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Índice

Introdução...................................................................................................
....................... 1

Capítulo 1 – A criação do Prêmio Esso


............................................................................6

1 -A Esso no Brasil e no
Mundo..........................................................................................................
........................

2 -A Standard do Brasil se expande com a Boa


Vizinhança....................................................................................... 9

3 -Imprensa e Propaganda: disputas em torno da exploração do petróleo


brasileiro............................................... 13

4 -A criação do Prêmio Esso de


Reportagem..................................................................................................
......... 19

Capítulo 2 – O Prêmio Esso e o


Fotojornalismo.............................................................. 22

1 -Breve História da Imagem na Imprensa


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Brasileira................................................................................................ 23

2 -O Prêmio Esso de Fotografia e a Formação do Fotojornalismo


Brasileiro............................................................29

Capítulo 3 – As imagens
vencedoras...............................................................................39

1 -Transição da fase ilustrada para os pressupostos do fotojornalismo


moderno 1960-1964.................................. 44

2 -A ausência reveladora: o Prêmio Esso nos anos da ditadura


militar.................................................................... 52

3 -Uma imagem para mil palavras: a fotografia-síntese


........................................................................................... 64

Bibliografia...................................................................................................
.................... 65

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Introdução

A imagem concentra uma força semântica que a faz


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poderosa interface de

comunicação. O apelo ao visual, por se amparar na forma de percepção


sensorial mais direta e

dinâmica – a visão – se encarrega tanto de chamar a atenção do receptor da


mensagem quando

de mantê-la vigilante, costurando códigos construídos e reconhecidos


no cotidiano das

práticas sociais. Isso pode ser observado no rápido processo de


adesão da sociedade

contemporânea a visualidade como forma de expressão, bem como na


profusão de imagens

signos visuais veiculados através dos meios de comunicação.

Dentre os diversos tipos de imagem, a fotografia, que teve seu


primeiro exemplo

reconhecido em 1825 a partir de uma imagem captada em uma placa de


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estanho coberta de

betume por Nicéphore Niepce, representou um marco, pois pela primeira vez
um fragmento

da realidade poderia ser captado e ser inscrito em um suporte, através do


processo físico

químico e do principio da câmara escura. A partir de então


inaugura-se uma trajetória

caracterizada pela produção de imagens mediadas por dispositivos


tecnológicos e por um

saber técnico específico que se intensifica e configura a tônica de todo o


século XX na

produção, no tratamento e na recepção de imagens .

A função de atestar veracidade caminha junto com as imagens


técnicas, desde a

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origem da fotografia, a primeira forma de capturar tecnicamente a imagem


inventada pelo

homem. Por calcar seu referente na realidade, segundo Flusser, a fotografia


engendra, mais

que uma identificação, um processo mimético, em que o visível é tomado


como real, de modo

1 MAUAD, A. M., “Fotografia e História – possibilidades de análise”. In:


ALVES, Nilda e CIAVATTA, Maria. A Leitura

de Imagens na Pesquisa Social. História, Comunicação e Educação. São


Paulo: Cortez, 2004 e MENEZES, Ulpiano.

“Fontes visuais, cultura visual. Balanço provisório”, propostas cautelares”


Revista Brasileira de História. São Paulo,

v. 23, n. 45, 2003.

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que:

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Apar entemente, pois, imagem e mundo encontram-se no mesmo
nível

do real ( ) O observador confia nas imagens técnicas tanto


quanto

confia nos seus pr óprios olhos Quando se critica as imagens


técnicas

(se é que se critica), não o f az enquanto imagens, mas


enquanto

visões de mundo 2

Tal associação confunde visibilidade e credibilidade de tal maneira


que acaba por

despir a fotografia de seu caráter subjetivo, ou seja, subtrai do


processo de criação da

fotografia a função do fotógrafo, entendido aqui, como indivíduo dotado de


uma leitura de

mundo própria, permeada motivações pessoais/culturais/ideológicas


formadas pela sua
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experiência social. Isso implica na perda da noção da fotografia como uma


construção, uma

das tantas representações de mundo possíveis, que exibe em sua face


icônica apenas uma

parte das infinitas possibilidades interpretativas que guarda em sua essência.

Então, à investigação que busca subsídios nos registros visuais, como


alerta Boris

Kossoy, compete enveredar por caminhos que vão além das


possibilidades do visível,

tentando ver, através da materialidade indiciaria da fotografia, suas múltiplas


realidades . Isso

corresponde a dizer que a dimensão imaterial da fotografia reside nas diversas


interpretações

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que ela pode suscitar, ou seja, nas significações e re-significações


tecidas através da

interrelação que estabeleça com as construções imaginárias, que por


sua vez, encerram

leituras permeadas pelas experiências e saberes humanos. Ao mesmo


tempo, o caráter

mutável da representação fotográfica, com das inúmeras possibilidades de


leituras, exige do

historiador, novos tipos de crítica documental, as quais devem


envolver a busca por

conhecimentos multidisciplinares e, principalmente a intertextualidade entre


diversos tipos

fontes.

A capacidade de aglutinar imagem e informação é uma


característica marcante do
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fotojornalismo, que inspirou a pesquisa desenvolvida neste trabalho.


Especialmente, porque,

com a massificação dos canais de comunicação iniciada no século XX, ambas


tornaram-se

veículos imprescindíveis na difusão de ideologias responsáveis por


formar a conformar

2 FLUSSER, Vilém. Ensaio sobre a fotografia para uma filosofia da técnica.


(filosofia da caixa preta). Lisboa:

Relógio D'Água, 1998, p. 34.

3 KOSSOY, Boris. Realidades e Ficções na Trama fotográfica. São Paulo:


Ateliê Editorial.

4 Idem, p. 20

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opiniões. Assim sendo, a escolha do fotojornalismo como objeto de estudo


está relacionada

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tanto com uma reflexão acerca da inscrição da imagem na imprensa diária no


Brasil, quanto a

uma demanda que diz respeito ao papel da informação visual dentro do


contexto social

contemporâneo. Deste modo:

As dif erentes ideologias ( ) sempr e tiveram na imagem f


otográfica

um pode roso instrumento par a a veiculação das idéias e


da

conseqüente f ormação e manipul ação da opinião


públ ica,

par ticularmente, a par tir do momento em que os


avanços

tecnológicos da indústria gráfica possibilitaram a multipl


icação

massiva de imagens através dos meios de informação e divulgação 5


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A trajetória da fotografia nos periódicos diários é iniciada pelo jornal


inglês Dialy

Mirror em 1904, fazendo com que a mesma se tornasse parte integrante não
só da sociedade –

que a partir de então se habitua com a fotografia – mas também dos


periódicos, para os quais

a associação com a objetividade e principalmente com a imparcialidade


sempre foram

bandeiras. A idéia fotográfica se encaixou perfeitamente a proposta jornalística


vinculada à

informação e com o advento de novas técnicas e tecnologias, além é claro, do


pioneirismo de

vários fotógrafos, o conceito de fotografia foi gradativamente se


alterando, ou seja,

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enquadramento, perspectiva, iluminação, ângulo novos foram sendo
almejados tanto pelos

fotógrafos quanto pelos editores dos jornais.

No Brasil, o final da década de 1950, marca o início da inscrição da


fotografia nas

publicações de circulação diária, o que está estreitamente ligado a difusão dos


canais visuais

de expressão, sinalizado pelo rápido crescimento da influência da televisão no


cotidiano das

pessoas. Embora, o fotojornalismo brasileiro tenha suas origens na década de


1940, com a

emergência das Revistas Ilustradas e a vinda de fotógrafos estrangeiros


que dariam os

primeiros contornos da atividade no país, foi ao longo dos anos


1950 e 60 que as

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reivindicações de regulamentação profissional começam a ser concretizadas.
Essas conquistas

da categoria refletiram não só na importância atribuída a imagem, que


reorganiza os espaços

privilegiados do jornal, mas, sobretudo, no que diz respeito ao tratamento


dispensado pela

imprensa aos repórteres fotográficos, com a valorização da classe profissinal e,


em alguns

casos, melhorias nas condições de trabalho. Essas mudanças vão se processar


no bojo das

5 KOSSOY, Boris. Realidades e Ficções na Trama fotográfica. São Paulo:


Ateliê Editorial, p. 20.

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reformas ocorridas nos órgãos imprensa, estimuladas pela reformulação


estética levada a cabo

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pelo Jornal do Brasil em 1957. A década seguinte, assistiu ao


amadurecimento do

fotojornalismo brasileiro na trajetória em busca de referências identitárias,


passando pela

construção de idéias e conceitos, que dariam subsídios para a constituição da


atividade como

linguagem.

O Prêmio Esso de Fotografia – categoria instituída em 1961, dentro do


Prêmio Esso

de Jornalismo – foi primeiro concurso especializado do país, que por sua vez
foi o único em

que a empresa de mesmo nome promoveu o certame. Sua implementação


ocorreu no ano de

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1956, partindo do princípio de ter “jornalista julgando e premiando um
colega jornalista” .

No que concerne a fotografia o prêmio constitui-se como uma peça importante


na trajetória do

fotojornalismo brasileiro, ratificando, ao criar a categoria específica para julgar


as fotografias

da imprensa, o desenvolvimento da atividade. Ao mesmo tempo, contribui


para a o processo

de consolidação do fotojornalismo brasileiro, uma vez que cria referências


basilares no campo

da linguagem fotográfica, expressas nas imagens premiadas. Sem


contar a valorização

propiciada pelo prestígio de ter um trabalho premiado.

Diante disso, o trabalho aqui apresentado contará com três partes. A


primeira tratará

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da história da Esso, braço multinacional da petrolífera Standard Oil Company,
que se instalou

no Brasil em 1912 e participou ativamente das instâncias econômica e


política do país,

mobilizando esforços para a difusão da ideologia norte-americana da


Boa Vizinhança e

disputando espaço nas atividades que envolviam a exploração de petróleo no


Brasil. Dentro

da conjuntura criada em torno da questão do petróleo, surge o Prêmio Esso,


ainda chamado de

Reportagem, marcando nova etapa das relações estabelecidas entre a


empresa e a imprensa.

No segundo capítulo, o foco do trabalho recairá sobre a história da imagem


na imprensa,

privilegiando a fotografia como objeto de investigação e buscando traçar uma


trajetória do

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fotojornalismo no Brasil, especialmente seu processo de modernização técnica


e tecnológica.

Neste ponto, a abordagem tem como objetivo costurar o desenvolvimento da


fotografia e a

valorização do fotojornalista dentro da imprensa imprensa com a criação e


organização do

Prêmio Esso de Fotografia. Por fim, será feita uma análise das fotografias
vencedoras, com a

intenção de identificar nas imagens os principais elementos


valorizados no julgamento

estabelecido pelo concurso em questão.

6 Entrevista concedida por Ruy Portilho, um dos atuais organizadores do


evento, ao site Photosyntesis.

Disponível em:
http://www.photosynt.net/ano2/03pe/tete/10_portilho/index.htm Acessado
em: agosto/2006.

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Capítulo 1 – A criação do Prêmio Esso

Quando o repórter Mário de Morais desmaiou de emoção porque leu em


O Jornal que

havia sido o primeiro ganhador do Prêmio Esso de Reportagem com uma


matéria, que foi

capa da revista O Cruzeiro, sobre a viagem de migrantes nordestinos nos


caminhões paus-de

arara, o Brasil era o país do futuro e a esfera que começava a se delinear em


toda a sociedade

era a dos rumos aos quais a modernidade levaria. O ano era 1956, em
que o presidente

Juscelino Kubitschek e seus “50 anos em 5” simbolizavam a promessa, voltada


para o futuro,

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de modernização, e, ao mesmo tempo se configurava como um indicador das
transformações

sociais, advindas do processo de desenvolvimento iniciado nos anos do Estado


Novo, que

modificou os padrões econômicos e sociais.

O estudo apresentado neste trabalho busca uma abordagem acerca das


motivações que

levaram uma empresa multinacional instalada no Brasil desde 1912 – a


Standard Oil of New

Jersey – a criar um concurso voltado para a imprensa a seus profissionais.


Para tanto, dois

períodos são de fundamental importância na tentativa de empreender uma


análise da atuação

da Esso no Brasil. O primeiro está delimitado entre o final da década de 1930


e a metade da

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década de 1940, em que, possibilitado pelo estreitamento das relações
Brasil-Estados Unidos,

sob a tutela do Estado Novo e da “Política da Boa Vizinhança”, ocorre a


entrada no país de

empresas americanas de grande porte. Ávidas por expandir as maravilhas do


American Way

of Life, essas empresas ingressam no Brasil e constroem suas


bases juntamente com

agências de publicidade como a McCann-Erickson, uma das grandes no setor,


que terá uma

participação bastante ativa junto à imprensa nacional no seu processo de


modernização.

O segundo período a ser destacado, está demarcado nos anos após a


Segunda Guerra,

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mais especificamente entre o fim da década de 1940 e o início da década


seguinte, e traz no

seu bojo a questão que mobilizou todo o país à época: o projeto de


nacionalização da

exploração do petróleo. De um lado, figuravam os interesses da empresa


estrangeira, a fim de

garantir as reservas brasileiras de extração de petróleo e, ao mesmo


tempo, expandir o

mercado consumidor do produto aos países do Sul da América,


de outro, o projeto

nacionalizante do governo Vargas, que se empenhou na mobilização social


com a campanha

“O Petróleo é Nosso”, visando ao monopólio estatal da exploração de


petróleo no Brasil.

Diante da conjuntura do período, alguns dos principais órgãos de


imprensa do país,

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comprometidos com o aporte de recursos publicitários das multinacionais,


dentre elas da

Standard do Brasil, posicionaram-se ora omitindo notícias


relacionadas ao tema, ora

contrariando a proposta de nacionalização do governo, o que em alguns casos


disferiu ataques

pessoais a figura do presidente Getúlio Vargas.

A partir disto, o trabalho que se segue procura traçar um panorama da


história da

Standard Oil Company, atendo-se a sua atuação no Brasil nas décadas de


1940 e 50. Período

em que, por intermédio da parceria com a agência publicitária


McCann-Ericksson, as relações

da empresa com a imprensa escrita nacional se estreitaram e forneceram


suporte, financeiro

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essencialmente, a modernização do setor. Além disso, a investigação acerca


da trajetória da

empresa no país fornece subsídios para compreensão da nova


tônica da propaganda

institucional implementada pela Esso, concretizada com a criação do Prêmio


de Jornalismo.

1 - A Esso no Brasil e no Mundo

O status de uma das maiores empresas do mundo conferido a Esso


começa a ser

esboçado 1870, quando o americano John Davison Rockefeller e mais quatro


sócios fundam a

Standard Oil Co.. Criada no contexto do capitalismo monopolista, numa


época em que o

desenvolvimento das técnicas e tecnologias da indústria estavam sendo


forjadas por idéias

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advindas da racionalização do trabalho e do cientificismo positivo, a


companhia assume,

rapidamente, o controle das transações que envolviam extração, refino


e distribuição de

petróleo nos EUA. Em 1890, o grupo Rockfeller já havia consolidado o seu


monopólio sobre

o produto que daria a tônica do século XX, com a concentração de 30


corporações e uma

abrangência no mercado que pode ser observada no quadro abaixo.

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10

Transporte Mais de ¾ do petróleo de Ohio, Pensilvânia e Indiana

Refino Refinava o equivalente a ¾ do óleo cru do país inteiro

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Vagões de Tinha 50% dos vagões cisternas do país, especiais para o


transporte do

trem petróleo

Abastecimento Era responsável pelo fornecimento de 9/10 dos


lubrificantes ferroviários

Frota Tinha 75 vapores e 19 veleiros adaptados para servir como


petroleiros

Fonte: Daniel Yergin - Historia del Petróleo, 1992, pág. 146

A rápida ascenção de John D. Rockfeller no mundo dos negócios


acompanhou o

avassalador processo industrializante, que após Guerra de Secessão


transformou não só os

hábitos como também a paisagem dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo em


que, na virada

do século XIX para o XX, os ares da industrialização eram responsáveis


pela crescente
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urbanização e modernidade, também expuseram suas contradições e


trouxeram com suas

mazelas trouxeram a atmosfera necessária para o desenvolvimento do


que foi chamado

movimento progressista, cujas preocupações serão institucionalizadas através


do New Deal.

Em meio a isso tudo, diante da pressão exercida por uma opinião pública,
incipiente, porém

mobilizada, o então presidente Theodor Roosevelt, em 1906, inicia um


processo judicial

contra a Standard Oil Co., sob a acusação da através da formação de


um truste ferir o

Sherman Antitrust Act. Em 1911, o grande monopólio de Rockfeller


se pulveriza por

determinação da Suprema Corte Federal diante da ratificação da sentença


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proferida em 1909

que acusava a empresa da formação de truste .

O poderio do empresário no setor petrolífero continuaria a ser exercido,


agora sob

diversas e distintas fachadas, dentre as quais a da Standard Oil of New Jersey


(mais tarde

Exxon), que foi a empresa escolhida para ser a marca que levaria para a
América dos que

estão abaixo do Grande Irmão do Norte, incluindo o Brasil, os benefícios do


progresso e do

bem estar, difundindo o American Way of Life e vendendo a propaganda da


política da Boa

Vizinhança. No entanto, acompanhando tamanha disposição de


se enveredar na missão

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civilizadora, a questão que toma corpo à época tem uma estreita relação com
a manutenção do

controle das possíveis reservas de petróleo do restante da


América, tendo em vista a

estagnação da descoberta de novos poços nos Estados Unidos. Junto com


outras seis majors

do petróleo – BP, Royal Dutch/Shell, Chevron, Texaco, Gulf e Mobil – a


Standard Oil of New

Jersey compôs o mundialmente influente grupo das Sete Irmãs, o qual,


através do monopólio

1 WEY, Hebe. O Processo de Relações Públicas. São Paulo: Summus, 1983.

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do produto estrategicamente mais valorizado, sentenciariam as principais


causas e rumos no

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globo.

A instalação da Standard Oil of New Jersey no Brasil foi autorizada pelo


presidente

Hermes da Fonseca, através de um decreto assinado em 17janeiro de 1912.


Embora suponha

certa incongruência a representante de uma indústria de petróleo de porte


mundial fincar bases

em um país que mal possuía estradas e automóveis, adotando


o nome de Standard Oil

Company of Brazil a empresa iniciou suas atividades,


pioneiras no país, com a

comercialização de “kerozene” e “gazolina” vendidos em tambores ou


tonéis. Mais tarde

lançou-se na produção de outros produtos químicos como inseticidas


domésticos, produtos

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agrícolas, aditivo para lubrificantes, dentre outros .

Desde sua chegada ao Brasil a empresa americana


Standard Oil participou e

influenciou, juntamente com outras multinacionais, diversas esferas da


sociedade brasileira.

Introduziu mudanças que vão desde as necessidades de consumo, atrelando


desenvolvimento

de tecnologias e propaganda, até as transformações que permearam


as comunicações e a

difusão da informação através de sua ativa participação junto à imprensa


nacional. Dos anos

que sucederam a instalação da empresa da família Rockfeller


no país, o período

correspondente ao primeiro governo de Getúlio Vargas serão de


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fundamental importância

para a análise, no tocante a pretensão de inferir sobre as relações entre o


empresa, imprensa e

propaganda.

2- A tandard do Brasil se expande com a Boa Vizinhança

O primeiro governo Vargas, em especial a década de


1940, é de substancial

importância para a história nacional por caracterizar-se como


um período de intensas

mudanças que, dentre tantos símbolos criados, fundou a idéia de


revolução da sociedade

brasileira. Após 1930, o Brasil deixaria de ser a república capitaneada pela


aristocracia rural e

caminharia rumo ao desenvolvimento industrial e a modernização. A ascensão


de Vargas ao
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2 Sobre a história da Standard Oil: SCHIFFRIN, Anya e TSALIK, Svetlana


(orgs.). Repor tando o Petróleo:

Um Guia Jornalístico sobre Energia e Desenvolvimento. Revenue Watch,


Open Society Institute. Disponível

em: http://www.revenuewatch.org/reports/072305po.pdf Acessado em:


junho/2006. e SILVA, Ademir

Brandão. Gestão ambiental na indústria: uma avaliação do


comportamento dos setores químico e

petroquímico com relação aos passivos ambientais e os problemas causados


em torno da Baía de Guanabara.

[Mestrado] Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde


Pública; 2001. Disponível em:

http://portalteses.cict.fiocruz.br/transf.php?script=thes_chap&id=00004203&ln
g=pt&nrm=iso. Acessado em:

junho/2006.

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poder em 1934 e a instituição do Estado Novo em 1937, corroborariam e


acentuariam essa

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perspectiva, personificando, na figura do líder da chamada “Revolução”, a
imagem de país do

futuro.

À abordagem que se seguirá não cabe discutir os meandros da


Revolução de 1930,

refletindo acerca de seu legado para uns transformador e para outros


continuístas. Tampouco

faz parte dessa proposta ocupar-se em empreender um estudo


aprofundado do governo

exercido por Vargas. No entanto, afim de melhor elucidar a trajetória da Esso


no Brasil, torna-

se imprescindível mapear, ao longo do período, os setores em que a atuação


da empresa foi

responsável por transformações nos padrões até então vigentes. Assim como,
também torna-

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se relevante entrecruzar essas informações com os pressupostos introduzidos
pela Política da

Boa Vizinhança, que impuseram diretrizes novas no que tange os


hábitos e costumes no

Brasil.

Dentre os aspectos a serem considerados, é importante destacar, o


estreitamento das

relações entre Brasil e Estados Unidos, através do que se convencionou


denominar Política de

Boa Vizinhança, será abordado neste trabalho a partir da premissa que


a agenda política

instaurada pelo governo do presidente norte-americano Franklin


Delano Roosevelt serviu

como um canal para o desenvolvimento pleno e a capacidade de


intervenção das

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multinacionais, entre elas a Standard Oil, no Brasil. Assim sendo, não está
sendo colocado em

questão qualquer tipo de relação direta entre os pressupostos levados à tona


pela Polícia da

Boa Vizinhança e a criação do Prêmio Esso, até porque a cada um cabe uma
temporalidade

distinta com conjunturas também distintas.

Desse modo, a demanda norte-americana por ampliar seu raio de


influência – quer

pela força quer pela diplomacia – nas Américas, além de refletir


uma perspectiva

característica dos desdobramentos da II Grande Guerra, também vai de


encontro com a

pretensão empresarial de alargamento das fronteiras do consumo de massa. A


concretização

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dessas idéias se deram mediante ao investimento e mobilização de um
contingente bastante

significativo de recursos, os quais concentraram esforços na conformação das


potencialidades

apresentadas pelo mercado consumidor brasileiro, veiculando, através da


propaganda, uma

fórmula já testada com sucesso nos Estados Unidos: o American Way of Life.
Diante do

desfile dos ícones da cultura norte-americana que aportaram nos quintais dos
trópicos, aos

poucos os hábitos e costumes da sociedade brasileira, ligados, desde


então, aos traços

culturais europeus (colonizadores e colonos) foram se modificando e se


afinando ao estilo

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“americano” de vida . Como afirma Moniz Bandeira “as fontes da


cultura européia

praticamente desapareceram (...) Bye, bye-bye, good-bye, big, boy,


black-out, night-club,

money e outras expressões entraram na linguagem do cotidiano” .

Os recursos utilizados para promover a internalização do modo


de vida norte

americano, contaram com o rádio, a imprensa escrita, o cinema e com a


criação do Bureau

Interamericano, órgão, presidido por Nelson A. Rockfeller (neto do fundador


da Standard Oil

John D. Rockfeller), responsável pela coordenação das atividades entre


Brasil e Estados

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Unidos. Não é por acaso, que nesta época, a propaganda, assim como seus
veículos tenham

sofrido o primeiro grande salto quantitativo e qualitativo no país, e, começa a


ser esboçado a

de associação empresa-imprensa-propaganda que irá se consolidar e


aperfeiçoar em seus

meios e métodos, principalmente após a chegada da televisão.

O apelo ao consumo e a invasão dos novos e modernos


produtos no mercado

brasileiro foi responsável também pela reformulação do formato e


da veiculação da

propaganda, introduzindo novas fórmulas e dispositivos no campo da


publicidade. Para tal,

contribuíram em muito a vinda para o país das grandes agências de


publicidade norte

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americanas, dentre as quais destacam-se a J. W. Thompson e a


McCann-Erickson. Sendo que,

a última, pela ligação que possuía com a Standard Oil, será de fundamental
importância nos

rumos tomados pela empresa no Brasil.

Harrison McCann e Alfred Erickson, funcionários da Standard Oil, se


desligaram da

companhia para fundar em Nova York, em 1912, a McCann-Erickson. Após o


desligamento

da Standard, McCann e Erickson, através da empresa fundada, continuaram


responsáveis pela

propaganda da marca nos Estados Unidos. A agência de publicidade chega ao


Brasil em 1935,

atraída pelas possibilidades de atuação que, ampliadas pelo contexto


do período mas,

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sobretudo, pela segurança antevista, dado as relações estabelecidas, desde


sua origem, com a

companhia americana, que irá permanecer como seu único cliente, Em toda a
América do Sul,

durante muito tempo.

A participação da McCann-Erickson junto a Standard Oil of Brazil irá


muito além da

criação de campanhas publicitárias. A agência vai atuar como um


escritório de relações

públicas e ser peça importante nos investimentos feitos pela


companhia de difusão das

diretrizes da Política da Boa Vizinhança, através de intervenções na


imprensa escrita e no

3 TOTA, Antonio Pedro. O impe rialismo Sedutor: a americanização do Brasil


na época da Segunda Guerra.

Sõa Paulo: Companhia das Letras, p 28.


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4 BANDEIRA, Moniz. Presença do Estados Unidos no Brasil: Dois séculos de


história. Rio de Janeiro:

Civilização Brasileira, 1973, p. 310.

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rádio. O outro componente desse consórcio, que envolvia a


agência de publicidade ea

empresa multinacional foi a United Press, agência de notícias


considerada o principal meio

de fomento para a imprensa dedicada às diretrizes do Pan-americanismo


ianque. Os dois

maiores exemplos dessa tríplice parceria à época são a Revista Seleções e o


famoso noticiário

Repórter Esso.

Além de marcar o período áureo da transmissão radiofônica do


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Brasil, O Repórter

Esso, tornou-se, ao longo da década de 1940, o grande modelo de veiculação


de notícias, pois

seu formato, sintético e objetivo, influenciou não só o


radiojornalismo, mas também a

imprensa escrita. Além disso, o noticiário radiofônico foi o principal


instrumento utilizado na

repercussão da ideologia favorável a aproximação entre a América


do Norte e a outra

América, seguindo as diretrizes dos países aliados durante a Segunda


Guerra, preconizada

pelos Estados Unidos. Tanto que, sua estréia em 1941, coincide com a
entrada dos Estados

Unidos na Segunda Guerra, após o ataque da base de Perl Harbor e à


ascensão da audiência

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do Repórter Esso corresponde a trajetória que levou a consolidação das
relações entre Estados

Unidos e Brasil.

Outro aspecto, que torna o Repórter que se pretendeu “testemunha


ocular da história”

objeto de relevância no âmbito da pesquisa desenvolvida neste trabalho,


deve-se ao fato de ter

sido o mesmo um dos primeiros e mais eficientes produto da associação


empresa-imprensa-

propaganda, marcando, ao mesmo tempo, o interesse e a influência da


Esso no setor das

comunicações e da imprensa, o que virá a ser um elemento importante na


criação do prêmio

destinado à categoria. Segundo afirma Luciano Klöckner, a


participação da empresa de

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combustível no programa de rádio não se resumia somente ao anúncio de
seus produtos.

Toda uma estrutura publicitária, que envolvia uma preocupação


detalhada com a

audiência, normas que buscavam sempre a padronização e a oferta de


notícias seguindo a

lógica da venda de mercadorias, foi montada para dar suporte ao


programa de notícias,

servindo para criar um formato jornalístico que inspirasse imparcialidade e


credibilidade aos

ouvintes . Sendo assim, a supervisão da McCann-Erickson na redação e edição


das matérias

que iriam ao ar foi precisa e objetiva: tinha clara a perspectiva de fazer com
que, através dos

artifícios da propaganda, a popularidade e idoneidade que o noticiário


representava fosse
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identificada na imagem de seu patrocinador.

5 KLÖCKNER, Luciano. O noticiário radiofônico na Segunda Guerra e a edição


brasileira do Repórter Esso.

Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/xxiv


ci/np06/NP6KLOCKNER.pdf. Acessado em:

maio/2006.

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15

Como já foi ressaltado os desdobramentos da década de 1940


no Brasil são

importantes tanto pela análise da trajetória através da qual se deu o


desenvolvimento da Esso

Petróleo do Brasil quanto no que diz respeito as mudanças nos campos


de imprensa e

propaganda, que aportaram no país juntamente com a entrada


das multinacionais,
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especialmente as norte-americanas. Com elas a Standard Oil Company of


Brazil, mais tarde

Esso, tal como o famoso noticiário que instaurou e consolidou a


parceria, que será

responsável, posteriormente, pela concepção das estratégias de divulgação


e promoção das

idéias que vão de encontro aos interesses da petrolífera e também terá


como produto de sua

associação o Prêmio Esso de Reportagem.

3 - Imprensa e Propaganda: disputas em torno da exploração do petróleo

brasileiro

Com a década de 1950, teve início o segundo governo do presidente


Getúlio Vargas,

que, como é alardeado pelo lugar comum, voltou ao poder nos braços do povo
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e realizou em

quatro anos um governo conturbado sob diversos aspectos, mas,


essencialmente, dentro do

campo político. Da referida década, precisamente no ano de 1955,


também faz parte a

realização da primeira edição do Prêmio Esso ou Esso's boy como ficou


conhecido nas

redações dos profissionais de imprensa. Não é possível, tampouco pertinente


estabelecer de

modo simplista e linear uma relação direta entre as conjunturas


apresentadas, uma vez que

não daria conta de percorrer os caminhos que levaram as duas a se cruzarem.


Entretanto, por

mais que aparentemente os desdobramentos políticos do período não


possuam relações com a

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iniciativa da companhia petrolífera – já há muitos anos atuando no mercado
brasileiro – ao se

adicionar a esse quadro o componente capaz de servir de estopim, os


interesses de ambas as

partes iriam transparecer e entrar em conflito naquela que seria a questão do


início da década

de 1950: a implantação das políticas de exploração e uso do petróleo.

Mesmo que, inicialmente, os postos transnacionais da Standard Oil


of New Jersey

tenham se restringido a criar mercado consumidor para alguns derivados


simples de petróleo,

a iminência e a atmosfera tensionada que antecedeu e perdurou durante da


Primeira Guerra, as

necessidades da industrialização em expansão e todos os elementos


que compunham a

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conjuntura internacional no início do século, dotaram o processo de expansão
da petrolífera

pelos países da América do Sul de perspectivas de manter nesses países


reservas de petróleo,

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16

garantindo a concessão da exploração do bem material de maior valor


comercial e logístico

dos “tempos modernos”. Deste modo, a atuação da empresa no Brasil não


diferiu, de modo

geral, em intenções e ações das empreendidas nos vizinhos da


parte sul do continente,

contando, segundo afirma a bibliografia sobre o tema , com


pesquisas de prospecção

direcionadas a confirmar a existência de possíveis jazidas e, visando garantir


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a manutenção

inexplorada de reservas, a omissão de resultados. Um dos muitos


exemplos dessa prática

ocorreu no Brasil e envolveu o técnico estrangeiro Victor


Oppenheim, contratado pelo

Ministério da Agricultura para analisar a viabilidade da exploração. Apesar dos


rumores, que

desde 1933 afirmavam a existência de petróleo na Bahia, de


acordo com o laudo do

especialista, o investimento na prospecção não seria viável, pois a


conclusão da pesquisa

comprovou a inexistência de petróleo na região do Recôncavo Baiano (cidade


de Lobato), que

em novembro 1938 começou a operar seu primeiro poço. E, ainda assim,


somente dois meses

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depois, em janeiro de 1939, foi divulgada a primeira notícia nos jornais.

Não pertence ao escopo desta pesquisa fazer uma incursão


aprofundada na questão

que sucedeu a disputa pelo controle do usufruto do petróleo no


Brasil, até mesmo pela

complexidade do debate que se alargaria até 1953 com a criação da


Petrobrás. A abordagem

dessa temática está pautada, principalmente, no tratamento dispensado pela


imprensa nacional

ao desenrolar dos fatos. Mais do que isso, do atuante papel do tripé


empresa-imprensa-

propaganda, o qual tratou de investir na articulação de idéias que


tentariam conformar na

opinião pública a crença de que a intervenção de uma companhia estrangeira


– a Standard Oil

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foi a mais proeminente neste aspecto – na exploração de petróleo no Brasil
traria muito mais

benefícios ao país do que o monopólio estatal, sempre difamado pelos meios


de comunicação.

Antes de contextualizar os rumos tomados pela Esso nesta questão, é


conveniente que

se abra um parêntese na análise para tecer alguns comentários sobre a


ascensão do um ramo

de atividades relacionados a relações públicas e comunicação


empresarial. Sem nenhuma

pretensão reduzir o processo histórico a personagens com a áurea do


mito, é no mínimo

interessante que as origens do campo de comunicação empresarial residam na


necessidade de

promoção da imagem do fundador da maior companhia de


petróleo à época: John D.

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Rockfeller. De acordo com a pesquisa de Hebe Wey, no livro O


Processo de Relações

Públicas, um dos manuais da profissão, a má fama do empresário do petróleo


chegou a níveis

insustentáveis, com acusações disferidas, pela até então pouco importante


opinião pública, de

6 COUTINHO, Lorival e SILVEIRA, Joel. O petróleo do Brasil: traição e


vitória. Rio de Janeiro: Livraria

Editora Coelho Branco, 1957.

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17

não atuar com nenhum tipo de escrúpulos a fim de sustentar o monopólio nos
setores em que

possuía negócios . Para transformar o “polvo sangüinário”, como era


conhecido, em um dos

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benfeitores da humanidade, foi contratado o jornalista Ive Lee, que


dedicou-se a construir

uma imagem de que de seu cliente, que se opusesse a que prevalecia até o
momento. Valendo-

se de suas credenciais profissionais, dentre os artifícios utilizados por Lee


estão a publicação

de material publicitário transfigurado de notícia jornalística e fabricação de


informações para

a imprensa, através da intervenção nas rotinas e hábitos do seu principal


cliente, Rockfeller.

Deste casamento, entre o empresário e o jornalista consultor, cuja


fórmula fez escola, se

ampliou e aperfeiçoou até os dias atuais, resultaram a criação de fundações


como a Fundação

Rockfeller para Pesquisa Médica; o apoio às artes e à cultura e diversos


elementos e ações que
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pudessem corroborar a aparência.

Através desta rápida incursão na vida do fundador da


Esso, se pretende, com a

ressalva de não tecer relações de causalidade, nem endossar discursos que


se empenham na

construção de vítimas da tirania imperialista, apresentar a larga experiência


da empresa nas

estratégias de intervenção nos meios de comunicação, especialmente quando,


na outra ponta o

quadro da incipiente industrialização no Brasil e a fragilidade dos mecanismos


de imprensa8

abre a brecha, mais do que necessária, para a atuação das


multinacionais na produção e

promoção de publicidade nos veículos em circulação. Seguindo


a perspectiva de Nelson

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Werneck Sodré, foi justamente a entrada de capital publicitário de grandes


companhias que

selecionou os grandes jornais dos pequenos, que em decorrência disso


foram aos poucos

desaparecendo.

Tendo isso em vista, pode-se analisar com maior clareza a


participação da Esso na

defesa de seus interesses e do futuro de seus negócios no Brasil, lembrando


que estas terras

representavam tanto a potencialidade de extração como um vasto e promissor


mercado, ainda

inexplorado, dos subprodutos e derivados do petróleo. A disputa entre os


campos nacionalista

e estrangeiro na questão do petróleo foi permeada pelos ingredientes de uma


agitada história

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de bastidores do poder, pois, além de mobilizar boa parte da sociedade civil,


teve episódios

dignos de obra de ficção. Do lado das multinacionais, contou com a


pressão exercida em

diversas instâncias, que vão desde as manobras políticas junto à câmara e


ao senado até o

arremedo de linhas na imprensa escrita acerca das vantagem do


combustível que movia a

7 WEY, Hebe. O Processo de Relações Públicas. São Paulo: Summus, 1983.

8 Essa fragilidade é decorrente de fatores como o estágio ainda artesanal e


pouco técnico de produção dos

veículos de comunicação, assim como é influenciada, ainda, pelo longo


período de exceção que caracterizou

o governo de Getúlio Vargas. Nelson Werneck Sodré, caracteriza essa fase


como a crise da imprensa.

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18

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humanidade. Do lado do governo de Vargas, agora sem os poderes de censura
abolidos com o

fim do Estado Novo, as alianças políticas, inclusive as suprapartidárias, e


intensa propaganda

institucional nacionalista – com o slogan “o petróleo é nosso” -


através do rádio,

caracterizavam a tentativa de aprovação do monopólio do Estado sobre o


controle do usufruto

do petróleo.

Os tempos de modernidade e democracia pós-guerra que


caracterizaram a década de

1950, também foi o período em que se assistiu a intensificação


da participação dos

empresários e suas grandes corporações no controle dos meios de


comunicação. Esses são

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resultados do trabalho Free and a Respons ible Press, desenvolvido em
Harvard, o qual aponta

para a conclusão de que a sociedade americana apresentava um


preocupante quadro de

concentração dos meios de comunicação do pensamento . No Brasil, em um


cenário em que a

maioria das grandes corporações são estrangeiras, a relação que estas


estabeleciam com a

imprensa não poderiam ser diferentes e o principal mecanismo de pressão


sobre o conteúdo

veiculado pelos meios de comunicação era o publicitário, ou seja,


os altos rendimentos

provenientes dos anúncios dessas empresas nos jornais, de certa


forma asseguravam a

manutenção da cumplicidade entre os participantes deste negócio. É


importante destacar que a
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conjuntura imposta nesse contexto é a da transição da imprensa


artesanal à industrial,

caracterizada por Werneck Sodré, a qual ao mesmo tempo em que


apresenta os problemas

decorrentes da crise do setor, lança as bases do modelo de periodismo que


irá prevalecer a

partir de então.

Restringindo o foco sobre a companhia Esso Brasileira de Petróleo, essa


perspectiva

se estende, uma vez que, além de atuar através dos investimentos


publicitários, a petrolífera

intensifica sua participação junto aos meios de comunicação vinculando


sua marca a eles.

Deste modo a intervenção da empresa na produção e conteúdo dos programas


que patrocina
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será feita de maneira direta, e, mesmo a parceria com a agência


McCann-Erickson e a United

Press Associations (UPA), não irá garantir que “isenção” e “imparcialidade” na


transmissão

alardeada por seus produtores.

O mais emblemático exemplo dessa atuação – o noticiário


radiofônico O Repór ter

Esso, que em 1952, é complementado por sua versão televisiva O Seu Repór
ter Esso – foi um

dos principais veículos através do qual a companhia multinacional


pôde amplificar suas

intenções e interesses. No entanto, ao contrário do que se imagina, com base


na credibilidade

9 SODRÉ, Nelson Werneck. História da Impr ensa no Brasil Rio de Janeiro:


Graal, 1977, pp. 459 468.
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19

conquistada pelo Repórter ao longo dos anos em que esteve no ar até o


momento e no sucesso

de sua fórmula dinâmica e telegráfica, por decisão da própria Esso, a presença


de reportagens

acerca da questão da exploração do petróleo no Brasil foi praticamente nula


durante todo o

processo que iria resultar na criação de Petrobrás em 1953.


Como confirma, Luciano

Klöckner, a estratégia da multinacional – em relação ao noticiário que


patrocinava – com no

que diz respeito ao assunto que mobilizou o país durante o início dos anos
1950, correspondeu

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à supressão do mesmo das pautas dos principais programas de notícias do
país. A posição

assumida nos noticiários patrocinados pela Esso, contrastava com a


perspectiva adotada pela

Rádio Nacional – pertencente ao governo – que teve em 1952


uma produção de matérias

muito superior aos outros anos. Na pesquisa estatística feita por Klöckner,
no atípico ano,

justamente devido ao envolvimento da Rádio na campanha “O Petróleo


é Nosso”, foram

redigidas 749.554 linhas ou o equivalente a 8.245.094 palavras contra


533.309 linhas em

1951; 636.472 linhas em 1953; 637.661 em 1954; e, em 1954, 678.647


linhas10.

Na outra frente aberta pela Standard do Brasil para conter o


crescimento da intensa

campanha do governo a favor do monopólio estatal da


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exploração do petróleo, está o

abastecimento dos principais jornais brasileiros com receitas provenientes


de publicidade.

Tanto que, é nesta época que se inicia a consolidação da grande


imprensa escrita, ou seja,

aqueles que conseguiram se modernizar e investir na


racionalização industrial de suas

tiragens, para o que contribuiu a injeção de capital dos anunciantes


estrangeiros, iriam se

estabelecer como os grandes jornais do país11. Mas, como


publicidade no contexto da

comunicação empresarial não significa apenas o anúncio do produto a


ser comercializado

destacado no jornal em espaço destinado a esse fim, matérias como


“Petróleo – o fabuloso

morador do subsolo” e “Petróleo – uma epopéia do mundo


contemporâneo”12, ambas

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publicadas no Diário de Notícias, ressaltavam a importância da


experiência agregada pela

indústria petrolífera estrangeira na extração e refino do produto


e, ao mesmo tempo, a

contribuição que esta experiência poderia representar para o Brasil.


Além da propaganda

divulgada como notícia, a disputa nas páginas dos jornais era munida de
ataques a figura do

presidente Getúlio Vargas e ao seu plano nacionalizante,


aumentando a pressão sobre a

10 KLÖCKNER, Luciano. A questão do petróleo e o


Repórter Esso. Disponível em:

http://sec.adaltech.com.br/intercom/2005/resumos/R2052 1.pdf. Acessado


em: maio/2006.

11 Com o otimismo modernizador e industrializante da época em


questão, a quantidade de anunciantes

estrangeiros, dentre os quais já estavam The Sidney Ross, Coca


Cola, Johnson & Johnson, Colgate

Pamolive, The Eno Scott, a inglesa Shell e a própria Standard Oil, tendia
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ainda a aumentar.

12 RABELO, Genival. A Guerra continua Revista Brasil Semanal. São


Paulo, ano I, nº 17, janeiro de 1966, p.

4.

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20

turbulência política que já se anunciava.

A crise política esboçada no processo de nacionalização do petróleo se


agudizou com

o suicídio do presidente Getúlio Vargas em 1954. No entanto, antes disso, em


1953, foi criada

a estatal Petrobrás para gerir, em regime de monopólio, a exploração do


petróleo em solo

brasileiro. Muito além da empresa, a Petrobrás, erigiu-se e constituiu-se ao


longo dos anos

posteriores como mais um do símbolos nacionais, talvez o último, do governo


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Vargas.

Dos saldos da disputa em torno da questão do petróleo


nacional, um deles, em

particular, se insere de modo substancial neste trabalho corroborando o


que até então foi

explicitado acerca da influência exercida pela Esso junto aos meios de


comunicação. Em

1957, sob o comando do deputado Luthero Vargas (filho de Getúlio Vargas),


instaurou-se na

Câmara dos Deputados uma Comissão Parlamentar de Inquérito para


investigar a atuação da

Standard Oil e da companhia inglesa Shell na política e na imprensa


nacionais, apurando a

vinculação entre contratos de publicidade, a publicação de matérias


do interesse dos

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anunciantes e também a omissão dos assuntos que pudessem ser prejudiciais
à imagens e às

intenções desses anunciantes. Em suma, o teor do relatório procura dar


conta de elucidar e

punir aquilo que foi considerado pelos relatores como uma espécie de
censura interna das

redações, exercida pelo poder econômico de grandes empresas estrangeiras.

O período de maior destaque nesta investigação é justamente o


início dos anos de

1950, em que, devido a disputa política pelo petróleo e a grande demanda


de informação e

interesses em jogo, a associação empresa-imprensa-propaganda


torna-se mais evidente e

volumosa. Um outro fator que mobilizou a CPI nesta direção foram as


palavras finais de

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Vargas, deixadas em sua carta-testamento, culpando as “aves de
rapina” e as “forças e

interesses contra o povo” do desgaste político do qual resultou


seu suicídio. A

contrapropaganda representada pela carta e a vitória da campanha “O


Petróleo é Nosso”,

ambas de caráter nacionalista, muniram a classe política do entorno


necessário a um

engajamento direcionado a pressionar as multinacionais


estrangeiras, que até então

concentravam amplos poderes no quadro da política brasileira.

As conclusões elaboradas no relatório da Comissão comprovam a ligação


entre a Esso

e a McCann-Erikson desde 1935, quando a última veio se instalar no Brasil, e


a distribuição

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de verbas destinadas a publicidade quase que exclusivamente aos
veículos que se

posicionavam contra a nacionalização do petróleo. Os trechos a seguir vem de


encontro a essa

perspectiva:

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21

A opinião popul ar pode também ser bastante influenciada através


da

pr opaganda. Os modernos métodos dessa propaganda,


acessíveis

pr ef erencialmente ao pode r econômico, continuem, sem


dúvida,

pode rosa arma de ação pol ítica, capaz de influir de maneira decisiva

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nas deliberações do poder público(...) e as lacunas legais
possibilitam

aos grupos econômicos o exercício da ef etiva censura no


noticiário

do meios de divulgação.13

Como grandes clientes, as distribuidoras exercem f


orçosamente

notável influência sobre as agências de publ icidade,


levando-as

também a seguir os mesmos critérios na colocação das verbas


de

outros clientes. Esse ef eito de arrastamento canaliza a maior par


cela

da impor tância total gasta em publ icidade, mais de 9


milhões de

cruzeiros em 1957, par a órgãos de divulgação dispos tos a


colaborar
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na def esa dos interesses dos trustes, e subtraindo a


viabilidade

econômica aos que persistam em posição de indepe ndência.14

De um balanço final da CPI emergem os dados acerca das atividades


desenvolvidas

pela Standard, as quais envolviam 25 milhões ao ano para cobrir gastos com
publicidade e

uma verba de 17 milhões de cruzeiros destinada ao setor de relações públicas


da empresa. E,

ainda, a participação da companhia, através da McCann-Erickson, em grandes


jornais no Rio

de Janeiro e em São Paulo como: o Correio da Manhã, Diário da Noite, O


Globo, Tribuna da

Imprensa, O Dia, Jornal do Brasil, Luta Democrática, O Estado de São Paulo,


Diário de São

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Paulo, A Gazeta, Folha da Manhã, Diário da Noite, dentre outros,


todos defensores da

participação estrangeira na questão do petróleo. As duas exceções


levantadas por Luciano

Klöckner, foram a Última Hora e o Correio Paulistano, que mesmo


sendo de tendência

nacionalista anunciavam os produtos da empresa.

13 Diário Oficial do Congresso Nacional, 1959, p. 794.

14 Idem, p. 798.

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22

4 - A criação do Prêmio Esso de Reportagem

A criação da Petróbras, em 1953, significou a predominância da


vertente nacionalista

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na questão do petróleo, mas, não só se erigiu a empresa estatal e nacional,


como até os dias

hoje apresenta-se a petrolífera, como também criou-se um espectro permeado


pelos símbolos

ufanistas da pátria, volta à roda as significações da constituição do Brasil como


uma nação e

brasileiro como povo. Os sentimentos nacionalistas ebuliram com o


despertar das emoções

fabricadas em torno do suicídio daquele que fora o “pai dos pobres” e


para o mito – ou

personagem da História – não faltou nada.

Neste contexto, a imagem institucional de empresas como Esso


Standard do Brasil15,

com matriz nos Estados Unidos e atuando de modo global em setores


diferenciados e em

diversos países, teve um considerável desgaste junto a opinião pública.


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Mesmo que essa

opinião pública estivesse, no seu ainda incipiente processo de formação, em


países como o

Brasil, os setores de relações públicas e comunicação empresarial já


desenvolviam-se a passos

largos e a preocupação com a fachada da empresa já era


instituída como pauta de

preocupações por parte de seus donos.

A criação do Prêmio Esso de Reportagem em 1955 vem responder a


uma demanda,

comercial e publicitária, que preza pela construção de uma


imagem de instituição

comprometida com interesses maiores do que sua lucratividade.


Como estratégia de

marketing empresarial, o investimento de recursos e esforços na criação de


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uma premiação

que prestigiava o desempenho dos profissionais de imprensa


funcionou como uma

contrapropaganda das acusações e estereótipos criados em torno as


multinacionais ligadas ao

petróleo, as quais fomentaram a campanha contra o governo tentando


minar prerrogativas

nacionalizantes para a exploração do produto. A Standard


fundamentalmente, pois foi uma

liderança significativa neste processo, com interferências diretas, propaganda


agressiva e com

um certo controle que exercia sobre a produção e propagação da informação,


em virtude do

Repórter Esso.

Uma das bases que corrobora essa perspectiva é a parceria da Esso com
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a McCann e a

United Press Associations no concepção e desenvolvimento do Prêmio Esso.


Dos escritórios

de relações públicas e publicidade saíram as idéias que iriam dar corpo e


forma a premiação,

15 A companhia mudo seu nome no Brasil, em 1953, de Standard Oil


Company of Brazil para Esso Standard do

Brasil, possivelmente, pela associação da marca ao noticiário Repórter Esso,


que representava credibilidade e

também um grande sucesso de audiência.

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investindo muito de estratégia publicitária e propaganda institucional, mesmo


que, demonstre

apenas a intenção de consagrar a competência e excelência profissional dos


jornalistas.

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Outro aspecto da relevância do prêmio para a companhia,


recai sobre a classe

profissional escolhida para ser agraciada com a menção. Apesar da tese


de cooptação da

classe jornalística ser emblemática e quase uma associação imediata, parece


menos óbvio e

mais coerente, não optar pela linearidade de raciocínio e tentar


relacionar a escolha dos

profissionais da imprensa escrita a uma perspectiva que busca


manter associações já

estabelecidas e consagradas anteriormente. Assim, como a pressão por parte


da sociedade e,

principalmente, por parte da classe política, acerca do monopólio de


corporações sobre os

meios de comunicação do pensamento vinha sendo intensificada, no Brasil e


no restante do

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mundo16, a Esso tentou, através do prêmio que concedia, manter o vínculo
com as redações

dos jornais e, em parte a influência sobre o veículo, estabelecendo as


categorias de excelência

dentro da profissão. O processo que engendra tais relações, é importante


destacar, é uma via

de mão dupla, ou seja, embora seja alimentada pelos recursos do grupo


empresarial, conta

também com a deferência dos jornais e de suas redações.

Por fim, uma premissa que ficará fora de análise aprofundada neste
trabalho, é a de

que o Prêmio Esso de Reportagem foi um representante primitivo – e pode ter


sido a primeira

iniciativa de expressão no Brasil – do que atualmente denomina-se marketing


cultural. Essa

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vertente no marketing empresarial tão cultuada, diz respeito justamente à
promoção de uma

marca através da organização de eventos culturais ou divulgação de


atividades desse tipo,

mesmo que, o setor contemplado pelo evento não tenha relação direta
com os produtos d

empresa.

16 Na mesma época , sob o governo de Dwigth Eisenhower, a Standard


respondia a processo nos Estados

Unidos pelos mesmos motivos apurados no Brasil durante a CPI para


investigar as atividades políticas dos

grupos petrolíferos no país.

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Capítulo 2 – O Prêmio Esso e o

Fotojornalismo

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Esta parte do trabalho tem por objetivo trazer o foco para o


objeto de estudo

privilegiado na pesquisa que vem sendo apresentada: o fotojornalismo. A


proposta que se

segue procura traçar um paralelo, apontando convergências e


distanciamentos, entre a

ascensão e consolidação do fotojornalismo, tanto como categoria profissional


como quanto

linguagem inserida nos jornais, e a influência exercida pelo Prêmio Esso nessa
trajetória.

O Prêmio Esso, é importante destacar, desde sua primeira edição em


1956 sofreu

modificações, as quais na maioria das vezes refletiu o progresso técnico e


tecnológico dos

meios de comunicação. Assim sendo, o primeiro fotojornalista consagrado com


um “Voto de

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Louvor” pela comissão julgadora do prêmio foi Campanela Neto, em 1960,


com a fotografia

Acontecimento em Aragarças, publicada na revista Mundo Ilustrado. Já no ano


seguinte, foi

criada pela organização do evento uma categoria específica para a


fotografia, que pela

primeira vez passou a contemplar seus vencedores com uma premiação em


dinheiro.

O período de cinco anos que se passou entre a realização do primeiro


Prêmio Esso de

Jornalismo até o reconhecimento concedido a uma fotografia,


representaram, no âmbito

social, a fase desenvolvimentista que caracterizou o governo de Juscelino


Kubitschek. Mesmo

que não seja possível fazer a correspondência dos 50 anos prometidos pelo
então presidente,
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os resultados e impactos de um processo de modernização


puderam ser notados,

principalmente no que diz respeito às mudanças na indústria e nos padrões de


consumo. O

contágio do espectro modernizante não surtiu efeito diferenciado no que tange


aos meios de

comunicação, e, um dos maiores sintomas dessa afirmação foi a


televisão, com suas

transmissões simultâneas de áudio e imagem, o que representava


para a época, uma

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25

exacerbação do que fora o rádio.

Com relação ao periodismo, essa fase caracterizou-se pela


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consolidação do padrão

industrial de jornalismo, em detrimento das oficinas tipográficas


artesanais, ratificando a

visão e os métodos cada vez mais empresariais empregados na produção de


um dos principais

veículos de notícias da época. As mudanças passaram pelas inovações


tecnológicas, mas

também agregaram a elas uma grande parcela de modificações de caráter


técnico, as quais

visavam primordialmente à racionalização da produção.

A partir disto, embora seja possível inferir que a inclusão da fotografia


na relação de

categorias do Prêmio Esso tenha tido um respaldo inicial no desenvolvimento


decorrente da

modernização experimentada pela imprensa escrita no início da década de


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1950, também é

objeto de investigação a influência que a premiação exerceu na trajetória


de formação e

consolidação do fotojornalismo nacional. A análise pretendida busca uma


abordagem que

aponte as convergências existentes entre o fotojornalismo e o Prêmio Esso,


preconizando a

perspectiva inter-relacional, em que, tanto se atribui valor – e por isso se


oferece prêmio – a

fotografia pelo seu desenvolvimento e inserção na imprensa quanto esta


se aperfeiçoa e

profissionaliza diante do incentivo e dos padrões consagrados nas obras


premiadas.

1 - Breve História da Imagem na Imprensa Brasileira

A ilustração significou o início da história da utilização de imagens pela


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imprensa

escrita e alcançou um patamar de maior relevância dentro da diagramação


dos jornais e

revistas a partir do final do século XIX. Faz parte do contexto desse período as
contratações

de grandes ilustradores e caricaturistas, em sua maioria estrangeiros, como


Rafael Bordalo

Pinheiro, Henrique Fleiuss, Ângelo Agostini, Pedro Américo e Raul


Pederneiras, os quais

foram responsáveis pela inauguração da reportagem gráfica no Brasil. Além da


autonomia

opinativa registrada pelas charges, sátiras e deboches, a ilustração também se


encarregou, ao

longo do início do século XX, de retratar o cotidiano e as mudanças na


sociedade brasileira .

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A evolução gráfica observada nos veículos impressos de comunicação –


dos quais as

revistas ilustradas são o principal exemplo – decorre, sobretudo, das inovações


adotadas no

processo de impressão dos exemplares para a distribuição. Através de um


breve histórico do

1 BAHIA, Juarez. Jornal, História e Técnica – volume 1 – História da


Imprensa Brasileira. São Paulo: Ática,

1990, p. 395.

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26

é possível identificar os principais marcos desses avanços tecnológicos.

Em 1895 o uso da técnica de fotogravura, também conhecida como


clichê, permite a

melhor reprodução de desenhos. Entre 1998 e 1900, são abertas em


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jornais cariocas e

paulistas as primeiras oficinas tipográficas que contratam fotógrafos para


operá-las. Em 1903,

nos primeiros anos da recém instituída República, as reformas de


infra-estrutura propiciam

incrementos no setor energético que contribuem para a utilização de


eletricidade como força

motriz para o maquinário da imprensa. Por volta de 1906, as impressoras


Marinoni vão

cedendo lugar para as Walter Scott, mais velozes e modernas. Rotativas e


linotipos que até

então eram movidos à gás foram substituídos, possibilitando a impressão à


cores e uma maior

qualidade gráfica.

Associadas às transformações relacionadas à produção de exemplares,


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ocorrem neste

mesmo período avanços, experimentados principalmente nos incipientes


centros urbanos, que

dizem respeito ao setor de comunicações, como o funcionamento do


serviço telefônico,

inclusive o interurbano, em 1893; o emprego do telégrafo na correspondência


de notícias; a

abertura de estradas e evolução dos meios de transporte. A maior capilaridade


nas redes de

comunicação contribuiu no processo de envio das notícias, encurtando o


tempo entre a

ocorrência do fato e sua publicação e também permitiu, à imprensa


nacional, esboçar os

primeiros sinais de sua inserção internacional. A instalação e ampliação dos


escritórios de

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correspondentes fora do Brasil ocorre durante a década de 1910. Tais
avanços tiveram um

peso capital no processo de modernização da imprensa brasileira, tornando


o trabalho do

profissional de imprensa mais dinâmico e ágil. O estilo livresco que era marca
do periodismo

brasileiro, caracterizado por uma sólida tradição literária, embora não


tenha deixado de

existir, passou a ser publicado de modo suplementar, abrindo os espaços


privilegiados do

corpo do jornal e da revista para as notícias.

A eclosão da Primeira Guerra Mundial influiu diretamente nessa


mudança de perfil da

imprensa nacional, refletindo novas perspectivas, inclusive, na demanda dos


interlocutores

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dos principais veículos de comunicação do país. Dada a profusão
de acontecimentos

decorrentes dos confrontos que ocorriam na Europa, a expectativa dos leitores


passou a girar

em torno da atualidade, dos fatos do cotidiano esmiuçados pela


descrição precisa dos

repórteres, as noções de rapidez da informação e do furo de reportagem irão


ser cada vez mais

importantes para editores e jornalistas. São também característicos desta


época a introdução,

no contexto brasileiro, das agências de notícias no fomento dos editoriais,


empresas como a

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27

Havas, a Americana e posteriormente a poderosa United Press eram


responsáveis pela difusão

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dos acontecimentos internacionais.

Por se tratar de um suporte relativamente novo para a imagem e por


requerer uma

técnica própria de elaboração, a fotografia iniciou tardiamente a sua inscrição


na imprensa

brasileira. A possibilidade de inserção dessa nova linguagem só pôde ser


vislumbrada a partir

da evolução tecnológica dos equipamentos fotográficos e, principalmente, dos


mecanismos de

comunicação que viabilizavam a correspondência entre os repórteres e suas


redações. O ofício

da fotografia por si só não pode ser designado como simples. O processo


físico-químico que

origina uma fotografia exige um suporte específico, é mediado pelo uso da


câmera e de mais

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uma série de aparatos, os quais exigem de quem os opera conhecimentos e


técnicas que estão

ligados aos conceitos de óptica, perspectiva, geometria e outros mais que são
necessários para

que o fim do ato fotográfico possa ser consubstanciado no


papel. Reportando essas

circunstâncias para o âmbito do início do século XX, deve-se ainda ponderar


que é curto

espaço de tempo que transcorreu desde a invenção da técnica de fotografar o


que significa que

nível de aperfeiçoamento dos equipamentos é muito pequeno. Os


primeiros repórteres

fotográficos eram caracterizados como pessoas rudes, escolhidas muito mais


por sua força

física capaz de suportar o peso das câmeras do que por sua percepção
estética, além de serem

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muito mal vistos onde quer que chegassem devido à luz ofuscante dos
flashes e ao odor

desagradável do magnésio. Dentro desta realidade, fazer uma foto


que pudesse ser

aproveitada para a publicação já era sinônimo de tarefa cumprida, e,


justamente pelos poucos

recursos à disposição, a fotografia foi ainda por algum tempo preterida nos
jornais e veículos

de imprensa escrita.2

O ano em que a primeira fotografia aparece em um suporte impresso é


1900, com uma

publicação feita pelo Jornal do Brasil, no caderno dominical Revista da


Semana. A partir de

então, essa idéia de uma composição informativa e de entretenimento ligada à


visualidade foi

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muito bem acolhida pela imprensa escrita, embora a disposição de técnicas e
equipamentos só

fossem se aperfeiçoar mais tarde. Pela via das publicações de


periodicidade semanal,

seguindo a mesma tendência que se configurou no periodismo em outros


países, a reportagem

fotográfica foi aos poucos tornando-se rotineira no contexto brasileiro do início


do século XX,

essencialmente nos veículos que as consagraram: as Revistas Ilustradas.


Essas, em vários

países do mundo foram as pioneiras na utilização do recurso fotográfico,


edições como a

2 SOUSA, Jorge Pedro. Uma História Crítica do Fotojornalismo Ocidental.


Chapecó: Grifos; Florianópolis:

Letras Contemporâneas, 2000, pp. 47 48.

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28

norte-americana Illutrated American – que provavelmente foi a primeira


revista ilustrada –, a

The Photografic News, do Reino Unido e La Ilustración Español a y


Americana feita na

Espanha, surgiram ainda no século XIX lançando as bases de uma


tendência que iria se

consolidar e evoluir juntamente com os avanços experimentados no


campo da fotografia.

Segundo Margarita Ledo Andión:

Por razón de pe riodicidade, de espe cialización temática ou


de

públ ico será neste sector da pr ensa escrita – na revista – onde irá

manif estarse o avanca no uso da imaxe, mesmo as súas aplicacións

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vanguardistas, sector que influirá e pr opiciará a sua introdución no

xornal, no diário 3

No Brasil, a década de 1920 assiste a esse processo através das


páginas da revista

Cruzeiro, uma das mais importantes que circularam no país, cujas


características mais

marcantes foram a qualidade gráfica e a profusão de fotografias que


compunham seu formato.

Fundada em 1928, pelo empresário Assis Chateaubriand, a revista


Cruzeiro foi um dos

veículos de maior importância na difusão das reportagens fotográficas e na


superação dos

padrões de qualidade de impressão, na maior parte das vezes associados


reformulações de

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fundo estrutural, no setor de gráfica e também incorporações de


capital técnico, com

investimento em contratações objetivando a formação de uma equipe de


excelência em seus

quadros. De acordo com Silvana Louzada, o projeto de criação da


revista previa uma

publicação em papel de qualidade superior; com um espaço privilegiado para


as fotografias,

contando inclusive com assinaturas de agências internacionais no


fornecimento das imagens;

impressão feita em quatro cores a partir da técnica de rotogravura e tiragem


semanal de 50 mil

exemplares, quando o patamar dos anos 1920 era 27 mil, além de circulação
nacional, pelas

capitais e grandes cidades .


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A origem da cultura da fotografia no periodismo nacional, iniciando


sua trajetória

junto com o século XX, como aponta Juarez Bahia, esteve muito ligada, nos
seus aspectos

estéticos e normativos, à perspectiva retratista do século anterior, em


que o objeto do

fotógrafo era, na grande maioria das vezes, o aristocrata, sua família


e as insígnias da

sociedade dos barões, ou seja, retratos posados e enquadrados seguindo uma


lógica formalista

3 APUD Idem, p. 43.

4 LOUZADA, Silvana. Ascenção e queda de O Cruzeiro e Manchete .


Disponível em

http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=236DAC002.
Acessado em: julho de 2006.

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29

e estanque. A padronização presente nas chapas do século XIX, além


do conjunto de

representações de poder, reflete também uma conjuntura da história do ofício


de fotografar,

em que a execução de tal tarefa esbarrava nas limitações


impostas por equipamentos

rudimentares que dispunham os fotógrafos .

Acompanhando a tendência do estilo fotográfico do XIX, o retrato e a


paisagem ainda

serão os principais motivos das imagens publicadas nas Revistas


Ilustradas ao longo da

década de 1920. A trajetória do fotojornalismo iria apontar para diferentes


perspectivas duas

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década depois, quando inicia a fase de sua inscrição definitiva na


imprensa brasileira,

tornando-se uma demanda crescente por parte dos leitores. O


incentivo oferecido pelas

políticas estado-novistas à modernização da sociedade, sem dúvida, nortearam


e forneceram

condições para a evolução da fotorreportagem como parte cada vez


mais integrada das

páginas de revistas. O aporte dos produtos norte-americanos e a influência


que exerceram nos

padrões de consumo brasileiro foram fundamentais na construção de uma


cultura urbana

ávida por novidades, inspirada pelo American Way e por seu forte apelo à
visualidade como

linguagem referencial de difusão das convicções que nele vinham incluídas,


como explicita
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Barbie Zelier:

During the twenties, phot ography had begun to emerge as a


more

direct mode of accounting than verbal narratives, and


the

introduction of filmes had set up a growing interest in visual culture


6

Outro elemento importante nessa virada foi a institucionalização


da propaganda

implementada no conjunto das políticas do governo de Getúlio Vargas – cujo


maior exemplo

é a criação do Departamento de Imprensa e Propaganda


DIP – que, para promover o

governo e principalmente o governante, investiu em projetos capazes de


viabilizar a utilização

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de recursos visuais como veículo de divulgação da ideologia do Estado Novo.


Assim, além

dos departamentos responsáveis por censurar as propagação de idéias


divergentes nos meios

de comunicação, outras instâncias trabalhavam no desenvolvimento de setores


que pudessem

servir às intenções educativas do governo. São produções como o Cinejornal


Brasileiro, que

exibia em audiovisual um resumo da política nacional antes das projeções de


filmes; ou ainda,

5 BAHIA, Juarez. Jornal, História e Técnica – volume 2 – As técnicas do


jornalismo. São Paulo: Ática, 1990,

p. 220.

6 APUD SOUSA, Jorge Pedro. Uma História Crítica do Fotojornalismo


Ocidental. Chapecó: Grifos;

Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2000, p. 99.

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30

filmes educativos com mensagens de valorização da pátria; e colaboração com


o Off ice of

Coordinator of Inter-American Aff airs na divulgação de filmes e notícias sobre


o país.

Foi por intermédio do DIP que o fotógrafo francês Jean Manzon


realizou seus

primeiros trabalhos no Brasil. Manzon, que chegou ao país em 1940


escapando da Inglaterra

ocupada durante a Segunda Guerra, foi um dos principais responsáveis


no processo de

reformulação do fotojornalismo brasileiro. Contratado por Frederico


Chateaubriand para

compor a equipe de O Cruzeiro, o francês trabalhou numa releitura completa


da publicação

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que, embora naquele momento representasse o que havia de mais moderno


em termos de

Revista Ilustrada no país, para o fotógrafo não passava de

um catálogo, uma galeria de retratos de f amília, f ixos, pos


ados,

idênticos Ademais par a par ecer rica, há um máximo de pe quenos

clichês, agrupados sobre uma só pági na como uma


coleção de

pe quenos selos A tinta, o pape l, a impr essão são de tão má


qualidade

que poderíamos dizer que se tratam de manchas 7

Jean Manzon, depositário da experiência adquirida trabalhando em


revistas como a

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francesa Vu , introduziu em O Cruzeiro um estilo fotográfico, que
combinado a uma

expressiva reformulação editorial, aproximou a publicação nacional


dos parâmetros

internacionalizado pela revista norte-americana Lif e. O destaque


atribuído à reportagem

fotográfica passou a compor o formato de O Cruzeiro e marcou a revista


tronando-se sua

identidade. Assim como Lif e que surgiu

Para ver a vida; par a ver o mundo, ser testemunha ocular


dos

grandes acontecimentos, ( ) coisas de que é até pe rigoso


aproximar-

se; as mulheres que os homens amam e muitas crianças; par a ver e

ter prazer em ver, para ver e espant ar-se; para ver e ser instruído
9
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e outras de mesma linha editorial, a revista brasileira privilegiou o lugar


da fotografia,

exibindo-as em grandes formatos que ocupam a maior parte do espaço da


página e dispondo

7 APUD CARVALHO, Luiz Maklouf. Cobras Criadas. David Nasser e O


Cruzeiro. São Paulo: Editora

SENAC, 2001, 2ª ed., p. 70.

8 Em 1928, o francês Lucien Vogel tinha criado a revista Vu, seguindo uma
fórmula similar àquela que estava

a ser praticada com êxito na Alemanha, baseada na inter relação de


complementaridade foto(s) texto(s) e,

privilegiando a imagem com novos padrões gráficos.

9 Editorial do primeiro número de Lif e por Henry Luce.

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31

as seguindo um ordenamento pensado de modo sugira uma narrativa para os


fatos contados.

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Esse modelo, implementado em O Cruzeiro, segue a perspectiva que vislumbra


na fotografia a

possibilidade de captura do real, procurando atingir através das imagens


o horizonte da

objetividade e credibilidade do visível, como se fosse possível reproduzir o fato


tal como ele

foi. Como principal articulador dessa mudança, Manzon traz para o Brasil os
pressupostos do

ofício advindos da tradição fotojornalística instaurada por seus pioneiros na


cobertura de

guerra – como Robert Capa e Henri Cartier-Bresson – em que o fotógrafo é


investido do papel

de testemunha ocular da história, com a tarefa de reportar, mais do que o


fato, sua posição

como observador, como se pudesse transpor sua presença no acontecimento


para quem depois

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observará o motivo fotografado, ou seja, a verdade fotográfica a partir da


experiência visual

alheia. Falar um pouco sobre o fotojornalismo e a guerra.

2 - O Prêmio Esso de Fotografia e a Formação do Fotojornalismo Brasileiro

O intervalo democrático que vai do final do primeiro governo de Getúlio


Vargas até a

instauração de um novo regime de exceção em 1964, foi um período em


que as novas

perspectivas abriram caminho para a livre expressão na imprensa, fomentando


mudanças que

apontariam para a consolidação dos pressupostos que iriam formar uma


identidade jornalística

brasileira ligada ao desenvolvimento estrutural das empresas de


comunicação escrita e à

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composição de equipes de jornalismo cada vez mais especializadas e


qualificadas nos quadros

dessas empresas. No campo das transformações sociais, com as diretrizes


assumidas por um

modelo democrático de governo em que pesava a influência cultural e a


ingerência econômica

estrangeiras, o panorama que ia se delineando, ao mesmo tempo em


que propiciou as

condições de desenvolvimento dos veículos de comunicação – incluindo a


imprensa – , fez

com que a reformulação por que passou o campo impusesse como


necessidade. A curva

ascendente de urbanização junto a massificação do consumo, estimularam a


propaganda dos

novos itens imprescindíveis na vida do brasileiro, privilegiando os jornais e


revistas como

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suporte dessa divulgação e gerando rendimentos que passaram a


recursos investidos em

reformas de parques gráficos, modernização das redações e


contratação de pessoal

qualificado, o que aproximou a imprensa escrita de um padrão empresarial


que preconiza a

gestão e racionalização da produção. Ao mesmo tempo, era um componente


importante a

categoria de leitor que acima de tudo consumia, inclusive as revistas e jornais,


atraída pelo

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32

novo e ratificando sua pretensa modernidade, mesmo que esta lhe fosse
entregue requentada,

sempre em consonância com o que vinha de fora.

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À parte a particularidade do caso brasileiro, em que pesou o


atraso tecnológico

característico dos países periféricos, em todo o mundo, o fotojornalismo


passou por um

processo de desenvolvimento que condicionou sua participação no


periodismo diário à

evolução tecnológica dos mecanismos de captura e transmissão da


imagem. Jorge Pedro

Sousa, atribui a tardia incorporação da fotografia nos diários a dois fatores


fundamentais: o

parco sistema de comunicação, cujo inevitável atraso entre a feitura da


fotografia e sua

publicação era imcompatível com lógica a atualidade imediata que agrega


valor as notícias; e

o alto custo da reorganização da produção, que se impunha como fator


de resistência a
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mudança por parte dos donos de jornais10. Segundo o autor, “as


fotografias surgiam nos

jornais do século XIX como um pouco mais do que intrusas”11, utilizadas


principalmente em

páginas de f eatures e com base numa estética pictorialista, inspirada nos


conceitos de arte.

Somente em 1904, através do Dialy Mirror, os jornais diários passariam a


publicação de

fotografias que vinculam à reprodução da imagem a noção de informação


visual.

No campo da evolução dos equipamentos fotográficos algumas


invenções foram

importantes para o processo de consolidação do fotojornalismo moderno na


imprensa diária.

Dentre eles a película fotográfica, substituíndo as chapas, feitas, a partir de


1884, em forma de

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tira; o aperfeiçoamento dos flashes, que passaram do magnésio à


lâmpada em 1925; a

aparição de câmeras de menor porte como a RolleyFlex e a Ermanox em


1929, as quais foram

aperfeiçoadas pela Leica, alemã e pela japonesa Nikon, operando com filme de
35mm. Das

novas ténicas de impressão destaca-se o advento do half tone em 1880.


Todas essas inovações

no campo técnico, também vão contribir para uma massificação da fotografia


como meio de

registro de imagens, já que difundem o conceito e otimizam o seu processo


operacional. O

mais emblemático exemplo dessa difusão é o lançamento da câmera Kodak


em 1888, que com

seu famoso slogan: “You pr ess the bottom We do the rest!”,


inaugura o campo do
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amadorismo fotográfico, na medida em que libertava da técnica o seu ato e


difunde o uso

cotidiano e particular do retrato e da experiência rememoração através da


imagem.

A Segunda Guerra Mundial foi, para os pioneiros no ofício da


fotorreportagem, o

ponto em que as condições técnicas e o interesse dos meios de comunicação


convergiram para

10 SOUSA, Jorge Pedro. Uma História Crítica do Fotojornalismo Ocidental.


Chapecó: Grifos; Florianópolis:

Letras Contemporâneas, 2000, pp. 44 e 69.

11 Idem, p. 44.

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33

o desenvolvimento dos conceitos que iriam singularizar o fotojornalismo


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e categorizá-lo

como uma especialização da atividade do fotógrafo. A temática da guerra


atraía a expectativa

de leitores e, conseqüentemente, fomentava o investimento dos diários na


“fotoinformação”,

viabilizando, através dessa geração de repórteres fotográficos, a


exploração da idéia de

verossimilitude, de “testemunha ocular”, será difundida e associada a lógica da


velocidade, do

scoop, do sensacionalismo. Com câmeras menores e com maior profundidade


de campo, a

barreira da imobilidade pôde ser rompida, os acessos são garantidos e a


proximidade dos

motivos também, viabilizando a máxima da captura do instante exato. Ao


mesmo tempo, as

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redes de comunicação se dinamizam com a Associated Press WirePhoto
Network, agência de

notícias que inaugura a transmissão veloz de imagens,


centralizando a distribuição e

difundindo a fotografia na imprensa.

No Brasil, o aporte de recursos capaz de criar as condições


para a entrada da

fotografia no periodismo diário, só se tornou efetivo na década de 1950.


Seguindo a mesma

trajetória de outros países, essa evolução da categoria vinculou-se à difusão


da tecnologia

fotográfica ocorrida no período pós-guerra e do investimento em


reformas nos parques

gráficos para atender essa nova demanda. Entretanto, esse


desenvolvimento tardio contou

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ainda com o advento da televisão, como meio massificador da transmissão de
imagens.

Do mesmo modo como houvera sido o rádio, na de 1940, com a


valorização da

transmissão noticiosa, um elemento perturbador na ordem até então


estabelecida na imprensa

estrita, as décadas de 1950 e 60 impuseram aos jornais diários uma


atualização no tratamento

dado a informação, observada principalmente no formato e norteada por


novas concepções

gráficas e de lay-out, em virtude da popularização do televisor.

A impor tância do estilo no j ornalismo corresponde às transf


ormações

culturais do pós -guerra Antes de 1945, vários j ornais americanos e

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europeus introduzem regras de linguagem em suas redações, mas é
a

par tir das mudanças pol íticas, econômicas e sociais desse pe ríodo

que a pr atica se generaliza Isso coincide com maiores exigências


dos

leitores, com a expans ão do rádio e o aparecimento de


novas

tecnologias nos setores básicos da produção industrial 12

12 BAHIA, Juarez. Jornal, História e Técnica – volume 1 – história da imprensa


brasileira. São Paulo: Ática,

1990, p. 77.

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34

Como elucida Juarez Bahia, a guerra foi um fator substancial na difusão


de novos

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conceitos para o jornalismo. No Brasil, as notícias do f ront transmitidas
nas sínteses do

Repórter Esso, adaptando-as ao estilo telegráfico preconizados pelos manuais


da United Press

Associations (UPA), incutiram no dinamismo do texto da imprensa,


empreendendo maior

objetividade nas reportagens oferecidas aos leitores. Técnicas importadas dos


grandes jornais

– principalmente norte-americanos – introduziram estruturas de parágrafos,


cuja função era

otimizar o conteúdo e os espaços da página, como o lead, que agrupa nas


primeiras frases

todas as questões fundamentais da notícia, calcando-se no princípio de


transmissão direta da

informação.

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A mesma necessidade de mudanças desencadeada pelo crescimento da
radiodifusão,

mostrou-se necessária com a massificação da experiência visual proporcionada


pela televisão.

A relação estabelecida entre a visualidade e o credível se intensifica com as


transmissões

televisivas e ganha o dinamismo da simultaneidade entre som e


imagem em movimento.

Além do fato da rápida difusão do novo veículo de comunicação, este,


em sua origem,

privilegiou a notícias como principal argumento. Assim, se em 18 de setembro


de 1950 a TV

Tupi entra no ar, com o programa de variedades Show na Taba e sob a


tutela de Assis

Chateaubriand, no dia seguinte estréia o primeiro telejornal do país: o


Imagens do Dia; em

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1953, o Seu Repórter Esso começa uma trajetória de grande repercussão que
vai até os anos

1960 e corresponde ao início do percurso do jornalismo televisivo. Não


obstante, os cerca de

200 aparelhos de TV importados pelo dono dos Diários Associados –


transformado numa

enorme cadeia de comunicação – que captaram a transmissão inicial da


primeira e única

emissora em 1950, passam a 120 mil em 1954; 1,8 milhões em 1960, com
sinal de cerca de 20

emissoras espalhadas nas capitais e 6 milhões no início de 197013.

Outras formas de percepção do mundo, e isso incluía as notícias, se


impuseram diante

da força alcançada pela televisão, coincidindo, em termos de período, e


motivando, no tocante

a condição e expectativa criadas pelos interlocutores da


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informação, o processo de

reformulação dos veículos impressos. Por isso, ao priorizar a visualidade, as


reformas que se

sucederam na década de 1960 respaldaram a fotografia como elemento


fundamental na nova

composição gráfica que se pretendia e garantiram a inscrição definitiva dessa


linguagem nos

jornais diários.

13 Fonte: http://www.ibge.gov.br/seculoxx/estatisticas_populacionais.shtm
Acessado em: julho de 2006

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Nessa esfera de transformações e modernidade surge o Prêmio Esso,


ainda chamado

de Reportagem, sinalizando a evolução do jornalismo brasileiro,


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essencialmente da imprensa

escrita e acima de tudo, reconhecendo e consagrando a qualidade alcançada e


a afirmação dos

veículos de imprensa como difusores de informação. Afinal, a escolha feita


pela petrolífera

para a implementação de sua campanha institucional foi inspirada


no Pulitzer Prizes,

promovido pela Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, um dos mais


importantes e

tradicionais prêmios que julga a excelência de trabalhos jornalísticos,


além de outras

categorias relacionadas a educação e letras. Por outro lado, a concessão dos


títulos inaugurada

pela Esso, julgando a qualidade e competência daqueles que trabalham no


campo jornalístico,

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sedimenta as bases construídas em torno do ofício e confere a imprensa
um estímulo ao

constante aperfeiçoamento, renovação de linguagem e expansão, como


veículo de propagação

de informação.

Quando o prêmio retira o Reportagem do nome, e passa a se chamar


Prêmio Esso de

Jornalismo – logo no segundo ano de sua existência – reitera os propósitos de


sua criação, ao

que competia abranger toda a organização dos meios de imprensa, de modo


que abarcasse e

agregasse o conjunto das atividades específicas responsáveis pelo


interesse último do

jornalismo: a informação. A nova nomenclatura, mesmo inscrita no campo da


representação,

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expressa, de acordo com a terminologia empregada, a mudança do foco da
parte para o todo,

ou seja, da notícia para os que são responsáveis por sua existência como tal.
Essa tendência

pode ser percebida na criação de categorias específicas ao longo das


edições do prêmio,

concorrendo para a ampliação e diversificação da lista dos contemplados. É


assim que em

1957 – ano da segunda edição do evento – publicações que circulavam fora


do eixo Rio-São

Paulo, irão ter espaço aberto em duas subdivisões regionais para a


divulgação de seus

trabalhos e incremento de suas atividades.

Dentro da perspectiva apontada, o Prêmio Esso vai ser uma peça


fundamental na

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articulação e afirmação do fotojornalismo moderno no Brasil. A primeira
fotografia a ser

destacada pelo prêmio, Acontecimento em Aragraças, de Campanela Neto,


despontou na

relação do ano de 1960 de modo singular, uma vez que foi prestigiada sem
que formalmente

existisse o concurso de fotografias, recebendo, na falta de um título oficial, o


Voto de Louvor

daquela edição. Tal feito, por sua espontaneidade, expressa o reconhecimento


atribuído ao

trabalho fotográfico de imprensa, refletindo a ascensão e a importância da


utilização dessa

linguagem dentro do panorama no jornalismo à época. O ensaio de 1960,


também será um

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36

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estímulo a inauguração do Prêmio Esso de Fotografia no ano seguinte, a


primeira categoria da

lista de premiações a particularizar uma das vertentes da atividade jornalística


e empreender

uma análise autônoma sobre ela.

Tomando por base uma análise relacional, o estabelecimento


da categoria que

contempla o fotojornalismo no Prêmio Esso e a afirmação da atividade dentro


dos meios de

imprensa, teceram, no correr da década de 1960, uma trajetória paralela de


valoração. Deste

modo, assim como o aparecimento de uma fotografia na lista de premiados de


um concurso

voltado para a imprensa escrita reflete o desenvolvimento do


fotojornalismo nacional,

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principalmente no que diz respeito a uma evolução qualitativa dos


profissionais da área, o

reconhecimento do campo e o incentivo que representava a disputa e


consagração através do

Prêmio Esso de Fotografia fomentou a busca constante de patamares de


excelência cada vez

mais elevados, na formulação de novas perspectivas e paradigmas que


nortearam toda uma

geração de fotojornalistas a empreenderem esforços na constituição


de uma identidade

própria, marcada pela concepção de fotojornalismo como linguagem autônoma


e associada

aos desdobramentos das reivindicações de regulamentação da profissão. Por


intermédio do

prestígio agregado pelo prêmio, o trabalho dos repórteres fotográficos ganhou


em qualidade,

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quantidade e, fundamentalmente, valor.

A consolidação da iniciativa de contemplar a fotografia de imprensa com


a criação do

Prêmio Esso de Fotografia em 1961 é o primeiro indício do processo


que lançaria o

fotojornalismo aos espaços privilegiados dentro do periodismo diário, o que já


se apresentava

mais sedimentado no âmbito das revistas ilustradas. Nesta mesma edição do


Esso, Nicolau

Drei, da Revista Manchete e Henry Ballot, de O Cruzeiro, formam a


primeira comissão

avaliadora específica para o julgamento das fotografias, inscritas em um


concurso próprio. O

destaque conferido à fotografia, a partir da reunião de fotógrafos de


grande importância

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dentro cenário da imprensa à época, como Ed Keffel (O Cruzeiro), Dilson


Martins e Alberto

Ferreira (Jornal do Brasil), Ernesto Santos (Tribuna da Imprensa), Paulo Reis


(Última Hora),

dentre outro, foi mantida durante alguns anos na composição do prêmio. A


participação de

repórteres fotográficos nessas comissões ratifica a perspectiva apontada do


reconhecimento

que vinha sendo prestado ao fotojornalismo e reflete um crescimento do


mercado profissional

nesta área com a inserção de fotojornalistas ds imprensa diária.

Esse destaque que descola a fotografia do texto jornalístico, vai


de encontro a

iniciativa da construção de uma dimensão autônoma da linguagem fotográfica


a partir de sua

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37

inscrição no contexto do jornal diário, ou seja, a reportagem fotográfica passa


a ser investida,

para isso os profissionais que atuam nessa área fundam novos conceitos,
do papel de re

significadora do real, preterindo a função de apêndice do texto do redator.


Não obstante,

através dos parâmetros valorizados nas fotografias vencedoras foram sendo


estabelecidas uma

série de referências, as quais caracterizavam o bom trabalho fotográfico e, por


conseqüência

contribuíram na formação profissional de diversos fotojornalistas. A


relevância dessas

referências para o ofício do fotojornalista, está diretamente vinculada ao


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contexto, quase

amador, que caracterizava a atividade no Brasil, apresentando-se como uma


leitura de mundo

autorizada por aqueles que de algum modo iniciaram a trajetória da fotografia


na imprensa e

foram reconhecidos por isso.

Diferentemente da profissão de jornalista, cuja regulamentação data de


1938, com a

restrição da prática à qualificação em nível superior e o investimento na


criação dos primeiros

cursos de Jornalismo nas universidades, à categoria dos fotógrafos não


contava com nenhum

tipo de canal destinado a educação profissionalizante formal. Sequer as


escolas superiores de

Jornalismo dispunham de disciplinas que compreendessem a


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foto-reportagem em seus

currículos, relegando a formação do repórter fotográfico aos


investimentos pessoais que

envolviam desde assinaturas de revistas estrangeiras especializadas até o


aprendizado através

de estágios, geralmente não remunerados, em estúdios fotográficos, tentando


desenvolver na

prática as técnicas e preceitos do fotojornalismo14. Por este viés, também


se pode inferir

acerca dificuldades encontradas pelos fotógrafos para ingressar nas equipes


dos jornais, já que

todo o processo de contratação, na falta de uma referência formalmente


instituída, envolvia,

ou a indicação por parte de fotógrafos mais experientes ou a disposição para


se lançar, por

conta própria, na profissão, pois a chance de contratação muitas vezes


dependia da mostra de
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algum trabalho, fazendo com que a responsabilidade de comprovar sua


competência recaisse

sobre o interessado.

A edição do Esso de 1962 será importante pois foi o ano em que a


primeira fotografia

de um diário foi consagrada com o prêmio principal da categoria fotográfica. A


fotografia

Qual é o Rumo, além de abrir a série do jornal com a trajetória mais vitoriosa
da categoria – o

14 Essa situação é recorrente nas trajetórias de vários fotojornalistas dessa


geração que fundou as bases da

profissão no país. Um desses exemplos, o fotógrafo Flávio Damm, relata a


concentração de esforços que teve

que reunir para iniciar sua carreira. Buscando conhecimento em revistas,


freqüentando redações dos jornais e

conversando com outros fotógrafos, onde acabou conhecendo o


alemão Ed Kefflel, a quem pediu um

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emprego no estúdio fotográfico para ter acesso a Enciclopédia (de
fotografia) e adquirir experiência para o

trabalho. DAMM, Flávio. Entrevista a Ana Maria Mauad e Silvana Louzada


em 24/04/2003, depositada no

Laboratório de História Oral e Imagem do Departamento de História da


Universidade Federal Fluminense

(LABHOI UFF).

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38

Jornal do Brasil – projetou o fotógrafo Erno Schneider, que viria a


ser um dos mais

importantes do setor no jornalismo brasileiro, cuja carreira primou não só


pela qualidade

técnica como também por uma participação ativa nas disputas em


torno da valorização

profissional do fotojornalismo. Aproveitando a conjuntura favorável e munido


do prestígio

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adquirido pelo prêmio, Erno foi responsável por mudanças significativas no
tratamento dado à

fotografia e ao fotógrafo nos órgãos de imprensa por onde trabalhou,


reivindicando melhorias

nas condições de trabalho. Estavam na pauta das conquistas dessa época


questões como o

aumento dos salários – equiparado ao dos repórteres –, investimento na


modernização de

equipamentos e o alteração na estrutura vigente nas redações, que


privilegiava o redator em

detrimento do fotógrafo. Como relata o próprio Erno15:

Antes havia uma hierarquia, o repór ter dizia: “esse aqui é o meu

f otógrafo” ou “bate uma chapa aqui ” Naquele tempo tinha


essa

mania, o f otógrafo tinha que f azer o que o repór ter


mandava
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Antigamente o repór ter era do dono do fotógrafo

Com as mudanças empreendidas o fotógrafo passa a ter seu trabalho


valorizado e sua

presença nas redações torna-se cada vez mais constante, inclusive,


influenciando na tomada

de decisões, anteriormente atribuição exclusiva de editores e seus


repórteres. Um dos

exemplos dessa nova postura foi a reforma no jornal Correio da Manhã,


iniciada com a

contratação de Erno Schneider. O fotógrafo, que já havia participado com


sucesso da reforma

do Jornal do Brasil, chega ao Correio16 em 1964 e investe esforços no sentido


da valorização

da reportagem fotográfica, o que não deixou de significar vencer resistências


impostas pelas

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antigas práticas hierarquizadas dentro das “chefias” e redações. Assim, houve


incremento no

salário dos fotógrafos, as antigas câmeras RolleyFlex foram substituídas


pelas japonesas

Pentax e Nikon, a função de laboratorista foi instituída, desobrigando o


fotógrafo da revelação

das fotos e novas metodologia de trabalho, integrando o profissional da


fotografia com a

equipe de redação, foram estabelecidas. A partir das mudanças, o


Correio da Manhã

experimentará uma das etapas mais enriquecedoras e significativas


do fotojornalismo

15 SCHNEIDER, Erno. Entrevista concedida a Ana Maria Mauad e


Silvana Louzada em 08/05/2003.

Depositada no Laboratório de História Oral do Departamento de


História da Universidade Federal

Fluminense.

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16 O Correio da Manhã, durante muitos anos foi a referência de jornalismo no
Rio de Janeiro e, na década de

1950, perde terreno para o Jornal do Brasil que começa a se impor como
um dos mais importantes jornais do

país

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39

brasileiro.

Se a origem do fotojornalismo brasileiro se deu via Revistas


Ilustradas, ainda na

década de 1940, a etapa de disputas pela regulamentação da classe


profissional ocorrerá ao

longo dos anos 1960, avalizada por conquistas pontuais, para as quais o
Prêmio Esso trouxe

contribuições significativas. Todos esses elementos irão convergir para o


fortalecimento em

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torno das tentativas de associativismo da classe profissional, buscando ampliar
as perspectivas

de qualificação formal para campo e legitimar a inscrição atividade no


jornalismo, preterindo

a identificação recorrente do repórter fotográfico como um


componente alheio aos

pressupostos do setor e investindo numa participação integrada dentro da


organização dos

meios de imprensa. Nessa trajetória de consolidação, outra importante


contribuição do Prêmio

Esso foi a associação nominativa entre a imagem vencedora e seu autor.


Assim, a fotografia

era avaliada e selecionada, mas quem recebia o prestígio por sua qualidade
era o fotógrafo

responsável por sua feitura, apontando para uma perspectiva contrária a


idéia da imagem

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técnica objetiva, puramente mecânica. A relevância do reconhecimento


da subjetividade

autoral permeou as discussões empreendidas, ao longo da década de 1960,


acerca do crédito

fotográfico, desconsiderado nos órgãos de imprensa escrita. Enquanto o texto


das matérias

saía assinado pelo repórter que o escrevia, as fotografias eram


impressas sem a devida

identificação do autor, tornando-se uma reivindicação inscrita


no contexto da

profissionalização da categoria.

Em certa medida, os avanços conquistados pela fotografia no


periodismo diário

acompanharam a trajetória seguida pela categoria dentro do contexto do


Prêmio Esso, já que a

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partir da escolha de 1962, a grande maioria das imagens premiadas saíram


das páginas dos

jornais, assim como os fotógrafos designados para compor o júri da


categoria. Não só o

prêmio, mas a conjuntura social da década de 1960, marcaram a trajetória do


fotojornalismo

brasileiro, por possibilitarem sua inscrição definitiva, como linguagem


dotada de caráter

informacional, nos meios de imprensa, agregando valor aos jornais e revistas e


ampliando sua

difusão. Mais do que isso, foi na esteira do desenvolvimento acompanhado


neste período que

a imprensa e o fotojornalismo nacionais irão promover a reversão do fluxo


que projetou os

conceitos e métodos, vindos das consagradas publicações


internacionais, norteadores dos

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primeiros empreendimentos do campo no Brasil. É nessa fase


de consolidação do

fotojornalismo que se intensificam as discussões acerca da linguagem


fotográfica na imprensa

e que a influência dos parâmetros internacionais, principalmente aqueles


consagrados através

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do trabalho de Jean Manzon na revista O Cruzeiro, começam a se


distanciar do foco

pretendido pelos profissionais do campo, o que vai se refletir nas


imagens produzidas no

período.

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41

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Capítulo 3 – As imagens vencedoras

Uma análise que se debruça sobre documentos visuais, neste caso


a fotografia,

pressupõe, antes de tudo, o desprendimento das inflexões óbvias e


certa persistência na

investigação, para escapar do imediatismo das armadilhas sensoriais


proporcionadas pela

visualidade. Sendo este conjunto de fotografias produzidas para os


veículos de imprensa,

ainda se faz necessário transpor obstáculos que vão de encontro ao


próprio sentido da

realização da imagem fotográfica, dada pretensa objetividade desses meios de


comunicação.

Assim sendo, abordagem que se segue procura elucidar a trajetória que


levou toda uma

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geração de fotojornalistas a contribuir para a elaboração de uma linguagem


fotográfica que,

apesar da valorização do texto escrito e da língua como tradutora das


experiências sociais pela

imprensa, conseguiu se impor como definidora de uma narrativa sobre os


acontecimentos

históricos.

O Prêmio Esso de Fotografia aparece como um fio condutor da


análise, já que

apresenta uma relação de imagens vencedoras, as quais puderam ser


identificadas como

sinônimo de excelência fotográfica. Por ser a única instância, à época, a


fomentar esse tipo de

reconhecimento, sua constituição seletiva revela um conjunto significativo


de referências

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adotadas no processo de amadurecimento do fotojornalismo moderno no


Brasil. Por outro

lado, embora fuja do escopo desta pesquisa uma abordagem que analise as
imagens que não

aparecem na lista de premiadas pelo Esso, em linhas gerais elas,


compõem um conjunto

documental interessante acerca da leitura de mundo legitimada com a


concessão de títulos de

excelência.

A motivação de optar pelo recorte da década de 1960 está


relacionada a razões

cronológicas – a primeira fotografia citada pelo prêmio data de 1960 – e,


também, a pretextos

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que irão encontrar vazão na temporalidade vivenciada durante o período em


questão, em que

se configura um terreno profícuo para as transformações


engendradas no processo

modernizador proveniente do final da década anterior. Além disso, o


Prêmio Esso de

Jornalismo quase deixou de existir, devido à intervenção militar nos anos que
compreendem o

regime de exceção, obrigando a empresa promotora do evento a intervir junto


ao governo e

negociar a continuação do prêmio. Em virtude disto, pode ser observado,


principalmente nas

fotografias vencedoras neste período, o esvaziamento de qualquer


referência que pudesse

remeter a uma apropriação política do conteúdo dessas imagens, sob o


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risco da empresa

enfraquecer as relações costuradas com as instâncias centrais do regime.

Do conjunto documental selecionado fazem parte um total de 10


fotografias que

apareceram na lista dos contemplados pelo Prêmio Esso entre 1960 e 1968.
Destas imagens, 7

foram vencedoras do prêmio principal e 3 receberam reconhecimento


através de outras

titulações diversas. Além do primeiro critério, em que pesa o tipo de


vinculação com o

Prêmio Esso, a escolha feita para construção da análise procurou


englobar fotografias

pontuais, que possam ser reveladoras dos critérios utilizados no julgamento e


possibilitem

inferir acerca das perspectivas almejadas para a repercussão do


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fotojornalismo. Para tanto, a

metodologia utilizada prevê dois níveis de análise: o conteúdo, que abrange a


relação dos

elementos da fotografia com o contexto no qual está inserida e expressão


que abrenge as

escolhas técnicas e estéticas do realizador da imagem .

Desde já, é importante salientar que o estudo dos veículos de imprensa,


de um modo

geral, pressupõe no mínimo dois canais complementares: a emissão


e a recepção da

informação. Tomando por base uma construção modelar, numa


instância estão os

responsáveis por produzir a notícia – tanto em conteúdo como em formato – e


na outra ponta

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os leitores, destinatários da mensagem que se deseja transmitir. No entanto,


por esses canais

de transmissão de notícias transitam, além da suposta


imparcialidade e objetividade,

ideologias e interesses que respondem a demandas dos grupos sociais


responsáveis pelo

controle da produção da informação. No outro extremo, há que se pesar o


papel de formadora

de opinião, atribuído à imprensa, junto ao público leitor.

No caso específico da fotografia de imprensa, objeto deste estudo, deve


também ser

levado em conta que a realização do ato fotográfico ocorre antes e


fora do ambiente de

produção do jornal, agregando ao resultado final de uma fotografia publicada,


o componente

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1 MAUAD, Ana Maria. Através da Imagem: Fotografia e História Interfaces.


In:Revista Temp, vol. 1, nº 2,

1996, p. 73 98.

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1960 Voto de Louvor

Autor: Campanela Neto

Título: ACONTECIMENTOS EM ARAGARÇAS

Veículo: Revista Mundo Ilustrado

Um grupo de oficiais da Aeronáutica, descontentes com o ex-Presidente


Jucelino Kubitschek,

tentou iniciar um movimento de rebelião, a partir de Aragarças, em Goiáis,


para derrubar o

Governo. Campanela Neto conseguiu registrar o momento da rendição do


grupo às tropas

leais ao Governo.

Fonte: http://www.premioesso.com.br/pop_fotografia_1960.htm
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1961 Fotografia

Autor: Sérgio Jorge

Título: NÃO MATEM MEU CACHORRO

Veículo: Revista Manchete

A angústia do menino Fernando, ao tentar liberar seu cachorro, capturado


durante campanha à

raiva, no Rio de Janeiro, ultrapassou as fronteiras do Brasil, sensibilizando a


imprensa

inglesa, que, interessada no flagrante, adquiriu o direito de reprodução da foto


no Sunday

Times.

Fonte: http://www.premioesso.com.br/pop_fotografia_1961.htm

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da subjetividade do fotógrafo, entendido como ser social dotado de prévias


concepções de

mundo. Como a realização plena do fotojornalismo implica, necessariamente,


numa atividade

coletiva, pelo simples fato de que o trabalho só se completa com a publicação


da imagem, o

ato fotográfico, isoladamente, acaba ficando aquém da composição que


chegará ao leitor.

Para os limites desta pesquisa e os objetivos a que se propõe, a metodologia


adotada prescinde

de uma elaboração acerca da recepção da mensagem fotojornalística junto ao


público leitor

dos jornais e revista, visto que, o foco se mantém sobre o Prêmio Esso,
restringindo a

repercussão das imagens vencedoras ao grupo especializado dos


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fotógrafos de imprensa.

Além disso, o questionamento a ser desenvolvido se fixa na trajetória dos usos


da linguagem

fotográfica dentro do contexto de construção dos conceitos


fundantes do ofício do

fotojornalismo, bem como, não poderia deixar de ser, do papel das


imagens técnicas na

apropriação do discurso histórico em que estão inseridas.

1 - Transição da fase ilustrada para os pressupostos do fotojornalismo

moderno 1960-1964.

As duas primeiras fotografias que despontaram na relação de


vencedores do Prêmio

Esso foram Acontecimento em Aragraças, contemplada com Voto de Louvor,


em 1960 e Não

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Matem meu Cachorro de Sérgio Jorge, para a Revista Manchete, no ano
seguinte. Essas

imagens, além de inaugurarem a categoria que privilegiou o


fotojornalismo dentro do

concurso, são significativas das transformações enfrentadas pelo setor no


período em questão.

O início da década de 1960 correspondeu para a fotografia a uma época de


transição, em que

novas técnicas e tecnologias, ao se tornarem mais próxima da realidade dos


profissionais

brasileiros, fomentaram percepções renovadas e atualizadas dos conceitos


basilares do ofício.

As semelhanças encontradas entre estas fotografias não residem


somente no tipo de

periódico em que foram publicadas – as revistas Mundo Ilustrado


e Manchete,

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respectivamente – embora tal fato seja muito significativo dentro


do contexto de

transitoriedade a que pertencem. Os elementos que as constituem são


reveladores de certo

amadurecimento técnico e textual do uso de imagens nos periódicos do tipo


revista, em que o

caráter informativo é mais valorizado em detrimento da intenção meramente


ilustrativa Essa

tendência ganhou espaço no periodismo semanário a partir das inovações


editoriais trazidas

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pela revista Manchete , e, posteriormente, foi aperfeiçoada nas revistas


Realidade e Vej a,

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seguindo parâmetros, que na década de 1970, deram corpo às
norte-americanas Newsweek e

Time. Ao mesmo tempo, essas fotografias vinculam-se à


conjuntura incipiente do

fotojornalismo diário no Brasil, restringindo sua utilização mais plena


e qualificada, à

experiências pontuais como a do Jornal do Brasil, além de certas limitações,


ainda presentes,

em virtude de impedimentos tecnológicos no campo da difusão da imagem.

Observando a expressão das imagens, os componentes que


dependem da técnica

empregada no ato fotográfico, é possível identificar uma mesma preocupação


com a captura

do movimento, da ação impetrada pelo motivo alvejado no momento em que a


fotografia foi

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feita. Para a percepção visual percorra esse caminho efeito
dinâmico são utilizados a

composição dos planos e o enquadramento do objeto, em que o primeiro


trabalha com a noção

de profundidade de campo para destacar o acontecimento no primeiro plano,


ainda que na

fotografia Acontecimento em Aragraças, a desfocagem do fundo é tanta que a


imagem das

pessoas na dimensão mais próxima parece descolada do todo. Esse


recurso, também se

encarrega, devido a um efeito de gradação, de proporcionar certa noção de


dramaticidade, que

reitera o sentido comovente pretendido para o acontecimento.

O enquadramento diagonal da fotografia, obtido com um


posicionamento da câmera

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num suposto vértice do campo visual alcançado, além de ratificar a ruptura
com o formalismo

das fotos posadas, amplia a profundidade de campo da imagem, utilizando a


geometricidade

da perspectiva para esquadrinhar linhas que divergem para o primeiro plano,


esboçado uma

idéia de deslocamento da ação, que parece se aproximar de quem a observa.


Principalmente,

na fotografia Não Matem meu Cachorro, em que o enquadramento capta a


cena de baixo para

cima, essa idéia de aproximação fica mais evidente, agigantando a


rudeza do homem da

carrocinha do plano próximo diante do desespero miúdo do menino dono do


cachorro.

Além da forma como expressam suas mensagens, essas primeiras


imagens do Prêmio

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Esso chamam a atenção, no nível de conteúdo, por supervalorizar o


acontecimento, o

flagrante ou furo de reportagem. Ambas prezam a teoria do momento exato


da atuação da

câmera, divergindo apenas na temática abordada. O momento captado por


Campanela Neto

está diretamente relacionado à vocação oportunista do repórter fotográfico,


que está presente,

2 A Revista Manchete circulou pela primeira vez em abril de 1952, sendo


concebida como a realização de um

desejo antigo idealizado por Adolpho Bloch, que já atuavam no mercado


editorial brasileiro, à época, com a

empresa de impressão Rio Gráfica. O formato de Manchete, inspirado na


publicação francesa Paris Match,

embora também se dedicasse a matérias sobre comportamento,


personalidades e eventos sociais, apostou nas

diretrizes do fotojornalismo e da matéria factual como linha editorial a


seguir, preconizando nas imagens o

movimento, o flagrante e a objetividade da “testemunha ocular”.

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1962 fotografia

Autor: Erno Schneider

Título: QUAL O RUMO?

Veículo: Jornal do Brasil

O ex-Presidente Jânio Quadros, que condecorara o ex-guerrilheiro cubano


"Che Guevara" ,

ainda não havia definido a política externa do País e as dúvidas eram grandes
quanto aos

rumos a serem seguidos pela Nação.

Fonte: http://www.premioesso.com.br/pop_fotografia_1962b.htm

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1963 fotografia

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Autor: Alberto Ferreira

Título: O REI SE CURVA ANTE A DOR QUE O BRASIL TODO SENTIU

Veículo: Jornal do Brasil

Contundido na partida contra a Tchecoslováquia, “Pelé” não resiste à dor.


Curva-se durante

alguns momentos e abandona o gramado, no Chile, deixando a Seleção


Brasileira sem o Rei.

Fonte: http://www.premioesso.com.br/pop_fotografia_1963.htm

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com sua máquina de imagens do mundo real, no momento certo e na hora


certa para relevar

os fatos, trazer aos olhos do observador final a vivência daquele


momento, suprindo a

ausência do mesmo. Já na outra fotografia, o momento certo valorizado é


a precisão do
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fotógrafo na captura do momento único, é a exatidão no tempo do “clique”,


prevalecendo a

sensação de “congelamento do tempo”.

Revelar os fatos tal como eles são. Esse pressuposto está presente na
composição das

duas imagens, direcionando a leitura visual para o conteúdo das mesmas.


Mesmo com a

utilização de uma técnica fotográfica mais apurada, serve como instrumento


ao propósito de

sobrevalorizar o assunto em detrimento da forma. A pretensão da


verdade fotográfica

converge com a abordagem preconizada no tratamento das imagens


característica das revistas,

em que a noção de ilustração, ainda impõe a fotografia um


compromisso com a
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verossimilitude que as enquadra na função de espelho do real. O flagrante de


Aragraças ou o

da dureza cotidiana expressa na foto de Sérgio Jorge, concentram no


em seu realismo

disposições que vão além da tarefa informativa, pois se


apresentam como vestígio

comprobatório de um fato, bem como se apropriam da


dramaticidade para encenar o

sensacionalismo emotivo, capaz de provocar no leitor um nível de


envolvimento com a trama

da vida real.

A despeito dos avanços tecnológicos que começam a ser configurar no


final da década

de 1950, a marca da transição presente nessas imagens reside no fato de


apresentarem novas
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formas de expressão, decorrentes de formulações técnicas mais elaboradas,


bem como darem

ênfase ao caráter informativo da linguagem fotográfica, preterindo a


plasticidade quase

pictórica dos trabalhos pioneiros do fotojornalismo brasileiro, dos quais


o francês Jean

Manzon foi a principal referência. Ao mesmo tempo permanecem muito


ligadas a face

ilustrativa das imagens técnicas, buscando construir significações calcadas no


realismo.

O Prêmio Esso de 1962 traz junto com a fotografia vencedora Qual é o


Rumo, novos

rumos para o fotojornalismo nacional. Não parece pertinente incorrer numa


abordagem que

estabeleça um marco na trajetória a ser analisada, sob o risco reduzi-la a


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uma concepção

linear, pautada na dualidade entre ruptura e continuidade. Entretanto,


também não se pode

desconsiderar que a fotografia de Erno Schneider, constitui-se, no


momento em que é

consagrada com a premiação, numa referência dentro do campo do


fotojornalismo em seu

processo de formulação dos paradigmas que iriam nortear a prática no Brasil.


Neste sentido,

foi investida da característica vislumbrada pela categoria, de idealização


do trabalho do

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repórter fotográfico, por reunir os principais corolários do fotojornalismo


moderno.

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À qualidade técnica apresentada, em consonância com os limites do
período em que

foi realizada, associa-se uma força semântica que aproxima a fotografia em


questão de uma

perspectiva simbólica, influenciando nos conceitos fundantes de sua


autonomia como

linguagem. Não se deixa de valorizar a utilização técnica de recursos,


materiais ou não, para

se alcançar patamares mais elevados na referência da boa fotografia,


mas o uso desses

recursos começa a ser pensado como instrumento numa


construção, em que pese a

subjetividade do fotógrafo, na significação do mundo que enquadra. Assim,


a técnica vai

perdendo um caráter de fim em si mesma e passa a fazer parte de uma


prática reflexiva, que

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pretende afirmar sua identidade lingüística, transcendendo os limites do


realismo absoluto e

da objetividade purista arraigada à concepção de imagem técnica.

O enquadramento centralizado da figura de Jânio Quadros com os


pés trocados,

transmite um série se representações que transcendem a simples


exposição dos fatos,

vinculando-se a uma leitura ampliada e textual da imagem que agrega a sua


síntese visual, as

aspirações e tensionamentos sociais do contexto histórico em que é


construída. O período em

que Jânio Quadros governou o país, foi marcado justamente pela


desorientação política, que

de certo modo se confundia com a personalidade confusa do


presidente, com seu jeito

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histriônico e atrapalhado. E, Qual é o Rumo? foi a pergunta certa para a


significação visual de

uma conjuntura permeada pela falta de um caminho político coerente, ao


mesmo tempo em

que a incerteza do devir se avolumava diante da crise política instaurada no


início da década,

a qual culminaria no golpe militar de 1964.

Toda a relevância representativa da fotografia de Erno Schneider


não ofusca seus

atributos estéticos no reconhecimento que se presta a esse


trabalho. O desequilíbrio

expressado semanticamente é reiterado pela precisão na captura do equilíbrio


momentâneo

das linhas e formas no espaço e no tempo. Assim, a imagem produzida


encerra um dos

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princípios fundamentais do fotojornalismo, teorizado pelo fotógrafo francês


Henri Cartier

Bresson, um dos pioneiros no desenvolvimento do ofício:

Uma f otografia é o reconhecimento simultâneo, numa f


ração de

segundos, da signif icação de um f ato e de uma organização


rigorosa

das formas percebidas visualmente que expr imem esse fato 3

3 Em Cadernos de Jornalismo e Comunicação, nov dez, 1970, p. 127.

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51

Forma e conteúdo ajustadas conscientemente para a tarefa de produzir


um sentido para

o acontecimento, uma “construção social da realidade” que, todavia, não


se esgota numa
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única interpretação, sendo constantemente re-significada por


leituras “construídas

socialmente” em torno do que é visto. Uma dimensão mais autoral da


fotografia começa a ser

esboçada dentro das discussões basilares do fotojornalismo brasileiro,


principalmente porque

este é o momento de constituição profissional da categoria, cuja geração


pioneira forma-se

através da prática do ofício. A necessidade de uma reflexão conjunta sobre


seus fundamentos

e de um direcionamento enquanto classe se intensifica, e, caminha


em paralelo a uma

discussão voltada para dentro, no bojo do processo de


consolidação profissional, a

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reivindicação externa dos interesses dos repórteres fotográficos junto aos


órgãos de imprensa

dos quais são empregados.

O reconhecimento do trabalho de Erno Schneider vai ter um peso muito


significativo

nessa conjuntura de afirmação da fotografia dentro do periodismo nacional,


especialmente no

caso dos jornais diários. Por intermédio do fotógrafo conquistas importantes


puderam ser

efetivadas, propiciando melhorias reais no trabalho do fotojornalista


e nas relações

profissionais estabelecidas dentro das redações. Dentro de outra vertente,


procede uma disputa

em torno da autonomia da linguagem fotográfica inscrita da imprensa diária,


desdobrando-se

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em questionamentos que perpassam pela própria conceituação e


constituição textual da

imagem e na inter-dependência desta com os outros elementos que compõem


o formato do

jornal. A hierarquia verbal e a atuação do fotógrafo como uma peça alheia ao


processo de

produção da notícia serão colocadas em xeque, consumando, nas publicações


que investiram

na reformulação visual e na diferenciação fotográfica – casos do Jornal do


Brasil e Correio da

Manhã, a partir de uma reformulação editorial comandada pelo próprio Erno,


em 1964 – o

processo inserção participativa e decisória do fotógrafo na dinâmica da


composição do jornal,

destacando a autoria e a subjetividade semântica das imagens publicadas.

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É um resultado do processo que se configura, a criação das editorias


voltadas para a

fotografia, que valoriza o trabalho em equipe e a reunião, numa espécie de


conselho editorial,

dos fotógrafos para decidir quais fotos seriam publicadas e como elas
figurariam, dispostas no

jornal publicado. Assim, o poder de decidir sobre resultado final do


trabalho do repórter

fotográfico passaria das mãos do diagramador e paginador para um controle


mais efetivo

4 SOUSA, Jorge Pedro. Fotojornalismo Performativo – o serviço de fotonotícia


da agência lusa de informação.

Santigo de Compostela, 1997. Tese (Doutorado em Ciências da Informação)


Universidade de Santiago de

Compostela. Santigo de Compostela. 1997. Disponível em:


http://bocc.ubi.pt/pag/sousa jorge pedro

fotojornalismo tese.html. Acessado em: julho de 2006.

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52

daquele que era o responsável pela sua elaboração inicial.

No mesmo sentido caminham as fotografias premiadas nos anos


seguintes, com

destaque para as do ano de 1963, em que a performance estética


resume muito bem as

diretrizes apontadas até aqui. A singularidade é contemplada por Alberto


Ferreira com a

escolha de um único motivo referenciando a imagem e mais uma vez com a


personalidade

pública como alvo das lentes do fotógrafo. Aparece pela primeira vez no
Prêmio a regra dos

terços, dando vazão ao sentimento de dor, extrapolado do personagem Pelé


para toda a nação

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representada mundialmente pela seleção de futebol. A competência técnica
aparece sendo

empregada em conjunto com as representações que pretende formular, a


sensibilidade do

fotógrafo diante da contusão do “rei do futebol” traz, à reboque do


fato, uma série de

símbolos que compõem implicitamente a imagem e lhe conferem um


caráter textual. O

enquadramento da fotografia, a tomada de cima para baixo e a generalidade


do plano aberto

transmitem a sensação de isolamento e solidão que junto com o conteúdo


abarcado revelam

a relação do brasileiro com o futebol; a relevância de uma competição


como a Copa do

Mundo no contexto social; o sofrimento coletivo diante da


possibilidade da derrota no

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Mundial e o descontentamento com a saída prematura do grande ídolo. Não


por acaso, no ano

em questão, o Prêmio Esso concedeu mais duas Menções Honrosas a imagens


relacionadas à

mesma temática: a contusão e afastamento do “Rei Pelé” da seleção brasileira


e o Mundial de

1962.

Todas essa imagens, que correspondem ao início da década de 1960,


irão compor um

quadro que caracteriza uma etapa da trajetória do fotojornalismo


brasileiro, em que a

influência primeira dos fotógrafos estrangeiros, os quais fizeram escola na


Revistas Ilustradas

vai, aos poucos, cedendo lugares a novas reflexões e pretensões, sem,


contudo, romper

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definitivamente com a contribuição deixada por estes. É um período no qual a


busca pela

valorização profissional vai desconstruir os pressupostos dos pioneiros do


ofício e reagrupá

los reflexivamente, incorporando atualizações na tentativa de criar


uma identidade

fotojornalística.

2 - A ausência reveladora: o Prêmio Esso nos anos da ditadura militar

A década de 1960 consagrou a imagem como forma de expressão,


prova disso é a

rápida disseminação da televisão e o aumento da sua audiência


e relevância naquela

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53

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conjuntura social. No bojo desse movimento, também assiste-se a descoberta
da fotografia

como linguagem visual, por aqueles que até então só se encarregavam de


fazê-las. Entretanto,

a parte dos os avanços e conquistas materiais e imateriais, ou seja, como


campo profissional e

como forma de expressão, seria ingenuidade supor que os


caminhos traçados pelo

fotojornalismo viabilizaram revoluções profundas no âmbito da imprensa


nacional. A busca

pela autonomia e identidade, salvo algumas poucas exceções, atingiu um


limiar muito restrito

de ação, cujo epicentro residia na categoria recém associada de repórteres


fotográficos e a sua

difusão esbarrou por diversas vezes nos colorários instituídos pela grande
imprensa.

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Do mesmo modo, como toda competição, o Prêmio Esso também foi


alvo de diversas

críticas e desconfiança, principalmente devido ao fato de ser a imprensa sua


área escolhida

para atuação. Sem contar o fato das inúmeras acusações de privilégio e


interferência dos

chamados “jornalões”, estão em jogo, nesta situação os critérios de


julgamento adotados para

qualificar e escalonar a competência jornalística dentro de um intenso campo


de disputas de

poder, com um universo tão diversificado de vozes. Como ao longo de


sua existência a

premiação ganhou volume e seus vencedores tornaram-se exemplos


referenciais do trabalho

jornalístico, o que não foi diferente com as fotografias, algumas questões se


impõem, como:

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O que valorar numa notícia ou fotografia publicada? Mediante a que qualificar


esta ou aquela

reportagem? Não seria coerente avaliar os trabalhos numa dimensão


mais pública, que

envolvesse leitores? Quais são os critérios utilizados na escolha dos


avaliadores? Estas e

outras questões envolvem discussões amplas sobre o controle dos


meios emissores de

informação e o caráter de fala autorizada pretendido por eles.

Durante os anos do regime militar as escolhas feitas pelo prêmio na


categoria que

contemplava o fotojornalismo tratou de manter o protocolo e as boas relações


com os diversos

níveis de governo, o que externalizou uma certa perda do vigor das mudanças
que vinham

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sendo experimentadas. É fato que não se pode tecer uma relação de


causalidade entre os

rumos do certame patrocinado pela Esso e a retenção do movimento que


vinha ocorrendo no

campo do fotojornalismo, no entanto, fica cada vez mais evidente, a partir de


1964, que o

processo de reflexão crítica da realidade, do qual decorriam as transformações


na linguagem

fotográfica vinham sendo restringidas pelos rumos estabelecidas pelo regime.

As fotografias premiadas durante esse período, são emblemáticas na


representação da

dualidade experimentada nesse percurso, que coloca o repórter fotográfico


num limiar entre a

tentativa de estabelecer diretrizes inovadoras dentro do seu campo de atuação


e a necessidade

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1964 fotografia

Autor: Efraim Frajmund

Título: MORTE NO SENADO

Veículo: O Estado de S. Paulo

No Plenário do Senado, Arnon de Melo, do PDC - Partido Democrata Cristão -


desferiu dois

tiros em Silvestre Péricles de Góes Monteiro. Uma das balas atingiu José
Cairala, suplente do

Senador pedecista José Guiomar.

Fonte: http://www.premioesso.com.br/pop_fotografia_1964.htm

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55

1965 fotografia
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Autor: Kaoru Higuchi

Título: BRAÇOS ABERTOS PARA O NOVO MUNDO

Veículo: Jornal do Brasil

O ex-Presidente da França, Charles de Gaulle, visita o Monumento aos Mortos


da II Guerra

Mundial, no Rio de Janeiro. As crianças não respeitam o protocolo. Nem o


policiamento.

Fonte: http://www.premioesso.com.br/pop_fotografia_1965b.htm

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1965 menção honrosa

Autor: Luiz Pinto

Título: COMO SUBIR FAZENDO FORÇA

Veículo: Tribuna da Imprensa

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O ex-Presidente Marechal Humberto de Alencar Castello Branco, depois de


assistir ao desfile

de 25 mil homens na Vila militar, no Rio de Janeiro, comemorativo da tomada


de Monte

Castelo, na Itália, faz força para subir na viatura militar, sem nenhum
conforto.

Fonte: http://www.premioesso.com.br/pop_fotografia_1965e.htm

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57

de atender prerrogativas ligadas aos interesses dos grandes jornais e do


controle da veiculação

da informação, na grande maioria das vezes afinados com os ditames


estabelecidos pelo

núcleo de poder governamental.

O conteúdo político é o elemento em destaque na fotografia


vencedora do ano de

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1964, a qual caracteriza com bastante propriedade a crise política que se


delineava. Embora

sua composição expresse os preceitos valorizados pela fotografia flagrante,


que carrega a

função de captar o momento único, denotando a providencial presença do


fotógrafo na cena

exposta, essa imagem encerra um conjunto de significações


diretamente vinculadas ao

contexto histórico de sua produção, no qual embates no campo


político se acirravam,

caminhando para o desfecho do golpe.

Os limites da liberdade de expressão foram delineados mais


intensamente nos anos de

1965 e 66, quando as imagens que se destacaram sintetizam o


confronto entre as

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possibilidades e restrições que se configurava no período por vir. O vencedor


de 1965, Kaoru

Higuchi, com a fotografia Braços Abertos par a o Novo Mundo,


inscreve na película

fotográfica um fragmento momentâneo do fato que presencia, quando o


posicionamento da

câmera transmite a impressão de que o ex-presidente da França, Charles de


Gaulle, estende os

braços para as crianças que correm pelo pátio. Com um título, no mínimo
pernicioso, frente às

perspectivas para as quais a tomada do poder pelos militares apontavam, já


que na mesma

ocasião o jornal Correio da Manhã publicara 11 fotografias denunciando a


violência com que

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agiu a polícia reprimindo a atuação de jornalistas . Uma outra imagem – Como
Subir Fazendo

Força – não ganhou o prêmio de melhor fotografia, sendo-lhe


conferida uma Menção

Honrosa, em virtude do trabalho realizado. À mesma precisão na captura da


cena se associa

um teor simbólico muito significativo, mas relacionado a uma perspectiva


crítica do regime.

Primeiro, porque expõe uma figura pública, depois devido ao fato dessa
personalidade ser o

ex-Presidente do país e, por último, por desconstruir a áurea que envolvia


os militares e

homens do poder à época ao mostrá-lo numa posição constrangedora. O


fecho perfeito para a

fotografia e a para a produção de sentido a que se presta é a ironia de seu


título, remetendo a

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composição visual ao meio como chega ao governo o primeiro Presidente do


período militar

no Brasil.

Segundo Ruy Portilho, um dos atuais organizadores do Prêmio Esso de


Jornalismo:

Não houve entraves na époc a da ditadura, mas houve pressões. A

5 OLIVEIRA, Gil Vicente. Imagens Subversivas: Regime Militar e o


Fotojornalismo do Correio da Manhã

(1964 1969). Dissertação de Mestrado, 1996.

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58

1967 fotografia

Autor: Antônio Andrade

Título: AS TRAGÉDIAS DE JANEIRO

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Veículo: Fatos & Fotos

A violência das chuvas transformou dezenas de ruas da cidade em verdadeiros


rios.

Arrastando casas, automóveis e pessoas. Algumas salvas com ajuda de cordas


e muito esforço

de voluntários e soldados. Era janeiro, no Rio.

Fonte: http://www.premioesso.com.br/pop_fotografia_1967.htm

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59

1968 fotografia

Autor: Gil Passarelli

Título: DE REPENTE, A VIOLÊNCIA

Veículo: Folha de S. Paulo

Mais uma vez, a violência assume o lugar da razão e do entendimento,


levando um grupo de

estudantes a agredir um colega em São Paulo.


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Fonte: http://www.premioesso.com.br/pop_fotografia_1968c.htm

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60

Esso, como grande empr esa multinacional, era respe itada


Eles

queriam de alguma f orma controlar a pr emiação, mas j á


tinham

cerceado a impr ensa de tal maneira que não havia margem par a
uma

matéria de denúncia ser premiada 6

Dentro do período em que perdurou o regime de exceção, não se pode


desprezar a

iminência de mudanças impostas pela força armada e as necessidade da


manutenção de

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relações delicadas com as várias esferas do poder. Por mais que a petrolífera
multinacional

fosse respeitada e exercesse influência no cenário econômico nacional, não


pôde deixar de

intermediar a tentativa do governo de acabar com o evento que prestava um


reconhecimento

ao trabalho da imprensa. Afinal, o prêmio patrocinado pela empresa levava


seu nome e estava

diretamente vinculado à imagem institucional, sendo preciso negociar


sua permanência,

diante das restrições à liberdade de expressão, principal bandeira dos órgãos


de imprensa.

O Prêmio de 1967 se caracteriza pela volta da imagem veiculada


através de uma

revista à listagem de vencedores, acentuando um novo perfil


editorial desse tipo de

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publicação, voltado para a reportagem informativa, que surgiu com a revista


Realidade e se

disseminou através de outras publicações como Veja. A única fotografia


contemplada naquele

ano é mais uma imagem depositária dos pressupostos da foto-flagrante, cuja


característica

mais evidente, numa primeira observação, é a sua tentativa de


estabelecer uma conexão

mimética com a realidade do fato, marcada pela proximidade entre


fotógrafo e motivo

fotografado, que o coloca, ao menos no campo das percepções, inserido no


acontecimento, ou

seja, vivenciando as angústias das pessoas arrastadas pela correnteza. Seria


algo como reviver

a ausência da cena enquadrada bidimensionalmente pelo suporte que a


contém, transcendendo

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a própria natureza icônica da fotografia.

No tocante a representação de mundo que encerra, Tragédias de


Janeiro, de Antônio

Andrade – Revista Fatos & Fotos – expõe, através elementos que abarca
para compor a

imagem, a mesma motivação de esvaziamento do conteúdo político presente


na fotografia

vencedora de 1966. A retratação dos acontecimentos e a competência técnica


do fotógrafo são

valorizadas, sem, contudo, aproximar-se de qualquer simbologia capaz de


sequer tangenciar a

conjuntura social posta e as convicções que emanavam das esferas superiores


de poder. A

fotografia Como subir f azendo f orça, Menção Honrosa de 1965, seria a


última representação

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da realidade, dotada de maior subjetividade crítica, a ser inscrita no


rol dos trabalhos

6 Disponível em: http://www.abi.org.br/primeirapagina.asp?id=1175.


Acessado em:julho de 2006.

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61

fotográficos reconhecidos pelos organizadores do evento.

1968 sintetizou a rigidez e brutalidade do regime militar


nacional através da

exacerbação repressora instaurada por intermédio do Ato Institucional nº


5, avalizando a

restrição da liberdade e a perseguição de cunho político. O recrudescimento


da censura aos

meios de comunicação, enquanto por uma face verteu movimentos culturais


transformadores,

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vinculados a ruptura da ordem estabelecida, dentro do âmbito da


fotografia de imprensa,

sobretudo na rotulação pública de imagens modelares característica do


Prêmio Esso de

Fotografia, a resposta que se observa vai de encontro a um


distanciamento de qualquer

possibilidade contestatória que possa ser representada pelo assunto


contido nas imagens

vencedoras. Estas, por sua vez, por mais que remetam à esfera vivenciada no
período em

questão, restringem este caráter a dimensão da aparência, pois se eximem de


perpetrar uma

significação crítica da realidade fragmentária que difundem. Este é o caso De


Repe nte, a

Violência, do fotógrafo Gil Passarelli para o Estado de S. Paulo, na qual os


personagens e a
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suas ações, embora possam guardar vestígios das circunstâncias que


permeavam a época, não

colocam em evidência nenhum elemento, cuja associação com o


regime militar seja

permitida, pelo menos não sem que decorra alguma interpretação. Não
há presença de

militares ou de indícios espaciais muito precisos, nem mesmo exposição de


personalidades

conhecidas, caracterizando-se como uma fotografia menos autônoma em


relação ao texto que

a complementa, dependendo dele, de certa forma, para a construção de um


sentido e, por isso,

mais suscetível ao direcionamento de sua recepção.

O perfil protocolar esboçado pelo Prêmio Esso durante a segunda


metade da década
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de 1960, período em que a linha dura dos militares ascendia com força ao
poder, é ratificado

não só pelas presenças – fotografias premiadas –, mas, sobremaneira, pelas


ausências, ou seja,

imagens e jornais que veiculavam idéias divergentes daquelas


enaltecedoras do governo

estabelecido, não participam, salvo raras e inócuas exceções, de qualquer


instância do evento

promovido pela Esso. Dentro desta perspectiva, o conjunto documental mais


significante, ao

mesmo tempo significativo, tanto técnica quanto textualmente, é


aquele que engloba o

fotojornalismo do Correio da Manhã, reconhecidamente crítico da ditadura,


portanto alheio

as predisposições pertinentes ao certame em questão.


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Em 1964, por intermédio da própria Niomar, dona do diário, o


fotógrafo Erno

Schneider – vencedor do Prêmio Esso de Fotografia em 1962 – é contratado


para assumir a

função de editor de fotografia. A reforma empreendida por ele reúne, no


âmbito do

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62

1966 fotografia

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63

fotojornalismo, uma preocupação efetiva com a qualidade da imagem e uma


dimensão de

autoria fotográfica que valorizava o trabalho e a opinião do fotógrafo quando


da publicação
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das fotoreportagens. Ao longo da década, o jornal despontou como referência


de linguagem

fotojornalística, imprimindo resultados semelhantes aos conhecidos


através do Jornal do

Brasil, principalmente dentro dos aspectos concorrentes para o


reconhecimento devido da

profissão de repórter fotográfico, em grau de igualdade com os redatores e


demais cargos nas

redações de jornal. Mesmo assim, a aparição do diário dentro da premiação


ocorre uma única

vez, durante os anos de 1960, com o título de melhor fotografia, conferido em


1966, a Manoel

Gomes da Costa.

Naquele ano as várias turbulências apresentaram um grande vazio


na história do
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evento, uma vez que poucos trabalhos foram selecionados no resultado final
do concurso e

sem muitas explicações não houve vencedor para o prêmio principal,


razão pela qual a

passagem à Nova York e a ajuda de custo de US$ 250, concedidas ao


vencedor foram

sorteadas pela organização. Na categoria fotográfica, somente uma fotografia


esteve na lista

final – frente a seis da edição anterior –, além de ter sido extinta sua
comissão julgadora

específica, composta por profissionais da área, instituindo-se a divisão


das comissões em

categorias regionais.

Em que pese sua plasticidade, com muita expressividade nas


formas e apuração
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técnica, a fotografia Brasil no Golf Internacional, tem seu conteúdo


esvaziado quando se

considera o momento social por qual passava o Brasil, além da total


irrelevância do golfe,

como um esporte reconhecido e praticado no país. Tendo em vista os anos


anteriores da

premiação e a competência fotojornalística da equipe coordenada por


Erno Schneider, é

possível observar a subtração da força semântica presente nas imagens até


então escolhidas,

as quais consubstanciavam as prerrogativas da valorização da fotografia


autoral, imprimindo

nos trabalhos dimensões mais subjetivas e críticas na leitura de mundo que se


propunham.

Por mais limitada que se apresente a capacidade de inferir acerca das


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motivações e

critérios de julgamento manifestados no Prêmio Esso, ou mesmo apurar


precisamente as

acusações que lhe foram desferidas, não se pode deixar de elucidar a


relevância, inscrita

através da ausência, de uma política direcionada a evitar qualquer tipo de


enfrentamento com

a ideologia preconizada pelo regime militar. Tanto que das inúmeras


reportagens do Correio,

dentre elas as imagens feitas pelo próprio Erno, do cerco militar


dentro do Congresso

Nacional em 14 de outubro de 1966, foram suprimidas das instâncias


legitimadoras de uma

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64

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leitura de mundo possível dentro dos limites impostos pela disputa do discurso
da verdade.

3 - Uma imagem para mil palavras: a fotografia-síntese

Toda fotografia é uma escolha. O fotógrafo, no momento do ato


fotográfico, escolhe

um enquadramento; um motivo; um arranjo dos objetos que irão compor o


quadro que deseja

formar. Enfim, a fotografia recorta um espaço determinado, dentro de um


conjunto de outros

possíveis, inscritos todos, numa temporalidade própria. Às opções que


permearão todo

processo de construção de uma imagem fotográfica, tal como ela mesma,


são dotadas de

historicidade, estando, portanto, inscritas numa dinâmica de


sentidos que dialoga

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constantemente com as referências culturais estabelecidas pelo contexto social
de que fazem

parte.

A peculiaridade do conjunto documental tomado como objeto


de estudo neste

trabalho, reside em sua característica de ser uma escolha dentro de outra.


Isso se dá devido a

lógica inerente ao concurso, que se encarrega de eleger algumas fotografias –


representações

resultantes de opções feitas ao longo do processo que lhes deu origem –


diante das várias

possibilidades que se apresentam. Nesse sentido, não cabe buscar


suposições acerca dos

critérios utilizados para mensurar a qualidade das imagens vencedoras.


Entretanto, apesar de

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terem sido escolhas direcionadas a um fim específico – a concessão de
um prêmio em

dinheiro – fornecem algumas pistas acerca da repercussão dessas imagens,


as quais podem

revelar ao menos duas chaves de leitura que se entrecruzam: se por um


lado, denotam os

pressupostos ligados às tendências conceituais do fotojornalismo em voga, na


ocasião em que

foram julgadas; por outro, através do referente que capturam,


expõem os assuntos

considerados mais relevantes dentro da conjuntura vivenciada à época.

Assim sendo, se uma imagem pode valer mais do que mil palavras,
as escolhas

apresentadas pelo Prêmio Esso de Fotografia incorporam com muita


propriedade o dito

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popular. Os trabalhos fotográficos vencedores apropriam-se de duas
características

fundamentais, e muito caras a imprensa de modo geral, do registro visual: a


sua capacidade de

transmissão direta do conteúdo de uma mensagem, isto é, a possibilidade de


concentração

semântica que torna a visualidade uma forma de expressão sintética; e,


a atribuição da

imagem de guardar a memória social de um tempo passado e reportar o não


vivido, possível

de alcançar apenas através de sua representação imagética.

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Universidade Federal Fluminense.

DAMM, Flávio. Entrevista a Ana Maria Mauad e Silvana Louzada


em 24/04/2003,

depositada no Laboratório de História Oral e Imagem do Departamento de


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