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APLICABILIDADES SEMIÓTICAS

A PARTIR DAS PRODUÇÕES DOS


ALUNOS EM DESIGN
Regiane Caminni Pereira da Silva1

RESUMO
O presente artigo compartilha reflexões metodológicas da disciplina de
Semiótica nos cursos de Design. A disciplina tem como objetivo orientar o
aluno para a importância de reconhecer e operacionalizar aplicabilidades
de conceitos teóricos para lidar com suas práticas profissionais por meio de
suas produções, nos Projetos Integrados. Como procedimento, os alunos são
convidados a refletir conceitos explanados pela professora; a articularem as
teorias às suas próprias produções, dos semestres anteriores e do atual e a
compartilharem com os colegas suas articulações, de modo a promoverem
um plenário de discussões e trocas. O curso se desenvolve por meio de cinco
abordagens teóricas: definição de uma semiótica geral, Escola Francesa e
três correntes elementares – Semiótica Peirceana, Semiótica Discursiva e
Semiótica da Cultura. Teorias fazem sentido quando ajustadas às necessidades
da realidade dos alunos e das problemáticas profissionais. A Semiótica
colabora com o Design para pensar e solucionar problemas da área relativos
aos processos e produções de criações.
PALAVRAS-CHAVE: Semiótica. Design. Projetos integrados. Conceitos.
Teorias. metodologias.

ABSTRACT
This article shares methodological reflections of Semiotic of discipline in
Design courses. The discipline aims to guide students to the importance of
recognizing and operationalize applicability of theoretical concepts to deal
with their professional practice through their productions, in Integrated
Projects. As a procedure, students are invited to reflect concepts explained

1  Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Atua profissional e academicamente, nas artes visuais,
cênicas e no design. Professora do Centro Universitário FIAM-FAAM, nos cursos de Design e Fotografia, da
Escola de Artes, Design e Moda. E-mail: regiane.silva@fmu.br
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by the teacher; to articulate the theories of their own productions, from


previous semesters and current and to share with colleagues your joints, so as
to promote a plenary discussions and exchanges. The course develops through
five theoretical approaches: definition of a general semiotic, French school
and three elementary streams – Peirce’s Semiotic, Discourse Semiotic and
Semiotic of Culture. Theories make sense when adjusted to the reality of the
students needs and professional issues. The Semiotic collaborates with the
Design to think and solve problems in the area related to the processes and
creations productions.
KEYWORDS: Semiotic. Design. Integrated projects. Concepts. Theories.
Methodologies.

RESUMEN
Este artículo comparte reflexiones metodológicas de la disciplina de Semiótica
en cursos de Diseño. El disciplina tiene como objetivo guiar a los estudiantes
a la importancia de reconocer y poner en funcionamiento la aplicabilidad de
los conceptos teóricos para hacer frente a su práctica profesional a través
de sus producciones, en los proyectos integrados. Como procedimiento, los
estudiantes están invitados a reflejar conceptos explicados por el profesor;
a articular las teorías de sus propias producciones, de semestres anteriores
y actuales y a compartir con los colegas las articulaciones, con el fin de
promover un debate plenario y los intercambios. El curso se desarrolla a
través de cinco enfoques teóricos: definición de una semiótica general, la
escuela francesa y tres flujos elementales - la Semiótica de Peirce, Semiótica
del Discurso y Semiótica de la Cultura. Las teorías tienen sentido cuando se
ajusta a la realidad de las necesidades de los estudiantes y las cuestiones
profesionales. La Semiótica colabora con el Diseño para pensar y resolver
problemas en el área relacionada con los procesos y creaciones producciones.
PALABRAS CLAVE: Semiótica. Diseño. Proyectos integrados. Conceptos.
Teorías. Metodologías.

INTRODUÇÃO
As disciplinas teóricas se fazem necessárias na formação dos alunos. É
importante desvencilhar-se dos clichês de que a teoria amarra e poda o
livre-arbítrio, nas produções de formação profissional. Etimologicamente,
significa vista, do verbo grego theorein: ver, olhar, contemplar, mirar. Ela não
deve ser encaixada a um objeto ou ao problema que este possa trazer, mas

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articulada, de modo que sirva para discutir, resolver, explanar, entre outras
funções, questões, estratégias, recursos, conceitos que envolvam o objeto
de trabalho. Conhecer teorias colabora, significativamente, na atuação para
com as práticas de vida. Conferem poder, ao indivíduo, para que seja capaz
de fundamentar ideias e saiba posicionar-se em prol de um determinado
projeto. Para tal, elas precisam fazer sentido aos alunos, serem parte de seus
ambientes de experimentações.

O presente artigo compartilha a metodologia da disciplina de semiótica,


nos cursos de Design, do Centro Universitário FIAM FAAM. Foram trabalhos
desenvolvidos com as turmas de 2013 a 2016, elaborados a partir dos Projetos
Integrados realizados pelos alunos, gerenciados por um professor dirigente e
em parceria com os demais professores do semestre, por meio da contribuição
de suas disciplinas. A semiótica atua como metodologia para pensar e
solucionar problemas relativos ao design, assim como para contextualizar,
criar e construir projetos em sua concepção de ideias. Uma metodologia
que não oferece somente estratégias para elaboração, mas conceitos que
permitem reflexões, questionamentos, posicionamentos, soluções e defesas
para os projetos.

Como procedimento da disciplina, primeiro é preciso conhecer conceitos e


metodologias específicas das correntes semióticas. E, consequentemente,
aplicá-los, de forma a relacionar e a refletir com os processos e produções
dos alunos. Vale ressaltar que não se trata de mera aplicação. Mas de ação
criativa a partir de conhecimentos construídos e adquiridos, que promovem
a capacidade de saber articular com argumentação. Por isso, o uso da
palavra aplicabilidade conduz a metodologia deste trabalho, ao invés de
aplicação. Gramaticalmente, o sufixo nominal “dade” significa conjunto e
indica qualidade, propriedade ou estado empregado para formar substantivos
e adjetivos. Tal sufixo diz respeito àquilo que é de característica de, que
é de estrutura de, de qualidade de, de propriedade do que é aplicável.
Operacionalmente, para atuação do designer, o elemento gramatical
traz a liberdade de pensar, de criar, de solucionar a partir de conceitos e
metodologias semióticas que podem ser aplicáveis a determinados projetos
de design, a depender dos ajustes operacionais e criativos dos alunos. Um
conhecimento que o coloca sujeito de suas atuações e produções.

A disciplina se encontra vigente em dois segmentos dos cursos de design.


No curso tecnólogo em Design Gráfico, ela acontece no terceiro semestre. E
no bacharelado, nas modalidades de Design Gráfico e de Produto, faz parte
da matriz curricular do quarto semestre. É necessária certa maturidade

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intelectual, por parte dos alunos, para poder ser capaz de discutir e fazer uso
da contribuição que a semiótica pode proporcionar. O que justifica a disciplina
estar próxima ao término do curso no tecnólogo, com durabilidade de dois
anos, e no quarto semestre, no bacharelado, no fim do primeiro ciclo antes da
decisão da modalidade a ser escolhida.

Na altura destes semestres, além de uma maturidade já desenvolvida,


os alunos têm condições de processar um pensamento abstrato para
compreender que conceitos são criados, de modo a explicar fenômenos e
resolver questões. Portanto necessários às práticas da cultura. O fato de
terem cursado, na graduação, disciplinas como antropologia cultural, cultura
brasileira, desafios contemporâneos, entre outras, facilita, oportunamente,
a sua relação com a semiótica em função do design. Assim como a vivência
em disciplinas específicas do fazer do design, que colaboram com produções
desenvolvidas pelos próprios alunos para as discussões semióticas. Ou
seja, neste momento, eles têm informações, experiências e habilidades
elementares da área para desenvolverem um pensamento argumentado e
fundamentado.

Projetos Integrados, dos semestres anteriores e do atual, participam da


metodologia de trabalho. Isso porque os já realizados oferecem o exercício
da análise semiótica em uma experiência vivida e solucionada, possibilitando
parâmetros e referenciais para serem discutidos. E o vigente, no semestre,
que se encontra em andamento, a possibilitar o uso da teoria para discutir,
contextualizar, solucionar, argumentar, fundamentar o projeto no seu processo
de criação.

Destacam-se, nos estudos semióticos, os projetos de sinalização e identidade


visual de bairros, parques e outros locais; criação de revista impressa a
partir de redesign e embalagens de produtos, desenvolvidos nos semestres
anteriores. Nos semestres vigentes à disciplina, em questão, são abordados o
Projeto de Transmídia, no tecnólogo, envolvendo temas ambientais e o Projeto
de Design Sustentável, no bacharelado, que propõe e constrói objetos a partir
de tal temática.

Deste modo, a disciplina objetiva que o aluno conclua o semestre com


avanços no uso de sua intelectualidade e que esta possa servir ao seu fazer
profissional. As produções próprias dos alunos são salutares para o exercício,
em semiótica, pois se encontram no campo da experiência vivida, o que
os levam a sentir-se seguros para pensarem, argumentarem, discutirem e
defenderem ideias, assim como proporem soluções a desafios em sua área.

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A experiência vivida faz fazer sentido. Articulada ao conhecimento, ela


desenvolve a competência do saber-fazer, em que este fazer pode ser um
saber-atuar, saber-negociar, saber-criar, saber-propor, saber-solucionar, um
saber a ser sujeito, na sua área de atuação.

METODOLOGIA DA DISCIPLINA
O curso propõe um procedimento dinâmico entre o conhecer, o questionar e
o articular. É fundamental que os alunos se sintam envolvidos e participantes
na produção de conhecimentos. Conhecer teorias semióticas em seus aspectos
fenomenológicos, discursivos e estéticos, que envolvam conceitos de signo, e
capacitar o aluno para a compreensão, análise e reflexões das teorias, para
o desenvolvimento e produções de imagens, para o universo do design, são
objetivos fundamentais a serem atingidos ao longo do semestre.

Para o desenvolvimento da disciplina, a estrutura de aulas se constitui,


basicamente, em:

• Aulas de apresentação dos conteúdos com interlocução dos alunos,


convidando-os a relacionarem os aspectos teóricos com as suas práticas de
vida. Geralmente, acontecem nos horários do primeiro período;
• Articulação dos conteúdos com o Projeto Integrado por meio de um
roteiro de questões. Pode ser realizada, no segundo tempo, ou ainda tem
a dedicação de todo o período, se houver necessidade. O professor dá
atendimentos e assessórias particulares a cada grupo;
• Um dia exclusivo em que as reflexões de cada grupo são apresentadas
e compartilhadas com a turma. O professor esclarece dúvidas e
aplicabilidades. E os alunos avaliam e dão sugestões aos trabalhos dos
colegas. É a etapa que valida a importância metodológica da disciplina,
fazendo sentido a sua existência, na área do design.

Como já dito, duas produções de Projeto Integrado participam do


investimento para a formação intelectual. Inicialmente, começa-se pela
produção do semestre anterior e, paulatinamente, avança e concentra-se no
processo e produção do semestre atual, conforme os alunos vão adquirindo
mais segurança e maturidade para com as articulações. O curso aborda
três correntes semióticas elementares para que o aluno possa reconhecer e
fazer uso da(s) que melhor atenda(m) à(s) sua(s) necessidade(s) em relação
à problemática de seus projetos. Ou mesmo o que cada uma delas possa

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colaborar em partes específicas destes.

O trabalho em grupo é essencial para a aprendizagem de todos, há ajudas


mútuas entre membros, em que um ensina o outro, facilitado por uma cultura
comum por meio de linguagens próprias do universo deles. Inicialmente, o
professor é um provocador para fazer pensar, a buscar soluções, a argumentar
as ideias e, consequentemente, defendê-las. No decorrer do processo
gerencia participações, questionamentos, posturas, soluções dos alunos.
Contudo, o mais importante é fazer com que os alunos tenham participação
ativa e coautoria no seu processo de aprendizagem.

O caráter e a movimentação, de parceria do grupo, colaboram na tessitura


do aprendizado da equipe, respeitando individualidades. Isto é, o tempo
que cada um leva para apreender. Compreender um conceito exige tempo,
tem que maturar para que ele, realmente, possa ser aplicável. Alguns grupos
processam a compreensão rapidamente, outros em médio prazo e ainda
outros em longo prazo. Para isso, três etapas, no semestre, possibilitam tal
trajetória. A primeira apresentação, para as articulações, acontece em uma
espécie de mesa redonda, em que cada grupo, confortavelmente, sentado,
compartilha relações entre a semiótica peirceana e a produção de um
Projeto Integrado realizado em semestre anterior. Isto favorece aos alunos
um ambiente descontraído, cujo objetivo é que alunos e professor sejam
uma equipe de estudos e não um grupo, em uma relação viciosa, de cumprir
tarefas escolares. O comprometimento com a construção de conhecimentos
ganha outro sabor e, sobremaneira, direciona o corpo discente em aprender
com prazer e serventia para com a vida.

Na segunda etapa, em relação à semiótica discursiva, elabora-se a articulação


por meio de slides projetados para a turma. Participam, desta fase, o Projeto
Integrado de um semestre anterior e do semestre vigente. Constitui-se em
uma primeira experimentação que procura sistematizar o conhecimento
à aplicabilidade com os objetos de estudo. Permanecem as observações,
sugestões e avaliações dos colegas em relação a cada grupo. É exigida,
ao término, desta, um comprometimento, para a próxima etapa, de uma
elaboração de slides condizente à profissionalidade de um designer.

Assim, na terceira etapa, na articulação com a semiótica da cultura, os slides


devem apresentar clareza, de forma que possam ser lidos e entendidos sem
a apresentação de um condutor. A sistematização entre teoria e produção
de design, nesta altura, tem condições de ser trabalhada e discutida com
maturidade e, portanto, as produções de mensagens podem ser tratadas

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pontualmente. Nesta fase, geralmente, foca-se no Projeto Integrado do


semestre, passando pelas três correntes semióticas abordadas no curso.
Quanto às semióticas peirceana e discursiva em caráter revisório, e o
exercício em si, na referida etapa, concentra-se na articulação com a
semiótica da cultura. É claro, neste momento, a evolução dos alunos frente
ao uso da teoria para discutirem, proporem e solucionarem as problemáticas
do design. Assim como, a consciência do contínuo desafio para com o
conhecimento e as tendências da cultura.

Todavia, para que a empreitada tenha êxito, é necessário que os alunos se


preparem previamente, realizando leituras de materiais de apoios, enviados
pelo professor, e de textos acadêmicos relativos aos conteúdos abordados
em cada aula. O cronograma do plano de ensino também participa desta
dinâmica, no dia a dia da disciplina, pois funciona como uma espécie de
ferramenta que localiza e reforça conteúdos abordados, dando mais segurança
aos alunos em seus processos de aprendizagens.

Os conteúdos da disciplina desenvolvem-se em cinco plataformas de


estudos sucessivas que permitem a compreensão e a aplicabilidade da
semiótica e suas diferentes abordagens. A primeira esclarece, situa e trata
a origem, a história e o conceito geral de semiótica e sua relação direta
com a comunicação. Etimologicamente, a palavra semiótica remete ao
grego semeîon que significa signo, sinal ou sêma (Nöth, 2008, p. 19). Em
linhas gerais, estuda e investiga o que as coisas significam e o que poderão
significar, caso envolvam processos de criação. A palavra coisa é permitida
até que um nome – um signo – é dado para representá-la. Signo é o conceito
mais conhecido na semiótica, mas nem todas as abordagens o adotam. Uma
das definições mais explícitas é a de Charles Sanders Peirce (Cf. D’Oliveira,
1980, p. 96 & 130) em que afirma que um signo significa ou representa
algo para alguém. A definição aponta o poder da relatividade, no campo da
significação, em que o contexto ou a mente interpretante (Cf. Santaella,
2000, p. 61-87) é quem determinará o significado da “coisa”, dependendo
da abordagem metodológica de interpretação. O fato é que o homem é
um ser simbólico por natureza e o meio ambiente, seja social, biológico,
atmosférico ou geológico, comunica-se por meio de sinais representativos.
Sendo assim, pode-se afirmar que o objeto de estudo, desta área do
conhecimento, é a produção de linguagem, independente da corrente.

O ancestral mais antigo da semiótica encontra-se na história da medicina


como primeiro estudo diagnóstico dos signos da doença (Nöth, 2008, p.23).
O médico grego Galeno de Pérgamo (139-199) fazia referência à diagnóstica

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como a parte semiótica da medicina. No século XVII, a literatura médica usou


também o termo semiologia, adotado, posteriormente, pela linguística. Nesta
época, a semiótica médica estendeu-se para três ramos de investigação: a
anamnéstica – estudo da história médica do paciente; a diagnóstica – estudo
dos sintomas atuais da doença e a prognóstica – predições e projeções do
desenvolvimento de futuras doenças. Estas informações já demonstram
aos alunos a importância da semiótica como metodologia de investigação e
trabalho para os seus processos no design.

A outra origem remota está na filosofia greco-romana como doutrina dos


signos que os trata em verbais e não-verbais (Ibid.; p. 29). Platão (427-
347), Aristóteles (384-322) e Aurélio Agostinho (354-430) são algumas das
referências principais. O modelo platônico de signo já propunha uma estrutura
triádica de signo: o nome, a noção ou ideia e a coisa. Coseriu, segundo
Winfried Nöth, considerava Agostinho “o maior semioticista da Antiguidade e
o verdadeiro fundador da semiótica” (Ibid.; 33). Com a filosofia, ressalta-se
para os alunos a semiótica voltada para as questões da existência. O homem
precisa de representações para relacionar-se com o outro e com o meio, de
modo que suas sensações e percepções possam comunicar. Condição esta
fundamental para que as produções de design comuniquem e façam sentido
para o usuário em sua existência.

A segunda plataforma da disciplina faz referência à Escola Francesa, voltada


para a linguística, nos movimentos que se sucederam no início do século XX.
A articulação, em proveito com o design, relaciona-se por meio da ideia de
contexto com a definição diádica de signo: significante e significado, em que,
para uma explicação mais comum entre as vertentes da Escola, apoia-se nas
ideias de Roland Barthes (2007) e no eixo da semiótica discursiva, um dos
desdobramentos desta. Ambos comungam das ideias do plano do conteúdo
para o significado e do plano da expressão para o significante. Estes elementos
da abordagem colaboram, significativamente, para a construção do item
conceito, nos projetos de design. Saber determinar conteúdos, que traduzam
as intenções e metas de um projeto, ajuda a criar e a estabelecer o conceito
deste para que possa ser explorado no plano da expressão, o qual é de
domínio da linguagem do design.

A semiótica peirceana é introduzida na terceira plataforma do curso como


a corrente que abre possibilidades de diferentes abordagens. De cunho
mais filosófico, o aproveitamento desta concentra-se em explorar sensível e
racionalmente a percepção, tanto para os processos de criação do designer
como para os processos de recepção e interatividade do usuário para

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com o objeto e/ou a produção de design. Para tal são estudados, como
recursos metodológicos, os conteúdos: categorias universais – primeiridade,
secundidade e terceiridade; definição triádica do signo – objeto, signo e
interpretante e a tricotomia signo em relação ao objeto – ícone, índice e
símbolo (Cf. Santaella, 2002).

Como quarta plataforma de estudos, temos a semiótica discursiva ou


greimasiana, cujo foco, para com as articulações dos alunos, centra-se no
discurso das produções de design. É fundamental saber compreender, explorar
e construir discursos. O êxito de um projeto de design é garantido por uma
boa elaboração do discurso no quesito conceito. Como ferramenta, para este
propósito, utiliza-se o Percurso Gerativo de Sentido de Algirdas Julien Greimas
(Cf. Fiorin, 2009), no qual o objetivo é compreender o sentido do discurso.

No design, a preocupação é com a análise e a construção dos textos visuais.


Percorrer os três níveis consecutivamente ou por navegabilidade, de
acordo com a necessidade do estudo, facilita os trabalhos do designer, nas
construções de significados e de como isto pode atingir na participação e no
envolvimento do público. Geralmente, parte-se do nível III – o nível discursivo
– considerado o mais superficial, em termos de impacto, pois o que se
percebe, em um primeiro momento, é a ideia, o tema que um discurso passa.

Para um designer, o desafio consiste em como traduzir um tema ou temas em


figuras, ou seja, figurativizá-los. Como isso, o percurso vai direto para o nível I –
o nível profundo ou semântico – em que elementos semânticos são selecionados
e elaborados em uma sintaxe, que, muitas vezes, articula relações de
opositividades, de modo a sustentar a temática determinada no nível discursivo.

E o nível II – o nível narrativo – estabelece as relações entre sujeito e objeto.


Neste patamar são tratadas as ações do sujeito para com o objeto de design.
Cabe ao designer, como sujeito-destinador, possibilitar, por meio do objeto ou
projeto, condições para a modalização do usuário, isto é, transformar ações e
conhecimentos deste em competências para com o uso da produção de design.
Para sucesso do projeto, o usuário precisa tornar-se um sujeito-destinatário.

Por fim, conclui-se o curso, na quinta plataforma, com a semiótica da cultura,


do eixo Tártu-Moscou. Esta última exige mais maturidade intelectual para
poder articular ideias e discuti-las com as práticas culturais. É uma semiótica
de contextualização e processos relacionais, em diálogos interdisciplinares
e possíveis apontamentos transdisciplinares. A abordagem metodológica
desenvolve-se por meio de conceitos funcionais e operacionais que ajudam

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a compreender, esclarecer ou solucionar problemas de áreas específicas ou


fenômenos culturais.

Advinda de uma época efervescente entre áreas afins ou dialógicas – décadas


de 1950-60 –, estabeleceu um raciocínio, por analogia, para as discussões
culturais, principalmente, com a cibernética. O conceito de texto da cultura
(Lotman & Uspenskii, 1981, p. 37-65) alavancou todo o desenvolvimento desta
semiótica. O seu expoente máximo, Iuri Lotman, explorou-o de tal forma, de
modo a chegar à sua teoria sobre semiosfera (Cf. Lotman, 1996, 1998 & 2000)
– a cultura como o mundo dos signos –, a partir do conhecimento do conceito
de signo por Peirce.

Os objetos e as produções de design são analisados, contextualizados e


argumentados por meio dos conceitos: códigos culturais, texto da cultura
e suas funções, linguagem como sistema de comunicação, recodificação,
sistemas modelizantes e modelização. Este último é um dos conceitos mais
operacionalizantes e encadeador de produções inusitadas na cultura. O termo
foi forjado da cibernética e informática, que significa processamento.

Sendo assim, com esta metodologia, para a atuação da disciplina de


semiótica, os alunos têm a oportunidade de conhecerem e aprenderem por
meio do fazer e do fazer sentido. Eles se exercitam em diferentes frentes
durante o semestre, o que os tornam competentes e articulados intelectual e
profissionalmente, e com consciência cultural em suas ações de ser designer.

PRODUÇÕES DOS ALUNOS: ANÁLISE E DISCUSSÕES DOS


RESULTADOS
Independente de toda a estruturação da disciplina, o que a faz acontecer
é, inquestionavelmente, a participação dos alunos. Cada turma tem a
sua característica, o seu jeito de ser aluno e de portar-se como turma.
Afinações constantes são realizadas a cada semestre e com cada professor. O
importante é ter consciência desta condição para avançar sempre, fazendo
ajustes adequados.

Nos terceiros semestres do tecnólogo de Design Gráfico e quartos do


bacharelado de Design Gráfico e de Produto, os alunos trazem a experiência
dos semestres anteriores, em especial, do fazer design. Mas o mesmo não
acontece com o conhecimento sobre humanidades e a sua aplicação nas

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práticas de vida, isto é, há carência de uma trajetória construída. Apesar de


a graduação fomentar algumas áreas do saber, na matriz curricular, falta um
considerável treino teórico e redacional para que possam discutir, analisar
e propor, com criticidade, novas soluções para o design, no que cabem às
contextualizações e articulações discursivas e culturais que envolvem as
produções. No geral, não há desenvoltura no discurso oral dos alunos. Falta-
lhes a prática de argumentação para poderem e saberem explicar ideias e
posturas. Apresentam dificuldades, na escrita, ao elaborarem e desenvolverem
textos verbais. Lacunas estas que, por vezes, vêm da educação básica como
também dos modos de vida.

E, aí, está o desafio não só do professor, mas também dos alunos. O professor
tem que fazer um exercício de sensibilidade e percepção. Os alunos
compartilham deste treino e, além disto, muitos se colocam com humildade
para o aprender e para o fazer. A humildade é ferramenta primordial entre
professor e alunos. Tratada no sentido etimológico, de húmus, de terra fértil,
pronta ou que quer outros plantios, em uma condição da terra que precisa ser
mexida e adubada. É assim que o aluno recebe o desafio com a disciplina. É
assim que o professor se disponibiliza para o aluno.

E, nesse contexto, o professor se coloca como um provocador. Ao mesmo


tempo em que comanda orientações de leituras e uso de materiais de apoio
em aula, incentiva constante e desafiadoramente a participação dos alunos.
São convidados a relacionarem conceitos com o seu dia a dia e também a
refleti-los, tanto no decorrer da explanação como no exercício direto com
os seus Projetos Integrados. Articular teorias às suas próprias produções é de
suma importância, pois a experiência vivida faz sentido ao aprendizado, ao
uso pessoal e na profissão.

O exercício com a disciplina de semiótica chacoalha os alunos para


pensarem principalmente, como também a posicionarem-se e defenderem
seus projetos e ideias com argumentação fundamentada. Além de estimular
para a melhora do uso teórico para com as práticas de vida e para com os
seus textos redacionais. Quando eles processam, de fato, os conhecimentos
apreendidos e experimentados, na disciplina, professores responsáveis pelos
Projetos Integrados retornam positivamente ao professor de semiótica.
O conceito do projeto e soluções dos logotipos têm consistência, sentido
e fundamentação, assim como as defesas nas bancas examinatórias. Há
também depoimentos de alunos, de semestres posteriores, que fazem uso
conceitual e metodológico dos conteúdos da disciplina de semiótica para o
desenvolvimento de seus projetos atuais.

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Agora, em caráter de ilustração, compartilham-se algumas experiências dos


alunos a seguir. São experimentações em que se pode notar uma preocupação
em articular teoria e prática para uma melhor solução no design. O exemplo
abaixo aborda uma articulação dos signos icônicos e simbólicos, da semiótica
peirceana, na relação signo com o objeto sobre o processo de criação da
embalagem. Ou seja, a relação direta que o objeto – alimento bolacha – pode
representar para o consumidor e, desta forma, levá-lo a adquirir e saborear
o alimento. A primeira intenção do grupo foi sobre o poder sugestivo da
embalagem do produto, no seu aspecto icônico, que pode ser consumido
tanto por meninos como por meninas. A marca da embalagem é posta para
que se torne um símbolo – convenção, lei ou uma espécie de identificação
imediata para o consumidor. O objetivo do grupo era que a embalagem
se caracterizasse como um signo simbólico-icônico, de acordo com o uso
na cultura. Isto porque, simbólico para que se torne uso de “lei” – uma
convenção, uma marca popularmente reconhecida. E icônico, pois alguns
componentes de apresentação e funcionamento lembram a cultura nipônica,
para o universo ocidental.

Reforça-se, os desenhos abaixo são das reflexões para o processo de criação


e não da embalagem resultada. A análise foi realizada no 4º semestre do
bacharelado e o Projeto Integrado diz respeito à disciplina Linguagens e
Tecnologias, com os professores Rogério Murback e Lina Ka, do 2º semestre,
no ano de 2012. Participaram deste grupo as alunas: Aline Christine Diegues
Betti, Caroline Kaori Nakamoto, Mayara Zanoni, Tatiane Toma de Souza
Porusselli e Tauane Bezerra da Silva.

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Figura 1 – Projeto Integrado: embalagens de alimentos, 2013-2.

Cabe, aqui, não julgar ou avaliar o modo de uso da teoria pelos alunos,
mas sim valorizar as atitudes destes em propor relações de suas produções
de design com as teorias semióticas. É solicitado que compreendam e
reconheçam a importância colaborativa dos conceitos, em primeira instância,
e aí façam articulações que acharem convenientes. Erros, acertos, mal
entendidos ou boas proposições são discutidos, oralmente, em aula.

Outro exemplo pontual, sobre signo simbólico, foi o das alunas Ana Luísa
Román, Estela Tiemi Gushi e Jéssica Pivanti. De mesma turma e proposta –
Ock Chocolates:

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Figura 2 – Projeto Integrado: embalagens de alimentos, 2013-2.

O grupo referente à figura 1 também soube explorar o objeto de estudo por


meio do Percurso Gerativo de Sentido, de Algirdad J. Greimas. Para êxito
de um projeto, é importante que o discurso do produto seja claro. A teoria
da semiótica discursiva colabora consideravelmente, pois oferece uma
metodologia que leva a pensar desde a temática discursiva a soluções de
figurativização desta – trabalho de domínio do design. Os dois quadros a seguir
esquematizam tais características, em que a preocupação do grupo era criar
uma embalagem para biscoitos que não os esfarelassem. Na criação foi usada
a referência de embalagem japonesa que preza tal cuidado.

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Aplicabilidades semióticas a partir das produções dos alunos em design 35

Figura 3 - Projeto Integrado: embalagens de alimentos, 2013-2.

Figura 4 – Projeto Integrado: embalagens de alimentos, 2013-2.

O grupo também apresentou clareza no uso do Nível II do Percurso Gerativo


de Sentido. É o nível que envolve a relação entre sujeito e objeto. Para que

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o usuário ou consumidor se torne sujeito, no uso da produção de design, ele


precisa desenvolver determinadas modalidades e competências. E é aí que as
soluções visuais criadas pelo designer podem levá-lo às ações. Isto é, que o
discurso visual opere persuasivamente.

Figura 5 – Projeto Integrado: embalagens de alimentos, 2013-2.

O Projeto de Transmídia, orientado pelo professor Fábio Goulart, desenvolvido


em 2015, no 3º semestre da matriz curricular do tecnólogo em Design Gráfico,
aponta a um sensível apelo discursivo. A rede social convida o público a
participar da busca por desaparecidos por meio da ONG Desaparecidos Brasil.
A mídia é organizada de forma a sensibilizar o internauta a desenvolver
competências para poder e saber participar. O projeto foi desenvolvido pelos
alunos Douglas Carvalho, Guilherme Giorgiani, Leonardo Altruda, Mariana
Souza e Renan Livino.

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Aplicabilidades semióticas a partir das produções dos alunos em design 37

Figura 6 – Projeto Integrado: Transmídia – causas sociais, 2015-1.

A semiótica da cultura, além de contextualizar as produções de design, oferece


conceitos operacionais que facilitam a compreensão das propostas para um
projeto, como ajudam a processar diferentes linguagens em prol da criação.
Podem-se notar, a seguir, dois exemplos de Projeto de Transmídia, em que o
conceito de modelização organiza a estrutura da criação de mídias específicas.

Figura 7 – Projeto Integrado: Transmídia – Wise Waste – Consciência Ambiental, 2016-1.


Grupo: Alessandra Gimenez, Aline Diniz, José Ricardo, Juliana Gaviorno, Letícia Santos,
Maíra Xavier, Mariana Foz, Nívia Mendes e Rafael Marques.

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Figura 8 – Projeto Integrado: Transmídia – Angel Ambiental – Consciência Ambiental,


2016-1. Grupo: Bruna Rodrigues, Luiz Henrique Santos, Raissa Alves, Renato Medeiros,
Rodrigo Raposo, Verônica Di Pierro e Victor Assis.

A transcrição dos textos do slide:

A websérie foi estruturada de forma dinâmica e versátil. Trabalha com


linguagens visuais, sonoras e textuais. Sua aplicabilidade varia desde
entretenimento até disseminação de conteúdos.
Podemos identificar a modelização na composição de cada episódio da
série. Encontramos linguagem verbal clara e instrutiva, apresentada
por um especialista carismático. Temos o auxílio gráfico, da linguagem
visual, na parte verbal e ilustrativa. E o apoio da linguagem da música
que denota o ritmo, clima e identidade da campanha, alcançando,
assim, uma melhor assimilação de conteúdos.

Cada grupo aplicou e abordou o conceito semiótico de acordo com suas


necessidades e intenções para com o público. Como dito, anteriormente,
modelização é um termo forjado da cibernética e da informática que
significa processamento. Ela é:

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Aplicabilidades semióticas a partir das produções dos alunos em design 39
Um processo que envolve um encadeamento de linguagens, pelas quais
passam um determinado objeto. O resultado de tal mecanismo resulta
numa produção, em que esse objeto é traduzido para um novo contexto
que não o seu original. Neste processo pode ser recriado e reinventado
por processos de recodificação. Ele passa a ter, portanto, uma estrutura
de linguagem específica por meio de outras linguagens que participam
de tal processo (Caminni, 2007, p. 40).

Este conceito operacional estrutura os processos de criação. Ele envolve a


criatividade, como necessidade de base da cultura, como aponta Edgar Morin
(2007 p. 52): “a criatividade é reconhecida por Chomsky como um fenômeno
antropológico de base”. Linguagens, códigos, discursos, textos diversos são
resgatados ou tomados para outras criações. Não se trata de meros recortes e
colagens, mas sim de processamentos para novas produções ou invenções que
urgem para atualizações na cultura. Por isso, estruturas de linguagens são (re)
processadas, de modo a adequarem-se, funcionalmente, ao que é preciso, nas
ambiências culturais.

Outra contribuição da semiótica da cultura está na articulação dos conceitos de


códigos culturais e textos da cultura que contextualizam o objeto, agregando
informações e conhecimentos ao usuário. Estes conceitos estão em função da
e para a cultura do público alvo. O 4° semestre, do bacharelado em design,
desenvolveu um brinquedo de madeira com proposta de sustentabilidade. O
exemplo que segue pontua os códigos culturais explorados para um barco pirata:

Figura 9 – Projeto Integrado: Design Sustentável – Brinquedo de Madeira, 2016-2.


Grupo: Fernando Hiroshi Honda, Francielly Yamamoto, Ingrid Rissato e Lucas Martins.
Professores responsáveis: Bruno Ávila e Ermanno La Chioma.

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Barcos, piratas, caveira, velas e moedas foram tomados, pelo grupo de


alunos, como códigos culturais que asseguram, funcionalmente, o mundo
fantasioso dos mares e piratas. Estes cinco códigos também foram explorados
como textos da cultura, já que, em um universo maior, pressupõem um
caráter codificado (Cf. Lotman, 1996, p. 78). Eles remetem a toda uma rede
de elementos de informações que configuram, histórica e culturalmente, as
ideias de barco, de piratas, caveira, velas e moedas. A exploração destes
elementos, em duas frentes conceituais, mostra o poder relacional desta
semiótica, a depender da abordagem tratada.

Assim, a disciplina disponibiliza o usufruto do pensar semiótico para solucionar


problemas do design que aparecem nos processos de criação, principalmente
para determinar e conceituar ideias dos Projetos Integrados. Ou no uso da
semiótica como procedimento ou investigação metodológica, que oferece
soluções figurativas às ideologias dos projetos – recurso conceitual muito usado
pelos alunos para solucionar logotipos. A semiótica peirceana, na relação
do signo com o objeto – ícone, índice ou símbolo é referência neste caso,
respectivamente, pelo poder de sugerir, indicar e de convenção. De outro lado,
a semiótica discursiva tem sido bem explorada como recurso metodológico para
resolver especificidades de criações no design, no que cabem ao nível semântico
como manancial de figurativização para o discurso da produção.

PONTOS CONCLUSIVOS
A disciplina de semiótica, em seu caráter funcional, apresenta quatro
características essenciais para com o objeto de estudo ou com a problemática
que o envolve: 1) a aplicabilidade conceitual que explica e discute fenômenos
comunicacionais; 2) a análise metodológica que permite realizar leituras para
compreensão dos significados e seus sentidos; 3) a mediação articulada entre
teoria e prática, nos processos de criação e 4) a indagação epistemológica que
ajuda a questionar, desenvolver e esclarecer o sentido das produções.

A vivência com a disciplina faz com que os alunos realizem leituras com senso
crítico, que atuem com voz ativa na aula, que aprimorem a clareza de sua
redação e fala, que relacionem, colaborativamente, teorias às práticas do
design e que definam a abordagem teórica ou teóricas que atendam às suas
problemáticas. Ter consciência do poder da voz é um ganho considerável
aos alunos, neste aprendizado. Com conhecimento, os seus discursos se
desenvolvem com fundamentação e são sustentados com argumentação

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articulada. A experiência permite que eles se tornem competentes para


poderem-perceber, saberem-reconhecer e saberem-adequar as melhores
teorias que atendam aos seus projetos.

Até o presente ano, o processo metodológico da disciplina encontra-se em


uma avaliação de resultado satisfatório, mas deve avançar. Isto porque é
dedicada uma grande parte do curso para estimular os alunos a lerem, a
participarem e a se posicionarem com argumentação fundamentada. Eles
não têm esta prática como costume, então, é preciso fazê-los a exercitarem.
Como comentado anteriormente, a bagagem que trazem de repertórios e
experiências, em suas formações, não atendem à maturidade exigida para
o segmento de uma graduação. Portanto, é necessário fazer um trabalho,
simultâneo aos propósitos da disciplina de semiótica, que provoque os
alunos a construírem conhecimentos com questionamentos e criticidade,
reconhecendo a sua importância para a vida.

Intelectualmente, alguns avançam em uma articulação mais direta e


conseguem fundamentar suas argumentações e mesmo problematizar
teoricamente questões da área com a semiótica. Como também se servem
das teorias como metodologia de trabalho. O fato, como aborda a semiótica
discursiva, é que o fazer dos alunos como sujeitos sofre qualificações modais
com o processo da disciplina. Conhecerem possibilidades e experimentações
de estudos ativa um quererem-fazer e um quererem-ser diferentes. Depois
da consciência de que pensar faz a diferença, não tem como escapar das
modalizações do fazer e do ser (Cf. Barros, 2010, p. 42-52).

Comprova-se, assim, com tal metodologia, a importância de trabalhar teorias a


partir das produções dos alunos. A disciplina acaba também funcionando como
espécie de assessoria para pensar e solucionar problemas do fazer profissional.
E para concluir, mas também provocando futuras discussões, o design pode ser
visto como um poderosíssimo sistema modelizante da cultura, de acordo com a
semiótica da cultura. Afinal, ao longo de sua história, ele se constituiu com uma
linguagem própria. Para Iuri Lotman, toda linguagem é um sistema modelizante
(1978, p. 44). O design o é, pois é uma linguagem, com suas especificidades,
capaz de gerar e criar infinitas produções por meio de processamentos que lhes
são característicos, em uma relação direta com a cultura.

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