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Sabado / Ide Margo de 2008 { ST ENR TEE EE SEA ESE QUEM DA 0 PAO DA A EDUCACAO E A AVALIACAO _ ouve alguém num agrupamento de escolas do distrito de Leiria _-~ queachou que os professores deviam ser avaliados com base na sua relacdo de afecto politico com o Governo Sécrates e respec- tiva submissao a autoridade bondosa de Maria de Lurdes Rodrigues. Estava la, com esses e erres, como se dizia antigamente, numa propos- tade ficha de avaliacao, alinea “dimensao ética” — e sé esta relagio di- recta, promovida por sabe-se-l4-quem, entre a dimensao ética de um profissional e a obediéncia ao livrinho rosa-socratico é, j de si, um tra- tado. Acoisa foi divulgada por Francisco Louca no debate parlamentar de ontem como primeiro-ministro. José Sécrates demarcou-se ime- diatamente, renegou o critério de avaliagao e afirmou que ia chamar a atencao aos responsaveis. No fim do debate, Maria de Lurdes Rodri- gues explicou aos jornalistas que esse item de avaliagao era uma pro- posta que tinha, de facto, aparecido, mas que tinha sido chumbada. O Governo nao tem culpa que um maduro qualquer se lembre de propor as coisas mais idiotas que lhe venham a cabega. Aparentemen- te, a proposta apareceu e n4o foi aceite. Ponto final. O problema aqui ja nao é obviamente a coisa em si — é aquilo que se convencionou chamar 0 “caldo”. Desde 0 ca- so Charrua, e depois da famosa demissao no Gerira Centro de Saude de Vieira do Minho por cau- A sade um episédio patético de um cartaz afi- mentalidade - xado, que se percebeu quenasareasacossa’ Sqlazarista _ das da educacaoe da satide 0 “caldo” éa cul- 4 . " tura de obediéncia instituida, ou a cultura ea é um des afio ameaca de penalizacaoporqualquerpresu- PQlQ mivel “falha” nessa obediéncia. Essa cultura évelhae tem tido sucesso. E, — lquer como todaa gente sabe, a cultura nacional Governo atavica, sedimentada nos gloriosos 48 anos de salazarismo, um fenémeno politico assente num estrondoso apoio popular. Esse apoio popular foi durante muitos anos escamoteado — - por “vergonha” ou “ma consciéncia” ou por mera mistificagao da his- toria. Acontece que existia e era omnipresente nos siléncios (apenas 0 PCP era consistentemente opositor do regime, o resto do “reviralho” activo contava-se pelos dedos das maos) e nas manifestagdes que en- chiam as ruas, mesmo jacom Marcelo Caetano. Gerir a mentalidade salazarista nacional é, pois, um desafio para qualquer governo. Autoridade, trabalho, ordem — ha meia duzia de lu- gares-comuns da coisa a propagandear. José Sécrates cumpriu o papel que lhe coube, com visivel sucesso até ha pouco tempo — em parte tam- bém pela auséncia de oposi¢ao, uma inevitabilidade desde que se esba- teramas fronteiras entre PS e PSD em quase todas as areas da inter- -_vencio politica. O problema da gestao dessa mentalidade salazarista é que, de tao cara a Nacdo, basta uma aberta e ela reproduz-se e propa- ga-se com esplendorosa facilidade. Claro que a tampa, depois, pode saltar: e isso também se aprende com a Historia. a

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