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Especialização e integração sistémica

O desenvolvimento da neurofisiologia, das neurociências e das técnicas de


imagem cerebral foram importantes na identificação de funções
desconhecidas do nosso cérebro, bem como na redistribuição das que já
estavam identificadas. Foi também possível descobrir que, na verdade, o
cérebro funciona como um todo, apesar de existirem áreas especializadas,
pois estas não comprometem o funcionamento integral do cérebro e as suas
conexões com outras estruturas.

Função Vincariante – função do cérebro que permite que uma tarefa perdida
seja recuperada por uma área vizinha da zona lesionada. É graças a esta
função que as pessoas que perdem a fala devido a um acidente cerebral
acabam por recuperar a capacidade perdida.

Concluímos, assim, que o cérebro é um conjunto complexo de elementos


em que as componentes especializadas que o constituem são
interdependentes, ou seja, funcionam de forma integrada.

Auto-organização permanente

No decorrer do período de gestação o cérebro atinge 2/3 do seu tamanho


em adulto. É a partir de células primitivas, denominadas neuroblastos, que
se originam as células nervosas a um ritmo impressionante. Os neurónios
dividem-se estabelecendo entre si um número incalculável de ligações –
corticalização.

Apesar de ter todas as áreas corticais formadas, não quer dizer que o
desenvolvimento do cérebro do recém-nascido esteja concluído. Nos
primeiros seis meses de vida produzem-se mais modificações na estrutura
do córtex do que em qualquer outro período do desenvolvimento.

As capacidades humanas dependem da selecção de boas conexões, que por


sua vez dependem das condições do meio.
Os estímulos assimilados conduzem a processos de adaptação que se
reflectem na formação do cérebro. O efeito dos genes e dos estímulos do
meio actuam no desenvolvimento do cérebro (processo auto-organizado).

Estabilidade e mudança nos circuitos sinápticos

A morte de neurónios e a eliminação de muitas sinapses é uma das formas


de selecção da rede neuronais. É um processo de selecção em que se
anulam as conexões que não são necessárias e se retêm as eficazes.

O processo de selecção das redes neuronais está relacionado com o


potencial genético característico da espécie que possibilita o
desenvolvimento cerebral num dado sentido. Para além do factor aleatório
na formação das redes neuronais, estas dependem de factores epigenéticos
que decorrem da relação com o meio e que reflectem a história de cada
indivíduo.

Epigénese é um processo de moldagem ao longo do tempo, que tem inicio


depois do nascimento, no qual todas as experiências do sujeito cristalizam-
se sob a forma de ligações sinápticas entre neurónios, isto é, os neurónios
modificam-se quanto à forma e dimensão em resposta à estimulação
ambiental.

Como exemplo de epigénese temos os violinistas, que têm a zona do


hemisfério esquerdo (que controla a mão direita) que comanda os dedos,
mais desenvolvida que as outras pessoas. isto não altera a configuração
global do cérebro, se um indivíduo exerce mais especificamente certas
actividades, então determinadas zonas do cérebro responsáveis pela
realização dessas actividades passam a ter uma importância maior.

Lentificação do desenvolvimento cerebral

O processo de desenvolvimento cerebral no Homem é muito mais lento que


o desenvolvimento do sistema nervoso central de outros mamíferos.
Este carácter embrionário do cérebro torna-se uma vantagem,
possibilitando a influência do meio e uma maior capacidade de
aprendizagem.
Não existem nenhum cérebro igual a outro, devido às diferentes expressões
dos genes e a diferentes experiências de vida. Esta capacidade do cérebro
de se modificar com as experiências consiste na sua plasticidade, motor de
individualização. Ao contrário do que acontece nas outras espécies o
programa genética humano possibilita da variação individual.

Plasticidade e aprendizagem

Inicialmente a organização cerebral e o funcionamento do sistema nervoso


eram considerados definidos geneticamente, isto é, o homem teria um
programa predeterminado que definia a sua estrutura e as funções das
várias áreas. O que caracterizava o cérebro era a estabilidade das suas
conexões, que eram consideradas imutáveis e considerava-se também que
o cérebro era um órgão que atingia o auge da sua capacidade e força ao fim
da puberdade e que estaria condenado a degradar-se progressivamente à
medida que a idade avançava.

Com o avanço da ciência demonstrou-se que o cérebro é um órgão


maleável, modificando-se com as experiências, percepções, acções e
comportamentos do Homem, ou seja, a relação que o Homem estabelece
com o meio produz modificações no sentido de uma adaptação mais eficaz.

Foi através da maleabilidade do cérebro que foi possível chegar ao conceito


de plasticidade cerebral, a capacidade do cérebro se remodelar em função
das experiências do sujeito, em reformular as suas conexões em função das
necessidades e dos factores do meio ambiente, permitindo assim uma
aprendizagem ao longo da vida.

Para comprovar a plasticidade do cérebro foram realizadas investigações


com cegos adultos, as experiências feitas com cegos adultos que
começaram a aprender Braille vieram provar a neuroadaptabilidade do
cérebro, ou seja, as informações provenientes do dedo que lê Braille
activavam também as partes dos córtex visual.
Outra prova da plasticidade cerebral é que quando determinadas áreas
sofrem lesões que comprometem as suas capacidades, outros neurónios
que se encontram nas zonas vizinhas assumem as funções das áreas
danificadas.

É este carácter plástico do cérebro humano que o disponibiliza para a


aprendizagem ao longo de toda a vida.

Inteligência Animal - “Os animais são inteligentes?”

Durante muito tempo, esta pergunta teve como resposta uma afirmação
negativa. O comportamento animal regia-se, então, por instintos inatos e
reflexos aprendidos: comportamentos aparentemente inteligentes mais não
são do que respostas mecânicas a estímulos com origem nos meios
externos e interno.

Mas investigações sistemáticas sobre a inteligência animal vieram tornar


afirmativa a resposta a esta questão. E assim concluiu-se que a maior parte
dos vertebrados têm capacidade para aprender e resolver problemas: a
inteligência animal está relacionada com o desenvolvimento do sistema
nervoso central, particularmente o tamanho e a complexidade do cérebro.

A separação total considerada entre os seres humanos e os animais deixou


de fazer sentido pois existem animais, como o macaco, que apresentam
alguns processos cognitivos semelhantes aos dos homens e que resolvem
problemas recorrendo a estratégias semelhantes às nossas.
A capacidade de adaptação e a forma de resolver problemas manifestam as
capacidades do animal.

Novas Perspectivas

Na década de 60 foi Jane Goodall quem desenvolveu muitas investigações


sobre o comportamento dos chimpanzés. Mostrou que estes animais têm
um embrião de cultura pois possuem a capacidade de transmitir as suas
descobertas aos seus descendentes vizinhos – cultura transmitida de
geração em geração.

Diferentes grupos de chimpanzés desenvolvem formas distintas de resolver


problemas semelhantes. As variações de comportamento não eram devidas
às características geográficas ou ecológicas mas sim a uma alternância de
tipo cultural transmitida de geração em geração.

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