Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SERVIDORES PÚBLICOS
1) Noção geral e classificação dos agentes públicos
O Estado não tem uma existência concreta, pois trata-se de uma criação jurídica abstrata,
necessitando de processos, pessoas e estruturas que possam criar e desencadear sua
“vontade” concretamente. As pessoas físicas que falam em nome do Estado, manifestando
concretamente a sua “vontade” são os agentes públicos. Esses agentes públicos, como
falam em nome do Estado, não podem deixar que sua vontade particular interfira no múnus
publico que desempenham em nome de toda a Sociedade. Dessa forma, para garantir isenção
na atuação desses agentes, suas relações de trabalho com o Estado devem ser reguladas de
maneira especial, diferente da regulação estabelecida para as relações que qualquer
trabalhador da iniciativa privada mantém com seus empregadores.
Obviamente, as funções que o Estado assume são muitas. Há funções políticas, diplomáticas,
técnico-administrativas, de prestação de serviços, de intervenção no domínio econômico, etc.
Assim, o regime funcional dos agentes públicos não pode ser o mesmo para todos aqueles
que desempenham tão variadas funções. Daí, a doutrina criou uma classificação dos agentes
públicos em várias categorias, conforme os diferentes regimes jurídicos de suas funções
públicas. Veja-se o quadro:
Agentes públicos – toda pessoa física que presta serviços ao Estado e às pessoas jurídicas da
Administração Indireta, manifestando concretamente a vontade do Estado quer integre ou
não a burocracia estatal.
Agentes políticos – são os formadores da vontade superior do Estado, pois determinam os
fins da ação estatal e fixam diretrizes de ação para o s ocupantes das outras funções públicas.
Para Helly Lopes Meirelles (p. 75) “são os componentes do governo nos seus primeiros
escalões, investidos em cargos, funções, mandatos ou comissões por nomeação, eleição,
designação ou delegação para o exercício de atribuições constitucionais.”
Trata-se, portanto, de conceito amplo, que engloba toda a autoridade que atua com
independência funcional no desempenho de funções definidas diretamente na Constituição.
Nessa definição ampla ficam englobados os magistrados, porque exercem uma das funções
de Soberania do Estado e também os membros do Ministério Público, porque exercem
funções de controle sobre o governo e a Administração, conforme definição constitucional.
Para Celso Antonio Bandeira de Mello (p. 229, edição 2004) “são os titulares dos cargos
estruturais à organização política do País, isto é, são os ocupantes dos cargos que compõem o
arcabouço constitucional do Estado e, portanto, o esquema fundamental do poder.”
Já esse conceito é mais restrito, englobando somente os mandatários da soberania popular no
regime democrático-representativo – Presidente e ministros, governador e secretários,
prefeito e secretários, deputados, senadores e vereadores.
Servidores públicos ou servidores estatais (em sentido amplo) – “pessoas físicas que prestam
serviços técnico profissionais ao Estado e às entidades da Administração Indireta, com
vínculo empregatício e mediante remuneração paga peloscofres públicos.”
Dividem-se em e 3 sub grupos:
a) Servidores estatutários – são os ocupantes de cargos públicos, que mantém uma relação
institucional (ou estatutária) com a Administração, tal como prevista em lei própria, não
podendo, portanto, haver alteração do regime jurídico desses servidores por manifestação de
vontade (quer da Adminstração, quer do próprio servidor).
Algumas notas importantes e mais gerais sobre os servidores estatutários:
- Importante destacar aqui que cada pessoa coletiva (União, Estados, Municípios, autarquias)
podem ter seu próprio quadro de servidores, com estatuto (ou regulação) próprio, bastando
para tanto obedecer a ordenação constitucional sobre a matéria. Não há uma norma geral
sobre servidores públicos, como ocorre com o tema das licitações e contratos.
- Nos termos do art. 247 da CF, devem submeter-se obrigatoriamente ao regime estatutário
todos os servidores que desenvolvam atividades exclusivas de Estado, o que abrange os
seguintes quadros de servidores: magistratura, ministério público, tribunais de contas,
advocacia pública, defensoria pública, polícias civil e militar, atividades administrativas de
controle, fiscalização, diplomacia e regulação.
b) Empregados públicos (ou servidores empregados) – servidores cuja relação funcional com
a Administração é regulada pela CLT, com as alterações determinadas nos arts. 37 e
seguintes da CF, principalmente no que tange a requisitos para investidura (concurso),
acumulação de cargos e vencimentos, estabilidade, etc.
Não é permitido a Estados e Municípios criarem regimes diferenciados de emprego público
para seus servidores, pois a legislação em matéria de dir. do trabalho é de competência
exclusiva da União (art. 22, I da CF). Para a União algumas regras especiais foram criadas
para seus servidores empregados, no âmbito da Lei nº 9962/2000.
c) Servidores temporários – pessoas contratadas por tempo determinado para atender a
necessidade temporária de excepcional interesse público, nos termos do art. 37, IX da CF e
desde que haja legislação especifica no âmbito da pessoa coletiva pública. Na União são
regulados pela Lei nº 8745/93, alterada pelas Leis 9849/1999 e 10667/2003. Esses servidores
exercem funções não aglutinadas em qualquer espécie de cargo ou emprego.
Particulares em colaboração com a Administração – “pessoas físicas que prestam serviços ao
Estado, sem vínculo empregatício, com ou sem remuneração.” (Di Pietro, p. 449) Necessário
esclarecer aqui que o termo “vínculo empregatício” usado na definição da autora não é no
sentido de vinculo celetista, mas sim no sentido de vínculo funcional com a Administração,
significando ai que a pessoa não se subordina ao comando direto da administração para
desempenha suas atividades a serviço da Administração.
A colaboração com a Administração pode se dar por delegação do poder público, nos casos
dos empregados das concessionárias e permissionárias de serviços, dos serviços notariais e
de registros, dos leiloeiros, dos tradutores e interpretes. Também pode se dar colaboração
mediante requisição, nomeação ou designação, como nos casos dos jurados, convocados para
prestar serviço militar ou eleitoral, integrantes de comissões e grupos de trabalhos.
Militares – pessoas físicas que prestam serviços às forças armadas e às polícias militares e
corpos de bombeiros dos Estados, sob vínculo estatutário, com regime jurídico distinto dos
servidores, especialmente no que diz respeito ao estatuto disciplinar mais rigoroso. Previsão
constitucional nos arts. 42 e 142.
Servidores (das) estatais – pessoas que prestam serviços para entidades da Administração
Indireta. Podem ser subdivididos em empregados públicos, que se vinculam a autarquias e
fundações de direito público e em empregados governamentais, vinculados a sociedades de
economia mista, empresas públicas, fundações privadas instituídas pelo Poder Público e
agências reguladoras.
2) Regime jurídico dos servidores públicos
Tal como visto na classificação acima, é possível identificar para os servidores públicos 3
tipos de vínculos que os relacionam com a Administração: o vínculo de cargo, o de emprego
e o de função sem cargo (para os temporários e ocupantes de funções comissionadas).
Antes de ingressar no exame do regime estatutário dos ocupantes de cargos públicos, que o
principal objetivo do presente capitulo, necessário se faz estabelecer uma breve distinção
entre esses 3 tipos de vínculos entre os servidores e a Administração Pública.
CARGO – “é o conjunto de atribuições e responsabilidades cometidas a um servidor, criado
por lei, em número certo, com denominação própria e remunerado pelos cofres públicos.”
São características fundamentais desse conceito de cargo:
a)denominação própria,
b)atribuição de funções públicas específicas,
c)padrão de
vencimento e d)organização em sistema de classes e carreiras.
Todas essas características são definidas na lei que cria o cargo.
Dessa forma, o regime de cargos é bastante estático e burocratizado. Assim deve ser, pois a
principal função desse regime é garantir estabilidade funcional e isenção para os que
desempenham funções públicas. Portanto, o regime que regula a relação entre o titular de
cargo e o Estado é denominado regime estatutário ou institucional. Trata-se de regime
jurídico que não depende da vontade das partes envolvidas na relação jurídica, mas sim de
disposições legais e constitucionais que conformam de fora a forma como se dará a prestação
de serviços para a Administração. Nesse regime são criadas proteções e garantias necessárias
para o desempenho técnico, imparcial e obediente à diretrizes político-administratrivas
superiores da Administração. A finalidade desse regime é garantir uma ação impessoal do
Estado, contra as contingências do regime republicano de governos transitórios. Para os
servidores da União, o Estatuto é a Lei nº 8112/90.
A estrutura de organização dos cargos dentro da Administração ajuda a elucidar esse caráter
estatutário do regime de cargos. Como já se disse logo acima, os cargos se organizam em
classes e carreiras.
Carreira é o “conjunto de classes da mesma natureza de trabalho, escalonadas segundo a
responsabilidade e a complexidade de atribuições”.
Classe é o “agrupamento de cargos da mesma denominação e idênticas referencias de
vencimentos” (Odete Medauar, p. 266)
Exemplo: art. 20 da Lei Complementar nº 73/93 -
Carreira de Advogado da União.
Classes: Inicial – composta pelos cargos de Advogado da União de 2ª Categoria;
Intermediária – cargos de Advogado da União de 1ª Categoria;
Final – cargos de Advogado da União de Categoria Especial As atribuições do cargo estão
elencadas no art. 11 e consistem basicamente em assessorar e elaborar estudos jurídicos para
autoridades da Administração Pública.
EMPREGO PÚBLICO – unidade de atribuições exercidas pelo agente em nome do Estado,
através de vinculo contratual sob regência da CLT. No regime de emprego não há a
hierarquização característica da estrutura de carreira. Dessa forma, o regime de emprego
público é mais dinâmico e se adéqua ao exercício de funções subalternas e instrumentais da
Administração, que não se revestem de carga coercitiva típica dos poderes do Estado.
FUNÇÃO – conjunto de atribuições públicas exercidas sem vínculo de cargo ou emprego
com a Administração. Trata-se de conceito residual, que decorre dos incisos IX e V do art. 37
da CF. No regime da Constituição de 1998, há dois tipos de funções sem cargo que podem
ser exercidas por um servidor:
a) as funções exercidas pelos servidores temporários, nos termos do art. 37, IX da CF, para
tratar de necessidades urgentes da Administração;
b) as funções de confiança para direção, chefia e assessoramento, nos termos do art. 37, V da
CF, exercidas por servidores ocupantes de cargos efetivos. Neste caso, o servidor que exerce
estas funções já é servidor de carreira e assume algumas funções destacadas de seu cargo,
consistentes em dirigir uma seção da Administração, chefiar um conjunto de servidores
ocupantes de cargos assemelhados ou mesmo assessorar a direção superior da Administração.
Importante não confundir função de confiança (ou comissionada) com cargo de confiança (ou
em comissão). A função comissionada reúne as tarefas de coordenação, direção ou chefia,
que alguns servidores devem assumir para organizar de forma mais racional o trabalho de
seus pares na estrutura administrativa (previsão constitucional no inciso V do art. 37). Já o
cargo em comissão tem uma individualidade própria, configurando um conjunto de
atribuições diferenciadas que podem ser exercidas por pessoas não integrantes dos quadros
da administração (previsão constitucional no inciso II, do art. 37).
Para distinguir claramente essas duas categorias, seguem os exemplos de cargos em
comissão: assessores parlamentares (vereadores, deputados, senadores), diretores do Banco
Central, diretores de Agencias Reguladores.
Enfim, agora, passa-se às características mais fundamentais do regime jurídico dos servidores
estatutários na ordem jurídica brasileira.
a) Condições para ingresso
Concurso público (conforme art. 37, II, da CF) é a regra para ingresso de qualquer servidor
na administração, não só para os ocupantes de cargo, mas também para os celetistas. Trata-se
de regra diretamente vinculada ao princípio republicano, que exige transparência e
impessoalidade no comando da Administração Pública, daí explicando-se a sua abrangência
também para os servidores empregados. Assim, o concurso não é uma particularidade do
regime de cargos públicos; é uma exigência de impessoalidade na seleção daqueles que
prestarão serviços para a Administração, sob qualquer regime funcional que venham a
assumir.
Exceções à regra do concurso: servidores temporários (art. 37, IX da CF); cargos em
comissão (art. 37, II da CF) e membros dos Tribunais no preenchimento do quinto
constitucional.
Forma de ingresso dos servidores – Provimento, que significa ato administrativo através do
qual a pessoa é investida no exercício de cargo, emprego ou função.
O provimento de servidores estatutários assume algumas peculiaridades que permitem
classificá-lo em alguns tipos especiais de provimento, conforme a tabela abaixo:
Adicionais por tempo de serviço são acréscimos aos vencimentos básicos que
decorrem do tempo de exercício do cargo. Os exemplos mais comumente encontrados
são (conforme art. 129 da Constituição de SP): qüinqüênio (adquirido a cada 5 anos de
efetivo exercício do cargo) e a sexta parte (que corresponde à sexta parte dos vencimentos
integrais para cada 20 anos de exercício do cago).
Adicionais de função são vantagens que decorrem da natureza especial da função exercida ou
de regime especial de trabalho. Exemplos: adicional pelo magistério em nível superior;
adicional por dedicação integral à docência e pesquisa nas universidades públicas; adicional
pelo exercício de função perigosa.
Gratificações de serviço são vantagens pecuniárias pagas em razão de condições anormais
temporárias em que o serviço é prestado. Exemplos: gratificação por função de
representação; gratificação de insalubridade, risco de vida ou saúde.
Gratificações pessoais são vantagens que decorrem de situações pessoais eventuais e/ou
ocasionais relacionadas ao servidor, como, por exemplo, o salário esposa ou salário família.
Em regra, as gratificações não se incorporam à remuneração do servidor e são devidas
somente enquanto duram as condições especiais que lhes deram causa. Os adicionais, por sua
vez tendem a incorporar-se à remuneração, pois referem-se a circunstâncias permanentes que
envolvem o trabalho do servidor. No entanto, pode haver estatutos que prevejam a
incorporação permanente das gratificações, conforme atendidas determinadas circunstâncias.
Isso vai depender de disposição expressa do regime do servidor de cada ente público.
Uma última informação quanto ao regime de vencimentos: nos termos do art.
100, § 1º A da Constituição, os vencimentos do servidor público têm caráter alimentar
e não são, portanto, suscetíveis de penhora, arresto ou seqüestro, nos termos do CPC
arts. 649, IV; 821 e 823.
Já o regime de subsídio estabelece que os estipêndios do servidor serão “importância paga
em parcela única pelo Estado a determinadas categorias de agentes públicos como retribuição
pelos serviços prestados.” (Di Pietro, p. 508)
Características:
- previsão no art. 39, § 4º da CF;
- o estipêndio do servidor é composto de parcela única, o que impede o acréscimo de
qualquer espécie de vantagem pecuniária, como adicionais, gratificações, abonos ou prêmios;
- o sistema de subsídio admite o pagamento de retribuições de caráter indenizatório como as
diárias e ajudas de custo;
- para o sistema de subsídio ser implantado em determinado ente público, dependerá de lei
específica da pessoa coletiva em questão, mas será obrigatório desde a promulgação da
Constituição para os agentes elencados no seu art. 39, § 4º;
- assim, o subsídio será obrigatório para os seguintes agentes públicos: membro de Poder;
detentor de mandato eletivo; Ministros e Secretários (estaduais e municipais); membros do
Ministério Público (art. 128, § 5º, I, c, da CF); integrantes da Advocacia Geral da União,
Procuradores de estado e Defensores Públicos (art. 135 da CF); Ministros do Tribunal de
Contas da União (art. 73, § 3º da CF); servidores policiais (art. 144, § 9º da CF);
- cada classe de cargos terá um subsídio diferente fixado em lei, conforme os parâmetros do
art. 39, § 1º da CF.
d) Regras constitucionais básicas para fixação dos estipêndios dos servidores
- não há mais isonomia entre servidores de diferentes poderes do Estado com
atribuições iguais ou assemelhadas, tal como previa a redação original do art. 39, § 1º
da Constituição;
- também não há mais isonomia entre proventos e pensões e os estipêndios dos servidores na
ativa (exceto os casos de direito adquirido, conforme alteração trazida pela Emenda
Constitucional nº 41 aos §§ 7º e 8º do art. 40 da Constituição);
- nos termos do inciso X do art. 37 da CF, os valores de vencimentos e subsídios só podem
ser alterados mediante lei;
- também nos termos do inciso X do art. 37 da CF, os servidores têm direito a revisão anual
de seus estipêndios, segundo um mesmo índice, na excluindo-se a possibilidade de alteração,
que só poderá se efetivar mediante lei, conforme esclarecido no item anterior;
- é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórios entre si ou em
relação a salário mínimo ou qualquer outro índice, exceto os casos taxativamente previstos
no texto constitucional, como o art. 37, inciso XI. Previsão dessa regra contida no art. 37,
XIII da CF;
- o teto máximo de remuneração é o subsídio mensal do ministro do STF (para todo o Brasil,
não importando se o regime é estatutário ou celetista ou se o servidor está ligado a autarquia
ou fundação). Regra contida no inciso XI do art. 37 da CF. A competência para fixação do
subsídio do Ministro do STF é do Congresso Nacional, com sanção do Presidente, conforme
disposto no art. 48, XV da CF;
- Senadores, Deputados Federais, Presidente, Vice-Presidente e Ministros terão seus
subsídios fixados em lei pelo Congresso, sem sanção do Presidente (art. 49 da CF);
- nos Estados o teto remuneratório é o subsidio do Governador do Estado, para os servidores
integrantes do Poder Executivo, conforme disposição conjugada do art. 28, § 2º com o art.
37, XI, ambos da CF;
- para os poderes legislativos estaduais, o teto será o subsídio do Deputado Estadual, limitado
a 75% do subsidio do Deputado Federal, conforme disposição conjugada do art. 27, § 2º com
o art. 37, XI, ambos da CF;
- para o judiciário estadual (e também Min. Público, Procuradores e Defensores), o teto é o
subsídio do Desembargador, que por sua vez será fixado entre 90% e 95% do subsidio de
Ministro dos Tribunais Superiores. Conforme interpretação conjugada do art. 93, V com o
art. 37, XI, ambos da CF;
- nos municípios, o subsídio do Prefeito é o teto dos estipêndios do Executivo, devendo ser
fixado pela Câmara Legislativa Municipal, nos termos do art. 29, V, em conjugação com o
art. 37, XI, ambos da CF. Para o Legislativo municipal, o teto é o subsídio do vereador, que
varia conforme a dimensão do Município, nos termos do art. 29, VI, conjugado com o art. 37,
XI, ambos da CF.
- conforme disposição do art. 37, § 9º, as regras sobre teto de estipêndios também são válidas
para Sociedades de Economia Mista e Empresas Públicas, desde que recebam recursos
públicos.
e) Acumulação de cargos. Nesse caso a regra é a proibição da acumulação remunerada, nos
termos do art. 37, inciso XVI da CF, que excepciona apenas três casos: a) dois cargos de
professor;
b) um cargo de professor e um cargo técnico ou científico;
c) dois cargos ou empregos de profissionais da saúde, quando se tratar de profissão
regulamentada. Mesmo nos casos de acumulação permitida, deverá haver compatibilidade de
horários. O dispositivo incide sobre qualquer espécie de acumulação, quer se trate de
cargo, ou de emprego ou ainda de função não enucleada em cargo ou emprego.
A proibição de acumulação também se estende aos casos de servidores que acumulam
vencimentos da ativa com proventos de aposentadoria, conforme disposto no § 10º do art. 37
da CF. As exceções a essa regra estão contidas no mesmo § 10º do art. 37 e são seguintes:
casos de acumulação permitida contidos nas letras do inciso XVI do art. 37; o cargos
eletivos; e os cargos em comissão.
Mesmo havendo acumulação permitida, o teto do art. 37, XI, da CF deverá ser respeitado da
mesma forma.
f) Direitos trabalhistas estendidos aos servidores (art. 39, § 3º da CF)
Alguns direitos previstos no art. 7º da CF foram incorporados ao regime estatutário de todos
os servidores públicos, conforme disposição do art. 39, § 3º da CF. São eles: salário mínimo;
13º salário; remuneração superior do trabalho noturno; salário-família; jornada semanal de,
no máximo, 44 hs; repouso semanal remunerado; remuneração do serviço extraordinário
superior em 50%; férias anuais com 1/3 a mais de remuneração; licença gestante; licença
paternidade; prevenção de acidentes de trabalho e proibição de toda espécie de
discriminação, quer no exercício de função, quer na admissão.
Quanto ao direito assinalado por último, necessário esclarecer que a Constituição estabelece
a regra da não discriminação, mas restringe expressamente esse direito, ao consentir
limitações nos critérios de admissão de servidores conforme a natureza do cargo o exigir
(final do §3º do art. 39 da CF).
g) Responsabilidade dos servidores O servidor público está adstrito a um regime disciplinar
mais rigoroso que lhe acarreta deveres mais exigentes do que aqueles previstos para os
trabalhadores da iniciativa privada. A razão da existência desses deveres diferenciados é
obvia e decorre do fato do servidor estar encarregado de atuar em proveito do interesse
público.
A doutrina enumera os deveres mais comuns a corgo do servidor:
a) desempenhar as atribuições do cargo ou função, que são deveres (muito mais do que
poderes), relacionados a princípios fundamentais como continuidade do serviço ou a
supremacia do interesse público sobre o privado;
b) honestidade ou probidade;
c)lealdade ou fidelidade;
d) dever de obediência;
e) dever de sigilo profissional;
f) dever
de assiduidade;
g) dever de urbanidade.
Em sendo assim, quando o servidor cometer condutas desviantes dos deveres assinalados em
seus estatutos e na legislação será submetido a responsabilização em pelo menos 4 áreas
distintas: penal, civil, administrativa e fiscal.
A responsabilidade penal é ofensa mais grave, que afeta interesses da sociedade como um
todo, sendo tais interesses qualificados pela legislação com penalmente relevantes. Nesse
caso, a conduta ofensiva do servidor será denominada crime funcional. Alguns ilícitos penais
são bastante peculiares à atividade da Administração Pública, como por exemplo: o abuso de
autoridade, conforme condutas tipificadas na Lei 4898/65; os crimes funcionais
tradicionalmente previstos nos arts. 312 a 326 do Código Penal e os crimes contra as finanças
públicas previstos nos arts. 359-A a 359-H do Código Penal, acrescidos pela Lei 10028/2000;
os crimes em matéria de licitações e contratos, tal como previstos na Lei 8666/93; os crimes
de responsabilidade dos agentes políticos, tal como previstos na Lei 1079/50.
A responsabilidade civil diz respeito aos danos (de ordem patrimonial, em
regra) que o servidor tenha causado à Administração. Nesse caso será necessário que a
Administração comprove a conduta dolosa ou culposa do servidor e o nexo de causalidade
em relação ao dano apurado. A responsabilização poderá decorrer tanto dos danos causados
diretamente à Administração, quanto daqueles causados a terceiros, que a Administração
tenha reparado em razão de sua responsabilidade objetiva. Uma das principais fontes de
responsabilidade civil do servidor são os delitos de improbidade administrativa, conforme
previstos na Lei 8429/92, arts. 9º a 11. Claro que a improbidade administrativa na se resume
à responsabilidade de ordem civil, pois abrange conseqüência também nas esferas penal e
administrativa. De qualquer forma, na esfera civil, as conseqüências para o agente público
ímprobo poderão ser da seguinte ordem: em sede cautelar, o seqüestro de bens, o bloqueio de
bens, contas bancários e aplicações financeiras no exterior; e em sede de decisão de mérito, a
reparação do dano, a perda de bens e a reversão de bens em proveito da Administração
prejudicada. A responsabilidade administrativa “expressa as conseqüências acarretadas ao
servidor pelo descumprimento dos deveres e inobservância das proibições, de caráter
funcional, estabelecidas nos estatutos ou em outras leis.” (Odete Medauar, p. 301) Tal
como já dito anteriormente, cada ente público pode ter um estatuto próprio de seus
servidores. Quando o servidor descumpre o regramento desse estatuto, do código de
ética da administração em questão ou compromete o interesse público a seu cargo,
violando qualquer disposição legal, estará praticando falta funcional (ou infração
disciplinar ou infração funcional). Nesse caso, a justa expectativa do cidadão de que a
Administração está cuidando bem do interesse público será frustrada, caracterizandose
assim a responsabilização na esfera administrativa. Neste caso, os servidores deverão
submeter-se a sanções disciplinares, tais como advertência, suspensão, demissão e cassação
de aposentadoria ou disponibilidade.
A responsabilidade fiscal define-se a partir da necessidade de se obter um rigoroso equilíbrio
nas contas públicas, de maneira que haja sempre um completo e transparente planejamento
das despesas da Administração. Trata-se de uma decorrência da Lei Complementar nº
101/200, a Lei de Responsabilidade Fiscal. A responsabilidade fiscal não é propriamente
autonomizada em relação aos outros tipos de responsabilidade do agente público; ela traz
exigências a mais (o equilíbrio fiscal), que fomentam os outros tipos de responsabilidade.
Nesse sentido, a Lei 10028/2000, em seu art. 5º introduziu novos deveres (aos quais se ligam
infrações) administrativos, unicamente relacionadas à matéria fiscal, tal como se segue: “I –
deixar de divulgar ou de enviar ao Poder Legislativo e ao Tribunal de Contas o relatório de
gestão fiscal, nos prazos e condições estabelecidos em lei; II – propor lei de diretrizes
orçamentárias anual que não contenha as metas fiscais na forma da lei; III – deixar de expedir
ato determinando limitação de empenho e movimentação financeira, nos casos e condições
estabelecidos em lei; IV – deixar de ordenar ou de promover, na forma e nos prazos da lei, a
execução de medida para a redução do montante da despesa total com pessoal que houver
excedido a repartição por Poder do limite máximo.”
h) Regime disciplinar e processo disciplinar Prioritariamente, o que interessa aqui é enfocar a
responsabilidade de caráter administrativo, que será apurada mediante a constatação de
violação ao regime disciplinar do servidor, apurada através de processo administrativo
disciplinar. Para Odete Medauar, tem-se aí o exercício de um poder disciplinar pela
Administração, definido como “atividade administrativa, regida pelo direito administrativo,
segundo normas do processo administrativo; visa à punição de condutas qualificadas em
estatutos e lei, como infrações funcionais; tem a finalidade de preservar, de modo imediato, a
ordem interna do serviço, para que as atividades do órgão possam ser exercidas sem
perturbação e sem desvirtuamentos, dentro da legalidade e da lisura.” (p. 302)
Como se viu acima, os deveres a que o servidor público está adstrito são
bastante genéricos. As condutas que podem violar esses deveres e causar enormes
prejuízos ao interesse público são infinitas. Independentemente desse contexto de
dificuldades, o poder disciplinar deve coibir com eficiência a conduta infracional do
servidor.
Dessa forma, fica aqui uma questão: como poderia o poder disciplinar ser exercido de forma
eficiente dentro dos parâmetros rigorosos da legalidade para a Administração? Seria possível
“importar” os princípios do direito penal para a seara disciplinar da Administração Pública?
A resposta a essas questões está na superação da visa o tradicional de processos disciplinares
com grande dose de discricionariedade, o que acaba por resultar em processos disciplinares
arbitrários, com liberdade plena para o administrador fazer o que bem entende.
De um lado, é necessário que se garanta nos processos disciplinares a ampla defesa como
garantia fundamental do servidor. De outro lado, também é necessário que as decisões do
administrador processante sejam sempre fundamentadas e pautadas em juízo verificável de
forma objetiva. Para Odete Medauar (p. 304), “ante esse contexto, ainda que o operador do
poder disciplinar se defronte com fórmulas vagas, inseridas em estatuto ou lei orgânica, deve
pautar sue juízo por parâmetros objetivos para enquadrar a conduta do agente em tais
fórmulas, dentre os quais: vínculo com a função, adequada qualificação jurídica dos fatos,
repercussão da conduta na prestação do serviço, o conjunto do comportamento funcional do
agente.”
Portanto a chave para solução do problema está na procedimentalização da atividade
disciplinar, de maneira a garantir ampla defesa do servidor e ao mesmo tempo dirigir a
discricionariedade do administrador fazendo com esta deixe de ser arbítrio e passe a ser
decisão fundamentada em razões objetivamente verificáveis.
Quanto às sanções a serem aplicadas pelo administrador, haverá necessidade de previsão
expressa no estatuto disciplinar, sendo imprescindível que a lei relacione a sanção à conduta
tipificada. O administrador, portanto não pode criar modalidades punitivas novas, nem
relacionar entre si as modalidades existentes. As principais sanções disciplinares previstas
nos estatutos são as seguintes
1) Advertência ou repreensão – “previstas para faltas leves, são aplicadas por escrito; podem
repercutir na avaliação de desempenho para fins de promoção;”
2) Suspensão – “significa o não exercício das atribuições funcionais por um certo tempo, sem
percepção de vencimentos;”
3) Demissão – “consiste na perda do cargo ou função em virtude de infração funcional grave;
é a pena aplicado nos casos de: abandono de cargo, por faltas consecutivas por 30 ou mais
dias; inassiduidade habitual por faltas interpoladas, em geral 60 por ano; corrupção;
aplicação irregular de dinheiros públicos; acumulação ilegal de cargos, funções ou empregos
públicos; alguns estatutos prevêem a demissão a bem do serviço público, para algumas
infrações a que outros cominam a demissão;”
4) Cassação de aposentadoria ou disponibilidade – “é a extinção da aposentadoria ou da
disponibilidade, acarretando o retorno (reversão) do servidor à atividade, para que posse ser
aplicada a pena de demissão; tal ocorre quando, em atividade, o servidor cometeu falta grave,
verificada depois de ato de aposentadoria ou disponibilidade.”