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Planeamento e Organização de Eventos

"QUEM CONVOCOU ESTA REUNIÃO?"

(por Luiz Marins*)

Era um feriado prolongado. Na sala de um dos hotéis mais sofisticados de São Paulo,
cinquenta gerentes de uma das maiores empresas brasileiras reuniam-se para discutir,
planejar, trabalhar. Passaram ali o sábado, o domingo, a segunda-feira (feriado)
trancadinhos no ar condicionado com as cortinas fechadas para não atrapalhar as
projecções na imensa tela.
Stressados, lembrando ser um feriado, os participantes todos começaram a reverberar
contra a empresa, contra a diretoria, contra a globalização.
Afirmavam que viviam em regime de verdadeira escravidão e que suas famílias
estavam literalmente abandonadas. Não viam mais seus filhos. Suas esposas e
maridos não aguentavam mais aquela empresa vampira, sanguinária, que não
respeitava a vida pessoal de seus gerentes. Que eram "obrigados" a trabalhar até às 10
horas da noite quase todos os dias com intermináveis reuniões em horários "ridículos"
e fora do expediente normal, de pessoas normais.
Quando estavam quase fazendo um "Memorando à Directoria" pedindo mais respeito
à qualidade de vida e à valorização da família, de mais tempo livre, etc. Eu, que ali
também estava, "convocado" que fui como consultor, perguntei:
"- Onde está hoje (feriado) o nosso presidente?"
"- Onde está hoje (feriado) o nosso superintendente?"
E surpreendentemente, muitos dos presentes sabiam e responderam:
"- O presidente foi pescar no Mato Grosso e o Superintendente está em sua casa em
Angra dos Reis..."
Ao que eu perguntei:
"- E quem convocou esta reunião, num feriado prolongado?"
E a resposta foi simples e objectiva: Foram os mesmos gerentes que ali estavam
reclamando da baixa qualidade de vida e acusando a "directoria".
Fizemos uma simples reflexão e verificamos que aquela reunião poderia ter sido
convocada em qualquer outro dia, em horário normal e (pasmem) que mesmo um dos
directores gerais da empresa (não convocado) havia mesmo criticado o fato de
"alguém" ter marcado aquela reunião em um feriado prolongado.
E o mais interessante de tudo é que os gerentes que haviam convocado a sobredita
reunião eram os que mais acusavam a "directoria" de não respeitar fins-de-semana e
feriados.
Pense nisso. Será que não estamos de forma neurótica e inconsequente querendo
"mostrar serviço" a nossos superiores usando de forma desumana os nossos
subordinados, convocando-os para reuniões intermináveis fora do expediente,
exigindo relatórios que ninguém lerá, colecta de dados que ninguém analisará e que
exigem um tempo enorme e trabalho extenuante?
Será que não estamos (até inconscientemente) "punindo" nossos subordinados pela
nossa incapacidade de liderá-los através de acções que demonstrem o nosso "poder"
de infelicitar essas pessoas que têm a infelicidade de nos ter como chefes? Será que
não estaremos (até inconscientemente) punindo nossos subordinados pela nossa
incapacidade em construir uma família feliz, um casamento feliz.
Será que eu (o chefe) que destruí e quero fugir da minha família, me atolando num
escritório, me conformo em ver alguém ter uma família feliz com filhos que desejam
o convívio dos pais em finais de semana, à noite, etc. E será que não estarei fazendo
tudo isso com a "desculpa" da globalização, da "pressão da directoria", colocando
toda a culpa fora de mim? Será que não estarei me fazendo de vítima, quando na
verdade sou o verdugo, o vitimador?
Pessoas infelizes têm a compulsão de punir pessoas felizes. Elas não se conformam
com a felicidade alheia. E quando esses infelizes são os chefes a coisa piora, pois eles
têm, de fato, o poder de infelicitar seus subordinados e mesmo até de destruir-lhes a
qualidade de vida sob a alegação de que o "mundo hoje é assim". Conheço um
"chefe" que tem o hábito de "cancelar de última hora" as férias programadas de seus
subordinados. "É para ele ver que aqui é fogo mesmo!" disse-me o sádico chefe que
afirmou saber que o seu subordinado já havia comprado e pago passagens e reservado
hotéis para as férias com a família.
Esse tipo de chefe, muitas vezes "servem" às empresas. A directoria até incentiva esse
tipo de convocações em feriados, finais de semana, noites.
Afinal eles estão "trabalhando" para a empresa e é isso que queremos cada vez mais,
me disse um presidente. Mas no fundo os verdadeiros líderes e presidentes sabem que
isso não leva a nada e que pessoas stressadas, sem qualidade de vida pessoal, sem
famílias estruturadas e filhos felizes produzem menos e com menor qualidade e que
esses compulsivos alcoólatras do trabalho extenuante são verdadeiras vítimas de si
próprias.
Esses chefes são do tipo "Eu sou bonzinho, a nossa empresa é que exige assim..."
jamais vestindo a carapuça do carrasco, cujo prazer está na ameaça e no poder de
decepar cabeças - "Cabeças vão rolar..." é a frase que gostam de dizer.
Da próxima vez que tiver a compulsão de convocar uma reunião na sexta-feira santa
ou terça de carnaval, pense duas vezes. Tem gente que é feliz. Tem gente que quer ser
feliz. E, lembre-se, só com pessoas felizes nossa empresa fará clientes felizes! Não é
isso que todos os livros de gestão dizem? Não é isso que faz as empresas de sucesso?
Ou não é isso que a sua empresa quer?
Pense nisso.

*O Professor Marins é um dos mais renomados palestrantes do Brasil e do exterior.


Suas palestras preparadas uma-a-uma e de acordo com cada cliente e público
abrangem aspectos de Marketing, Gestão, Futuro e Motivação.

Fonte: Site Anthropos Consulting: www.anthropos.com.br

http://www.secretariando.com.br/eventos/even-16.htm

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