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MANUAL DO VAREJADOR

Versão electrónica produzida com base na obra manuscrita, ditada por João da Minda
e Zé da Natália a uma pessoa que eventualmente sabia escrever. A reprodução do
documento para fins que não estejam relacionados com a agricultura dá direito a umas
boas sachadas numa perna.

O manuscrito original tinha também uma edição em Mirandês de nome: “Ca frio fai.
Deixa-me malhar umas valentes varadas nas oliveiras para aquecer os ossos”. Por
razões editoriais e porque os Mirandeses nos metem nojo, decidimos cagar de alto
para essa edição.
Página sem nada escrito para fazer parecer o livro maior.
Código de Honra

1. Jamais escacharei um ramo.

2. Tombarei todas as azeitonas excepto meia dúzia. Ficarão para os


pássaros.

3. Não escarrarei nas lonas.

4. Não deixarei um bago no chão.

5. Não me esquecerei de uma vara ou de uma lona na horta.

6. Agradecerei a Deus cada varada bem sucedida.

7. Sentirei repugnância pelo Diabo por cada varada que não corra
bem.

8. Beberei uma copaça de tinto por dia.


Indumentária

1. A roupa deverá ser comprada na feira ou nos ciganos.

2. Quando se rasgar deverá ser remendada, enquanto 75% do pano


não for de remendo.

3. Deverá ser lavada uma vez por ano. Mais, apenas se tiver sido usada
em outras festividades como a “Matança do Porco”.

4. Deverá ser evitado o uso de pijamas ou ceroulas por debaixo das


calças. Bombazina e outros tipos de material com nomes
manifestamente gay estão banidos.
Estatutos Laborais

Apanhadora

Falamos de uma mulher trabalhadeira, boa parideira, e que se amarre


bem. Os homens não podem apanhar porque se não estão sujeitos a ser
vítimas de piadas do género: “Estás a apanhar?” ou mesmo “Apanhas
bem?”. Deve ser rápida e usar as duas mãos. Caso seja preguiceira deve
levar umas boas varadas do homem mais velho presente.

Varejador (manual)

Este homem não teme qualquer galho. A sua única amiga é a vara e ela é o
seu ganha-pão. Nunca deverá recusar o vinho, mas nunca se deverá
emborrachar. Terá que decidir entre a vara do Salgueiro ou do Olmo, para
a ela se habituar, caso contrário será como um homossexual: nunca se
sabe bem se é gajo ou gaja.

Varejador (munido de automática)

Mais lento que o “Varejador (manual)”, quer-se rijo e forte como um


macho. Muitos sucumbiram com uma máquina ao colo. Experiência na
tropa é recomendada, principalmente quando com treino com
metralhadoras, dado a sua equivalência.

Loneiro

Este lugar pode ser ocupado por qualquer pessoa. Até mesmo por
mulheres. Até mesmo por homossexuais (se lhes fosse permitida a
entrada em hortas). Só é necessário mexer a lona de um lado para o
outro. Se for preciso tirar a azeitona, por já não se poder com ela, deverá
ser chamado um “Varejador (manual) ”.
Regras Sociais

1. Na maioria dos caso não se deve falar. Quem muito fala pouco
trabalha.

2. As mulheres não se devem habituar mal, portanto, quando se lhes


dirigir a palavra, deve-se fazê-lo de forma firme e com um olhar que
transmita: “se me respondes mal levas uma varada”.

3. Quando a oliveira for alta, os “varejadores (manuais)” devem


decidir entre si qual deles tem que subir ao toro. À porrada.

4. Quando os “varejadores (manuais)” forem descarregar sacas ao


tractor ou carrinha 4x4, devem apalpar os traseiros das
apanhadoras que se encontrarem no caminho, num sinal de
superioridade.

5. Na hora da merenda as apanhadoras devem fazer uma fogueira


boa. As primeiras febras a serem assadas são para os varejadores.
Depois devem ser servidos os loneiros. No final as apanhadoras
devem comer o que sobrou.

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