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Resumo—Este artigo visa a comentar sobre o fenômeno da de energia direta é a apenas possível entre superfícies que se
transferência de calor por radiação térmica, além de definir “veêm” mutuamente.
os conceitos de radiação térmica, irradiação, absortividade, Quando se calcula a taxa de transferência de calor de uma
refletividade, transmissividade e emissividade, as propriedades
do corpo negro, do corpo cinzento e do corpo real. Temas como superfície envolvida por ar, é necessário que se considere tanto
radiosidade e radição solar também pertencem ao foco deste convecção como radiação. Contudo, se a região que envolve
artigo. as superfícies estiver no vácuo, então apenas transferência de
Além de todos esses tópicos será apresentada uma breve calor por radiação vai ocorrer. A radiação será o modo do-
noção sobre Física Quântica e Mecânica Quântica, para que se minante de transferência de calor quando existir um gradiente
possa compreender perfeitamente a natureza da propagação da
radiação e como ela interage com a matéria. elevado de temperatura entre a vizinhaça e a superfície. Se
Index Terms—Radiação térmica, irradiação, absortividade, a diferença de temperatura for pequena, a convecção será
refletividade, transmissividade, emissividade, corpo negro, corpo o mecanismo principal de transferência de calor. No caso
cinzento, corpo real, radiosidade, dualidade onda-partícula, de existir um gradiente de temperatura moderado entre a
equação de Scrhöedinger, efeito Compton, produção e aniquilação vizinhaça e a superfície, tanto radiação quanto convecção
de pares, efeito fotoelétrico, fótons de breamsstrahlung, ângulo de
Bragg.
devem ser consideradas.
dAn
dω = . (2) Figura 3. O ângulo sólido, correspondente a dAn , em um ponto sobre dA1
r2
no sitema de coordenadas esféricas.
Z Z 2π Z π/2 Z π/2
dω = senθdθdφ = 2π senθdθ = 2πsr,
h 0 0 0
(4)
C1
Eλ,n = , (7)
λ5 eC2 /λT − 1
B. O Efeito Compton
O chamado efeito Compton é a experiência que forneceu
a evidência mais direta da natureza corpuscular da radiação.
Compon descobriu que a radiação de um dado comprimento
de onda (na região de raios-X), enviada através de uma folha
Figura 12. O esquema da experiência de Compton. Raios-X monocromáticos
de metal, era espalhada de modo inconsistente com a teoria de comprimento de onda λ incidem sobre um alvo de grafite. A distribuição
clássica da radiação. De acordo com a teoria clássica, o da intensidade em função do comprimento de onda é medida para os raios-X
mecanismo do efeito é a re-radiação da luz por elétrons postos espalhados em qualquer ângulo theta. Os comprimentos de onda espalhados
são medidos observando-se a reflexão de Bragg em um cristal. Suas intensi-
em oscilações forçadas pela radiação incidente e isso leva dades são medidas por um detector, como uma câmera de ionização.
à previsão da intensidade observada em um ângulo θ, que
varia com (1 + cos2 θ), e não depende do comprimento de
onda da radiação incidente. Compton descobriu que a radiação
espalhada através de um certo ângulo consiste, na realidade,
de duas componentes: uma cujo comprimento de onda é
igual ao da radiação incidente, e outra, com comprimento de
onda deslocado em relação ao comprimento de onda incidente
de uma quantidade que depende do ângulo, como mostrado
na Fig. 12. Compton foi capaz de explicar a componente
“modificada”, tratando a radiação incidente como um feixe de
fótons de energia hv, cada fóton espalhado elasticamente por
um único elétron. Em uma colisão elástica, tanto o momento
como a energia devem-se conservar e, primeiramente, devemos
atribuir um momento ao fóton. Por analogia com a cinemática
relativística de partículas, pode-se argumentar a Eq. 15.
O experimento de Compton consiste, basicamente, em fazer
com que um feixe de raios-X de comprimento de onda λ incida
Figura 13. O espectro da radiação espalhada por carbono, mostrando a linha
sobre um alvo de grafite, como mostrado na Fig. 16 e dada inalterada em 0,7078 Åà esquerda, e a linha deslocada em 0,7314 Åà direita.
por, A primeira é o comprimento de onda da radiação primária.
hv
p= . (15)
c
O argumento é que, da relação relativística entre energia e E = pc, (18)
momento
da qual decorre
0 0 0
P 2 = (p − p )2 = p2 − 2pp + (p )2 (20)
A conservação da energia nos fornece a Eq. 21.
0
hv + mc2 = hv + (m2 c4 + P 2 c2 )1/2 (21)
0
m2 c4 + P 2 c2 = (hv − hv + mc2 )2 =
0 0
(hv − hv )2 + 2mc2 (hv − hv ) + m2 c4 (22)
Por outro lado, a Eq. 20 pode ser reescrita sob a forma
2 0
!2 0
2 hv hv hv hv
P = + −2 cosθ (23)
c c c c
Figura 15. Os resultados experimentais de Compton. A linha sólida vertical
à esquerda corresponde ao comprimento de onda λ, e a que está à direita ao
0
ou seja: comprimento de onda λ . Os resultados são mostrados para quatro ângulos de
espalhamento θ diferentes. Devemos observar que o deslocamento Compton
0
∆ = λ − λ para θ = 90◦ , está de acordo com a previsão teórica h/m0 c =
0 0
P 2 c2 = (hv − hv )2 + 2(hv)(hv )(1 − cosθ) (24) 0, 0243 Å.
em que θ é o ângulo de espalhamento do fóton. Assim, temos átomo é vários milhares de vezes maior do que a massa de um
a Eq. 25. elétron. A quantidade h/mc tem dimensão de comprimento,
sendo chamada de comprimento de onda de Compton do
0 0 elétron, e seu valor é
hvv (1 − cosθ) = mc2 (v − v ) (25)
h ∼
ou, equivalentemente, a Eq. 26. = 2, 4.10−10 cm (27)
mc
A Fig. 15 mostra os resultados da experiência na qual se
0h mediu a intensidade dos raios-X espalhados como função de
λ −λ= (1 − cosθ) (26)
mc seu comprimento de onda, para vários ângulos de espalha-
As medidas da componente modificada concordam muito mento.
bem com a previsão acima. A linha inalterada é presumivel- Também foram efetuadas medidas de recuo do elétron e
mente devida ao espalhamento pelo átomo como um todo; estas estão de acordo com a teoria. Além disso, por meio
se substituirmos m pela massa do átomo, o deslocamento do de experiências de coincidência com boa resolução temporal,
comprimento de onda será muito pequeno, já que a massa do determinou-se que o fóton emergente e o elétron em recuo
aparecem simultaneamente. Está fora de dúvida a justeza da
interpretação da colisão como sendo do tipo “bola de bilhar”,
ou seja, do comportamento corpuscular do fóton.
hc
λmin = . (31)
eV
Portanto o limite mínimo dos comprimentos de onda re-
presenta a conversão completa da energia dos elétrons em
radiação X. A Eq. 30 mostra claramente que se h → 0, então
λmin → 0, que é a previsão da teoria clássica. Isto mostra
que a própria existência de um comprimento de onda mínimo
é um fenômeno quântico.
A radiação X contínua da Fig. 17 é freqüentemente chamada
bremsstrahlung, do alemão brems (=frenagem, isto é, desace-
leração) + strahlung (=radiação). O processo de bremsstrah-
lung ocorre não apenas em tubos de raios-X, mas sempre Figura 19. O processo de produção de pares.
Ao se analisar este processo, ignora-se os detalhes da
interação, considerando apenas a situação antes e depois da in-
teração. Os princípios que me orientaram foram a conservação E = hv, (33)
da energia total relativística, a conservação do momento e a
conservação da carga. Destas leis da conservação, não é difícil e o momento p é relacionado com o comprimento de onda λ
mostrar que um fóton não pode simplesmente desaparecer no da onda associada, por,
espaço vazio, criando um par. A presença do núcleo pesado
(que pode absorver momento sem alterar apreciavelmente o
balanço de energia) é necessária para permitir que tanto a h
p= , (34)
energia quanto o momento sejam conservados no processo. λ
A carga é automaticamente conservada, pois o fóton não tem Aqui conceitos relativos a partículas, energia E e momento
carga e o par criado tem carga total nula. Da Eq. 32, vemos p, estão ligados por meio da constante de Planck h aos
que a energia mínima necessária para que um fóton crie um conceitos relativos a ondas, freqüência v e comprimento de
par é 2m0 c2 , ou 1,02 MeV, que equivale a um comprimento onda λ. A Eq. 34, na forma a seguir, é chamada relação de
de onda de 0,012 Å. Se o comprimento de onda for menor que De Broglie,
isto, correspondendo a uma energia maior que o limite, o fóton
produz o par com uma certa energia cinética, além da energia h
de repouso. O fenômeno de produção de pares é um fenômeno λ= . (35)
p
de altas energias, devendo os fótons estar na região dos raios-X
de grande energia ou na região dos raios-γ. Resultados obtidos Ela prevê o comprimento de onda de De Broglie λ de uma
experimentalmente demonstraram que a absorção de fótons em onda de matéria associada ao movimento de uma partícula
interação com a matéria ocorre principalmente pelo processo material que tem um momento p.
fotoelétrico a baixas energias, pelo efeito Compton a energias A natureza ondulatória da propagação da luz não é revelada
intermediárias e pela produção de pares a altas energias. por experiências em ótica geométrica, porque as dimensões
Pares elétron-pósitron são produzidos na natureza por fó- importantes dos equipamentos utilizados são muito grandes se
tons de raios cósmicos e em laboratórios por fótons de comparadas ao comprimento de onda da luz. Se a representa
bremsstrahlung obtidos em aceleradores de partículas. Outros uma dimensão característica de um equipamento ótico (por
pares de partículas, tais como próton e antipróton, podem ser exemplo, a abertura de uma lente, espelho ou fenda) e λ é
produzidos se o fóton tiver energia suficiente. Pelo fato do o comprimento de onda da luz que atravessa o equipamento,
elétron e do pósitron terem a menor massa de repouso das estamos no limite da ótica geométrica quando λ/a → 0. Deve-
partículas conhecidas, a energia mínima para sua produção se observar que a ótica geométrica envolve a propagação de
é a menor. A experiência confirma a teoria quântica para o raios, o que é análogo à trajetoria das partículas clássicas.
processo de formação de pares. Não há qualquer explicação No entanto, quando a dimensão característica a de um
satisfatória para esse fenômeno na física clássica. equipamento ótico torna-se comparável ou menor do que o
comprimento de onda λ da luz que o atravessa, entramos
VII. O P OSTULADO DE D E B ROGLIE : P ROPRIEDADES
no domínio da ótica física. Nesse caso, quando λ/a ≥ 1,
O NDULATÓRIAS DAS PARTÍCULAS
o ângulo de difração θ = λ/a é suficientemente grande
A. Ondas de Matéria para que efeitos de difração sejam facilmente observados, e
Maurice De Broglie foi um físico experimental francês que, a natureza ondulatória da propagação da luz se evidencia.
desde o princípio, apoiou o ponto de vista de Compton em Para observar aspectos ondulatórios no movimento da matéria,
relação à natureza corpuscular da radiação. portanto, precisa-se de sistemas com aberturas ou obstáculos
A hipótese de De Broglie era de que o comportamento de dimensões convenientemente pequenas. Os sistemas mais
dual, isto é, onda-partícula, da radiação também se aplicava à apropriados para este fim aos quais os experimentadores
matéria. Assim como um fóton tem associada a ele uma onda tinham acesso na época de De Broglie utilizavam o espaça-
luminosa que governa seu movimento, também uma partícula mento entre planos adjacentes de átomos em um sólido, onde
material (por exemplo, um elétron) tem associada a ela uma a = 1Å. (Atualmente tem-se acesso a sistemas que envolvem
onda de matéria que governa seu movimento. Como o universo dimensões nucleares de aproximadamente 10−4 Å.)
é inteiramente composto por matéria e radiação, a sugestão Foi Elsasser quem mostrou, em 1926, que a natureza
de De Broglie é essencialmente uma afirmação a respeito ondulatória da matéria poderia ser testada da mesma forma
de uma grande simetria na natureza. De fato, ele propôs que a natureza ondulatória dos raios-X havia sido, ou seja,
que os aspectos ondulatórios da matéria fossem relacionados fazendo-se com que um feixe de elétrons de energia apropriada
com seus aspectos corpusculares exatamente da mesma forma incidisse sobre um sólido cristalino. Os átomos do cristal
quantitativa com que esses aspectos são relacionados para a agem como um arranjo tridimensional de centros de difração
radiação. De acordo com De Broglie, tanto para a matéria para a onda eletrônica, espalhando fortemente os elétrons em
quanto para a radiação a energia total E está relacionada à certas direções características, exatamente como na difração
freqüência v da onda associada ao seu movimento, dada por, de raios-X. Esta idéia foi confirmada por experiências feitas
por Davisson e Gerner nos Estados Unidos e por Thomson na
Escócia.
A Fig. 20 mostra esquematicamente o equipamento de
Davisson e Gerner. Elétrons emitidos por um filamento aque-
cido são acelerados através de uma diferença de potencial V
e emergem do “canhão de elétrons” G com energia cinética
eV . O feixe incide segundo a normal sobre um monocristal
de níquel em C. O detector D é colocado num ângulo
particular θ e para vários valores do potencial acelerador V
são feitas leituras da intensidade do feixe espalhado. A Fig. Figura 21. À esquerda: a corrente do coletor no detector D da Fig. 20 em
função da energia cinética dos elétrons incidentes, mostrando um máximo de
21, por exemplo, mostra que um feixe de elétrons fortemente difração. A Fig. 20 mostra uma série de medidas para as quais θ = 50◦ . Se
espalhado é detectado em θ = 50◦ para V = 54 volts. A um valor apreciavelmente menor ou maior for usado, o máximo de difração
existência desse pico demonstra qualitativamente a validade desaparece. À direita: a corrente como função do ângulo no detector para o
valor fixado da energia cinética dos elétrons de 54 eV.
do postulado de De Broglie, porque ele só pode ser explicado
como uma interferência construtiva de ondas espalhadas
pelo arranjo periódico dos átomos nos planos do cristal. Para as condições da Fig. 22, pode-se mostrar que o
O fenômeno é exatamente análogo à conhecida “reflexão de espaçamento interplanar efetivo d, obtido por espalhamento de
Bragg” que ocorre no espalhamento de raios-X pelos planos raios-X sobre o mesmo cristal, é de 0,91 Å. Como θ = 50◦ ,
atômicos de um cristal. Não pode ser entendido com base no segue-se que ϕ = 90◦ − 50◦ /2 = 65◦ . O comprimento de
movimento clássico de partículas, mas apenas com base no onda calculado a partir da Eq. 36, supondo n = 1, é:
movimento ondulatório. Partículas clássicas não podem exibir
interferência, mas podem exibir ondas. A interferência que
ocorre neste caso não é entre ondas associadas a elétrons λ = 2dsenϕ = 2.0, 91.sen65◦ = 1, 65,
distintos. Trata-se de interferência entre partes diferentes da
onda associada a um único elétron que foi espalhada por
várias regiões do cristal. Isto pode ser demonstrado usando- que tem como unidade Å.
se um feixe de elétrons com uma intensidade tão baixa que O comprimento de onda de De Broglie para elétrons de 54
os elétrons atravessam o aparelho um a um; verifica-se que a eV, calculado a partir da Eq. 35 é,
figura do espalhamento dos elétrons permanece a mesma.
λ = h/p = 6, 6.10−34 /4, 0.10−24 = 1, 65,
1 h2 h2 2
Top = p~op p~op = − ∇∇ = − ∇ . (43)
2m 2m 2m
Aplicando as Eqs. 42 e 43 na Eq. 41 obetem-se,
h2 2 ∂Ψ(~r, t)
− ∇ Ψ(~r, t) + Vop Ψ(~r, t) = ih , (44)
2m ∂t
Figura 23. Uma cavidade com um orifício apresenta comportamento próximo
ao de um corpo negro. A radiação que entra na cavidade tem pouca chace
em que o operador Vop representa o potencial de interação de sair antes de ser completamente absorvida. A radiação emitida através do
a que a partícula está sujeita numa dada situação física, orfício (não está representada na figura) é característica da temperatura das
paredes da cavidade.
variando, evidentemente, de um problema para outro. Se o
movimento da partícula está restrito à coordenada x, a equação
de Schröedinger se reduz à, A emissão de um corpo negro é difusa, portanto a inten-
sidade espectral Iλ,cn da radiação que deixa a cavidade é
h2 ∂ 2 Ψ ∂Ψ independente da direção. Além disso, uma vez que o campo
− + V Ψ = ih . (45) radiante no interior da cavidade, que é o efeito cumulativo da
2m ∂x2 ∂t
emissão e da reflexão a partir da superfície da cavidade, deve
IX. P ROPRIEDADES BÁSICAS DA R ADIAÇÃO possuir a mesma forma da radiação que emerge da abertura,
Neste tópico serão apresentadas as propriedades básicas da tem-se também que existe um campo de radiação de corpo
radiação, bem como o tratamento matemático para cada uma. negro no interior da cavidade. Conseqüentemente, qualquer
superfície pequena no interior da cavidade experimenta uma
A. Corpo Negro irradiação Gλ = Eλ,cn (λ, T ). Essa superfície é irradiada
Um corpo negro é um corpo ideal cuja superfície é um de maneira intensa, independentemente da sua orientação.
absorvedor ideal de radiação incidente independentemente Radiação de corpo negro existe no interior da cavidade
do comprimento de onda ou da direção da radiação. Desde independente do fato da superfície da cavidade ser altamente
que não existe nenhuma superfície com tal característica, reflexiva ou absorvedora.
o conceito de corpo negro é uma idealização. Entretanto, 1) A Distribuição de Planck: A intensidade espectral de
este conceito é útili porque é o padrão de comparação das um corpo negro é bem conhecida, tendo sido determinada
propriedades de radiação das superfícies reais. primeiramente por Plank. Dada por,
Pode se mostrar que um corpo negro é também um emis-
sor perfeito de radiação em todas as direções e em todos 2hc20
os comprimentos de onda. Para uma dada temperatura, ne- Iλ,cn (λ, T ) = , (46)
λ (e 0 /λkT )
5 hc −1
nhuma superfície pode emitir mais energia radiativa, total ou
monocromática, do que um corpo negro. As características de em que, h = 6, 626.10−34 J.s e k = 1, 381.10−23 J/K
radiação de um corpo negro serão identificadas pelo uso do são as constantes de Planck e Boltzmann, respectivamente,
índice n. c0 = 2, 998.108 m/s é a velocidade da luz no vácuo, e T é
A distribuição espectral da radiação de corpo negro é a temperatura absoluta do corpo negro (K). Como o corpo
especificada pela quantidade RT (v), denomida de radiância negro é um emissor difuso, o seu poder emissivo espectral é
espectral, que é definida de forma que RT (v)dv seja igual dado pela Eq. 7.
à energia emitida por unidade de tempo em radiação de 2) Lei do Deslocamento de Wien: Na Fig. 24 pode ser
freqüência compreendida no intervalo v a v + dv por unidade visto que a distribuição espectral do corpo negro possui um
de área de uma superfície à temperatura absoluta T . máximo e que o comprimento de onda correspondente a esse
A melhor aproximação prática de um corpo negro ideal máximo λmax depende da temperatura. A natureza dessa
corresponde a um pequeno orifício em uma cavidade, tal como dependência pode ser obtida derivando-se a Eq. 7 em relação
o buraco da fechadura de uma porta de armário, apresentado a λ e igualando o resultado a zero. Ao fazer isso, obtem-se,
na Fig. 23. A radiação incidente no orifício tem pouca chance
de ser refletida para fora do orifício antes de ser absorvida
λmax T = C3 , (47)
pelas paredes da cavidade. Assim, a radiação emitida através
do orifício é característica da temperatura das paredes da
cavidade. em que, a terceira constante da radiação é C3 = 2898 µm.K.
A Eq. 47 é conhecida por lei do deslocamento de Wien,
e o lugar geométrico dos pontos descritos por essa lei está Z ∞
Z 2π Z π/2
Gλ = Iλ,i (λ, θ, φ)cosθsenθdθdφ, (49)
0 0
ou,
Z ∞ Z 2π Z π/2
G= Iλ,i (λ, θ, φ)cosθsenθdθdφdλ. (51)
0 0 0
Se a radiação incidente for difusa, Iλ,i é independente de θ
e φ, e tem-se que
e
B. Irradiação
Z π/2
αλ (λ) = 2 αλ,θ (λ, θ)cosθsenθdθ. (58)
0
A absortividade hemisférica total, α, representa uma média
integrada em relação à direção e ao comprimento de onda. Ela
é definida como a fração da irradiação que é aborvida por uma
Figura 25. Radiação incidente em uma superfície. superfície, dada por,
Gabs
1) Absortividade: Define-se absortividade como a fração α≡ . (59)
G
da radiação total incidente que é absorvida pela superfície. Das Eqs. 50 e 56, tem-se,
Para um corpo real, a absortividade, α, varia, em geral, com
o comprimento de onda, e por isso define-se a absortividade R∞
monocromática, αλ . A absortividade é expressa em termos da αλ (λ)G(λ)dλ
α = 0R ∞ . (60)
absortividade monocromática por, 0
Gλ (λ)dλ
Conseqüentemente, α depende da distribuição espectral da
∞
radiação incidente, assim como da sua distribuição direcional e
Z
1
α= αλ Gλ dλ. (54) da natureza da superfície absorvedora. Deve-se notar, também,
G 0
que embora α seja aproximadamente independente da tem-
A determinação da propriedade absortividade é complicada peratura superficial, o mesmo não pode ser dito a respeito da
pelo fato de que, como a emissão, ela pode ser caracteri- emissividade hesmisférica total, . Na Eq. 90 fica evidente que
zada tanto por uma dependência direcional como por uma essa propriedade apresenta uma forte dependência em relação
dependência espectral. A absortividade direcional espectral, à temperatura.
αλ,θ (λ, θ, φ), de uma superfície é definida matematicamente Como α depende da distribuição espectral da irradiação,
por, seu valor para uma superfície exposta à radiação solar pode
diferir apreciavelmente do seu valor para a mesma superfície
Iλ,i,abs (λ, θ, φ) quando exposta a uma radiação com maiores comprimentos de
αλ,θ (λ, θ, φ) = . (55)
Iλ,i (λ, θ, φ) onda originada em uma fonte a uma temperatura mais baixa.
Como a distribuição espectral da radiação solar é praticamente
Nessa expressão, despreza-se qualquer dependência da ab- proporcional à da emissão de uma corpo negro a 5800 K, tem-
sortividade em relação à temperatura superficial. Tal dependên- se pela Eq. 60 que a absortividade total para a radiação solar
cia é pequena para a maioria das propriedades radiantes αs pode ser aproximada por,
espectrais.
Está implícito no resultado anterior que as superfícies po- R∞
dem exibir uma absorção seletiva em relação ao comprimento α (α)Eλ,b (λ, 5800K)dλ
0 R λ
α= ∞ . (61)
de onda e à direção da radiação incidente. Para a maio- 0
Eλ,b (λ, 5800K)dλ
ria dos cálculos de engenharia, no entanto, trabalha-se com As integrais que aparecem nessa equação podem ser cal-
propriedades superficiais que representam médias direcionais. culadas utilizando-se a função de radiação de corpo negro ,
Conseqüentemente, define-se uma absortividade hemisférica F(0→∞) , da Tab. I, que pode ser encontrada no Apêndice.
espectral αλ (λ) por, 2) Refletividade: A refletividade é definida como a fração
da radiação total incidente que é refletida pela superfície.
Gλ,abs (λ) Contudo, sua definição específica pode assumir diversas for-
αλ (λ) ≡ . (56) mas diferentes, uma vez que essa propriedade é inerentemente
Gλ (λ)
bidirecional. Ou seja, além de depender da direção da radiação
Das Eqs. 49 e 55 tem-se, incidente, ela também depende da direção da radiação re-
fletida. Evitarei essa complicação trabalhando exclusivamente
R 2π R π/2 com uma refletividade que representa uma média integrada
0 0
αλ,θ (λ, θ, φ)Iλ,i (λ, θ, φ)cosθsenθdθdφ
αλ (λ) = R 2π R π/2 . no hemisfério associado à radiação refletida e, portanto, não
0 0
Iλ,i (λ, θ, φ)cosθsenθdθdφ fornecendo informação a respeito da distribuição direcional
(57) dessa radiação. Como a absortividade, a refletividade, ρ, é
uma função do comprimento de onda de forma que ρλ é
utilizado para representar a refletividade monocromática de
uma superfície, dada por,
Z ∞
1
ρ= ρλ Gλ dλ. (62)
G 0
A refletividade direcional espectral, ρλ,θ (λ, θ, φ), de uma
superfície é definida como a fração da intensidade espectral
incidente na direção θ e φ que é refletida pela superfície. Dessa
forma, temos,
Iλ,i,ref (λ, θ, φ)
ρλ,θ (λ, θ, φ) ≡ . (63)
Iλ,i (λ, θ, φ)
A refletividade hemisférica espectral φλ (λ) é, então,
definida como a fração da irradiação espectral que é refletida
pela superfície. Conseqüentemente,
Figura 26. Reflexão especular e difusa.
Gλ,ref (λ)
ρλ (λ) ≡ , (64)
Gλ (λ)
Apesar de o tratamento da resposta de um material semi-
que pode ser escrita por, transparente à radiação incidente ser um problema complicado,
R 2π R π/2 resultados razoáveis podem ser obtidos com freqüência por
ρλ,θ (λ, θ, φ)cosθsenθdθdφ
ρλ (λ) = R02π R0π/2 . (65) meio do uso de transmissividades hemisféricas definidas por,
0 0
Iλ,i (λ, θ, φ)cosθsenθdθdφ
A refletividade hemisférica total ρ é, então, definida como, Gλ,tr (λ)
τλ = , (69)
Gλ (λ)
Grel
ρ≡ . (66) e
G
00
dqλ = Iλ,e (λ, θ, φ)cosθsenθdθdφ. (77)
Figura 31. Emissão a partir de um elemento de área diferencial dA1 para
um hemisfério hipotético centrado em um ponto sobre dA1 .
ou,
Z ∞ Z 2π Z π/2
Figura 30. A projeção de dA1 normal à direção da radiação.
E= Iλ,e (λ, θ, φ)cosθsenθdθdφdλ. (80)
0 0 0
Se as distribuições espectral e direcional de Iλ,e forem Como o termo “poder emissivo” implica em emissão em
conhecidas, ou seja, se Iλ,e (λ, θ, φ) é conhecida, o fluxo todas as direções, o adjetivo “hemisférico” é redundante e
térmico associado à emissão em qualquer ângulo sólido finito é freqüentemente omitido. Fala-se, então, de poder emissivo
ou ao longo de qualquer intervalo de comprimentos de onda espectral Eλ ou de poder emissivo total E.
finito pode ser determinado pela integração da Eq. 77. Por Embora a distribuição direcional da emissão de uma su-
exemplo, define-se o poder emissivo hemisférico espectral perfície varie de acordo com a natureza da superfície, existe
Eλ (W/(m2 .µm)) como a taxa na qual radiação de compri- uma caso especial que fornece uma aproximação razoável
mento de onda λ é emitida em todas as direções a partir de para muitas superfícies. Fala-se de emissor difuso como uma
uma superfície por unidade de intervalo de comprimentos de superfície para a qual a intensidade da radiação emitida é
onda dλ no entorno de λ e por unidade de área superficial. independente da direção, ou seja, Iλ,e (λ, θ, φ) = Iλ,e (λ). Re-
Assim, Eλ é o fluxo térmico espectral associado à emissão tirando Iλ,e do integrando da Eq. 78 e efetuando a integração,
para um hemisfério hipotético sobre dA1 , dado por, chega-se a,
Z 2π Z π/2
00
Eλ (λ) = qλ (λ) = Iλ,e (λ, θ, φ)cosθsenθdθdφ. Eλ (λ) = πIλ,e (λ). (81)
0 0
(78) De maneira análoga, a partir da Eq. 80, temos,
Eλ (λ, T )
λ (λ, T ) ≡ . (85)
Eλ,cn (λ, T )
Ela pode ser relacionada com a emissividade direcional λ,θ
pela substituição da expressão para o poder emissivo espectral,
Eq. 78, obtendo-se,
R 2π R π/2
0 0
Iλ,e (λ, θ, φ, T )cosθsenθdθdφ
λ (λ, T ) = R 2π R π/2 . (86)
0 0
Iλ,cn (λ, T )cosθsenθdθdφ
Ao contrário do que acontece na Eq. 78, agora a dependên-
cia em relação à temperatura é reconhecida. Pela Eq. 83 e
como Iλ,cn é independente de θ e φ, tem-se,
R 2π R π/2
0 0
λ,θ (λ, θ, φ, T )cosθsenθdθdφ
λ (λ, T ) = R 2π R π/2 . (87)
0 0
cosθsenθdθdφ
Considerando λ,θ independente de φ, o que é uma hipótese
razoável para a maioria das superfícies, e calculando o deno-
minador, obtém-se,
Z π/2
λ (λ, T ) = 2 λ,θ (λ, θ, T )cosθsenθdθ. (88)
0
Figura 32. Comparação de emissões de um corpo negro e de uma superfície
real. (a) Distribuição espectral. (b) Distribuição direcional. A emissividade hemisférica total, que representa uma média
em todas as direções e comprimentos de onda possíveis, é dada
Define-se a emissividade direcional espectral por,
λ,θ (λ, θ, φ, T ) de uma superfície a uma temperatura T
como a razão entre a intensidade da radiação emitida no E(T )
comprimento de onda λ e na direção θ e φ, e a emissividade (T ) ≡ . (89)
Ecn (T )
da radição emitida por um corpo negro nos mesmos valores
de T e λ. Portanto, temos Substituindo as Eqs. (79) e (85), tem-se,
espera que a emissividade espectral λ seja independente
R∞ do comprimento de onda. Algumas distribuições espectrais
0
λ (λ, T )Eλ,b (λ, T )dλ
(T ) = . (90) representativas de λ são mostradas na Fig. 34. A forma em
Eb (T )
que λ varia com λ depende de se o sólido é um condutor
Se as emissividades de uma superfície forem conhecidas, ou não-condutor, assim como da natureza do revestimento da
torna-se uma questão simples calcular as características da superfície.
sua emissão. Por exemplo, se λ (λ, T ) for conhecido, ele
pode ser usado para determinar o poder emissivo espectral da
superfície em quaisquer comprimento de onda e temperatura.
De maneira semelhante, se (T ) for conhecido, ele pode ser
usado para calcular o poder emissivo total da superfície em
qualquer temperatura.
A emissividade direcional de um emissor difuso é uma
constante, independente da direção. Entretanto, embora essa
condição seja freqüentemente uma aproximação razoável, to-
das as superfícies exibem algum desvio do comportamento
difuso. Variações representativas do valor de θ em função de
θ são mostradas esquematicamente na Fig. 33 para materiais
condutores e materiais não-condutores. Para condutores, θ é
Figura 34. Dependência espectral da emissividade normal espectral λ,n de
aproximadamente constante na faixa de θ ≤ 40◦ , acima da materiais selecionados.
qual ela aumenta com o aumento de θ, mas finalmente decai
para zero. Ao contrário, para materiais não-condutores, θ é Valores representativos da emissividade normal total n são
aproximadamente constante para θ ≤ 70◦ , além do que ela apresentados nas Figs. 35 e 36. Várias generalizações podem
diminui rapidamente com o aumento de θ. Uma implicação ser feitas.
dessas variações é que, embora existam direções preferenciais
para a emissão, a emissividade hemisférica não irá diferir
acentuadamente do valor da emissividade normal à superfície
n , que corresponde a θ = 0. Na realidade , a razão raramente
se situa fora do intervalo 1, 0 ≤ (/n ) ≤ 1, 3 para materiais
condutores e do intervalo 0, 95 ≤ (/n ) ≤ 1, 0 para materiais
não-condutores. Dessa forma, com uma aproximação razoável,
tem-se
≈ n . (91)
α1 GA1 − E1 (Ts )A1 = 0, Condições associadas ao uso da Eq. 96 são menos restri-
tivas do que aquelas associadas à Eq. 95. Uma forma da
lei de Kirchhoff para a qual não há restrições envolve as
ou, da Eq. 92, propriedades direcionais espectrais:
•A superfície é cinza (αλ e λ são independentes de λ)
λ,θ = αλ,θ . (97) Devemos notar que a primeira condição corresponde à prin-
cipal hipótese necessária para a dedução da lei de Kirchhoff.
Essa igualdade é sempre aplicável, porque λ,θ e αλ,θ são Como a absortividade total de uma superfície depende
propriedades inerentes da superfície. Isto é, respectivamente, da distribuição espectral da irradiação, não se pode afirmar
elas são independentes das distribuições espectral e direcional inequivocadamente que α = . Por exemplo, uma superfície
das radiações emitida e incidente. particular pode ser altamente absorvedora da radiação em
F. Corpo Cinzento uma região espectral e virtualmente não-absorvedora em outra
região, como mostra a Fig. 38(a). Conseqüentemente, para
Um corpo cuja emissividade e absortividade da sua super- os dois possíveis campos de irradiação, Gλ,1 (λ) e Gλ,2 (λ)
fície são independentes do comprimento de onda e da direção mostrados na Fig. 38(b), os valores de α irão diferir drastica-
é chamado de corpo cinzento, ou seja, mente. Em contraste, o valor de é independente da irradiação.
Assim, não há qualquer base para se estabelecer que α seja
= λ = cte, sempre igual a .
Para admitir comportamento de superfície cinza e portanto
a validade da Eq. 95, não é necessário que αλ e λ sejam
e independentes de λ em todo o espectro. Falando pragmati-
camente, uma superficie cinza pode ser definida como sendo
α = αλ = cte. uma superfície para a qual αλ e λ são independentes de λ
nas regiões espectrais da irradiação e da emissão superficial.
Aceitando o fato de que a emissividade direcional espectral Da Eq. 100, mostra-se facilmente que o comportamento de su-
e absotividade direcional espectral são iguais sob quaisquer perfície cinza pode ser admitido para as condições da Fig. 39.
condições, começarei considerando as condições associadas ao Isto é, a irradiação e a emissão superficial estão concentradas
uso da Eq. 96. De acordo com as definições das propriedades em uma região na qual as propriedades espectrais da superfície
hemisféricas espectrais, está-se na realidade perguntando sob são aproximadamente constantes. Conseqüentemente,
quais condições, se é que de fato existe alguma, a seguinte
igualdade será válida, R λ2
λ1
Eλ,cn (λ, T )dλ
R 2π R π/2 = λ,o = λ,o ,
λ,θ cosθsenθdθdφ ? Ecn (T )
0
λ = R 2π0R π/2 = (98)
0 0
cosθsenθdθdφ e
R 2π R π/2
0 0
αλ,θ Iλ,i cosθsenθdθdφ
R 2π R π/2 (99) R λ4
o 0
Iλ,i cosθsenθdθdφ λ3
Gλ dλ
α = αλ,o ,
Como eλ,θ = αλ,θ , tem-se por inspeção que a Eq. 96 pode G
ser aplicada se uma das seguintes condições for satisfeita:
• A irradiação é difusa (Iλ,i é independente de θ e φ); cujo caso α = = λ,o . Entretanto, se a irradiação se
• A superfície é difusa (λ,θ e αλ,θ são independentes de encontrasse em uma região espectral que correspondesse a
θ e φ) λ < λ1 ou λ > λ4 , o comportamento de superfície cinza
A primeira condição é uma aproximação razoável para não poderia ser admitido.
muitos cálculos em engenharia; a segunda condição é razoável
para muitas superfícies, particularmente de materiais que não
conduzem eletricidade.
Admitindo a existência de uma irradiação difusa ou de
uma superfície difusa, agora vou considerar quais condições
adicionais devem ser satisfeitas para que a Eq. 95 seja válida.
Das Eqs. 90 e 60, a igualdade se aplica caso,
R∞ R∞
0
λ Eλ,cn (λ, T )dλ ? 0
αλ Gλ (λ)dλ
= = = α. (100)
Ecn (T ) G
Figura 38. Distribuição espectral. (a) da absortividade espectral de uma
Como λ = αλ , tem-se que, por inspeção, a Eq. 95 pode superfície e (b) da irradiação espectral em uma superfície.
ser utilizada se uma das seguintes condições for satisfeita:
• A irradiação corresponde à emissão de um corpo negro Uma superfície para a qual αλ,θ e λ,θ são independentes de
com temperatura superficial T , em cujo caso Gλ (λ) = θ e λ é conhecida por superfície cinza difusa (difusa devido à
Eλ,cn (λ, T ) e G = Ecn (T ); independência direcional e cinza devido à independência em
Figura 39. Um conjunto de condições nas quais o comportamento de Figura 40. Dependência espectral da emissividade e absortividade. Condu-
superfície cinza pode ser suposto. tores elétricos.
G. Corpo Real
As propriedades de radiação da superfície de um corpo
real são diferentes daquelas dos corpos negro e cinzento.
A emissividade monocromática das várias superfícies reais é
apresentada nas Figs. 40 e 41. A radiação emitida por um
corpo real não é inteiramente difusa. Portanto, a emissividade
do corpo depende do ângulo de observação. A variação
direcional da emissividade para vários materiais é mostrada
nas Figs.42 e 43.
Tendo em vista que cálculos de engenharia são o interesse Figura 41. Dependência espectral da emissividade e absortividade. Metais.
principal deste artigo, é importante que se reconheça quando
as características de radiação das superfícies de um corpo real
podem ser aproximadas pelas de um corpo cinzento. Para
se decidir se tais aproximações são possíveis, a distribuição
espectral da radiação emitida pelo corpo e a radiação incidente
no corpo devem ser consideradas. Referindo-se às Figs.40
e 41, se a maior parcela da radiação incidente que atinge
o alumínio de superfície anodizada se localizar na faixa de
comprimento de onda de 8 a 10 µm, então o comporta-
mento desta superfície pode ser considerado como sendo o
de um corpo negro com absortividade de 0,93. Nenhum erro
significativo seria introduzido, uma vez que a absortividade
é aproximadamente constante nessa faixa de comprimento
de onda. Se, contudo, a radiação incidente na superfície for
extendida para a faixa de 2 a 10 µm, então a aproximação do Figura 42. Emissividade direcional total. Isolante elétrico.
corpo cinzento pode ainda ser utilizada, mas com prejuízo
Figura 44. Balanço de energia para um corpo cinzento.
H. Radiosidade
J = πIe+r . (106)
A quantidade de radiação térmica que deixa um corpo é
chamada de radiosidade. Ela é a soma da radiação incidente Mais uma vez, deve-se notar que o fluxo radiante, nesse caso
que é refletida e a radiação que é emitida pelo corpo. A radiosi- a radiosidade, está baseado na área superficial real, enquanto
dade de corpos cinzentos está esquematicamente mostrada na a intensidade está baseada na área projetada.
Fig. 44. Radiosidade, denotada por J, pode ser expressa em
termos da emissividade e da refletividade da superfície dada I. Radiação Solar
por, O Sol, localizado a cerca de 1, 5.106 Km da Terra, é a fonte
de energia da qual depende toda a vida terrestre. A energia
é transmitida pelas ondas eletromagnéticas que atravessam o
J = En + ρG (101)
espaço até encontrarem o planeta. Quando esses raios solares
A radiosidade é a taxa de energia transferida por unidade atingem a atmosfera, são absorvidos e espalhados pela poeira e
de área em W/m2 . gases atmosféricos. Uma porção da radiação espalhada atinge
Como a radiosidade leva em consideração a radiação que a superfície terrestre e a restante é refletida de volta para o
deixa a superfície em todas as direções, está relacionada com espaço. A radiação solar que é irradiada, ou que atinge, a
a intensidade associada à emissão e à reflexão, Iλ,e+r (λ, θ, φ), supefície do planeta é, portanto, composta tanto de radiação
por, direta como de radiação difusa. Até 90% da radiação que
atinge a superfície em um dia claro é formada por radiação
Z 2π Z π/2 direta, enquanto que praticamente toda a radiação que chega ao
Jλ (λ) = Iλ,e+r (λ, θ, φ)cosθsenθdθdφ. (102) nível do solo num dia nublado é composta por radiação difusa.
0 0 A quantia real de energia solar que chega à superfície da Terra
Assim, a radiosidade total J(W/m2 ) associada ao espectro depende do ângulo no qual a radiação atinge a superfície, da
completo por, composição da atmosfera e das condições atmosféricas locais.
Como já comentado, o Sol emite aproximadamente como para superfícies irradiadas pelo Sol, uma vez que a emissão
um corpo negro a 5800 K. Na medida em que a radiação encontra-se geralmente na região espectral além dos 4 µm
atravessa o espaço, o fluxo radiante diminui, pois ele atrav- e é improvável que as propriedades espectrais da superfície
essa áreas esféricas cada vez maiores. No limite externo da permaneçam constantes ao longo de uma faixa espectral tão
atmosfera terrestre, o fluxo da energia solar diminui por um ampla.
fator de (rs /rd )2 , em que rs é o raio do Sol e rd é a distância À medida que a radiação solar atravessa a atmosfera ter-
entre o Sol e a Terra. A constante solar, Sc , é definida como restre, sua magnitude e suas distribuições espectral e direcional
o fluxo de energia solar que incide sobre uma superfície experimentam uma mudança significativa. A mudança se deve
com orientação normal aos raios solares no limite externo da à absorção e ao espalhamento da radiação pelos constituintes
atmosfera terrestre, quando a Terra encontra-se à sua distância da atmosfera. O efeito da absorção pelos gases atmosféricos
média do Sol, como mostrado na Fig. 45. Ela tem um valor de O3 (ozônio), H2 O, O2 e CO2 está ilustrado na curva inferior
Sc = 1353 W/m2 . Para uma superfície horizontal (ou seja, da Fig. 48. A absorção pelo ozônio é mais forte na região UV,
paralela à superfície terrestre), a radiação solar comporta-se proporcionando uma atenuação considerável em comprimentos
como um feixe de raios praticamente paralelos que formam de onda abaixo de 0, 3 µm. Na região visível há alguma
um ângulo θ, o ângulo de zênite, em relação à normal a absorção pelo O3 e o O2 , enquanto nas regiões do IV próximo
superfície. A irradiação solar extraterrestre, GS,e , definida e distante à absorção é dominada pelo vapor d’água. Ao longo
para uma superfície horizontal, depende da latitude geográfica, de todo o espectro solar, há também absorção contínua de
assim como da hora do dia e do dia do ano. Ela pode ser radição pela poeira e pelos aerossóis presentes na atmosfera.
determinada por, O espalhamento na atmosfera proporciona um redireciona-
mento dos raios solares e ocorre de duas formas (Fig. 46).
O espalhamento de Rayleigh (ou molecular) provocado por
GS.e = Sc f cosθ. (107) moléculas muito pequenas de gases ocorre quando a razão
entre o diâmetro efetivo das moléculas e o comprimento de
onda da radiação, πD/λ, é muito menor do que a unidade
e proporciona um espalhamento praticamente uniforme da
radiação em todas as direções. Assim, cerca de metade da
radiação que sofre esse processo é redirecionada para o espaço,
enquanto a porção restante colide com a superfície da Terra.
Em qualquer ponto sobre essa superfície, a radiação espalhada
incide a partir de todas as direções. Por outro lado, o espalha-
mento de Mie, provocado pela poeira e partículas maiores de
aerossóis, ocorre quando πD/λ é aproximadamente unitária e
está concentrada em direções próximas às dos raios incidentes.
Assim, praticamente toda essa radiação atinge a superfície da
Terra em direções que estão próximas às dos raios solares.
dQ En1 − J1 En2 − J2
= =− . (115)
dt [(1 − 1 )/1 A] [(1 − 2 )/2 A]
A Eq. 115 contém duas incógnitas, J1 e J2 . Estas radiosi-
dades podem ser determinadas resolvendo as Eqs. 109 e 115
simultaneamente.
Nesse ponto é importante chamar a atenção para a analogia
entre transferência de calor e corrente elétrica. As Eqs. 109 e
112 podem ser representadas por resitências elétricas equiva-
lentes e diferenças de potencial, como mostrado na Fig. 50. A
transferência de calor por radiação entre os corpos 1 e 2 na
Fig. 49 pode ser obtida pela solução do circuito formado pela
combinação das resistências mostradas na Fig. 50. O circuito
equivalente de radiação para a transferência de calor entre duas
Figura 49. Duas superfícies paralelas infinitas. superfícies cinzentas paralelas e infinitas está representado na
Fig. 51.
J2 = σT24 .
A taxa líquida de calor transferida por unidade de área é
dada por,
dQ/dt
= σ(T14 − T24 ), (111)
A
Quando a superfície é um corpo cinzento opaco, com
transmissividade igual a zero, a radiosidade é dada por,
J − En
G= . (113) Figura 50. Resistências equivalentes para o circuito de radiação.
1−
A taxa líquida de calor transferido de uma superfície de
um corpo cinzento opaco pode ser expressa como a diferença
da radiosidade, ou seja, a radiação que deixa a superfície, e a
irradiação, ou seja, a radiação que chega, pode ser representada
por,
dQ En − J
= . (114)
dt [(1 − )/A]
A PÊNDICE
Tabela I
F UNÇÕES DE CORPO NEGRO
Substância Metais (Temp. da Superfície, K) Emissividade normal, n
Alumínio
Altamente polido 480-870 0,038-0,06
Altamente oxidado 370-810 0,20-0,33
Latão
Altamente polido 530-640 0,028-0,031
Oxidado 480-810 0,60
Cromo
Polido 310-1370 0,08-0,40
Cobre
Altamente polido 310 0,02
Enegrecido 310 0,78
Ouro
Polido 400 0,018
Ferro
Altamente polido 310-530 0,05-0,07
Ferro doce, polido 310-530 0,28
Ferro fundido, recém usinado 310 0,44
Ferro em chapa, enferrujado 293 0,61
Ferro fundido, rugoso e altamente oxidado 310-510 0,95
Platina
Polida 500-900 0,054-0,104
Prata
Polida 310-810 0,01-0,03
Aço inoxidável
Tipo 310, liso 1090 0,39
Tipo 316, polido 480-1310 0,24-0,31
Estanho
Polido 310 0,05
Tungstênio
Filamento 3590 0,39
Não-metais
Asbetos
Em folha 310 0,93
Em placa 310 0,96
Tijolo
Refratário branco 1370 0,29
Vermelho, rugoso 310 0,93
Fuligem
Fina 310 0,95
Concreto
Rugoso 310 0,94
Gelo
Liso 273 0,966
Mármore
Branco 310 0,95
Tinta
Óleo, todas as cores 373 0,92-0,96
A base de chumbo, vermelha 370 0,93
Gesso 310 0,91
Borracha
Dura 293 0,92
Neve 270 0,82
Água
Profunda 273-373 0,96
Madeira
Carvalho 295 0,90
Faia 340 0,94
Tabela II
E MISSIVIDADE TOTAL NORMAL