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intriga-me a malta que se dedica a elaborar vírus informáticos, a descobrir forma eficazes de os

disseminar, a apurar a melhor forma de os embrulhar em embalagens de aspecto inofensivo. eu, que
até sou um tipo espertinho e tal, já me deixei enganar várias vezes. será esta uma das motivações
dos virulentos? será que ficam, nas suas caves e buracos onde se escondem, a esfregar as mãos,
fantasiando sobre o número de pessoas que conseguiram enganar? não há dúvida que um vírus
informático é um pedaço de boa programação. e cada vez isso é mais evidente, aos meus olhos de
leigo, visto que as protecções são cada vez mais avançadas e, disto já tenho dúvidas, as pessoas
também estão mais conscientes dos perigos. antes de começar a escrever, lembrei-me de uma aula
de informática, no liceu. um colega, um dos mais brilhantes de uma turma de futuros génios da
informática, veio fazer perguntas sobre um vírus que tinha aparecido num dos computadores da
sala. depois de martelar rapidamente o teclado com um sorriso de detective descobrindo o que há a
descobrir, pegou numa disquete e enfiou-a na drive. à pergunta que lhe fiz, respondeu que gostava
de coleccionar vírus. na altura achei aquilo incompreensível. penso, a esta distância, que
provavelmente ele estudava os ficheiros portadores de vírus, que usava essa autópsia digital para
ficar a perceber mais sobre os mecanismos (in)sondáveis do código e da programação. sei que ele
era um dos melhores da turma, tendo sido, com outro colega, vencedor das olimpíadas de
informática em portugal, o que o levou à venezuela (ou argentina, não tenho a certeza) em
representação do méritos informáticos portugueses. sim, um vírus é um pedaço de boa
programação. ainda assim, a vaidade dos hackers, a satisfação dos fazedores de vírus, continuam a
ser misteriosas e bizarras para mim, continuo sem perceber, de uma forma profunda e clara, o gozo
de espalhar vírus. se fosse uma gripe ou gonorreia, o responsável não teria, parece-me, grande
orgulho em ser o responsável pela epidemia. ah!, pois é, neste caso, esta malta pode dizer que foi,
não um simples transmissor a contaminar o pessoal, mas o criador da coisa transmitida. hmm, ainda
assim, alguém que tivesse criado a gripe ou a gonorreia, que prazer poderia tirar em dizer (e a
quem?) fui eu, eu é que criei esta maleita, eu, por causa de mim é que há para aí pessoal a espirrar e
a coçar-se?

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