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CE eS Por um cinema sem limites A Mostra Rogério Sganzerla integra o permanente trabalho do SESC no sentido de valorizar o cinema de qualidade, voltado para a inovacao e com- prometido com a busca da originalidade nas formas de expressao. Nesse terreno, Rogério Sganzerla é uma referéncia Ele surge para o cinema brasileiro em 1968, com a realizagao de 0 Bandido da Luz Vermelha, filme que acabou por transformar-se em obra- prima e freqiientar qualquer relagdo de melhores de todos os tempos. Se por al parasse, certamente ja teria seu nome inscrito, para sempre, como um génio da expressao visual, dotado de peculiares caracteristicas de inventividade que s6 reconhecemos naqueles que sao imortais. Rogério se encontra ao lado, em magnitude, de Peixoto, Glauber, Bressane, Joaquim Pedro, para citar apenas alguns dos que renovaram nossa linguagem cine- matografica. Depois de Bandido, vieram uma dezena de longas e outro tanto de curtas. metragens, entre eles, todos os filmes que revelam um tributo res- peitoso e quase obsessivo Aquele a quem Sganzerla adota como simbolo de artista e personagem da vida: Orson Welles. Para Sganzerla, Welles repre- senta, assim como ele proprio o é, um ator-criador-agente que emerge ata- do, irremediavelmente, a sua propria obra. Nao hd distanciamento entre pro- dutor e produto: ambos se auto-refletem e se contém no destino que tragam, nas historias que contam Proporcionar esse reencontro com algumas das principais obras de Sganzerla e, principalmente, mostrar seus trabalhos a novas geracies, jovens que se interessam por cinema, é a maior homenagem que poderiamos prestar ao artista precocemente desaparecido Destacamos a confeccao de cOpias novas de Mulher de Todos, Copacabana Mon Amour e Documentario, seu primeira filme, feito em Sao Paulo, em 1966. Danilo Santos de Miranda Diretor Regional do SESC SP MOSTRA ROGERIO SGANZERLA Acaso ha um infinito fora de nos? Antes de cineasta Rogério Sganzerla ¢ escritor. 0 roteiro de “Luz nas Trevas - A revolta de Luz Vermelha” é 0 seu mais novo trabalho a ser conhecido, destinado ao “cinema espetaculo”, com uma linguagem sofisticada e Popular. por Helena Ignez As mais de 600 paginas escritas por Rogério, ao longo de alguns anos, foram selecionadas por mim, chegando ao roteiro final, sob sua aprovagao Recriagao de seu antolégico “O Bandido da Luz Vermelha”, de 1968, Rogério define “Luz nas Trevas” como uma “comédia presididria”, um “melodrama criminal”, cujo primeiro personagem é 0 infinito. Sendo uma reconstituigao historica extremamente assumida levanta os problemas nacio- nais para resolvé-los livremente “Horror e beleza estao intimamente ligados, bem e mal se tocam o tempo todo num jogo de atragao permanente” Narra a trajetéria de um enigmético e sedutor assaltante adversério da pobreza e da miséria, verdadeira “celebridade ds avessas”, numa cidade ameagadora. Seria ele uma copia do “Luz Verme- Iha?” Esse marginal, Jorge, detido com o codinome de “Tudo ou Nad 6 praticamente 0 fio condutor da narrativa policialesca. Adorado por mulheres, com quem se mostra financeiramente generoso esse “Don Juan de Araque” roubava e usufruia vida confortavel e prazeres diversos, Torna-se famo- $0 através da imprensa pela ousadia e originalidade de seus delitos. Comete assaltos extraordinari- 9s, mas nunca foi assassino, como costuma dizer. “Luz Vermetha é coisa do passado. Hoje sou s6 Luz Divina” Com humor céustico o lendario “Luz Vermetha” aparece em diversas fases de sua vida. Duran- te a infancia, na Favela do Lixdo; na adolescéncia, quando trabalha como entregador da “Tinturaria Americana" e, movido por sua “vaidade atémica’, acaba cometendo o delito de usar o terno de um fregués em uma noite de autégratos, iniciando-se, assim, na marginalidade Sempre bem vestido, de modos aféveis, apresenta-se como filho de rico fazendeiro de Mato Grosso, praticando roubos em Sao Paulo e vendendo os frutos dos delitos a altos pregos na cidade de ‘iE POR UM CINEMA SEM LIMITES Santos, onde é freqientador e “habitué” da boate “Lanternas Vermelhas”. Na roda de investigadores perguntam “quem é 0 assaltante?” — e os boatos variam: Ex-cantor da Jovem Guarda? Qu adolescente, entregador de uma tinturaria, despedido por roubo de roupas finas? As hipéteses pululam. Tratado como um dublé de “Luz Vermetha”, “Tudo ou Nada” compde junto com o elegante dele- gado Justino e seus figis assistentes, “Mao de Onga” e “Praga de Mae”, as pecas dessa charada criminal sobre o poder individual de um fora da lei, a aparente ineficiéncia da policia e a impunidade dos politicos, que se aproveitam do caso em véspera de eleigdo. Enquanto isso, 0 assaltante gasta 0 produto do crime na aquisicdo de roupas e objetos extravagantes, invariavelmente selecionados na cor vermelha e esbanjando com as mulheres de vida facil. Entre as suas conquistas destacam-se a “Dama da Noite” Rebeca Orsini, a provocante Ruiva, nome de guerra da pernambucana Joana, famo- sa pela sua sensual apresentacdo com cobras na Boate Enigma e Jane, a antiga namorada, que também dangava na noite. Cumprindo pena por roubo e esquecido pela justiga numa cela de penitenciaria, “Luz Verme- tha” descobre que a cada nova acusagao que assume melhoram suas condigdes. A partir dai passa a confessar supostos crimes, um atrds do outro, chegando a sessenta, com 0 que consegue livros, roupas, televisor, fitas, refeigdes a qualquer hora do dia e da noite, além de permissao para receber visitas na cela. “Tive as mais belas damas do terceiro mundo, mas nunca precisei usar de violéncia para roubar jdias e beijos” Aos 55 anos, esquecido pela justiga, depois de completada sua pena, aproveita-se do relaxa- mento da vigilancia, atraida pelas belas coxas de uma jovem repdrter durante os festejos do Dia do Presidiario, “Luz Vermelha” deixa o presidio confundindo-se como integrante da equipe de TV. Utili- zando um tronco de timbadba atravessa um rio, com a ajuda de um cachorro e chega & casa de sua velha mae, mas é traido por um primo. Ja esquecido pela policia, “Luz Vermelha” percorre a cidade como cidadao comum. Em uma tipografia clandestina encomenda cartoes de visita com os dizeres: “Jorge Prado - ex-Bandido da Luz Vermelha, hoje Combatente pela Paz”. Como, porém, nao conhece ninguém 2 quem distribuir, mete- 0s no bolso do colete vermelho, dinico vestigio de seu luminoso passado. Isolado e desempregado, reconhece que a dnica saida sera praticar 0 dltimo assalto. Na mansao escolhida tem um encontro com uma misteriosa madame, de quem ja havia recebido um bilhete com rosas na penitencidria. Esse encontro ira transformar sua vida. Ou, nas palavras do préprio “Luz Ver- metha”: “Qualquer coincidéncia nao é mera semelhanga. Meu destino era pra ser santo de evangelho... No meio do caminho virei arrombador. Tenho a impressao de que fui retirado de minha época. Infeliz~ mente nao posso explicar mais nada. E a Gnica coisa que nao aceito é pintar os cabelos” POR UM CINEMA SEM LIMITES 0 Signo Sganzerla para Helena, Sinai e Djin "Un jeune homme qui s'en va" verso titulo melodioso e triste que 0 poeta Tristan Corbiére cunhou, para durar, de uma evidéncia: 0 mistério do tempo. por Julio Bressane Rogério Sganzerla foi-se muito cedo muito jovem foi-se, sinal de que os deuses, por seus enredados tragos, 0 queriam muito Tenho amor pelos filmes de Rogério Sganzerla Greio que de todos os filmes que vi s4o os que melhor compreendo e apreendo. No entanto estou longe de percebé-los inteiramente, morceau de meteore detache d'un ciel inconnu...Além de seus entes queridos talvez ninguém conhecesse ou entendesse seu espirito tenaz De natureza intelectual, leitor e escritor precoce, formado desde a adolescéncia na leitura das diversas tradighes artisticas e das vanguardas mundiais, e, principalmente, a parte que cabe nesta cor- rente a Poesia Concreta (Em 1964 Rogério freqlentava 0 poeta Augusto de Campos que Ihe deu o livro “Teoria da Poesia Concreta", primeira edicao, com uma dedicatria-poesia concreta-poesia do corpo?) R.Sganzerla foi génio na arte do filme, na sua renovagao, na sua invengdo. Sua percepcao da luz sua expressao dela iluminard ainda por anos nos fotogramas cuidadosos que nesta arte ele soube produzir. Tem uma obra cinematogratica criadora, forga viva ignota, que o desloca do dédalo de arroios secos do cinema contemporéneo e atual Rasgando o cliché, abriu-o a outras forcas, fez sentir outro sentir, aproximou 0 Cinema, adentrou-o em uma regido, uma regido sensivel, regiao até entao privilégio s6 dos loucos! Deixou falar a voz do espirito santo Nos seus 3 derradeiros longas-metragens superou a si mesmo, superou 4 tudo, superou 0 superar. Seu ditima movimento 6 um gesto mineral, uma cristalizacao. Pensador e pesquisador da imagem em sua duragao, em seu movimento e em seu tempo, decifrou um rastro féssil, descobriu fotogratias, fotogramas, fonogramas, da estada brasileira de Orson Welles, aquele instante no Bra sil, que relacionou, interrelacionou, transrelacionou, em um incomum e impressionador mosaico de revelagdes novas. Relacdes novas de linguagens e de imagens, imagens até ali ignoradas, desmastreadas. Imagens que, varadas pela luz, estampam uma intacta sobrevivéncia do passado MOSTRA ROGERIO SGANZERLA em um mapa, um atlas de formulas expressivas, patéticas, arcaicas, desenhado, talhado, detalhado, por mao dedicada e futura Esta exegese-Welles fornece ao cinema, nosso cinema, uma paisagem especial Onde olhar? Onde ver para ver? Soubemos em todos os tempos assimilar diversas tradigoes. cinema mudo e falado americano, vanguardas cinematograficas do inicio do século, Eisenstein western, cinema do telefone branco, neo-realismo, nouvelle vague, que ao lado de tantos outros formalismos, deixaram suas sombras em nossos clichés cinematogrAficos! Depois da cartografia levada a cabo por R.Sganzerla o filme de Welles coloca-se ai no centro, infunde um poderoso cinema no nosso cinema oferece uma referéncia nova ao nosso recorrente ima~ ginario de imagens. Das sombras do passado para as sombras que hao de ser. No transe embriagado de uma danca brota uma verdade, terrivel verdade que poe a verdade fora da verdade, e psicanalisa um antigo totem, ainda, inexplicavelmente, vivo, falante, com sade... A observagao é de Giorgio Agamben:" 0 gesto é por esséncia gesto por nao estar na linguagem, sempre gag na acepcao plena do termo que indica a obstrugao da boca para o impedimento da pala- vra, depois € 0 que 0 ator improvisa quando tem um lapso de meméria ou simplesmente a impossi- bilidade de falar, Eis uma aproximagao do gesto com a filosofia, e mais, da filosofia com o cinema 0 mutismo essencial do cinema, que nada tem a ver com a presenca ou auséncia de banda sonora, como 0 mutismo da filosofia, exposigao do ser na linguagem, é gestualidade pura...” Mostrar 0 que nao pode ser dito, eis o gesto segundo o fildsofo Ludwig Wittgenstein O cinema de R.Sganzerla fornece além de uma bela forma de estilo uma teoria do cinema feita através do cinema, Uma teoria de imagens através de imagens, sem palavras.. Criou, no Brasil dos anos sessenta, um cinema popular e sofisticado ("Bandido da Luz Verme- Ina"; "A Mulher de Todos") que até hoje o cinema brasileiro nao conseguiu realizar. Com a Belair re-inventou em 1970 0 Cinema, ou, pelo menos, uma maneira de se fazer o Cinema. A cartogratia do signo Orson Welles (Nem Tudo é Verdade; Tudo 6 Brasil: 0 Signo do Caos) cartogratia culta, inédita observagao critica cinematogrétfica, estética, historica, agudissima, da arte do filme transbordada sobre si, vertida sobre 0 seu proprio cinema. Cinema horizontal onde o passa- do nao é passado. Os gestos antigos sobrevivem. Existem os valores, ou seja, as diferencas. 0 eixo vertical da verdade objetiva é substituido pelo eixo horizontal de valores. “0 Signo do Caos" desdobra sua sistematica, continua, insistente, minuciosa exegese filmica. e, conseqiente, transfiguragao, metamorfose, do cinema de Orson Welles R.Sganzerla toma distancia, consegue tomar distancia, de Orson Welles por meio de uma ava- liagdo do signo Welles, da trama de seu tecido. A montagem, o enquadramento, a escolha da lente- luz, @ mise-en-scéne, os atores com seus gestos sobreviventes, gestos enquanto cristais de memé- ria hist6rica, os sambas deslocando-se pelos fotogramas sucessivos e (des)ordenados, a "musica ' | POR UM CINEMA SEM LIMITES da luz" em um campo de forga maxima, a remogao de imagens, a exposicao de todo material revela- do, a repetigao das cenas e suas diferencas entendidas como modalidade de pathos inconsciente, todas estas evidéncias so apenas minimos indicios de um pensamento por imagens, conceitos Visuais, que chegam a tela-olho. Meméria inconsciente do tempo estas pegadas nos ensinam algo, interpreté-las 6 um processo de aprendizado. Imagem sintoma imagem pathos que ultrapassa 0 modelo wellesiano multiplicando em complexidade o sentido de tradugao feita em uma mesma linguagem cinema do cinema “Tudo 6 Brasil” é uma joia trabalhada com amor e com génio. GEnio que Ihe nao faltou a vida inteira Uma pequena entrevista, em uma fita de gravador, de Welles com Carmem Miranda é transcriada com ritmo em um filme onde cada imagem, narra, sim, nos conta, outra histéria, em forma de ana- grama se assim podemos dizer, a partir do que é dito na entrevista, mas, que esta fora dela, além dela, ou melhor, 14 no fundo dela, (in)visivel Historia de imagens em imagens, montagem artistica semelhante a de alguns processos de investigagao do pensamento por imagem na Arte Araspice a investigar as entranhas de certos fotogramas Em sua monumental pesquisa sobre a aziaga e reveladora passagem de Orson Welles pelo Brasil ("a passagem Welles’ como dizia) descobriu imagens e sons que compdem verdadeira mnemésyne oculta da vida brasileira, dos gestos arcaicos de sua gente, de tracos sombrios de seu comportamento, da maldicao do que, entre nés, tem grandeza... "Nem tudo é verdade" inicia a visionaria pesquisa de uma historia sem historia, que foi a vinda, a demora, o transito, de Orson Welles pelo Brasil Quais as cordas de nossa cultura que fez vibrar? 0 que surge desta remogao e montagem de imagens é um tragado psicolégico, do comporta- mento, dos gestos, de um mundo carnavalesco, séfaro, mestigo, pré-histérico Surge um Cinema ali. Da mescla de todas as gamas desta aventura fatidica, a delonga de Orson Welles no Brasil, sai um Cinema. Um filme que Welles criou as imagens, aos esguichos, de chotre, de improviso, mas, muitas vezes, depois de longas, longuissimas, horas de elaboracao e ensaio. Um cinema que imprimiu & nossa meméria inconsciente a dura marca de uma tragédia, do desvelar de uma tragédia O que deveria ser apenas um filme de boa-vizinhanga na cinica politica de relacdes hemisféricas, tornou-se um desastre humano, social, politico, infémia nacional, mauvais signe...Tudo isto inscri- to, impresso em luz nos grdos dos fotogramas fantasmas de um filme feito no entusiasmo, com olhos de raio X, vendo o que talvez nao fosse visivel, virando pelo avesso a imagem falaciosa oficial da gente e da sociedade brasileira. Alucinado sismégrafo alcoolista registrando temores intestinos, tre- mores clandestinos, terrores subterraneos Ee?) MOSTRA ROGERIO SGANZERLA Infancia é cera, dizia um velho escritor, hoje, nao atino porque, esquecido. Nesta matéria tenra a cicatriz sera para a vida, plaie profonde toujours cachée.. Colheu Orson Welles no Brasil, sudeste e norte, uma luz peregrina fixada sofisticadamente em pelicula. Um formalismo nascido dai foi revelado quimicamente em laboratério nos Estados Unidos Os copides foram vistos por poucos funciondrios da empresa produtora e do governo americano. Foi suspensa a producao. 0 material filmado teve proibida sua exibi¢ao. Os negatives anunciados como perdidos. Este material, este filme errado, ficou escondido, por décadas, em prateleiras de um estidio...Siléncio Havia um ritmo, uma arte, uma histéria, uma espetacular cartografia de gestos, um transe ancestral de um mundo inc6gnito, um ex-Eden, um Brasil fixado nestes fotogramas anormais, que foram "esquecidos" "Nem Tudo @ Verdade" transtorna o titulo "Tudo é verdade" original com ironia indicativa esclarecedora mesmo. A recriagao de enquadramentos, angulacoes, lugar-comum do estilo de Welles estao vivos no filme, pois, so tragos, molduras, de sua ficgao. A montagem "joyciana" com blocos indo e vindo, os feixes e fluxos de diversas linguagens, sugere o ritmo da enfeitigada empreitada wellesiana, de sua construgo, de sua realizagao interrota e finalmente interrompida. R.Sganzerla foi leitor assiduo de muitos anos e curioso de James Joyce. Joyce, sobretudo, mui- to, na traducdo brasileira de Haroldo Augusto de Campos, lida, relida, ainda jovem, apaixonada- mente. Visitou a Irlanda, sabia paginas do "Ulisses" de cor, leu as cartas de Joyce... Joyce e outros grandes escritores, inclusive brasileiros, cuja estrutura narrativa, a materialidade da linguagem, foi bastante estudada e divulgada no Brasil pela Poesia Concreta, que Rogério conhe. cia bem. Sempre pensou a montagem, mesmo a montagem da vida, considerando j4 0 exemplo do proceder textual de Joyce. Disse-me, com um gesto afirmativo, que viera de Joyce a montagem radi- cal do "Signo do Caos", quando Ihe perguntei se dali viera a semente daquela montagem que a mim me parecera @ parece 0 trabalho de um criador ja fora de si acercando-se da perspectiva da pers- pectiva, retina da mosca, transportando, movendo da tela para a vida a vertigem divina Digo assim da admiracao de R.Sganzerla por James Joyce porque escritores, pintores, misicos, artistas, que operam na linguagem so preciosos para a mente cinematografica. A montagem cine- matogratica € um processo de organizacao de passagens heterogéneas. J4 que o cinema passa atra- vessando por todas as disciplinas e nesta passagem é que o cinema se faz. Montagem cinemato- grafica quer dizer afeccao imprevista de processos de pensamento que surgem, sem precedentes, a cada um destes cruzamentos Rogério viu muito, ouviu muito, sentiu muito, seu trabalho criador nao tem semelhante, requer distancia para ser visionado. Pensou o cinema como um organismo intelectual sensivel que transpassa as ciéncias as artes e a vida 10 POR UM CINEMA SEM LIMITES Sua relagao criativa com Orson Welles mostra que nao se trata de copiar ou reproduzir os clichés exemplares, mas recriar todo proceso de uma natureza £ preciso experimentar! J4 foi dito que em Arte nao existe Adao, contudo, este pioneiro na arte da autotransformagao, este grande artista, criow e deixou para o Cinema, para a Arte do filme, 0 trago de seu firme desejo de reinventar-se a si. Asi, seja, 0 mundo. Durante minha vida em varias quadras tive inesqueciveis encontros, convivéncia, com Rogé- rio. Conheci-o em 1965 na porta do cine Odeon na Cinelandia do Rio, fomos dali para o Amareli- nho, conhecer-nos: sua inteligéncia, seu humor, fascinam, mais, inauguram um outro espirito, uma outra mentalidade; tinha graga, bastante graga, e tendo isto, tinha quase tudo; em Sao Paulo, uma Sao Paulo deliciosa na época, vi-o com o raro e grande Andrea Tonacci, em um fusca filmando "Documentdrio"; nos encontramos muitas vezes nos ensaios do "Rei da Vela"; muitos drinks com Almeida Salles no Pepe’s da Sao Luis; madrugadas com garotas no edificio Copan; assisti em diversas locagées filmagens do "Bandido"; no Festival de Brasilia de 1969 um encontro que nos ligaria para sempre, da afecgao métua "Anjo Nasceu"- "Mulher de todos" nasce a Belair; dias de sol da Belair interminaveis, luxo, beleza; em Paris,1970, LSD no Louvre; Rogério, Helena € eu no Castelo de Chambord, héspedes da produgao de um amigo, Jacques Demy. Varda, Deneuve, Truffaut, um passeio pela Provence francesa, antiga, silenciosa, vazia, animada com fumo e vinho; Amsterdao, Haia, Rotterdao, pinturas em museus-éxtase, as sensagdes do momento, fantasias; Londres, uma, talvez, duas, festas de inesperada liberalidade; em Salvador, na Barra da Tijuca, em Itacuruga com o caboclo Yapacani, em Pedra de Guaratiba, rua Barros Alarcon "banhada pelo tio Nilo”...tem muita coisa! Todos estes retalhos, manchas da memoria, véem a mim como uma onda de prazer, alegria, Juz adoravel. Meu muito querido Rogério, nao me faltam forgas para amé-lo, para recrid-lo € que as forgas me faltam...como abarcar todo seu esforgo? Visionar as conchas que vocé achou nas montanhas? Olhar de cara para o sol, ao meio dia? Voce, com sua inclinagao a nao se inclinar, segue sendo 0 Zaratustra do Cinema o ponto maximo de todos os paradoxos e contradigdes! De toda luz! 0 Cinema em algum momento terd que avancar, para avangar tera que voltar a vocé, e assim sera sempre. Sur la retine de 1a mouche dix mille fois le sucre... vocé, Rogério, que falava, gostava e se divertia com a lingua francesa, vocé faz uma falta de amargar! Serei em todos os tempos o seu admirador eo seu amigo POR UM CINEMA SEM LIMITES Rogério e Sylvio “0 Signo do Caos” se apresenta como um “antifilme”. Nao faz muito tempo, Kiju Yoshida definira o cinema de Yasujiro Ozu como “anticinema”. Mas entre um “anti” e outro parece existir um abismo. Ozu recusa certa natureza do cinema e a combate, mas 0 filme persiste. por Inacio Araljo No antifilme de Rogério é a impossibilidade que se manifesta plenamente E como se um aviso de interdigo ocupasse o visor. Todo o filme gira em torno dessa negatividade. Orson Welles quer filmar no Brasil. Os censores mandam o negativo para o fundo da Baia da Guanabara. Conversam sobre estética. 0 filme vai e vem, roda em torno da impossibilidade de filmar, reitera, retorna a personagens e situagoes. Tudo reforca a idéia de um “antifilme” Voltemos entao ao comego, ao “Bandido da Luz Vermelha”. Antes de ser um bandido, o Luz é um desajuste ambulante. £ aquele para quem tudo parece impossivel. Quem nao pode fazer nada avacalha, Metafora do cinema brasileiro, ou do Brasil, ou de ambos, o certo é que no Luz a centelha da negatividade 6 a que melhor se afirma. Seu cinema se alimenta da marginalidade de Welles, traz a nostalgia da grandeza nunca consentida, assim como carrega a solidao de Godard, essa quase certeza de que 0 cinema ja nao fala para ninguém e que os filmes sao um cemitério de ilusdes. 0 Luz que explode no fim do “Bandido” o faz como o Pierrot de Godard. As manchetes gritantes que os locutores enunciam ao longo do filme, assim como os luminosos, trazem essa marca Sensaci- onalista do “Cidadao Kane”. 0 passado é um alimento para os tormentos do presente Que se compare o Luz com o Miguel Metralha de “O Pornégrafo”, por exemplo. Miguel 6 0 cara que sabe 0s caminhos, que sabe como chegar |4. No Luz, ha uma aria autodestrutiva que habita 0 filme desde 0 inicio. Sao personagens opostos, mesmo que seu destino nao seja assim tao diferente Ora, se eu falo dessa negatividade essencial de Rogério Sganzerla, 6 porque sua carreira me parece dividida em duas partes: uma com Sylvio Renoldi e outra sem ele. Ou antes: de um lado, ha os primeiros @ 0s tiltimos filmes (em que Sylvio colaborou) ¢ de outro ha os filmes do meio. Sylvio era um pouco o Miguel Metralha de Rogério. Gordo, positivo, sempre pronto a uma risada escancarada. Acho que o equilibrio do cinema vem, em grande parte, dai. Carlao sempre lembra do fracasso da dupla Coppola/Storaro. $40 dois sonhadores. Quando dois sonhadores se juntam, ha Bb MOSTRA ROGERIO SGANZERLA excesso de sonho. Coppola é desses que precisava de um sujeito para trazé-Io terra. Jacques Tourneur também dizia que sua parceria com Val Lewton dava certo porque Val Lewton era um sonhador e ele um cara pé na terra, Acho que a parceria Sylvio/Rogério era dessa ordem. Por que ela me vem a cabeca? Ambos morreram precocemente. Sylvio uns poucos meses depois. Alessandro Gammo filmou um belo depoimento dos dois para o filme que fez sobre Galante. Sylvio jd tinha seu problema renal. Tinha emagrecido, falava baixo, incorporara uma certa tristeza que talvez viesse da doenga. Alessandro e Seu parceiro (cujo nome, desculpe, nao me lembro) poderiam tirar um filme s6 desse depoimento que a revista “Contracampo", por sinal, publicou, Mas a imagem é diferente da palavra: a imagem guar- da a alma das pessoas, Entao existe um Rogério sem Sylvio e outro com Sylvia. Ivan Cardoso acha que Rogério nunca foi inteiramente feliz no Rio de Janeiro, porque teria ficado a sombra de Julio Bressane. Pode ser. Minha impressao é de que essa fase carioca de Rogério é dominada exclusivamente pelo plo nega- tivo, como se Ihe faltasse 0 lado positivo, que Sylvio sabia incutir nos filmes. Esse lado vai ressurgir nos dltimos trabalhos: “Tudo é Brasil” e “0 Signo do Caos". A mim parece que, sem Sylvio, é como se Rogério nao conseguisse controlar perfeitamente seu imaginario, Com Sylvio, ao contrario, a coisa entra no prumo. Como isso se dava? Eu gostaria de saber. 0 fato é que se dava. Sylvio era, antes de tudo, um organizador. Nao no sentido burocratico da palavra. Ele era capaz de entender um pensamento afim ¢ extrair-Ihe tudo. Era capaz de revirar as latas de corte em busca daquele plano que equilibra tudo, que arredonda o todo. Ele achava De maneira que, com Syivio, a imaginagao incendiaria de Rogério podia se manifestar inteira- mente. Haveria sempre de aparecer Sylvio, o bombeiro. 0 bombeira de Francis Ponge, que fique cla- To: nao 0 que chega para apaziguar. Mas aquele que, diante do incéndio, joga agua e mais agua, até que 4 forca descontrolada do fogo se substitua a outra, da agua, nao menos poderosa. Sylvio dava matiz a esse universo fundado sobre a dupla negatividade que parecia ser a obses- Sao de Rogério: a do cinema e a do Brasil. 0 Brasil era 0 pais que rejeitara Welles (isso é uma meia verdade, como todos sabem, mas pouco importa), e como tal que rejeitara o cinema. 0 fato de o filme brasileiro de Welles ~ a parte que conseguira filmar, em todo caso — ter desaparecido era o signo definitivo, para Rogério, da impossibilidade nacional. Nao me parece que “O Signo do Caos” seja outra coisa: nossa nao-imagem. Por rejeitarmos Welles, tornamo-nos uma espécie de povo-vampiro, sem imagem, incapaz de se olhar no espelho Um nao-povo, uma nao-nagao, uma anomalia em suma. Sem Sylvio, ela vinha bruta na tela, insupor- tavel. Sylvio de algum modo sabia arredondar as imagens de Rogério. Por isso Rogério/Sylvio compdem uma dessas duplas obrigatorias do cinema, como Oscarito ¢ Grande Otelo, de caras que se completam. Haveré quem lembre de Helena Ignez, nessa histéria. Com fazao, mas, desculpe, é uma outra historia Mp PAGANO SOBRINHO ROBERTO LUNA MOSTRA ROGERIO SGANZERLA Rogério Sganzerla: iconoclasta e preservacionista Tive a sorte de ser apresentada a Rogério Sganzerla e sua esposa, a célebre atriz Helena Ignez, por Helena Solberg, em Nova York, em 1988. Na época, Rogério estava com sua antena “Orson Welles” bem ligada: ele preparava a segunda parte de seu quarteto sobre Welles, A Linguagem de Orson Welles. Nossos interesses estavam sincronizados, eu embarcava em uma longa odisséia de pesquisa sobre 0 passado e o presente do inacabado filme inter-americano de Orson Welles, /t’s All True. Acredito que Rogério continue usando essa antena, assim como as historias e material nao preservado obtidos pelos primeiros esforcos de preservar It’s Al! True chamam nossa atencao renovada."") por Catherine L. Benamou Como muitos que encontram Rogério pela primeira vez, fui surpreendida por sua brilhante inte ligéncia, intensidade e sinceridade — uma combinagao rara do transparente e do eliptico, alimentada por um metabolismo vigoroso, uma paixao pelo objetivo e um desejo igual de dividir essa paixdo com Outros, juntamente com o gosto pela ironia como instrumento de sobrevivéncia, assim como diver- Sao. Através dos anos, eu viria a admirar a generosidade e lealdade de Rogério, pontuadas por pia- das (como se ele demonstrasse a autenticidade dessas qualidades testando-as em si mesmo), sem mencionar sua lideranga em trazer a redengao histérica de Orson Welles e do projeto que este teve de abandonar prematuramente, it’s All True. Por este ltimo esforgo - um que por teimosia, ¢ talvez apropriadamente ainda nao acabou - Rogério avaliou ele mesmo todos os veiculos possiveis, do fe- nomenal ao metafisico, tomando eles a forma de um comentario critico do cinema, ou mais sim plesmente, de um ato convencional de invocagdo com um colega devoto Foi Rogério que me apresentou ao falecido Grande Othelo (Sebastiéo Bernardes de Souza Pra ta), a seu colaborador de longa data, Herivelto Martins que me acompanharia nas entrevistas com a irma de Carmen Miranda, Aurora, em Ipanema, com Francisca de Souza, filha do herdico jangadeiro 6 EP POR UM CINEMA SEM LIMITES cearense Jerdnimo, em Jacarepagud. Rogério freqlentava todos esses micro-mundos com uma fami- liaridade espontanea ¢ uma humildade surpreendente, pois ele estava convencido de que o encontro com todos esses mundos associados com a realizagao de It’s All True, do mais desmoralizado ao mais sublime, era necessario para que sua “verdade” fosse trazida a consciéncia atual e ao olhar examinador contemporaneo. Mais tarde, Rogério foi um guia critico durante nossa filmagem em locagao no Rio de Janeiro da versao franco-americana de 1993 de /t’s All True: Baseado em um filme inacabado de Orson Welles (dir. Richard Wilson, Myron Meisel, ¢ Bill Krohn), dividindo conosco o que e quem conhecia ~ 0 que é mais do que qualquer um no Brasil jamais saber ~ mesmo quando isso coincidia com 0 progresso de seus proprios metafilmes sobre 0 assunto. Possivelmente, essa generosidade profissional nas- ceu do que Bill Krohn se referiu como o impulso pottatch de Rogério — segundo o qual, 0 mero gesto de doar motiva uma série de trocas nao esperadas como “regra do jogo”. Imagino que foi também devido ao conhecimento ousado de Rogério (confidenciado em 1991) que qualquer reconstrugao de um filme que tenha sido to debilitado pela negligéncia e a difamacao pode aspirar apenas a alego- ria, temperada com a preservagao da evidéncia, e além de tudo (estava implicito), um exercicio alegérico nao envolve um respeito fundamental pela autoria, enquanto desrespeitar 0 proprietario clama por um “original”? Pode-se até extrapolar isso e sugerir que Rogério sinceramente acreditava que Welles compartilhava da premissa de que textos alegéricos so abertos, ainda que apenas cla- famente “autorais” (evidenciado, por exemplo, nas adaptacdes originais de Welles das pegas de Shakespeare) como uma saudavel e habitual pratica de potlatch (sendo a ultima caracteristica mais diffcil de ser provada apesar de sua atragao tedrica) ”. Para Rogério, entao, Orson Welles era mais que um mentor e pilar de inspiragao; ele 0 via como um “irmao", um sério aliado na arena da politica e estética do cinema. Finalmente, dado o desafio apresentado pela reconstrucao de /t’s Al/ True (que nunca chegou a ps produgao apés ter sido rodado no México em 1941 € no Brasil em 1942), andar com Rogério, no Rio, $40 Paulo, New York ou Munique, sempre foi um ritual de afirmagao da vida, terminando em adeus nervosos, Sempre que eu comegava a duvidar do propdsito da empreitada, Rogério estava 1a dando um exemplo de perseveranca (mais que advertindo), para seguir em frente sem medo de apu- Tar ou contradizer no escrever da histéria que poderia ser contada pelo filme. Porque no mundo atual, como ha nao muito tempo, fazer cinema é sucessivel a virar caso de policia, para citar um dos personagens de 0 Signo do Caos, mesmo que o policiamento seja feito apenas em nome do ponto principal — o que talvez explique porque Rogério continuou, mesmo depois da abertura, a fazer filmes que pareciam colados, nao costurados, coesos, poéticos, significando primariamente em um eixo vertical, nao prosaico EB! MOSTRA ROGERIO SGANZERLA COC “Tudo é Brasil” (1998) E também importante, nao é 0 moderno patriarcado ocidental, que Rogério nos mostra em se quarteto, também culpado por esses casos de policia? Exemplarmente, as criticas a Welles tém sido uma rea dominada pelos homens, de Positif e Cahiers du Cinema na Franca, aos bidgrafos e cro tas nos Estados Unidos, juntamente com os arquivistas e cinéfilos na Europa; ainda assim, Rogéri sempre olhou com respeito 0 meu trabalho e sempre me tratou como igual: para ele, a sabedoria Welles era, e deve continuar sendo, uma empreitada de oportunidades iguais. Tendo isso em mente Rogério sentia qu 'S perspectivas brasileiras nas experiéncias estrangeiras de Welles haviam sido desprezadas, e para ele, 0 Brasil era o local mais propicio para abrir 0 discurso critica a diversos tos e vista, incluindo os das mulheres. Assim sendo, ele deve ser agradecido nao apenas por Sua solidariedade, mas também por lembrar aos criticos ¢ historiadores do “Primeiro Mundo” que é necessario respeitar, se nao corrigir, 0 b: jango geocultural em nosso conhecimento coletivo de Welles. Sao muitas as anedotas que gostaria de contar sobre a intrépida, ainda jue gregaria, brilhante e decidida, humilde, porém irreverente, elogiiente e astuta, enturecida nite amizade de Rogé- rio, Mas como Rogério nunca teria aprovado uma hagiografia as custas de um criti ismo honesto, Ee POR UM CINEMA SEM LIMITES limitarei minhas proximas observagies a seus feitos artisticos, especialmente aqueles alcangados em nome de Orson Welles e seu projeto pan-americano suspenso. Mesmo nao tendo ele iniciado seu “quarteto” sobre Welles até 1986, a relacao cinematogratica de Sganzerla com Welles vem desde 0 Bandido da Luz Vermelha (1968), no qual um painel eletrénico traz a mensagem truncada “Hamburgo: suicidou-se 0 industrial alemao Peter Schmidt, que residiu em S. Paulo mais de (aqui existe um corte entre cenas) um génio ou uma besta...” inequivocamente evoca um painel eletrénico similar, anunciando a morte de Charles Foster Kane na Times Square em “News on the March”, documentério-falso de Cidadao Kane (1941) de Welles. (0 painel eletrénico reapareceria novamente dezoito anos depois em Nem Tudo é Verdade para declarar que /t’s All True, incluindo “Carnaval” e “Jangadeiros” 6 um dos mais famosos projetos incompletos de Welles) 0 que € significativo na frase “gdnio ou besta” é que sua desconexdo estrutural da noticia sobre 0 suicidio do industrial cria uma ambiglidade em torno do homem em questao: € 0 industrial? 0 bandido (Paulo Villaga) que aparece na tela entre os dois planos do painel? Ou, é uma alusao a Orson Welles, invocando a controvérsia critica nascida da visita do diretor Yankee a0 Brasil? Durante anos, essas controvérsias foram polarizadas em uma dicotomia cartesiana de corpo e mente que divide os significados latino ¢ norte-americano da conduta de Orson Welles na terra do samba e dos coqueiros: seria ela genial e visiondria (0 amigavel relato latino-americano) ou descontrolada e hedonista, e até, segundo 0 relato de Charles Higham, escatoldgica.”” Como a questdo “génio ou besta”, que é reiterada na trilha de Bandido na narragao, ¢ tentador enxergar as cenas do policial- detetive deste filme (chamado por Sganzerla de “Western do Terceiro Mundo”) como referéncias sim- bélicas 4 propria fascinagdo de Welles com o género de thrillers de detetives, Uourney into Fear (1942), The Stranger (1945), A Dama de Shangai (1946)), tao sucessivel a estética do filme noir (que Sganzerla adota em alguns planos de Bandido) e que alcanga seu climax em A Marca da Malda- de (1958). Como Welles em A Marca da Maldade, Sganzerla alegremente langa mao da caricatura ‘em Bandido, ironizando 0 poder e os locais sérdidos que o abrigam e criam, sem ironizar os habitan- tes ou a cultura popular destas zonas. Claramente, 0 que se inicia em uma série de sinais nao ver- bais em Bandido, fica explicito no quarteto sobre Welles. Em ambos, Nem Tudo ¢ Verdade @ A Lin- guagem de Orson Welles (1991), A Marca da Maldade é citado diretamente na trilha sonora, em extratos do didlogo entre Vargas e Quilan e na trilha jazzistica de Mancini, assim como nas fotos de Welles no set californiano de Venice. Os filmes de Sganzerla incluem também extratos da versao da radio Mercury de “The Way to Santiago” que Welles nunca conseguiu produzir como filme, Esse thriller politico transformado em show de radio, foi baseado na novela de Alexander Calder-Marshall de 1940 de mesmo nome, na qual um jornalista americano (Welles) persegue e desmascara um espiao nazista que se fazia passar por BE MOSTRA ROGERIO SGANZERLA jornalista briténico no México, a tempo de atrapalhar o plano nazista de derrubar o presidente mexi- Cano eleito democraticamente. Ouvimos a narracao noir de Welles, conforme ele encurrala sua presa nos bosques de Veracruz - seria uma desejavel alegoria a habilidade de Welles de desmascarar vencer seus delatores integralistas? Mais do que homenagens ao estilo que nos levam a uma linha genealdgica de influéncia (isso certamente), estas referéncias aos trabalhos realizados de Welles também sao meios de se introdu- Zir temas chaves - a corrupcao da policia e o fascismo (freqientemente na pele de democracia) - em varios pontos da filmografia de Sganzerla, e mais especificamente no quarteto. Pois, quando percor- Femos 0 quarteto em direcao a 0 Signo do Caos (2003), as experiéncias de Welles filmando It’s All True no Brasil mais e mais parecem um thriller politico, com Welles sendo o otdrio, associando a inteligentsia brasileira (Edmar Morel, Vinicius de Moraes, Grande Othelo) como aliados, e Nelson Rockfeller, 0 presidente ditador Getilio Vargas, Lourival Fontes (chefe do D.I,P em 1942), Filinto Miller (chefe de policia integralista do Rio de Janeiro durante 0 Estado Novo) e Alfredo Pessoa (chete da censura no D.I.P.) como os agentes (alternadamente) da negligéncia benigna, mal-entendidos, falsas acusagdes e repressao cultural.” Através do quarteto, (t's All True é tratado acertadamente Com 0 um projeto reprimido, que nao pode chegar a luz do dia livremente e inteiro, Ao contrario, ele luta para fazer aparigoes irregulares através dos testemunhos de seus participantes (Morel, Othelo, Wilson), gravagdes do som direto, copides e fotos, em sua maioria fragmentos dos documentos do DLP. sobre a filmagem, mais do que do filme em si (Sganzerla aproveitou todo material da filmoteca)'” até que este virtualmente explodisse como a combustao espontanea de nitrato gelatinoso das mon- tagens incendiarias (Tudo € Brasil, 1998), para reaparecer como “filme fantasma”, muito pouco de- cifravel (e talvez nunca presente) nas classicas imagens trémulas do Rio projetadas para o Dr. Amnesium do D.I.P. em 0 Signo do Caos, uma mise-en-scéne que invoca a projecao obliqua de Othelo (1952) em um monitor em um canto de quadro em Filming Othelo (1981) do proprio Welles. Em outras palavras, Sganzerla se recusa a deixar a profusdo de imagens em Tudo é Brasil transformar- se em um momento apocaliptico... assim como ele recusa-se a deixar a repressao do trabalho com- pleto de /t’s All True em 1945 matar a meméria do projeto. £ nessa conjuntura que comeca-se a notar algumas das mais profundas semelhangas entre o brojeto de Sganzerla e 0 de Welles. Primeiramente, Welles ¢ Sganzerla so ambos cineastas ensaistas experientes, e assim (como comentou Jonathan Rosenbaum em seu artigo, “Orson Welle’s Essay Films and Documentary Fictions") ambos ocupam-se de uma arriscada exploragao das fronteiras entre ficgao e documentério, criando um alto senso de ironia que nos leva a reexaminar os “fatos”, mas sem nunca refutar a possibilidade da verdade. Sganzerla traz essa caracteristica a um afiado ali- nhamento com a experiéncia da censura: a violencia da repressao significa que mesmo depois, ne- aL) POR UM CINEMA SEM LIMITES nhuma verdade pode emergir livre mente nha. Em seu quarteto, a fronteira entre verdade e ficgao ¢ des. Rogério Sganzerla e viada, com manifestagdes praticas. Helena Ignez (1970) Em Nem Tudo E Verdade vemos dramatizagdes da estadia de Welles no Brasil, estreladas por Helena Ignez € Arrigo Barnabé, como Shifra Haran € Orson Welles, respectivamente entremeadas em uma montagem de material de arquivo (0 filme de Rail Roulien do final dos anos 40 sobre a comunidade de jangadeiros em Mucuripe, documentérios do D.I.P., fotos de outros filmes de Welles, de Orson We: entrevistas com sécios de Welles nos anos 80). 4 Linguage les 6 restrito a uma mon- tagem de imagens e sons de arquivo, alguns do Brasil, outras da obra em radio e filme de Welles Tudo 6 Brasil efetivamente explode com imagens de arquivos alcangando 0 profundo € moderno pas- sado do Brasil, e além, dentro do presente recente, com entrevistas com Richard Wilson, colaborador de Welles, entre outros. 0 Signo do Caos marca um afastamento, uma inversao de método. Sganzerla deixa as imagens de arquivo de lado e vai além da poesia segmentada dos filmes anteriores, trazen do 2 primeiro plano uma diegesis alegorica, semi-ficcional, na qual nomes foram mudados para pro teger o anonimato dos protagonistas histéricos: Edmar Morel torna-se Edgar Morel, Dr. Amnesium fisicamente lembra Getilio Vargas, mas ¢ mostrado como afiliado do D.1.P. (e assim, provavelmente uma referén ia ao censor Alfredo Pessoa), a adoravel personagem de Djin Sganzerla é chamada ape nas “Lolita” (em homenagem a Nabokov), mesmo assim, vestida, ela lembra levemente a amante secreta de Vargas, a estrela do samba Linda Batista. Similarmente, ecoando a descontinuidade esté tica de /t’s Al! True, Sganzerla alterna no quarteto, material preto e branco e colorido’: ele resiste a0 uso de apenas colorido para a dramatizacao em Nem Tudo, a qual € na maior parte feita de material em preto e branco. A Linguagem é quase todo em preto e branco, com excecao das ditimas cenas, Tudo é Brasil é repleto de cores vivas, incluindo material colorizado do periodo pré-cor, 0 Signo traz uma volta rigida ao preto e branco, e sugere, uma estética noir de thriller policial Por todo o quarteto, na 4rea do som, Sganzerla adere a estética de Eisenstein, estritamente mantendo a nao sincronia entre som e imagem — ocasionalmente usando sincronia labial imperfeita (como Welles ocasionalmente fazia) durante segmentos ficcionais. (Nem Tudo), ocasionalmente entrecortando som e imagem usando didlogos off screen (como em Signo do Caos), e freqientemente BE 2 MOSTRA ROGERIO SGANZERLA criando contraste draméticos nas fontes de som e imagens - por exemplo, escutamos um extrato da série de radio The Shadow e vemos Nelson Plane desembarcar no Rio de Janeiro em 1941 (do “Cinejornal Brasileiro” em A Linguagem). Sganzerla também mantém uma relacao de leve atrito en- tre os elementos do som, colocando trilha sonora (Lero-Lero, 0 Mar e até a bossa nova de Joao Gilberto) sob a narracdo ou o didlogo. Nao € possivel evitar a lembranga do expressivo poder do som em todos os filmes de Welles, assim como da importancia que Welles dava a autoria durante a edi- cai de material filmado ¢ de arquivo, autora seus filmes. Finalmente, também vemos uma similaridade no modo em que ambos, Sganzerla ¢ Welles, adiam o final de seus textos. Welles expressou frustra- ¢40 por nao poder reeditar um filme apds seu langamento, Sganzerla se permite esse exercicio trans- ferindo e reeditando cenas de um filme do quarteto para outro. Essa nogao ciclica e nao de tempo linear € aliviada em 0 Signo do Caos, com a repeticao de gestos (o lancamento de latas de copides de cima do morro, dentro do mar) e do didlogo, sem falar do uso de papagaios como personagens “que se lembram”. Nem é necessdrio citar que as sobreposigées e repetigdes contribuem para a auto-referéncia do filme, provocando no espectador um engajamento mais ativo com o material em- prestado e original Mas seria um erro ingenuamente chamar o uso de parddia, até mesmo 0 ocasional pastiche, ou as citagdes cinematograficas nos trabalhos de Welles e Sganzerla de “pds-modernos”. Os filmes dos dois autores sao formados por um desencantamento com as diregdes tomadas pela modernidade, a0 , Mesma fase em que Sganzerla , trazendo uma pesquisa meticulosa e uma massa heterogénea mesmo tempo mantendo-os modernos, talvez possa-se dizer que a melancolia de Welles seja aquela de um cidadao do Primeiro Mundo vendo no Terceiro Mundo os perigos do subdesenvolvimento, enquanto a melancolia de Sganzerla, agridoce, vem da perda da inocéncia, nao apenas através dos sonhos tragados pelos caminhos neocoloniais do desenvolvimento (0 Bandido), mas com os efeitos da ditadura na mentalidade individual e coletiva. A quase esquecida pelicula do dltimo Copacabana Mon Amour, filmada no coragao da ditadura militar (1970) é um caso de estudo. Aqui podemos achar uma fonte filos6fica e psiquica para o impulso poético presente no quarteto de Sganzerla: a desilu- 40 com 0 projeto do ocidente moderno significa que o intercmbio de influéncias tem um efeito centrifugo, e nao centripeto na coesao do texto. Como Welles, Sganzerla insiste em mostrar a beleza do quintal, e nao do jardim da frente (para citar a frase de Welles no programa “Hello Americans” de 15 de novembro de 1942), em clara provo- cagao, Dr. Amnesium diz: “coisas normais nao é cinema” (0 Signo do Caos). Ainda assim, como os filmes brasileiros de ambos diretores atestam, é mais freqiiente que nas coisas comuns sejamos aptos a recuperar detalhes do passado que os varredores de ruas e espanadores de casa foram OR UM CINEMA SEM LIMITE Sequéncia de " 0 Bandido da Luz Vermelha” ineficazes em erradicar. De certa forma, encaixa-se ento, que 0 patriotismo vago torne-se evidente sob a dentincia do nacionalismo paternalista em 0 Signo do Caos: mais que uma homenagem ao segundo cinema” de Jean-Luc Godard, como em 0 Ba Vermetha, Sganzerla gesticula em diregdo a um perfodo do cinema brasileiro que foi muito inspirado por Welles - 0 Cinema Novo edeu as explorag Em 0 Sign declaram a estupidez daqueles que descartaram descuidadamente /t s radicalmente independentes e com orgamentos minimos de Sganzerla 0s, Dr. Amnesium fala de € 0 Diabo” (...na Terra do Sol), os papagaios que e que lembram agdes assim como palavras (vai e volta) daqueles que teriamos esquecido, sao inegavelmente os primos dos papagaios que tém a dltima palavra em Macunaima de Mario de Andrade/Joaquim Pedro de Andrad Nem tudo ¢ Welles, nem tudo ¢ Sganzerla. Viva Welles! Viva Sganzerla! Aproximadamente 45000 metros de pelicula de nitrato cantendo os trés episédins filmados de It's All True ~ °My Friend B naval” e “Jangadeir brigados no arquivo de filme ¢ televisdo da UCLA ainda precisam ser preservados, tlatch € uma pratica indigena nort a va do ato de doar e ndo da conquista de territrio, Para saber mais, consulte George Rol Hurley (Zone Books, 1991); ou http://wwwlemmingland.com/bataille html ‘onsultem meu capitulo sobre 0 assunto em It’s All True: Ors at Work in Latin ma interessante introdugao a histéria do D.1P, consu http://www. terravista pt/ternoronha/3044/dip. hte A maior parte de “It's All True” estava ainda nos cofres do estidio e ainda teria de ser descoberta quando Sganzerla fez “Nem ude Em Placing Movies: The Practice sm y: Unive litornia Press, 1995) Durante a filmagem de “It’s All True”, Welles usu apenas preto m °My Friend Bonito s pod em “Carnaval” e para a che quando voou para o Ceard para terminar as filmagens de “Jangadel f Jaz2” (a ser feito nos Estados Unido: dos jangadeiros na Baia de Guanabara; mas ele teve apenas negativo pr em jun 3s." Nunca saberemos se ele planejou sar cor ou preto e branco no quarto, e nunca filmado, e The St BB MOSTRA ROGERIO SGANZERLA 0 grande artista e sua condicao: a espiral barroca de Rogério Foi notavel a batalha de Rogério Sganzerla em defesa de um cinema moderno de feicao particular, definido a partir de uma sensibilidade aos valores do plano e da montagem que se afirmou, nao a partir do neo-realismo, mas de um deslocamento decisivo havido no que ele chamava de “cinema do corpo” quando este, no seio da propria indistria, encontrou em Orson Welles 0 génio capaz de operar a mutacao pela qual pagou alto preco ao longo da vida. por Ismail Xavier Com essa mutacao e “seu prego”, Rogério dialogou em profundidade, identificado ndo apenas com o estilo do cineasta mas interessado na sua persona (mascara) € no que nela se expressava como reagao calculada aos obstaculos e censuras. Vale, entao, neste didlogo a questao das obras travadas, os “fracassos” (na Gtica da eficiéncia), dos quais a interrupgao de It's all true no Brasil constitui um lance espetacular pela articulagao cultural e politica que envolveu. Nao por acaso, os trés altimos longas de Rogério se voltaram para a meméria do ano de 1942, quando seu cinema de montagem trabalhou as imagens e sons, vestigios da viagem mitica (Nem tudo é verdade e Tudo Brasil), ow recompds um imagindrio em estilo noir, portanto um “cinema do corpo” de 1942, para enquadrar em lu2-e-sombra as figuras da repressao e seu teatro macabro em torno da arca confiscada que abrigava, para elas, 0 signo do caos. Nos anos 1960, quando o diélogo do Cinema Novo se dirigia ao bindmio Italia-Franca, 0 jovem critico Sganzerla defendia com vigor os valores do cinema moderno que o interessava, numa postura autoral intransigente. Embora ampliasse 0 horizonte de “escolas” a celebrar, privilegiava as excegdes dentro de cada uma: Godard e Resnais, na Franca, Antonioni na Italia, Fuller e Hawks nos Estados Unidos. Tal como outros criticos, ele fez @ sua a prépria revisdo de André Bazin, disposto a incorporar a decupagem, 0 faux-raccord. Sua questao nao era a da continuidade como principio, 0 plano-sequéncia, mas uma filosofia do corte em movimento, um jogo tenso entre cémera e ator que 4 P POR UM CINEMA SEM LIMITES fizesse ressaltar instantes especiais, momentos felizes de documentacao do olhar e da fisionomia, 0 inesperado (pratica na qual, mais tarde, 0 dueto com Helena Ignez foi fundamental). Rogério concili- ava a idéia de verdade presente no cinema moderno com algo que alguns diriam “formalismo” mas que ele tomava como traco essencial do moderno como um cinema neo-barroco. No talento precoce do critico, estavam prefigurados os contornos do seu proprio cinema e os termos de seu didlogo com Welles e Godard Nao surpreende que o dado novo que ele introduz no cinema brasileiro vem de sua forma de olhar a cidade, o carnaval das imagens da midia, a fala superlativa, num film noir temperado por uma impregnagao da chanchada, da cultura do radio e do gibi. Na colegao de efeitos pop na colagem e na ativagao dos clichés, as vozes do radio citavam dois icones literarios (Oswald de Andrade e Nelson Rodrigues), de modo a acentuar uma reposigao de questées consonante com 0 tropicalismo de que 0 Bandido da Luz Vermelha é a melhor versdo cinematografica Em duas ou trés coisas que eu sei dela, Godard comenta que cidade moderna se tornou um império dos signos que nos da a sensacao de viver numa bande déssiné sem fim. Estamos cercados de imagens e palavras através das quais esta histria em quadrinhos nos interpela, tornando dificil extrair a imagem ou mesmo a linguagem capaz de operar o recuo necessario para recuperar uma experiéncia auténtica, um momento de contato real com as pessoas para além da imagem, mesmo que efémero. Dentro de um radical senso do moderno como vocagao, Rogério viveu e filmou esse império dos signos, exaustivamente, esta bande déssiné feita das frases “baldes” e das figuras estilizadas, imagens-cliché que renovou no trago forte que torna estilo 0 que era, na origem, contin- géncia natural. Merguihou fundo na malha dessa segunda natureza, e recusou o recuo em diregao & Natureza entendida como depdsito da Verdade, como seu cinema bem mostrou nas praias tornadas a mera extensao da teia de signos, paisagens vendidas pelo turismo barato do litoral paulista mais brega (A mulher de todos). Mesmo o espaco imponente de encontro do mar com a terra - os penhas- cos da costa do Rio de Janeiro - se transformam, pois a matriz romantica se desloca ironicamente para os termos do filme de pirata onde conspiradores menores se proclamam génios do crime nos termos da ficgdo seriada. Vale, nestes casos, o efeito da midia na formagao € a intimidade com que Rogério se instala na dissonancia, na montagem das vozes do alto e do baixo, do sublime e do grotesco, com seus perso- fagens a se embaralhar em frases feitas, habitantes de um mundo que borra distingdes e torna impossivel definir 0 contorno do Eu no constante embate com o “discurso dos outros”. Ao encarar de frente esse universo rebaixado de indistingdes, Rogério trouxe a invengdo de estilo que desafiou 0 que havia de melhor (o Cinema Novo) e encarou de frente os impasses do cinema de autor. Em 1968, ele irrompeu na forma agressiva do dissidente que sai dos quadros de um movimento que defendera Bs MOSTRA ROGERIO SGANZERLA como critico e langa a provocagao apta a arejar um cinema que jé tinha a percepgao aguda de seus problemas ¢ j4 iniciara o seu préprio questionamento numa outra forma de drama barroco (Terra em Transe). Na cémera-na-mao e na colagem, Rogério deslocou a crise, nao a dissolveu. Observou-a de outro Angulo, deslocando a politica para o canto do quadro ou para o extracampo, sempre evidenci- ando a sua intuigao da crise do intelectual no corpo-a-corpo com as imagens, com o que ha nelas de fragmentario, incongruente. Na mistura de estilos bem humorada, radicalizou 0 senso de uma dissociagao em que o sujeito age e se observa de fora, almeja com fervor e sorri de sua propria impoténcia, expondo a nu a distancia entre a vontade, o culto do Eu e 0 horizonte acanhado da experiéncia (lembremos o bandido, Angela Carne e Osso, Zé Bonitinho, entre outros) Rogério teve um olho especial para a teatralizacao, para a “maneira” do novo rico, do pequeno gangster, do gigold, do policial (como esse censor do DIP. 0 bogal de 0 Signo do Caos, que pontifica nos bastidores do Estado Novo). Nestes termos, compés a familia ampliada dos herdis masculinos da pulp fiction e de pinups em sua etapa de estilizagao dos clichés, associadas a um ambiente que desloca os motivos da religiao e do mistério para o terreno do erotismo kitsch, como na passagem da iconografia egipcia, o orientalismo, para a arquitetura do Motel (Abismu). Neste contexto, a auto-construgao das personagens gira em falso, e 0 maneirismo se torna ex- pressao da experiéncia malograda, lastro de angistia desse teatro do eu. Claro que este teatro ganha Novos horizontes no periodo Belair, na parceria com Julio Bressane, com a radicalizacao do plano- sequéncia € com a aboligdo das fronteiras entre cena e entorno, ponto limite em que o colapso de performance e filmagem tornam o jogo mais complexo. De qualquer modo, seja nos primeiros filmes, seja nas deambulagoes mais extremas do periodo Belair, ndo hd o sentimento ingénuo de apropriagao do mundo, sem prego, “para gozo proprio”, num jogo leve e solto de uma jovialidade sonsa. A deriva das personagens traz um cultivo da “maneira” que tem seu teor de autoparddia e nao esconde um lado tragico transtigurado no humor visivel na colegao dos dandies que, desde Jorginho, antecipam o carna- val das imagens e da moda que aprendemos hoje a observar como um dado rotineiro. Esse flerte com 0 fracasso como vocacao e a auto-ironia se imprimem na forma, terreno onde 0 proprio cineasta vem figurar a cisao entre a vontade de arte, de expressao soberana, ¢ o reconhe- cimento do cardter gauche de tal empreitada diante dos entraves, das pedras no caminho de quem se reserva 0 direito de ser sujeito (falar por si) numa ordem feita da fabricacao cotidiana do consenso e da “antropofagia do sistema” a engolir as dissidéncias. H4 um prazer enorme de filmar, € a criagao tem seu forte teor afirmativo, mas 0 fracasso é 0 mote dos protagonistas de Welles e de Sganzerla, mesmo quando o protagonista, em terras brasileiras, é Welles, enredado no conluio entre Hollywood, 0 governo americano e o Estado Novo. 6 POR UM CINEMA SEM LIMITES Configura-se, nessa reiteragao, uma Norma Benguell em “0 Abismu” (1977) resposta a cultura filistina em que 0 artis ta, reduto da subjetividade, deve ajustar se & figura do génio-bufao, dispositive que Welles incorporou, imprimindo um estilo especial ao intertainer, j que era essa a regra do jogo. Sua performance poderia aqui ter ganho maior significado nao tives- se 0 “Brasil” o descartado como um turis ta incmodo. A trilogia de Rogério busca a refragao das imagens de 1942 em nosso tempo. Reconhecida a distancia, expde esse mundo em sua miltipla dimensao. doixando suas personagens exibir 0 seu potencial destruldo ou, pelo menos, adiado. Fica sugerida a indagagao: no episédio frustrado de It’s All True, teria 0 cinema postergado um didlogo de efeito semelhante ao da interagao norte-sul no plano da misica (no eixo samba-jazz), coroada depois pela Bossa Nova tio celebrada por Rogério na vor de Joao Gilberto? Helena Ignez , em Nem Tudo é Verdade, comenta: ele deixou de ser americano ¢ nao consegue ser brasileiro. 0 “deixou de” (perda da inovéncia sem retorno) e o “nao consegue ser” (nao hé ponto de chegada, plenitude ou coesao no afa identdrio) resumem 0 paradoxo do choque de culturas: @ repde a nossa questdo colonial, em que o “Tudo é Brasil” num filme de colagem faz ecoar nova- mente a figura de Oswald de Andrade Em Nem Tudo é Verdade, é Grande Otelo, numa notavel sequéncia dominada pela montagem que exorciza Cidado Kane, quem explicita 0 incmodo dessa experiéncia truncada que Rogério insiste em tematizar, talvez para resolver o impasse condensado na frase do grande ator ao comen tar o siléncio posterior de Welles que o deixou “esperando Godot”. Dada esta angistia de fundo, entende-se a circulagao das imagens no seu cinema, o retorno dos planos que fundem duas filmografias. Desde a primeira sequéncia do primeiro filme, portanto no momento da radiosa decola- gem, j vém juntos o “eu fracassei” ea indagacao “quem sou eu?”. Motivos recorrentes de um traba {ho que avangou na ténica do conflito e do descentramento, em constante didlogo com Orson Welles, a figura matriz da crise da subjetividade, do mito do autor e de sua dissolucao. Abismal, esta é a feigao do itinerério do artista que retorna vindo do outro lado do espelho, uma viagem por conta e risco de que deriva a figura do “ex-eu”, nas palavras de Norma Benguell em Abismu, Be? Filmografia > POR UM CINEMA SEM LIMITES SUMARIO LONGAS « 0 Bandido da Luz Vermelha (1968) A Mulher de Todos (1969) Sem Essa, Aranha (1970) Copacabana Mon Amour (1970) Carnaval na Lama (1970) A Miss e 0 Dinossauro (1970) Fora do Baralho (1971) ~ Mudanga de Hendrix (1971-1977) » 0 Abismu (1977) «Nem Tudo é Verdade (1986) Perigo Negro (5° episédio do longa, "Oswaldianas", 1992) Tudo 6 Brasil (1998) ~ 0 Signo do Caos (2003) MEDIAS - Horror Palace Hotel (1978) + Isto 6 Noel (1990) CURTAS * Documentario (1966) Comics/HQ (1969) * Quadrinhos do Brasil (1969) - Viagem e Descrigao do Rio Guanabara por Ocasiao da Franga Antartica (1976) » Umbanda no Brasil (1977) - Welles no Rio (1977) Noel por Noel (1981) ~ Brasil (1981) Irani (1983) + £0 Petréleo Nasceu na Bahia (1984) - A Linguagem de Orson Welles (1990) VIDEO Anénimo e Incomum, Brasil, (1990) ~ A Alma do Povo Vista pelo Artista, Brasil, (1990) Informagao Koellreuter, Brasil, (2003) Diregdo, argumento e roteiro: Rogério Sganzerla Om CmUELC Produgao: José da Costa Cordeiro, José Alberto dos Reis An) Pie eee) Cre REC Montagem: Sylvio Renoldi CeCe ee PSCC oe Rc) DCRR coca) Rea a ee Puce Companhia produtora e distribuigdo: Uranio Filmes rn oa SacI) Sobrinho, Sergio Mamberti, Luiz Linhares, Sénia CEC OR CMe UCI) Eee Roberto Luna, José Marinho, Carlos Reichenbach PE Ezequiel Neves, Lola Brah, Dulce Maria, Carlos Farah, Paula Ramos, Gaticho, Luiz Alberto, Lenoir CC oC) CRE OR Ec se Maurice Segall e Jilio Grimberg POR UM CINEMA SEM LIMITES ias de Sao Paulo, apelidado pela imprensa como 0 Bandido Jorge, enigmatico assa da Luz Vermelha desconcerta a policia ao imprimir inusitac nicas de agao. Sempre auxiliado por Sinopse uma lanterna vermelha, possui suas vitimas, protagoni lepois gastar o fruto fugas ousadas para do roubo de maneira extravagante, Na cidade de Santos se apaixona pela musa Janete Jane, conhece outros assal ntes, um politico corrupto e acaba sendo traido. Perseguido e encurralado, encontra somente uma saida para sua carreira de crimes. Roteiro livremente baseado na historia que no ano de atormentou a polic ulista E-PREMIOS - Melhor Filme, Diregdo, Montagem, Didlogo e Figurino - Ill Festival de Brasilia (1968) (categoria especial), Prémio ING (Inst. Nacional do Cinema) e Roquette Prémio Governador do Estado S Pint no Brazil On Screen - Gugg 0 que me fez rodar esse monstruoso painel do subdesenvolvido submundo do Apresentado em Taormina, Torino e Roma (Italia), além de Paris ¢ Nova York (MoMa - 1999) e hein (2001 crime politicopolicial seria 0 mesmo impulso de Welles (em todo o sentido o maior cineasta do ocidente) em Touch of Evil (Marca da Maldade) em tudo dizer dizer nada, observar o essenc |: discutir as relagoes do homem e ele mesmo - sua mente, o verdadeiro problema (onde e comega e termina qualquer revolucao) 0 outro (novo) homem, a humanidade. Numa frase: 0 bandido da luz vermelha é um filme que tenta ser péssimo e nao consegue. E um filme sujo contra a sujeira; revoluciondrio contra o golpe; estratégico contra a traigao generalizada ¢ despreza os limites impostos pelo cinema de autor, superando a falta de coragem sensibilidade talento autenticamente cinematogratico (Rogério Sganzerla) yy Helena Ignez e Paulo Villaca Helena Ignez 4 Ca) COMET Nea eae OEE Ca ere) re Argumento: Egidio Eccio Cae TCI R Cae CSCO CTE Oe era Cues Core} TR RED Produtor associado: Antonio Pélo Galante UCC Ce LE Produgdo executiva: Wilson Monteiro CCU UTS ec Cenografia: Rogério Sganzerla e Andréa Tonacci CCS ALU RCC ear) Dc eae CUCU ice Scere NCR Ce a eos SUOMI aE SIUC Maral ELS CE ce Crees Geen ee DEC RCE RO Ec ee eC & Angela Carne e Osso, mulher de Doktor Plirtz, rompe com seu amante Flavio para sair com um playboy & vampiro a quem convida para passar o fim-de-semana na lIha dos Prazeres. Doktor Plirtz nao pode acompanhd-la, pois est atarefado com a finalizagao de sua historia em quadrinhos. Durante a via- gem, ela atrai e é atraida por indmeros homens com os quais vive extravagantes aventuras, até a chegada de Doktor Plirtz que inesperadamente impde um duro castigo. PREMIOS Melhor Montagem - IV Festival de Brasilia; Prémio Melhor Atriz - !V Festival de Brasilia Melhor Filme - | Festival do Norte do Cinema Brasileiro; Melhor Filme - Festival de Sao Carlos EE “Depois de ter visto alguns filmes sobre mulheres resolvi fazer um também para tentar provar que 0 género nao é necessariamente mediocre. 0 assunto nao importa muito, o que vale é 0 tratamen to. A novidade do filme é ser uma homenagem a chanchada ¢ aos primitivos pasteles americanos (Mack Senneth, Buster Keaton) que séo os géneros que mais influenciam hoje em dia. Quero me realizar mais como artesao do que como autor. Minhas preocupagdes so despreziveis diante dos problemas da realidade brasileira. Desprezo meu mundo em favor de uma estratégia coletiva” (Rogerio Sganzerla) BE 3 EULESS | SUPA TRS Docc) fd cE CTC De Ue OS CeCe SRC UCR Uae} CERT TCR ERI) CUE CO Assistente de direcéo: Ivan Cardoso Masica: Luiz Gonzaga STC Rcr mts COR Cea POR UM CINEMA SEM LIMITES @ Jorge Loredo faz o papel do Fantastico Aranha, 0 dltimo capitalista do Pais, que em uma reflexao E sobre o Brasil, se diz exilado no Paraguai enquanto freqienta boates e inferninhos em uma ambientagéo dos morras cariocas E Apresentado a convite do Festival de Taormina, Italia, em 1998. E “Filme de interrogagao e sem respostas culturais, SEM ESSA, ARANHA pretende refletir a realidade nacional através da formagao obscena do cinema em cinema nacional, da liberdade platénica so- hada pelo idedrio poético de guerreiros gregos em simplesmente terror-de-esquina, da mensagem em piada sordida, do golpe na gargalhada impessoal com a consciéncia do som, péssimos atores ruins exploracdes e cinema brasileiro. Durante hora e meia "Sem essa Aranha" nao faz mais do que perguntar: O que é 0 Brasil? 0 que é 0 brasileiro?” (Rogério Sganzerla) FORA DO BARALHO, (0 ANJO MIXOU FORA DO BARALHO) BRASIL, 1971, COR, 93 MIN, 16 MM. Diregao: Rogério Sganzerla Companhia produtora: Rogério Sganzerla Produgdes Cinematograficas Documentério rodado no Sara ¢ em varios paises africanos z= “0 filme busca uma definigdo auténtica do ser em busca da mente livre” ~ Rogério Sganzerla MUDANCA DE HENDRIX, BRASIL, 1971-1978, 16 MM Diregdo, produgao e roteiro: Rogério Sganzerla 3 Trechos de apresentagdes (Ilha Wight) do guitarrista norte-americano Jimmi Hendrix 2 *Algumas fontes definem Mudanga de Hendrix como sendo um curta-metragem. Uma ambiguidade ‘ustificada pelo habito de Rogério Sganzerla sempre remontar os seus filmes. es Ui COE nna nO eae) CeCe Rec eee co) ea ea CSCIC On meen arty LE eae oe CEU) Companhia produtora: Rogério Sganzerla oe Ce eee a PaaS aed POC Ce Ee CU Cun nan ts Pe Ue Ee RE) POR UM CINEMA SEM LIMITES & Sénia, prostituta que faz ponto na praia de Copacabana tem um grande sonho - ser cantora da Rédio Z Nacional. € irma de Vidimar, empregado apaixonado pelo patrao - 0 Dr. Grilo -e filha de Sénia, uma favelada que acha que seus filhos est&o possuidos pelo deménio. Sonia que vé espiritos baixarem em seres e objetos procura o pai de santo Jodozinho da Goméia. Para quebrar o feitigo que atua sobre sau irmao resolve matar o Dr. Grilo. Ao chegar lé é possuida pelo doutor, mas consegue quebrar o feitigo. Vidimar, agora livre, fica em panico com tudo que aconteceu EE uma mistura alucinada de todos os éxtases! Como novidade, a cera na mao sistematica em ‘stranglascope’, uma variagao do sistema ‘totalscope’ (na verdade, uma lente “fundo de garrafa")” (Rogério Sganzerla) PERIGO NEGRO PERIGO (5° EPISODIO DO LONGA-METRAGEM, NEGRO “OSWALDIANAS”), BRASIL, 1992, COR, ane 108 27 MIN, 35 MM Hoy? gett Sie Diregao e roteiro: Rogerio Sganzerla Bet cana ame Produgao executiva: Bayard Tonelli Fotografia: Nélio Ferreira Montagem: Sylvio Renoldi Misica: Paulo Moura Elenco tes, Wa. SoMa Abrahaa Farc, Ana Maria Magalhaes, Anténio Abujamra, Betina Viany, Conceigao Senna, Guard Rodrigues, Helena Ignez, Sandro Solviatti, Paulo César Pereio, Jorge Salomao, Luis Sérgio Lima e Silva, Rudi, Marcos Bonisson, Guerra Peixe, Luis Carlos Ninhos ¢ Paloma Rocha QHistoria tirada do romance Marco Zero, de Oswald de Andrade. A ascensao e queda de um jogador de & 2 tutebol contada em tom tragicémico, mostrando 0 conflito entre cartola e craque que até hoje define a cara do futebol brasileiro. A cena final mostra a Jules Rimet sendo derretida, lembrando que 0 Brasil € 0 pais que trocou a Copa do Mundo pela “cépia" do mundo. Inteiramente gravado no Clube do Flamengo. pv OCLC aOR Oecd Montagem: Amauri Alves e Elyseu Visconti SURE aT aR ery OULU ea CL aa rey Helena Ignez, Jorge Mautner, Maria Regina, Chico Marcondes, Anténio Bivar e Jorge da Cunha Lima. Hy ze POR UM CINEMA SEM LIMITE Parcialmente rodado em Nova York, trata-se de uma re usa0 neurdtica diante do totalitarismo. Monumental aprendi a necessidade de tudo dizer de uma sé vez a cada instante buscando a verda de através dessa estrutura de constelagao insistente de tudo dizer a todo instante nao importa como de qualquer maneira qualquer material que tivesse as minhas pobres maos milionaria contribuigao de todos os erros livre na maior. Descobrira um método. Pré-colombiano sem divida. E sem querer. £ facil; muito facil tudo dizer ao mesmo tempo nao importa como e com o qué. Assim aprendera a colar planos fortes com planos fortes — isto € crescer ou aumentar ou verticalizar um filme para ver 0 que saia de bom e de ruim, operacao “feed back" reversao exclusivamente a partir (da discussao do que seja) ruim ajuntar nas (mais) fracas com cenas frat s. [sto na concepgao do diretor de vanguarda querendo fazer o que nao se pode fazer ou seja fazer um filme voluntariamente péssimo e livre ou menos equacionar essas questdes, tal me parece a funcao necessariamente insinuante do ser (Rogério Sganzerla Jorge Mautner @ aie CL OIC Om meee aces a Ro ence Gere nO eo Pe Oe ea ey On Ome TD Grey, Jorge Loredo, Rogério Sganzerla, Edson UR aCe) Cee OR LL ONCE RCC EERO Ce} CNEL) ee Cia UCR ee none Som direto: Dudi Guper Cee CSE ee UT aa) COTE acrid OTC DSGn eee uy POR UM CINEMA SEM LIMITES 2 Depois de fotografar 0 assassinato de um jovem desportista alvejado por um tiro no alto da Pedra Bonita, no Rio de Janeiro, quando se lancava de asa delta, Jorge, um arquedlogo dedicado a Egiptologia esbarra com Madame Zero que o impede de continuar a perseguigao ao criminoso. 0 assassino entao entra em contato com seu cimplice, o Dr. Pierson, que contrata Madame Zero para eliminar Jorge. Seduzido por ela, Jorge a convida para uma viagem a uma ilha do Atlantico, onde pretende encontrar um raro emblema do Egito Antigo. £ entao que Dr. Pierson, fazendo um elogia a bogalidade convence Jorge a suicidar-se, até surgir 0 Médium de Mu que responde a tudo através de estranhas metatoras Ao som da guitarra de Jimmi Hendrix o dia amanhece B& “Terei uma mensagem a transmitir? Pois seja essa: em arte o Brasil em vez de andar, cacareja. Nao direi mais, a nao ser como um ideograma de Tim Maia, desapercebido pela burrice tupiniquim: "se o rei morreu, viva 0 rei (pois) € hora do bom nao chorar’ Filmando 0 Abismu vi o quanto é bem servido 0 atual momento em matéria de ignorancia e bocalidade - se a ignordncia grassa e a estupidez campeia, conclui necessdria tamanha bocalidade. Unica forma de queda bogal - personagem de nossos tempos - por ele proprio convocada. Alias, conto com sua classica estupidez de classe, prenincio de irremediavel....queda. Ser ou nao ser impio piedoso - impiedoso. No plano do passado, 0 Abismu mostra que o Brasil é 0 continente milionario com duas constantes: da natureza vulcdnica da nossa costa atlantica e da identidade de comunicacao e escrita entre oriente e ocidente. No plano do presente, que a bocalidade ¢ um dado politico. Um homem bogal é exatamente 0 homem normal. (...)Quanto ao toque do futuro, esse filme coloca, sob a invocagao do Jimi Hendrix, 0 novo homem, que 6 0 homem em estado lddico, em contato com a natureza, voltado para a sua propria mente” (Rogério Sganzerla) A MISS E 0 DINOSSAURO, BRASIL, 1970, COR, 130 MIN, SUPER-8 Diregdo: Julio Bressane, Helena Ignez e Rogério Sganzerla Elenco Roteiro e produgao: Julio Bressane e Rogério Sganzerla Helena Ignez, Maria Gladys, Suzana de Moraes, Produgao: Belair Filmes : Renata Sorrah, Luiz Gonzaga, Neville d’Almeida, Guard Rodrigues, Julio Bressane e Rogério Sganzerla z Making of sobre os filmes da Belair, produtora que criou com Jilio Bressane e Helena Ignez em 1970. © Sobre o titulo A Miss e o Dinossauro: “Seria de uma certa forma uma metafora de nds dois, eu e o Rogério. Era 1970, estavamos no comego de um namoro e o Bressane participou de tudo isso” (Helena Ignez) Ee" PIC OU Ce eee Tay ee) Fotografia: José Medeiros. Carlos Alberto Ebert, Edson Santos, ein UCL Ee TS Sonografia: Roberto de Carvalho een Tana cn UT CELT Ree um cd OCU Me aco LCUre eeae Ae ud DS Gr eeu ony DE aCe) Can RTM ec) CUO RE am eT} TCU ER Tec) eRe OCC POR UM CINEMA SEM LIMITE Mistura de documentario ¢ ficcdo sobre a visita que o cineasta norte-americano, Orson Welles fez a0 Brasil em 1942 para rodar o filme “It's All True”. Boicotado pelo DIP — Departamento de Imprensa e Propaganda do governo de Getilio Vargas depois da morte de Jacaré, jangadeiro que participava das filmagens, Welles é demitido pela nova direcao da RKO Radio Pictures e volta aos EUA sem terminar Sinopse 0 projeto KE Pramio Abraci no Fest-Rio (1985), Prémio de melhor montagem, Melhor Filme — Festival de Caxambu 1986, prémio de melhor misica incidental e methor montagem — Festival de Gramado, 1987, Repre sentou o Brasil nos festivais de Berlim, Meinhein, Viena (Vienale), Melbourne, Chicago International Film Festival (1986) e Seattle International Film Festival (1987). Convidado pela Cinemateca de Munchen - Baviera - Alemanha, na Welles Conference, sobre a carreira cinematografica de Orson Welles (2000), apresentado na TV BBC de Londres (1986) € na RAI e exibido no Brazil On Screen 2001) Guggenhein 0 filme pode ser definido como um poderoso experimento dirigido ao indeterminado. 0 assunto é 0 Cinema maior. A faceta, até entao obscura e inexplorada, da desventura brasileira de um dos monstros sagrados do nosso tempo - sua relacao com Grande Otelo e a afirmagao da cortina do passado, sob a invocagdo do maior ritmo do mundo: o samba (Rogério Sganzerla) Rogério Sganzerla e Beatrice Welles Ua eS Ae) Drea aT Se De CRI Montagem: Syivio Renoldi, Mair Tavares e Hugo rr Masica: Jodo Gilberto e Rogério Sganzerla COE ce Distribuigao: Riofilme Carmem Miranda, Grande Otelo e Orson Welles PEC) DR eA CR MCR EC) OCTET Cy Grande Otelo, Carmem Miranda, Dalva de OTTO CNC LN? Rs 3 3 Semi- documentario que traz a tona a historia secreta do filme POR UM CINEMA SEM LIMITES It's All True”, dirigido e rodado no 2 Brasil p or Orson Welles em 1942. Retrata 0 cotidiano dos negras, o subiirbio carioca, os jangadeiros ‘Ge Fortaleza e revela o encanto que o cineasta adquiriu ao conhecer a cultura e a criatividade do povo brasileiro. & PREMIOS - Prémio de Montagem, pesquisa histérica e Prémio da Critica - Festival de Brasilia, 1998 Prémio de Montagem B Tupan genialmente apresenta Tudo é Brasil" Not only the result but the road to it also is a part of the truth (Marx, citado por Eisenstein) Tudo 0 que se passa na tela aconteceu de verdade Welles veio para criar assim grita 0 seu cidadao Kane qual o significado de seu filme? OK? Vocés me perguntam algo que s6 0 Apocalipse pode responder deve ser horrivel a alguém como Hamlet ou Kane ser a Gnica medida de todas as coisas Ora bolas, vocé se diz inteligente, mas nao com preende o que quer dizer Rosebud. Mas e to sim ples. Entao o que é, seu sabe tudo? Ea mae. Associagao Paulista de Criticos de Arte (APCA) e 998. Convidado pela Cinemateca de Munchen - carreira cinematogréfica de Orson Welles (2000) Baviera - Alemanha, na Marche du Film - Cannes. elles Conference, sobre a 0 que? ~ E isso mesmo, a mae.. por acaso esta surdo? Repete se for homem -Ea mae Cantou um bofetao que atingiv 0 queixo do interlocutor. Sem compreender a brutalidade da agressao palido, repete jurado, enquanto outros, a turma do deixa disso, pede para brigar |4 fora, achando tudo engragado - Pois é a mae mesmo, a do cidadao Kane e ago: aa sua, est ouvindo? 0s dois embolam £ uma interpretagao justa a seu modo Nao va agora se aproveitar da deixa para ofen. der a mae de quem nao goste a troco de Rosebud Eu lavo as minhas maos - Mas farei tudo para cumprir a minha missao Isso tudo jé foi longe demais (Rogério Sganzerla) Decay cue ee ae ees eT CO ua Rye Cy CCRC UR eee Trilha sonora: Sinai Sganzetla Cm UCM OTE Cee eee ea ee Cabus, Gilson Moura, Felipe Murray, Vera Som direto: Eron Alencar e Mauricio (assistente) Magalhdes, Anita Terrana, Ruth Mezek, Camila Be OR eae CUE CeCe CAG) Pitanga, Giovana Gold e Ojin Sganzerla Mixagem: Luiz Adelmo e Pedro Sérgio CU Ce TRE} CEs Cn SCORE Tues ie Ne Co eu acc) Figurino: Sérgio Reis PSS Ce aa Letreiros: Antonio Peticov SU SDE OS a ee Te Dee POR UM CINEMA SEM LIMITES ‘a desembarca na alfandega do Rio de Janeiro, onde Dr. Amnésio controla e Uma carga cinematografi julga a entrada e a saida do material para o servigo de censura. No local se cumprem as formalida des da lei a partir do bordao de Dr. Amnésio: "Amo 0 que os outros detestam e odeio o que os outros = a apreciam. Nao vejo necessidade de um filme assim". Ouve-se um grito de um casal brasileiro. Na verdade uma dupla de papagaios resmungées imita os didlogos telegraficos dos carregadores que sio impde seu jejum de idéias durante discutem 0 trabalho e sua busca por propinas, Dr. An desastrosa projecao para tunciondrios ineptos que mais tarde, durante diversao, mutilam o material cinematografico considerado realista demais. Na segunda parte do filme, em cores, uma bailarina mulata cognominada de o furacao de Santos apresenta o seu nimero musical inspirado em samba cachaga e futebol. Numa festa, os convivas fesceninos e vorazes comemoram a vitéria do esqueci- m ao som da trilha de “Aquarela do Brasil", de Ary Barroso. mento e dan KE PREMIOS - Prémio Especial Festival do Rio 2003 para Rogério Sganzerla Prémio Melhor Diregao - Festival de Brasilia 2003 Prémio Melhor Montagem - Festival de Brasilia 2003. anos como um exercicio, para mostrar que é possivel fazer cinema uma fabula. Mostra a atuagdo de uma quadrilha de uatr E ‘Filmei as seqiiéncias ha g de qualidade no Brasil e gastar pouco. 0 filme é carregadores de malas no Rio de Janeiro dos anos 40, mas nao é um filme de época Rogério Sganzerla) Guara, Marcos Bonisson e Rogério Sganzerla Diregao: Jairo Ferreira Depoimentos Assistente de diregdo e roteiro: Rogério Sganzerla Rogério Sganzerla, José Mojica Marins, Jilic Bressane e lv Fotografia: Nélio Ferreira e Marcos Bonisson Montagem: Rogério Sganzerla Camera: Luiz Abrahmo e Roger Madruga Documentério feito em Super-8 com Jairo Ferreira gravado durante o Festival de Brasilia do Cinema 3,028 & Brasileiro e que conta com a participagao de diversos cineastas depondo a favor de José Moj do Caixao ISTO E NOEL, BRASIL, 1990, COR, 43 MIN, 35MM Direcao € roteiro: Rogério Sganzerla Elenco Fotografia: Dib Lutti Montagem: Sylvio Renold Hoso Braga’s Wraty Me Mpiays Misi sto e Gal Elenco: Joao Braga cy de Moral Produtora: Tupa Filmes, City Filmes e SM Produgoes & Uma colagem musical sobre o tempo e a eterna arte do cantor e compositor Noel Rosa = Apresentado no 80° aniversario do compositor de Vila Isabel e na Galerie Nationale du Jeu de Paune, Paris, 1993. 8 VUNIAG POR UM CINEMA SEM LIMITES DOCUMENTARIO, BRASIL, 1966, P&B, 11 MIN, 16 MM Diregdo, roteiro e montagem: Rogério Sganzerla Elenco ti Te ater aay nba Topas! Vitor Lotufo e Marcelo Magalhaes & As conversas e andancas de dois jovens que resolvem ir ao cinema, mas que devido aos seus critérios s a - & extremamente rigidos acabam nao vendo nenhum filme. E Prémio de melhor documentario - viagem a Cannes. EE. "Foi todo filmado entre amigos. ‘As duas pessoas que aparecem no filme, o Vitor Lotufo e o Marcelo so primos. Nos éramos colegas de banco de escola. Estavamos fazendo trés filmes naquele momen- to, "Olho por olho", que é meu, "Documentario", do Rogério (Sganzerla) e "0 Pedestre", do Othoniel. Eu fotografei os trés eo Rogério montou os trés. Filmavamos com uma Bolex 16, com corda Depois, no filme do Othonie! descolamos um motorzinho. Pra mim era tudo uma grande descoberta® (Andréa Tonacci) COMICS (HQ), BRASIL, 1969, COR, 7 MIN, 35 MM Diregao: Rogério Sganzerla e Alvaro de Moya Montagem: Rogério Sganzerla Narragdo: Orpheu Paraventi Gregori Texto: Alvaro de Moya Table Top: Vera Cruz e Jota Filmes Documentario que utiliza a técnica do quadro a quadro para contar a evolugao das historias em qua- drinhos no mundo. 3 2 Premiado em Manaus, apresentado no Salao de Lucca, Italia “Certa vez, Rogério Sganzerla me procurou para fazer um curta sobre quadrinhos. Tinha obtido um crédito para um “table top” e 14 fomos nds para a Jota Filmes. Eu levava pilhas de livros importados, revistas, albuns, selecionando momentos importantes da histéria dos quadrinhos. Ele decidiu dividir 0 material em dois curtas: Comics e Quadrinhos no Brasil. Escolheu a trilha sonora em colagens criativas e originais, como era tipico de seu estilo inovador. Veio, entao, a melhor fase da Vera Cruz. Sempre que entrava nos miticos estadios de Sao Bernardo, uma planta exalava um perfume semelhante ao curry. AS conversas eram sobre alguém que devia muito aos quadrinhos, como nds dois: Orson Welles” (Alvaro de Moya) PY POR UM CINEMA SEM LIMITES QUADRINHOS " BRASIL, BRASIL, 1969, COR, 7 MIN, 35 MM Diregao: Rogério Sg: Je Moya Montagem: Rogéri jn a Narragao: Orpheu Paraventi Gregor xto: Alvaro de Moya Table Top: Vera Cruz ¢ Jota Filme: Documentério que utiliza a técnica do quadro a quadro para contar a evolugdo das histérias em © quadrinhos do Brasil & Premiado em Manaus sentado no Salao de Lucca, Italia BE “Discutiamos a presenga do género no Brasil, na década de 40. Eu, pessimista, dizia: se nem Orson Welles conseguiu fazer um filme no Brasil, quem somos nés? Naqueles tempos era obrigatoria a exibigao de um curta nacional acompanhando todo filme estrangeiro, € 0 nosso ficou atrelado a Teorema (1968), de Pasolini. Todo mundo viu nosso curta, que foi premiado em Manaus. Em Lucca, no Salao de Comics, n Sebastian (Es ei uma copia e pedi a embaixada brasileira que mandasse 0 filme para o Festival de anha). Chegou um dia depois do encerramento. 0 diretor do evento lamentou, larando que teria ganhado um prémio. Toda vez que cruzava com o Rogério me prometia uma priu e eu continuo sem rever o fi pia, agora em DVD. Nao Juntamente com José Mojica Marins e Ozualdo Candeias, Ri cal, idiossincratico e criativo rio Sganzerla completa o trio mais rad do nosso cinema. Se ele nao tivesse sido cremado, eu iria depoistar no seu timulo uma flor com perfume de curry, colhida nos campos da Cia. Cinematografica Vera Cruz ‘Alvaro de Moya! TUM KLOMETRO. AEM A CALE BERRA eseoutie A a ESOUEDOA MOSTRA ROGERIO SGANZERLA VIAGEM E DESCRICAO DO RIO GUANABARA POR OCASIAO DA FRANCA ANTARTICA, BRASIL, 1976, P&B/COR, 17 MIN, 35 MM Diregao: Rogério Sganzerla Elenco Paulo Villaga Baseado na obra de Jean de Léry, sobre ocupagao do Rio de Janeiro por piratas franceses durante a coloniza E cio. Paulo Villaca faz o papel de Villegagnon EE Prémio Secretaria e Cultura do Rio de Janeiro UMBANDA NO BRASIL, BRASIL, 1977, P&B, 28 MIN, 35 MM Diregdo: Rogério Sganzerla 2 Documentério baseado no livro “Umbanda no Brasil” do estudioso Mata e Silva que ao longo da E narrativa é entrevistado por Rogério Sganzerla WELLES NO RIO, BRASIL, 1977 Diregdo: Rogério Sganzerla NOEL POR NOEL, BRASIL, 1981, COR, 10 MIN, 35 MM Diregao: Rogério Sganzerla Narragdo: Grande Otelo E Prémios de Piblico e Melhor Montagem no Festival de Brasilia, 1981 HP “Noel Rosa como Villa-Lobos compés especialmente para a tela de nosso primitivo cinema falado, sob direcdo de Humberto Mauro, respectivamente CIDADE MULHER e DESCOBRIMENTO DO BRASIL. E @ bem dizer, Noel comegou no cinema falado, grande culpado da transformagao (nao tem traducao), pois posou pela primeira vez diante de uma crénica sincronizada a um disco de 1929, jé sonorizada quando 0 precursor e laboratorista Paulo Benedetti registrou quatro némeros do bando de Tangaras vestidos de sertanejos em seu estidio 4 Rua Tavares Bastos, 117, Catete...” 2 POR UM CINEMA SEM LIMITES BRASIL, BRASIL, 1981, COR, 20 MIN, 35 MM Diregao: Rogério Sganzerla Documentario realizado nos estidios, durante a gravacao do disco de Joao Gilberto, Brasil, com a participagao de Caetano Veloso e Gilberto Gil EE PREMIO - Melhor montagem no Festival de Brasilia de 1982 E“Decompus ideograficamente em termos de montagem de acordo com a melodia ¢ letra da composi- a0 “Aquarela do Brasil”, personalidades apresentadas cine-jornal brasileiro de 40: Getulio Vargas, Ary Barroso, Dorival Caymmi, Grande Otelo, Vinicius de Moraes, Orson Welles, Richard Wilson, Eros Volusia, os “jangadeiros” (da travessia Fortaleza-Rio) Jacaré (José Olimpio Meira), Jerdnimo e Tata desfilam rapidamente neste curta-metragem comemorativo de meio-século de vida nacional repre sentados numa situagao limite (0 que 6 0 Brasil? 0 que sao os brasileiros?). 0 Brasil, dizia Oswald de Andrade em 1924, vive em estado de sitio desde a idade trevorosa das capitanias (Rogério Sganzerla) IRANI, BRASIL, 1983, COR Diregao: Rogério Sganzerla Participagao Esperidiao Amim Sinopse Documentario feito por encomenda pela Prefeitura Municipal de Irani, no oeste de Santa Catarina EO PETROLEO NASCEU NA BAHIA, BRASIL, 1984 Diregao e roteiro: Rogério Sganzerla Sinopse Institucional feito para 0 Governo da Bahia, MOSTRA ROGERIO SGANZERLA ALINGUAGEM DE ORSON WELLES, BRASIL, 1990, P&B/COR, 15 MIN, 35 MM Diregdo, argumento e selecéo musical Depoimentos Rogério Sganzerla John Huston, Grande Otelo e Edmar Morel Fotogratia: José Mauro Montagem e edigdo: Severiano Dada Assistente de montagem: Carlos Cox Mixagem: Roberto Leite Misica adicional: Joao Gilberto Narragao: Grande Otelo Diretor de produgao: Sérgio Franga & Ensaio histérico sobre a vinda de Orson Welles ao Rio em 1942, conjugado a uma descrigao suméria do carnaval carioca e do acidente de jangada na Barra da Tijuca onde pereceu o jangadeiro Jacaré em 19 de maio de 1942. E categoria especial ~ Festival de Locarno 1993, Convidado pela Cinemateca de Munchen — Baviera ~ Alemanha, na Welles Conference, sobre a car- reira cinematogréfica de Orson Welles (2000) BPA evocagdo esforgo-conjunto de guerra é feita com 0 uso sistematico da voz em off do programa radiofnico de Welles (0 Sombra). 0 didlogo cruzado e o comentario fora de cena sugerem as intencoes agressivas de envenenamento das tropas regulares ameagadas pela possivel sabotagem direta ov indireta dos encarregados da defesa da costa atlantica, alvo de ataques submarinos durante a participagao brasileira na Segunda Guerra O filme inclui répido depoimento do jornalista Edmar Morel, colaborador do episédio “jangadeiros”, e 0 testemunho de John Huston, amigo e roteirista de Orson Welles, de quem menciona a qualidade do cardter majestoso e a viséo antropolégica de suas imagens em movimento permanente” (Rogério Sganzerla) SB Vivtyv POR UM CINEMA SEM LIMITES ANONIMO E INCOMUM, BRASIL, 1990 Roteiro: Rogério Sgenzerla Produgao: RioArte Co-produgao: Rogério Sganzerla Sinopse Trajetéria do artista plastico Antonio Manuel. A ALMA DO POVO VISTA PELO ARTISTA, BRASIL, 1990 Roteiro © produgdo: Rogério Sganzerla Sinopse Documentério sobre 0 gravurista Newton Cavalcanti. INFORMACAO KOELLREUTER, BRASIL, 2003, 15 MIN Diregdo Rogério Sganzerla Camera: Marcos Bonisson Produgao: Rio Arte Sinopse Aula ministrada pelo grande maestro introdutor do dodecafonismo no Brasil Bibliogratia RAMOS, FERNAO e MIRANDA, LUIZ FELIPE, Enciclopédia do Cinema Brasileiro, Editora SENAC, Sao Paulo, 2000 SILVA NETO, ANTONIO LEAO DA, Dicionétio de Filmes Brasileiros, Futuro Mundo Grafica e Editora, So Paulo, 2002 LABAKI, AMIR, 0 Cinema Brasileiro, Publifolha, Sao Paulo, 1998 Outras fontes: Cinemateca Brasileira, Helena Ignez, Jilio Bressane, Sinai Sganzerla,Ojin Sganzerla, Ernani Helner (Cinemateca do MAM), Joel Pizzini, Alvaro de Moya e Roberto Ronchazel Agradecimentos Especiais: Antinio Polo Galante, Andréa Tonacci, Sinai Sganzerla, Djin Sganzerla, Helena lgnez Roberto Ronchezel, Joel Pizzini, Paloma Rocha e Cinemateca Brasileira SERVICO SOCIAL DO COMERCIO Administragao Regional do Estado de Sao Paulo Presidente do Conselho Regional: Abram Szajman Diretor do Departamento Regional: Danilo Santos de Miranda ‘Superintendente Técnico Social: Joe! Naimayer Padula Gerente de Acao Cultural: ivan Giannini Gerente Adjunto: Rosana Paulo da Cunha Assistente: Vinicius Demarchi Silva Terra Gerente do CineSese: Luiz Alberto Santana Zakir MOSTRA ROGERIO SGANZERLA Programagao: Simone Yunes e Francisco Galvao / Setor Administrativo: Solange dos Santo Alves Nascimento ¢ equipe Catalogo: Centro de Artes Graficas. Projeto Grafico: Eron Silva / Equipe de Arte: Cristina Tobias, Marilu Donadelli, Cristina Miras, Lourdes Teixeira, Sérgio Afonso, Euripedis Silva / Auxiliares: Kelly dos Santos, Roberta Alves e Daniel Silva Assessoria de Imprensa: Ana Ma ria Cerqueira Leite Fotos do Catalogo: Arquivo pessoal de Roberto Ronchezel e Helena Ignez. Av Paulista, 119 CEP 01311-903 Tel 31703400 / CineSese Rua Augusta, 2075 CEP 01413-000 Tel 30820213 e-mail@cinesesc.sescsp.org.br S0 Paulo Brasil AGOSTO 2004 at Ce Paat EM 1999 e rd —

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