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5 verdades necessárias sobre a Internet

5 verdades necessárias sobre a Internet


Por Carlos Nepomuceno

Data de Publicação: 17 de Setembro de 2009

Não tenhamos ilusões, a internet não veio para salvar o mundo - José
Saramago, da minha coleção de frases

(Bom, ainda vou continuar a falar um pouco sobre as coisas que circularam na minha
cabeça depois do debate da RioInfo.)

Existem algumas premissas teóricas para pensarmos sobre o papel da Internet no mundo.

1. sempre vivemos em redes de conhecimento. Tivemos a rede da fala, a rede


impressa (livro industrial), do som (rádio) e da imagem (tevê). A Internet é uma
evolução das anteriores, ainda mais horizontal, veloz e com mais alternativas. É a
mais complexa criada, até então.
2. as redes são elementos fundamentais para nossa sobrevivência e sua topologia
define as estruturas de poder social. (O novo livro do Castells que saiu fala muito
sobre isso.) Muda-se a topologia, muda-se, a médio e longo prazo a gestão das
instituições, de um modelo de rede mais hierárquica para outra mais
descentralizada, o que chamei até de uma nova forma de abordar o problema:
Gestão por rede;
3. esse fenômeno, apesar de parecer espontâneo, natural e despertar o encanto, é
sistêmico. Não é a primeira vez que as redes mudam sua topografia, não sera a
última. Isso ocorre, a meu ver, toda vez que a quantidade de habitantes e sua
demanda informacional é maior do que a capacidade da rede atual em permitir, em
tempo hábil, a troca de ideias. Quanto mais formos, mais exigências teremos e
mais complexos canais precisaremos para gerar inovação e novos produtos,
necessitando, para isso, horizontalizar a rede, eliminando gradativamente
intermediários, para abrir novas pontos de troca e reduzir a pressão pela demanda
de informação;
4. mudanças topográficas na rede, então, não alteram padrões humanos na relação
com outros seres humanos, mudam as cognições, mas não a forma que nos
relacionamos com nós mesmos. Ou seja, se apostarmos apenas na revolução social,
baseado na tecnologia, teremos novas estruturas de poder renovadas, com novas
injustiças, no lugar das antigas. Vale a pena brigar por elas? Claro que sim, mas
são limitadas ao se pensar num cenário maior. Colocaremos mais um rei (Google,
no caso, e os poderes agregados que vêm e se aliam com eles - vide China) no
mesmo trono, com os nossos antigos novos problemas;
5. as redes sociais na Internet, hoje tão badaladas, não são o primeiro exemplo
mundial de colaboração horizontal. A rede social da escrita, do livro impresso, a

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partir de 1500, que nos possibilitou inventar a academia, por exemplo, tinha
também seus links (citações), o somatório de experiências, um grande Orkut do
papel, que mudou o mundo com ideias e, depois, produtos.

Vejam o que informa Burke, após o surgimento do livro industrial, o que foi considerado
por MacLuhan como a primeira mídia de massa, como todas as outras que vieram depois:

Cerca de três ou quatro milhões de almanaques foram impressos no século


XVII na Inglaterra, bem como em Veneza, com quase dois milhões de cópias,
resultando, no geral, através do trabalho de 500 editores, na produção de
mais de 16 mil títulos com 18 milhões de cópias na Europa. Para comprovar
a mencionada "explosão", registra-se que, por volta de 1600,
aproximadamente 400 academias haviam sido fundadas apenas na Itália e
poderiam ser encontradas por toda a Europa, de Portugal à Polônia. (Uma
história social do Conhecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003.)

(Aliás, não existe nada mais colaborativo fora da rede do que o fazer acadêmico, com
todos os seu problemas).

Não acreditem agora que a colaboração é uma novidade. É apenas mais um movimento
necessário, como antes, para que avançássemos enquanto espécie. (Não se iludam!). Ou
seja, colaborar na rede (como na academia) não nos levou ou levará a uma nova
civilização.

Mas é mais um processo de troca, por necessidade, não por desprendimento, dentro de
um novo suporte, a rede da vez.

Ou seja, colaborar é e sempre será utilizado para sanar problemas de sobrevivência


informacional e não pode ser encarado de forma alguma como mudança filosófica da
condição humana, que exige uma discussão geral e mais funda na nossa natureza, que a
rede, infelizmente, não traz com ela, como o livro não trouxe!

Colabora-se por necessidade!

É preciso, assim, urgente, continuar e aprofundar o estudo histórico das rupturas


similares das redes no mundo, sem o qual não conseguiremos, nunca, ter a dimensão
exata do que estamos passando, pelo que devemos acreditar e que mudanças farão
realmente grande diferença para as gerações futuras, incluindo aí uma visão filosofica,
mais voltada para a sabedoria no aspecto amplo do que o reducionismo do conhecimento
utilitário, como vemos hoje.

Se não for assim, vamos confundir o velho que se atualiza, com o completamente novo.

E o novo que aparece nesse movimento, como algo velho.

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Por enquanto, é isso!

Concordas?

Mais sobre reflexões pós RioInfo, aqui.

Versão Original:
http://www.dicas-l.com.br/conhecimento_em_rede/conhecimento_em_rede_20090917.php

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