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PILOTIS Ano VII, n.° 3 Rio de Janeiro, 11 de junho de 1999. & eS = SoS = QB S CLONE DE OVERSIDADE Diticil como sempre é determinar de onde se é ou onde se encena. Truncada questao filosdtica. O campus universitério da PUC, hoje em dia, é talvez a encena- G0 mais flagrante. Aos poucos, val se construindo um modelo de “curso superior’, que hd pouco tempo atrds, era 0 que se espe- rava de uma escola técnica. Cur- sos de 2 anos, especializagdes, pds “lato sensu’, so matérias que, até entao, eram lecionadas dentro do curso superior. E 0 exemplo de nosso CCE (Coorde- nagao de Cursos de Extensao) nia PUC, que desloca os melho- res professores, cobra caro ¢ faz uma perduléria campanha publi- citéria pela cidade, em tempos de crise financeira e corte de bolsas. Outras afitudes como a cobranga de DE-PARA, quando se sabe que 6 s6 desta maneira que se pode pegar matérias de outros centros, que felizmente ainda sao obrigatérias. Funcionarios tercei- rizados e toda uma administracao voltada 2 nao se estabelecerem vinculos no seio da universida- des, que no sejam aqueles de natureza contratual. E quase como outras “Faculdades da Ci- dade" que ja nasceram com esse intuito. $0 estes sintomas da confusao entre 0 conceito de universidade com 0 de empresa e da migragao do ensino universitario para (© mundo dos negécias de forma vo- raz. Tudo com 0 aval deste Governo de ‘académicos’, titular do servico publico, ora concedido. Por outro lado, a grande parte dos ‘alunos também pactua com a encena- {:0, om prejuizo proprio. A medida do quanto e 0 que sera absorvido de informagao esta longe do arbitrio des- ses estudantes que caminham passi- vamente um caminho facil em busca do binémio “nota-diploma”. Néo se ambiciona o saber, a cultura © todas as gigantescas oportunidades que proporcionam, inclusive uma alocagao no mercado de trabalho. Pobre da- quele estudante que para seu carro, assiste & aula, pega 0 carro e vai om- bora. A universidade ainda abarca por entre sous becos e corredores diver- sas atividades extra-curriculares, in- formais, cotidianas, assim como diver- 0s projetos, realizaveis ou n&o, idéi- as, sonhos e afins. A politica univer sitaria @ um mergulho profundo na Indefinig&o que caracteriza as rela- Bes sociais dentro e fora do campus. A propria convivéncia multidisciplinar pura e simples é uma fonte de conhe- clmento e dialética. Concordamos que © treinamento para o mercado de tra~ balho € questao de sobrevivéncia hoje fem dia, mas se enganam aqueles que acreditam estar realmente aptos as relagdes sociais em um mundo globa- lizado, com a estreita fonte de infor- magéo que o curso Ihe da, Continua p.2 Convocagao Assembléia dos alunos de Diseito, veja come foi. p.4 Editorial p.3 Articulistas Salu p.5 ¢ Leitdo p.7 Coluna P.Bala e Netinho, p.6 Foto Charge Novo estilo em humor p.2 Poesia Na titima pagina Economicas O Banco Central, assim comao. Minit. Pablo, ei ie eae eve fear Wilepancario, coil i ene ‘suas fungdes corretamente © Governo FFHH diz que 0 BC n&o pode ser in- ee maos do governo e do inte- resse publico. Esta parecen- doo esfumagado Governo Collor que gostaria desem-. ae ones ical da Repiblica a qualquer momento. PS: confira as fitas no site . www.folha.com.br 2.° Assembléia dos Alunos de Direito da PUC-Rio, pela qualidade de ensino. COMPARECAM dia 17 de junho as 11 0 h (diurno) e as 18:30 (noturno) ‘Ainda mais quando se entra de cara no mercado de trabalho @ se passam anos como pega de um Uinico proceso produtivo e, na hora da escolha dos. melhores faltaré a amplidéo do saber te6ri- o e ainda perder-se a oportuni- dade de conhecer outros saberes fe experiéncias que nao necessa- iamente sejam ligadas & profis- ‘580, mas que enriquecem a cultu- ra, trazem um prazer pessoal aumenta as possibllidades da- quele individuo perante ao mun- do. Seja um ator da histéria de seu tempo, Universidade é para Isso. Bernardo Medeiros Direito O PILOTIS Editores: Charles Alexandre L. Pinto Caio Santos Abreu Articulistas: Carlos Augusto L. J. Siqueira Danie! Leitao Colunistas: Guilherme Brechbuhler Paulo Rodrigo Pazo e-mail: opilotis@ uol.com.br esabreu@uol.com.br calexp @ ruralrj.com.br As opiniées expressas nas matérias assinadas so de responsabilidade de seus respectivos au- tores e nao necessaria- mente representam a opiniao de O PILOTIS. Tiragem: 1000 exemplares. Seguranca Publica Politicas de Seguranga Publica desde sempre foram talades come um fafor iolado nos programas de govern Primetramente, € imposavel cissociala da polfica crminal. EsiBo.embas fun dadas em uma mesma ldgica. Bem, mas se nao se pode tratar o problema da se- guranga publica isoladamente, ao que se deve ligd-lo? Seguranga publica esta ingerida em um eortento mor no qual educagao, a saiide, o respeito, a digni- dade humana devem estar ativamente inmerides, Dove-ao preocuper com o melo social em que ela sera implementada. Se esto contaxtomalor nko for ratado com & devida atengao, s0 no se solucionarem as fortes incongruéncias de nossa socie- dade, a poquona criminaidade, esea gue normaimente povoa as paginas policiais, continuaréo a ter mao de obra farta e teptantes as sues vapas. Como vaticna 0 professor Celso Melo: “Nao vai ter poli- Gia para contéos". Sim por mats que ee ame a pola como "Rembc?, ou 30 der sarme a populagao, este tipo de cri- minaidede ndo aeabaré, Qualquer lente: tha contaria a iso oerdinatfor, vii daa de coneigées para sua efetva conse- cugao. Quando sera que nos daremos conta deasos problemas? Quando comer garem a tufbar nosso lus consumand? ao fnvadirem os shoppings, nosses ills do Miami, ou, novamente'recorfo a Celso Melo, mestre diet o de lucidez extrema Ga, "quando nfo houver ‘emprego nem mearo para 6s! 9 que nos ompurarh para mesma barbarie, que julgamos hoje Cometorem os protagonstas. das atuale paginas policiais? A grande questao 6 perguntara quem ou ap que serve o alual modelo de pallica de soguranga pullica? Ela atua como 0 bebé que, ao tapar os tlhos, pensa que se esconde, ou como 0 vostuz que celoca a cabeca em um buraco e pensa que esta protegido de sou predador Deveros ter conscigncia que 0 mais simples de nés faz parte de uma tite quo teve casa, comideecucagEo. O Brasil nao fala linguas estrangeiras, nao tom quatro refeigbes ao ca, 92 dentes na boca nem estuda na PUC, o Brasil & tnalfabeto, pase fome com suas fombr- gas-e & banguola? Sera que mesmo sendo membro dessa elite voce & realmente ivre em fou pensar, nas suas escotnes? Serd que teremos que esperar que as proféticas palavras do professor Celso Melo se tornem realidade para acordar- mos de nosso dopping letérgico, ou inventaremos uma. alternativa mais segura aos shoppings centers para nos mantermos pensando que tudo vai bem enquanto eu Puder consumir. Charles A.L. Pinto Direito - PIBIC MULTA DA BIBLIOTECA Com a multa da bi blioteca todos concorda- mos, pois entende-se que todos devem -ter-acesso aos livros. E ao se atrasar a devolugao, impede-se a democratizagao deste acesso. Entretanto, nos fi nais. de-semana, a-biblio- teca nao:funciona, reivin- dicagéo dos tempos em que “o_ movimento es- tudantil era mais sério nesta Universidade. Com a biblioteca fe- chada nao se impede o acesso de ninguém aos livros. Perde-se entéo a finalidade da multa, pas- sando 0 fato a constitu mera arrecadagao indevi- da. FERNANDO VAIAS COMPRAS NO PAIS DAS MARAVILHAS Domingo de sol, Fernando acordou tarde @ feliz... tomou seu breakfast, nao leu os jornais, quelmou uns livros “antigos", —_ltimos sobreviventes. de uma vocagéo diletante... Inquicto © excitado, lembrou do Toninho, abriu o livro do Bob Fields (luz de Re” prémio ‘academiatupiniquimdeletras’), tentou fazer descer pela latina um volume esquecido de "O Capital’, aborreceu-se ‘com o insucesso, mas logo se extasiou com a idéia de deixé-lo preso ali para receber, reiteradamente, 0 “que” merecia. Mais tranqiilo, sentou-se para a leitura de um livo de salmos neoliberais, porém sentiu uma leve azia... Procurou Dona Raquel, como sempre esparramada numa macia poltrona e vidrada na TVA: “Benzinho, vira pra Globo, que o Faustéo ja vai comegar!?", e ela: "Nem pensar! Voce agora sé pode ver o Ratinho! Vai dar uma voltinha, vai, que estou assistindo 0 Ultimo filme dos trapalhdes ‘A bolsa ea vida" Contrariado, resolveu ir ao shopping center gastar 0s RIS6,00 que recebeu de aumento no seu saldrio (minimo). Trocou de roupa: bermuda, camiseta do Hard Rock Cafe, ténis Nike. Pegou o celular pré-pago (alguém daria crédito para quem vendeu 0 que tinha e 0 que néo tinha e ainda multiplicou sua divida - coisa de dona- de-casa refém de cartéo de crédito?).. Jé na descida da rampa (nada a ver com rampeiras!), mais um aborrecimento: néo podia ir de Lear-Jet da FAB, a imprensa t4 de olho (que saudades da censura prévial). Que venha entéo o Lincoln presidenciall. Coisa de terceiro mundo. (Isso tem que mudar!) Jé no shopping, Fernando olhava as vitrinas, mas 86 via a si proprio refletide. Depois de muito pesquisar, entrou numa loja de artigos de grife internacional, coisa de primeiro mundo. Olhou, olhou, olhou.. mas seu olhar de RS6,00 era miope naquele lugar. Apds longa viagem pelo maravilnoso mundo do consumo, com algo acessivel, como diria Weber, mas ainda assim além de suas posses. A Principio ficou meio sem jeito, envergonhado... afinal, poderia ser notado. Mas a sedugao foi maior: Rodeou a ‘coisa’, da esquerda para a direita, da cirelta para a... “Epal De |voita nao!” Afastou-se um pouco para nao dar na pinta. Uma certa nostalgia reprimida, enrustida, _pressionava-o para “langar mao dela, antes que Jalgum aventureiro 0 fizesse”. Mas ‘como? Dividido entre a renuncia e a rapina, calu inerte em muda ‘contemplagao. Mas 0 acaso (descaso) foi acionado pela Providéncia (privatizagao): todas as luzes se apagaram, black-out! Ele no vacilou, pegou logo 0 “obscuro objeto do desejo", © se langou pela saida de emergéncia para 0 estacionamento. Lincoln partiu em alta velocidade. Chegando em ~—casa, exultante ¢ realizado, num arroubo de generosidade, enfia os AS6,00 no bols0(?) do "chauffeur - motorista 6 coisa de tercelro mundo, “eu sou é da Sorbonne!” Correu ao quarto. Despiu- se répido na expectativa de usufruir logo de sua preciosa aquisigao (7). Em frente 20 espelho, de corpo inteiro, sua imagem —fulgurante, _aparigo luminosa... © grande imperador esté Tu, envergando unicamente uma lindissima cueca de seda vermelhalll Nada, em tempo algum, the ofuscava a magritudet Nem mesmo a reles tanga de “crochet” do Gabeira. Com a preciosa jéia intima a dar-ine coragem, nada o deteria. Sua consciéncia néo dofa, seu coragao nao doia, seu punho no doia: estava decidido, assinaria a Jalienagéo de Furnas, do Banco do Brasil, da Petrobras... Venderia a jesquina da Ipiranga com Avenida So {Jodo, a Garota de Ipanema, o Barbosa Lima Sobrinho! Venderia tudo! Epa! Menos 0 Pelourinho! De cueca 'vermeiha ooulta, era valente ¢ forte e, assim, “hay que endurecer pero perder la ternura, jams!" Marcelo Castro-Direito EDITORIAL Tivemos trée semanas de acontecimentoe _corri- queiros, mas tornados ex- traordinarice pelos holofo- tee jogados pela imprensa. Primeiro tivemos a questo da qualidade doe curece juridicos no estado do Rio de Janeiro. Depois 0 problema da divulgagéo seneacionalista do factéide da cocaina ¢ das orgiae que suposta- mente ocorrem neeea uni- versidade, Colhendo _informag&es sobre 0 primeiro assunto, indicamos atengio a as- sembléia dos alunos, pro! de uma melhora no en- sino desta inotituicdio. Ao primeiro assunto nao dare- mos relevancia neste ni mero, poi ainda se entcon- ‘tra em fervor na imprensa ¢ a reitoria jé vem tomando as providéncias necesoa- rias. Mas em pesquisa in- formal, que qualquer um pode repetir sem grande esforgo, em que se ouviram dezenas de alunos, todos 09 entrevistados informa- ram jamais terem sido abordados por qualquer traficante de — cocaina, meemo usando bermudas, ténie, mini-saias, ¢ meemo 4 noite. Entretanto esta- mos de olho. em

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