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Fala-se do absurdo

Fala-se do absurdo
Ainda mais absurdo
Que esse poo kakfaniano
Sepultura sem corpo nem ossadas
Lngua morta eterna perenidade das coisas
Fala-se da ausncia de criatividade
Do adjectivo uniforme
Onde nada cresce
Mas tudo parece
Fala-se de tanto
Do fim de tudo
At do fim da memria
Para persuadir
Que no h outro fado
Outra doutrina ideologia
Nem sequer poesia ou primavera
Para os pssaros e muito menos
Sementes para os vindouros
Semearem nas leivas do tempo
Porque simplesmente j no histria
Fala-se e nunca se falou tanto
Tanto para encher o vazio o cu
De infmia e o quotidiano de subterrneos
Onde ningum est a salvo de uma bomba
Ou napal para que nada reste
e tudo seja indiferente igual a nada

Fala-se da morte de tudo


Porm ningum de mim diz
Que todos os dias ressuscito
E nunca dou o dito por no dito
pois no ser ai que est o principio
Da magia para no disfarar ou morrer de agonia!?
A minha vida por exemplo est toda por contar
(ando com o peito a abarrotar e quero estoirar)
Mas no neste canto to prfido que alguma vez me vo encontrar
Porque sou mais do que o absurdo da existncia da minha terra
O rochedo est a ceder no promontrio
O mar revoltado a tempestade levanta-se
Quase at ao cu e em terra s se nota a mar negra
Mesmo o Tejo enterrado no lodo
Caiu nesse engodo de promessas de deuses

No certificados por Pedro ou o Antnio


Dos sermes aos peixes do Mar da Palha
E o cais das colunas tornou-se num covil de mercadores
De gente de baixa estirpe gente sacana canalha
Que vende compra e come tudo o que lhe calha
Na rosa-dos-ventos ou na roda da sorte
Que para a gentes somente de morte
O tempo est defunto
O templo vazio sem fiis esmolas ou cera
A cidade anda ao sabor da trela dos ces
E l no cimo o castelo choraminga
Com saudades do oriente
Todo o lustro da memria
Pode-se rever apenas num manequim
Negro branco ou mesmo amarelo
Na montra da avenida
Outrora canho multido
Porm hoje nem sequer resduo slido
Da etimologia da lngua ou da histria
Dessa terra desse lquido desse rochedo
Porque j no so pertena dessa gente
que vive agora no medo e no degredo do silncio
espera do barqueiro que a leve para a outra margem
6-11-2014 Taipa-Macau
Ma Nu

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