nentes a Jesús Cristo podia ser deturpada ou desviada; por
conseguinte, tratou de estabelecer rigorosa selecáo ou triagem
entre as narrativas evangélicas e pseudo-evangélicas, de modo
a só guardar as que tinham a garantía da autenticidade.
O mesmo nao parece ter ocorrido entre as autoridades que
dirigiram o movimento budista em seus primeiros tempos.

5. ObservajSo complementar

Eis alguns trechos de livros apócrifos que a Igreja rejei-


tou, mas que poderiam ter seus paralelos na literatura budista
oficial:
a) Um dia, depois que completara sete anos, Jesús brin-
cava com seus companheiros... Faziam burrinhos, bois, pás-
saros de argila... Cada um dos meninos mostrava-se garboso
das suas habilidades... Jesús disse entáo aos amiguinhos:
«Véem essas figurinhas que fiz? Vou mandar-lhes que cami-
nhem». Ouvindo-o, os meninos disseram-lhe: «Serás tu o filho
do Criador?»
Jesús imperou a essas figuras que andassem e logo
puseram-se a saltar. Chamou-as de volta e elas retornaram...
Aos pardais Jesús mandou que voassem e voaram..., que
pousassem, e pousaram sobre as suas máos. Deu-lhes de comer,
e comeram, ... de beber, e beberam. Entáo os meninos foram
contar os fatos a seus genitores. Estes lhes disseram: «Filhos,
nao andem mais com ésse companheiro; é um mago. Nao se
aproximem mais déle e nao brinquem mais com ele».

b) Num sábado, o menino Jesús, brincando com outras


criancas, plasmou doze passarinhos de argila; um judeu que
o viu trabalhar désse modo, protestou e foi queixar-se a Sao
José. Éste censurou o menino, que, entáo, batendo palmas, fez
voar as avezinhas.
c) Doutra feita, Jesús fez secar a máo do mestre de
escola, que o quería espancar. Transformou em carneiros os
companheiros que com ele implicavam.
d) Um dia Jesús caminhava com Sao José. Encontrou
entáo um menino que corría e esbarrou com Jesús, o qual

— 546 —
CRISTO E BUDA 43

caiu. Jesús lhe disse: «Já que me puseste por térra, cairas e
nao mais te levantarás». No mesmo instante, a crianga caiu
e morreu.

Quem passa da leitura dos apócrifos para a dos Evange-


lhos canónicos, nao pode deixar de verificar a diferenga: nos
escritos do Novo Testamento, o estilo é simples e despreten-
sioso; há sobriedade ñas narracóes; observa-se que os autores
sagrados nada fizeram de artificial para comover ou atrair
os leitores; tem-se a impressáo de que narraram, certos de que
seus relatos se imporiam por si mesmos, dada a veracidade dos
fatos descritos.
A propósito, observava muito bem Jean-Jacques Rousseau,
racionalista do século XVIII:

«Diremos nos que a historia do Evangelho foi inventada a gósto?


Nao é assim que se inventa... Autores judeus nunca teriam encon
trado ésse tom e essa moral; o Evangelho tem características de ver-
dade tüo notorias, táo impressionantes. táo in imita veis, que o inventor
dessas narrativas saria mais extraordinario do que o próprio herói»
(«Émile. Proíession de íoi d'un vicaire savoyard»>.

Em conclusáo: um confronto honesto entre Jesús Cristo


e Buda mostra nao haver possibilidade de confusáo entre um
e outro, embora a ambos se atribuam traaos maravilhosos. O
prodigioso em Buda traz evidentemente as notas do fantasista
e do espurio, nao resistindo á crítica historiográfica. Ao con
trario, o portentoso em Jesús Cristo é sobrio; pode resistir ao
controle hostil que imediatamente lhe aplicou o mundo judeu,
grego e romano; parece que só pode atravessar os séculos por
que era a expressáo mesma da verdade.

Bibliografía:

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A. Lapple, «Mensagem bíblica para o nosso tempo». Lisboa 1968.
Grupo de especialistas. «100 problemas bíblicos». Sao Paulo 1969.
F. Amiot, «Évangiles apocryphes^. Paris 1952.
'Buddha», em «Encyclopaedia Britannica», vol. 4, pp. 325-327.

Estéváo Bettencourt O.S.B.

— 547 —
44 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 120/1969

CORRESPONDENCIA MIÚDA

Romualdo Bemardes Art (GB): «Gostaria de saber o que há de


verdadeiro na tao apregoada 'Oracüo de desculpas aos judeus1 íeita
pelo íalecido Papa Joáo XXIII».

— Foi encontrada entre os escritos de Joáo XIII urna oracáo redi-


gida por éste Papa poucos días antes de sua morte. Nessa prece, o
Pontífice, em nome dos íiéis católicos, pedia a Deus perdáo por maus
tratos que estes infligiram aos judeus no decorrer dos séculos.
Um espécimen désses maus tratos é a campanha movida pelos
reis da península ibérica a partir do século XVI contra os judeus (e
árabes) com íins políticos e nacionalistas; os reís sarviamse do tribu
nal da Inquisicáo, sem levar na devida consideracáo as determiriacoes
da Santa Sé. Devemos ter presente que nem tudo o que os católicos
lizeram no decorrer dos tempos foi íeito em nome da S. Igreja ou por
inspiracáo das supremas autoridades da Igreja. Por conseguinte, nao
se devem atribuir, sem mais, á S. Igreja os abusos que os católicos
hajam cometido em sua historia. A Igreja é, conforme Sao Paulo, a
Esposa de Cristo sem mancha nem ruga, capaz de apontar e sanear
as íalhas de seus filhos.
É preciso também considerar os episodios da historia passada em
seu quadro próprio; o que éles par vézes tém de chocante para nos,
podiam nao o ter para os antigos; o modo de ver e as circunstancias
eram diferentes, de maneira que nossos antepassados podiam as vézes
fazer de boa fé coisas que hoje seriam denunciadas como pouco hu
manas. Comprcendamos a historia e abstenhamonos de julgar as
consciéncias, pois só Deus as penetra. — De resto, sabemos que o
Concilio do Vaticano II publicou bela Declaracáo sobre os judeus, em
que reconhece as prerrogativas outorgadas por Deus a éste povo e
pede nao sejam os judeus coletivamente tidos como deicidas.
A mencionada oragáo de Joáo XXIII íoi publicada pelos meios do
Vaticano em 1966. Acha-se traduzida na REB (Revista'Eclesiástica
BrasUeira), vol. 26 (1966), p. 995-6.

RESENHA DE IJVROS

O Senhor e a Historia, por Mons. Dr. Roberto Mascarenhas Roxo.


— Editora Vozes, Petrópolis 1969, 135x205 mm, 239 pp.
O autor é um dos grandes teólogos com que contamos atualmente
no Brasil, membro da Comissáo Internacional de Teología nomeada
pelo S. Padre Paulo VI. No livro ácima, tenta íazer urna síntese de
todo o designio salvifico de Deus; mostra como a criagáo do mundo é
urna manifestacáo da sabedoria de Deus Uno e Trino; a encarnacáo
do Verbo na plenitude dos tempos vem a ser a plena revelagáo da vida
e do plano de Deus. A Igreja prolonga e desdobra ésse misterio da
Encarnacjio e tende á sua consumagáo no fim dos tempos. O autor se
baseia tartamente em textos bíblicos, na Suma Teológica de S. Tomás,
assim como nos documentos do Concilio do Vaticano II; utiliza tam
bém o pensamento de TeUhard de Chardin, no que tem de válido.

— 548 —
A rioutrina que Mons. Roxo propóe, é sólida e segura; ajuda o
leitor a abrir os olhos para a unidade e a grandeza do designio salví-
fico de Deus. Todavía a obra recorre a vocabulario muito técnico; além
do que, contrói palavras novas ou compostas, como «desexisténcia,
¿Ínticamente, ónticamente crista, Verbo-plano, antes definível, mo-
mento-hapax, cristifieagáo, aeolhimento crístico. teologizagíio...» Tal
vocabulario tem sua lógica; contudo comunica ao livro um cunho
* preciosista e rebuscado», que só prejudica o trabalho do autor e do
leitor. Cremos que é possível exprimir as mais altas verdades da fé
em linguagem precisa, mas acessive^ aos leitores de nossos dias. — O
livro destina-se a um público de nivel teológico elevado; sem preparo
previo, o leitor difícilmente apreciará as páginas de Mons. Roxo.

Nos, Gente do Povo, por Madeleine Delbrél; tradugáo das Monjas


Beneditinas da Abadía de Nossa Senhora das Gracas. _ Editora Agir,
Rio de Janeiro 1969. 140 x 212 mm. 258 pp.
A escritora é uma crista de grande valor intelectual c cultural, que
se converteu do ateísmo ao Cristianismo em 1933. Após brilhanle car-
reirá literaria, morreu aos 13 de outubro de 1964 subitáneamente, em
plena maturidade de espirito.

O livro ácima apresenta uma serie de notas intimas, reflexóes e


palestras de Madeleine Delbrél escritas entre 1933 e 1964. Vazadas em
estilo muito polido e agradável com sabor poético, versam sobre ateís
mo, marxismo, Igreja em nossos dias, espiritualidade crista, oragao...,
visando despertar a auténtica fibra crista nos leitores. Haja vista o
tópico muito característico: «Para o cristáo..., só há uma morte abso
luta: perder a íé» tp. 147).

Á guisa de introduc.no no livro, o P. Jacques Loew (outro grande


convertido) apresenta a personalidade da autora com tragos biográfi
cos da raesma, pondo em relevo a coragem e a perspicacia dessa notá-
vel figura feminina. — O livro se recomenda a todos os que eslimam
a boa literatura como também as pessoas que desejam meditar e se
entreter com Deus.

InlrodiiQao Gcral h. Filosofía, Lóffica e Cosmología (Tratado de


Filosofía, tomo I), por Régis Jolivet; tradueáo de Geraldo Plnheiro
Machado. — Editora Agir, Rio de Janeiro 1969, 160 x 230 mm, 416 pp.

Aparcceu em boa hora, depois de muito aguardado, o volume I do


Tratado de Filosofía de Jolivet, do qual já possuiamos a Psicología, a
Metafísica e a Moral. Completouse assim, em traducáo portuguesa, a
notável obra. O autor propóe a filosofía perene, enriquecida, porém,
por dados das ciencias positivas modernas; nao omite o confronto com
as mais impartantes correntes do pensamento contemporáneo. £ a fir
meza do raciocinio escolástico associada á abertura para tudo que há
de válido ñas ciencias naturais que torna particularmente digna de
estima a obra de Jolivet. No volume ácima merecem destaque as con-
sideragoes sobre o ser vivo e a vida (pp. 360-403): o autor passa em
revista os dados recentes da paleontología e da biología, leva em conta
o fenómeno «evolugáo». fornecendo assim uma orientagao filosófica
bem fundamentada e atualizada. ao mesmo tempo que segura.

E. B.
NO PRÓXIMO NÚMERO :

Igreja reconciliada com Maconaria ?

A infancia de Jesús em Le 1-2

Sínodo dos Bispos e contestacao

Opiniao pública na Igreja

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»

{porte comum NCr$ 20,00

porte aéreo NCr$ 25,00

Número avulso de qualquer mes e ano NCr$ 2,00

Número especial de abril de 1968 NCr$ 3,00

Volumes encadernados: 1957 a 196S (prego unitario). NCr$ 17,00

Índice Geral de 1957 a 1964 NCr$ 10,00

Índice de qualquer ano NCr$ 1,00

Encíclica «Populorum Progressio» NCr$ 0,50

Encíclica «Humanae Vitae» (Regulacao da "Natalidade) NCr$ 0,70

EDITORA BETTENCOURT LTDA.

REDAQAO ADJIINISTBAgAO
Caixa posta) 2.666 ■ Roa Senador Dantas, 117, sala 1134
ZC-00 Tel.: 232-2628
Rio de Janeiro (GB) Rio de Janeiro (GB) • ZC-06
ÍNDICE 1969

GUNTE

e
ÍNDICE 1969

(Os números á direita indicam respectivamente fascículo, ano de edicáo,


questáo focalizada e página)

ABSURDO OU MISTERIO? 118/1969, qu. 1, p. 411.


AGNOSTICISMO e secularizacáo 113/1969, qu. 1, p. 191.
«AGOON», luta segundo S. Paulo 120/1969, qu. 3, p. 530.
AMOR A CRISTO e vida religiosa 115/1969, qu. 3, p. 302;
A IGREJA l .' 114/1969, qu. 3, p. 259.
ANESTÉSICOS E SOPORÍFEROS 118/1969, qu. 5, p. 443.
APARICOES DE CRISTO RESSUSCITADO. 112/1969, qu. 2, p. 148.
APÓCRIFOS BÍBLICOS 120/1969, qu. 5, p. 545.
ASPIRACOES HUMANAS e existencia de
Deus .' 117/1969, qu. 2, p. 373.
ASTROLOGIA E HORÓSCOPO 116/1969, qu. 2, p. 335.
ASTRONÁUTICA e missao do homcm 117/1969, qu. 1, p. 363.
ATEÍSMO e atitude do cristáo 119/1969, qu. 2, p. 9;
e Psicología 110/1969, qu. 1, p. 46;
e Secularizacáo 113/1969, qu. 1, p. 191.
AUTENTICIDADE DO SUDARIO DE
TURIM 119/1969, qu. 2, p. 466.
AUTO-AFIRMACAO DO HOMEM e reve
rencia a Deus 117/1969, qu. 1, p. 369.
«AUTOMAQÁO E FUTURO DO HOMEM». 115/1969, qu. 1, p. 275.

BONHOEFFER, DIETRICH, e fé 111/1969, qu. 2, p. 105.

BUDA e Cristo 120/1969, qu. 5, p. 537;


e milagros 110/1969, qu. 2. p. 62.
BUDISTAS, MONGES, e católicos 113/1969, qu. 5, p. 224.
BULTMANN, RUDOLF '. 115/1969, qu. 1, p. 283.

CALENDARIO LITÚRGICO REFORMADO. 116/1969, qu. 3, p. 341.


CARISMA E ESTRUTURAS 115/1969, qu. 3, p. 293.
CASAMENTO, ver MATRIMONIO

— 3 —
CASO DE GALILEU 114/1369, qu. 4, p. 263.
CASTIDADE PRÉ-MATRIMONIAL ........ 117/1969, qu. 4, p. 393.
CATECISMO' HOLANDÉS 113/1969, qu. 2, p. 205;
114/1969, qu. 2, p. 240;
119/1969, qu. 3, p. 474.
CATEQÚESE E QUERIGMA 118/1369, qu. 2, p. 423.
VTO DE JESÚS 115/1969, qu. 2, p. 287.
NANISMO 116/1969, qu. 2, p. 341.
CIENCIAS NATURAIS e paraíso terrestre. 120/1969, qu. 2, p. 526.
COLABORACAO ENTRE CRISTAOS E
ATEUS 109/1969, qu. 2, p. 14.

COMISSAO DE CARDEAIS e Catecismo


Holandés 113/1969, qu. , p. 205.
COMPUTADOR e ser humano 115/1969, qu. 1, p. 275;
119/1969, qu. 1, p. 462.
COMUNIDADES DE BASE 117/1969, qu. 3, p. 385.
CONCUPISCENCIA e inocencia original .... 120/1969, qu. 2, p. 524.
CONFISSAO AURICULAR, necessidade de. 111/1969, qu. 4, p. 12L
CONFISSOES COMUNITARIAS, oportunida-
de de 11V1969, qu. 4, p. 114.
. CONSCIÉNCIA MORAL 112/1969, qu. 4, p. 168;
PESSOAL E MAGISTERIO
DA IGREJA 112/1969, qu. 4, p. 173.
CONTESTACAO e Marcuse 114/1969, qu. 1, p. 237.
na Igreja 115/1969, qu. 3, p. 295.
CONTINENCIA SEXUAL e saúde 117/1969, qu. 4, p. 395.
COSMONAUTAS e viagem á Lúa 117/1969, qu. 1, p. 363.
CRISE RELIGIOSA, que significa? 114/1969, qu. 3, p. 252.
CRISTIANISMO SEM DEUS 109/1969, qu. 1, p. 1.
CRISTO E BUDA 120/1969, qu. 5, p. 537.
CRITERIOS DA REFORMA DO CALENDA
RIO 116/1969, qu. 3, p. 344.
CRÍTICA E MILAGRES DE JESÚS 110/1369, qu. 3, p. 56.
CRUZ E MORTE DE JESÚS 119/1969, qu. 2, p. 472.
CULPA COLETIVA: significado 110/1969, qu. 3, p. 70.
CULTO DOS SANTOS 116/1969, qu.' 3, p. 341.

DEFREGGER, MATÍAS, bispo auxiliar de


Munique 119/1969, qu. 6, p. 498.
DESCONTIÑUIDADE ENTRE SAGRADO E
PROFANO 113/1969, qu. 1, p. 189.

— 4 —
DESEQUILIBRIO .PSÍQUICO e vida mo- " ■'-'&?&&
derna 111/1969, qu. 1, p;¿95;'í
118/1969. qu. 5, p. 441/
DESSACRAUZACAO ..'. 109/1969, qu. 1, p • í;
112/1969, qu. 1, p. 137.
«DEUS EX-MACHINA» 111/1969, qu. 2, p. 107.
DEUS EXISTE? 117/1969, qu. 2 p 372"
PARA QUÉ? 118/1969, qu. 1 p 411
«VIVO OU MORTO» 112/1969; qu. L p. m
DÍA DO SENHOR 119/1969, qu. 4, p. 487.
«DIABO CELEBRA MISSA» 114/1969, qu. 3, p. 252.
DIALOGO dos cristáos com os incrédulos ... 109/1969, qu. 1, p. 9;
da Igreja com o mundo 118/1969, qu. 1, p. 411;
115/1969, qu. 4, p. 308.
DISPARIDADE DOS EVANGELISTAS NO
RELATO DA RESSURREICAO DE JESÚS 112/1969, qu. 2, p. 156.
DISPENSA DO MATRIMONIO PELO PAPA 119/1969, qu. 5, p. 493.-
DIVÓRCIO e privilegio paulino 118/1969, qu. 4 p. 431
e privilegio petrino 119/1969, qu. 5, p. 490.
DOMINGO E MISSA 119/1969, qu. 4, p. 487,
DOR, sancao do pecado 120/1699, qu. 2, p. 524.
DURACAO DO TRABALHO HUMANO e
automacáo 111/1969, qu. 1, p. 90;
DA VIDA HUMANA em au
mento 111/1969, qu. 1, p. 91.

EDUCACAO SEXUAL: sim ou nao? como? 116/1969, qu. 4, p. 354.


ELJADE, MIRCEA, historiador * 112/1969, qu. 1, p. 153 e 145.
ENCONTRÓ DE MONGES CATÓLICOS E
BUDISTAS 113/1969, qu. 5, p. 224.
ENTORPECENTES E «HIPPIES> 120/1969, qu. 1, p. 509.
ERA ESPACIAL E RELflGIAO 117/1969, qu. 1, p. 370.
EROS E LOGOS, segundo Marcuse 114/1969, qu. 1, p. 234."
ESCATOLOGIA e sermáo sobre a montanha 118/1969, qu. 2, p. 420.
ESCOLAS e educacáo sexual 116/1969, qu. 4, p. 354,
ESCRIBAS DE ISRAEL e Mt 5-7 118/1969, qu. 2, p. 425.
ESSÉNIOS E CELIBATO 115/1969, qu. 2, p. 289.
ESTADOS NATURAL E SOBRENATURAL. 112/1969, qu. 3, p. 163.
«ESTAREI CONTIGO» na Biblia 112/1969, qu. 4, p. 174.
ESTRUTURAS DA IGREJA e renovagáo ... 115/1969, qu. 3, p. 295.
ESTRÉLAS (artistas) e supersticáo 116/1969, qu. 2, p. 331.
ÉTICA DO FUTURO 115/1969, qu. 1, p. 284.
EUCARISTÍA no Catecismo Holandés , 119/1969, qu. 3, p. 479.

— 5 —
«EVANGELHO ANTES DE S. MATEUS
(O)», de Fernando Fortes 118/1969,^1. 3, p. 428.

EVANGELHOS e mUagres de Jesús 110/1969, qu. 2, p. 54.


EVOLUCIONISMO E BIBLIA 120/1969, qu. 2, p. 518.
EXISTENCIA DE DEUS 117/1969, qu. 2, p. 372;
118/1969, qu. 1, p. 411.
EXPIACÁO DE CRISTO 114/1969, qu. 2, p. 240.

FARISEUS e. sermáo sobre a montanha 118/1969, qu. 2, p. 425.


FÉ ADULTA 111/1969, qu. 2, p. 107.
FÉ, medula da vida crista 118/1969, p. 409.
FÉ E VIDA 109/1969, qu. 2, p. 12.S
FECUNDAQAO ARTIFICIAL 116/1969, qu. 1, p. 317.
FILME «AS SANDALIAS DO PESCADOR». 115/1969, qu. 4, p. 304;
«2001. UMA ODISSÉIA NO ES-
PACO» 119/1969, qu. 1, p. 459.
FIM DO MUNDO EM 2000 110/1969, qu. 5, p. 81.
FORMACAO DE RELIGIOSOS 115/1969, qu. 3, p. 293.
FOURASTIÉ, JEAN 111/1969, qu. 1, p. 89.
FREUD, S. e Marcuse 115/1969 qu. 1, p 278;
114/1969, qu. 1, p. 229.
FUTUROLOGIA, prognósticos da 11171969, qu. 1, p. 89;
115/1969, qu. 1, p. 276.
«GALILEU PALILEI» no teatro 114/1969, qu. 1, p. 236.
GRÁFICO E SERMAO DA MONTANHA ... 118/1969, qu. 2, p. 427.

HIPNOTOXINA 118/1969, qu. 5, p. 441.


«HIPPIES», origem e pensamento dos 120/1969, qu. 1, p. 507.
HISTORIA DAS RELIGIÓES o paraíso ter
restre 120/1969, qu. 2, p. 527.
DO PRIVILEGIO PETRINO ... 119/1969, qu. 5, p. 491.
DEPOE SOBRE CRISTIANISMO 11171969, qu. 5, p. 126.
HOMEM EM TUBO DE ENSAIO 116/1969, qu. 1, p. 317.
H. «UNIDIMENSIONAL», de Marcuse 114/1969, qu. 1, p. 229.
«HOMO RELIGIOSUS» (homem religioso).. 112/1969, qu. 1, p. 142.
HORÓSCOPO 116/1969, qu. 2, p. 335.

— 6 —
I

IGREJA, amar a : 114/1969, qu. 3, p. 259;


crise na 114/1969, qu. 3, p. 252;
magisterio da .' 112/1969, qu. 4, p. 168;
114/1969, qu. 2 e 4, p. 246 e
266.
IGREJAS, por que construi-las? 109/1969, qu. 4, p. 24.
INFALÍBILIDADE DA IGREJA 112/1969, qu. 4, p. 168;
114/1969, qu. 2 e 4,' p. 246 e
266.
INFERNO: REALIDADE OU MJTO? 109/1969, qu. 5, p. 30.
INQUISICAO e Galileu 114/1969, qu. 4, p. 263.
INSEMINAQAO ARTIFICIAL 116/1969, qu. 1, p. 317.
INSÓNIA, combate á 118/1969, qu. 5, p. 447.

JANSENISMO e magisterio da Igreja 112/1969, qu. 4, p. 176.


JESÚS CASADO? 115/1969, qu. 2, p. 287;
HOMEM ENDEUSADO? 110/1969, qu. 2, p. 65;
120/1969, qu. 5, p. 543;
SEPULTADO VIVO? 119/1969, qu. 2, p. 472.
<JUDAS TRAIDOR OU TRAÍDO?», de Da-
nillo Nunes 109/1969, qu. 3, p. 15.
JUDEUS E VIRGINDADE 115/1969, 'qu. 2, p. 288.
JUSTICA ORIGINAL 112/1969, qu. 3, p. 160;
120/1969, qu. 2, p. 522;
NOVA ; 118/1969, qu. 2, p. 425.
JUVENTUDE MODERNA E IDEAL DE
VIDA : 120/1969, qu. 1, p. 516.
115/1969, qu. 3, p. 297;

LEÍ DE MOISÉS e divorcio 118/1969, qu. 4, p. 435.


LEÍ NATURAL 112/1969, qu. 4, p. 172.
LIBERDADE e lei moral 112/1969, qu. 4, p. 168.
LIBERDADE RELIGIOSA, que é? 115/1969, qu. 4, p. 313.
LIVRE EXAME protestante 112/1969, qu. 4, p. 177;
114/1969, qu. 4, p. 270.
«LIVRO BRANCO SOBRE O NOVO CATE
CISMO» 119/1969, qu. 3, p. 486.
«UVRO DAS PROFECÍAS», de Mozart Mon-
teiro 110/1969, qu. 5, p. 81.
LOGOS E EROS, segundo Marcuse 114/1969, qu. 1, p. 235.
Á^iagém &;.".; •...:....... . _ 117/1969, qu. 1, p. 363.
/LUTÁ; DE CLÁSSÍES ■'. 118/1969, qu. 3, p! 428;
<^ \NA ORACAO: SENTIDO TEOLÓ-
• •• GICO .;,; ........ 120/1969, qu. 3, p. 530.

- M

MAGISTERIO DA IGREJA e consciéncia


r ' pessoal 112/1969, qu. 4, p. 168;
e iníalibiUdade. 114/1969, qu. 2 e 4/P- 246 e
266.
MARCUSE e «hippies» ' 120/1969, qu. 1, p¡ 515;
e «homem unidimensional» 114/1969, qu. 1, p. 229;
115/1969, qu. 1, p. 278 e 284.
MARÍA VIRGEM, no Catecismo Holandés.. 119/1969, qu. 3, p. 483.
MASTURBACAO E PECADO 110/1969, qu. 4, p. 71.
MATRIMONIO INDISSOLOVEL 118/1969, qu. 4, p. 431;
NAO CONSUMADO 119/1969, qu. 5, p. 490;
DE REÍS E PAPADO 119/1969, qu. 5, p. 496.
MATURIDADE HUMANA na vida religiosa. 115/1969, qu. 3, p. 302.
MEDICINA E CASTIDADE 117/1969, qu. 4, p. 395.
MERTON, TOMAS: vida e personalidade ... 113/1969, qu. 4, p. 214.
MIAGRE, que é? • 110/1969, qu. 2, p. 55.
MILAGRES DE CRISTO e critica 110/1969, qu. 1, p. 54;
e portentos náo-
cristáos 110/1969, qu. 2, p. 58;
e significado reli
gioso dos 111/1969, qu. 3, p. 110.
MISSA AÓS DOMINGOS 119/1969, qu .4, p. 487.
MISTERIO OU ABSURDO? .■ 118/1969, qu. 1, p. 411.
MITO, que é? 112/1969, qu. 1, p. 141.
MITO e mentalidade moderna 112/1969, qu. 1, p. 142;
116/1969, qu. 2, p. 338.
MOISÉS E DIVORCIO 118/1969, qu. 4, p. 435.
MONGES CATÓLICOS E BUDISTAS REU
NIDOS 113/1969, qu. 5, p. 224 .
MORTE, sancáo do pecado 112/1969, qu. 3, p. 160;
DE CRISTO, real ou aparente 120/1969, qu. 2, p. 522;
DE DEUS 119/1969, qu. 2, p. 464;
111/1969, qu. 2, p. 101;
115/1969, qu. 1, p. 282.
MT 5-7 (sermao sobre a montanha) 118/1969, qu. 2, p. 416.
MURARO, ROSE-MARIE 115/1969, qu. 1, p. 275.

NATUREZA HUMANA, estados da 112/1969, qu. 3, p. 160.


NOSTRADAMUS 110/1969, qu. 5, p. 85.

— 8 —
NOVICIADO e Instr. «Renovationis causam» 115/1969/ qu. 3, p. 299.
NUNES, DANILLO 109/1969, qu. 3, p. 15.

O
OBSTÁCULOS A EXPANSAO DO CRISTIA-
NISMO 111/1969, qu. 5, p. 133.
OCULTISMO HOJE .'. 116/1969, qu.. 2, p. 329.
«ODISSÉIA NO ESPACO (2.001)», filme .... 119/1969, qu. 1, p. 459.
OITAVA DE ORACÓES PELA UNIDADE .. 109/1969, qu. 6, p. 39.
ORAQAO, em igreja 109/1969, qu. 4, p. 24.
luta contra Deus? 120/1969, qu. 2, p. 530.
ORDEM NATURAL E ORDEM SOBRENA
TURAL » 112/1969, qu. 3, p. 160;
* 120/1969, qu. 2, p. 518.
OR1GEM DO CRISTIANISMO 111/1969, qu. 5,. p. 131.

«PAI NOSSO» de Fernando Fortes 118/1969, qu. 3, p. 430;


e fundo aramaico 113/1969, qu. 2, p. 193.
PARAÍSO TRRESTRE E EVOLUCIONISMO 120/1969, qu. 2, p. 519;
112/1969, qu. 3, p. 163.
PATERNIDADE DIVINA e «Pai Nosso» ... 113/1969, qut 2, p. 197;
DO PAPA 109/1969, qu. 7, p. 42.
PAULINO PRIVILEGIO 118/1969, qu. 4, p. 436.
PAULO VI e «Sedia Gestatoria» 109/1969, qu. 7, p. 41.
PECADO COLETIVO 110/1969, qu. 3, p. 68;
E MASTURBACAO 110/1969, qu. 4, p. 71;
ORIGINAL 120/1969, qu. 2, p. 518.
PENAS DO INFERNO 109/1969, qu. 5, p. 33.
PETRINO PRIVILEGIO 119/1969, qu. 5, p. 490.
120/1969, qu. 1, p. 516.
PRECEITO DA MISSA DOMINICAL 119/1969, qu. 4, p. 487.
PRÉ-HISTÓRIA DOS EVANGELHOS 118/1969, qu. 2, p. 422.
PRÉ-NOVICIADO ...: ;... 115/1969, qu. 3, p; 298.
PRESENCA DE DEUS EM SEU TEMPLO.. 109/1969, qu. 4, p. 26.
EUCAR1STICA 114/1969, qu. 2, p. 245.
PRETERÑATURAIS, DONS 112/1969, qu. 3, p. 163.
PRIVILEGIO PAULINO 119/1969, qu. 5, p. 490;
PETRINO '... 118/1969, qu. 4, p. 436.
PROFANIZAQAO DO SAGRADO 112/1969, qu. 1, p. 138.
PROFECÍAS sobre íim do mundo 110/1969, qu. 5, p. 81.
PROFISSAO RELIGIOSA e maturidade 115/1969, qu. 3, p. 297.

— 9 —
PROMETEU E ORFEU, segundo Marcuse... 114/1969, qu. 1, p. 235.
PROSTITUTA e seu drama 118/1969, qu. 6, p. 450.
PROVAS DA EXISTENCIA DE DEUS 117/1969, qu. 2, p. 372;
118/1969, qu, 1, p. 411.

PRUDENCIA, dependente da formado do


sujeito 114/1969, qu. 3, p. 255.
PSICOLOGÍA DO ATEU 110/1969, qu. 1, p. 47;
E VIDA RELIGIOSA 115/1969, qu. 3, p. 300.

«QUARENTA MIL HORAS (AS)», de Jean


Fourastié 111/1969, qu. 1, p. 89.
«QUEM SQU? POR QUE EXISTO? 118/1969, qu. 1, p. 415.
QÚERIGMA E CATEQUESE 118/1969, qu. 2, p. 423.
QUMRAN 115/1969, qu. 2, p. 289.

REFORMA DO CALENDARIO LITÚRGICO. 116/1969, qu. 3, p. 342.


REGRA DE OURO 118/1969, qu. 2, p. 418.
RELIGIAO SECULARIZADA 112/1969, qu. 1, p. 137;
115/1969, qu. 1, p. 280.
RELIGIOSA e amor de esposa 118/1969, qu. 6, p. 452.
RELIGIOSOS e renovacáo 115/1969, qu .3, p. 293.
REMEDIOS PARA DORMIR 118/1969, qu. 5, p. 441.
RENOVACÁO DA VIDA RELIGIOSA («Re-
novationis causam») 115/1969, qu. 3, p. 293.
RESSURREICÁO DE JESÚS NOS EVAN-
GELHOS 112/1969, qu. 2, p. 148.

SACRALIZACÁO DO PROFANO 112/1969, qu. 1. p. 138.


EXAGERADA 113/1969, qu. 1, p. 18o.
SACRAMENTO DO MATRIMONIO, indisso-
iüvel 118/1969, qu. 4, p. 431;
119/1969, qu. 5, p. 490.
SACERDOCIO MINISTERIAL no Catecismo
Holandés 114/1969, qu. 2, p. 248.
SACRIFICIO DA CRUZ no Catecismo Ho
landés 114/1969, qu. 2, p. 242.
«SANDALIAS DO PESCADOR (AS)», filme. 115/1969, qu. 4, p. 304.
SANTOS «CASSADOS» E «.CONFINADOS»? 116/1969, qu. 3, p. 341.
SANTUARIOS, para qué? 109/1969, qu. 4, p. 24.

— 10 —
«SECULARIZACAO», diversos sentidos de... 109/1969, qu, 1, p. 2;
112/1969, qu. 1, p. 138;
113/1969, qu. 1, p. 183;
115/1969, qu. 1,- p. 281.
«SEDIA GESTATORIA» 109/1969, qu. 7, p. 43.
SEMINARIOS e renovado 115/1969, qu. 3, p. 298.
SENSO MORAL e existencia de Deus 117/1969, qu. 2, p. 378.
SENTIDO DA VIDA E DEUS 118/1969, qu. 1, p. 412.
SERMAO SOBRE A MONTANHA (Mt 5-7). 118/1969, qu. 2, p. 416.
SOBRENATURAL, estado 112/1969, qu. 3, p. 163.
SOCIEDADE DE CONSUMO 11171969, qu. 1, p. 89;
IDEAL, segundo Marcuse 114/1969, qu. 1, p. 229;
PRIMITIVA E SACRALIZA- 114/1969, qu. 1, p. 234;
CAO 113/1969, qu. 1, p. 185.
SONHOS e ilusñes coletivas 112/1969, qu. 2, p. 154.
e supersticáo 116/1969, qu. 2, p. 333.
SONÓ, que é? 118/1969, qu. 5, p> 442.
SOPORÍFEROS e consciéncia Crista 118/1969, qu. 5, p. 441.
SUDARIO DE TURIM 119/1969, <agg?2, p. 465.
SUGESTAO e milagres de Jesús 110/1969j«líT 2, p. 66;
112/1969, *íu. 2, p. 154.
SUPERSTICOES MODERNAS, causas e re
medios 116/1969, qu. 2, p. 338.
SUPLEMENTO DO CATECISMO HO- v
LANDÉS 119/1969, qu. 3, p. 474.

TALISMAS HOJE 116/1969, qu. 2, p. 336.


TALMUD dizeres rabínicos 115/1969, qu. 2, p. 287;
118/1969, qu. 2, p. 418.

TECNOLOGÍA e ano 2000 115/1969, qu. 1, p. 275;


e Marcuse (Contestacao) ... 114/1969, qu. 1, p. 229.
TEILHARD DE CHARDIN (Télémond) .... 115/1969, qu. .4, p. 311.
TEMPLOS e culto sagrado 109/1969, qu. 4, p. 24.
TEOLOGÍA DA «MORTE DE DEUS» Í?2/Í989' T í' P' 138"
113/1969^ qu! l! p. 183;
115/1969, qu. 1, p. 282.
TERAPEUTAS, monges judeus 115/1969, qu. 2, p. 291.
TERCEIRO MUNDO e revolucáo 114/1969, qu. 1, p. 234.
.<TFP» 114/1969, qu. 3, p. 258.
114/1969, qu. 1, p. 229.
TOMAS MERTON 113/1969, qu. 4, p. 214.
TRABALHO HUMANO e automacáo • 111/1969, qu. 1, p. 89.

— 11 —
f: TRAICAO DE JUDAS -. .7 109/1969, qu. 3, p. 16.
. TRÉNTO e coníissáo sacramental 111/1969, qu. 4, p. 122.

«UMAS E OUTRAS», de Chico Buarque .... 118/1969, qu. 6, p. 448/


«UNIDIMENSIONAL» HOMEM, de Marcuse. 114/1969, qu. 1, p. 229.
UTOPIA e Marcuse 114/1969, qu. 1-, p. 234 e 239.

VATICANO, aparato e simplicidade do 115/1969, qu. 4, p. 310.

VIAGEM A LÚA e religiao 117/1969, qu. 1, p. 363.


VIDA, para qué? 118/1969, qu. 1, p. 415.
VINCULO MATRIMONIAL, natural e sacra
mental 118/1969, qu. 4, p. 433.
VIRGINDADE NO "JUDAISMO E NO CRIS-
• TIANISMO 315/1969, qu. 2, p. 292;
DE MARÍA no Catecismo
Holandés 119/1969, qu. 3, p. 483.
VOTOS TEMPORARIOS OU COMPRO-
MISSOS? 115/1969, qu. 3, p. 300.

WEST, MORRIS 115/1969, qu. 4, p. 304.

E D I T O R I A I S

aínda que fósse contra toda es-


PERANCA 115/1969, p. 273.

HORA DIFÍCIL... HORA PRECIOSA 113/1969, p. 181.

«O JUSTO VIVE DA FÉ» (Rom 1, 17) ..... 118/1969, p. 409.

PRECARIOS COMO SOMOS 119/1969, p. 457.

SINAIS DOS TEMPOS 120/1969, p. 505.


UM SONHO QUE SE TORNOU REALJ.DADE 117/1969, p. 361.

— 12 —
LIVROS APRECIADOS

ANDRY-SCHEPP — DE ONDE VÉM OS' 118/1969, p. 455.


BEBÉS ■ •
BARRETO, A. DANTAS — O ANUNCIO DO
REINO DE DEUS. REFLEXÓES S6BRE
AS PARÁBOLAS 115/1969, p. 317.
BOÜILLARD, H. — A LÓGICA DA FÉ .... 113/1969, p. 229.
BURNIER, M. PENIDO —PERSCRUTANDO
AS ESCRITURAS. SAO MARCOS (I),
(II) e (III) 114/1969, 3» Capa.
BURNIER, M. PENIDO — PERSCRUTANDO
AS ESCRITURAS. SAO MARCOS (IV) .. 118/1969, 3% capa.
BURNIER, M. PENIDO —PERSCRUTANDO
AS ESCRITURAS, SAO MARCOS (V) ... 119/1969, 3' capa.
DANIÉLOU, J. CARD. — OS EVANGE-
LHOS DA INFANCIA 117/1969, p. 407.
DELBRÉL, M. — NOS, GENTE DO POVO. 120/1969, 3' capa.
DIVERSOS — O ASSUNTO É PADRE 113/1969, p. 228.
DIVERSOS — CEM PROBLEMAS BÍBLI
COS 119/1969, p. 504.
DIVERSOS — CEM PROBLEMAS DE CONS-
CIÉNCIA 119/1969, p. 504.
DUVAL, CARD. — LEIGOS, SACERDOTES.
E RELIGIOSAS 109/1969, 3* capa.
EGENOLF, HANS ANDREAS — A SE
GUNDA EPÍSTOLA AOS TESSALONI-
CENSES 119/1969, 3* capa.
FORTES, F. — O EVANGELHO ANTES DE
S. MATEUS 118/1969, p. 428.
FOURASTIÉ, J. — AS 40.000 HORAS 111/1969, p. 89.
GOUYON, P. — O CONCILIO E A EDUCA-
CAO CRISTA 110/1969, 3* capa.

HÁRING, B. — O QUE CRISTO QUER DE


NóS 110/1969. p. 88.
HAURET, CON. — O NOSSO SALTERIO . 117/1969, p. 407.
HEIDEGGER, M. — SOBRE O PROBLEMA.
DO SER. O CAMINHO DO CAMPO 115/1969, p. 317.
JOLIVET, R. — INTRODUCAO GERAL A
filosofía, lógica e cosmología .. 120/1969, 3» capa.
JORGE, SALOMAO — O DIABO CELEBRA
A MISSA 114/1969, p. 252.-
LÁPPLE, A. — MENSAGEM BÍBLICA
PARA O NOSSO TEMPO 117/1969. p. 408.

— 13 —
LAGE, A. — A REVOLUCAO DA ARTE
MODERNA 115/1969, p. 317.
LANDUCCI, P. C. — CEM PROBLEMAS
DE FÉ 119/1969, p. 504.
LEME LOPES, F. — EXERC1CIOS ESPIRI-
TUAIS DE S. INACIO DE LOIOLA 112/1969, p. 180.
MARCOZZI, V. — EVOLUCAO HOJE 119/1969, p. 504.
MEO, E. — HOMENS NOVOS PARA A NO-
VIDADE CRISTA 109/1969, p. 44.
MICHALON, P. — A UNIDADE DOS CRIS-
TAOS 117/1969, p. 406.
MONTEIRO, MOZART — O LIVRO DAS
PROFECÍAS 110/1969, p. 81.
MURARO, R. M. — A AUTOMACAO E O
FUTURO DO HOMEM 115/1969, p. 275.
NUNES, DANILLO — JUDAS TRAIDOR
% OU TRAÍDO? 109/1969, p. 15.
PRADO DE MENDONCA, E. — O MUNDO
PRECISA DE FILOSOFÍA 112/1969, p. 180.
PRONZATO, A. — «...EU, PORÉM, VOS
DIGO» 110/1969, p. 88.
REÍS, M. GOULART — COMO SELECIO-
NAR E COMO TREINAR NA ACAO PAS
TORAL OS FUTUROS PRESBÍTEROS .. 117/1969, p. 409.
RENARD, CARD. A. C. — A ADAPTADA
RENOVAQAO DA VIDA RELIGIOSA .... 110/1969, p. 89.
RIDEAU, E. — TEILHARD, SIM OU NAO? 118/1969, p. 456.
ROXO, R. MASCARENHAS — O SENHOR
E A HISTORIA 120/1969, p. 548.
ROY, A. AGOSTINHO — FILHOS DA LUZ. 119/1969, 3* capa.
SECRETARIADO PARA OS NAO CRIS-
TAOS — A ESPERANCA QUE ESTA EM
NOS 118/1969, p. 456.
SIMÓN, PIERRE-HENRI — PARA UM JO-
VEM DE VINTE ANOS 118/1969, p. 454.
SOUZA, B. MUNIZ DE — A EXPERIENCIA
DA SALVACAO >.... 117/1969, p. 408.
SUENENS, CARD. L. J. — A CO-RESPON-
SABILIDADE NA IGREJA DE HOJE .... 117/1969, p. 406.
SURGY, P. DE — AS GRANDES ETAPAS
DO MISTERIO DA SALVACAO 114/1969, 3' capa.
UBERABA, F. DE — MOCIDADE QUE SE
DIVERTE 109/1969, 3* capa.
VERNEAUX, R. — FILOSOFÍA DO HOMEM 117/1969, p. 409.
VILELA, O. — A PESSOA HUMANA NO
MISTERIO DO MUNDO 114/1969, 3« capa.
VINCENT, A. — DICIONARIO BÍBLICO ... 114/1969, 3» capa.
ZILLES, U. — UMA IGREJA EM DIS-
CUSSAO 112/1969, 3* capa.

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