por Eduardo Souza, disponvel em https://animusmundus.wordpress.com/2015/01/31/ate-o-m-da-queda-de-ivan-mizanzuk/
O demnio tem muitas faces. Ivan Mizanzuk tambm.
At o m da queda no uma leitura convencional; no poderia ser, vindo de um bacharel em Design, mestre em cincias da religio, doutorado de tecnologia com nfase em Design a caminho. Voc jogado no universo do escritor Daniel Farias, que conversa sobre o lanamento de seu ltimo livro, que levou muitos jovens ao suicdio. Mas no s nesse universo. A narrativa de Ivan multifacetada, multivocal; constituda por recortes e uxos de dilogos, cartas, documentos, ilustraes, notcias, comentrios de sites. Essa, parece, uma caracterstica de sua viso de mundo e do nosso sculo: necessrio ateno para juntar as partes difusas de uma realidade catica. As vrias linguagens e meios de nos envolver na narrativa , para mim, o ponto forte desse romance; o autor-designer tratou com muito cuidado o projeto grco do livro, tambm uma ferramenta de storytelling. Toda essa contemporaneidade no exclui os dilemas humanos, interpretados pela lente do misticismo (na melhor acepo da palavra) que atravessa eras, por personagens quese no so poderiam existir em vrias pocas da histria. Ele parece entender bem o mindset de cada um sem cair em clichs. Por exemplo, ao falar da Idade Mdia: quem vivia naquela poca, possua crenas religiosas que fundavam a realidade; aquilo era real, por mais ingnuo que parea quando olhamos a distncia de sculos. O que est nas entrelinhas o tempo inteiro o autor. Talvez por ouvir a alguns anos o seu podcast e lhe conhecercomo dizer que conheo algum que apenas ouo?, acho possvel entrever-lhe nos falando em todas as vozes, com o vu de todos os personagens. Isso faz do livro, em alguns trechos, bem didtico, que seria uma crtica plausvelinclusive uma que ele prprio faz a lmes. Ainda assim, nada claro, nada bvio. Ele nos d o que gosta de ter: o leitor tem um papel fundamental no que o livro. O inefvel est sempre rondando a narrativa, sempre nos tornando mais humanos, sempre nos levando, de novo e de novo, queda.