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P e lo ta s

L . M . P. R o d r i g u e s
2001
Capa, layout e editoração eletrônica: Ana da Rosa Bandeira
Consultoria de editoração, pesquisa e digitalização de imagens: Nara Rejane da Silva

Impresso no Brasil
 Copyright 2001 – Teresinha dos Santos Brandão

Tiragem: 500 exemplares

Obra publicada por L. M. P. Rodrigues, com o patrocínio de Michigan/Alfa Pré­Vestibular e o 
apoio da Universidade Católica de Pelotas.

Pedidos para: R. Cel. Alberto Rosa, 1886 apto. 403  CEP: 96010­770 – Pelotas ­ RS 
ou pelos e­mails: aflag.sul@zaz.com.br e naras.sul@zaz.com.br

B817t Brandão, Teresinha


Texto argumentativo : escrita e
cidadania. / Teresinha Brandão. – Pelotas: L. M. P.
Rodrigues, 2001.
88 p.

1. Português – estudo e ensino.


2. Produção textual. 3. Redação. I. Título.

CDD 469

Ficha Catalográfica: Bibliotec. Cristiane de Freitas Chim CRB 10/1233


Dedico este livro

AOS   MEUS   SOBRINHOS   –   a   ordem   é   estritamente   alfabética!   –, 


ALFEU   COSTA   DA   SILVEIRA   NETO,   BRUNO   BRANDÃO   DE   VARGAS, 
GABRIEL FLIEG AMARO DA SILVEIRA (recém vindo ao mundo!), LUCAS DE 
MORAES   SMITH   (apesar   da   distância...),   MARINA   DUARTE   GUTIERRE, 
MARÍLIA BRANDÃO AMARO DA SILVEIRA e PAULA BRANDÃO DE VARGAS, 
os quais, mesmo nos momentos em que a tristeza se fez presente em mim, 
foram   capazes,   pelo   encanto,   carinho   e   alegria   que   emanam,   de   ajudar   a 
superá­la. Guardarei deles para sempre as lembranças do primeiro sorriso, das 
primeiras  palavras,  dos  passinhos ainda inseguros,  das fotos, das gracinhas. 
Lutarei, junto a eles, contra as preocupações e adversidades de que a vida não 
puder poupá­los.

À AMIGA LAÍS MARIA PASSOS RODRIGUES, cujos laços de amizade 
ultrapassam a relação meramente profissional, propiciam momentos de grande 
riqueza e firmam uma relação baseada no companheirismo e cumplicidade.

AOS   MEUS   PAIS,   ARITA   E   PORFÍRIO   E   ÀS   MINHAS   IRMÃS, 


FABIANA E ROSANE, que, com entusiasmo, partilham sempre de meus sonhos 
e, incansavelmente, lutam por sua realização.
.
A g ra d e cim e n to s

Este livro resultou dos esforços e dedicação de diversas pessoas. Seria 
impossível   mencioná­las   todas.   Citarei   algumas   para   expressar   meu   reconhe­
cimento.

A FLÁVIO RESMINI, SÉRGIO HUMBERTO FACCINI SILVA, JOSÉ VOLNI 
DUARTE   E   GENY   DA   CUNHA   DUARTE,   por   terem,   pacientemente,   suportado 
meus momentos de ansiedade e dependência e, por meio de muita compreensão, 
ajudado a superá­los.

A GIANE DA CUNHA DUARTE, MARTA SÓRIA E REJANE DE MORAES 
SMITH, cuja amizade encontra­se feito presente em quase todos os momentos da 
minha vida.

À PROFESSORA LAIZI DA SILVA DAS NEVES, que me ensinou a ler e 
escrever, abrindo­me as portas para um universo desconhecido mas profundamente 
agradável – o mundo das palavras.

ÀS AMIGAS LÍGIA MARIA DA FONSECA BLANK E RENATA BEIRO, as 
quais sempre vibraram com minhas vitórias e me orientaram nos passos iniciais de 
minha vida profissional.

A ANA DA ROSA BANDEIRA E À AMIGA NARA REJANE DA SILVA, pelo 
paciente trabalho de digitação e dedicada criação do layout.

AO  AMIGO   E COLEGA   LUIZ  GUSTAVO  RIBEIRO  ARAÚJO,  com   quem 


partilhei  as primeiras  idéias  deste  livro.   Sou  grata  às  suas  críticas   e  sugestões, 
assim como à crença que deposita em meu trabalho.

À AMIGA E PROFESSORA ANA ZANDWAIS, pela dedicação e acompa­
nhamento crítico a mim dispensado durante o período em que fui aluna do mes­
trado. Seu exemplo de profissionalismo e seriedade marcaram­me profundamente.

A   CLÁUDIO   DA   CUNHA   DUARTE   E   A   GILBERTO   GARCIAS,   pela 


amizade e empenho na publicação deste livro.
6 Teresinha Brandão

A MICHIGAN­ALFA PRÉ­VESTIBULAR, pelo patrocínio, e a UCPel, pelo 
apoio, agradeço. Sem a participação dessas instituições talvez não fosse possível a 
publicação da obra.

A ANDRÉ MACEDO E INÊS PORTUGAL, da equipe do Diário Popular, de 
Pelotas, pelo incentivo e apoio na divulgação desta obra.

...   e,   como   não   poderia   deixar   de   mencionar,   A   TODOS   OS   MEUS 


ALUNOS, que enriquecem a criação deste livro porque dele se tornaram partícipes 
e co­autores.
.
A p re se n ta çã o

A obra Texto argumentativo: escrita e cidadania oportuniza a quem deseja aprimo­
rar a produção textual não apenas uma teoria embasada no que há de mais atual na dou­
trina lingüística, mas, com diversificados exercícios, mostra a riqueza de recursos que a 
língua materna nos oferece.
A autora, profissional dedicada, competente e com experiência no ensino médio, 
reconhece a importância de desmistificar o ensino de português, especialmente de reda­
ção, no sentido de demonstrar que este não se baseia em regras difíceis e rígidas, em ex­
ceções ou armadilhas, mas sim consiste num tesouro do qual dispomos para expressar 
nossas idéias, nossos sentimentos, nosso posicionamento diante do mundo; enfim, para 
exercermos a plena cidadania.
De forma bastante didática, a autora, por meio de atividades criativas, cujos temas 
vão ao encontro do interesse dos jovens, porque atuais e estimulantes, propicia o desen­
volvimento não apenas do senso crítico, do raciocínio, da capacidade de argumentar, como 
ainda estimula a criatividade.
Destacaria, como “ponto alto” desta obra, as práticas textuais concernentes à coe­
são e coerência – tão indispensáveis a um bom texto –, dando ênfase à pertinência do en­
riquecimento do vocabulário, já que os estudantes, sem dúvida, possuem plena capacidade 
de raciocínio e discernimento, no entanto, às vezes lhes foge o “como dizer”. Tais exercícios 
fortalecem o conceito de que utilizar um vocabulário pertinente à situação de interlocução 
confere credibilidade às informações dadas, assim como auxilia a criação de uma imagem 
positiva,   de   seriedade   do   produtor;   dessa   forma,   concorre   para   reforçar   o   peso   argu­
mentativo de um texto e a capacidade de persuasão.
Assim sendo, com  Texto argumentativo: escrita e cidadania, Teresinha brinda os 
estudantes – razão de ser desse livro –, os professores e aqueles apaixonados pelo idioma 
e eternos aprendizes.

Laís Maria Passos Rodrigues
.
P a la vra s d a a u to ra

Gostaria, inicialmente, de ressaltar alguns aspectos relativos ao título desta obra.
Embora acredite que a argumentação seja constitutiva da linguagem, independente 
da tipologia textual, concentrei neste livro a atenção em apenas dois tipos de texto: a carta 
e a dissertação.
Acredito serem elas importantes por duas razões: a primeira justifica­se pelo fato 
de, na atualidade, a maioria dos veículos de comunicação impressos destinar um espaço 
privilegiado   aos   leitores   que   queiram   expressar   seus   posicionamentos,   sejam   eles   para 
ratificar ou contestar as mais diversificadas idéias.
Ademais, lembro que, com a redemocratização do País, após um exaustivo período 
de censura, a escrita de textos desse tipo, veiculados na mídia ou via internet, tem se mos­
trado uma das formas mais eficientes de a sociedade civil manifestar­se e, desse modo, 
exercer um direito legítimo, que é fruto de sua conquista: o direito à cidadania.
Outra razão – esta de ordem pragmática – diz respeito à minha prática pedagógica. 
Exercendo o magistério, durante alguns anos, no ensino médio, sobretudo em classes fi­
nais, de 3º ano, assim como em cursos pré­vertibulares, senti a necessidade de produzir 
um material didático voltado às exigências de meus alunos. Como as universidades da re­
gião em que atuo – UFPel e UCPel –, a exemplo da UNICAMP – SP, adotam, em suas pro­
vas   de   vestibulares,   pelo   menos   uma   das   duas   modalidades   citadas,   julgo   plenamente 
justificável nelas ter­me concentrado.
É meu desejo, pois, que a obra atenda a essas duas necessidades. Como todo tra­
balho humano é passível de erros e, de outro modo, sujeito a acertos, as contribuições dos 
que vierem a adotar este livro serão bem­vindas.

Um abraço,

A autora
.
S u m á rio

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Consultoria de editoração, pesquisa e digitalização de imagens: Nara Rejane da 
Silva....................................................................................................... ....................2
Tiragem: 500 exemplares................................................................................... ........2

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13 Teresinha Brandão

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1 Co n s id e ra çõ e s in icia is : ca ra cte rís tica s d o te x to a rg u m e n ta tivo

Para bem entendermos o processo de argumentação, assim como as


características e os elementos que compõem um texto argumentativo, tomemos
por base a coletânea a seguir, cuja temática centra-se no amor:

T e x t o  2 :

T e x to  1 : “ M á r c ia , s e  e u  g a s ta s s e  to d a s  a s  @  d e s te  
c i b e r e s p a ç o ,   a i n d a   a s s im   n ã o   p o d e r i a   e x p r e s ­
“ O  a m o r  é   fin a lm e n te s a r   o   q u a n t o   c u r t o   t e c l a r   c o m   v o c ê . 
u m  e m b a ra ç o  d e  p e r n a s ,                                                                       A m o r,   R i c k ”
u m a   u n iã o   d e   b a r r i g a s ,
( d e c l a r a ç ã o   v ir t u a l)
u m   b r e v e   tr e m o r  d e   a r té r ia s ,
u m a  c o n fu s ã o  d e  b o c a s ,
u m a   b a t a l h a   d e   v e ia s , T e x to  3 :
u m   r e b o l iç o   d e   a n c a s ,
q u e m   d iz   o u t r a   c o i s a   é   b e s t a .” “ D iz e r  q u e  b r e v e m e n te  s e r á s  a  m e ta d e
G r e g ó r io  d e   M a t o s d e   m i n h a   a l m a .  A   m e t a d e ?   B r e v e m e n t e ?
N ã o :  j á   a g o r a   é s ,   n ã o   a   m e t a d e ,   m a s   t o d a .
( I n :  B A R B O S A ,   S .  A . ,   A M A R A L ,   E .  D o u ­ te  a  a lm a  in te ira , d e ix a s ­ m e  a p e n a s
E s c re v e r é  d e s v e n d a r  o  m u n d o : a U m a  p e q u e n a  p a r te  p a ra  q u e  e u  p o s s a
l in g u a g e m   c r ia d o r a   e   o   p e n s a m e n t o
ló g ic o .  C a m p in a s :  P a p ir u s ,   1 9 8 6 )  
e x is t i r   p o r   a l g u m   t e m p o   e   a d o r a r ­ t e .”
G r a c i l ia n o   R a m o s
( E m   C a r t a s   d e   A m o r   a   H e lo í s a )  
16 Teresinha Brandão

T e x to  4 :

(VERISSIMO, Luis Fernando. As cobras em: se Deus existe que eu seja atingido por um raio. Porto Alegre: L&PM, 1997.  p.19)

T e x to  5 : T e x to  6 :

“ P a r a   fa l a r   t u d o :  a   v i d a   n ã o   c o m e ç a   q u a n d o   s e
“ A m o r,   e x i s t i r i a   s u b s t a n t i v o
n a s c e .  C o m e ç a   q u a n d o   s e   a m a .  R o m a n t i s m o   à  
m a is  a b s tr a to ?   A m a r,  o u tr o
p a r te , s ó  a d q u ir im o s  c o n s c iê n c ia  d e  n ó s  m e s m o s
v e r b o  te r ia  s id o  ta n ta s  v e ­
q u a n d o ,   s e m p r e   d e   r e p e n t e ,   s e m   a v i s o   p r é v io ,
z e s  c o n ju g a d o ?  N in g u é m  é
s e n t im o s   q u e   a lg u m a   c o i s a   m u d o u   n o   m u n d o ,
c a p a z  d e  c a p ta r  a s   in fin ita s
n a   n o i t e   e   n o   d ia ,   n a   lu z   e   n o   v e n t o ,   m u d o u   t u d o
r e v e r b e r a ç õ e s   d e s s a   p a la ­
d e n t r o   d a   g e n t e :  e s t a m o s   e n a m o r a d o s .
v r a ,   e la   e s c a p a   a t é   m e s m o  
É   a in d a   u m   a n ú n c io ,  ‘ p r e v i e w ’  d e   a lg u m a   c o i s a
à q u e l e   q u e   v a s c u lh a   e   f r e ­
q u e  p o d e   s e r  o  te s ã o ,  o  c a s o ,  o  r o lo ,  o  e q u í v o c o .
q ü e n t a   t o d a s   a s   c e la s   s e ­
S ã o   v a r ia n t e s   p a r a   o   g r a n d e   p r o g r a m a   q u e   é   o
m â n t ic a s   d o   d ic io n á r i o .  O  
a m o r ,   s í n t e s e   d e   t u d o   o   q u e   fo i   f r a g m e n t a r i a m e n ­
a m o r  s e  d e s d o b ra  e m  m ito s ,
t e   a n u n c i a d o .  A m a n t e   é   u m   o f í c io .  N a m o r a d o ,  
s e  r e n o v a  e m  h is tó r ia s  p r e ­
u m a  v o c a ç ã o .
té r it a s  e   fu tu r a s , r e n a s c e  e m  
H á   a m a n t e s   q u e   n ã o   s e   n a m o r a m .  E   n a m o r a d o s
c a d a  p o e m a  (...) ”
q u e   n ã o   s ã o   a m a n t e s .  O   a m o r   é   e s c r a v o   d o   t e m ­
p o ,   n a s c e   e   p o d e   m o r r e r   c o m   o   t e m p o .”
( A u g u s t o   M a s s i .  A   P a ix ã o   n a   M o r a d a
( C a r lo s   H e it o r   C o n y .  A   e s t r e la   d a   U r s a   M a io r .  F o lh a   d e   S ã o   d o   P o e m a .  F o l h a   d e   S ã o   P a u lo ,
P a u lo ,   1 2 / 0 6 / 9 6 )   1 2 /0 6 /9 6 ) 

A coletânea evidencia, através de


seus textos, opiniões, julgamentos,
preferências, pontos de vista
diversos sobre o amor. Ela o concebe
como um sentimento plural,
heterogêneo: amor “carnal” (ou “eróti-
co”), “espiritual”, “virtual”, “racional”,...
Se tomarmos o Texto 1 como
exemplo, veremos que seu autor
sustenta uma tese – proposição ou
teoria considerada verdadeira, que pode
ser defendida com argumentos – a qual
aponta para uma conclusão, a saber: o
17 Teresinha Brandão

“verdadeiro” amor é o carnal, aquele que


merece efetivamente ser vivenciado.
Além disso, nesse tipo de texto, textos argumentativos, como a
per-cebemos uma característica dissertação escolar, devem prevalecer
peculiar do pro-cesso de a “impessoalidade” e a “objetividade”.
argumentação: ele pressupõe o Ora, nesse tipo de texto, exigir-se que o
confronto de idéias. Tal aspecto autor “não se inclua” ou que exponha
heterogêneo da argumentação pode de forma “objetiva”, quase
ser comprovado atra-vés do verso “imparcialmente”, dados de uma reali-
“quem diz outra coisa é besta”, o qual dade, mostra-se um despropósito. Num
se contrapõe a uma outra concepção texto argumentativo, ocorre justamente
de amor não explicitada no texto. o contrário: o autor intervém
Alguns pontos, no freqüentemente na análise
entanto, devem ser do tema, por meio de
salientados para que não críticas, ressalvas, na
se confundam noções escolha do vocabulário,
básicas sobre o ato de entre outras formas de
argumentar. expressão, manifestando
seus sentimentos, gostos,
Apesar de, nas opiniões.
escolas, de um modo
geral, termos aprendido Lembremos,
que existem basicamente também, que, num texto
três tipos de texto – argumentativo, a ressalva
descritivo, narrativo e torna-se um importante
elemento de que se pode

Ilustração: Nara Rejane da Silva
dissertativo –, e apenas o
último ser sinônimo de lançar mão, pois ela
“argumentativo”, funciona como um
notamos, através da mecanismo para flexibili-
coletânea, que os zar o ponto de vista. O
elementos os quais compõem um texto objetivo da ressalva é
argumentativo podem se fazer conciliar com o interlocutor, reconhe-
presentes nos mais variados tipos de cer parte da verdade contida nas
texto: num poema, numa charge, em palavras deste.
ensaios, em narrações, em textos Se o assunto em questão for a
dramatúrgicos, entre outros. Mais liberalização das drogas, no caso a
ainda: numa conversa de bar; num maconha, e, se o autor do texto for
diálogo entre mãe e filho em que este desfavorável a tal liberalização, ele
reivindica, faz exigências. pode relativizar seu ponto de vista,
Tais considerações explicam o admitindo que “Apesar dos inúmeros
fato de que a argumentação é malefícios que esta droga pode causar
constitutiva da linguagem, ao organismo, é inegável sua
independente do texto em questão, da contribuição no tratamento de alguns
tipologia textual tradicionalmente tipos de cânceres ou no de doentes que
ensinada nas escolas, segundo a qual desenvolveram a Aids.”
“argumentação” chega até mesmo a O levantamento de hipóteses
ser sinônimo única e exclusivamente igualmente se mostra relevante no
de “dissertação”. texto argumentativo.
Julgamos necessário Tomemos como exemplo um
questionar, ainda, idéias as quais fato da atualidade – a violação do
sustentam que, em determinados painel do Senado, no ano 2001,
18 Teresinha Brandão

envolvendo os então senadores ACM e Ou não? A julgar pela decisão dos dois
Arruda –. O aluno poderia tecer sua senadores, quais as perspectivas fu-
análise levantando hipóteses: caso eles turas em relação ao cenário político
não tivessem renunciado, a cassação brasileiro?
teria amenizado uma possível sensação Trata-se, pois, de hipóteses que
de impunidade em vigor no País? A podem enriquecer a análise de um
instauração de uma CPI teria conferido tema.
maior credibilidade ao próprio Senado?

2 F in a lid a d e s d a a rg u m e n ta çã o

A argumentação presta-se a propósitos vários, entre os quais se


destacam:
19 Teresinha Brandão

r e f o r ç a r u m a d e t e r m i n a d a p o s i-
ç ã o e m fa v o r d e u m a te s e ( q u a n d o
o in t e r l o c u t o r j á c r ê o u c r ê q u a s e
c o m p le t a m e n t e n a t e s e d o lo c u -
to r);

p r o d u z ir u m a m u d a n ç a d e m e n t a -
lid a d e / c o m p o r t a m e n t o , p r o v o -
c a n d o , d e s s a fo rm a , a a d e s ã o d o

I lu s t r a ç õ e s :  N a r a  R e ja n e   d a   S il v a
in t e r lo c u t o r e m f a v o r d e u m a d e -
t e r m i n a d a t e s e ( q u a n d o o i n t e r lo -
c u t o r n ã o c r ê o u c r ê p a r c ia lm e n t e
n a t e s e d o lo c u t o r ) ;

le v a r a c o n h e c e r , c o m p r e e n d e r a s r a -
z õ e s p e la s q u a i s a q u e le q u e a r g u m e n t a
s u s t e n t a d e t e r m i n a d a t e s e , n ã o o b j e t i-
v a n d o n e c e s s a r ia m e n t e a a d e s ã o ( q u a n -
d o o in t e r lo c u t o r d e s c o n h e c e a t e s e d o
lo c u t o r ) . P o r e x e m p lo , e m u m a e l e iç ã o , o
“ P a r t i d o X ” n ã o a p r e s e n t a c o n d iç õ e s d e
v i t ó r i a , m a s , a o m e n o s , s e u d is c u r s o “ a -
b r e e s p a ç o ” p a r a t o r n a r p ú b li c a s u a p l a t a -
f o r m a p o l í t ic a . U m o u t r o c a s o : u m a d v o -
r e f u t a r u m a d e t e r m in a d a g a d o , e m u m j u lg a m e n t o , s a b e q u e s u a
p o s iç ã o , m e d ia n t e c o n t r a - t e s e é “ p e r d id a ” ; n o e n ta n to , s u s t e n t a - a
a r g u m e n t o s ( q u a n d o o lo c u - a t é m e s m o p a r a “ m a r c a r p r e s e n ç a ”, t o r -
to r n ã o q u e r c re r e m d e te r- n a r - s e c o n h e c id o n o m e i o j u r íd i c o ;
m in a d a t e s e ) .
3 D ife re n ça s fu n d a m e n ta is e n tre a rg u m e n ta çã o / p e r s u a s ã o / co e rçã o

A argumentação é um da racionalidade, da evidência, há o


processo que se dá a partir do apelo à afetividade, à impulsividade,
raciocínio lógico, da organização do ao imediatismo. A persuasão assim
pensamento de forma a sustentar vista é própria da maioria dos
uma tese com argumentos claros, discursos publicitários, dos discursos
convincentes, sem apelar ao imedia- políticos não-sinceros.
tismo e à emocionalidade. Como exemplo de texto em
Já a persuasão (alguns que a persuasão sobrepõe-se à
teóricos tratam-na por persuasão argumentação, analisaremos a
não-válida) ocorre quando, em lugar propaganda a seguir.

A Duloren duas fotos apare-cem de tal forma que o leitor, para


elaborou sua continuar a leitura, deve virar a página.
campanha de
lançamento de
lingeries movendo o
leitor pela
provocação, pelo
de-safio, conforme
perce-bemos não só
pelas fotos como
também pela
estrutura utilizada
“Você não
imagina...”, a qual
desperta uma
intensa curiosidade.
Na revista, esta
curiosi-dade é
aguçada, pois as
Provocação, desafio, curiosidade,
ero-tismo são, pois, palavras-chave neste
texto.
Não é o “raciocínio lógico” que
incita o leitor a virar a página e
compreender o texto, até porque, pela
“lógica”, seria difícil acreditar que um
membro da seita radical Ku Klux Klan,
conhecida pelas suas idéias de racismo
extre-mo, poderia “dobrar-se” aos apelos
de uma mulher – e negra! – e, ao invés de
(Revista Nova, nº 265) ser seu car-rasco, tornar-se seu servo, o
“dominado”. 
A coerção também se o interlocutor a concluir que fumar
diferencia da argumentação: faz mal à saúde, ou, pelo menos, a
enquanto a primeira visa impor uma refletir sobre os prejuízos do
tese, por meio de uma proibição, por tabagismo. Podemos sentir, no último
exemplo, como em “Não fume!”, cuja caso, o caráter “liberal” da
tese é “fumar faz mal à saúde”, a argumentação já que esta permite o
segunda conduz, através de argu- confronto de idéias, promove a
mentos próprios do raciocínio lógico, discussão.
E m s í n t e s e : a r g u m e n t a r n ã o é s i m p l e s m e n t e i m p o r, m a s f a z ê - l o c a s o s e q u e ir a a a -
d e s ã o d o o u tro le g i t im a n d o e s s a im p o s iç ã o p o r m e io d e u m a a n á lis e c o n v in c e n t e ,
b e m f u n d a m e n t a d a , fa t o q u e n ã o o c o r r e c o m a c o e r ç ã o j á q u e e s t a d e p e n d e u n ic a m e n t e
d a v o n t a d e d o l o c u t o r, m a n i f e s t a a t r a v é s d e p r o i b i ç õ e s , a d v e r t ê n c i a s , e n t r e o u t r o s r e -
cu rs o s.
L e m b r e m o s , a d e m a is , q u e , n o t e x t o a r g u m e n t a t iv o , h á u m a a m b iv a lê n c ia : a o
m e s m o t e m p o e m q u e e x i s t e e s s e e f e i t o d e “ l i v r e a r b í t r i o ”, o u s e j a , o i n t e r l o c u t o r “ p o d e ”
r e f o r ç a r u m a t e s e , a d e r i r a e l a o u d i s c o r d a r d e l a , h á a v o n t a d e d e o l o c u t o r c o n d u z ir o
i n t e r l o c u t o r a a d e r i r à s i d é i a s d a q u e l e . A r g u m e n t a r, n e s t e c a s o , s i g n i f i c a l e v a r o i n t e r l o -
c u t o r a a c e it a r o q u e e s t á s e n d o d it o . T a lv e z s e j a e s s e c a r á t e r c o e r c i t iv o q u e le v o u o
t e ó r i c o C h a r o l l e s a f i r m a r q u e “ o h o r i z o n t e d e t o d a a r g u m e n t a ç ã o é o s i l ê n c i o ”. . .
C H A R O L L E S , M . L e s f o r m e s d i r e c t e s e t i n d i r e c t s d e l ’a r g u m e n t a t io n . P r a t i q u e s , n . 6 4 , p . 7 - 4 5 .
4 U m e xe m p lo d e te x to a rg u m e n ta tiv o : a ca r ta

As universidades UNICAMP e seguinte proposta.


UFPel propõem, em suas provas de No ano de 1996, sugeriu-se
vestibulares, uma modalidade textual aos alunos que redigissem uma carta
muito interessante: a carta argumentativa ao então ministro da
argumentativa. Justiça, Nelson Jobim, com o objetivo
Nesse tipo de texto, o de os vestibulandos manifestarem-se
vestibulando costuma aderir, reforçar sobre a norma, criada pelo Governo
ou contrariar uma tese a partir de Federal, a qual proibia fumar em
uma coletânea de textos que recintos públicos fechados.
constam na prova. Observemos o texto de um
Vejamos um exemplo dessa dos alunos, Fernando Rezende.
modalidade, tomando por base a
P e lo ta s , _ _ _  d e  _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _  d e  _ _ _ _ _ _ .

E x c e le n t í s s im o   S e n h o r   N e l s o n   J o b i m

T e n d o  to m a d o   c o n h e c im e n to , p o r  m e io  d a  im p r e n s a , d a  n o r m a  q u e  r e g u la r á  o  


t a b a g i s m o  e m  r e c i n t o s  p ú b l i c o s  fe c h a d o s  d e  n o s s a  s o c i e d a d e ,  r e s o lv i e s c r e v e r ­ lh e  p a r a  
t e c e r  a lg u m a s  c o n s i d e r a ç õ e s ,  o fe r e c e n d o ­ l h e ,  d e s s a  fo r m a ,  m i n h a  c o n t r i b u iç ã o  a c e r c a  
d e s s e  t e m a  r e l a t iv a m e n t e  c o m p l e x o  e  p o l ê m i c o .
C o n s i d e r o   ju s t a   a  r e s t r i ç ã o  l e g a l   a o   u s o   d o   c ig a r r o  e m  r e c in t o s   p ú b li c o s   fe c h a ­
d o s ,  j á  q u e  e s t a  n o r m a  v is a  p r o t e g e r  a  s a ú d e  d a s  p e s s o a s  q u e  n ã o  f u m a m . N o  e n t a n t o ,  a  
a u s ê n c i a  d e  m e d i d a s  c o n c o m i t a n t e s  a  e s t a  p r o i b iç ã o ,  n o  s e n t i d o  d e  r e s t r i n g i r  o u  m e s m o  
p r o i b i r  t o t a l m e n t e  a  p r o p a g a n d a  d e  c i g a r r o s  f r a g i l i z a ,  n o  m e u  e n t e n d e r ,  a  r e fe r i d a  n o r m a . 
É  n e c e s s á r i o ,  s e n h o r  m i n is t r o ,  a l g u m a  a t e n ç ã o  d o  P o d e r  P ú b l ic o  a o s  q u e  f u m a m  e  q u e ­
r e m  a b a n d o n a r  o  h á b i t o ,  e  u m a  e s p e c ia l  a t e n ç ã o  a o s  j o v e n s  q u e ,  a t r a v é s  d a  p r o p a g a n ­
d a ,  i r ã o  e n g r o s s a r  a s  f i l e ir a s  d a s  v í t im a s  d e s s e  m a l e f í c io .
G o s t a r i a  a i n d a  d e  l e m b r a r ­ l h e  q u e  o  f u m a n t e ,  a o  c o m p r a r  u m  m a ç o  d e  c i g a r r o s ,  
e s t á  c o n t r ib u i n d o  c o m  a  U n i ã o ,  p o r  m e i o  d e  u m  i m p o s t o  m u i t í s s i m o  e l e v a d o . U m a  p a r c e ­
l a  d e s s e   im p o s t o   d e v e r i a   s e r ,   p o r   le i ,  d e s t i n a d a   à   p e s q u i s a   s o b r e   e s t e   p r o b l e m a ,  t e n d o  
p o r  f i n a li d a d e  a  p r e v e n ç ã o  c o n t r a  o s  m a l e s  d o  t a b a g is m o  e  o  t r a t a m e n t o  d o s  d e p e n d e n ­
t e s  d a  n ic o t i n a .
P o r t a n t o ,  s o li c i t o  a  V o s s a  E x c e lê n c ia  q u e  c o n s i d e r e  m i n h a  c o l a b o r a ç ã o  n o  s e n t i ­
d o  d e  t o r n a r  a  l e i a n t i t a b a g i s m o  m a is  c o n s i s t e n t e  e ,  p o r  c o n s e q ü ê n c i a ,  m a i s  e f i c a z .

A t e n c io s a m e n te ,
F . R .
Comentários sobre o texto:
Destacam-se, no texto de O aluno levou em conta, ao
Fernando Rezende, alguns elementos escrever a carta a Nelson Jobim, que
relacionados ao contexto, à situação este era um ministro de Estado, da
em que foi escrito, tais como a data, área da Justiça, portanto, alguém que
o local, o interlocutor e o locutor. deveria ser tratado, pois não havia
intimidade entre os dois, com um
Quanto à interlocução, na
certo grau de formalidade. Para
carta, aparece explícita, através do
tanto, usou a norma culta da
vocativo, ou do uso de pronomes.
língua, um vocabulário próprio ao
Consideremos, no processo de
contexto, evitou intimidades ou
interlocução, a importância de o
posturas agressivas, mesmo
locutor/interlocutor terem uma
quando criticou o Poder Público. Além
imagem precisa, clara um do outro
disso, não tratou o ministro como se
para conduzir os argumentos na
este desconhecesse o assunto em
direção exata a que se quer chegar.
questão, pois ambos
Sem o locutor conhecer as
compartilhavam informações,
necessidades, as vontades, as
tinham conhecimento sobre a norma.
limitações do interlocutor, difícil se
Até mesmo as sugestões e
tornará esse processo.
solicitações feitas por ele ao
ministro foram adequadas, exeqüíveis argumentos do aluno mostram-se
ao cargo que este ocupava. consistentes já que há uma tripla
preocupação: com os fumantes, os
Por outro lado, Fernando não se
não-fumantes e os que poderão vir a
preocupou somente com a imagem
ser fumantes.
que ele tinha do ministro, mas
também com a imagem que o No 3º parágrafo, o locutor reitera
ministro poderia formar de Fernando, a necessidade de o ministro, como
fato o qual ficou claro na apre- membro representante da União,
sentação que apareceu no início da tomar uma atitude quanto ao
carta, assim como nos próprios assunto, mas essa solicitação ou
argumentos usados, demonstrando, exigência, são feitas com polidez.
com isso, “dominar”, mesmo não
Na conclusão, no 4º parágrafo,
sendo um especialista, noções de
ele confirma a finalidade da carta –
legislação e informações sobre o
contribuir, por meio de seus
tabagismo.
argumentos, para que a norma seja
Notemos que, na introdução da revista (“tornar a lei antitabagismo
carta, o aluno deixa claras algumas (...) eficaz.”).
informações: como tomou
conhecimento do assunto, qual o
assunto em questão e a finalidade
do texto.
No 2º parágrafo, já no
desenvolvimento, ele expressa um
ponto de vista (“Considero
justa...”), seguido de uma ressalva
(“No entanto...”). Esta se faz
acompanhar de uma crítica
(“...fragiliza...”). Ademais, chama a
atenção para a importância de o
ministro, através do Poder Público,
P a l á c io   d a   J u s t iç a ,   B r a s í l ia .  F o t o :  D a n i e l   M a c e d o . 
reverter o quadro em questão. Os
Agora observemos algumas marcas lingüísticas explícitas no
texto:

E x c e le n t ís s im o  
S e n h o r   N e l s o n   J o b i m /   e s c r e v e r ­ lh e /   r e s o lv i 
o fe r e c e n d o ­ l h e /  É  n e c e s s á r i o ,   s e n h o r   e s c r e v e r ­ lh e /   m in h a   c o n t r ib u iç ã o /  
m i n i s t r o /   l e m b r a r ­ l h e /  s o li c i t o  a   V o s s a   C o n s i d e r o /   n o  m e u  e n t e n d e r /   G o s t a ­
E x c e lê n c ia ; r i a  d e /  s o l i c i t o ;

t e m a   r e l a t i v a m e n t e   c o m p le x o  
e   p o l ê m i c o /   C o n s i d e r o   j u s t a /   e s p e c ia l   a t e n ç ã o /   m u i t í s s i m o   e l e v a d o /   l e i   ( . . . )   m a i s  
c o n s i s t e n t e  ( . . . )  m a i s  e f ic a z ;

d )  u s o  d e  s u b s ta n tiv o s   n a  
a r g u m e n t a ç ã o :  t a b a g i s m o /  m a ­ o fe r e c e n d o ­ l h e ,  d e s s a  fo r m a /   j á  
le s /  m a le fíc io /  r e s tr iç ã o /  v ítim a s /  q u e   e s ta  n o r m a /  N o  e n ta n to /  G o s ta r ia  
p r e v e n ç ã o /  t r a t a m e n t o ; a i n d a /  P o r t a n t o /  p o r  c o n s e q ü ê n c i a .

O u s o d a co le tâ n e a e a im p o r tâ n cia d o le v a n ta m e n to d e id é ia s

Um dos aspectos considerados cópia desde que se esclareça a


na avaliação de redações propostas fonte.
pela UFPel e UCPel refere-se ao uso da Além disso, o aluno não precisa
coletânea. O vestibulando não pode, limitar-se às informações e/ou
segundo as bancas examinadoras, argumentos da coletânea, nem mesmo Ilustração: Nara Rejane da Silva
apropriar-se dela copiando trechos utilizar todos os fragmentos dela. Ele
como se estes tivessem sido pode – e isso é mui-to proveitoso! –
escritos por ele mesmo. No entanto, acrescentar idéias prove-nientes de
os argumentos nela seu conhecimento de
contidos podem ser mundo, de sua
parafraseados, ou seja, experiência cultural.
ele pode utilizá-los,
Além de
desenvolvendo-os “com
fornecer informações,
suas próprias palavras”.
argumentos, a
No caso de dados
coletânea desempenha a
estatísticos, fatos
função de delimitar o
históricos (inclusive
tema, por vezes amplo,
datas), citações, por
di-recionando-o,
exemplo, é permitida a
indicando que aspectos
devem ou não ser abordados. No texto seja, um esquema cujas idéias
de Fer-nando Rezende, nota-se a poderão auxiliar o aluno na
preocupação em posicionar-se sobre a construção de seu texto, sobretudo
norma em questão, e não em tecer se este for baseado em outro texto ou
uma análise ampla acerca dos em um con-junto de textos. Assim, há
malefícios ocasionados pelo tabagismo. determinados “passos”, uma espécie
Para bem aproveitarmos a de roteiro os quais podem ser os
coletânea, o ideal seria organizarmos seguintes:
um levantamento das idéias, ou

f a z e r o le v a n t a m e n t o d o s
d a d o s c o n t id o s n a c o le t â -
n e a - id é ia s - c h a v e r e t i- s e le c io n a r e s tr u tu r a s
ra d a s d o s te x to s; b á s ic a s a s e r e m u t ili-
z a d a s - a r t ic u la d o r e s
d e c a u s a lid a d e , c o n t i-
n u id a d e , o p o s iç ã o ,
c o m p a r a ç ã o e t c .;

s e le c io n a r u m v o c a -
b u lá r io c o m p a t ív e l o r g a n iz a r o p la n o d a s id é ia s -
co m o te m a : v e rb o s, a r g u m e n ta ç ã o p r ó p ria , a c r e s -
s u b s t a n t iv o s , a d j e - c id a d o s d a d o s d a c o le tâ n e a o s
t iv o s , a d v é r b io s , q u a is j u lg a r m a is r e le v a n t e s a
p ro n o m es; fim d e r e fo r ç a r o p o n to d e
v is t a e e n r iq u e c e r o t e x t o o u
d a d o s q u e se rã o co n te sta d o s
(n o ca so d a co n tra - a rg u m e n -
ta çã o ) .

Antes, portanto, de concentrar- Como exemplo de bom uso da


se na coletânea, analisemos coletânea, leia a proposta abaixo, feita
atentamente a proposta que as no ano 2000, seguida da carta
bancas apresentam pois há nela itens argumentativa, redigida pela aluna Ana
os quais devem ser observados para Barbosa Duarte, assim como o
que não haja fuga do tema ou ina- comentário posterior.
dequação ao tipo de texto.

Proposta de redação:
No decorrer do ano 2000, Baseando-se não só na
houve inúmeros eventos os quais conjuntura atual, mas também
visaram a celebrar os 500 anos de tomando por base o passado histórico
Descobrimento do Brasil. de nosso país, reflita sobre a seguinte
questão: “A data comemorativa dos Ao elaborar seu texto, utilize
500 anos de descobrimento de nossa alguns argumentos expostos na
terra é motivo de comemoração para coletânea abaixo, assim como outras
nós, brasileiros?” informações que julgar relevantes.
Para tanto, redija uma carta Atenção: ao assinar sua carta,
argumentativa ao editor do jornal use apenas as iniciais de seu nome.
Folha de São Paulo (FSP), posicionando-
se sobre o tema.
“ H e s i t o   u m   p o u c o   e m   e n t r a r   n e s s a   d is c u s s ã o   s o b r e   o  
D e s c o b r i m e n t o   e   s e u s   fe s t e jo s ,   p o r q u e   é   e n t r a r   n o   j o g o   d o   "N ã o   vo u   c o m e m o ­
ra r   c o m o   N a ta l  o u   A n o  
g o v e r n o .  E s s a   h i s t ó r ia   d e   fe s t e ja r   a   d a t a   é   i n v e n ç ã o   e   o b r a  
N o v o ,  m a s  v o u  f ic a r  m u i ­
d o   g o v e r n o   e   s u a s   c e n t e n a s   d e   m i lh õ e s   d e   r e a is   a   s e r e m   t o   fe l i z .  O   B r a s i l   é   u m  
g a s t o s . A  p a r t i r  d a  i n i c i a t i v a  d o  g o v e r n o ,  e  a p o i a d o s  e m  s e u s   p a í s  m a r a v il h o s o ,  n ã o  e ­
r e c u r s o s ,  u m a  s é r i e  d e  o r g a n i s m o s  s e  c o n t a g i o u  p e lo   t e m a   x i s t e   m a i s   b o n it o .  A   c u l ­
e   n ã o  t e r m i n a   n u n c a   e s s e   d e s f il e   d e   u fa n i s m o : d o s   d e s f il e s   t u r a  e  a  n a t u r e z a  d a  n o s ­
d a s   e s c o l a s   d e   s a m b a   à   p e n c a   d e   li v r o s   s o b r e   o   a s s u n t o ,   s a  t e r r a  s ã o  m u i t o  r i c a s .”
d a s  c a m p a n h a s  p u b li c i t á r i a s  à s  c a p a s  d e  r e v i s t a s . ( F o lh a t e e n ;  F e r n a n d o   G o m id e  
N o v a e s , 2 0 , S ã o  P a u lo , S P )  

O   g o v e r n o   fe s t e ja   a   d a t a   p o r q u e ,   s e i  l á ,   n ã o   t e m   n a d a  
" N ã o   e x is t e   m u it a  
m a i s  p r a  fe s t e ja r  n e s s e  p a í s  m is e r á v e l e  c o m  t a n t o s  p r o b le ­
c o is a   p a ra   s e   c o m e m o ­
m a s .  A s s i m ,   a o   i n v é s   d e   t e r   d e   s e   p r e o c u p a r   c o m   d e c i s õ e s   r a r .  S ó   v e j o   v i o l ê n c i a   e  
c o m p l i c a d a s ,   c o m o   c o n t i n u a r   d e i x a n d o   m e t a d e   d a   p o p u la ­ d e s e m p r e g o : a  b a r r a  e s ­
ç ã o  s e  e s v a i r  e m  s u b n u t r iç ã o  o u  u s a r  o  d i n h e i r o  p a r a  c u s t e a r   tá   p e s a d a   p a r a   o   b r a s i­
s u a   d ív id a   c o m   a   b a n c a ,  o   p e s s o a l  d e   B r a s ília   d e ix o u   d e   l e ir o . A l é m   d i s s o ,   o   D e s ­
d r a m a s  e  d e c i d i u  t o r r a r  o  n e g ó c i o  e m  fe s t a s . Q u e r  i m b u ir  n a   c o b r im e n t o   s ig n ific o u   a  
p o p u l a ç ã o   u m   s e n t i m e n t o   d e   a m o r   à   p á t r i a   e   d e s lu m b r a ­ m o r t e  d o s  í n d io s .”
m e n t o   c o m   a   n a ç ã o ,   p a r a   q u e   o   p o v o   s e   m a r a v i lh e   c o m   o   ( id e m ;  A l i s s o n   d e   M o u r a ,   2 1 ,
n o s s o  p a s s a d o  e  e s q u e ç a  o s  p r o b l e m a s  d o  p r e s e n t e . ( . . . ) ” S ã o   P a u lo ,   S P )  

( E m :  F o lh a   d e   S ã o   P a u lo ,  
( G u s t a v o   I o s c h p e   ­   C o l u n is t a   d a   F o l h a   ­   F S P ,   1 7 / 0 4 / 2 0 0 0 )   1 3 /0 3 /0 0 )

F o l h a  ­  P a r a  q u e  s e r v e m  d a t a s  c o m o  a  d o s  5 0 0  a n o s ?
R o m e r o  M a g a l h ã e s  ­  S ã o  m o m e n t o s  d e  r e f l e x ã o  e  d e  e s t u d o . É  e v id e n t e  q u e ,  p a r a  i s s o ,  
é  p r e c i s o  c h a m a r  a  a t e n ç ã o ,  a l e r t a r  a s  p e s s o a s  p a r a  a  e fe m é r i d e  e ,  p o r t a n t o ,  a  fe s t a  é  u m  
c o m p o n e n t e  q u e  f u n c i o n a  a p e n a s  c o m o  d e s e n c a d e a d o r  d o  p r o c e s s o  d e  r e f l e x ã o .
( C o m is s á r io ­ g e r a l  d a   C o m is s ã o   N a c io n a l   p a r a   a s   C o m e m o r a ç õ e s   d o s   D e s c o b r im e n t o s   P o r t u g u e s e s ,  
c a t e d r á t ic o   d a   F a c u l d a d e   d e   E c o n o m ia   d a   U n i v e r s id a d e   d e   C o im b r a ,   e   d a   C á t e d r a   J a i m e   C o r t e s ã o ,   d a   U S P.
E m :  F S P ,   1 0 / 0 4 / 0 0 )

" É   m o t i v o   d e   v e r g o n h a   a   m a n e i r a   c o m o   a   m í d ia   e x a lt a   o s   5 0 0   a n o s   d o   D e s c o b r i ­
m e n t o . A l é m  d e  p a r e c e r  q u e  o  p a í s  n ã o  e x i s t i a  a n t e s  d o  ' g r a n d e  fa v o r ' q u e  o s  e u r o p e u s  f i ­
z e r a m   e m   a q u i  p is a r,  o   a s s u n to   é   a b o r d a d o   c o m o   s e   f ô s s e m o s   e te r n a m e n te   g ra to s   a  
n o s s o s  'd e s c o b r id o r e s '. O  q u e  t e m o s  a  c o m e m o r a r ?  O s  5 0 0  a n o s  d o  i n í c io  d a  e s c r a v id ã o  
( q u e  a i n d a  n ã o   a c a b o u ) ?  O s   5 0 0   a n o s  d u r a n t e   o s  q u a i s   r e c u r s o s   n a t u r a is  c o m o  o  p a u ­
b r a s i l e  o  o u r o  fo r a m ,  d e  c e r t a  fo r m a ,  r o u b a d o s  d a q u i ?  S e r á  q u e  s ã o  c a u s a  d e  t a m a n h a  
fe s t a   o s   5 0 0   a n o s   d u r a n t e   o s   q u a i s   n o s   t e m   s i d o   i m p o s t a   u m a   c u l t u r a   a d v e r s a   à s  
c o n d i ç õ e s  d o  p o v o  b r a s i l e ir o  e  d o  B r a s il ? ”
E v i l â n ia   A lfe n a s   M o r e i r a   ( S a b a r á     M G )
( F S P,   1 0 / 0 4 / 2 0 0 0 )
" C a r a v e la s   n o v a m e n t e   a o   m a r ;  r e p r o d u ç ã o   f i d e d i g n a   " N ã o   s e i  o   p o r ­
d a   c a r t a  d e   P e r o  V a z   d e   C a m i n h a   a o  r e i  d e   P o r t u g a l ;  r e l ó ­ q u ê   d e   t a n t o   p e s s i­
g i o s   g l o b a is   a c i o n a d o s   p a r a   a   c o n t a g e m   r e g r e s s iv a ;  u m   m is m o   c o m   r e la ç ã o  
l a u t o  b a n q u e t e  p a r a  a  t ã o  e s p e r a d a  c o m e m o r a ç ã o  d o s  5 0 0   a o   n o s s o   p a í s .  D a ­
a n o s  d o  D e s c o b r im e n t o  d o  B r a s il . O  q u e  r e a l m e n t e  h á  p a r a   d o s   d o   ú ltim o   r e la tó ­
c e l e b r a r ? ? ?   T a lv e z   o   g e n o c í d i o   d e   t r ib o s   s e lv a g e n s   p o r   r io   d a   O N U ,  p o r   e ­
m e i o  d a s  g u e r r a s  ju s t a s . O u  m e l h o r ,  o  e x t e r m í n io  d e  a v a n ­ x e m p l o ,  d e m o n s t r a m  
ç a d a s  c i v i li z a ç õ e s  e  a  c r u e l d a d e  d o s  c o n q u is t a d o r e s  e u r o ­ te r   h a v id o   u m a   m e ­
p e u s . E ,  a s s i m ,  m a i s  u m a  v e z ,  o  B r a s i l  a p l a u d e  e  e n g o l e  a   l h o r a  q u a n t o  a o  n í v e l  
i n o c e n t e  v e r s ã o  e n s in a d a  n a s  e s c o la s  d e  q u e  C a b r a l c h e ­ d e   e x p e c ta tiv a   d o  
g o u  a o  B r a s i l p o r  a c a s o . O  i m p o r t a n t e  é  m a i s  u m a  v e z  c o n ­ b r a s i le i r o .”
f i r m a r  a  i n c o m p e t ê n c i a  d a  A m é r i c a  c a t ó l ic a ! ! ! ”
S a m u e l  P u c c i ,   2 0   ( v ia   e ­ m a il ) ( d e p o im e n t o   d e   a lu n o ; 
( F S P,   1 1 / 0 4 / 2 0 0 0 ) a n o :  1 9 9 9 )

F S P,   2 2 / 0 4 / 0 0

P e l o t a s ,   2 9   d e   a b r i l  d e   2 0 0 0 .

S e n h o r  E d it o r

A p ó s   a   r e f l e x ã o   s o b r e   a l g u m a s   m a t é r ia s   p u b li c a d a s   p o r   V o s s a   S e n h o r i a ,   n o  
j o r n a l   F o l h a   d e   S ã o   P a u l o ,   a s   q u a i s   t r a t a v a m   d a   d a t a   c o m e m o r a t iv a   d o s   5 0 0   a n o s   d e  
d e s c o b r i m e n t o  d o  B r a s i l ,  t o m e i  a  i n i c i a t iv a  d e  e s c r e v e r ­ l h e  a  f i m  d e  e x p o r  m i n h a s  i d é i a s  
e ,  d e s s a  fo r m a ,  a m p li a r  a  d i s c u s s ã o  a c e r c a  d o  p o l ê m i c o  t e m a .
J u l g o ,   in i c i a l m e n t e ,  q u e  e s s a  c o m e m o r a ç ã o  t r a t a ­ s e  d e  u m a  e s t r a t é g i a  p o l í t i c a  
p o r   p a r t e   d a s   a u t o r id a d e s ,   c o m   a   c o n iv ê n c i a   d a   m í d ia :  e s t a   m a s c a r a   r e a l i d a d e s   d o l o ­
r o s a s  v i v e n c i a d a s  n o  p a s s a d o  e  o m i t e  a  e x p l o r a ç ã o  d o s  t r a b a l h a d o r e s  n a  a t u a l i d a d e  [ 4 ] ,  
a l é m  d e  in c it a r,  p r o p o s it a lm e n t e ,  n a  p o p u l a ç ã o  u m  s e n t i m e n t o  d e  e x a g e r a d o  p a t r i o t i s m o . 
D e s s e  m o d o ,  a  s o c i e d a d e ,  v o l t a d a  s o m e n t e  a o  p a s s a d o ,  r e l e g a  a o  e s q u e c i m e n t o  o s  p r o ­
b l e m a s  a t u a is  [ 1 ] ,  fa t o  q u e  d e s e n c a d e ia  a l i e n a ç ã o  e  c o m o d is m o .
A d e m a is ,   m a n c h e t e s   c o m o   " B a h i a :  o   B r a s i l   c o m e ç a   a q u i "   t r a t a m   d o   d e s c o b r i­
m e n t o  c o m o  s e  e l e  fo s s e  o  m a r c o  in i c i a l  d e  n o s s a  c i v i li z a ç ã o ,  m e n o s p r e z a n d o  o s  p o v o s  
q u e   a q u i   v i v i a m   a n t e s   d e   C a b r a l   [ 4 ,   7 ]   o s   q u a i s   fo r a m   e x p lo r a d o s   e   e x t e r m i n a d o s   p e l a  
" c i v i l i z a ç ã o "  e u r o p é i a  i n t e r e s s a d a  a p e n a s  e m  n o s s a s  r iq u e z a s  [ 2 ,  5 ] .
P e ç o ­ l h e   q u e   c o n s id e r e ,   t a m b é m ,   o s   m u it o s   m il h õ e s   e m p r e g a d o s   n e s s a   fe s t a  
c o m e m o r a t i v a  p o i s  a  r é p li c a  d a  N a u  C a b r a l in a  e  o  r e l ó g i o  c r i a d o  p a r a  a  c o n t a g e m  r e g r e s ­
s i v a  d a  d a t a  s ã o  a p e n a s  e x e m p l o s  d o  d e s p e r d í c io  d o  d i n h e i r o  p ú b li c o ,  v e r b a  q u e  p o d e r i a  
s e r  e m p r e g a d a  n a  c o m p r a  d e  t e r r a s  a o s  í n d i o s ,  q u e  p o s s u e m  d i r e i t o s  n e g a d o s  a t é  h o j e ,  
a s s i m  c o m o  e m  in v e s t i m e n t o s  n o s  s e t o r e s  d a  e d u c a ç ã o  o u  s a ú d e  p ú b l i c a .
N o  e n t a n t o ,  p e n s o  q u e  a  d a t a  n ã o  d e v e  s e r  e s q u e c i d a ; e l a  d e v e  r e p r e s e n t a r  u m  
m a r c o  d e  r e f l e x ã o  d o  p o v o  b r a s i le i r o  a c e r c a  d e  s e u s  p r o b l e m a s ; d a í  a  n e c e s s i d a d e  d e  s e  
a m p l i a r  d i s c u s s õ e s  [ 3 ] .
C o m  b a s e  n o s  a r g u m e n t o s  p o r  m im  e x p o s t o s ,  s o l ic it o ­ l h e  q u e  r e f l i t a  s o b r e  m e u  
p o s i c i o n a m e n t o . G o s t a r ia ,  a i n d a ,  s e n h o r  e d i t o r,  q u e ,  s e  p o s s í v e l ,  i n c l u í s s e  m i n h a s  id é i a s  
e m  a l g u m a  m a t é r i a  a  s e r  p u b l i c a d a  p o r  e s t e  j o r n a l .

R e s p e ito s a m e n te ,
A .B .D .

Comentários sobre o texto:

Os números destacados nos Por outro lado, Ana Duarte


colchetes, no texto da aluna, indicam acrescentou informações as quais
os fragmentos da coletânea os quais não se faziam presentes na coletânea,
continham as idéias por como a referência feita
ela apresentadas. à man-chete “Bahia: o
Como percebemos, Ana Brasil começa aqui”,
Duarte não copiou li- veiculada
teralmente os trechos freqüentemente em
da coletânea, mas algumas emissoras de
transfor-mou-os, televisão, durante a
“traduzindo”, com época das comemora-
palavras próprias, a ções. Forneceu, ainda,
idéia-base de que sugestões sobre como
queria lançar mão. aplicar a verba
Salientemos, destinada às
tam-bém, que Ana não comemorações.
utilizou todos os Por fim, desta-
fragmentos ao quemos o bom
construir seu texto. As desempenho da aluna
idéias da resposta ao utilizar a coletânea:
“sim”, do fragmento 2, produziu críticas,
assim como o acrescentou res-
depoimento, de 6, por salvas (“No
exemplo, não constam entanto...”). Quanto à
em seu texto. N a u   p o r t u g u e s a .  F o n t e :  P I L E T T I ,   N . ;  P I L E T T I ,   C . proposta de redação,
H i s t ó r ia   &   v i d a .  1 3 a .  e d .  S ã o   P a u l o :  Á t i c a ,   1 9 9 3 .  v 1 ,   p . 3 9 .
desenvolveu-a de
forma adequada uma vez que não conjuntura nacional presente co-mo à
fugiu do tema e atendeu ao so- passada.
licitado, fazendo referência não só à

S u g e s tõ e s d e co m o fa z e r ( q u a d ro s s in té tico s )

ESTRUTURA
In t r o d u ç ã o : P o d e   c o n te r   u m   e lo g io   o u   u m a   c e n s u r a   ( e s ta ,  n o   c a s o   d a   c o n tr a ­
a r g u m e n t a ç ã o )  a  u m a  r e p o r t a g e m  o u  a r t i g o  l i d o s ,  o u  a  a l g u m  p r o je t o  
d e  l e i,  p o r  e x e m p lo ;
s u a   f u n ç ã o   é   i n d i c a r   o   a s s u n t o ,  o   q u a l  n ã o   d e v e  f i c a r   e m   s u s p e n ­
s o ;  p o r t a n t o ,   e l a   n ã o   d e v e   s e r   " v a g a " .  E v i t a r   o  u s o  d e   " c h a v õ e s "   o u  
e x p r e s s õ e s  d e s g a s t a d a s  c o m o  " V e n h o  p o r  m e io  d e s t a . . . "  a o  i n d i c a r  
a  f i n a l i d a d e  d a  c a r t a .

D e s e n v o l v i m e n t o : E x p o s i ç ã o  d o s  a r g u m e n t o s ; u s o  d e   r e s s a l v a s ,  a s  q u a is  s e r ­
v e m  p a r a  " f le x i b i li z a r "  o  p o n t o  d e  v i s t a  ( n ã o  t o r n á ­ l o  t ã o  r a d i c a l )  
e / o u   a l e r t a r   s o b r e   u m   fa t o ;  r e a l i z a ç ã o   d e   c r í t i c a s   a   f i m   d e   t o r ­
n a r  o  t e x t o  m a i s  e n r i q u e c e d o r.

C o n c lu s ã o : A s s im  c o m o  a  in t r o d u ç ã o ,  n ã o  d e v e  s e r  v a g a  c o m o ,  p o r  e x e m p l o ,  e x i­
g i r  " u m a  m a i o r  c o n s c i e n t i z a ç ã o "  o u  q u e  " m e d i d a s  u r g e n t e s  s e j a m  t o ­
m a d a s "   s e m   e x p li c i t a r   d e   q u e   fo r m a   is s o   d e v e   a c o n t e c e r .  A s   s u g e s ­
t õ e s ,   r e i v i n d i c a ç õ e s ,  o s   c o n s e l h o s  d e  q u e  p o r  v e n t u r a  o  a lu n o  l a n ­
ç a r  m ã o  d e v e m  s e r  b a s t a n t e  c l a r o s ,  d e t a l h a d o s .

O b s . :  N ã o  h á  u m a  " o r d e m "  o u  " c o l o c a ç ã o "  r i g o r o s a  q u a n t o  à s  s u g e s t õ e s  fo r n e c id a s  a c i m a . U m a  


r e iv in d i c a ç ã o  p o d e ,  p o r  e x e m p l o ,  a p a r e c e r  n o  d e s e n v o l v i m e n t o ,  e  n ã o  n a  c o n c l u s ã o .
R E L A Ç Ã O  L O C U T O R /IN T E R L O C U T O R

Q u a n t o   a o   p o n t o   d e   v is t a ,   e m p r e g o   d a   1 ª   p e s s o a   d o   s in g u la r :  ju lg o ,   p e n s o ,   a c r e d it o ,  
d e s t a c o ,  c o n s i d e r o ,  a c e n t u o ,  p e r c e b o ,  c r e io ,  o b s e r v o ,  d is c o r d o ,  c o n t r a r io . . . ;
u s a ­ s e : s e n h o r /  s e n h o r a  p a r a  t r a t a m e n to  r e s p e it o s o  e m  g e r a l ( r e d a t o r,  e d i t o r,  s in d ic a l is ­
t a ,  j o r n a lis t a ) ;
V o s s a  E x c e lê n c i a  p a r a  a lt a s  a u t o r i d a d e s  ( p r e s id e n t e ,  s e n a d o r,  d e p u t a d o ,  j u i z ) /  E x c e le n ­
t í s s i m o  S e n h o r. . . ;
V o s s a  S e n h o r i a  p a r a  f u n c i o n á r i o s  g r a d u a d o s .

O b s . :  O s  p r o n o m e s  d e  t r a t a m e n t o  e x i g e m  3 ª  p e s s o a : V o s s a  E x c e lê n c ia  e  s u a  e q u ip e , /  s e u  p r o j e t o /  s u a  r e ­
p o r t a g e m /  s e u  e m p e n h o /  s u a  a t u a ç ã o .

S U G E S T Õ E S  P A R A  IN T R O D U Ç Ã O

A c r e d i t a n d o  s e r m o s  t o d o s  n ó s ,  b r a s i le ir o s ,  r e s p o n s á v e i s  p e lo  r e s g a t e  d e  v a l o r e s  é t i c o s  
e  p a r t í c ip e s  n a  c o n s t r u ç ã o  d e  n o s s a  p l e n a  c i d a d a n ia ,  d ir ij o ­ m e  a o  s e n h o r  [ o u : V o s s a  S e ­
n h o r ia ]  a  f im  d e  ( . . . )

J u lg o   q u e  V o s s a   E x c e lê n c ia ,   c o m o   c o n g r e s s is t a   e le it o   c o m   o   r e s p a ld o   d e   n o s s o   p o v o , 
p o d e r ia  i n t e r v i r  e m  q u e s t õ e s  t ã o  r e le v a n t e s  c o m o  " X " ,  c o n t r i b u i n d o  p a r a  a m e n i z a r  o  p r o ­
b le m a   " X " .  D e s e jo ,   p o is ,  a t r a v é s  d e   m in h a   m a n if e s t a ç ã o ,   s o l ic i t a r ­ l h e   " Y " ;  p a r a   t a n t o ,   o s  
a r g u m e n t o s  q u e  a p r e s e n t a r e i  s e r ã o ,  c r e io ,  d e  f u n d a m e n t a l  i m p o r t â n c i a .

A c r e d i t a n d o  s e r  u m  c id a d ã o  c o m p r o m e t id o  c o m  u m a  p r á t i c a  e fe t iv a  n o  m e io  e m  q u e  a t u o  
e ,  t e n d o  t o m a d o  c o n s c iê n c ia   d e   d i v e r s a s  m a t é r i a s  [ o u : r e p o r t a g e n s ; a r t i g o s ;  p r o g r a m a s  
t e le v is iv o s ]   a c e r c a   d o   [ o u :  a   r e s p e i t o   d e ;  a   p r o p ó s i t o   d e ;  s o b r e ]   t e m a   [ o u :  a s s u n t o ;  fa t o ; 
q u e s t ã o ]   " X " ,   g o s t a r ia   d e   e x p o r ­ l h e   m in h a   p o s iç ã o   e ,  d e s s a  f o r m a   [ o u : d e s s e   m o d o ;  a s ­
s i m ] ,  c o n t r ib u ir  p a r a  a  s u p e r a ç ã o  [ o u : a m e n i z a ç ã o ]  d e  ( . . . )

C o m o  u m a  jo v e m  e s t u d a n t e  in t e r e s s a d a  n a  c o n s t r u ç ã o  d e  u m  f u t u r o  m a is  ju s t o  d e  n o s s a  


s o c i e d a d e ,  a c r e d i t o  s e r e m  m in h a s  o p i n iõ e s  [ o u : m e u  p o s ic io n a m e n t o ]  r e le v a n t e s  p a r a  a  
s u p e r a ç ã o  d o  p r o b l e m a  " X " ; p o r  is s o  [ o u : p o r t a n t o ; d e s s e  m o d o ]  r e s o lv i  e s c r e v e r ­ l h e  ( . . . )

C o m  o  i n t u i t o   [ o u : f in a lid a d e ;  o b je t iv o ;  p r o p ó s i t o ]   d e  c o n t r i b u i r   p a r a   f o r m a ç ã o  d a   o p i n iã o  
p ú b lic a   e ,   a s s im ,   t e n t a r   r e v e r t e r   o   q u a d r o   [ o u :  c e n á r io ;  c o n j u n t u r a ]   e m   q u e   s e   e n c o n t r a  
n o s s a  n a ç ã o ,  g o s t a r ia  d e  e x p o r ­ l h e  m in h a  p o s i ç ã o  [ o u : p o s i c i o n a m e n t o ]  s o b r e  ( . . . )

T e n d o   r e f l e t i d o ,   a t r a v é s   d e   in fo r m a ç õ e s   [ p o s i ç õ e s ;  c o m e n t á r i o s ]   v e ic u la d a s   n o s   m a is  
v a r ia d o s  m e io s  d e  c o m u n ic a ç ã o  [ o u : d a  m í d ia ] ,  a c e r c a  d e  t ã o  im p o r t a n t e  f a t o  c o m o  " X " ,  
e s c r e v o ­ l h e  p a r a  ( . . . )
S U G E S T Õ E S  P A R A  A  C O N C L U S Ã O

C o m  b a s e  n o s  a r g u m e n t o s  e x p o s t o s ,  g o s t a r ia  d e  s o lic i t a r  s u a  in t e r v e n ç ã o  n e s s e  s e t o r,  a  
f im  d e  q u e  V o s s a  E x c e lê n c i a  p o s s a  a m e n iz a r  ( . . . )  p o r  m e i o  d e  ( . . . )

J u lg o ,   p o r t a n t o ,   d e   s u m a   i m p o r t â n c i a   a   p u b lic a ç ã o ,   n e s t e   jo r n a l ,   d e   m a té r ia s   q u e   p o s ­
s a m  p e r m it ir  a  r e v e r s ã o  [ o u :  tr a n s f o r m a ç ã o ]  d e   q u a d r o  t ã o  a s s u s t a d o r   c o m o  o  a p r e s e n ­
ta d o .

S u g ir o ,   p o r   f im ,   q u e   i n t e r v e n h a ,   a t r a v é s  d o   c a r g o   o c u p a d o   p o r  V o s s a   S e n h o r ia ,   e m   t ã o  
p o lê m ic a  q u e s t ã o  a  f im  d e  ( . . . ) . P a r a  t a n t o , o  id e a l s e r ia  ( . . . )

D e s s a  fo r m a ,  s o l ic it o ­ lh e  q u e   c o n s id e r e  m in h a  p o s i ç ã o  e  p o n d e r e  s o b r e   o s  a r g u m e n t o s  
p o r  m im  e x p o s t o s ,  p u b lic a n d o ,  n e s t a  r e v is t a ,  r e p o r t a g e n s  a c e r c a  d e  " X " . A c r e d i t a n d o  s e r  
e s s e   o   c a m in h o   m a i s   c o e r e n t e   e   e f ic a z   p a r a   r e s o lv e r   q u e s t õ e s   c o m o   a   q u e   lh e   fo i  e x ­
p o s t a ,  s u g ir o ­ l h e ,  a in d a ,  ( . . . )
A co n tra - a rg u m e n ta çã o n a ca r ta a rg u m e n ta tiv a

Uma das maneiras possíveis na elaboração de textos


de emitir nosso ponto de vista sobre argumentativos.
um tema é demonstrar a falsidade No ano 2000, propôs-se o
da argumentação daqueles que exercício abaixo aos alunos. Leia-o,
pensam diferentemente de nós. Esse assim como as instruções, o
procedimento, chamado de contra- levantamento das idéias – fruto de
argumentação, consiste em refutar discussão em sala de aula –, o tex-to
argumentos alheios. Se utilizado da aluna Daniela Larentis e o
criteriosamente, pode ser muito útil comentário subseqüente.

Proposta de redação:
A autora do texto a seguir argumentos os quais julgar
utiliza o tema “trote”, na verdade, pertinentes. Escreva-lhe uma carta
como pretexto para traçar um perfil contrapondo-se aos pontos de vista
dos adolescentes das classes mais que ela assume em seu texto. Não se
favorecidas do País. Nele, a articulista esqueça: você terá de
aponta críticas mordazes à maneira necessariamente contra-
como reagem diante da realidade. argumentar, refutar as idéias de
Após identificar tais críticas, você Marilene Felinto.
deverá rebatê-las, por meio de

O u t r a s  in fo r m a ç õ e s /in s tr u ç õ e s :

E s c o l h a ,   n o   m í n im o ,   t r ê s   d a s   s e t e   d e c la r a ç õ e s ,   d e s t a c a d a s   n o  
t e x t o   d a  jo r n a l is t a ,   p a r a  r e f u t á ­ la s ,   t r a n s c r e v e n d o ­ a s   e m  s e u   r a s ­
cunho;
p r o c e d a ,   e n t ã o ,   a o   l e v a n t a m e n t o   d a s   i d é i a s   a   f i m   d e   fa c i lit á ­ lo   a  
r e d ig i r ;
a o  a s s in a r  s u a  c a r t a ,  u s e  a p e n a s  a s  in ic ia is  d e  s e u  n o m e .
T o d o  c o m e ç o   d e   a n o   é   a   m e s m a   c e n a :  c a lo u r o s   d e   u n i v e r s id a d e s ,   a s   c a b e ç a s  
r a s p a d a s   e   a s   c a r a s   p i n t a d a s ,   i n c i t a d o s   o u   o b r ig a d o s   p o r   v e t e r a n o s ,   o c u p a m   o s   s i n a i s  
d e   t r â n s i t o   p e d i n d o   d i n h e ir o   a o s   m o t o r i s t a s .  É   u m a   d a s   fo r m a s   d o   c h a m a d o   " t r o t e " ,   o  
m a i s  a r t i f i c i a l  d o s  r it o s  d e  i n ic ia ç ã o  d a  m a is  a r t i f i c i a l  d a s  i n s t i t u i ç õ e s  s o c i a is  c o n t e m p o r â ­
n e a s :   a  u n iv e r s id a d e .
O  t r o t e  n a d a  m a is  é  d o  q u e  o  r e t r a t o  d a  a l i e n a ç ã o  e m  q u e  v i v e m  e s s e s  a d o le s ­
c e n t e s  d a s  c l a s s e s  fa v o r e c id a s . C o m  t e m p o  d e  s o b r a , e l e s  n ã o  t ê m  e m  q u e  e m p r e g a r  
t a n t a  l i b e r d a d e .  [ 1 ]
O u  q u e r e m  d i z e r  q u e  e s s a s  s i m p le s  c a r a s  p i n t a d a s  t ê m  q u a l q u e r  s i m b o l o g ia  s e ­
m e l h a n t e  à  d a s  m á s c a r a s  d e  d a n ç a  d a s  t r i b o s  p r i m i t i v a s  e s t u d a d a s  p o r  L é v i ­ S t r a u s s ?
P a r a   a q u e la s   t r ib o s   ín d ia s ,  a s  
m á s c a r a s  e r a m  o  a t e s t a d o  d a  o n ip r e s e n ç a  
d o   s o b r e n a t u r a l   e   d a   p u j a n ç a   d o s   m it o s . 
M a s   e s s e s   a d o le s c e n te s   u rb a n o s   n ã o  
t ê m   t a n t a   c o m p l e x i d a d e .  M o v i d o   a   M T V  
e  s h o p p i n g  c e n t e r s , o  e s p í r i t o  d e l e s  v i v e  
n a s   t r e v a s .   [ 2 ]   A   a u s ê n c i a   d e   c o n h e c i­
m e n t o   e   s a b e r   li m i t a ­ l h e s   o s   d e s e j o s   e   a s  
a tit u d e s .
E m  t e m p o s  m a i s  a d m i r á v e i s , o u  
e m  s o c i e d a d e s  m a i s  i d e a i s , e s s a  m a s s a  
d e   v a g a b u n d o s   e s t a r ia   a ju d a n d o   a   c o r ­
E m :  L it e r a t u r a s   B r a s i le ir a s   e   P o r t u g u e s a s , t a r  c a n a  n o s   c a m p o s ,  e n v o l v i d o s  c o m  a  
d e   S . Y .  C a m p e d e l li  e   J .  B .  S o u z a r e f o r m a   a g r á r i a ,  e m   p r o g r a m a s   d e   a s ­  
s i s t ê n c i a   s o c i a l   n a s   f a v e l a s   o u   c o m   c r i a n ç a s   d e   r u a ,  o u   m e s m o   e x p l o r a n d o   o s  
s e r t õ e s   e   a s   f l o r e s t a s   d o   p a í s ,  c o m o   f a z i a m   o s   e s t u d a n t e s   d o   e x t i n t o   p r o j e t o  
R o n d o n .  [ 3 ]
H o j e ,  m a i s  d o  q u e  n u n c a ,  h á  u m a  t e n d ê n c i a    c a r a c t e r í s t i c a  d a  m e n t a l id a d e  d a s  
e l it e s  d a  e c o n o m ia   c a p it a l is t a     d e  a d u l a ç ã o  à  a d o l e s c ê n c i a , d e  e x c e s s i v o   p r o l o n g a ­
m e n t o  d a  m e s m a  [ 4 ]   e  d e  e x c e s s i v a  i n d u lg ê n c i a  p a r a  c o m  e s s e  p e r í o d o  t i d o  c o m o  " d e  
i n t e n s o s  p r o c e s s o s  c o n f l i t u o s o s  e  p e r s i s t e n t e s  e s fo r ç o s  d e  a u t o ­ a f i r m a ç ã o " .
D e s d e  a d o l e s c e n t e ,  s e m p r e  o l h e i  c o m  d e s p r e z o  e s s e  t r a t a m e n t o  q u e  s e  p r e t e n ­
d e  d a r  à  a d o l e s c ê n c i a  ( o u  p e lo  m e n o s  à  c e r t a  c a m a d a  s o c i a l  a d o l e s c e n t e ) : u m  c u i d a d o  
e s p e c i a l ,  s e m e l h a n t e  a o  q u e  s e  d á  à s  m u l h e r e s  g r á v i d a s . P o i s  é  e x a t a m e n t e  e s s e  p is a r  
e m  o v o s  d a  s o c i e d a d e  q u e  a c a b a  p o r  t r a n s fo r m a r  a  a d o l e s c ê n c i a  n u m  g r a n d e  v a z i o ,  n u ­
m a  g r a v id e z  d o  n a d a ,  n u m a  a n g u s t i a n t e  fa s e  d e  a b s o r ç ã o  d o s  v a l o r e s  s o c ia i s  e  d e  i n t e ­
g r a ç ã o  s o c ia l .
S e   o s   a d o l e s c e n t e s   s e  o c u p a s s e m   m a i s ,  s o f r e r i a m   m e n o s     o u   p e l o   m e n o s   a ­
m a d u r e c e r i a m   d e   v e r d a d e ,  s o l i d á r i o s ,  o c u p a d o s   c o m   o   s o f r i m e n t o   r e a l   d o s   o u ­
tr o s .[5 ]
M a s  n ã o ,  f ic a m  v a g a b u n d a n d o  p e lo s  s e m á fo r o s  d a s  c id a d e s ,   c a t a n d o  m o e d a s  
p a r a   f e s t a s  e  o u t r a s  l e v i a n d a d e s .  [ 6 ]   E ,  o   q u e   é  p io r ,   s e n t i n d o ­ s e  d e u s e s   p o r  t e r e m  
c o n s e g u i d o  d e c o r a r  u m  p u n h a d o  d e  f ó r m u l a s  e  d a t a s  e  r e s u m o s  d e  l i v r o s  q u e  o s  
f i z e r a m  p a s s a r  n o  t e s t e  p a r a  e n t r a r  n a  u n i v e r s i d a d e .  [ 7 ]
A  m im  q u e  t r a b a l h a v a  e  e s t u d a v a  a o  m e s m o  t e m p o  d e s d e  o s  1 5  a n o s  c a u s a v a  
a l a r m e   o   e s p í r i t o   d e   v a g a b u n d a g e m  q u e ,   c u l t u a d o   n a  a d o l e s c ê n c i a ,  v i  p r o l o n g a r ­ s e   n a  
r e a l i d a d e  a l i e n a d a  d e  u m a  u n i v e r s i d a d e  p ú b l ic a .
N a  U n i v e r s i d a d e  d e  S ã o  P a u l o ,  o n d e  e s t u d e i ,  o s  f i l h o s  d o s  r i c o s  a i n d a  p a s s a m  
a n o s  n a  h i b e r n a ç ã o  a d o l e s c e n t e  s u s t e n t a d a  p e lo  d i n h e i r o  p ú b l ic o .

E ­ m a il : m fe li n t o @ u o l. c o m . b r
M A R I L E N E  F E L I N T O
d a  E q u i p e  d e  A r t ic u li s t a s
F o l h a  d e  S ã o  P a u l o ,  2 5 / 0 2 / 9 7
Levantamento das idéias realizado pelas turmas do ano
2000

Resumo da opinião de Marilene Felinto sobre os adolescentes de classes


mais favorecidas:

vagabundos
s u p e r f i c ia i s
a l ie n a d o s
“ m im a d o s ”  ( ” a d u l a ç ã o ” )
lim ita d o s

Avaliação acerca do texto de Marilene Felinto:

g e n e r a l i z a ç ã o  e x c e s s i v a
c o m p a r a ç õ e s   in a d e q u a d a s  
( s e m  l e v a r  e m  c o n t a  o  c o n t e x ­
t o  c u lt u r a l  e  h i s t ó r i c o )
C o n tra - a rg u m e n to s :

O f a t o d e t a is a d o le s c e n t e s a s s is t ir e m à
M T V n ã o s ig n if ic a q u e s e j a m " s u p e r f ic i-
a is " . E s t a e m is s o r a v e ic u la , e m s u a p r o -
g r a m a ç ã o , a lé m d e q u a d r o s d e e n t r e t e n i-
m e n t o , p r o g r a m a s c u lt u r a is , e d u c a t iv o s ,
O s a d o le s c e n t e s d e c la s s e m é - d ir e c i o n a d o s a o s i n t e r e s s e s d o s j o v e n s .
d ia / a l t a , a o c o n t r á r i o d o q u e C o n s ta n te m e n te h á p ro p a g a n d a s d e p re -
s e im a g in a , n ã o t ê m t e m p o d e v e n ç ã o co n tra o u s o d e d ro g a s , d o e n ça s
s o b r a . G r a n d e p a r t e d e le s a b - s e x u a lm e n t e t r a n s m is s ív e is , s o b r e t u d o a
d ic a d e m o m e n t o s d e l a z e r p a - A id s . A e m is s o r a t r a n s m it e n ã o s ó a m ú s i-
r a e s t u d a r. A l g u n s o f a z e m d u - c a in t e r n a c io n a l c o m o t a m b é m a n a c io n a l,
ra n te a m a n h ã e , à ta rd e , re - c o n t r ib u in d o p a r a a v a lo r iz a ç ã o d e u m a
fo rç a m o s e s tu d o s , p re p a ra n - c u lt u r a g e n u in a m e n t e b r a s ile ir a . Q u a n t o
d o - s e p a r a o v e s t i b u la r ; f r e - a o f a t o d e o s a d o le s c e n t e s f r e q ü e n t a r e m
q ü e n t a m c u r s o s d e lín g u a s e , e m d e m a s ia o s s h o p p in g c e n t e r s , é p r e c i-
e m m u it o s c a s o s , p a r t ic ip a m s o le m b r a r q u e o fa z e m , p r in c ip a lm e n t e
d e a u la s d e g in á s t ic a o u p r a t i- n o s g ra n d e s c e n tro s u rb a n o s , e m b u s c a
c a m e s p o rte s a té m e s m o p a ra d e m a io r s e g u r a n ç a , j á q u e , e m m u it o s
a liv ia r o e s t r e s s e c a r a c t e r ís t ic o p a r q u e s , p r a ç a s o u o u t r o s lo c a is a q u e p o -
d e s t a e t a p a d a v id a . d e r ia m t e r a c e s s o , h á o p e r ig o d e s e r e m
a s s a lt a d o s , in c o m o d a d o s , m o le s t a d o s .
O s t e m p o s m u d a r a m e , c o m e le s , a
m e n t a lid a d e , a s a s p ir a ç õ e s , a p o s t u r a
d o s j o v e n s d ia n t e d a r e a lid a d e . A g e r a -
ç ã o d o s a n o s 6 0 / 7 0 a c r e d it a v a s e r p o s - C o n t r a r ia m e n t e a o e s p e -
s ív e l " m u d a r o m u n d o " a t r a v é s d e b a n - r a d o , t a is a d o le s c e n t e s s ã o
d e ir a s , p a s s e a t a s e c o n f lit o s c o m a u t o - m a is e x ig id o s p o r s e u s f a m i-
r id a d e s . A a t u a l g e r a ç ã o t a m b é m a c r e - lia r e s d o q u e h á d e z a n o s ,
d it a q u e d e v e c o n t r ib u ir p a r a m e lh o r a r p o r e x e m p lo . T o m a n d o c o n s -
a q u a lid a d e d e v id a d a s p e s s o a s , s ó c iê n c ia d a e x c e s s iv a lib e r d a -
q u e d e o u t r a f o r m a : v o lt a d a p a r a a s d e a q u e o s f ilh o s t in h a m d i-
p e q u e n a s a ç õ e s c o t id ia n a s , p o r m e io r e it o , m u it o s p a is p a s s a r a m a
d o e x e r c íc io d a p r ó p r ia p r o f is s ã o . S ã o im p o r - lh e s lim it e s q u a n t o à s
t e m p o s d if e r e n t e s e , p o r t a n t o , p o s t u - s u a s v o n t a d e s , a e x ig ir m a io r
r a s t a m b é m d if e r e n t e s . r e s p o n s a b ilid a d e , t a l c o m o a -
p r e s e n t a r u m b o m r e n d i-
m e n t o n a e s c o la e p r e p a -
r a ç ã o p a r a o v e s t i b u l a r, a l é m
d e e s t i p u la r h o r á r i o s p a r a
s a íd a s n o t u r n a s .

T a is j o v e n s n ã o s ã o
" e g o ís t a s " , c o n f o r m e
s ã o c h a m a d o s . M u it o s
d e le s d e m o n s t r a m - s e O s a d o le s c e n t e s q u e f o r a m a p r o v a d o s n o
s e n s ív e is a o s p r o b le - v e s t i b u l a r, a p ó s o e s f o r ç o d e p r e e n d i d o ,
m a s q u e o s ce rca m , t ê m o d i r e i t o a c o m e m o r a r a v i t ó r ia , j á
s o lid a r iz a n d o - s e a o s q u e a a p r o v a ç ã o é m o t iv o d e g r a n d e a le -
m a is n e c e s s it a d o s e g r ia e a lív io .
e x c lu íd o s , a t r a v é s d o
e n g a ja m e n to e m g ru -
p o s d e ig r e j a s , p a r t ic i-
p a çã o e m O N G s, p ro -
m o çã o em cam panh as
b e n e f ic e n t e s o u d e M u it a s u n iv e r s id a d e s , e n t e n d e n d o a n e c e s -
c o n s c ie n t iz a ç ã o , e n t r e s id a d e d e r e c ic la r o m é t o d o d e a v a lia ç ã o d o
o u t r a s a t iv id a d e s . s is t e m a e d u c a c io n a l, p r o p u s e r a m m u d a n -
ç a s n a s p r o v a s d e v e s t ib u la r e s , e x ig in d o
d o s c a n d id a t o s n ã o a m e r a m e m o r iz a ç ã o ,
m a s a r e f l e x ã o e p o s t u r a c r ít ic a .

Agora leia a carta argumentativa elaborada pela aluna Daniela Larentis:


P e lo ta s , 0 1  d e  s e te m b r o  d e  2 0 0 0 .
S e n h o r a  J o r n a l is t a
N ã o   m e   c o n s id e r o   u m a   j o v e m   " s u p e r f ic i a l " ,   t a m p o u c o   a lie n a d a ;  p o r   i s s o ,   a p ó s   l e r  
m in u c i o s a m e n t e   s e u   a r t ig o   p u b li c a d o   n a   F o lh a ,   d e   2 5 / 0 2 / 9 7 ,   r e s o lv i  e s c r e v e r ­ l h e   p a r a   e x ­
p r e s s a r   n ã o  s ó   m i n h a   p r o f u n d a   in d ig n a ç ã o   c o m o   t a m b é m   c r it ic a r  a   e x c e s s iv a  g e n e r a liz a ­
ç ã o  m a n if e s t a  p e la  s e n h o r a  a o  s e  d ir ig ir  a o s  jo v e n s  d a s  c la s s e s  m a is  p r iv i le g ia d a s  d o  P a í s .
I n i c i a l m e n t e ,   g o s t a r ia   d e   c o n t e s t a r   s u a   a f ir m a ç ã o   in ju s t a   q u a n t o   a o   f a t o   d e   o s   j o ­
v e n s  d e s f r u t a r e m  d e  m u it o   t e m p o  li v r e  e   n ã o  s a b e r e m  c o m o  u t il iz á ­ lo .  A t u a l m e n t e ,  d e v i d o  
à s  g r a n d e s  e x ig ê n c ia s  d o  m e r c a d o  d e  t r a b a lh o ,  t a is  a d o le s c e n t e s  p r o c u r a m  q u a li f ic a r ­ s e  c a ­
d a  v e z  m a is ,  a t r a v é s  d e  c u r s o s ,  e s t á g io s ,  e s t u d o s  d e  o u t r a s  lí n g u a s ,   a l é m  d e  h a v e r  o  á r d u o  
p r e p a r o  p a r a  o  v e s t i b u l a r.  A d e m a i s ,   c o m  o  i n t u i t o  d e  e v it a r  o u  m in im iz a r  o  e s t r e s s e  d e s s a  
e t a p a   d a  v id a ,  m u i t o s  p a r t i c ip a m  d e   a u l a s   d e   g in á s t ic a   o u   p r a t ic a m   e s p o r t e s .  T a m b é m   d is ­
c o r d o   d e   q u e   a   id a   a   s h o p p in g   c e n t e r s   p o s s a   s e r   v i s t a   c o m o   u m   e n t r e t e n im e n t o   f ú t il.  A o  
c o n t r á r i o ,   e s s e s   e s p a ç o s   c o n s t it u e m ­ s e   e m   r a r o s  l u g a r e s   o n d e   é   o f e r e c i d a   u m a  a m p la   d i­
v e r s id a d e  c u l t u r a l p o r  m e io  d e  fo r m a s  d e  la z e r  t a is  c o m o  c in e m a s ,  e x p o s i ç õ e s  d e  a r t e ,  l iv r a ­
r i a s ;  e n t r e t a n t o ,  o  fa t o r  m a is  a t r a t i v o  e  e s s e n c ia l,  s e m  d ú v i d a ,  c o n s is t e  n a  m a io r  s e g u r a n ç a ,  
v i s t o  q u e  o s  j o v e n s ,  n e s s e s  a m b ie n t e s ,  e n c o n t r a m ­ s e  m a is  p r o t e g id o s  c o n t r a  a s s a lt o s  o u  o u ­
t r o s  p e r ig o s  m a is  g r a v e s .
I g u a l m e n t e ,  ju lg o  im p r o c e d e n t e  a  r e f e r ê n c ia  fe i t a  p o r  V o s s a  S e n h o r ia  e m  r e l a ç ã o  à  
e x a c e r b a d a   a d u l a ç ã o   à   j u v e n t u d e .  O s   a d o le s c e n t e s   e s t ã o   s e n d o   n ã o   s ó   m a is   e x ig id o s   p o r  
s e u s   fa m ili a r e s ,   o s   q u a is   lh e s   im p õ e m   r í g id o s   l im it e s ,   c o m o   p o r   s i  m e s m o s .  E x e m p lif ic a m  
c l a r a m e n t e  t a is  a t it u d e s  o  b o m  d e s e m p e n h o  n a  e s c o la ,  a  p r e p a r a ç ã o  p a r a  o  v e s t ib u la r  e ,  s o ­
b r e t u d o ,  o  a u m e n t o  d a  r e s p o n s a b ili d a d e        c a r a c t e r í s t ic a  m a r c a n t e  d e s c o n h e c id a  p o r  g r a n ­
d e   p a r t e   d o s   j o v e n s   d e   o u t r a s   d é c a d a s .  C o m   r e l a ç ã o   a o   t r o t e ,   c o n s id e r o   s u a   p o s i ç ã o   u m  
t a n t o   lim it a d a ,   p o i s   a s  p r o v a s  d e  v e s t ib u la r e s ,  e m  m u it a s   u n i v e r s id a d e s  b r a s il e ir a s ,   e x ig e m  
d o s  a lu n o s  u m a  p o s t u r a  c r í t ic a ,   e  n ã o  s o m e n t e  a  s im p l e s  m e m o r i z a ç ã o . L o g o ,  a q u e le s  a lu ­
n o s   c u j o   e s fo r ç o   e   d e d ic a ç ã o   r e s u lt a r a m   n a   a p r o v a ç ã o   d o   c o n c u r s o   d e v e m   c o n s id e r a r ­ s e  
v i t o r i o s o s  e ,  p o r t a n t o ,  c o m e m o r a r.
A c r e s c e n t o ­ lh e   q u e   e s s e s   j o v e n s   n ã o   s e   m o s t r a m   p a s s iv o s  
f r e n t e  à  p r e o c u p a n t e  c o n j u n t u r a  a t u a l . M u it o s  c o la b o r a m ,  e m  s u a s  c o ­
m u n id a d e s ,   e n g a j a n d o ­ s e   e m   g r u p o s   d e   ig r e ja s   o u   e m   O N G s ,   a l é m  
d e  p r o m o v e r e m  c a m p a n h a s  c o n s c ie n t iz a d o r a s  o u  b e n e f ic e n t e s ;  p o r ­
t a n t o ,  o p o n h o ­ m e  à  g r a v í s s im a  a c u s a ç ã o  d a  f a lt a  d e  s o lid a r i e d a d e  d a  
ju v e n t u d e  a t u a l . E s t a  n ã o  a lm e ja  s o lu ç õ e s  im e d i a t a s  e  in d iv id u a li s t a s ,  
m a s  c o n s c i e n t e s ,  d u r a d o u r a s  e  s o li d á r ia s ,   t a l  c o m o  o c o r r e u  n a  p a r t i­
c i p a ç ã o   d o s   c a r a s ­ p i n t a d a s   d u r a n t e   o   p r o c e s s o   d e   im p e a c h m e n t   d o  
e x ­ p r e s i d e n t e   C o l lo r,   n a   d é c a d a   d e   9 0 ,   o c a s iã o   e m   q u e   a   in ic ia t iv a  
d o s  j o v e n s  m o s t r o u ­ s e  e s s e n c i a l . E l e s  p r e t e n d e m ,   c o n t r a r i a m e n t e  à  
a t it u d e   d a q u e le s   d o s   a n o s   6 0   e   7 0 ,   n ã o   s ó   r e a liz a r   p a s s e a t a s         p o r  
v e z e s   a té   m e s m o   v io le n ta s     ,  c o m o   t a m b é m   a s p ira r  a   m u d a n ç a s  
m a is   p r o f u n d a s   e ,   c o m   c e r t e z a ,   a u x ilia r ã o ,   a t r a v é s   d o   e x e r c í c io   d a  
p r o f is ­ s ã o ,  p o r  e x e m p lo ,  e m  p r o l  d o s  m a is  c a r e n t e s . I s t o É ,   2 6   a g o .  1 9 9 2 ,   p . 4 4 .
D e s s e  m o d o ,  e s p e r o   t e r   c o n t r ib u í d o   p a r a  q u e   a  s e n h o r a  p e r c e b a   a   m u d a n ç a  d o s  
t e m p o s ,  d a  m e n t a li d a d e  d o s  p o v o s  e ,   p r i n c i p a l m e n t e ,  d a s  a s p i r a ç õ e s  d a  j u v e n t u d e ,  r e c o n ­
s i d e r a n d o ,  a s s i m ,  s u a  p o s t u r a  f r e n t e  à s  n o v a s  g e r a ç õ e s .
A t e n c io s a m e n t e ,
D . Z . L .
Comentários sobre o texto:

Daniela utilizou praticamente comprovando, através de uma breve


todas as idéias sublinhadas no texto análise da conjuntura socioeconômica
de Marilene Felinto para contestá-la, atual, que os jovens aproveitam bem
fato que não era obrigatório, ou seja, o tempo de que dispõem.
as instruções não indi-cavam tal Os argumentos expressos em
obrigatoriedade, mas também não 4, 7 e 6 fizeram referência à
impediam que a aluna o fizesse. Pelo responsabilidade desses jovens. O
fato de assim tê-las usado, seu texto trecho “característica marcante
tornou-se um pouco extenso se desconhecida por grande parte dos
comparado aos que costumam ser jovens de outras décadas”, implicita-
produzidos em provas de mente, alude às
vestibulares, mas atitudes da
nem por isso de geração da
qualidade ruim: própria Marilene
ocorre quando jovem,
justamente o assim como, no
contrário; ela parágrafo
fundamentou posterior, em
muito bem suas “contrariamente
idéias, foi crítica, à atitude
usou apro- daqueles dos
priadamente a anos 60 e 70”, a
coletânea. Além aluna reafirmou
disso, selecionou tal alusão.
um vocabulário
rico e coesivos O 4º
adequados. parágrafo
apresentou argu-
A aluna mentação
não perdeu de construí-da por
vista, no 1º meio de exem-
parágrafo, as plos da atuali-
IstoÉ, 02/09/1992, capa
idéias da dade.
jornalista: ao se apresentar,
selecionou os adjetivos “superficial” e A escolha do vocabulário é con-
“alienada” para retomar as críticas de siderada própria à contra-argumenta-
Marilene expressas nas linhas 14 e 15 ção: indignação/ contestar/ injusta/
(“Mas esses adolescen-tes urbanos discordo/ improcedente/ um tanto
não têm tanta complexidade”) e 6 limitada/ oponho-me/ gravíssima acu-
(“retrato da alienação”). Remeteu, en- sação/ perceba/ re-considerando.
tão, ao sentido global do texto e Tam-bém o uso de coe-sivos,
apontou nova crítica – generalização assinalados no texto, permite a
em demasia. transição adequada entre as idéias.
No parágrafo seguinte, refutou A aluna marcou
as idéias contidas em 1 e 2, explicitamente a retomada do dizer
sublinhadas no texto-fonte, alheio, através de expressões como:
não me considero/ gostaria de
contestar/ também discordo de/ julgo Tais estratégias fazem da
improcedente/ com relação ao trote, redação de Daniela um bom exemplo
considero/ portanto, oponho-me à, de texto ar-gumentativo, neste caso,
típicas da réplica. estruturado de acordo com o
processo de contra-argu-mentação.
S u g e s tõ e s d e co m o fa z e r ( q u a d ro s s in té tico s )

ESTRUTURA
In t r o d u ç ã o : D e v e   h a v e r   u m a   r e f e r ê n c i a   a o   t e x t o   c u j a s   i d é i a s   s e r ã o   r e f u t a d a s . 
T a m b é m   d e lim it a r   o   a s s u n t o ,  n e s te   tr e c h o ,  é   im p o r ta n te ,  a lé m   d e  
e x p li c i t a r ­ s e  u m a   c e n s u r a /  r e p r o v a ç ã o /  i n d i g n a ç ã o  a o  t e x t o / fo n t e .

D e s e n v o l v i m e n t o : R e t o m a d a   d o  d i z e r  d o   o u t r o ,   d e  s u a s   d e c l a r a ç õ e s / p o s i ç õ e s ,  
c o m  o  i n t u i t o  d e  r e f u t á ­ l a s . É  p r e c i s o ,  n e s t a  p a r t e  d o  t e x t o ,   f u n ­
d a m e n t a r ,  a t r a v é s  d e  fa t o s ,  e x e m p l o s  o u  o u t r o  t ip o  d e  r e c u r s o ,  
o s  c o n t r a ­ a r g u m e n t o s . P o d e ­ s e  fa z e r  u m a  r e s s a l v a  a  f i m  d e  f l e ­
x i b i li z a r  o  p o n t o  d e  v i s t a  e ,  d e s s a  fo r m a ,  c o n c i li a r  c o m  o  " a d v e r ­
s á r io " .
C o n c lu s ã o : R e t o m a d a   d o   p o n t o   d e   v i s t a   c o m   a   f i n a l id a d e   d e   r e s s a lt a r   a   i n c o n ­
s i s t ê n c i a  d o s  a r g u m e n t o s  a l h e io s . P o d e m ­ s e   a p o n t a r  s u g e s t õ e s  p a ­
r a  t a i s  a r g u m e n t o s  s e r e m  r e c o n s i d e r a d o s .

E X E M P L O S   D E  T R E C H O S   P A R A   R E T O M A R   O S   F A T O S / A S   D E C L A R A Ç Õ E S :
C o n t r a p o n h o ­ m e  à  a c u s a ç ã o /  a o  f a t o  d e  ( . . . )
C o m  r e la ç ã o  a  " x " ,  j u l g o  p o s s í v e l r e v id a r  t a l f a t o  ( . . . )
C o n s i d e r o  i m p r o c e d e n t e /  im p r ó p r io /  in ju s t o /  u t ó p ic a  ( . . . )
M a n i fe s t o ,  p r im e ir a m e n t e ,  m i n h a  d is c o r d â n c ia  q u a n t o  a /  a o  ( . . . )
C o n t r a r ia m e n t e  a o  q u e  fo i e x p o s t o  e m  ( . . . )
J u lg o ,  a in d a ,  p r e c i p it a d a  s u a  d e c la r a ç ã o  r e fe r e n t e  a /  a o  ( . . . )
N ã o  p o s s o  d e i x a r  d e  m e  s u r p r e e n d e r  q u a n t o  a /  a o  ( . . . )
G o s t a r ia ,  ig u a lm e n t e ,  d e  c o n t e s t a r /  q u e s t io n a r  s u a  a f i r m a ç ã o  ( . . . )
N o  m e u  e n t e n d e r,  n ã o  s e  t r a t a ,  p o is ,  d e  ( . . . ) ,  m a s  ( . . .)
O  s e n h o r  a c u s a ­ m e  d e  ( . . . ) ; n o  e n t a n t o ,  ( . . . )
N ã o  p e r c e b o  m o t iv o s  p a r a  t a is  i n q u ie t a ç õ e s ,  p o is  ( . . . )
E q u iv o c a d a m e n t e ,  V o s s a  S e n h o r ia  d e c l a r o u  ( . . . )
J u lg o  d if í c il  a c r e d it a r  ( . . . )
T a l   fa t o   e v id e n c ia   q u e   o   s e n h o r   d e s c o n h e c e   a lg u n s   d a d o s   r e fe r e n t e s   a /   a o /   a o s   r e a i s  
m o t i v o s /  à s  v e r d a d e ir a s  r a z õ e s  ( . . . )
Q u a n t o  a o  a r g u m e n t o  s e g u n d o  o  q u a l  ( . . . ) ,  a c r e d it o  ( . . . )
C r e io  q u e  a  id é ia  " x "  a c a b a  p o r  r e fo r ç a r  a  im a g e m   p r e c o n c e it u o s a /   u t ó p ic a  s e g u n d o  a  q u a l  
(...)
V O C A B U L Á R IO  P A R A  S E  U S A R  E M  C O N T R A ­ A R G U M E N T A Ç Õ E S

V e r b o s :  d i s c o r d a r,   c o n t r a r ia r,   c o n tr a p o r ­ s e ,   r e v id a r ,   c o n t e s t a r,  o p o r ­ s e ,   ir   d e   e n c o n t r o   a ,   . . .
S u b s t a n t i v o s :   o p o s iç ã o ,   d is c o r d â n c i a ,   c o n t e s t a ç ã o ,   o b je ç ã o ,   r e je iç ã o ,   a n t a g o n is m o ,   c o n ­
t r a r ie d a d e ,  d i v e r g ê n c i a ,  e m p e c ilh o ,  …
A d j e t i v o s : e q u i v o c a d o ,  im p r o c e d e n t e ,  in f u n d a d o ,  in a d m i s s í v e l,  i r r e s p o n s á v e l,  in ó c u o ,  in e f i­
c a z ,   a r b it r á r io ,  d e s u m a n o ,   in c o r r e t o ,  u n ila t e r a l,   d e p l o r á v e l,  c h o c a n t e ,   in d ig n a d o ,  
in c r é d u l o ,  s u r p r e s o ,  c o n s t r a n g id o ,  …
O u t r o s : J u l g o  n e c e s s á r i o  r e a v a l i a r /   r e v e r /  r e c o n s i d e r a r /  r e f l e t i r  ( s o b r e )  o  a r g u m e n t o  ( . . . )
A c r e d i t o  s e r  e x t r e m a m e n t e  q u e s t i o n á v e l  o  fa t o  d e  ( . . . )
P e n s o  s e r  im p r e s c in d í v e l  u m a  r e f l e x ã o  p r o f u n d a  a c e r c a  d e  ( . . . )

S U G E S T Õ E S  P A R A  A  IN T R O D U Ç Ã O

A p ó s  l e i t u r a  r e fe r e n t e  a o  a r t ig o /  à  r e p o r t a g e m  “ x ” a c e r c a  d e  “ y ”       a s s u n t o  d e  s u m a  i m p o r ­
t â n c ia      ,  d e c id i e s c r e v e r ­ lh e  e  m a n if e s t a r  m i n h a  o p i n iã o ,  a  q u a l  v a i  d e  e n c o n t r o  à  s u a .

E m  r a z ã o  d a s  c r í t ic a s  e x p o s t a s  e m  s e u  t e x t o  “ x ” ,  r e fe r e n t e  a  “ y ”  [ i n d i c a r  o  a s s u n t o ],  r e s o lv i  
e x p r e s s a r   m in h a   r e p r o v a ç ã o   e m   f a c e   d e   s u a   a t it u d e   ( . . . ) .  D e s s e   m o d o ,   e s p e r o   p r o p o r ­
c i o n a r ­ lh e ,  p o r  m e io  d e  m e u s  a r g u m e n t o s ,  u m a  r e f l e x ã o  p a r a  q u e  p o s s a  r e c o n s id e r a r  s e u  
p o n to  d e  v is t a .

S U G E S T Õ E S  P A R A  A  C O N C L U S Ã O

J u lg o ,  p o i s ,  p e r t i n e n t e  q u e  V o s s a  S e n h o r i a /  V o s s a  E x c e lê n c ia  r e a v a lie  s u a s  d e c la r a ç õ e s  
a  f i m  d e  e v i t a r  p r e ju í z o s  a in d a  m a io r e s  a  ( . . . ) .

S u g ir o  q u e  ( . . . )  s e ja  e f e t iv a d o / a  e ,  d e s s e  m o d o ,  a  a t u a l  s it u a ç ã o  p o s s a  s e r  r e v e r t id a .

P o r t a n t o ,  s o l ic it o ­ lh e  q u e  r e c o n s id e r e  s e u  p o s ic i o n a m e n t o ,  t r a n s f o r m a n d o  a s  i n f u n d a d a s  
c r í t i c a s  e m  u m a  p o s t u r a  m a is  o t im i s t a  f r e n t e  a  ( . . . )
U m o u tro e xe m p lo d e te x to a rg u m e n ta tivo : a d is s e r ta çã o

Uma outra modalidade textual Essas são convenções as


proposta por exames de vestibulares quais devemos respeitar a fim de que
de diversas universidades do País a redação seja adequada ao tipo de
trata-se da dissertação. Tal qual texto proposto.
ocorre com a carta argumentativa, a Quanto ao uso da coletânea,
dissertação é um tipo de texto em recurso normalmente exigido aos
que emitimos julgamentos, fazemos vestibulandos que prestam vestibular
críticas e/ou ressalvas, expres- na UFPel, UCPel e UNICAMP, devemos
samos pontos de vista e levar em conta as mesmas
defendemos idéias as quais são observações já mencionadas ao
sustentadas por meio de estudarmos a carta argumentativa.
argumentos.
No ano 2000, pediu-se aos
No entanto, se há aspectos alunos que redigissem uma
comuns entre os dois tipos de textos, dissertação, baseando-se numa
também os há diferentes. Na coletânea composta por charges a
dissertação, ao contrário da carta, qual abordava a relação entre
não escrevemos dirigindo-nos a ética/política em nosso país e
um interlocutor específico, questionando-os acerca da
determinado. O interlocutor, neste viabilidade ou não da prática política
caso, pode ser considerado qualquer nacional em conformidade com os
pessoa que vá ler o texto; portanto, a princípios éticos.
interlocução não deve ser
explicitada. Leia a coletânea, o
levantamento com o resumo das
Outra diferença a ser idéias das charges, assim como a
salientada refere-se ao uso da 1a redação, de autoria da aluna Daniela
pessoa do singular, que, na carta, Larentis. Após, reflita sobre os co-
deve aparecer com freqüência e, na mentários que seguem.
dissertação, evitada.
TEXTO 1
OS PESCOÇUDOS – Caco Galhardo

(Folha de São Paulo, 10/7/99)

TEXTO 2

OS PESCOÇUDOS – Caco Galhardo

(Folha de São Paulo, 21/02/00)

TEXTO 3

OS PESCOÇUDOS – Caco Galhardo
(Folha de São Paulo, 17/07/00)

TEXTO 4

OS PESCOÇUDOS – Caco Galhardo

(Folha de São Paulo, 18/07/00)

TEXTO 5

OS PESCOÇUDOS – Caco Galhardo

(Folha de São Paulo, 20/7/00)

TEXTO 6

OS PESCOÇUDOS – Caco Galhardo
(Folha de São Paulo, 21/7/00)

TEXTO 7

OS PESCOÇUDOS – Caco Galhardo

(Folha de São Paulo, 22/7/00)
TEXTO 8

(Folha de São Paulo, 03/01/98)

Levantamento das idéias das turmas do ano 2000


e s t e r e ó t ip o ( d e v id o à p r ó p r ia t r a d iç ã o ) d o " m a u " p o lít ic o .
e x c e s s o d e p r iv ilé g io s : o p o lít ic o p o d e a p r o v e it a r - s e d o c a r g o o c u p a d o p a r a
la n ç a r m ã o d e p r iv ilé g io s a s i p r ó p r io o u a u m p e q u e n o g r u p o ( e x . : d u r a n t e o
p e r ío d o C o llo r : o p e r a ç õ e s f r a u d u le n t a s , e s q u e m a s d e c o r r u p ç ã o g ig a n -
te sco s ).
d e s v io d e v e r b a s ( e x . : n a a t u a lid a d e : c o n s t r u ç ã o d o p r é d io - s e d e d o T r ib u n a l
d a J u s t iç a d o E s t a d o : N ic o la u d o s S a n t o s N e t t o ) .
c o m p r a e v e n d a d e v o t o s ( " c lie n t e lis m o " , o u s e j a , u s o d a s in s t it u iç õ e s e / o u
d o c a r g o o c u p a d o p a r a " p r e s t a r f a v o r e s " ; p e r s o n a lis m o , is t o é , o q u e é r e -
le v a n t e n ã o é a id e o lo g ia n e m o p a r t id o d o c a n d id a t o , m a s a s q u a lid a d e s
p e s s o a is d o p o lít ic o ) .
f a lt a d e t r a n s p a r ê n c ia ( f in a lid a d e : e v it a r e s c â n d a lo s ) .
t e n t a t iv a d e s u b o r n o ( a lt o g r a u d e s o f is t ic a ç ã o e m o p e r a ç õ e s f r a u d u le n t a s ) .
im p u n id a d e ( o s e s c â n d a lo s , e n v o lv e n d o c o r r u p ç ã o , a c a b a m p o r s e r " e s q u e -
c id o s " ) .
f is io lo g is m o : le g is la r e m c a u s a p r ó p r ia ; u s o d a m á q u in a a d m in is t r a t iv a n a
c o m p r a e v e n d a d e v o t o s ; c a m p a n h a e le it o r a l r e a liz a d a d u r a n t e a e x e c u ç ã o
d o p r ó p r io m a n d a t o ; " c lie n t e lis m o " .
B r a s i l C o lô n ia : d e p e n d ê n c ia t o t a l d a m e t r ó p o l e .
B r a s i l I m p é r i o : v o t o p e r m i t id o s o m e n t e a o s la t i -
f u n d iá r io s .
R e p ú b l ic a v e l h a : c o r o n e l is m o : v o t o a c a b r e s t o .
E r a V a r g a s : a m u l h e r a d q u ir e d ir e it o a o v o t o .
D i t a d u r a d e 6 4 a 8 2 : f o r t e r e p r e s s ã o m i li t a r.

E x e r c íc io d a c id a d a n ia d e f o r m a c o n s t a n t e .
E s c la r e c im e n t o s o b r e a s f u n ç õ e s d o s p o d e r e s
E x e c u t iv o , L e g is la t iv o e J u d i c iá r io .

F i s i o l o g i s m o ,  c o r r u p ç ã o ,  e s c â n d a l o s ,  p r i v i l é g i o s ,  i m p u n i d a d e ,  fa l c a t r u a s . E s s a s  s ã o  a l ­
g u m a s  c a r a c t e r í s t i c a s  i d e n t i f i c a d a s ,  c o m  f r e q ü ê n c i a ,  n a  a t iv id a d e  p o l í t i c a  n a c i o n a l . A  c a d a  c a s o  
i l í c i t o  e x p o s t o  à  s o c ie d a d e ,  a u m e n t a  o  s e n t im e n t o  d e  v e r g o n h a  f r e n t e  à  a t i t u d e  d e  a lg u n s  p o lí t i ­
c o s  o  q u a l ,  a l i a d o  à  i n s e g u r a n ç a ,   d e s p e r t a  d ú v i d a s  a   r e s p e i t o  d a   r e a l  f u n ç ã o  a  s e r  e x e r c i d a   p o r  
e s s e s  c i d a d ã o s . C o n t u d o ,  t a l  c o n ju n t u r a  p o d e r i a  s e r  r e v e r t i d a  c a s o  a  p o p u l a ç ã o  s e  i n t e g r a s s e  à  
v i d a  p o l í t i c a  d o  P a í s  e  d e l a  p a r t i c i p a s s e  d e  fo r m a  r e s p o n s á v e l  e  c o n s c i e n t e .
I n i c i a l m e n t e ,  s a li e n t a ­ s e  a  fa l t a  d e  i n t e r e s s e  d a  i m e n s a  p a r c e l a  d a  p o p u l a ç ã o  a c e r c a  d a  
p o l í t i c a  n a c io n a l . A s  c a u s a s  d e s s e  d e s i n t e r e s s e  s ã o  i n ú m e r a s ; e n t r e t a n t o ,  a s  h i s t ó r i c a s  s o b r e s ­
s a e m ­ s e   e   e x p li c a m   c o m   c la r e z a   o   in í c i o   d e   u m a   h e r a n ç a :  a   e x c l u s ã o   s o c i a l.  O   B r a s i l,   d e s d e   o  
D e s c o b r i m e n t o   a t é   a   I n d e p e n d ê n c i a ,   fo i   g o v e r n a d o   p o r   P o r t u g a l ,   o   q u a l   m a n i p u l o u ,   c o n fo r m e  
s e u s  i n t e r e s s e s  e c o n ô m i c o s  e  p o l í t i c o s ,  a  c o l ô n i a ,  i n i c i a n d o ,  d e s s e  m o d o ,  u m  p r o c e s s o  d e  s u b ­
m i s s ã o  b r a s i l e ir o . J á  n a  é p o c a  i m p e r i a l ,  o  v o t o  e r a  p r i v i l é g i o  s o m e n t e  d o s  l a t i f u n d i á r i o s . D u r a n t e  a  
R e p ú b l i c a  V e lh a ,  e s t a b e l e c e u ­ s e  a  p o lí t i c a  d o  c o r o n e l i s m o ,  f i r m a d a  s o b r e t u d o  n a s  f r a u d e s  e le i ­
t o r a i s  e  n o  v o t o  a  c a b r e s t o ,  a b e r t o ,  o u  s e ja ,  o b r i g a v a ­ s e  o  e m p r e g a d o  a  v o t a r  e m  s e u  p a t r ã o  p a r a  
q u e   n ã o   s ó   s e  m a n t i v e s s e   n o   e m p r e g o   c o m o   t a m b é m   p r e s e r v a s s e   a  p r ó p r i a   v i d a .  N a   v e r d a d e ,  
e s s e  t i p o  d e  v o t o  n a d a  m a i s  s i m b o l i z a v a  d o  q u e  o s  i n t e r e s s e s  o l i g á r q u i c o s . A  m u l h e r          f i g u r a  d i s ­
c r i m in a d a  s o c i a l m e n t e        o b t e v e  d i r e i t o  a  v o t o  e m  1 9 3 4 ,  n a  E r a  V a r g a s . T o d a v i a ,  n o  p e r í o d o  d it a ­
t o r ia l ,  d e  6 4  a  8 2 ,  c o m  o  g o l p e  d e  E s t a d o  o u ,  p o s t e r i o r m e n ­
t e ,  c o m  e l e iç õ e s  i n d i r e t a s ,  s o b  fo r t e  r e p r e s s ã o ,  e v i d e n c i o u ­
s e  u m a  v e z  m a i s  o  t o t a l  a fa s t a m e n t o  d a  s o c i e d a d e  n a  p a r t i ­
c i p a ç ã o  p o l í t i c a  d o  P a í s . L o g o ,  o s  m o m e n t o s  " c o n c e d i d o s "  
p a r a  a  p r á t i c a  d a  c i d a d a n i a ,  n o  B r a s i l,  fo r a m  m a r c a d o s  p e la  
i m p o s i ç ã o  o u  a u s ê n c i a  d o  v o t o ,  g a r a n t i n d o  o  p o d e r  s e m p r e  
n a s  m ã o s  d e  u m a  m i n o r ia .
A  s i t u a ç ã o  p o d e r i a  s e r  r e v e r t i d a ; p o r é m ,  a  c o n j u n ­
t u r a   p o l í t i c a   a t u a l  m o s t r a ­ s e   i g u a l m e n t e   c a ó t i c a   e   p r e o c u ­
p a n t e . O b s e r v a m ­ s e  c o n s t a n t e m e n t e  c a s o s  e s c a n d a l o s o s  
e n v o l v e n d o  p o l í t i c o s . M u i t o s  a p r o v e i t a m ­ s e  d e  s e u s  c a r g o s  
p a r a  o b t e r  i n ú m e r o s  p r i v i lé g i o s  c o m o ,  p o r  e x e m p lo ,  a s  o p e ­     I s t o É ,   7 / 4 / 1 9 9 3 .  É   o   f im ?   C a p a .
r a ç õ e s  f r a u d u l e n t a s  d u r a n t e  o  p e r í o d o  C o l l o r. A d e m a i s ,  h á  o  e l e v a d í s s i m o  í n d i c e  d e  d e s v i o s  d e  
v e r b a s  a s  q u a i s  d e v e r i a m  s e r  r e p a s s a d a s  à s  á r e a s  d a  s a ú d e ,  e d u c a ç ã o ,  e n t r e  o u t r a s . A t é  m e s ­
m o  p a r a  s e r e m  e l e i t o s ,  a l g u n s  p o l í t i c o s  " c o m p r a m "  v o t o s ,  p r i n c ip a l m e n t e  d a s  c l a s s e s  m e n o s  fa ­
v o r e c i d a s ,  a t r a v é s  d a  o fe r t a  d e  c o m i d a  e  a lg u m a s  v a n t a g e n s .  D e s s a  fo r m a ,  a q u e l e s  s e  e l e g e m  
d e v i d o   à s   s u a s   " q u a l i d a d e s " ,   e   n ã o   à   s u a   p e r fo r m a n c e   o u   a o   s e u   p r o g r a m a   e l e i t o r a l .  C o m o   s e  
n ã o   b a s t a s s e m   e s s e s   p r e j u í z o s   à   p o p u l a ç ã o ,   e s t a   d e p a r a ­ s e   c o m   a   i m p u n i d a d e :  t a is   p o l í t i c o s  
s e n t e m ­ s e   i n a b a l á v e i s   e   i n d e s t r u t í v e is   p e r a n t e   q u a l q u e r   fo r m a   d e   p u n i ç ã o ,   e s t i m u l a n d o   a   p e r ­
m i s s i v i d a d e ,  c a r a c t e r í s t i c a  d e s s e  m u n d o  p o l í t i c o . E v i d e n c i a ­ s e ,  p o i s ,  u m  d e s c r é d i t o  d a  s o c ie d a ­
d e  q u a n t o  à  r e a li d a d e  p o l í t i c a  e  s o c i a l,  o  q u a l  d e s e n c a d e i a  fa lt a  d e  e x p e c t a t iv a s  f r e n t e  a o  f u t u r o  
d o  P a í s .
A s s i m ,  h á  a  n e c e s s id a d e  d e  u m a  r e v e r s ã o  d e  t a l  q u a d r o . M o s t r a ­ s e  f u n d a m e n t a l o  e x e r ­
c í c i o  c o n s t a n t e  d a  c i d a d a n i a  n ã o  s ó  n o  p e r í o d o  e l e i t o r a l ,  c o m o  t a m b é m  n o  p r é  e  p ó s ­ e l e i t o r a l      ­  
d e v e ­ s e  c o n h e c e r  o  p r o g r a m a  d o  c a n d i d a t o  e  d o  p a r t i d o  d u r a n t e  o  p e r í o d o  e l e it o r a l,  e s c la r e c e r  a  
p o p u l a ç ã o   s o b r e   a s   f u n ç õ e s   d o   E x e c u t i v o ,   L e g i s la t i v o   e   J u d i c i á r i o ,   a s s i m   c o m o   f i s c a l i z a r   a s  
a ç õ e s   d o s   p o l í t ic o s ,   e x ig i n d o   d a   m í d i a   a   d i v u l g a ç ã o   s o b r e   o   a n d a m e n t o   d o s   m a n d a t o s .  D e s s a  
fo r m a ,  h a v e r á  a  b u s c a  c o n s t a n t e  p e l o  v o t o  c o n s c i e n t e  e  a  n e g a ç ã o  d o s  i n t e r e s s e s  i n d i v i d u a i s  e m  
p r o l  d o s  d o  P a í s  p a r a  q u e  e s t e  s e  d e s e n v o l v a ,  o p o r t u n i z a n d o  a t e n d i m e n t o  a o s  e x c l u í d o s  e  e x e r ­
c e n d o  u m a  p o lí t i c a  i n c e n t i v a d o r a  e  v e r d a d e i r a  e m  q u e  a  é t i c a  m o s t r e ­ s e  u m  v a l o r  e s s e n c i a l .

Comentários sobre o texto:

Observemos, primeiramente, o texto 7, também foi mencionada neste


uso que Daniela Larentis faz da trecho.
coletânea. A aluna utilizou, na Para fundamentar seu texto,
introdução (1º parágrafo), as idéias- sustentou sua argumentação mediante
base de todas as charges, resumidas e um resumo histórico no qual ressaltou a
expressas através de substantivos. exclusão política e social da maioria dos
No desenvolvimento, no 2º cidadãos brasileiros e os interesses
parágrafo, ela lançou mão de econômicos e políticos de uma minoria
conhecimentos de História os quais não privilegiada.
estavam explicitados nas charges, mas Ao analisar a conjuntura
haviam sido discutidos pela turma; nacional, citou alguns “vícios” de
acrescentou, portanto, informações à determinados políticos – obtenção de
coletânea, enriquecendo a privilégios, compra e ven-da de votos,
argumentação. impunidade –, salientando a ne-
No 3º parágrafo, ainda no cessidade de a população reverter tal
desenvolvimento, usou as idéias quadro.
implícitas nas charges 2 e 7 ao A fim de que tal reversão
ressaltar os privilégios e escândalos ocorresse, obedecendo a princípios
referentes a alguns políticos, exemplifi- éticos, Daniela, na conclusão, expôs
cando. Os desvios de verbas, expressos uma série de sugestões, todas visando
na charge 3, constaram à não-conivência e à
ainda neste parágrafo, participação da
assim como a compra e comunidade, de forma
venda de votos, responsável, na
manifestas na charge 4. atividade política
A impunidade, à qual se nacional.
refere o chargista no Eis um bom
exemplo de texto argu-
mentativo: crítico, bem fundamentado, ção. Ademais, a aluna fez bom uso dos
com bom aproveitamento da coletânea, elementos coesivos, “costurando” suas
com a escolha de um vocabulário rico e idéias com elegância.
nível de linguagem adequado à situa-

10 S u g e s tõ e s d e co m o fa z e r ( q u a d ro s s in té tico s )

C o n v é m  s a lie n t a r  ( . . . )
D e v e m  s e r  e n f o c a d o s  o s  a s p e c t o s  ( . . . )
R e s s a lt a ­ s e  q u e  ( . . . )
É  p r e c is o , p o is ,  q u e s t io n a r m o s  ( . . . )
C o n v é m  le m b r a r  ( . . . )
T o r n a ­ s e  f u n d a m e n t a l  ( . . . )
É  n e c e s s á r io  f r is a r  ( . . . )
C u m p r e  d e s t a c a r  ( . . . )
P o d e ­ s e  a f ir m a r  q u e  ( . . . )
C o n f o r m e  a l e g a m  ( . . . )
A le g a ­ s e ,  c o m  f r e q ü ê n c i a  ( . . . )
P o d e m ­ s e   t r a ç a r,   a in d a ,   o u t r a s   d ife r e n ç a s /   c a u s a s /  c o n s e q ü ê n c ia s   ( . . . )
S U G E S T Õ E S  P A R A  A  IN T R O D U Ç Ã O
O  u s o  d e  v á r i o s  s u b s t a n t i v o s  o u  d e  e x p r e s s õ e s  e q u i v a l e n t e s  ( d e v e m  p e r t e n c e r  a o  m e s m o  
c a m p o  s e m â n t i c o ) :
Q u e im a d a s ,  d e s m a t a m e n t o s ,  p o lu iç ã o ,  c o n t a m in a ç ã o   d a s  
á g u a s . E s s a s  e x p r e s s õ e s  s u g e r e m  a  m u i t o s  q u e  n ã o  h á  m o t i v o s  s e ­
q u e r   p a r a   s e   c o m e m o r a r   o   D ia   M u n d ia l   d o   M e io   A m b i e n t e .  N o  
e n t a n t o ,  a o s  m a i s  e s p e r a n ç o s o s  e  p e r s e v e r a n t e s ,  c o m o  o s  a t i v i s t a s  
p o l í t i c o s  e  o s  e c o l o g i s t a s ,  s ã o  e x a t a m e n t e  e l a s  a  r a z ã o  p a r a  s e  r e a l i ­
z a r   u m   t r a b a l h o   d e   c o n s c i e n t i z a ç ã o ,   e n v o l v e n d o  q u e s t õ e s  a m b i e n ­
t a i s   q u e   a m e a ç a m   o   P l a n e t a .  ( a s s u n t o :  q u e s t õ e s   a m b i e n t a i s   d a  
a t u a l i d a d e ; p r o p o s t a  n o  D i a  M u n d i a l  d o  M e i o  A m b ie n t e ; a n o : 2 0 0 0 ) .
" C r ia t iv id a d e ,  e s p ír ito   e m p r e e n d e d o r ,  p r e p a ro   p a r a   d e s e m p e ­
n h a r   f u n ç õ e s   v a r i a d a s .  E s s a s   s ã o   a l g u m a s   c a r a c t e r í s t i c a s   e x i g i­
d a s   p a r a   s e   i n g r e s s a r   n o   m e r c a d o   d e   t r a b a l h o   d e s t e   f i m   d e   s é c u l o .  Is to É , 2 3 /5 /2 0 0 1  
S e m  d ú v id a ,  c o m  o  a v a n ç o  t e c n o l ó g i c o ,  o  t r a b a l h a d o r  d e v e r á  r e n u n ­
c i a r   a   a n t i g o s   c o n c e i t o s ,   t a i s   c o m o   a   h a b i l i d a d e   p a r a   a t u a r   e m   a p e n a s   u m a   f u n ç ã o   e   a   fo r ­
m a ç ã o  a c a d ê m i c a  l i m i t a d a  a  u m a  á r e a . "  ( a s s u n t o : o  p e r f i l d o  p r o f i s s io n a l n o  f i n a l  d o  s é c u l o ; 
a n o : 2 0 0 0 ; t r e c h o  d e  r e d a ç ã o  d e  a l u n a : A n a  B a r b o s a  D u a r t e ) .
" B a s e s   n i t r o g e n a d a s ,   g e n e s ,   c r o m o s s o m o s ,   D N A .  F i n a l m e n t e ,   c ie n t i s t a s   c o n s e g u i r a m  
d e c if r a r  c e r c a  d e  9 8 %  d o  c ó d i g o  g e n é t i c o  h u m a n o . E s s a  r e v o l u ç ã o  c i e n t í f i c a  e s t á  s e n d o  a m ­
p l a m e n t e   c o m e m o r a d a ;  e n t r e t a n t o ,   c e r t a s   p r e c a u ç õ e s   d e v e m   s e r   t o m a d a s   a   f i m   d e   q u e   o  
G e n o m a ,  t r a d u z i d o ,  s e j a  u t i l i z a d o  d e  m a n e i r a  r e s p o n s á v e l ,  e m  p r o l  d a  h u m a n i d a d e . "  ( a s s u n ­
t o : P r o j e t o  G e n o m a ; a n o : 2 0 0 0 ; t r e c h o  d e  r e d a ç ã o  d e  a l u n a : D a n i e l a  L a r e n t i s ) .

O  u s o  d e  u m a  o u   m a is  p e r g u n t a s :
F is io lo g is m o ,  c o r r u p ç ã o ,   e s c â n d a lo s ,  p r iv ilé g io s ,   im p u n id a d e ,   fa lc a ­
t r u a s .  E i s   a l g u m a s   c a r a c t e r í s t ic a s   i d e n t i f i c a d a s ,   c o m   f r e q ü ê n c i a ,   n a  
a t i v i d a d e   p o l í t i c a   n a c i o n a l .  N o   e n t a n t o ,   u m   q u e s t i o n a m e n t o   f a z ­ s e  
n e c e s s á r i o :  é  v i á v e l  o  e x e r c í c i o  d e s s a  a t i v i d a d e , e m  n o s s o  p a í s , 
s e m   i n c o r r e r   e m   t a i s   v í c i o s ?   ( a s s u n t o :  r e l a ç ã o   é t i c a / p o l í t i c a   n o  
B r a s i l ; a n o : 2 0 0 0 ) . I s t o É ,  1 0 / 1 / 2 0 0 1
O  u s o  d e  u m a  s ig l a /u m  n ú m e r o  s e g u id o  d e  c o m e n t á r io :
" 7 . 7 1 6 . E s s e  n ú m e r o  d e v e r ia  e x p r e s s a r  a l g u m  s e n t i d o  p a r a  a  s o c i e d a d e  b r a ­
s i l e ir a ; n o  e n t a n t o ,  m u i t o s  c i d a d ã o s ,  p o r  d e s c o n h e c ê ­ lo ,  o  d e s r e s p e i t a m . S e ­
g u n d o  a  C o n s t i t u iç ã o ,  a  l e i  7 . 7 1 6  d e s i g n a  o  r a c i s m o  c o m o  u m  c r im e . A p e s a r  
d i s s o ,  c o t i d i a n a m e n t e ,  p r e s e n c i a m ­ s e  c e n a s  e x p l í c i t a s  d e  p r e c o n c e i t o  r a c i a l ,  
s o b r e t u d o   e m   r e l a ç ã o   à   r a ç a   n e g r a .  T a l  e x c l u s ã o   p o d e   c a u s a r   s e r i í s s i m a s  
c o n s e q ü ê n c ia s ,   p r i n c i p a l m e n t e   a o   f u t u r o   d o   P a í s ,   c u j a   p o p u l a ç ã o ,   a l iá s ,   é  
c o m p o s t a ,  e m  g r a n d e  n ú m e r o ,  p o r  i n d i v í d u o s  n e g r o s  o u  m u l a t o s . "  ( a s s u n t o : 
d i s c r i m i n a ç ã o   r a c ia l ;  a n o :  2 0 0 0 ;  t r e c h o   d e   r e d a ç ã o   d e   a l u n a :  D a n i e l a  
L a r e n tis ) .
" W . W . W .  E s s a  s e  c o n s t i t u i  n u m a  d a s  s i g l a s  m a is  u t i l i z a d a s  a t u a l m e n t e  p o i s ,  
a t r a v é s  d e l a ,  h á  o  a c e s s o  a  q u a l q u e r  p á g i n a  d a  I n t e r n e t . V e r i f i c a ­ s e ,  n o  m u n ­
d o  c o n t e m p o r â n e o ,  a  e x t r e m a  i m p o r t â n c i a  d e  c o m u n i c a ç õ e s  r á p i d a s  e  e f i c a ­
z e s ; a  I n t e r n e t  q u a li f ic a ­ s e ,  p e r fe i t a m e n t e ,  p a r a  e s s e  f i m . "  ( a s s u n t o : I n t e r n e t ; 
a n o : 2 0 0 0 ; t r e c h o  d e  r e d a ç ã o  d e  a l u n a : D a n i e l a  L a r e n t i s ) .

U s o   d e   u m a   c i t a ç ã o   ( n ã o   e s q u e c e r   d e   c i t a r   a   fo n t e ) :
"   'P r i s ã o  n ã o  s e r v e  p a r a  r e s s o c i a l i z a r . '  E s s a  f r a s e ,  m e n c i o n a d a  p e l o   a t u a l   m i n i s t r o  d o  
J u s t i ç a ,  d e m o n s t r o u  h a v e r  u m a  c o n s c i e n t i z a ç ã o  g e r a l d a  s o c i e d a d e  a c e r c a  d o  fa t o  d e  a s  p r i ­
s õ e s  e m  r e g im e  fe c h a d o ,  n o  B r a s i l,  n ã o  s e r v i r e m   c o m o  m e i o  d e  d i m in u i ç ã o  d o  í n d i c e  d e   c r i ­
m i n a l id a d e   o u   d e   r e s s o c i a l i z a ç ã o   d o   i n f r a t o r .  A   f i m   d e   a m e n i z a r   e s s e   p r o b l e m a ,   s u r g e m   a s  
p e n a s   a l t e r n a t i v a s ,   c u j a   a p l i c a ç ã o   t e m   m o s t r a d o   e f i c i ê n c ia   n o s   p a í s e s   e m   q u e   j á   v i g o r a m ,  
p r i n c i p a l m e n t e   n o s   c a s o s   r e l a t i v o s   a o s   u s u á r i o s   d e   d r o g a s . "   ( a s s u n t o :  a p l i c a ç ã o   d e   p e n a s  
a l t e r n a t i v a s   a o s   u s u á r i o s   d e   d r o g a s ;  a n o :  2 0 0 0 ;  t r e c h o   d e   r e d a ç ã o   d e   a l u n a :  A n a   B a r b o s a  
D u a r te ).
" S e g u n d o  o  e x ­ m i n i s t r o  R i c u p e r o , o  q u e  é  b o m  d e v e  s e r  m o s t r a d o ;  o  q u e  é  r u i m , e s c o n ­
d i d o . T a l  f r a s e  s i m p l i f i c a ,  d e   fo r m a  c l a r a  e  f ie l ,  a  m a n i p u l a ç ã o  d a  m í d ia ,  t r a n s fo r m a n d o ,  c o n ­
f o r m e  s e u s  i n t e r e s s e s ,  a  i m a g e m  d o  h o m e m  p e r a n t e  a  s o c ie d a d e . F r e n t e  à  p a s s i v i d a d e  d a s  
p e s s o a s  e ,  a t é  m e s m o ,  à  a c e i t a ç ã o ,  a  m í d i a  a u m e n t a ,  g r a d a t iv a m e n t e ,  s e u  c o n t r o le ,  a p r o v e i ­
t a n d o ­ s e  d e l e  e  d e s e n c a d e a n d o  u m  g r a v e  c í r c u l o  v ic i o s o ,  c u j o  r e s u l t a d o  p o d e r á  s e r,  s e m  d ú ­
v i d a ,  a  d e s v a l o r i z a ç ã o  d o  h o m e m  e m  d e t r i m e n t o  d o  c u l t o  à  i m a g e m . "  ( a s s u n t o : d e s v a l o r i z a ­
ç ã o  d o  h o m e m / s u p e r v a l o r i z a ç ã o  d a  i m a g e m ; a n o : 2 0 0 0 ; t r e c h o  d e  r e d a ç ã o  d e  a l u n a : D a n i e la  
L a r e n tis ) .

O b s . :   É   i n t e r e s s a n t e ,   e m   i n t r o d u ç õ e s   c o m o   e s s a s ,   la n ç a r m o s   m ã o   d o   a r g u m e n t o   d e   a u t o r i ­
d a d e ,  r e c u r s o  q u e  c o n s is t e  n a  c i t a ç ã o  d e  a u t o r i d a d e s  c o n h e c i d a s ,  a u t o r e s  r e n o m a d o s ,  c e l e b r i­
d a d e s ,  d o c u m e n t o s  i m p o r t a n t e s ,  d e  c o n h e c i m e n t o  e m  n í v e l  m u n d i a l ,  a  f i m  d e  r a t i f ic a r  o  p o n t o  d e  
v is t a .
58 Teresinha Brandão

U m a  b r e v e  r e t r o s p e c t iv a  h is t ó r ic a :
" A  p o l í t i c a  d e s e n v o l v im e n t is t a ,  d e s e n c a d e a d a  a  p a r t ir  d o  s é c u l o  X V I I I ,  c o m  o  a d v e n t o  d a  
R e v o lu ç ã o  I n d u s tr ia l,  c r io u  u m  c u r io s o  p a r a d o x o  n a  s o c i e d a d e  m o d e r n a . E m b o r a  a  é p o ­
c a  a t u a l t e n h a  a d q u i r id o  u m  c a r á t e r  a lt a m e n t e  t e c n o ló g ic o ,  a  f im  d e  b e n e f ic ia r  n o s s o  c o t i ­
d ia n o ,   r e p r e s e n t a d o   n a s   a t iv id a d e s   d o s   p r in c i p a i s   c e n t r o s   u r b a n o s   m u n d i a i s ,   o   s e r   h u ­
m a n o  m a n t é m ­ s e  e s c r a v o  d o  t e m p o ,  is t o  é ,  o  m u n d o  'h ig h ­ t e c h ' n ã o  fa v o r e c e u  a  q u a l id a ­
d e   d e   v id a   d a  s o c i e d a d e . "   ( a s s u n t o :  r e la ç õ e s   t r a b a lh o / la z e r ;  a n o :  2 0 0 0 ;  t r e c h o   d e   r e d a ­
ç ã o  d e  a lu n a : I s a b e l  H r u s c h k a  R o d r ig u e s ) .
" A  c iv il iz a ç ã o  h u m a n a ,  n a  s u a  e v o l u ç ã o ,  s e m p r e  c o n v i v e u  c o m  o s  a lu c i n ó g e n o s . N o  m u n ­
d o   O r i e n t a l ,   o   ó p io   fo i  o   e s t o p i m   d e   u m a   g u e r r a ;  n a s   A m é r ic a s ,   o s   in d í g e n a s   h a b it u a l­
m e n t e  r e u n ia m ­ s e  p a r a  f u m a r  c a c h i m b o s  à  b a s e  d e  e r v a s  i lu s io n i s t a s . O  p a s s a d o  n ã o  s e  
r e v e la   d ife r e n t e   d o   f u t u r o :  a in d a  a   q u e s t ã o   d a   li b e r a ç ã o   d e  c e r t a s  d r o g a s   c a u s a  d i s c u s ­
s ã o  e n t r e  a s  d iv e r s a s  c u lt u r a s  e  c r e n ç a s . "   ( a s s u n t o : d i s c r im in a ç ã o  d a s  d r o g a s ; a n o : 2 0 0 0 ; 
t r e c h o  d e  r e d a ç ã o  d e  a lu n a : I s a b e l H r u s c h k a  R o d r ig u e s ) .

S U G E S T Õ E S  P A R A  A  C O N C L U S Ã O
U s o   d e   s u g e s t õ e s   ( p o s s í v e i s   s o lu ç õ e s   p a r a   o s   p r o b l e m a s   e m   fo c o ) :

" E n q u a n t o   o s   r e s p o n s á v e is   p o r   t o d o s   e s s e s   a c o n t e c im e n t o s *  
n ã o  r e a v a lia r e m  o s  m é t o d o s  d e  p r o d u ç ã o ,  in v e s t i n d o  e m  o u t r a s  
fo n t e s  t r a d i c io n a is  e / o u  a lt e r n a t i v a s ,  o  B r a s il  i r á  'f ic a r  n o  e s c u r o ' 
e ,  a o  c o n t r á r io  d o  q u e  o c o r r e u  d u r a n t e  o  I lu m in is m o ,  n o  S é c u lo  
d a s  L u z e s ,  s e r e m o s  c o n h e c id o s  c o m o  o  'P a ís  d o  A p a g ã o '. "  ( a s ­
s u n t o : c r is e  e n e r g é t ic a ; a n o : 2 0 0 1 ; t r e c h o  d e  r e d a ç ã o  d e  a l u n a : 
L ú c ia  R o t a  B o r g e s ) .           * r e l a t i v o s  à  c r i s e  d e  e n e r g ia
" O  i n d i s p e n s á v e l ,  p o r t a n t o ,  n ã o  é  r e p r im ir  o  u s u á r io ,  m a s  a j u d á ­
lo   a  a b a n d o n a r   o  v í c io ,  a t r a v é s   d a   a p lic a ç ã o   d e   p e n a s  a lt e r n a ­
t iv a s ,   t a i s   c o m o   o b r i g a t o r ie d a d e   a   f r e q ü e n t a r   c u r s o s   a n t id r o ­
g a s ,   r e a liz a ç ã o   d e   p r o g r a m a s   c o m   p s i c ó lo g o s   e m   e s c o l a s ,   in ­
c l u s ã o   d o   t e m a   e m   d is c i p l in a s   d o   c u r r í c u lo   e   p a r t ic ip a ç ã o   d a s  
fa m í lia s  d o s  d e p e n d e n t e s  e m  p a l e s t r a s ,  c o m  o r ie n ta ç ã o  a o s  fa ­
Is to É , 3 0 /5 /2 0 0 1
m ili a r e s  e  a o s  c o n s u m i d o r e s  d e  d r o g a s . "  ( a s s u n t o : le g a liz a ç ã o
o u  n ã o  d a  m a c o n h a ; a n o : 2 0 0 1 ; t r e c h o  d e  r e d a ç ã o  d e  a lu n a : N a t á li a  L a r e n t i s ) .
" P o r t a n t o ,  a lg u m a s  m e d id a s  d e v e m  s e r  t o m a d a s  p a r a  a m e n iz a r  e s s a  v e r g o n h o s a  s i t u a ­
ç ã o  e m  q u e  s e  e n c o n t r a  a  p o p u la ç ã o  i n f a n t il b r a s ile ir a  e  m u n d ia l. O s  g o v e r n o s  d e v e m  in ­
t e n s if ic a r  a  p r o m o ç ã o  d e  c a m p a n h a s  in f o r m a t iv a s  s o b r e  o s  d i r e it o s  d a s  c r i a n ç a s  e  p u n ir  
d e  fo r m a  r ig o r o s a   o s  c i d a d ã o s  q u e  o s  v i o la r e m . "  ( a s s u n t o : v io la ç ã o  d o s  d i r e it o s  d a s  c r i­
a n ç a s ; a n o : 2 0 0 1 ; t r e c h o  d e  r e d a ç ã o  d e  a lu n a : V í v i a n  S e b a s t iã o  C a e t a n o ) .
" D e   a c o r d o   c o m   o s   a s p e c t o s   a b o r d a d o s ,   t o r n a ­ s e   in a d i á v e l  e f e t iv a r e m ­ s e   m u d a n ç a s  
p o is  a  e x p lo r a ç ã o  in f a n t i l e s tá  a c e n t u a n d o ­ s e . S e n d o  a s s i m ,  p o d e m o s  a f i r m a r  q u e  o  e n ­
c o n t r o  n a  S u é c i a *  n o  q u a l s e  a b o r d o u  e s s e  s é r i o  p r o b le m a ,  f o i  u m a  b o a  in ic i a t i v a  p o is ,  a  
lo n g o  p r a z o ,  a t r a v é s  d a  a j u d a  d e  p e s s o a s  c o n s c i e n t e s ,  t a l p r o b le m a  p o d e r á  r e v e r t e r ­ s e . "  
( a s s u n t o : v io l a ç ã o  d o s  d i r e it o s  d a s  c r ia n ç a s ; a n o : 2 0 0 1 ; t r e c h o  d e  r e d a ç ã o  d e  a l u n a : R o ­
b e r t a  S c h w o n k e  M a r t i n s ) . 
* e n c o n t r o  n a  S u é c i a ,  p r o m o v i d o  p o r  u m a  o r g a n iz a ç ã o  n ã o ­ g o v e r n a m e n t a l  s u e c a .
11 A co n tra - a rg u m e n ta çã o n o te x to d is s e r ta tivo - a rg u m e n ta tivo

Existem pelo menos três 3º) levantar hipóteses para se


formas muito freqüentemente confirmar uma tese.
empregadas para se argumentar e/ou Para examinarmos essas três
contra-argumentar: formas, tomaremos por base a
1º) buscar as causas a fim de proposta reali-zada pela UNICAMP,
sus-tentar um ponto de vista; explicitada a seguir (Atenção! Em lugar
de escrever uma carta argumentativa,
2º) fazer concessões para que
sugerimos que você escreva um texto
se possam marcar ressalvas ou tentar
dissertativo-argumentativo. Além
conci-liar com o interlocutor,
disso, selecionamos apenas um dos
reconhecendo, desse modo, parte da
textos para ser refutado e servir para
verdade que este defende;
ilustrar o es-quema sugerido).

( U N I C A M P / S P )   N o s   ú l t im o s   t e m p o s ,   v ê m   o c o r r e n d o   i n t e n s a s   d is c u s s õ e s   a   p r o p ó s i t o   d o s  
m e io s  d e  c o m b a t e r  a  v i o l ê n c ia  p r a t ic a d a  p o r  m e n o r e s ,  n a s  g r a n d e s  c i d a d e s . U m  e x e m p l o  é  a  
d iv e r g ê n c i a   d e   o p i n i õ e s   e n t r e   N ilt o n   C e r q u e ir a   ( S e c r e t á r io   E s t a d u a l  d e   S e g u r a n ç a   P ú b lic a  
d o  R io  d e  J a n e i r o )  e  B e n e d i t o  D o m i n g o s  M a r ia n o  ( O u v i d o r  d a  P o lí c ia  d o  E s t a d o  d e  S ã o  P a u ­
lo ) ,  v e ic u l a d a  p e la  R e v is t a  I s t o É ,  d e  0 4 / 0 9 / 9 6 .

L e ia   a  s e g u ir   t r e c h o   d e s s a   p o l ê m i c a :
O  E s t a t u t o  d o  A d o le s c e n t e ,  c o m o  e s t á  h o je ,  é  u m a  le i d e  p r o t e ç ã o  a o s  i n f r a ­
t o r e s . Q u e m  r o u b a  o s  t ê n i s  d a s  c r ia n ç a s  q u e  v ã o  a o  c o l é g i o ?  Q u e m  a s s a lt a  a s  c r i­
a n ç a s  n o s  ô n i b u s ?  S ã o  o s  m e n o r e s  in f r a t o r e s . A  le i  a c a b a  d e ix a n d o  d e s p r o t e g id a  a  
m a io r ia ,  q u e  s ã o  a s  v í t i m a s . O s  i n f r a t o r e s  f ic a m  e m  lib e r d a d e  p o r  c a u s a  d a  im p o s ­
s i b i lid a d e  d e  u m a  a t u a ç ã o  s e r e n a  e  e n é r g ic a  d o s  p o li c ia is . C o m  is s o ,  a q u e l e s  e l e ­
m e n t o s  d e  a l t a  p e r ic u lo s i d a d e  t ê m  c a m p o  a b e r t o  p a r a  s u a s  a ç õ e s  c r i m i n a i s . E  a c a ­
b a m  a c o n t e c e n d o  t r a g é d i a s  c o m o  a  d a  C a n d e l á r ia  o u  a  d a s  m ã e s  d e  A c a r i,  q u e  a t é  
h o je  n ã o  a c h a r a m  s e u s  f i lh o s . T e m o s  q u e  c o r t a r  e s s a s  p o s s ib il id a d e s  r e t i r a n d o  e s ­
s e s  m e n o r e s  d a s  r u a s . ( . . . )  A o  c o n t r á r io  d o  q u e  o c o r r e  h o je ,  o s  m e n o r e s  in f r a t o r e s  
d e v e r i a m  e s t a r  p r e s o s ,  s u j e i t o s  a o  C ó d ig o  P e n a l.
G e n e r a l   N i l t o n   C e r q u e ir a

Imaginemos que alguém opte por escrever defendendo as idéias do


general Nil-ton Cerqueira, a relação A é causa de B poderia ser assim
esquematizada:

é cau sa de
N ã o h á p u n iç ã o p e n a l a o s E x is t e u m a lt o ín d ic e d e c r im i-
m e n o r e s in f r a t o r e s . n a lid a d e d e s s e s in f r a t o r e s .
60 Teresinha Brandão

Agora, vejamos duas maneiras de se refutar as idéias do general:

m esm o com A c o n t in u a r ia a c o n t e c e n d o B

Ou seja: Mesmo havendo punição penal aos menores infratores, os


crimes conti-nuariam acontecendo.
Idéia que pode ser expressa da seguinte forma:

1 ) R e to m a d a d a te s e E x is t e u m a fo r t e t e n d ê n c ia / M u it o s a c r e d i-
d o " a d v e r s á r io ” t a m q u e , q u a n d o o a s s u n t o é v i o lê n c i a j u v e n i l, a
p u n iç ã o p e n a l a m e n o r e s d e 1 8 a n o s d im in u i r i a o
í n d i c e d e a ç õ e s c r im in a i s d o s in f r a t o r e s .

2 ) R e fu ta ç ã o , a tra v é s d e E m v e rd a d e / N o e n ta n to / N ã o o b sta n te /
c o n c e s s ã o , le v a n t a m e n t o A p e s a r d i s s o , o s c r im e s c o n t in u a r ia m a c o n t e -
d e h ip ó t e s e , c a u s a , a p o n - c e n d o s e t a i s in f r a t o r e s c u m p r is s e m p e n a e m
ta n d o p a r a re s u lta d o s p r e s í d i o c o m u m p o i s , n e s s e t i p o d e in s t i t u iç ã o ,
c o n tr á r io s n ã o s e r e s s o c ia l iz a o in d i v í d u o e , s i m , i n c i t a - s e a
q u e e le s e t o r n e m a is v i o le n t o .

3 ) C o n c lu s ã o D e s s a f o r m a / D e s s e m o d o / A s s i m , a e x p li c a -
ç ã o s e g u n d o a q u a l a f a lt a d e p u n iç ã o p e n a l s e r ia
a c a u s a d o a l t o í n d ic e d e c r im in a li d a d e j u v e n il
n ã o p r o c e d e / n ã o p o d e , p o is , s e r s u s te n -
ta d a .

Ou, então, através de uma comprovação:

n ão é cau sa de

m esm o com A não houve B

Ou seja: Mesmo havendo punição penal aos menores infratores, os


crimes conti-nuaram a acontecer.
Idéia a qual pode ser assim expressa:

1 ) R e to m a d a d a te s e D e a c o r d o c o m o s d e f e n s o r e s d a im p u t a b i -
d o " a d v e r s á r io ” l id a d e p e n a l , q u a n d o o a s s u n t o é v i o lê n c ia , é l í c i t o
p e n s a r - s e q u e a p u n iç ã o p e n a l a m e n o r e s d e 1 8
a n o s d i m i n u ir ia o ín d i c e d a s a ç õ e s c r i m i n a i s d o s
in f r a t o r e s .
2 ) R e fu ta ç ã o , a tra v é s d e O r a / A b e m d a v e r d a d e , e s s e s m e n o r e s já fo -
co m p ro v a çã o , a p o n ta n d o r a m s u b m e t id o s a u m t i p o d e p u n iç ã o m u i t o s e -
p a r a r e s u lt a d o s m e lh a n t e a o c u m p r i m e n t o d e p e n a e m p r e s í d i o
c o n tr á r io s c o m u m , c o m o n o c a s o d a s F E B E M s , e c o n s ta to u -
s e n ã o t e r h a v i d o r e s s o c i a l iz a ç ã o m a s , a o c o n -
t r á r i o , r e in c i d ê n c i a a o c r i m e .
3 ) C o n c l u s ã o , s e g u id a N ã o s e p o d e , p o r t a n t o , c o n s id e r a r e s s a m e d i-
d e s u g e s tã o d a c o m o c a u s a d a d i m i n u i ç ã o d o ín d i c e d e c r im i-
n a li d a d e . O a d e q u a d o s e r i a i n s i s t i r n a a p l i-
c a ç ã o d e m e d id a s s ó c i o - e d u c a t i v a s , p r o t e g e n d o -
s e a q u e l e s q u e , n a m a io r ia d a s v e z e s , c a r e c e m d e
p ro te ç ã o o s m e n o re s d e ru a .

Imaginemos, agora, um outro tolerância por parte da sociedade e


te-ma – a possibilidade de legalização maior flexibilidade por parte do
da ma-conha em nosso país. Judiciário. A questão, longe de ser
pacífica, é alvo de muita polêmica.
Contexto: Como exercício de contra-
Embora no Brasil, de acordo argumen-tação, sugerimos que você
com o Código Penal, o consumo de discuta com seus colegas os
drogas ilícitas, entre elas a maconha, argumentos favoráveis e os des-
seja considerado cri-me, favoráveis, descritos abaixo,
percebemos um aumento do analise o es-quema com os
consumo da Cannabis sativa e quadros (A é causa de B; A não
uma concomitante diminuição de é causa de B) e elabore um
condena-ções dos usuários. Em outro esquema, como os
razão disso, a possível anterio-res, em que aparecem a
legalização dessa droga vem refutação seguida de
sendo questionada já que as evi- comprovação, justificati-va,
dências apontam haver maior hipótese etc.

AR G U M EN TO S FA VO R Á VEIS À LEG ALIZA ÇÃO


o u s u á r io n e c e s s it a d e a j u d a , e n ã o d e r e p r e s s ã o ;
o u s u á r io n ã o é c r i m i n o s o ; p o r t a n t o n ã o d e v e s e r a f a s t a d o d o c o n v ív io s o c i a l ;
o u t r a s d r o g a s s ã o m a is p e r i g o s a s a o o r g a n is m o , c o m o n o c a s o d o á l c o o l ; e s t e é , t a m -
b é m , c a u s a d o r d e i n ú m e r o s a c i d e n t e s d e t r â n s i t o o u c a s o s d e v i o lê n c i a ;
t r a t a - s e d e u m c a s o d e s a ú d e p ú b li c a c u j o o b j e t i v o d e v e c e n t r a r - s e n a p r e v e n ç ã o .
62 Teresinha Brandão

AR G U M EN TO S D ESFAVO R Á VEIS À LEG ALIZA ÇÃO


c o n s e q ü ê n c ia s m a l é f i c a s a o o r g a n is m o e a o p s iq u i s m o : p e r d a d a c a p a c id a d e c o g n it i -
v a ; f a lt a d e m o t iv a ç ã o p a r a r e a li z a r p r o j e t o s d e v i d a ; c o m p r o m e t im e n t o d o b o m f u n -
c io n a m e n t o d e ó r g ã o s c o m o o p u lm ã o ; p r o b le m a s d e g a r g a n t a ;
c o n s e q ü ê n c ia s n o â m b i t o s o c ia l : a u m e n t o d o í n d ic e d e c r im in a l id a d e ( n ã o p e lo u s o ,
m a s p e l o t r á f i c o ) ; p o d e s e r v ir d e " p a s s a g e m " p a r a o u s o d e d r o g a s m a i s p e s a d a s , t a i s
c o m o c o c a í n a , h e r o ín a , e n t r e o u t r a s ; d e s e s t r u t u r a ç ã o f a m il ia r.

C O N C L U S Ã O (* d e v e s e r c e n tra d a n a p re v e n ç ã o , ta n to n o s c a s o s p ró o u c o n tra
a le g a liz a ç ã o )

r e p r im ir a p e n a s n ã o b a s t a : é n e c e s s á r io a j u d a r o d e p e n d e n t e ;
s u g e s tõ e s p a ra a p re v e n ç ã o :
a p lic a ç ã o d e p e n a s a lt e r n a t iv a s ( d e s d e a o b r ig a ç ã o a f r e q ü e n t a r c u r s o s a n t id r o g a s
a t é a o b r ig a t o r ie d a d e a o t r a t a m e n t o ) ;
n a s e s c o la s : p r o g r a m a s d e p r e v e n ç ã o c o m e s p e c ia lis t a s t a is c o m o p s ic ó lo g o s , p e d a -
g o g o s ; r e f o r m u la ç ã o c u r r ic u la r ( in t r o d u ç ã o d o t e m a e m d iv e r s a s d is c ip lin a s d o c u r r í-
c u lo * p r o p o s t a a t u a l d o M E C ) ;
n o s p o s t o s d e s a ú d e , h o s p it a is , c lín ic a s : p r o g r a m a s , in c lu in d o p a r t ic ip a ç ã o d o s fa m i-
lia r e s d o s d e p e n d e n t e s , e m p a le s t r a s ; a t e n d im e n t o d e o r ie n t a ç ã o a e s s e s f a m ilia r e s e
a o d e p e n d e n t e , a t r a v é s d e e s p e c ia lis t a s d a á r e a m é d ic a .

Se alguém for desfavorável à legalização da maconha, a relação A é


causa de B poderia ser assim esquematizada:

N ã o h á p u n iç ã o r íg id a e m r e - E x is t e u m a u m e n t o d o c o n -
la ç ã o a o s c o n s u m id o r e s d a su m o d e m a co n h a.
m aconha.

Pensemos que você opte por escrever contra-argumentando as idéias


daqueles que são desfavoráveis à legalização da maconha, poderia refutar
tal idéia seguindo o raciocínio (A não é causa de B):

M e s m o h a v e n d o p r o ib iç ã o o c o n s u m o a u m e n to u

ou:

M e s m o h a v e n d o p r o ib iç ã o o c o n s u m o n ã o c e s s a r ia
Vejamos outra situação:
Se alguém for favorável à legalização da maconha, a relação A é causa
de B po-deria ser assim esquematizada:

A p r o ib iç ã o le g a l d a m a c o n h a O co n su m o d a m aco n h a d eve
n ã o d im in u i o c o n s u m o . s e r le g a liz a d o .

Agora, levantemos a hipótese de que você opte por escrever contra-


argumen-tando as idéias daqueles que são favoráveis à legalização da
maconha, poderia refu-tar tal idéia seguindo o raciocínio (A não é causa de
B):

M esm o q ue o con sum o da a le g a liz a ç ã o n ã o d im in u ir ia


m a c o n h a v e n h a a s e r le g a - ta l c o n s u m o
liz a d o
ou:

O c o n s u m o d a m a c o n h a fo i a le g a liz a ç ã o n ã o d im in u iu t a l
le g a liz a d o co n su m o

U m e x e m p lo d e co n tr a - a rg u m e n ta çã o
12 e m te x to d is s e r ta tivo - a rg u m e n ta tivo

Exemplo interessante de texto dissertativo-argumentativo em que a


contra-argu-mentação prevalece é a redação abaixo, de autoria de Roberto R.
Von Laer. A temática centra-se na relação violência/segurança pública. Observe:
64 Teresinha Brandão

D e  a c o r d o   c o m   r e c e n t e s  p e s q u i s a s ,  e n t r e   e l a s  a  D a t a fo l h a ,   u m a   d a s  m a i o r e s   p r e o c u ­
p a ç õ e s  d o s   b r a s i l e i r o s  é   a  v i o l ê n c i a . A  s i t u a ç ã o   t o r n o u ­ s e  t ã o  g r a v e  q u e  o s   n ú m e r o s  r e f e r e n t e s  
a o s  c r im e s  l e m b r a m  o  c e n á r i o  d e  u m a  g u e r r a  c i v i l . A l é m  d o  a u m e n t o  d a  q u a n t i d a d e  d e  d e l i t o s ,  a  
b r u t a l i d a d e  d e s t e s  c a u s a  p e r p le x i d a d e  p r o f u n d a  à  s o c i e d a d e .
É  m u i t o  c o m u m  j u l g a r  [ 1 ]  a  p o b r e z a  c o m o  c a u s a  p r in c i p a l d a  v i o lê n c i a . P o r é m  [ 2 ] ,  e x i s ­
t e m   p a í s e s   a in d a   m a i s  p o b r e s   q u e  o  B r a s i l  n o s   q u a i s  o s   n í v e i s   d e   s u b v e r s ã o  p e r m a n e c e m   b a i ­
x o s ,  c o m o  s e  c o n s t a t a  n a  Í n d ia ; o u t r o s  o n d e  o  n í v e l  d e  d e s e n v o l v i m e n t o  e c o n ô m i c o  é  a l t o  m a s  o  
í n d i c e   d e   c r im i n a l id a d e   t a m b é m   o   é ,   f a t o   e x i s t e n t e ,   p o r   e x e m p l o ,   n o s   E U A .  I s s o   i n d i c a   q u e ,   n o  
c a s o  b r a s i l e i r o ,  a  v i o l ê n c i a  n ã o  é  o c a s i o n a d a  s o b r e t u d o  p e l a  p o b r e z a ,  m a s  é  f r u t o  d e  [ 3 ]  d u a s  
c a r a c t e r í s t i c a s  n a c i o n a i s : a  d e s i g u a l d a d e  s o c i a l  e  a  im p u n id a d e . A  d i s p a r i d a d e  e n t r e  a  c o n d i ç ã o  
s o c i a l  d o s   m a i s  r i c o s  e  a  d o s  m a is  p o b r e s   é  t a n t a  q u e  m u i t o s ,  p o r  a m b i ç ã o   o u  f a l t a  d e  o p o r t u n i­
d a d e s ,  o p t a m  p e l o  c r i m e  c o m o  fo r m a  d e  a s c e n s ã o  s o c ia l . S o m a ­ s e  a  i s s o  a  c e r t e z a  d a  im p u n id a ­
d e ,  c a u s a d a  p o r  u m a  p o l í c i a  s u c a t e a d a  e  c o r r u p t a  e  u m a  J u s t i ç a  l e n t a  e  p a r c i a l .
D i a n t e  d e  t a l  s it u a ç ã o ,  a  p o p u l a ç ã o  s e n t e ­ s e  c a d a  v e z  m a i s  a c u a d a . C o m  m e d o  d e  t o r ­
n a r ­ s e  v í t i m a ,  e ,  s e m  p o d e r  c o n t a r  c o m  a  p o l í c i a ,  o  c i d a d ã o  n ã o ­ c r i m i n o s o  t r a n c a ­ s e  e m   c a s a   e  
a b r e  m ã o  d o  s e u  d i r e i t o  d e  i r  e  v i r . A  p o p u l a ç ã o ,  d e v i d o  à  i n e f i c i ê n c i a  d o  E s t a d o ,  b u s c a  m e i o s  p a r a  
p r o t e g e r ­ s e ; a q u e l e s  q u e  p o d e m ,  c o n t r a t a m  s e g u r a n ç a s  p a r t i c u l a r e s        a t u a l m e n t e  e l e s  f o r m a m  
u m   c o n t in g e n te   m a io r   q u e   a   p r ó p r ia   p o líc ia       e n q u a n to   o s   d e m a is   c o n s tr o e m   " p r is õ e s "   p a ra  
p r o t e g e r  s e u  p a t r i m ô n io .
A   s i t u a ç ã o ,  s e m   d ú v i d a ,  é   e m e r g e n c i a l .  P a r a   r e v e r t ê ­ la ,   t o r n a ­ s e   n e c e s s á r i o   e r r a d i c a r  
a s   p r i n c i p a i s   c a u s a s   d o   p r o b l e m a :  p u n ir   o s   c r i m i n o s o s   e   a m e n i z a r   a s   d e s i g u a l d a d e s   s o c i a is .  A  
f i m  d e  r e p r i m i r  a  c r i m i n a l i d a d e ,  a  p o l í c i a  d e v e  s o f r e r  u m  p r o c e s s o  d e  r e c i c l a g e m  p a r a  p o d e r  a g ir  
d u r a m e n t e  c o m  o s  b a n d i d o s ,  e  n ã o  p u n i r  o s  c i d a d ã o s  n ã o ­ c r i m i n o s o s . T a m b é m  é  p r e c i s o  in v e s t ir  
e m  e d u c a ç ã o ,  c h a v e  p a r a  a  m e l h o r i a  d a s  c o n d i ç õ e s  s o c i a i s  d a  p o p u l a ç ã o .

Comentários sobre o texto:

Roberto escolheu uma tese um muito comum julgar” [1]. Após a


tanto difícil de ser refutada, a que indicação de que, apesar de comum,
associa necessariamente pobreza essa idéia não é totalmente
à criminalidade. O aluno não nega verdadeira, ele a refutou, usando a
haver uma relação entre as duas, mas expressão “Porém” [2] e
tentou comprovar que essa relação não comprovando justamente o
é obrigatória (ver expressão em contrário, ou seja, lembrando, através
negrito). Esse, aliás, foi o objetivo de de exemplos, casos em que a relação
seu texto. Vejamos como ele procede. pobreza/violência não apresenta a
Na introdução, delimitou o tema – primeira como causa da segunda.
o quadro assustador de violência em
Para indicar as causas principais
nosso país –, acrescido de uma ampla
contrárias a essa – a pobreza –,
conseqüência, a perplexidade dos
empregou a estrutura
cidadãos.
“não é ocasionada
No 2º parágrafo,
sobretudo pela (...) mas
percebemos a
é fruto de” [3].
preocupação em
Aprofundou, então, a
questionar a tese fre-
argumentação,
qüentemente aceita em
baseando-se nas duas
relação ao tema: a po-
C a b o   A ir e s   C o s t a ,   d o   D F ,   e n t r e   causas apontadas: a
breza é causa e n c a p u z a d o s   e   G a n d r a   ( à   d ir e it a ) ,   d a   C o n fe d e r a ç ã o   d o s  
desigualdade social e a
principal de tamanha P o li c i a i s   C iv i s .  F o n t e :  I s t o É ,   1 / 8 /2 0 0 1
impunidade.
violência. Para
retomar tal tese, usa a estrutura “É
Na conclusão, ratificou a idéia de Assinalemos, pois, que o aluno
que é necessário erradicar as causas empregou as marcas lingüísticas
apontadas por ele para conter o alto citadas acima – 1, 2 e 3 – muito bem
índice de criminalidade e ofereceu su- pois elas indicam haver posições
gestões de como fazê-lo. divergentes acerca do tema,
reforçando e enriquecendo o processo
da contra-argumentação.

13 S u g e s tõ e s d e co m o fa z e r ( q u a d ro s s in té tico s )

ESTRUTURA
In t r o d u ç ã o : D e l im i t a ç ã o   d o   a s s u n t o   e   r e t o m a d a   d a   t e s e   d o   " a d v e r s á r io " .

D e s e n v o l v i m e n t o : R e f u t a ç ã o ,  a t r a v é s  d o  e m p r e g o  d e   c o n c e s s õ e s ,  le v a n t a m e n t o  
d e   h i p ó t e s e s ,  s e g u id o   d e   j u s t i f i c a t i v a s  e  a p o n t a n d o   p a r a   r e ­
s u l t a d o s  c o n t r á r i o s .

C o n c lu s ã o : R e t o m a d a   d o   p o n t o   d e   v i s t a ,   a c r e s c id a   d e   s u g e s t õ e s .
O b s .:  É  b o m  l e m b r a r  q u e  n ã o  h á  u m a  " o r d e m "  o u  " c o lo c a ç ã o "  r í g id a  q u a n t o  à s  s u g e s t õ e s  o f e r e c i d a s  
a c im a . A  r e t o m a d a  d a  t e s e  p o d e  s e r  fe it a ,  p o r  e x e m p lo ,  n o  d e s e n v o l v im e n t o ,  e  n ã o  n a  in t r o d u ç ã o .

T a l   id é ia   n ã o   é   s e n ã o   u m a   fo r m a   r í g i d a /   in c o n s e q ü e n t e /   s u p e r f ic ia l  d e   ( . . . )
Q u e s t io n a ­ s e   m u i t o   ( . . . ) .  A n t e s ,   p o r é m ,   é   p r e c is o   l e m b r a r   q u e   ( . . . )
N ã o  s e  tr a ta  d e  " X " , m a s  d e  " Y " .
É   c e r t o   q u e   ( . . . )   m a s   s e r ia   lí c i t o   t a m b é m   le m b r a r   ( . . . )
S e   é   v e r d a d e   q u e   ( . . . )   n ã o  m e n o s   e x a t o   é   ( . . . )
D e   f a t o ,   ( . . . ) ;  n o   e n t a n t o ,   ( . . . )
É  p o s s í v e l q u e  e s s a  m e d id a  v e n h a  a  s e r  t o m a d a ,  m a s  o  i d e a l  s e r i a  ( . . . )
É  in e g á v e l  a  e x is t ê n c i a  d e  ( . . . ) . A p e s a r  d i s s o ,  é  v á l i d o  f r is a r,  a in d a ,  u m  o u t r o  a s p e c t o ,  r e fe ­
r e n t e  a / a o  ( . . . )
N ã o   s e   p o d e   ig n o r a r   q u e   ( . . . )
A in d a   q u e   m u it o s   a le g u e m   " X " ,   c o n v é m   s a lie n t a r   ( . . . )
66 Teresinha Brandão

S U G E S T Õ E S  P A R A  A  IN T R O D U Ç Ã O

A le g a ­ s e ,  c o m   f r e q ü ê n c ia ,   q u e   a  p r o b le m á t ic a   " X "  n ã o   p o d e   s e r   r e s o l v id a   a   n ã o  s e r   p o r  
m e io  d e  ( . . . ) . P e la  p o l ê m ic a  q u e  e n c e r r a ,  t a l a s s u n t o  m e r e c e  u m a  d e t a l h a d a  a n á l is e .
H á  q u e m  c o n s id e r e  " X "  a  s o lu ç ã o  id e a l p a r a  a m e n i z a r /  r e v e r t e r  o  a tu a l q u a d r o  d e  ( . . . ) . E n ­
t r e t a n t o ,  t a l m e d i d a  t o r n a ­ s e  i n c o n s is t e n t e /  in e f ic a z  d e v id o  a / a o  ( . . . )
L o n g e  d e  s e r  c o n s i d e r a d a  u m a  q u e s t ã o  p a c í f ic a , " X "  d iv id e  p o s i ç õ e s  e m  m e io  à  o p i n iã o  
p ú b lic a : p o r  u m  la d o ,  s a l ie n t a ­ s e  ( . . . ) ; p o r  o u t r o ,  ( . . . )
A o  s u s t e n t a r  a  id é ia  ( . . . ) ,  m u it o s  e s q u e c e m  ( .. . )

S U G E S T Õ E S  P A R A  A  C O N C L U S Ã O

D e s s e   m o d o ,   a   i d é i a   ( . . . )   t o r n a ­ s e   in s u s t e n t á v e l  n o   a t u a l   c o n t e x t o .  S e r ia m   n e c e s s á r ia s  
m e d i d a s  t a is  c o m o  ( . . . )  p a r a  s e  g a r a n t i r  a  r e v e r s ã o  d e  t a l  q u a d r o .
É  a b s o lu t a m e n t e  in d is p e n s á v e l ,  p o r t a n t o ,  r e c o n s i d e r a r  o  a r g u m e n t o  s e g u n d o  o  q u a l ( . . . )  
p o is ,  c o n f o r m e  o  e x p o s t o ,  e le  r e f o r ç a  u m a  i m a g e m /  p r e c o n c e it u o s a /  c o n s e r v a d o r a /  u lt r a ­
p a s s a d a  d e  ( . . . ) . O  id e a l s e r ia  ( . . . )  p a r a  q u e  a  s it u a ç ã o  p u d e s s e  s e r  r e v e r t id a .
L o g o ,  p o r  m a is  e f ic a z e s  q u e  p a r e ç a m ,  t a i s  m e d id a s  a c a b a r ia m  n ã o  s ó  p o r  ( . . . ) ,  c o m o  t a m ­
b é m  ( . . . ) ,  f a t o s  q u e ,  a o  i n v é s  d e  a m e n iz a r  o  p r o b le m a ,  p o d e r i a m  a c e n t u á ­ lo . A t i t u d e s  c o ­
m o ,  p o r   e x e m p lo ,   ( . . . )  s e r i a m   c a p a z e s ,   is t o   s i m ,   d e  a lt e r a r   a   a t u a l  c o n j u n t u r a ,  p r o p o r c io ­
n a n d o  u m a  m e lh o r  q u a l id a d e  d e  v id a  a o s  c i d a d ã o s .
14 O u s o d o s a d vé rb io s e a d je tivo s n a a rg u m e n ta çã o

Bréal, um grande teórico da vista, emitir julgamentos acerca de


linguagem, ao estudá-la, comparou determinados assuntos.
seu uso com a criação de uma peça Em textos argumentativos, o
teatral, explicando que o produtor uso dessas categorias gramaticais
intervém freqüentemente na ação desempenha função importante já
para nela misturar suas reflexões e que funciona para marcar ou
seu sentimento pessoal, assim reforçar a posição do autor diante
como o homem quando usa a lin- de um fato.
guagem. Este, ao falar, encontra-se Destacam-se, entre elas, os
longe de considerar o mundo como advérbios ou locuções adverbiais.
mero espectador, como um Observemos os exemplos
observador desinteressado. abaixo, levando em conta o seguinte
Prova disso são as inúmeras contexto: há uma greve e os
palavras que usa para expressar suas envolvidos no acontecimento são o
vontades, críticas, seus pontos de governo por um lado e, por outro, os
metalúrgicos.
BRÉAL, M. Ensaio de Semântica. São Paulo: EDUC, 1992.

SITUAÇÃO 1: favorável ao governo

O g o v e r n o a g iu e f ic ie n t e m e n t e c o m r e la ç ã o à g r e v e d o s m e t a lú r g ic o s .
c o m r e t id ã o
c o m s e r ie d a d e
m o d e ra d a m e n te *
c o m é tic a

* Lembremo-nos que uma mesma categoria lingüística pode expressar


pontos de vista diferentes. Assim, a expressão “moderadamente” pode ser
usada para elogiar as atitu-des do governo em se tratando de um locutor “de
direita” mas, quando empregada por um locutor “de esquerda”, serve para
criticar negativamente essas atitudes. É preciso, portan-to, levar em conta a
intenção e o contexto em cada enunciado.

SITUAÇÃO 2: desfavorável ao governo


O g o v e r n o a g iu a u t o r it a r ia m e n t e c o m r e la ç ã o à g r e v e d o s m e t a lú r g ic o s .
co m o d a m e n te
p r e c ip it a t a m e n t e
sem pudor

Veja agora outros exemplos:

SITUAÇÃO 3: favorável aos metalúrgicos

O s m e t a lú r g ic o s a g ir a m c o m m a tu rid a d e d u ra n te a g re v e .
c o m r e s p o n s a b ilid a d e
p a c if ic a m e n t e
o r d e ir a m e n t e

SITUAÇÃO 4: desfavorável aos metalúrgicos

O s m e t a lú r g ic o s a g ir a m im p r o p r ia m e n t e d u ra n te a g re v e .
e rro n e a m e n te
ir r a c io n a lm e n t e
ir r e fle t id a m e n t e
t e n d e n c io s a m e n t e

Há casos de dupla adverbialização. Observe:

SITUAÇÃO 5: desfavorável ao governo

O g o v e r n o a g iu a u t o r it á r ia e im a t u r a m e n t e d u r a n t e a g r e v e d o s m e t a lú r g ic o s .
“c e g a ” e im p u ls iv a m e n te

SITUAÇÃO 6: favorável ao governo

O g o v e r n o a g iu c a u te lo s a e e tic a m e n te d u r a n t e a g r e v e d o s m e t a lú r g ic o s .
s é r ia e e f ic ie n t e m e n t e

Obs.: Os exemplos citados foram extraídos da obra publicada também por


esta autora:
RODRIGUES, L. M. P., BARBOSA, M. E. O., BRANDÃO, T. S. Maneiras do
dizer: língua portuguesa no ensino médio. Pelotas: Escola de Ensino Médio
Mário Quintana, 1998, p.141.

Além dos advérbios, também demonstrar o senso crítico, enfatizar


os adjetivos colaboram para
argumentos e tornar o texto mais Devemos levar em conta,
expressivo, mais convincente. portanto, nas listas abaixo, as quais
O uso da adjetivação tem a sugerem o uso de determinados
ver com o contexto, a situação em adjetivos, as questões relativas ao
que é empregada, assim como com o contexto.
locutor, ou seja, com a pessoa que a
emprega.

Obs.: A lista a seguir foi elaborada e cedida gentilmente pela professora Lígia Maria da
Fonseca Blank.
a d e q u a d o ,   a u t ê n t ic o ,   a lt r u í s t a ,   a p t o ,   b e m ­
s u c e d id o ,   b e m ­ fe it o ,   b e n e f ic e n t e ,   c a p a z ,  
c o n s c i e n t e ,   c o n f iá v e l,   c a b í v e l ,   c o m p e t e n t e ,   a la r m a n t e ,   a s s u s t a d o r ,   a n g u s t ia n t e ,  
c o n v in c e n t e ,   c o n s is t e n t e ,   d e s e n v o l v id o ,   a n a c r ô n ic o ,   a n t id e m o c r á t i c o ,   c o n f u s o ,  
d e c is i v o ,  d i n â m ic o ,   e q u â n i m e ,   e n é r g ic o ,   c o n d e n á v e l,   c r í t ic o ,   c r i t i c á v e l,  
e s s e n c ia l ,   e x c e le n t e ,   e q ü i t a t i v o ,   e x í m i o ,   c o m b a l id o ,   c o n t e s t á v e l,   c a ó t ic o ,  
fe c u n d o ,   f id e d i g n o ,   f ie l,   f u n d a m e n t a l,   c a la m it o s o ,   c o n s t r a n g e d o r,  
fo r t í s s im o ,   h o n r a d o ,   í n t e g r o ,   i m p a r c ia l,   c o n d e s c e n d e n t e ,   c o r r u p t o ,   c o r r u p t í v e l,  
in d is p e n s á v e l,   im p r e s c in d í v e l ,   i m p e r d í v e l,   d a n o s o ,   d e s p ó t ic o ,   d it a t o r ia l,  
in ig u a lá v e l,   im p o r t a n t í s s im o ,   in c o m p a r á v e l ,   d e m a g o g o ,   d e s m e d id o ,   d r a m á t ic o ,  
in t r a n s fe r í v e l ,   in s u b s t it u í v e l ,   i r r e n u n c iá v e l,   e s c a s s o ,   e x c e s s i v o ,   e s t é r il ,  
in v i o lá v e l,   ir r e p r e e n s í v e l ,   im p a r c ia l,   e s c a n d a lo s o ,   e s t a r r e c e d o r,   e x í g u o ,  
p e r t in e n t e ,   p r ó s p e r o ,   p r o m is s o r ,   p r o c e d e n t e ,   e q u iv o c a d o ,   f a ls o ,   fa la c i o s o ,   f r a u d a d o r,  
p r o f í c u o ,   o p o r t u n o ,   p r o f ic i e n t e ,   p r o b o ,   s é r io ,   f r a u d u l e n t o ,   g r a v e ,   g r a v í s s im o ,  
s e r í s s im o ,   ú t i l,   u t i lí s s i m o ,   v a lio s o ,   z e l o s o ,   … h e d io n d o ,   h ip ó c r i t a ,   in d ig n o ,   in ju s t o ,  
ir r is ó r io ,   in s u p o r t á v e l ,   i n a c e i t á v e l ,  
in t o le r á v e l,   i r r e c u p e r á v e l ,  
a m p l o ,   e v id e n t e ,   c r e s c e n t e ,   c o e r c it iv o ,   in c o n s is te n t e ,   in e x e q ü í v e l ,   im p e r fe it o ,  
c o n t í n u o ,   e v id e n t e ,   e n o r m e ,   c o n t r o v e r t id o ,   ir r e s p o n s á v e l,   in t r a n s ig e n te ,  
d r á s t i c o ,   i n ó c u o ,   in s t a n t â n e o ,   i n d ig n a d o ,   la m e n t á v e l,   la s t i m á v e l,   le v ia n o ,   le n t o ,  
im e d ia t o ,   i r r e v e r s í v e l ,   i n e v it á v e l ,   in o f e n s i v o ,   n e g lig e n t e ,   p a li a ti v o ,   p r e o c u p a n t e ,  
im p e r c e p t í v e l,   g e r a l ,   p le n o ,   p e c u lia r,   p e r n ic io s o ,   p r e ju d ic i a l,   o m is s o ,  
p o lê m i c o ,   p e r p le x o ,   p o l í t ic o ,   p ú b l ic o ,   o p o r t u n i s t a ,   r e t r ó g r a d o ,   s e c t á r io ,  
t é c n ic o ,   s e v e r o ,   v u lt o s o ,   … t e n d e n c i o s o ,   x e n ó fo b o ,   . . .

A r g u m e n t o s   l ú c id o s   e   c o n v in c e n t e s ,   a m p la   e   u r g e n t e   m o d if ic a ç ã o   e s t r u t u r a l ,   a t it u d e s   c r i ­
t e r io s a s   e   t r a n s p a r e n t e s ,   a p u r a ç ã o   is e n t a   e   m e t ic u lo s a ,   e le it o r   c r í t ic o   e   c o n s c ie n t e ,   e s p í ­
r i t o   p a r t ic ip a t i v o   e   c o m u n it á r i o ,   c o n s u m id o r   v ig ila n t e   e   m a d u r o ,   p la n o   l ú c id o  e   p r o m is s o r,  
p r o p o s t a s   s é r ia s   e   c o e r e n t e s ,   m a n i fe s t a ç ã o   c o n c r e t a   e   e f i c a z ,   s o c ie d a d e   ju s ta   e   s o li d á r i a ,  
c o n s c i e n t e   e   p a r t ic ip a n t e ,   s o lu ç õ e s   le g í t im a s   e   d u r a d o u r a s ,   t r a b a lh o   d i g n o   e   h o n e s t o ,  
p r o v id ê n c ia s   r á p id a s   e   a d e q u a d a s ,   r e c u r s o s   im e d i a t o s   e   s u f ic ie n t e s ,   o b s e r v a ç ã o   c o n t í n u a  
e  a te n ta , p o lític o  ín te g r o  e  c o m p e te n te , …
S o lu ç õ e s   p a r c i a i s   e   e q u iv o c a d a s ,   s i t u a ç ã o   c a ó t ic a   e   d e s e s p e r a d o r a ,  s o c ie d a d e   in j u s ta   e  
p r e c o n c e it u o s a ,   s e t o r   p ú b l ic o   in c h a d o   e   i n o p e r a n t e ,   a t it u d e   a r r o g a n t e   e   p r e p o t e n t e ,   e m ­
p r e s a s   e s t a t a is   in e f ic ie n t e s   e   o n e r o s a s ,   a t it u d e s   t ã o   r a d ic a i s   q u a n t o   a b s u r d a s   ( c o m p a r a ,  
e n fa t iz a n d o ) ,   p r in c í p io s   f e c h a d o s   e   a u t o r it á r io s ,   a r g u m e n t o s   f a la c io s o s   e   in c o n s i s t e n t e s , 
le is   b r a n d a s   e   in e f i c a z e s ,   p a is  c o n d e s c e n d e n t e s   e   ir r e s p o n s á v e is ,   e p is ó d io   la m e n t á v e l  e  
u lt r a ja n t e ,   lu g a r e s   a fa s t a d o s   e   i n ó s p i t o s ,   s a lá r io s   i n ju s t o s   e   d e s e s t i m u la n t e s ,   . . .

A b s o l u t a   p r io r i d a d e ,   m e t a   p r i o r i t á r i a ,   a s p e c t o   p r i m o r d i a l ,   s i g n i f i c a t i v o   p r o g r e s s o ,  
p r i n c i p a l   m o t i v o ,   a l t o   e s c a lã o ,   d e s t a c a d a   a t u a ç ã o ,   v e r d a d e i r o   e s t a d is t a ,   r e s u l t a d o  
d e f i n i t i v o ,   r e l e v a n t e s   c o n t r ib u iç õ e s ,   e v i d e n t e   d e s r e s p e it o ,   f l a g r a n t e   c o r r u p ç ã o ,  
g r a v í s s i m a   in f r a ç ã o ,   e x c e l e n t e   a t u a ç ã o ,   e x p r e s s i v o s   r e s u l t a d o s ,   …
15 O u s o d o s e le m e n to s co e s ivo s n o s te xto s a rg u m e n ta tivo s

A conexão entre os efetivamente, através do


segmentos de um texto é feita por funcionamento desses textos, bem
palavras ou expressões responsáveis como do contexto pragmático no
pela concatenação, pela criação de qual estão inseridas, que a utilização
relações entre os segmentos de um desse esquema pode ser proveitosa;
texto, estabelecendo entre eles uma do contrário, ela poderá produzir
certa relação semântica, a qual paradoxos semânticos, ou, então,
possui uma dada função produzir efeitos de sentido contrários
argumentativa. aos desejados. Eis alguns dos
O esquema que segue serve conectores que servem:
apenas de guia para redigir textos. É,

1) Para iniciar a análise, introduzir os argumentos:

Exemplos:
É preciso, inicialmente, observar que toda arte pressupõe criação,
produção hu-mana.

Ou:
Deve-se analisar primeiramente (...)
Iniciemos a análise observando (...)
Analisemos, em primeiro lugar, (...)
Para prosseguir a análise:
Num segundo plano/nível/momento, observamos (...)
Em segundo lugar, destacam-se os elementos (...)
Deve-se acrescentar, nesta segunda etapa, que (...)

Para encerrar a análise:


Finalmente/Enfim, destacamos (...)
Por último, gostaríamos de salientar (...)

2) Para afirmar algo com veemência:

Exemplos:
É verdade que o tema acerca da chamada ‘arte engajada’ tem
suscitado polê-micas.
Ou:
É certo que (...) Indubitavelmente (...)
De fato (...) Sem dúvida (...)
Efetivamente (...) Irrefutavelmente (...)
Certamente (...) É irrefutável (...)
É inegável (...) Inquestionavelmente (...)
É inquestionável (...)

“De fato, a literatura e a arte européias parecem chegar a um ponto


crítico com o Simbolismo.” (GULLAR, F. Vanguarda e subdesenvolvimento: ensaios
sobre arte. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. p.47)

3) Para expressar hipóteses, dúvidas, probabilidades:

Exemplos:
É provável que muitos teóricos se oponham às palavras de ordem dos
parnasia-nos, quais sejam: ‘arte pela arte’.

Ou:
Provavelmente (...)
Possivelmente (...)/ É possível (...)

4) Para insistir no problema:

Exemplos:
Não podemos esquecer que todo processo de renovação estética é
atravessado por um processo de renovação social.

Ou:
É preciso insistir no fato de que (...)
É necessário frisar que (...)
É imprescindível insistir na hipótese de (...)
Tanto isso é verdade que (...)
Vale lembrar o argumento (...)

5) Para estabelecer relações paralelas:

Exemplos:
Paralelamente às tendências vanguardistas mais exacerbadas da
Europa, desen-volviam-se, no Brasil, experiências artísticas muito criativas.

Ou:
Ao mesmo tempo (...)
Concomitantemente (...)

6) Para fazer referência a autores, episódios:

Exemplos:
No que se refere à obra de Chico Buarque (...)
Quanto ao episódio ocorrido na Semana da Arte
Moderna (...)
No que diz respeito à distinção entre (...)
De acordo com Ferreira Gullar (...)
Conforme lemos em Érico Veríssimo (1982) (...)
Retomando Graciliano Ramos (...)
Nas palavras de Mário Quintana (...)
Com a palavra, o autor: “A arte...” (...)

Emoção e
Inteligência,
n.3, p.57, fev. 2000.

7) Para estabelecer gradação entre os elementos de uma certa


escala:

a) no topo da escala, para indicar o argumento mais forte: até/


até mes-mo/ inclusive etc.

Exemplo:
Até mesmo os mais ingênuos desconfiam do lema ‘arte pela arte’.

b) num plano mais baixo, para introduzir um argumento,


deixando suben-tendida a existência de uma escala com outros
argumentos mais fortes: ao menos/ pelo menos/ no mínimo/ no
máximo/ quando muito etc.

Exemplo:
Acreditar no lema ‘arte pela arte’ é, no mínimo, ingenuidade.

8) Para acrescentar argumentos aos demais:

Exemplo:
Um conceito de ‘vanguarda’ estética no Brasil merece uma consideração
profunda: é preciso, em primeiro lugar, recusarmos a idéia de que esse
conceito é universal. Além disso, é necessário frisarmos que, ao contrário
do que muitos pregam, esse con-ceito não possui um caráter alienante.
Ou:
além do mais/ ainda/ também/ soma-se a isso/ acresça-se a esses
fa-tos/ além de tudo/ ademais etc.

Quando se quer dar ênfase:


não é apenas/ não é senão/ nada mais é do que/ não só... mas
(como) também etc.
Exemplo:
“Não se pode, por outro lado, ignorar o fato de que a realidade nacional
não ape-nas participa e constitui – com as outras particularidades
nacionais – a realidade inter-nacional, como também é constituída por ela.”
(idem, p.96)

9) Para indicar uma relação de disjunção argumentativa, pelo uso de


expres-sões introdutórias de argumentos que levam a conclusões
opostas, que têm uma orientação argumentativa diferente: caso
contrário/ do contrário/ ou então etc.

Exemplos:
Não pretendemos adotar um conceito universal de ‘vanguarda’; pelo
contrário, tentaremos mostrar como se constrói esse termo no contexto da
realidade brasileira.
“A arte religiosa da Idade Média, por exemplo, era realizada com
finalidade defini-da. Era uma arte ‘popular’ imposta, tendo assim alguns
pontos de contato com a arte de massa de nossos dias. Ao contrário do
que acontece hoje, quando a arte de mas-sa, na maioria dos casos, vai ao
encontro do consumidor (...)” (idem, p.137)

Ou:
por um lado/ por outro lado/ de um lado/ de outro lado etc.

“Se, por um lado, essa preponderância do processo socioeconômico


sobre o cul-tural dificulta a solidificação da superestrutura cultural, por
outro lado atua como cor-retor e selecionador, impedindo assim que uma
superestrutura falsa – não surtida das necessidades reais da sociedade – se
mantenha por muito tempo sobre ela.” (idem, p.40)

10) Para comparar: tal como/ assim como/ da mesma forma que/ da
mesma maneira que/ igualmente/ do mesmo modo que/ tanto
quanto/ mais... menos (do) que etc.

Exemplos:
“Tais considerações são válidas igualmente para o teatro, o cinema e
as demais formas de arte.” (idem, p.99)
“A obra de arte aberta (‘vanguarda’) é a expressão, no plano da arte, do
processo dinâmico e aberto da sociedade burguesa e de sua crise
ideológica e, ao mesmo tempo, o salto para exprimir o caráter dialético
da realidade.” (idem, p.77)
“Fenômeno semelhante ocorre no campo das artes plásticas.” (idem,
p.129)

11) Para indicar a relação causa/ conseqüência: por causa de/ graças
a/ em virtude de/ em vista de/ devido a/ por motivo de/ na medida
em que/ porque/ uma vez que/ já que/ visto que/
conseqüentemente/ em con-seqüência de/ em decorrência de/
como resultado de/ em conclusão de/ razão/ motivo/ resultado/
conseqüência etc.

Exemplos:
“Essa é a razão por que o discurso não carrega em seu cerne uma
experiência concreta a comunicar, nada revela, não é poesia, e, a rigor, é
um falso discurso.” (idem, p.97)
“A pintura brasileira, conseqüentemente, não sofreu essa evolução,
cujos resul-tados (...) seriam adotados pelas gerações do pós-guerra.”
(idem, p.43)

12) Para indicar conclusões: portanto/ logo/ assim/ pois/ dessa


maneira/ dessa forma/ desse modo/ em suma/ em síntese etc.

Exemplos:
“O específico da obra de arte é o particular e, portanto, a experiência
determina-da, concreta do mundo.” (idem, p.77)
“Do que foi exposto, parece-nos justo deduzir que (...)” (idem, p.41)
“O que define a arte de massa é, pois, o seu raio de ação, o vasto
número de pes-soas, de todas as classes e regiões, que ela pode atingir a
curto prazo.” (idem, p.127)

13) Para indicar finalidade, objetivo: para que/ a fim de que/ com o
propó-sito de/ com a intenção de/ com o intuito de/ na tentativa
de/ visar/ ter por objetivo/ pretender/ ter em vista/ ter em mira/
propor-se a/ pro-jeto/ objetivo/ plano/ pretensão/ aspiração/
finalidade/ meta/ alvo/ intuito etc.

Exemplos:
Com o intuito de verificar algumas concepções correntes acerca do
termo ‘van-guarda’ estética, decidimos, em primeiro lugar (...)
Este trabalho visa, primeiramente, a analisar algumas concepções
correntes relati-vas ao termo ‘vanguarda’ estética.
Este trabalho tem por objetivo examinar algumas concepções
correntes acerca do termo ‘vanguarda’ estética.

14) Para indicar precisão: exatamente/ justamente/ precisamente etc.

Exemplo:
É justamente essa noção que faltava destacar: toda arte é política no
sentido de que determina uma opção diante dos problemas concretos,
afirmando ou negando determinados valores.

15) Para explicar detalhadamente: elas podem exercer funções, tais como
as de retificar, ratificar etc.: ou melhor/ ou seja/ quer dizer/ isto é/
por exem-plo/ em outras palavras/ em outros termos/ dito de
outra forma/ vale dizer etc.

Exemplo:
“Mas, por outro lado, nada impedirá que, mesmo obras voltadas para
temáticas individuais, se situem no plano da realidade política, ou seja, no
plano da atualidade.” (idem, p.142)

16) Para marcar uma relação de contrajunção, ou seja, para contrapor


enuncia-dos de orientação argumentativa contrária: mas/ porém/
todavia/ contudo/ entretanto/ no entanto/ não obstante/ embora/
ainda que/ apesar de/ apesar de que/ mesmo que etc.

Exemplos:
“O caráter esquemático da arte de massa é, no entanto, no geral,
alienante, uma vez que induz a uma visão falsa da realidade concreta.”
(idem, p.119)
“A arte de massa é, em essência, mercadoria, e nisso também ela se
define como legítimo produto da sociedade capitalista, na qual tudo se
transforma em mercado-rias. Mas é preciso atentar para o fato de que
essa transformação da arte em merca-doria não é um fenômeno restrito às
artes de massas e que ela não significa o fim da arte.” (idem, p.136)
“A posição esteticista rejeita a arte de massa como atividade não-
cultural, ou mes-mo anticultural. Não obstante, essa posição não está
infensa à existência da arte de massa e é, até certo ponto, condicionada
por ela (...).” (idem, p.138)

Obs.: A lista contendo os elementos coesivos pode ser encontrada na obra


publicada também por esta autora:
RODRIGUES, L. M. P.; BARBOSA, M. E. O.; BRANDÃO, T. S. Maneiras do dizer:
língua portuguesa no ensino médio. Pelotas: Escola de Ensino Médio Mário
Quintana, 1998. p.53-57.

A n á lis e d e p ro b le m a s d e re d a çã o

1 Em situações um pouco
tensas, como no caso de se conceder
se for uma figura pública, conhecida
na mídia, a impropriedade
uma entrevista a um meio de vocabular pode ser motivo de ironia,
comunicação, é comum o usuário da contribuindo para desqualificar sua
língua cometer deslizes, imagem. É o que observamos no
descuidando-se, muitas vezes, do exemplo abaixo:
vocabulário que emprega. Sobretudo

“A faixa etária é essa”, de Paulo Zulu. de lê-los atentamente,


(Justificativa sobre os 5000 reais que siga as instruções:
cobra só para marcar presença em
eventos de moda. Em: Revista Elle,
ano 13, n.5, p.30, maio 2000).

O uso da expressão “faixa etária” em lugar da


expressão “em média”, acerca de quanto cobrava para
se fazer presente, em eventos de moda, causou
reações polêmicas aos leitores da revista os quais se
manifestaram, através de cartas e/ou e-mails,
ironizando a declaração do modelo e ator.
Nos trechos abaixo, extraídos de redações de
alunos, percebe-se o mesmo tipo de problema – o uso
de um vocabulário impróprio ao contexto. Depois
Texto argumentativo: escrita e cidadania 7
9

E lle ,   a n o   1 3 ,   n . 5 ,   p . 3 0 ,   m a io   2 0 0 0 .

a) T r a n s c r e v a a p a la v r a / e x p r e s s ã o u s a d a im p r o p r ia m e n t e .
b) E x p lic it e o q u e o a u t o r q u is d iz e r a o u s a r t a l p a la v r a .
c) E x p liq u e o q u e e le r e a lm e n t e a f ir m o u .
d) R e e s c r e v a o t r e c h o p r o b le m á t ic o , s u b s t it u in d o t a l
e x p r e s s ã o e a d e q u a n d o - a à i n t e n ç ã o d o a u t o r. F a ç a a s
a d a p t a ç õ e s in d is p e n s á v e is .

1) “Natureza, cultura, riqueza, liberdade, deuses, coletivismo, paz são alguns


dos muitos prejuízos sofridos pelos índios.” (assunto: questão indígena no
Brasil; ano: 2000).

2) “(...) água, este simples utensílio essencial a nossa sobrevivência, (...)”


(assunto: quan-tidade e qualidade dos recursos hídricos; ano: 2000).

3) “Penso, inicialmente, que o indivíduo, aos 16 anos, não possui condições


psicológicas para lidar com tamanha responsabilidade, já que, em tal fase, a
instabilidade emocio-nal, a impulsividade e até mesmo o desejo de afirmação
são fatores decisivos ao volan-te.” (assunto: possibilidade legal de se dirigir
aos 16 anos; carta dirigida ao editor do jornal Zero Hora – RS; ano: 1999).

4) “48, 44, 39 horas semanais. Enganam-se aqueles que ainda pensam na


redução da jor-nada de trabalho em detrimento do lazer.” (assunto: redução
da jornada de trabalho e aumento de tempo destinado ao lazer; ano: 2000).

5) “Considero injusta a forma com que os veteranos recebem os calouros;


interpreto como uma atitude infantil, indelinqüente, anacrônica e uma
verdadeira barbárie (...)” (assun-to: a prática dos trotes aos calouros nas
universidades brasileiras; carta argumentativa dirigida ao editor da FSP; ano:
1999).

6) “Dessa forma, torna-se indispensável que os universitários – tidos até então


como a mi-noria intelectualizada – dêem exemplos tão grotescos como os dos
trotes violentos.” (idem ao anterior).

7) “O vestibular, embora seja muito estressante, é um mal necessário; portanto,


convém preservá-lo e, aos poucos, ir fazendo modificações que visem a
torná-lo mais demagó-gico e menos elitista.” (assunto: Vestibular: um mal
necessário?; ano: 1999).

2 Muitas tentativas de Antes, porém, observe um


desenvolvimento do raciocínio lógico- exemplo de trecho o qual apresenta
expositivo não são bem sucedidas, defeito de argumentação, a
desencadeando defeitos de comparação inadequada (ou falsa
argumentação. Nos trechos abaixo, analogia), ou seja, um problema
escritos por vestibulandos, notam-se decorrente do fato de os elementos
problemas desse tipo. Depois de lê- de uma comparação diferenciarem-se
los, identifique-os. em algum ponto essencial da ana-
logia. Observe:
Texto argumentativo: escrita e cidadania 8
1

“ Q u e  p e r t u r b a d o r  le r  n o  M a is ! ,  d e  1 2 / 0 3 ,  u m  a r t ig o  s o b r e  a  p e s q u is a  d e  s o c io b io lo ­
g ia  q u e  a f ir m a  q u e  o  e s t u p r o  é  'n a t u r a l'!  P i o r  a i n d a  é  q u e  a  c o n c lu s ã o  s e j a  in f e r id a  p a r a  a  e s ­
p é c ie  h u m a n a  p e l o  e s t u d o  d o  c o m p o r t a m e n t o  d a s  m o s c a s . . . S e r á  q u e  é  m e s m o  p o s s ív e l  fa ­
la r  e m  'e s t u p r o ' e n t r e  m o s c a s ?
A  a n t r o p o lo g ia  s o c i a l  e  c u lt u r a l j á  m u it o  r e b a t e u  a  i d é i a  d e  q u e  v á r i o s  c o m p o r t a m e n ­
t o s  h u m a n o s  s e r ia m  d a  o r d e m  d a  n a t u r e z a . É  d e  e s p e c ia l r e le v â n c ia  a  i d é i a  d e  q u e  a  c u lt u r a  
a t u a  i n c lu s iv e  n o s  c o m p o r t a m e n t o s  v i s t o s  c o m o  m a is  p r ó x im o s  d a  n a t u r e z a : n a s  p r á t ic a s  s e ­
x u a is ,  d e  c a s a m e n t o ,  n a s  r e g r a s  d e  p a r e n t e s c o ,  t é c n ic a s  d e  p a r t o . D iz e r  q u e  v á r io s  c o m p o r ­
t a m e n t o s  v ê m  a p e n a s  d a  n a t u r e z a ,  c o m o  f a z e m  m u it o s  e s t u d o s  d e  s o c io b io lo g ia ,  p a r e c e  u m  
t a n t o  s i m p l is t a  e  c e g o  a  t o d a  a  c u lt u r a  c o n t e m p o r â n e a ,  a o s  a p e lo s  d a  m í d i a  e  d a  p u b l ic id a d e
e  à  r e a lid a d e  s o c i a l e  c u lt u r a l q u e  v i v e m o s  h o je . P o r  
e s s e   m o t iv o ,   d iz e r   q u e   o   e s t u p r o   é   'n a t u r a l'  ( c o m   o  
r i s c o  p o lí t i c o  d e  ig u a la r  o  s e n t i d o  d o  t e r m o  'n a t u r a l' à  
p a la v r a   'n o r m a l')  é   i m e n s a  b o b a g e m ,   já   q u e   o   c o m ­
p o r t a m e n t o   h u m a n o   n ã o   é   r e g id o   a p e n a s   p e la s   r e ­
g r a s  d a  n a t u r e z a .”

H e lo í s a   B u a r q u e   d e   A lm e id a ,   p r o fe s s o r a   e   d o u t o r a n d a   e m  
a n t r o p o lo g i a   n a   U N I C A M P   ( C a m p in a s ,   S P ) .
F o n t e :  w w w . g e o c it i e s . c o m / m _ r e t t
( F o lh a   d e   S ã o   P a u lo ,   2 9 / 3 / 2 0 0 0 )

1) “Resta-nos reciclar a mentalidade de boa parte da população


neste sentido, a fim de que esta supere esse complexo de
inferioridade típico de países como o Brasil, científica e
tecnologicamente atrasados.” (assunto: transgênicos; ano:
1999).

2) “Embora o avanço da tecnologia tenha grande validade para o


Brasil, isso vem causando um aumento na taxa de desemprego,
conseqüência direta do aumento da legião dos sem-terra.”
(assunto: estratégias do MST; ano: 2000).

3) “Portanto é necessário que o governo tome medidas urgentes a


fim de solucionar este momento caótico pelo qual estamos
passando.” (assunto: estratégias do MST; conclusão de uma
dissertação; ano: 2000).
IstoÉ,
30/6/2001
4) “Com essa possível mudança da emancipação da Metade Sul do Estado, a
região extremo sul será beneficiada uma vez que está praticamente isolada.”
(assunto: emancipação da Metade Sul do estado do RS; ano: 2000).
5) “Gostaria de lembrar-lhe que um estudante será um profissional no futuro;
um aluno que ‘cola’ para passar de ano não sabe a matéria e se tornará
relapso em sua profissão.” (assunto: o uso da ‘cola’ nos estabelecimentos de
ensino; carta dirigida ao senhor Groppa Aquino; ano: 2000).

6) “Não se trata de questionar dogmas religiosos, mas sim de resolver um


gravíssimo pro-blema, principalmente com a população de menor poder
aquisitivo que constitui a 4ª causa de mortalidade materna.” (assunto:
planejamento familiar; ano: 2000).

7) “A raça negra não é mais escrava, merecendo direitos iguais, inclusive o de


igualdade social.” (assunto: racismo; ano: 2000).

8) “Salienta-se ainda que os usuários de drogas não precisariam ir aos postos de


saúde à procura de kits descartáveis, em virtude de serem vítimas da
discriminação e estigma-tismo.” (assunto: Projeto de Redução de Danos, da
Secretaria Municipal da Saúde de POA – troca de seringas usadas pelos
dependentes por novas para evitar doenças; ano: 1998).

9) “Por tudo isso, é imprescindível uma reflexão sobre o assunto dos jovens, que
são o fu-turo do país.” (assunto: avaliação sobre os 10 anos de criação do
ECA; ano: 2000).

10)“Na certeza de que Vossa Excelência considerará meu apelo, e lembrando-lhe


serem as crianças o amanhã da Nação, despeço-me.” (idem ao anterior; carta
argumentativa diri-gida ao ministro da Justiça).

11)“Por outro lado, fico ‘pasma’ ao ver crianças que deveriam estar na flor da
inocência (...)” (idem ao anterior).

12)“Inicialmente, cabe ressaltar que a discriminação social,


aliada à falta do auxílio da família são fatores
determinantes a tal problemática. Ademais, falta de escola
também contribui para o agravamento da situação.
Importa enfatizar, ainda, que tais fatores
acarretam não só a cometer estupros, como também
atos sádicos, demonstrando a revolta pela situação em
que vivem.” (assunto: violência urbana; ano: 2001).
Zezé Mota: "Há preconceito até nas relações afetivas. Já desisti de
casar com rapaz branco por causa da pressão da família dele."
(IstoÉ, 17/6/96)

3 Há determinados critérios tais


co-mo a escolha adequada dos
eles estão dispos-tos, a estrutura
gramatical nele utilizada, entre
termos em um texto, a ordem em que outros, os quais necessitam ser se-
Texto argumentativo: escrita e cidadania 8
3

guidos para se garantir a coerência expres-são “sic” para evidenciar uma


tex-tual, além, é claro, da incoerência devida à impropriedade
compatibilidade en-tre o “mundo do vocabular. Dessa forma, ele se
texto” e o “mundo real” (relação isentou da responsabilidade do uso
intra/extratextual). inadequado de um termo, no caso,
No trecho abaixo, cujo autor é o verbo penalizar. Observe:
Ale-xandre Garcia, o jornalista usou a

" A g o r a ,   p o r   fa l t a   d e   p la n e ja m e n t o   d o   G o v e r n o ,   o s   c o n t r i­

I s t o É ,   2 3 / 5 / 2 0 0 1 .  D e s e n h o   d e   A r o e ir a .
b u in t e s   v ã o   p a g a r.  É   e c o n o m i z a r   e   p a g a r   o u   a p a g a r.  O   G o v e r n o  
a le g a  q u e  o  p la n o  é  j u s t o ,  p o r q u e  a liv i a  o s  m a is  p o b r e s  e  p e n a liz a  
( s ic )  o s  m a is  r ic o s . S e r á ? "

D e p o is ,  o  jo r n a lis t a  c o n t in u a :

" S e   é  p a r a  o  p la n o  s e r  j u s t o ,  e n t ã o   q u e  s e  p u n a   ( o u  p e n a liz e  
c o m o  o  G o v e r n o  u s a ,  s e m   c o n h e c e r  b e m  a  lí n g u a  p o r t u g u e s a )  o  
r e s p o n s á v e l p e la  fa lt a  d e  e n e r g ia : o  q u e  n ã o  p la n e jo u  ( . . . )  Q u e  s e  
c o r t e  a  e n e r g i a  d o  G o v e r n o . "  

( D iá r i o   P o p u l a r ,   2 2 / 0 5 / 0 1 )

A troca do verbo penalizar, Leia os trechos abaixo,


que significa causar pena ou extraídos de redações de alunos, e
desgosto; afligir, desgostar, pelo explique o porquê da incoerência.
verbo punir ocasionou, neste caso, a Quando possível, proponha
incoerência. mudanças.

1) “Hoje em dia a maior preocupação de todos os governos é o desemprego


que, no Bra-sil, é o maior problema na atualidade, pois ele é o centro de
tudo.” (assunto: desem-prego; ano: 1999).

2) “(...) consiste na falta de informações dos cidadãos, uma vez que não existem
campa-nhas as quais visem ao esclarecimento da população sobre o possível
contágio de doen-ças sexualmente transmissíveis, inclusive sobre a, muitas
vezes, impiedosa gravidez.” (assunto: iniciação sexual precoce entre os
brasileiros; ano: 2000).

3) “Na verdade, as formas femininas, atualmente, têm-se distanciado de sua


real função: virtude de gerar uma criança.” (assunto: topless: direito ou
desonra da mulher?; ano: 2000).

4) “(...) porém espero que as pesquisas avancem e, num futuro próximo,


consigamos grandes resultados, tanto na área da Saúde quanto na
alimentícia.” (assunto: transgêni-cos; ano: 1999).
5) “Também nas instituições de ensino devem-se mostrar os riscos de
contaminação de várias doenças, além de gravidez precoce.” (assunto:
iniciação sexual precoce; ano: 2000).

6) “Na minha opinião, acredito, (...)” (assunto: o uso da ‘cola’ nos


estabelecimentos de en-sino; carta dirigida ao senhor Groppa Aquino; ano:
2000).

7) “Considero, no meu entender, (...)” (idem ao anterior).

8) “Ao ler sua relevante declaração sobre o comportamento de consumidores de


baixo po-der aquisitivo, resolvi escrever-lhe por considerar sua análise superficial
e preconcei-tuosa.” (proposta da UFPel/98; assunto: hábito de consumo das
classes menos abasta-das; comentário: “Pobre gosta de sofrer aos poucos”).

9) “Logo, tanto a privacidade e os valores individuais quanto as vantagens do


conheci-mento do genoma devem ser inseridos em uma mesma conjuntura,
como intuito de de-senvolvimento não só do indivíduo como da população (...)”
(assunto: genoma; ano: 2000).

10)“De acordo com pesquisas realizadas pelo IBGE, uma elevada porcentagem da
popu-lação brasileira acredita em um conceito inovador de ‘família’; para tais
entrevistados, esta não precisa ser necessariamente composta por pai, mãe e
filhos, vivendo sob o mesmo teto; uma pessoa que vive só, com um animal de
estimação, pode considerar-se vivendo em uma instituição familiar.” (assunto:
perfil da família no novo milênio; ano: 2000).

11)“É inegável que não existam conflitos, violência, em um país no qual as


diferenças soci-ais são alarmantes (...)” (assunto: violência urbana; ano: 2000).

12)“As escolas deveriam conversar mais com os alunos até com os que estão
terminando o 2º grau.” (assunto: a prática dos trotes aos calouros nas
universidades brasileiras; ano: 1999).

13)“O problema da saúde, no Brasil, é, portanto, gerado pela péssima administração


do orçamento.” (assunto: saúde pública no Brasil; ano: 1998).

14)“Durante seu desenvolvimento, a criança recebe influências racistas de vários


locais tais como as inocentes histórias infantis, onde a princesa, o herói, o
príncipe sempre são de cor branca.” (assunto: racismo; ano: 1999).

15)“Embora se estabeleçam juros altos, há a maciça escolha em adquirir bens a


prazo, pois muitos consumidores vêem-se absolutamente coagidos a fazê-lo à
vista, uma vez que seus salários não condizem com a realidade de consumismo
exorbitante.” (assunto: Pobre gosta de sofrer aos poucos – sobre o fato de se
comprar em prestações; ano: 1998/UFPel).

16)“Além disso, acaba ocorrendo também uma redução do número de


trabalhadores, sem-do que poucos conseguem manter seus empregos.”
Texto argumentativo: escrita e cidadania 8
5

(proposta da UFPel/98; assunto: hábito de consumo das classes menos


privilegiadas; comentário: “Pobre gosta de sofrer aos poucos.”).

17) “Assim, vemos que não somente a


irresponsabilidade no trânsito é causadora fatal
de vidas, mas também o desejo de querer bem a
si mesmo.” (assunto: alcoolismo; ano: 1998).

18) “Será ainda relevante que os pais demonstrem


vontade e esclarecimento sobre a droga, pois
poderá levar vários filhos ao consumo bem como
à dependência.” (assunto: alcoolismo; ano:
1998).
Is to É , 1 8 /7 /2 0 0 1
19)“Em virtude dos aspectos mencionados, somos levados a crer que o álcool
deve ser tra-tado com seriedade e urgência pelas autoridades
governamentais.” (assunto: alcoolis-mo; ano: 1998).

20)“O problema de Saúde” (título de redação; assunto: Saúde Pública no Brasil;


ano: 1998).

21)“As universidades têm liberdade para escolher seu tipo de avaliação.


Entretanto, há um fator que vem desmascarando certas ‘instituições-
fachada’, assim como descobrindo universitários dedicados e competentes –
o Provão.” (assunto: provão nas universida-des; ano: 2000).

4 Ao articularmos as idéias em
um texto, a fim de que este seja
importante para garantir a coe-
rência textual.
coerente, é necessário verificarmos Nos trechos abaixo, de
se elas têm a ver umas com as outras redações de alunos, um problema de
e observarmos o tipo de relação a coesão acabou por interferir na sua
qual se estabelece entre elas. coerência.
Também mostra-se importante, ao Após a leitura do exemplo que
retomarmos idéias nesse texto, evidencia tal problema, reformule os
cuidarmos se a retomada foi feita de trechos de forma a tornar a relação
forma correta ou não. Em ambos os coesão/ coerência adequada.
casos, o uso dos coesivos é
" C o n s id e r o   q u e ,   p o r   o u t r o   la d o ,   a   s o c i e d a d e ,   e m   g e r a l,  
g o s t a   d e   a s s i s t ir   e s t e   t ip o   d e   c e n a   o n d e   a c o n t e c e m   'b a ix a ­
r i a s ',  fa z e n d o  a s s im  p e n s a r e m  q u e  n ã o  s ã o  s ó   e l e s *  q u e  p a s ­
s a m   p o r   s i t u a ç õ e s   p a r e c i d a s . "   ( a s s u n t o :  g u e r r a   p e la   a u d i ê n ­
c i a  e  a  q u a lid a d e  d o s  p r o g r a m a s  n a  T V  b r a s ile i r a ; a n o : 1 9 9 8 ) .

* O   t e r m o   d e s t a c a d o   n ã o   p o s s u i 
Is to É , 1 /1 0 /9 7  
r e fe r e n t e   c l a r o   n o   t r e c h o .

1) “Ao ler uma matéria na revista Veja, que mostra seu posicionamento sobre o
futuro da sociedade, resolvi escrever-lhe por motivo de contrapor-me às
mesmas.” (assunto: re-dução da jornada de trabalho e aumento do tempo
destinado ao lazer; ano: 2000).

2) “Todo menor deve ter direito à educação, à saúde e à vida digna, segundo a
Decla-ração Universal dos Direitos da Criança. No entanto, as imagens
observadas na mídia e os dados expostos no encontro, na Suécia, revelam
uma realidade assustadora na qual se notam a exploração da mão-de-obra
infantil e o uso desses indivíduos em guerras.” (assunto: violação dos direitos
das crianças; ano: 2001).

3) “As universidades federais são propriedade do povo, pois eles pagam


impostos ao go-verno para que este administre os bens sociais.” (assunto:
privatização das universida-des públicas brasileiras; ano: 1999).

4) “A iniciação sexual precoce, sem a devida maturidade para prevenir-se de


forma ade-quada, pode acarretar uma gravidez precoce. Esta, portanto, leva
ao abandono dos es-tudos, comprometendo a futura qualificação profissional,
especialmente das meninas.” (assunto: iniciação sexual precoce; ano: 2000).

5) “Um país que enfrenta tantos problemas na Saúde, ainda tem que ‘lutar’
contra os re-médios, denominados como crime hediondo.” (assunto:
falsificação dos remédios; ano: 1998).

6) “Alguns carcerários são injustamente colocados em um mesmo nível criminal.


Porém, acabam cometendo os piores crimes com seus colegas de cela.”
(assunto: reforma car-cerária; ano: 1999).

7) “Este fato marca a culpa governamental, já que este raramente investe em


campanhas de prevenção.” (assunto: maternidade precoce; ano: 2000).

8) “Vossa Senhoria há de convir que, se forem penalizados pelo ECA, os pais


desses jo-vens serão responsabilizados, embora caiba àqueles a punição por
Texto argumentativo: escrita e cidadania 8
7

um crime praticado por estes.” (carta argumentativa dirigida ao editor da


Folha de São Paulo; assunto: ma-ioridade/menoridade penal; ano: 1999).

9) “Para a globalização se efetivar, é preciso que os


donos do capital diminuam o lucro, invistam na
especialização para ingressá-la no mercado
tecnológico.” (assunto: globalização; ano: 1999).

“Os Estados Unidos, os países da União Européia e a Rússia lançaram na atmosfera 
382   bilhões   de   toneladas   de   dióxido   de   carbono   nos   últimos   cinqüenta   anos, 
quantidade superior às emissões de todos os demais países.” (Veja, 1/8/2001, p.48)
Imagem: IstoÉ, 1/8/2001.

5 A clareza é uma qualidade


textual que consiste em expressar as
produção de um texto que
comprometem o seu entendimento.
idéias de forma a torná-las facilmente Eis alguns deles: obscuridade,
compreensíveis ao leitor. Muitas ambigüidade e falta de
vezes, a falta de clareza pode ser um paralelismo (gramatical ou
recurso intencional; no entanto, semântico).
existem alguns “desvios” na

" M e u  p r o fe s s o r  d e  F í s ic a  é  d o  t ip o  b o n i t ã o . N o  a n o  p a s s a d o ,  e l e  c o m e ç o u  a  fa la r  


q u e  s e m p r e  s o n h a v a  c o m i g o .  A q u ilo   m e  b a l a n ç o u ,   m a s   t e n h o  n a m o r a d o   e   e le   é  c a s a d o . 
S ó  q u e   e le  c o m e ç o u  a  m e  p r e s s io n a r,  p e d ia  p a r a  e u  ir  a t é  a  e s c o la  à  t a r d e . P e g a v a  n a  m i ­
n h a  m ã o  t o d a  v e z  q u e  t in h a  u m a  c h a n c e . N o  c o m e ç o ,  g o s t e i . I m a g in e : a s  m e n i n a s  d a  e s ­
c o la  m o r r e n d o  p o r  c a u s a  d o  p r o fe s s o r  e  e le  c o r r e n d o  a t r á s  d e  m im !  S ó  q u e ,  u m  d i a ,  q u a n ­
d o  e s t á v a m o s  s o z in h o s  n u m a  s a l a , e le  t e n t o u  m e  b e ij a r  e  d i s s e  q u e  q u e r ia  m e  le v a r  p a r a  
u m   m o t e l .  E s t a v a  m e io  a p a ix o n a d a ,  m a s   c o m e c e i  a   f i c a r   c o m   m e d o .  E u ,   q u e   s e m p r e   f u i 
b o a ,   c o m e c e i   a   ir   m a l  n a s   a u l a s ,   f iq u e i  d e   r e c u p e r a ç ã o ,  e s t a v a   q u a s e   r e p e t in d o .  N ã o  
c o n s e g u ia   p r e s t a r   a t e n ç ã o   n a   a u l a   d e l e   d e   j e it o   n e n h u m .  F o i   q u a n d o   r e s o l v i  c o n t a r   e m  
c a s a . M e u  p a i f ic o u  f u r i o s o !  Q u e r i a  ir  à  p o lí c i a ,  fa l a r  c o m  o s  d ir e t o r e s  d a  e s c o la ,  fa z e r  u m  
e s c â n d a lo .  E u   im p lo r e i   p a r a   e l e   n ã o   f a z e r   n a d a .  D e p o i s   d e   d e s a b a f a r ,   c o n s e g u i   v o lt a r   a  
e s t u d a r  e  p a s s a r  d e  a n o .”

( R e v is t a   C a r i n h o )

No texto acima, o texto, pois ora tal termo re-mete ao


entendimento é prejudicado devido namorado, ora ao professor de Física.
ao uso do termo “ele”, sublinhado no
Analise os trechos abaixo, explique por que as idéias dificultam
frag-mentos de redações de alunos, e a compreen-são ao leitor.

1) “Como exemplo temos a morfina, usada para combater a dor que, aos
poucos, está sendo substituída pelo samário – 153.” (assunto: uso da energia
nuclear [área médica]; ano: 2000).

2) “Além disso, a energia nuclear provoca a destruição das células e


queimaduras (...)” (assunto: uso da energia nuclear; ano: 2000).

3) “Não podemos também deixar de falar nas emissoras de tevê, pois a


influência delas sobre os adolescentes, que apresentam programas altamente
erotizados em horários inadequados, incentivando, assim, a relação sexual
precoce.” (assunto: iniciação sexual precoce; ano: 2000).

4) “Torna-se necessário, portanto, que o governo, a sociedade e a imprensa se


unam em torno de objetivos comuns, evitando o desperdício de alimentos, o
alcance de uma dis-tribuição de renda mais justa, geração de mais empregos
(...).” (assunto: Dar ou não esmolas? ano: 2000).

5) “Na minha opinião é um absurdo permitir que se repitam os ‘espetáculos’ de


violência e humilhações que vêm ocorrendo todos os anos cada vez que
grupos de estudantes ingressam na universidade. Além disso, é preciso
pensar nos traumas psicológicos das vítimas, isso quando estas não estão
mortas, o que de fato já ocorreu mais de uma vez.” (assunto: a prática dos
trotes aos calouros nas universidades brasileiras; carta ar-gumentativa
dirigida ao editor da FSP; ano: 1999).

6) “Em se tratando de fome, temos como grande culpado os milhares de grãos


que estra-gam nos armazéns governamentais e particulares os quais, em
decorrência disso, são jogados fora.” (assunto: desperdício do dinheiro
público; ano: 1999).

6
Um problema bastante outras formas gramaticais utilizadas
comum en-contrado em redações de para se estruturar as frases.
alunos diz res-peito à incompletude O trecho abaixo, parte de uma
da frase, ou seja, a idéia pretendida carta de leitor, extraído do jornal
pelo autor é abandona-da e a Diário Popular, de 30/11/97,
inteligibilidade torna-se comprome- apresenta algumas frases
tida. Muitas vezes, tal problema é fragmentadas, ocasionando difi-
decor-rente da pontuação culdades de entendimento ao leitor.
inadequada, do uso impróprio do Observe:
gerúndio ou do infinitivo, en-tre
Texto argumentativo: escrita e cidadania 8
9

" E m   r e s p o s t a   a o   c o m e n t á r i o   d a   c o lu n a   R o n d a  
d o s   P a g o s   d e   D o m in g o   ( 2 3 / 1 1 / 9 7 ) ,   q u e   d iz   r e s p e it o   a o  
P ix u r u m  a o  m u x i r ã o .
E m :  H is t ó r i a s   e   L e n d a s   d o   B r a s il

A n a li s a n d o   a   a t u a l  s it u a ç ã o   f in a n c e i r a   d a  
E s tâ n c ia   T h o m a z ia n a ,  n ã o   fo i  c a u s a d a   p e la  
I l u s tr a ç ã o :  J . L a n z e lo t t i. 

p a t r o n a g e m  a n t e r i o r ,  e  s im  p e l a  a t u a l.
P o is ,  c o m o   s a b e m o s ,  a   p a tr o n a g e m   a n te r io r 
a d q u i r i u   i m ó v e is   n o   v a l o r   s u p e r i o r   a   5 0 . 0 0 0   d ó la r e s   e  
p a g o s .”

Agora, leia os trechos abaixo, extraídos de redações, e reescreva-os,


atribuindo-lhes coerência.

1) “Tendo acompanhado, através da imprensa, divulgações importantes sobre a


violência nas escolas, fato que decorre, em parte, de uma política adotada
que mascara o contin-gente juvenil, uma vez que a maioria dos jovens não
possui perspectivas de um futuro digno e promissor.” (assunto: violência
juvenil; ano: 2000).

2) “Resolvi, por essa razão, manifestar-lhe meu posicionamento. Distinguindo,


com clare-za, situações de violência em que o meio se torna propício (...)”
(idem ao anterior).

3) “Saliento-lhe que, em certos casos, compreende-se a revolta e a violência


desses jo-vens. Já que a desigualdade social acirra a falta de oportunidades
de ascensão social.” (idem ao anterior).

4) “Por sua vez, essa sociedade que omite informações aos jovens, assiste
filmes eróticos, novelas em que o sexo está sempre presente.” (assunto:
influência da mídia X mater-nidade precoce; ano: 2000).

5) “O jovem brasileiro tem passado por alguns problemas. Entre eles, destaca-se
o alcoo-lismo que, lamentavelmente, afeta 20% destes. Tornando-se, assim,
para vários, um ví-cio preocupante.” (assunto: o alto índice de alcoolismo
entre os jovens; ano: 1999).

6) “Ao tomar conhecimento do projeto de lei de autoria de Vossa Excelência, o


qual trata da relevante questão do direito à realização do aborto legal, pelo
SUS, por duas razões: em caso de estupro e em caso de risco de vida da
mãe.” (carta argumentativa dirigida a um congressista; assunto: aborto; ano:
1999).

7) “A justiça; é feita até para os corruptos.” (assunto: impunidade; ano: 2000).

7
Se compararmos a relação numa de escrita. Igualmente, na
fala/ escrita, nas mais diversas escrita, numa situação for-mal,
situações do cotidiano, perceberemos devem-se evitar construções da mo-
que não se fala como se escreve, não dalidade da fala.
se escreve como se fala, assim como Nas frases abaixo, extraídas
não se fala nem se escreve da de redações de alunos, notam-se
mesma maneira em todas as oca- estruturas e escolha do vocabulário
siões. próprias da linguagem falada
Logo, o que é perfeitamente informal, modalidade não acei-ta em
acei-tável numa situação de fala, em provas de redações de vestibulares.
situação informal, pode não o ser Observe:

" I s s o n ã o l e v a a n a d a .”
" I s s o n ã o a j u d a a s d i f i c u l d a d e s .”
" N o s e u t e x t o , a s e n h o r a d iz q u e ( . . .) ”
" E c o m o is s o p o d e s e r a c e i t o n o m e i o u n i v e r s i t á r i o q u a n d o
f o r a d e le p o d e d a r a t é c a d e ia ? ”
" O s p o l í t i c o s n ã o f a z e m n a d a p a r a l e v a n t a r o p a í s .”

Agora, leia os trechos abaixo e proponha mudanças para melhorá-los,


adaptando-os à modalidade escrita culta.

1) “Foram meses sem ninguém descobrir nada. Quando foi descoberto o


escândalo, a mídia foi atrás, o povo também, mas, apesar de tudo, os dois
senadores renunciaram.” (assunto: renúncia dos ex-senadores ACM e Arruda;
ano: 2001).

2) “Em conseqüência desse ato, houve muita especulação sobre uma possível
manipulação política e o incentivo à compra e venda de votos, mas desta vez
não passou em branco este fato irresponsável.” (idem ao anterior).

3) “Primeiramente, gostaria de dizer que estou indignado (...)” (assunto: trote


nas univer-sidades; ano: 2000).

4) “Não vejo mal nenhum em pintarem os alunos, fazerem eles correr e coisas
deste tipo.” (idem ao anterior).

5) “É lamentável que os telespectadores tenham que assistir programas sem


conteúdo in-formativo e cheio de baixarias, como é o caso do Gugu.”
(assunto: guerra pela audiên-cia e a qualidade dos programas televisivos;
ano: 1999).
Texto argumentativo: escrita e cidadania 9
1

6) “De todo modo, o único jeito de diminuir (...)” (idem ao anterior).

7) “Essas ONGs estão fazendo um grande bem social.” (assunto: influência do


terceiro se-tor em nossa sociedade; ano: 2001).

8) “É preciso tornar mais fácil a solução dos problemas (...)” (idem ao anterior).

9) “Isso sem falar na falta de ética e vergonha na cara de nossos políticos, que
só pensam neles.” (assunto: ética e política; ano:
2000).

10) “Quando se fala em drogas (...)” (assunto: alcoolismo


entre os jovens; ano: 2000).

11)“Há muitos jovens que começam a beber na noite,


exageram na bebida, sem pensar que isso pode virar Is to É , 8 /8 /2 0 0 1
uma grande tragédia.” (idem ao anterior).

12)“Se isso que foi citado for feito, a saúde já irá dar uma boa melhorada.”
(assunto: saú-de pública no Brasil; ano: 1999).

13)“(...) porque, se continuar como está, muitos, com alto potencial, poderão
ficar de fora da sociedade.” (assunto: desemprego; ano: 2000).

14)“O ECA deveria trabalhar em cima do dever escolar para menores de rua
(...)” (assunto: 10 anos de criação do ECA; ano: 2000).

15)“O problema é que o estatuto muitas vezes inexiste na prática, a maioria dos
artigos do texto legal não saem do papel.” (idem ao anterior).
P ro p o sta n º 1
O jornal Folha de São Paulo publi- especialistas nas áreas educacional e
cou, em 18/10/99, uma reportagem jurídica.
contendo o relato de um leitor, 14 Após a leitura da coletânea, es-
anos, Paulo (nome fictício; ver creva uma carta argumentativa
“observação”), segundo o qual está dirigida ao aluno Paulo ou ao diretor da
sendo expulso da escola onde estuda escola, manifestando-se acerca da
em razão do preconceito de que tem acusação de preconceito alegada
sido alvo. pelo aluno e da postura adotada
Além do depoimento do leitor, a pela direção do estabelecimento.
Folha publicou uma entrevista com o Além das informações contidas na
diretor da escola envolvida, coletânea, você poderá utilizar outras
depoimentos de alunos da própria que julgar pertinentes.
instituição, assim como de Ao assinar sua carta, use apenas
as iniciais de seu nome.
Texto argumentativo: escrita e cidadania 93

( E m :  F o lh a t e e n ,   s u p le m e n t o   d o   jo r n a l  F o lh a   d e   S ã o   P a u lo )

O b s . :   P o r   q u e   o s   n o m e s   d o s   p e r s o n a g e n s   d a   e s c o l a   fo r a m   o m i t i d o s
d a  R e d a ç ã o
E x c e p c io n a l m e n t e ,   n e s t a   r e p o r t a g e m ,   a   F o l h a   t o m o u   a   d e c i s ã o   e d i t o r i a l   d e   n ã o   i d e n t i f i c a r  
v á r i o s  d o s  e n t r e v i s t a d o s ,  o  q u e  n ã o  é  p r á t i c a  d o  j o r n a l . M u i t o  p e l o  c o n t r á r io . O s  a u t o r e s  d a s  d e c l a r a ­
ç õ e s  p u b l i c a d a s  s ã o  s e m p r e  i d e n t if i c a d o s ,  s a l v o  o s  c h a m a d o s  c a s o s  " o f f  t h e  r e c o r d s " ,  e m  q u e  a  fo n t e  
p e d e  o  a n o n i m a t o  e  h á  r e l e v â n c i a  j o r n a l í s t i c a  p a r a  q u e  e s s e  p r o c e d i m e n t o  s e j a  r e a l i z a d o .
N e s t a   r e p o r t a g e m ,   c u j o   a s s u n t o   é   d e li c a d o   e   p o l ê m i c o ,   o   n o m e   d a   e s c o l a   e n v o l v i d a   e   d o s  
p e r s o n a g e n s  c e n t r a i s  d o  c a s o        a l u n o  e  d i r e t o r  d o  c o l é g i o        n ã o  fo r a m  r e v e l a d o s  c o m  o  f im  ú n i c o  e  
e x c l u s i v o  d e  p r e s e r v a r  a  i m a g e m  d o  e s t u d a n t e ,  q u e  t e m  m e n o s  d e  1 8  a n o s  d e  i d a d e .
R e v e l a r   o   n o m e   d o   c o lé g i o   o u   d o   d i r e t o r   p o d e r ia   le v a r   à   i d e n t i f ic a ç ã o   d o   a l u n o   e   c a u s a r  
p o s s í v e i s   s i t u a ç õ e s   d e   c o n s t r a n g i m e n t o  p a r a  o   e s t u d a n t e  e   p a r a   o s  d e m a i s   a lu n o s  d a  e s c o l a .  E s s a  
fo r a m  a s  p r e o c u p a ç õ e s  d o  j o r n a l  a o  o p t a r  p o r  m a n t e r  n o  a n o n im a t o  o s  p r i n c i p a i s  e n v o l v i d o s  n o  c a s o .
Silvia Ruiz
da Reportagem Local

No início do ano, Paulo, 14, da  segredo   ou   me   torno   um   problema”, 


oitava   série   de   um   colégio   particular  diz o estudante.
da   zona   leste   de   SP,   declarou   sua 
Para a direção do colégio, não 
paixão   por   Marcelo   (nomes   fictícios), 
se trata de preconceito. Para o diretor, 
16, aluno do ensino médio da mesma 
apesar   de   ser   um   bom   aluno,   Paulo 
escola. A partir daí, a vida dos dois vi­
criou um problema para Marcelo.
rou um inferno.
Em   sua   defesa,   Paulo   diz   que 
A   história   correu   o   colégio,   e  pode   até   ter   causado   um   problema, 
Marcelo passou a ser alvo de gozação  mas afirma que não conseguiu agir de 
por parte de seus amigos. Para Paulo,  outra   forma.   “Eu   vi   Marcelo   há   dois 
a   situação   ficou   ainda   pior.   Segundo  anos   e   fiquei   apaixonado.   Este   ano 
ele,   alguns   alunos   passaram   a   ame­ resolvi   me   abrir.”   Ele   vê   exagero   e 
açá­lo, e a direção convocou seus pais  precipitação   na   possível   decisão   da 
para pedir que o tirassem da escola. escola de expulsá­lo. “Por que a dire­
O estudante acha que tudo não  ção não expulsa os garotos que estão 
passa   de   preconceito   contra   ele.   “O  fazendo a gozação?”
que   eu   fiz,   mostrar   o   meu   amor,   me  Especialistas   em   Educação   e 
apaixonar,   é   algo   que   qualquer   me­ advogados   ouvidos   pela   reportagem 
nina ou menino  da minha idade está  questionam  a   atitude   do   colégio.   Se­
cansado de fazer. Mas, como eu sou  gundo eles, esse tipo de expulsão vai 
diferente,   tenho   de   guardar   isso   em  contra   as   tendências   modernas   de 
Educação. O promotor da Infância e Juven­
“Esse   caso   mostra,   principal­ tude,   Giovane   Serra   Azul,   diz   que 
mente,   a   incompetência   educativa  nunca viu um caso como esse. “Esse 
dessa escola”, diz Rosely Sayão, psi­ é   um   caso   muito   delicado,   e,   para 
cóloga e colunista da  Folha. Segundo  avaliá­lo,   seria   preciso   que   houvesse 
ela,   o   papel   dos   educadores   hoje   é  um   processo.   É   difícil   delinear   até 
ensinar os alunos a conviver com a di­ onde vai o interesse individual de uma 
versidade.   “O   que   essa   escola   está  pessoa e o da coletividade. É preciso 
fazendo para tornar seus alunos cida­ ver   se   essa   atitude   do   garoto   está 
dãos?” prejudicando   o   direito   dos   outros   de 
estudar.   Apenas   o   fato   de   ter   decla­
O advogado Luiz Alberto David 
rado seu afeto e ser homossexual não 
Araujo,   professor   de   Direito   Constitu­
é motivo de expulsão.”
cional, da PUC­SP (Pontíficia  Univer­
sidade   Católica)   e   do   ITE   (Instituto  Segundo   ele,   as   escolas   parti­
Toledo de Ensino), concorda com Ro­ culares   têm  o direito  de  expulsar  um 
sely. “A escola passa um atestado de  aluno quando julgam  que ele  atrapa­
incompetência em relação a um tema  lha a coletividade. “Há regras que são 
presente na sociedade. Em  princípio,  subjetivas. Mas, se os pais ou o aluno 
ela   tem   de   manter   a   disciplina,   mas  consideram que há abuso por parte da 
eliminar  o problema, em vez  de lidar  escola, podem buscar o apoio da Jus­
com ele, não resolve nada. Essa não é  tiça.”
uma   questão   de   direito,   mas   sim   de 
pedagogia.” (...)
Texto argumentativo: escrita e cidadania 95

" I s s o   t u d o   é   r id í c u lo .  Q u e r  
d iz e r   q u e   o   o u t r o   g a r o t o   n ã o  
s a b e   s e   d e f e n d e r   s o z in h o ?   S e  
e le   n ã o   q u e r   n a d a   c o m   o  
" T o d o   m u n d o   n a   e s c o la   P a u lo ,   e le   d e v ia   s e   e n t e n d e r  
s a b e   q u e   e s s e   m o le q u e   é   c o m  e le ."  
b ic h a   e   f ic a   a s s e d ia n d o   o   M a r i n a   ( n o m e   f i c t í c i o ) ,  1 4
o u t r o .  S e   fo s s e   c o m ig o ,   já
  t in h a   d a d o   u m a   p o r r a d a  
n a   c a r a   d e le . "  
C l á u d i o   ( n o m e   f i c t í c i o ) ,  1 5
"T o d o  m u n d o  c o m e n ta  
e s s a   h is t ó r i a   n a   e s c o la ,  
m a s  n ã o  d e v e r ia  le v a r  à  
" E s s e   m e n in o   n ã o   t e m   o  
e x p u l s ã o .  G o s t a r   d e  
m e n o r   d i r e it o   d e   f i c a r   e x p o n d o  
a lg u é m   n ã o   é   m o t iv o   p a r a  
o s   o u t r o s .  S e   e le   g o s t a   d e  
m a n d a r  e m b o r a ."  
a lg u é m   q u e   n ã o   é   h o m o s s e ­
x u a l,   d e v e r i a   f i c a r   n a   d e le . "   A d r i a n a   ( n o m e   f i c t í c i o ) ,  1 5
P a u l a   ( n o m e   f i c t í c i o ) ,  1 4

Folha – O que o levou a escrever para o Folhateen?
Paulo –  A minha escola disse que eu não vou poder estudar lá no ano que 
vem. Acho que estou sendo alvo de preconceito porque sou homossexual.
Folha – Por que a direção da escola quer que você saia?
Paulo – Eles falaram comigo e com os meus pais e disseram que eu deveria 
sair porque estava incomodando o garoto por quem eu sou apaixonado. A escola 
acha que eu sou um problema. Eles são preconceituosos e moralistas.
Folha – Você acha que de fato incomodou o garoto?
Paulo – No início do ano, mandei uma carta para ele e me declarei. Também 
disse para as minhas amigas que gostava dele. Aí, todos na escola ficaram saben­
do, ficou uma pressão sobre ele. Acho que isso poderia até incomodar.
Folha – E qual foi a atitude da escola?
Paulo   –  A   minha   orientadora   pediu   para   que   eu   parasse   de   procurá­lo. 
Também disse que eu deveria passar a entrar na escola pela secretaria, subir para a 
classe   depois   que   os   outros   alunos   já   tivessem   subido   e   que   não   poderia   ir   à 
cantina. Ela chegou a dizer que os pais dos meninos mais novos poderiam ficar com 
medo que eu fosse abusar deles no banheiro da escola. Ela também chamou os 
meus   pais   e   contou   tudo   a   eles   e   recomendou   que   eu   fizesse   terapia.   Ela   me 
considera um problema, e a escola não quer problemas.
Folha – E o que você fez?
Paulo – Fui fazer terapia. Acho que é bom até para eu me conhecer melhor e 
aprender a lidar com toda essa situação. Mas acho que, mesmo que quisesse, não 
conseguiria deixar de gostar dele. Algumas vezes, liguei para a casa dele e disse 
que gostava dele, mas ele nunca disse claramente que não gostava de mim. Eu 
acho que tenho o direito de expressar o meu amor por ele. Acho que isso é algo que 
a   gente   deve   resolver   entre   a   gente,   sem   a   interferência   da   escola.   Quanto   aos 
outros alunos, disse que eu não sou um maníaco, não vou atacar nenhuma criança.
Folha – O que você acha que a escola deveria fazer nesse caso?
Paulo – Acho que eles deveriam conversar comigo, mas não tirar nossa liber­
dade. A posição da escola deve ser de orientar, não de expulsar. E, se eu fosse uma 
menina, a mãe dele (do outro garoto) estaria feliz, a escola iria proteger a situação. A 
escola, como educadora, deveria fazer com que os dois fossem respeitados e prote­
gidos. Eles deveriam agir em cima de quem goza com a cara dos outros, não de 
mim e do garoto que eu amo.
Folha – O que você pretende fazer para resolver o problema?
Paulo – Meus pais não querem levar isso muito longe, não querem se expor. 
Meu pai acha que a gente teria de ter dinheiro para fazer alguma coisa.
Folha – Você se sente discriminado pelos colegas?
Paulo –  Há vários alunos que dizem: “Você vai morrer”. Há preconceito da 
parte de alguns, a maioria não me aceita, mas muitos me respeitam.
Folha – Você gostaria de permanecer na escola, mesmo achando que há 
preconceito contra você por parte da direção?
Paulo – Acontece que eu gosto da minha escola, dos meus amigos e sou um 
bom aluno. Se eu for para outro lugar, vou ter de me adaptar. Não é que eu tenha 
medo, mas sempre penso: “Como os alunos de uma nova escola iriam me olhar?”. 
Eu quero continuar, apesar de tudo o que está acontecendo. Quero fazer algo para 
mudar a mentalidade da escola, que não gosta de tocar nesse assunto, assim como 
em outros, como drogas e sexualidade. Tudo o que provoque o senso crítico dos 
alunos é sempre evitado.
Texto argumentativo: escrita e cidadania 97

Folha – Quando um aluno dessa escola pode ser expulso?
Diretor – Quando ele não se adapta às normas da escola, os pais são avisados, 
depois pode haver um conselho de classe. Tentamos evitar o máximo possível a expul­
são porque é uma marca que o aluno leva para o resto da vida.
Folha – O Folhateen recebeu a carta de um aluno, Paulo, que diz que vai ser 
expulso dessa escola porque é homossexual.
Diretor – Ele é bonzinho, inclusive é assumido. O problema é que o outro aluno 
está sendo gozado. Esse aluno não cria problema nenhum, apenas há o constrangi­
mento do outro.
Folha – Ele causa algum tumulto na escola?
Diretor – Ele me parece que tem boas notas, mas cria um pouco de gozação por 
parte dos colegas.
Folha – Por que ele seria expulso, então?
Diretor – No ano que vem ele iria para o mesmo prédio (do outro garoto), eles se 
encontrariam no recreio, e haveria aquela gozação dos outros colegas. O problema é 
por aí. Se ele fosse assumido, mas ficasse no seu cantinho, não haveria problema. O 
problema é a gozação com a vítima, que se sente muito mal. Não é propriamente pelo 
fato de ser homossexual. Mas isso (a expulsão) vai ser decidido no conselho de classe 
no final do ano.
Folha – Segundo ele, as orientadoras da escola disseram que alguns pais 
teriam medo de que ele assediasse crianças.
Diretor – Disso eu não tenho conhecimento.
Folha – Há alguma forma de essa decisão mudar?
Diretor –  Não está decidido. Geralmente, se os orientadores apresentam todos 
esses fatos, os professores (do conselho de classe) seguem mais ou menos a orien­
tação dos orientadores.
Folha – A escola pode estar sendo preconceituosa?
Diretor – Não sei, aqui não tem muito disso. O nível é alto, os alunos vêm mais 
para estudar, não são alunos que vêm criar problemas.
Folha – Mas, se fosse uma menina, aconteceria o mesmo?
Diretor –  Meninos e meninas apaixonados há centenas. Isso é o pão nosso de 
cada dia. O nosso lema é, dentro da escola, amizade, muita amizade, e apenas ami­
zade.
Folha – Esses garotos que estão fazendo gozações estão sendo amigos?
Diretor – A gente não é dono da cabeça de cada aluno. Entre alunos dessa ida­
de, gozação, essas coisas, são normais. Não sei até que ponto (a gozação) é muito 
acentuada. Apenas o que ouvi falar, via orientadoras, é que seria um pouco perigoso ele 
ir para o colegial junto com o outro.
Folha – Ele está sendo ameaçado de ser mandado embora da escola pelo 
fato de ter declarado que gosta de outro menino?
Diretor – Sim, claro. Para não ter de ser expulso, o que seria ruim para ele, o ide­
al seria que os pais decidissem retirá­lo da escola, para evitar o constrangimento de o 
conselho de classe decidir.
Folha – Então a solução não seria mandar o outro menino embora da esco­
la?
Diretor – O outro é a vítima, um menino perfeitamente normal.
Folha – O senhor acha que o Paulo não é normal?
Diretor – A homossexualidade é considerada uma anormalidade que precisa ser 
respeitada, isso, sim. Ele não tem culpa nenhuma. Ele nem gostaria de ser assim. Que 
culpa   ele   tem?   Mas   normal,   normal...   Como   diz   a   Bíblia,   Deus   criou   o   homem   e   a 
mulher, não criou um intermédio entre eles.
Folha – O senhor não acha que a expulsão seria traumática para ele?
Diretor – Acho que sim, mas nós temos também que ver o conjunto do colégio.
Folha – Não haveria outro jeito de solucionar o caso?
Diretor – Não sei. O conselho de classe é que vai decidir.

P ro p o sta n º 2

O terceiro setor da economia Público e da comunidade em geral


reúne ações de entidades diversas – pelo efeito do trabalho realizado nos
ONGs, instituições filantrópicas, mais diversos setores – educação,
fundações, entre outras –, assim saúde, meio ambiente etc.
como o trabalho individual ou em Após a leitura da coletânea,
grupo, sem fins lucrativos, realizado, posicione-se em um texto
em muitos casos, através de volun- dissertativo-argumentativo,
tários. acerca do assunto, avaliando a
Tais atividades vêm eficiência/não-eficiência do
despertando o interesse do Poder terceiro setor nos aspectos
Texto argumentativo: escrita e cidadania 99

econômicos, sociais e políticos contidas na coletânea, você poderá


de nossa sociedade. utilizar outras que julgar adequadas
Além das informações ao tema.

Terceiro setor: nova utopia social?

O   terceiro   setor   congrega   organizações   sem   fins 


lucrativos, cujas receitas podem ser geradas em suas atividades 
operacionais (auto­sustentação), mas, em sua grande maioria, 
se   originam   de   doações,   feitas   por   particulares,   pelo   setor 
privado e pelo Governo.
Por essas características, os estudiosos do setor estão 
substituindo   a   terminologia   “organizações   não­lucrativas”   por 
uma designação mais ampla. Elas hoje são categorizadas como 
organizações da sociedade civil (OSCs).

Longe de ser uma utopia, o terceiro  vem   apresentando   taxas   surpreendentes 


setor é uma surpreendente e vibrante rea­ de criação de novos postos de trabalho.
lidade  nas   economias   modernas.   Um  es­ A conclusão a que se chega é que, 
tudo comparativo entre sete países (Esta­ no desenho da sociedade moderna, o ter­
dos   Unidos,   Japão,   França,   Alemanha,  ceiro setor aparece como que criando um 
Reino   Unido,   Itália   e   Hungria),   realizado  tripé sobre o qual os sistemas econômicos 
pela Johns Hopkins University, revelou que  se apoiarão.
a dimensão do terceiro setor nessas eco­ Nesse   redesenho   da   sociedade, 
nomias desenvolvidas é bastante significa­ esse tripé, formado por Governo, setor pri­
tiva, atingindo em média 3,5% do PIB. vado e terceiro setor (ou setor social), ofe­
Mas é na geração de empregos que  rece os meios para trabalharmos pela di­
ele   ganha   importância,   tendo   em   vista   a  minuição   das   desigualdades   sociais   e 
catástrofe que a terceira revolução indus­ econômicas, a fim de construir uma socie­
trial tem causado no nível de emprego em  dade mais justa. (Folha de São Paulo)
todos os países. Enquanto os outros dois 
Luiz Carlos Merege
setores,   Governo   e   privado,   vêm   prati­ Professor titular da Fundação Getúlio Vargas (SP) e 
cando um processo de exclusão sem pre­ coordenador do Centro de Estudos do Terceiro Setor 
(CETS).
cedentes de trabalhadores, o terceiro setor 

Terceiro Setor

O que é?
Pode ser definido como o conjunto de atividades das organizações da sociedade 
civil, portanto, das organizações criadas por iniciativas privadas de cidadãos, com o ob­
jetivo de prestação de serviços ao público (saúde, educação, cultura, habitação, direitos 
civis, desenvolvimento do ser humano, proteção do meio ambiente). Costuma­se dizer 
que não têm fins lucrativos, muito embora seja melhor defini­las como organizações em 
que o possível lucro é reaplicado na manutenção de suas atividades ou distribuído entre 
seus colaboradores, jamais sendo apropriado por um dono ou proprietário. Alardeado 
como um novo setor da economia na mais franca expansão, pode ser o equilíbrio bus­
cado entre as atividades capitalistas – por gerar empregos – e as de assistência social – 
por não ter o lucro como meta principal, mas o bem­estar da sociedade, neste proble­
mático final de milênio para as economias tradicionais.

O b s . :   O s   d o i s   p r i m e i r o s   f r a g m e n t o s   fo r a m   e x t r a í d o s   d e   D I M E N S T E I N ,   G i l b e r t o .  A p r e n d i z   d o  
f u t u r o : c id a d a n i a  h o j e  e  a m a n h ã . S ã o  P a u l o : Á t i c a ,  1 9 9 8 .   p . 8 2  e  8 3 .

As organizações não- Um   segmento   importante   dessas 


governamentais brasileiras organizações,   associadas   à   Associação 
e o Fórum Social Mundial Brasileira   de   Organizações   Não­Governa­
2001 mentais   –   ABONG,   é   identificado   por   sua 
postura crítica frente aos fenômenos sociais. 
Atuam com o objetivo de superar as diver­
As   organizações   não­governamen­ sas formas de desigualdades, pelo reconhe­
tais   –   ONGs   vêm   ganhando   visibilidade   e  cimento e respeito às diferenças individuais 
reconhecimento públicos em todo o mundo.  e culturais, ou, ainda, por defender um des­
No Brasil, desde a Conferência Mundial do  envolvimento sustentável que não condene 
Meio   Ambiente,   de   1992,   o   trabalho   das  a existência e a diversidade da vida e dos 
ONGs passou a ser mais conhecido e dis­ recursos   ambientais   para   as   futuras   gera­
cutido pela população e a mídia. ções.   As   ONGs   denunciam   violações   dos 
Fenômeno   recente,   essas   organi­ direitos humanos, trabalham na construção 
zações sem fins lucrativos vêm se constitu­ dos direitos de cidadania, atuam no desen­
indo desde a década de 1970 com objetivos,  volvimento   de   práticas   de   intervenção   so­
tamanhos  e   modelos  diversos.   São   muitas  cial.
as ONGs, difíceis de serem contadas. Além  Pela natureza do seu trabalho, tais 
do mais, por ser um conceito amplo, pouco  organizações   não   se   pretendem   como 
preciso, ONG abarca um conjunto de insti­ substitutas   da   ação   do   Poder   Público.   As 
tuições muito diferentes nas suas finalidades  ONGs   não   são   universais   nos   seus   servi­
e origem. ços,   não   têm   representatividade   pública, 
Texto argumentativo: escrita e cidadania 10

não   têm   institucionalidade   nem   recursos  a   partir   das   nossas   experiências,   que 
suficientes para tal fim. Sua missão é identi­ apontem para um desenvolvimento sem ex­
ficar   e   analisar   as   causas   dos   problemas  clusões e com justiça social. Vimos mostrar 
sociais,   apontar   soluções   construindo   mo­ que   acreditamos   que   um   outro   mundo   é 
delos   de   intervenção,   ajudar   a   envolver   a  possível e que temos um papel importante 
população na luta cidadã. Ao mesmo tempo,  na sua construção.
não   são   intermediárias   ou   substitutas   de 
movimentos   sociais,   sindicais   ou   qualquer  Associação   Brasileira   de   Organizações   Não­
outra forma de ação coletiva da sociedade  Governamentais
civil. Ao contrário, são suportes, apoios, es­ www.abong.org.br – telefone: (11) 3237­2122
tímulos destes movimentos. Não substituem  Rua General Jardim, 660 – 7º ­ Vila Buarque – 
os partidos políticos. Ajudam de forma com­ 01223­010 – são Paulo – SP
plementar, na medida em que buscam, com  A ABONG foi fundada em 1991 por um grupo 
seu trabalho, sensibilizar a população para  de   ONGs   que   decidiu   buscar   a   intervenção 
que reconheça e lute por seus direitos. social agindo coletivamente. Nestes 10 anos de 
As associadas da ABONG se sen­ trabalho, o grupo inicial ganhou muitas adesões 
tem felizes em estar com outras ONGs no  e hoje são cerca de 270 associadas.

Fórum   Social   Mundial.   Junto   com   movi­


(material distribuído aos participantes do Fórum 
mentos   sociais   e   sindicais,   intelectuais, 
Social Mundial, realizado em POA, em janeiro de 
parlamentares,   empresários   e   cidadãos   do  2001)
mundo vamos discutir e propor alternativas, 
A  fila n tr o p ia  n o  B r a s il
já  m o v im e n ta  1 2  b ilh õ e s " ( ...)  Q u e m   n ã o   te m   r e c u r s o s   d o a   s e u  
d e   r e a i s   p o r   a n o   e  g a n h a t e m p o .  C e r c a   d e   1 6 %   d a s   p e s s o a s   c o m   m a i s   d e  
a   a d e s ã o   d e   r i c o s , f a m o s o s 1 8   a n o s   s ã o   v o lu n tá r ia s   d e   p r o je to s   s o c ia is   e m  
e  e m p r e s a s t o d o  o  p a í s . O u  s e j a ,  u m a  m a s s a  d e  1 2  m i lh õ e s  d e  
b r a s i l e i r o s   t r a b a lh a   d e   g r a ç a   p a r a   a j u d a r   o   p r ó x i ­
m o .  ' T e m   m a i s   j o v e n s   q u e r e n d o   s e   e n g a ja r   e m  
É  m it o  q u e  n o  B r a s il  s e  d o e  p o u c o   p r o je to s   d e   a ju d a   d o   q u e   a s   O N G s   s ã o   c a p a z e s  
e m  c o m p a ra ç ã o  c o m  o u tro s  p a í­ d e   r e c r u t a r ' ,   a f ir m a   o   c o n s u l t o r   S t e p h e n   K a n i t z ,  
s e s . A b a i x o ,  o  p e r c e n t u a l d e  d o a ­
ç ã o  d e  in d iv í d u o s  e  e m p r e s a s  n o  
u m  d o s  m a i o r e s   e s p e c i a l is t a s  e m  p r o je t o s   p a r a   o  
t o t a l  a r r e c a d a d o   p o r   o r g a n iz a ­ s e t o r. A  s o l i d a r i e d a d e  d o  p o v o  b r a s i l e i r o  fo i  c a p t a ­
ç õ e s  s e m  f in s  lu c r a t iv o s . d a  n a  p e s q u i s a  d a  J o h n s  H o p k i n s  e  d o  I s e r. O  t r a ­
11% b a l h o ,  q u e  s e r á  p u b l i c a d o  n o  m ê s  q u e  v e m ,  é  u m a  
10%
a n á l i s e   c o m p a r a t i v a   d e   2 2   p a í s e s ,   i n c l u in d o   o s  
m a i s  r i c o s ,  s o b r e  o  p a p e l  e  o  d e s e m p e n h o  d a s  o r ­
10%
g a n i z a ç õ e s   s e m   f i n s   l u c r a t i v o s .  O   B r a s i l  n ã o   fa z  
19% fe i o :  a q u i   s e   d o a   m a i s   q u e   a   m é d ia   d o s   p a í s e s  
F o n t e :  P e s q u is a   C o m p a r a t iv a   J o h n s   H o p k i n s ­ I s e r
p e s q u i s a d o s  ( . . . )
( . . . )  O  q u e  f i c a  p a t e n t e  é  q u e  o  B r a s i l  e s t á  
m u d a n d o   p a r a   m e l h o r   n e s s e   c a m p o .  O   g o v e r n o  
n ã o   t e m   s i d o   c a p a z   d e   d a r   c o n t a   d e   t o d a s  a s   d e ­
m a n d a s   s o c ia i s   e x i s t e n t e s .  A s   p e s s o a s   i n c o m o ­
" N u m  m u n d o   c a d a   v e z   m a is   d a d a s  c o m  a  p o b r e z a  e s t ã o  e s p e r a n d o  m e n o s  d o  
c o n t u r b a d o ,   c r u e l   e   d e s i g u a l,   g o v e r n o   e   a r r e g a ç a n d o   a s   m a n g a s .  É   i s s o   q u e  
a   r e s p o n s a b ili d a d e   s o c ia l   é   v e m   fa z e n d o   c r e s c e r   e n o r m e m e n t e   o   n ú m e r o   d e  
u m a   q u e s t ã o   d e   s o b r e v iv ê n c i a   o r g a n i z a ç õ e s  s e m  f i n s  l u c r a t iv o s . 'O  t e r c e i r o  s e t o r  
p a r a   a s   p e s s o a s   e   o r g a n iz a ­ e s t á  n a  m o d a ',  a f i r m a   M il u  V il e l a ,  u m a   d a s  d o n a s  
ç õ e s ."  d o   B a n c o   I ta ú   e   m a n t e n e d o r a   d e   d o is   c e n t r o s  
F r a n c is c o  d e  A s s is  A z e v e d o    a s s i s t e n c i a i s .  E s p e r a ­ s e   q u e   a   m o d a   v e n h a   p a r a  
T im ó te o , M G f i c a r .”

(Veja, 27 de outubro, 1999)

P ro p o sta n º 3

Esperava-se que a alta Baseando-se nas informações


tecnologia, com suas novas formas abaixo, bem como no seu
de mecanização e informatização, conhecimento de mundo, redija uma
proporcionassem, no início do novo carta argumentativa destinada a
milênio, um largo espaço de tempo um dos autores dos dois primeiros
destinado ao lazer. No entanto, o que textos, apresentando argumentos
se percebe são posições polêmicas para convencê-lo de que está
quanto às relações de trabalho, na equivocado. Neste exercício de
atualidade e no futuro, e à busca por argumentação, você deverá
maior tempo livre aos trabalhadores.
Texto argumentativo: escrita e cidadania 10

discordar, portanto, das opiniões argumentativo no qual a contra-


desses autores. argumentação seja o processo
Ao assinar a carta, use básico da redação.
apenas as iniciais de seu nome. Você poderá utilizar outras
Uma outra possibilidade é a informações que julgar pertinentes.
criação de um texto dissertativo-

O s   t r ê s   p i la r e s   d o   t e m p o   li v r e   s e r ã o   a   s e n s u a lid a d e ,   a  c r ia t iv i d a d e   e   a   e s t é t ic a . 
O s   l u x o s   c a d a   v e z   m a is   r a r o s   c o n s i s t ir ã o   n o   s il ê n c io ,   n o   e s p a ç o ,   n a   p r i v a c id a d e .

No início do século 20, Freud publicou "A Interpretação dos sonhos", Taylor 

FSP, 22/04/01
inventou o "Scientific Management", Einstein anunciou a teoria da relatividade, 
Picasso expôs "Les Demoiselles d'Avignon", Stravinski compôs "A Sagração da 
Primavera".

Cada área sofreu uma profunda revo­ cansaço   e   tempo   livre;   de   qualquer   ma­


lução   da   qual   desabrocharia   a   sociedade  neira o trabalho ocupa apenas um décimo 
pós­industrial na qual temos agora a sorte  do nosso tempo de vida.
de   viver.   Agora   as   descobertas   surgem  Isso significa que, enquanto até agora 
como   cascata,   e   não   passa   ano   em   que  a   família   e   a   escola   se   preocuparam   em 
não   se   realizem   grandes   progressos.   Se  preparar os jovens para o trabalho, no fu­
pensarmos   que   a   potência   dos   micropro­ turo, deverão se preocupar em prepará­los 
cessadores, que são a base de cada tec­ para o tempo livre. O lazer é uma profissão 
nologia, dobra a cada 18 meses... e   uma   arte  não   menos   importante  que   o 
O trabalho é investido por cinco gran­ trabalho,   e   a   qualidade   da   nossa   vida 
des ondas de transformação: o progresso  depende sobretudo da qualidade do nosso 
tecnológico,   o   desenvolvimento   organiza­ lazer.
cional, a globalização, a escolarização e os  Porém   os   países   anglo­saxões   e   o 
meios de comunicação. Japão,   sendo   hiperindustrializados 
Disso se deduz que todas as nossas  economicamente   e   psicologicamente, 
atividades se intelectualizam, que desapa­ aprenderam a organizar e viver o trabalho, 
recem  muitas  atribuições  cansativas  e  te­ mas desaprenderam a organizar e viver o 
diosas,   que   somos   capazes   de   produzir  tempo livre. Por outro lado, os países lati­
sempre   mais   bens   e   mais   serviços   com  nos (entre eles o Brasil), não tendo nunca 
cada vez menos contribuição específica de  assimilado   profundamente   o   modelo   in­
trabalho humano. dustrial, conservam uma grande vitalidade 
Acima   de   tudo   resulta   numa   dificul­ extra­trabalho: sensualidade, comunicabili­
dade maior em discernir trabalho, diversão  dade,   hospitalidade,   convivência.   Estão, 
e   aprendizado;   caem   as   barreiras   entre  portanto, mais preparados para viver com 
alegria a sociedade do tempo livre que nos  Borges  acrescentou que existe também o 
aguarda. inferno:   e   consiste   em   não   percebermos 
Os três pilares do tempo livre serão a  que vivemos em um paraíso. Tudo está em 
sensualidade,   a   criatividade   e   a   estética.  compreender a condição feliz à qual fomos 
Os luxos cada vez mais raros e preciosos  destinados,   nascendo   e   tomando   consci­
consistirão no silêncio, no espaço, na pri­ ência de que a felicidade consiste em pro­
vacidade,   na   segurança,   na   alegria,   na  curá­la.
beleza: todos pressupostos imprescindíveis 
para   satisfazer   as   necessidades   de 
Domenico de Masi, sociólogo italiano e autor do livro 
introspecção, amizade, amor, lazer e con­
Desenvolvimento   sem   Trabalho  (Ed.   Esfera),   entre 
vivência:   isto   é,   as   necessidades   emer­ outros, assina esta coluna toda segunda semana do 
gentes. mês.
Em   um   conto   belíssimo,   intitulado   "A 
Folha de São Paulo, São Paulo, 11 de maio de 2000. 
Rosa de Paracelso", Borges sustenta que o 
Folhaequilíbrio.
paraíso   existe:   é   a   vida   aqui   na   Terra. 

(...) P e s q u i s a  r e a li z a d a  e m  3 0  p a í s e s  r e v e la  q u e * ,  e n t r e  
O   p r o b l e m a  d o   m u n d o  n ã o  é   e c o ­ t e r   m a i s   d i n h e i r o   e   m a i s   t e m p o   li v r e ,   a s   p e s s o a s   p r e fe ­
n ô m i c o ,   é   d e   e s t il o   d e  v id a .  P r e c is a m o s   e n ­ r e m   a   r e n d a .  O   B r a s i l,   c o m   5 9 %   o p t a n d o   p e l o   d i n h e ir o ,  
c o n t r a r   u m   je i t o   d e  c o n v e n c e r   o s   p o v o s   d o s   o c u p a   o   8 º   l u g a r   n a   l i s t a .  O   p r im e ir o   p o s t o   é   d a   R ú s s i a  
p a í s e s  d e s e n v o l v id o s  a  r e l a x a r ,  a  c u r t ir  a  v i­ ( 7 1 % ) ,  s e g u i d a  d a  F r a n ç a  ( 6 3 % ) . O s  n o r t e ­ a m e r i c a n o s ,  
d a . P o d e r í a m o s ,  p o r  e x e m p l o ,  m a n d a r  fa z e r   h e r d e ir o s  e s p ir i t u a i s  d o  " t e m p o  é  d i n h e i r o " ,  f i c a m  n a  1 1 ª  
u n s   a d e s iv o s   p a r a   o s   c a r r o s   d e le s   c o m   p o s iç ã o . N o  o u t r o  e x t r e m o ,  o  d o s  q u e  e s c o lh e m  o  t e m p o  
f r a s e s   c o m o   " T a k e   it   e a s y " ,   " C u r t a   a   v id a " ,   li v r e ,   e s t ã o   a   Í n d ia   e   a s   F il ip i n a s   ( 6 6 % ) ,   s e g u i d a s   d o  
" C a r p e   d i e m " ,   e n f im ,   " R e la x " .  P o v o s   c o m o   V i e t n ã  ( 5 9 % ) .
o s   a m e r i c a n o s   e   o s   ja p o n e s e s   p r e c is a m   N ã o   p a r e c e   h a v e r   m u i t a   r e l a ç ã o   e n t r e   a   q u a l id a d e  
a p r e n d e r   a   t r a b a lh a r   m e n o s ,   a   c u id a r   m a i s   d e  v id a   p r o p o r c i o n a d a  p e lo  p a í s   e  a  p r e fe r ê n c i a   d e   s u a  
d e  s u a s  fa m í l i a s  e  a  t i r a r  m a i s  f é r ia s ,  d e  p r e ­ p o p u la ç ã o . O  C a n a d á ,  p r i m e i r o  c o l o c a d o  n o  I D H  ( Í n d ic e  
fe r ê n c ia   e m   p r a ia s   b r a s il e i r a s .  T e m   g e n t e   d e   D e s e n v o lv im e n to   H u m a n o ) ,  é  o   5 º   e n tr e   a s  n a ç õ e s  
q u e  a c h a  o  m á x i m o  t u d o  o  q u e  v e m  d o s  E s ­ q u e   o p t a m   p e la   r e n d a .  A q u i  p a r e c e m   o p e r a r   m a is   n o ­
t a d o s  U n i d o s ,  e s p e c ia lm e n t e  n a  á r e a  d a  a d ­ ç õ e s  f il o s ó f i c a s  e  c u lt u r a i s . A  Í n d ia ,  c a m p e ã  d o  t e m p o  li ­
m i n i s t r a ç ã o  e  d e   n e g ó c i o s .  E u   a c h o   o  m á x i­ v r e ,   é   o   1 3 8 º   I D H ,   m a s   o   h in d u í s m o ,   r e li g iã o   p r e d o m i ­
m o   q u e   o   b r a s i le i r o   p o n h a   a   fa m í l ia   e m   p r i ­ n a n t e ,   v a lo r iz a   m a i s   o   t e m p o   d o   q u e   o   d i n h e ir o ,   fe n ô ­
m e ir o   l u g a r.  Q u e   o   B r a s il  t i r e   f é r i a s   e m   d e ­ m e n o  q u e ,  e m  g r a u s  v a r ia d o s ,  o c o r r e  e m  t o d a  a  Á s i a ,  a  
z e m b r o   e  s ó  r e t o m e   o   r itm o  d e p o is   d o   C a r ­ r e g iã o  o n d e  a  o p ç ã o  p e lo  l a z e r  é  m a is  fo r t e .
n a v a l. Q u e  o  p a í s  i n t e i r o  p a r e  d u r a n t e  a  C o ­ (...)
p a   d o   m u n d o .  Q u e   t o d a   c r ia n ç a   b r a s il e i r a   A  p r ó p r i a  b u s c a  d e  m e lh o r ia s  t e c n o ló g ic a s  t i n h a  c o ­
s a ib a   d a n ç a r   e   b a t u c a r.  E s t a m o s   m il   v e z e s   m o  f i m  p r e c í p u o  p o u p a r  o  h o m e m  d o  t r a b a lh o . M a s  a l g o  
m a is  b e m  p r e p a r a d o s  p a r a  a  e r a  d o  r o b ô  d o   o c o r r e u  n o  m e i o  d o  c a m in h o  e  o  t r a b a l h o ,  c a d a  v e z  m a ­
q u e  o s  a n g lo ­ s a x õ e s  e  o s  o r ie n t a i s . is ,  i n v a d e  a s  o u t r a s  e s fe r a s  d a  v id a  d a s  p e s s o a s . D e c i d i ­
d a m e n t e ,  a  h u m a n id a d e  p a s s o u  p o r  u m a  t r a n s fo r m a ç ã o  
( S t e p h e n   K a n it z ,   V e ja ) p r o f u n d a  n e s t e s  ú l t im o s  s é c u l o s .
*   O   e d i t o r ia l   a l u d e   à   p e s q u i s a   d o   i n s t i t u t o   n o r t e ­ a m e r i c a n o   R o p e r  
S t a r c h  W o r ld ­ W i l d ,  c o o r d e n a d a  p o r  T o m  M i l le r  e  d i v u lg a d a  p e l a   F o lh a ,  
e m  0 7 / 0 6 / 0 0 . ( F o lh a  d e  S ã o  P a u l o ,  9 / 6 / 0 0 )
Texto argumentativo: escrita e cidadania 10

" ( . . . )  C o m o  é  q u e  u m  s é c u lo  c h e g a  à  m e t a d e  c e le b r a n d o  c o m o  c o n q u i s t a  a  l u t a  d e  s i n ­
d i c a t o s  n o  m u n d o  i n t e i r o  p a r a  r e d u z i r  j o r n a d a s  fa t i g a n t e s  e  t e r m i n a  c o m  b o a  p a r t e  d a  p o p u l a ç ã o  
t r a b a l h a n d o  c a d a  v e z  m a is ?
O  m o t o r  é  o  d e s e m p r e g o  ­   A  e x p l i c a ç ã o  d o s  e s p e c i a l is t a s ,  v e j a m  s ó ,  é  a  d i m i n u i ç ã o  
c r e s c e n t e   d o   e m p r e g o   c o n fo r t á v e l   d o   p a s s a d o ,   a q u e l e   q u e   d u r a v a   p o r   t o d a   a   v i d a   ú t il   e   e x i g i a  
p o u c o  d o  f u n c i o n á r i o . N u m a  s im p l i f i c a ç ã o  d e  u m  p r o c e s s o  i n t r i n c a d o ,  a  e c o n o m i a  g lo b a li z a d a  d a  
ú l t i m a  d é c a d a ,  p r i n c i p a l m e n t e ,  p ô s  c o n t r a  a  p a r e d e  e m p r e s a s  l o t a d a s  d e  m ã o ­ d e ­ o b r a  h a b i t u a d a  
a o  p a d r ã o  o i t o ­ à s ­ c i n c o . L a n ç a d a s  n u m a  c o m p e t i ç ã o  fe r o z ,  a d o t a r a m  a  p r á t ic a  d o  m e l h o r  r e s u l ­
t a d o   a o   m e n o r   c u s t o   p o s s í v e l .  I n s t a u r a r a m ­ s e   o   d o w n s i z in g ,   a   t e r c e ir i z a ç ã o ,   a   r e e n g e n h a r ia ,    
p r o c e s s o s   q u e   l e v a m   à   r e d u ç ã o   d e   p e s s o a l .  Q u e m   f i c o u   t e v e   s u a s   o b r i g a ç õ e s   a u m e n t a d a s   e  
p a s s o u   a   t r a b a l h a r   m u it o   m a is ,   n ã o   s ó   p a r a   d a r   c o n t a   d o   r e c a d o   c o m o   p a r a   n ã o   p e r d e r,   e l e  
t a m b é m ,   a   v a g a .  Q u e m   s a i u   p r o c u r o u   a l t e r n a t i v a s   m e n o s   r e n t á v e i s   e   m a i s   c a n s a t iv a s ,   c o m o  
o c o r r e u  n o  B r a s i l  n a  b u s c a  d e  b r e c h a s  n o  m e r c a d o  i n fo r m a l . ( . . . )
O u t r o  s e t o r  q u e  m a n t é m  l o n g a s  j o r n a d a s ,  s e m  q u e  i s s o  r e f l i t a  p u j a n ç a  e c o n ô m ic a ,  é  o  
i n fo r m a l . ' O  t a x is t a ,  o  e n c a n a d o r,  a q u e l e  s u j e i t o  q u e  t r a b a l h a  p o r  c o n t a  p r ó p r ia ,  t o d o s  d e v e m  e s ­
t a r  d e d i c a n d o  o  d o b r o  d e  t e m p o  a o  b a t e n t e ',  a n a li s a  J o s é  P a u l o  C h a h a d ,  t a m b é m  e c o n o m i s t a  e  
p r o fe s s o r  d a  U S P . ‘ E l e s  p r e c i s a m  f ic a r  m u i t o  m a i s  h o r a s  d is p o n í v e i s ,  à  e s p e r a  d e  u m  c li e n t e ,  p a r a  
m a n t e r  o  n í v e l d e  r e n d a  d e  a n t i g a m e n t e . S e  h o u v e s s e  g e n t e  b a t e n d o  à  s u a  p o r t a ,  e l e s  p o d e r ia m  
t e r  u m  h o r á r i o  f i x o ,  t e r  a  m e s m a  r e n d a  e  s ó  t r a b a l h a r ia m  m a i s  s e  q u i s e s s e m  u m  e x t r a .’ ( . . . )
N e s s a  n o v a  c u l t u r a  d e  t r a b a l h a r  m u i t o ,  g a n h a r  m u i t o  e  s u b i r  m u i t o  n a  v id a ,  o  d e s e j o  d e  
c o n s u m o  é  o u t r o  fa t o r  p r e p o n d e r a n t e . A s  p e s s o a s  e s t ã o  t r a b a l h a n d o  m a i s ,  t a m b é m ,  p a r a  p o d e r  
c o m p r a r  m a i s . E m  1 9 9 1 ,  a  e c o n o m i s t a  J u l i e t  S c h o r,  d e  H a r v a r d ,  e s c r e v e u  u m  l i v r o  q u e  s e  t o r n o u  
u m a  e s p é c i e  d e  b í b l i a  d o  a s s u n t o .
( . . . )  N e le ,  S c h o r  c u l p a  a  t e le v i s ã o ,  p r i n c i p a l m e n t e ,  p o r  i m p o r  v a l o r e s  e  v e n d e r  s í m b o l o s  
d e  s t a t u s  q u e  i n f l u e n c i a m  o  a m e r i c a n o  a  s e r  u m  p o v o  q u e  g o s t a  d e  g a s t a r,  n ã o  d e  p o u p a r,    u m a  
d e f i n i ç ã o   q u e   c a b e ,   s e m   t i r a r   n e m   p ô r,   n a s   f r o n t e i r a s   d o   B r a s i l   q u e   t e m   d i n h e i r o   p a r a   ir   à s  
c o m p r a s . ( . . . ) ”
( R e v i s t a  V e ja ,   0 5 / 0 4 / 2 0 0 0 )

P ro p o sta n º 4

O jornal Folha de São Paulo, Abaixo, você encontrará tre-


em sua edição de 22/04/01, publicou chos/textos desse suplemento.
um suplemento especial intitulado 10 Depois de lê-los, selecione as idéias
mandamentos para a carreira, que julgar adequadas e acrescente
contendo dez artigos escritos por outras, se for necessário, e produza
especialistas os quais abordam um texto dissertativo-
temas como as necessidades do argumentativo em que seja
mercado de trabalho atual, a abordado o tema “O perfil do
formação dos novos profissionais, os profissional no novo milênio:
pré-requisitos para se obter sucesso atualidade e perspectivas
e realização na carreira. futuras”.
 Trabalhador­empresa­comunidade

D
esesperados  vez   mais,   ele   vale   mais  Ao   se   abrirem   para 
atrás de mão­de­ dinheiro. uma   visão   mais   complexa 
obra   qualificada,  de quem trabalha (ser que 
Diante de tanta com­
executivos   dos   setores   de  pensa,   tem   idéia,   inter­
petitividade,   seria   normal 
tecnologia da informação e  age),   as   empresas   são 
supor   que   o   trabalho   só 
telecomunicações,   no  obrigadas a absorver tam­
iria piorar as condições de 
Brasil, vêem­se forçados a  bém   a   complexidade   dos 
vida   dos   trabalhadores, 
oferecer   salários   altos   e  seres humanos, aceitando­
submetidos   a   uma   insu­
benefícios   indiretos,   mas,  os   como   pais,   maridos, 
portável pressão. Errado – 
mesmo   assim,   encontram  filhos.
e esse erro é um dos fatos 
dificuldades   de   preencher 
notáveis   do   capitalismo  Cresce  o  número de 
as vagas.
contemporâneo. empresas   que   oferecem 
Nos   setores   de   alta  períodos   sabáticos,   tele­
Por   puro   pragma­
tecnologia, há uma discre­ trabalho,   horário   flexível, 
tismo,   as   empresas   são 
pância   entre   a   formação  programas   psicológicos, 
obrigadas   a   ser   mais   ge­
educacional   dos   trabalha­ estímulo   a   atividades   físi­
nerosas   para   atrair   e 
dores   e   as   vagas   ofereci­ cas: busca­se fazer do lu­
manter   seu   mais   impor­
das,   reflexo   de   um   ciclo  gar de trabalho quase uma 
tante   patrimônio:   o   capital 
econômico   ancorado   no  extensão do lar. Tratar bem 
humano. Passa a ser deci­
que   se   convencionou  a   mão­de­obra   virou   tam­
siva   a   valorização   da 
chamar   de   “era   da   infor­ bém   questão   de   market­
transmissão   do   conheci­
mação”. ing,   mais   especificamente 
mento,   numa   aposta   nos 
de marketing social.
Em poucas palavras,  intelectos. A disseminação 
nunca   se   produziram  das   universidades   corpo­ O   Brasil   assiste 
tantos dados em tão pouco  rativas,   dragando   milhões  agora   à   onda   da   respon­
tempo   e,   mais   importante  de   reais   para   treinamento  sabilidade   social   nas   em­
ainda,   nunca   foram   trans­ de pessoal, mostra que, na  presas,   cobradas   sobre 
mitidos com tanta rapidez:  prática, o ambiente de tra­ como cuidam de seus em­
o novo ritmo vai definindo  balho   se   confunde   com   o  pregados   e   como   tentam 
quem   vive,   sobrevive   ou  ambiente   escolar.  melhorar sua comunidade, 
simplesmente   morre   nos  Aprende­se   fazendo,   faz­ com   ações   de   cultura, 
negócios.   Cada   vez   mais,  se aprendendo. educação, saúde ou ambi­
o  tempo  é menor  e, cada  ente.
Texto argumentativo: escrita e cidadania 10

A   confluência   de   to­ Quem   preferir   ficar  Gilberto Dimentein – Colunista, 


das   essas   tendências   –  fora   dessa   nova   relação  membro do Conselho Editorial 
da Folha e presidente da ONG 
valorizar   a   mão­de­obra   e  trabalhador ­ empresa ­ co­
Cidade Escola Aprendiz
mostrar um rosto solidário  munidade   está   tão   habili­
para  a   comunidade   –  é  o  tado   a   sobreviver   como 
estímulo,   bancado   pelas  aqueles   que,   avessos   à 
empresas,   para   que   os  modernidade, não queriam 
funcionários   exerçam   ati­ trocar as máquinas de es­
vidades voluntárias. crever pelo computador.

É preciso assumir duas novas responsabilidades

(...) mação.   É   irrelevante   se   o  fônica:   é   preciso   saber   o 


instrumento   para   obtê­la   é  que se procura.
O   foco   é   a   informa­
um  livro  ou  um  site.  Esses  (...)
ção.   Pelo   fato   de   que   a 
são meios para obter infor­
maior   transformação   é   a  Portanto, é importante 
mação, não fins.
transformação   na   informa­ fazer a si mesmo a seguinte 
ção.   A   mudança   não   está  Não   fico   impressio­ pergunta:   “De   quais   infor­
nos   instrumentos:   a   mu­ nado   com   as   informações  mações   eu   preciso   para 
dança   é   o   fato   de   a   infor­ que   meus   amigos   executi­ realizar   o   meu   trabalho?” 
mação   estar   acessível   a  vos   obtêm.   Pelo   contrário,  (...)
todos. E todos esperam por  fico deprimido. Quanto mais  Em   uma   sociedade   e 
isso. computadores   têm,   quanto  uma   economia   em   que   o 
mais   dados   obtêm,   menos  conhecimento   é   o   recurso 
Nossa atitude perante 
informação   de   fato   pos­ fundamental e mais caro, a 
a   informação   mudou   mais 
suem,   porque,   sem   meias  educação contínua é do que 
do  que  a  tecnologia  em  si, 
palavras, estão mal direcio­ nós mais precisamos.
talvez   pelo   aparecimento 
nados. Estão desorientados 
dos   “knowledge   workers”  Em um mundo de ha­
com   os   dados   que   seus 
como força de trabalho crí­ bilidades   como   foi  o  nosso 
computadores   produzem, 
tica. durante   milhares   de   anos, 
não   com   a   informação   de 
Se   nós   aprendemos  as   competências   mudavam 
que   necessitam.   O   compu­
algo na escola, é como ob­ muito   lentamente.   Sempre 
tador   é   como   a   lista   tele­
ter   informação.   E   aprende­ digo que meu nome, que é 
mos   a   depender   da   infor­ holandês,   significa   “impres­
sor”. Meus ancestrais foram  mais   importante   que   tere­ Uma   última   coisa   a 
tipógrafos em Amsterdã du­ mos   nos   próximos,   diga­ ressaltar é que você tem de 
rante 250 anos, do início do  mos, 30 anos. Isso está re­ assumir   duas   novas   res­
século 16 a meados do sé­ almente   começando.   Não  ponsabilidades.   Uma   é   a 
culo 18.  Durante  todo  esse  espere   que   as   universida­ responsabilidade   pela   in­
tempo,   não   tiveram   de  des   organizem   isso.   Você  formação.   Tanto   para   si 
aprender   nada.   Todas   as  tem   de   aprender   a   olhar  como para a empresa. E a 
habilidades   tipográficas   ne­ para si e para seu trabalho  outra   é   a   responsabilidade 
cessárias   já   haviam   sido  e perguntar: “Será que pre­ pelo   seu   próprio   aprendi­
desenvolvidas em 1510, nos  ciso  voltar  a  aprender  para  zado   contínuo.   Não   espere 
primeiros   50   anos   após   o  usufruir   os   benefícios   de  que alguém lhe diga do que 
primeiro   livro   impresso.  meus   pontos   fortes   e   mi­ precisa. É sua obrigação.
Novas habilidades só foram  nhas   competências?”   e   “O 
surgir no século 21. que   eu   preciso   aprender 
agora   que   essas   coisas  Peter   Drucker   –   Consultor   e 
No que diz respeito ao  professor   americano,   conside­
mudaram?”
conhecimento,   nem   preciso  rado   o   “pai   da   administração 
dizer.   As   coisas   mudam   a  De   que   modo   a   edu­ moderna”.
cada seis semanas, a cada  cação contínua e boa parte 
Especial   para   a  Folha  (trecho 
três meses, a cada ano. dela são algo que temos de  de   videoconferência   realizada 
incorporar em nossa vida e  em   agosto/2000,   cedido   pela 
A   educação   contínua 
em nosso trabalho? HSM,   promotora   de   evento   ­ 
será o setor de crescimento 
www.hsm.com.br).

 Mudanças e escolhas

(...) responsabilidade   por   sua  para   se   comunicar   com 


vida, suas escolhas e seu  eficácia,   para   ser   alguém 
A   liderança   centrada  desempenho. que   pode   ser   ensinado, 
em   princípios   é   a   chave  para construir  confiança  e 
Quando   você   conse­
para   desencadear   o   po­ ser confiável. Olhando es­
gue   fazê­lo,   desenvolve   a 
tencial   humano   individual.  sas   qualidades,   não   pa­
integridade e o caráter ne­
Cada   pessoa   da   força   de  rece que elas descrevem o 
cessários   para  se  adaptar 
trabalho   precisa   empreen­ funcionário ideal?
e   reagir   às   transforma­
der   uma   viagem   para   se  ções, para pensar de ma­ Uma forma de anali­
tornar   líder   por   opção   –  neira   criativa   e   encontrar  sar   as   habilidades   e   as 
uma pessoa que assume a  as   melhores   soluções,  competências   necessárias 
Texto argumentativo: escrita e cidadania 10

para a força de trabalho de  soas   para   buscar   situa­ (...)


hoje é usar a lista dos sete  ções   em   que   sempre   ha­
Qualquer pessoa que 
hábitos   delineados   em  verá   ganho   comum);   4. 
participa   da   força   de   tra­
meu   livro,   “The   Seven  comunicação  eficaz;   5. si­
balho  hoje   deve optar  por 
Habits   of   Highly   Effective  nergia   (possuir   as   habili­
ser   líder;   logo,   saiba   es­
People” (“Os Sete Hábitos  dades   necessárias   para 
colher o caminho que quer 
das Pessoas Muitos Efica­ trabalhar   em   equipe);   6. 
seguir.
zes”). respeito próprio; 7. “afiar o 
serrote”, que é a soma dos 
São eles: 1. liderança  Stephen Covey – Autor de  Os  
outros seis itens (é preciso 
própria (ser consciente de  Sete   Hábitos   das   Pessoas  
que   o   funcionário   aperfei­
que   você   é   responsável  Muito   Eficazes,   um   dos   maio­
çoe todos os hábitos, con­
sobre   você   mesmo);   2.  res bestsellers da área de car­
servando­se   aberto   a   no­ reiras nos EUA
possuir   senso   claro   de 
vas   oportunidades   e   à 
objetivo,   significado   e  Especial para a Folha.
possibilidade   de   ser   ensi­ Tradução de Clara Allain
rumo;   3.   adaptabilidade 
nado).
(trabalhar com outras pes­
R e fe rê n cia s b ib lio g rá fica s

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