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URBANISMO E PAISAGISMO:
UMA EXPERIÊNCIA SÍNCRONA E ASSÍNCRONA
¹ Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP). Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. Doutorado em Arquitetura e
Urbanismo. Docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo. ecunha@unaerp.br
² Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP). Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. Doutorado em Arquitetura e
Urbanismo. Docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo. rmelo@unaerp.br
RESUMO
A mudança das aulas presenciais para as aulas online (síncronas e assíncronas), no período da
Pandemia de Covid-19 no primeiro semestre letivo de 2020, trouxe desafios para vários cursos
e disciplinas. O presente artigo aborda os desafios da disciplina de Atelier III – Projeto
Integrado de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo, do terceiro período do Curso de Arquitetura
e Urbanismo da Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP). Em meio ao processo de
adaptação ao uso das ferramentas e ajustes metodológicos, foi-se identificando um ambiente
que favoreceu a organização e comunicação das atividades, mas também trouxe desafios como
a necessidade de identificar os melhores métodos para ajuste do ensino de projeto integrado e
o planejamento do acompanhamento das atividades, entregas e compartilhamento dos
resultados. Diante desta percepção, o objetivo do artigo é relatar a experiência vivenciada
durante os três meses de aulas remotas, com enfoque nas vantagens e desvantagens identificadas
neste processo. Como resultado, o artigo permite chegar às reflexões sobre as vantagens que se
apresentaram, principalmente no que se refere à facilidade de organização e interatividade e as
desvantagens em razão do não compartilhamento no desenvolvimento dos modelos físicos –
maquetes – de forma coletiva.
PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Arquitetura; Ateliê de Projeto; Aulas Síncronas e
Assíncronas.
1 INTRODUÇÃO
A disciplina de Atelier de Projeto Integrado de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo é
essencialmente uma disciplina de prática de Projeto que ocorre do primeiro ao oitavo período
do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP).
A experiência relatada neste artigo refere-se ao Atelier III, relativo ao terceiro período do
curso. A disciplina é ministrada por dois docentes que trabalham conjuntamente na sala de aula.
O conceito de Atelier está relacionado a um ambiente de aprendizagem interativo,
integrado e dinâmico.
Com o conceito de Ateliê Integrado não só pretende-se fazer a integração entre os
conteúdos programáticos, mas também buscar promover o aprendizado por meio da
produção e autoria do aluno no seu processo de adquirir informação e conhecimento,
de criar e produzir, através de desenhos, modelos e simulações para, por fim, refletir
sobre o produto criado. A ideia do Ateliê integrado vem contrapor a
compartimentação das disciplinas de acordo com os diferentes campos do saber. Em
uma mesma disciplina são trabalhados processos de ensino-aprendizagem que
promovem a integração entre os conteúdos abordados e entre os professores com suas
diversas formações e experiências. (UNAERP, 2016, p.28).
O espaço do Ateliê Integrado é amplo e composto por um layout com pranchetas, que
pode variar ao longo do semestre, de acordo com as dinâmicas de trabalho, exposições de
projetos, maquetes, mesas de conversa, ou trabalhos de desenvolvimento em sala, seja em grupo
ou individual.
No processo de entrada em quarentena, devido à Pandemia de Covid-19, o ambiente físico
de Ateliê foi de alguma forma, desconstruído, para dar lugar a uma reconstrução no ambiente
virtual, com o desafio de transferir este ambiente integrativo e colaborativo para o ambiente
remoto. Foram necessárias revisões no Plano de Ensino em relação a forma de apresentação,
entrega, desenvolvimento e cronograma para que o conteúdo pedagógico e a carga horária
programados fossem oferecidos sem acarretar em prejuízos para os alunos, de forma que as
aulas fluíssem com o mesmo dinamismo que as presenciais.
O ambiente remoto contemplou a transmissão de aulas em tempo real, com alunos e
docentes tendo interações nos mesmos horários e dias da semana em que as atividades ocorriam
no modelo de Ateliê presencial.
Algumas atividades tradicionalmente adotadas no desenvolvimento de projeto, como
visita presencial em campo para reconhecimento de lote, tiveram que ser substituídas por visitas
virtuais pelo Google Earth. A execução de maquetes não pôde ocorrer com o suporte da
maquetaria1 - tendo em vista as restrições/proibições dadas pelas portarias e decretos
governamentais.
2 OBJETIVOS
3 MATERIAIS E MÉTODOS
Pelo próprio contexto da disciplina, foram experimentados processos de desenvolvimento
e comunicação de projetos em grupo e individual através de entregas parciais de cadernos
1
Espaço para a execução dos modelos físicos – maquetes com o acompanhamento dos docentes.
digitais para acompanhamento do projeto. A partir destes conteúdos foram utilizados
especialmente os métodos de observação e respostas analíticas a partir dos produtos entregues.
a) Observação da resposta dos alunos ao longo das demandas da plataforma e das
interatividades.
b) Observação da qualidade dos trabalhos entregues
c) Entregas parciais constantes de processo de projeto, com correções criteriosas e
devolutivas individuais e compartilhadas.
d) Assessorias compartilhadas
e) Observação, registro dos acontecimentos e vivência do dia a dia do novo ambiente de
aula.
4 DESENVOLVIMENTO
2
Ver informações referentes ao pensamento de Donald Schön no trabalho elaborado por DAMASCO, Denise
Gisele de Britto. Resenha. O pensamento de Donald Schön: reflexões a partir da obra de Tardif, Borges e
Malo. Universidade de Brasília. Linhas Críticas, Brasília, DF, v.19, n.40, p. 689-694, set./dez.2013. Disponível
em: https://www.redalyc.org/pdf/1935/193529988012.pdf. Acesso em 01 de julho de 2020.
No processo de ensino de projeto, estas fases são acompanhadas pelo docente de maneira
a ajudar o aluno sintetizar o problema de projeto, construir o entendimento das condicionantes
do projeto que irão compor este problema a ser resolvido. Na análise, o professor irá refletir
com o aluno, através de assessorias individuais ou em grupo, os caminhos que este tem pensado
para o projeto, refletindo sobre questões que envolvem uso (função do espaço), forma
(composições formais e estéticas) e tecnologia (materialidade e sistemas construtivos), além
das questões conceituais que norteiam o projeto, que são as mais subjetivas. Na fase de
avaliação, será identificada, juntamente com o aluno, a viabilidade das ideias projetadas por
ele.
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Dificuldade de interação
gráfica direta sobre os
conteúdos compartilhados.
Adaptação de recursos:
desenhar em folha e mostrar
na câmera para os alunos.
INTERAÇÃO Síncrono (Google Síncrono: Redução considerável da
PROFESSOR/ Hangout Meet): Comunicação direta, de comunicação não-verbal
ALUNO Microfone, câmera e certa forma aproximada (linguagem corporal).
chat. pela conexão individual
Direta, pessoal, de cada aluno.
presencial, na sala de Assíncrono (Google Ausência de ruídos.
aula. Classroom):
Mensagens no Mural Assíncrono:
e mensagens nas Organização e
entregas de Facilidade de envio de
atividades. conteúdos e mensagens
para o aluno.
VISITA TÉCNICA Visita virtual: Agilidade e ganho de Falta da oportunidade de
Google Earth/Street tempo durante a aula. percepção direta/sensorial dos
View + Vídeo
Visita técnica gravado pelas alunos, na vivência da escala
presencial à área de docentes, no local do humana no local.
projeto. lote/terreno e
compartilhado com
alunos.
Fonte: Autoras, 2020.
As câmeras foram pouco utilizadas pelos alunos. No início, alguns alunos abriam suas
câmeras enquanto faziam perguntas. Ao longo do curso esta atitude foi reduzida, ficando o uso
da câmera restrito a algumas situações muito específicas durante assessorias e apresentações
parciais. O Chat foi bastante utilizado para respostas curtas, perguntas e manifestações gerais.
O fato da disciplina trabalhar com dois docentes, permitiu o colaborativismo e suporte
mútuo. Durante o compartilhamento dos conteúdos por um docente, o outro pôde acompanhar
o Chat, atento aos acontecimentos e demandas da sala.
À parte das adaptações e expectativas de uso da sala de aula remota, foram identificados
vários pontos positivos, como o favorecimento de acesso a arquivos e compartilhamento de
conteúdos complementares (pesquisados no website de buscas Google e/ou nos arquivos
pessoais de cada docente). Conforme os alunos apresentavam dúvidas, foram instantaneamente
acessados novos conteúdos para dar suporte complementar às explicações.
Esta agilidade de acesso favoreceu o aproveitamento do tempo, de troca de arquivos e
conteúdos variados, tornando mais dinâmicas e ilustradas as aulas e as assessorias. As
vantagens e desvantagens aferidas nas aulas Síncronas, podem ser observadas no Quadro 1.
5.1.2 Assessorias
As assessorias presenciais, em sala de aula, têm um caráter de proximidade e
interatividade pessoal entre docente e aluno onde muitas vezes os conteúdos e dúvidas de
projeto se resolvem no momento da conversa, depois de alguma reflexão. As assessorias são
restritas a um grupo ou individuais, e repetidas várias vezes ao longo da sala de aula, com cada
um destes grupos /alunos, o que torna a conversa com um caráter personalizado para cada
projeto.
Para atender desta mesma forma individualizada, cada um dos grupos, seria necessário
criar novas salas paralelas de atendimento. Considerou-se complexa esta opção e, desta forma,
a decisão metodológica mais viável para as docentes foi o método de assessorias coletivas, com
a participação de todos os alunos nas considerações dos projetos de cada grupo ou aluno.
No método proposto de assessorias coletivas, todo o material compartilhado pelos alunos
foi visto por toda a sala. Os processos e resultados de projeto foram compartilhados e os
comentários feitos com todos. Por um lado, houve certo incômodo por parte de alguns alunos
sentirem-se expostos (através de seus trabalhos), por outro, muitos relataram que os
comentários feitos para um determinado trabalho foram úteis para vários outros. Através de
erros e acertos identificados, houve comentários que em muitos momentos se tornaram
pequenas aulas, através do “caso” estudado, compartilhado pelo grupo ou pelo aluno.
Nesta situação de assessoria online para a sala toda, o “conversar desenhando” foi
substituído pela “fala potencializada”, mas também pelo “conversar usando referências” de
acertos e erros dos projetos compartilhados pelos próprios alunos.
Em muitos momentos foi necessário o uso de recursos simplificados, como desenhar em
uma folha de papel o que se estava sugerindo para o aluno e mostrar o desenho pela câmera.
No Quadro 2, pode-se observar as vantagens e desvantagens no ambiente Síncrono.
As apresentações dos trabalhos em grupo foram feitas com um ou mais membros do grupo
descrevendo os resultados de projeto.
No segundo bimestre, com os projetos individuais de residência, as apresentações ficaram
a critério dos alunos se predisporem a apresentar, já que o tempo disponível online não seria
suficiente para exigir que todos os alunos compartilhassem seus resultados. Poucos alunos
demonstraram interesse em compartilhar seus trabalhos, fato que poderá ser repensado em
atividades online futuras, para que esta desmotivação se torne algo positivo. As vantagens e
desvantagens observadas nas atividades Assíncronas podem ser observadas no quadro 3.
Possibilidade de
comunicação com o
aluno, individualmente
e coletivamente.
MAQUETES Imagens registradas Os alunos se Falta da possibilidade de
FÍSICAS de volumetrias físicas predisporem a fazer as interatividade e manipulação
desenvolvidas pelos maquetes e registrarem direta/física com as maquetes
Maquete física de alunos. as imagens das dos alunos, durante as
processo. maquetes de processo assessorias.
foi muito positivo.
Maquete física final. O verbal precisou substituir o
tátil.
Fonte: Autoras, 2020.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os ambientes, Síncrono e Assíncrono, trouxeram experiências e conhecimentos que
acrescentaram muito no que se refere às experiências didáticas e pedagógicas. Foi um momento
de aprendizagem das duas partes (docentes e alunos), onde pode-se perceber a necessidade de
auxílios mútuos, ainda que os treinamentos tivessem sido bastante claros e explicativos. Na
prática, desafios e imprevistos apareceram e foram resolvidos em conjunto.
Em termos comportamentais o maior desafio foi lidar com a falta de interação visual com
os alunos. O complemento essencial da comunicação, que é a “comunicação não verbal”, que
se estabelece em um ambiente presencial, foi perdido no ambiente online. Ao final do semestre
ainda permaneceu a sensação de estranhamento com esta lacuna de comunicação.
Ainda pelo fato das câmeras da maioria dos alunos permanecerem fechadas, na situação
Síncrona, também não foi possível mensurar o quanto as aulas estavam de fato sendo
acompanhadas pelos alunos ou por quanto tempo permaneceram diante da aula. Em situação
presencial, percebe-se a presença física dos alunos na sala de aula, as atividades que estejam
desenvolvendo, a movimentação de entrada e saída, além das participações no contexto. No
modo assíncrono esta percepção não ocorreu.
O processo de isolamento parece ter desestimulado a produção das maquetes físicas,
ainda que uma boa parte dos alunos tenham feito seus modelos, com o material disponível em
casa, o que foi bastante positivo. Didaticamente, o processo de pensamento projetual através da
manipulação das maquetes, certamente é melhor trabalhado presencialmente.
Houve melhoria na qualidade dos trabalhos entregues ao longo do processo. Não pode-se
dizer que esta melhoria se deu exatamente por estar-se no ambiente remoto em si, mas por todo
um conjunto de movimento feito para melhoria. A estrutura da plataforma colaborou sim,
principalmente no que se refere à organização, mas entende-se que o grande mérito da melhoria
dos projetos se deu especialmente pela necessidade em estruturar melhor os conteúdos e pelo
esforço do aprimoramento da comunicação e acréscimo destes conteúdos; pelas explicações e
reflexões instigadas, pela qualidade das correções criteriosas e, naturalmente, pelo esforço dos
alunos, que se propuseram a abraçar a nova causa, trabalharam em casa e apresentaram
resultados esperados.
Ficou claro, neste processo, que, para que a interatividade funcionasse, seria necessário
não serem feitas comparações ou adaptações estritas aos modelos presenciais, mas sim criar
novas maneiras de interatividade, como feito, por exemplo, com a adaptação das assessorias.
Do modelo das assessorias fechadas em grupos ou individuais, passou-se para o modelo de
“assessorias compartilhadas”, reflexões coletivas.
Considera-se que os métodos adotados pelas docentes tenham funcionado, diante da
qualidade dos conteúdos entregues e avaliados.
Diante destas considerações, apesar dos incômodos e restrições apresentadas ao longo do
processo, conclui-se que a experiência Síncrona e Assíncrona foi muito positiva, tanto no
âmbito do uso da plataforma, como nos resultados dos projetos entregues, porém entende-se
que estes resultados obtidos atendem ao momento de quarentena provocado pela pandemia do
COVID-19, sendo nítido que, em épocas de aulas presenciais, as aulas ministradas nos espaços
físicos da Instituição são o formato ideal para o ensino de projeto arquitetônico.
7 REFERÊNCIAS
DAMASCO, Denise Gisele de Britto. Resenha. O pensamento de Donald Schön: reflexões
a partir da obra de Tardif, Borges e Malo. Universidade de Brasília. Linhas Críticas, Brasília,
DF, v.19, n.40, p. 689-694, set./dez.2013. Disponível em:
https://www.redalyc.org/pdf/1935/193529988012.pdf. Acesso em 01 de julho de 2020.
LAWSON, Bryan. Como arquitetos e designers pensam. São Paulo: Oficina de Textos, 2011.
MAHFUZ, Edson da Cunha. Reflexões sobre a construção da forma pertinente. 045.02. ano
04, fevereiro de 2004. Disponível em:
https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.045/606. Acesso em 01 de julho de
2020.