Gestão de clientes e disciplinas de valor no varejo
É sabido que as empresas mais bem sucedidas do mercado estão focadas e
apresentam performance excepcional em pelo menos uma destas três disciplinas de valor: excelência operacional, liderança de produtos e intimidade com o consumidor. Vamos entender de forma simplificada o significado de cada uma delas. Excelência operacional: produtos ou serviços confiáveis a preços competitivos entregues com um mínimo de dificuldade ou inconveniência, operação de grande escala e uso intensivo de tecnologia; Liderança de produtos: oferecimento aos consumidores de produtos ou serviços superiores e de última geração e que consistentemente agregam melhorias para os consumidores, deixando os produtos rivais obsoletos; Intimidade com o consumidor: segmentação e identificação de nichos muito específicos de consumidores e desenvolvimento de produtos e serviços adequados para o atendimento da demanda destes grupos de consumidores ou até de indivíduos em particular. Quando comparamos os modelos de disciplina de valor com o ambiente das pequenas e médias empresas varejistas, percebemos que a disciplina de intimidade com o consumidor esta mais próxima da cultura gerencial e do porte financeiro destas empresas. A visão de criação de um relacionamento de longo prazo com os consumidores, de fidelização, de construção de vínculos duradouros e do conhecimento profundo das necessidades dos clientes a serem utilizados para a definição de um sortimento de mercadorias diferenciado e para o desenvolvimento de serviços específicos para estes consumidores estão mais próximos da linguagem e do quotidiano destas empresas. E a boa gestão destas variáveis poderá efetivamente levar a empresa à construção de diferenciais competitivos relevantes. Porém, a maioria delas não explora todo o potencial de compra de seus clientes pela falta de um conhecimento mais detalhado dos hábitos e expectativas de consumo, pela ausência de uma análise sistemática do histórico de compras de cada um e pela falta de um gerenciamento profissional da relação com seus consumidores. Fica difícil compreender porque estas empresas varejistas ainda possuem uma prática gerencial com ênfase orientada para a administração de produtos e de fornecedores e sabem muito pouco ou conhecem de forma muito genérica aos seus principais consumidores. Fica difícil compreender porque as práticas de CRM (Customer Relationship Management) ainda são pouco difundidas neste meio, entendendo-se CRM não como uma ferramenta tecnológica mas sim como um sistema de gestão cujo valor central está na orientação de todos os membros da equipe para o conhecimento, a avaliação e o gerenciamento de seus consumidores e não apenas de suas mercadorias. Conceitos como o do valor vitalício do cliente, do valor potencial e do valor real de consumidores e de lucratividade de grupos de consumidores e de consumidores em particular ainda são muito pouco explorados. Peppers & Rogers desenvolveram o sistema IDIC, que IDENTIFICA o cliente alvo, DIFERENCIA os clientes alvo pelas suas necessidades e pelo seu valor para a empresa, INTERAGE com eles através dos diversos meios de comunicação disponíveis e permite a CUSTOMIZAÇÃO de mensagens, de produtos e de serviços para cada perfil de consumidor. Em mundo em que a alta tecnologia proporciona a possibilidade da desintermediação e em que a indústria e competidores de outras regiões disputam a preferência dos consumidores locais, o maior ativo das empresas varejistas passa a ser a sua carteira de clientes e o domínio que o varejista possui sobre ela. É atrás deste patrimônio que concorrentes, bancos e operadoras de cartão de crédito estão correndo. O varejo vai ingenuamente entregar a gestão dos seus clientes a terceiros? E depois disso, como ficará a função do varejo local na cadeia produtiva e de valor? Penso que está mais do que na hora de o varejo assumir definitivamente a posse e a gestão de seus clientes.
Alexandre Langer – Consultor Empresarial e Conselheiro da CDL-POA