Quem dá o pão dá a educação e a avaliação
Ana Sá Lopes
Jornalista
Diário de Notícias, 1 de Março de 2008
"Gerir a mentalidade salazarista é um desafio para qualquer Governo"
Título original
DN - Quem dá o pão dá a educação e a avaliação - Ana Sá Lopes
Quem dá o pão dá a educação e a avaliação
Ana Sá Lopes
Jornalista
Diário de Notícias, 1 de Março de 2008
"Gerir a mentalidade salazarista é um desafio para qualquer Governo"
Quem dá o pão dá a educação e a avaliação
Ana Sá Lopes
Jornalista
Diário de Notícias, 1 de Março de 2008
"Gerir a mentalidade salazarista é um desafio para qualquer Governo"
Sabado /
Ide Margo de 2008 {
ST ENR TEE EE SEA ESE
QUEM DA 0 PAO
DA A EDUCACAO
E A AVALIACAO
_ ouve alguém num agrupamento de escolas do distrito de Leiria
_-~ queachou que os professores deviam ser avaliados com base na
sua relacdo de afecto politico com o Governo Sécrates e respec-
tiva submissao a autoridade bondosa de Maria de Lurdes Rodrigues.
Estava la, com esses e erres, como se dizia antigamente, numa propos-
tade ficha de avaliacao, alinea “dimensao ética” — e sé esta relagio di-
recta, promovida por sabe-se-l4-quem, entre a dimensao ética de um
profissional e a obediéncia ao livrinho rosa-socratico é, j de si, um tra-
tado.
Acoisa foi divulgada por Francisco Louca no debate parlamentar
de ontem como primeiro-ministro. José Sécrates demarcou-se ime-
diatamente, renegou o critério de avaliagao e afirmou que ia chamar a
atencao aos responsaveis. No fim do debate, Maria de Lurdes Rodri-
gues explicou aos jornalistas que esse item de avaliagao era uma pro-
posta que tinha, de facto, aparecido, mas que tinha sido chumbada.
O Governo nao tem culpa que um maduro qualquer se lembre de
propor as coisas mais idiotas que lhe venham a cabega. Aparentemen-
te, a proposta apareceu e n4o foi aceite. Ponto final.
O problema aqui ja nao é obviamente a coisa em si — é aquilo que se
convencionou chamar 0 “caldo”. Desde 0 ca-
so Charrua, e depois da famosa demissao no Gerira
Centro de Saude de Vieira do Minho por cau- A
sade um episédio patético de um cartaz afi- mentalidade
- xado, que se percebeu quenasareasacossa’ Sqlazarista
_ das da educacaoe da satide 0 “caldo” éa cul- 4 .
" tura de obediéncia instituida, ou a cultura ea é um des afio
ameaca de penalizacaoporqualquerpresu- PQlQ
mivel “falha” nessa obediéncia.
Essa cultura évelhae tem tido sucesso. E, — lquer
como todaa gente sabe, a cultura nacional Governo
atavica, sedimentada nos gloriosos 48 anos
de salazarismo, um fenémeno politico assente num estrondoso apoio
popular. Esse apoio popular foi durante muitos anos escamoteado —
- por “vergonha” ou “ma consciéncia” ou por mera mistificagao da his-
toria. Acontece que existia e era omnipresente nos siléncios (apenas 0
PCP era consistentemente opositor do regime, o resto do “reviralho”
activo contava-se pelos dedos das maos) e nas manifestagdes que en-
chiam as ruas, mesmo jacom Marcelo Caetano.
Gerir a mentalidade salazarista nacional é, pois, um desafio para
qualquer governo. Autoridade, trabalho, ordem — ha meia duzia de lu-
gares-comuns da coisa a propagandear. José Sécrates cumpriu o papel
que lhe coube, com visivel sucesso até ha pouco tempo — em parte tam-
bém pela auséncia de oposi¢ao, uma inevitabilidade desde que se esba-
teramas fronteiras entre PS e PSD em quase todas as areas da inter-
-_vencio politica. O problema da gestao dessa mentalidade salazarista é
que, de tao cara a Nacdo, basta uma aberta e ela reproduz-se e propa-
ga-se com esplendorosa facilidade. Claro que a tampa, depois, pode
saltar: e isso também se aprende com a Historia. a