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A poltrona do dia de domingo - Joo Loureiro

Josu acabou de almoar e sentou na poltrona bem na frente da TV. Casa vazia, apenas invadida pelo som distante que vinha de algum automotivo parado na esquina do bar Central. O resto era silencio. Soturnidade. Como tudo naqueles fins de semana em que Josu, cansado da rotina da semana de trabalho, se entregava ao torpor do cotidiano que dava aos seus dias de domingo a consistncia mrbida de um suicida. Queria fazer outras coisas. Sair. Beber.Renovar-se. Quem sabe at, reler aquele livro de poesias erticas que sua amiga lhe presenteou ms passado. Mas era impossvel com aquela poltrona ali. Domingueira. Convidativa. Perniciosa. Saliente como costumam a ser os mveis no qual sempre desocupamos nossas mesquinharias da vida moderna. Ali estava Josu, sentado, vegetando o olhar sobre algum programa de humor ou um filme repetitivo, quando de repente, ele sentiu que algo mudaria nos prximos segundos. Resolveu que ia deixar de repetir-se naqueles domingos e fazer algo novo. Sentiu a fora da vida lhe tomar o corpo e libertar sua mente. Mas, quando ensaiava um movimento de revolta contra tudo aquilo que representava aqueles domingos, o som da vinheta do futebol lhe arrebatou os tmpanos e o corao. E ele, tal qual um zumbi a ponto de receber o golpe mortal na cabea, tumbou sobre a poltrona e deixou-se levar pelo sussurrar quase enfadonho de um dia de domingo que terminaria antes do fim do fantstico.

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