O PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO: CURRÍCULO

E OS NOVOS DESAFIOS EM 2022:

USOS HÍBRIDOS NO ENSINO, PESQUISA, FORMAÇÃO E INSERÇÃO

1. HISTÓRICO E JUSTIFICATIVA

O CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO\CONSELHO PLENO (CNE) abriu consulta pública

em 16/11/21 com o objetivo de colher contribuições para a elaboração de uma Resolução destinada a instituir
Diretrizes Gerais Nacionais para a Aprendizagem Híbrida, no contexto de expectativa de retorno às
atividades escolares presenciais no pós-pandemia da Covid-19.

No documento de referência, o CNE assim definiu:

Art. 2º. A aprendizagem híbrida caracteriza-se como metodologia pedagógica flexível, ativa e
inovadora que orienta a atividade docente, estimula a autonomia, o protagonismo, a interação entre
estudantes e entre estes e docentes, integrando atividades presenciais e não presenciais, com
alternância em diferentes tempos e espaços, que podem ser parcialmente controlados pelos
estudantes.

Em seguida, o CNE advertiu que essa aprendizagem híbrida “Não se confunde com Educação a
distância” (Art 2º, § 2º).

Na sua análise de mérito o mesmo documento destaca, ainda, que:

todo híbrido configura-se de várias maneiras, mas seu DNA não é o vídeo ou outro conteúdo,
analógico ou digital. Seu DNA são as premissas das pedagogias ativas, uma inovação que se deve
aos pedagogos de visão ampla de longo prazo que só mais de um século depois encontrou, nas
tecnologias, o suporte ideal para desenvolver todo o seu potencial. (Grifo nosso. A citação não teve
fonte referida pelo CNE).

Observa-se, tanto no item 1. Introdução do referido Relatório do CNE, quanto na literatura e nos usos
cotidianos, que o conceito de “híbrido” tem se mostrado ele próprio notavelmente híbrido, sujeito a usos
semânticos variados e não raro ambíguos e conflitivos. Espera-se que o conceito venha a ser apurado pelo
próprio CNE e pela comunidade de pesquisadores, especialmente dos educadores, e venha alcançar um
significado isento de ambiguidades.

Para fins práticos do presente documento, consideramos que haja duas grandes acepções desse
conceito, empregadas em dois grandes campos: (1) o das funcionalidades sistêmicas e organizacionais das
instituições escolares; e (2) o propriamente pedagógico. O CNE parece fortemente focado na segunda
acepção.

Este Programa abriga uma Linha de Pesquisa – Novas Tecnologias em Educação – que já conta com
relevantes acúmulos práticos e teóricos sobre o tema do “híbrido”, no campo do Currículo. Considera-se, de
partida, que as práticas educacionais, em especial na pós-graduação, já vêm se pautando pela combinação de
espaços, dinâmicas, produções, tempos, metodologias, públicos, contextos formais e não formais, cujos

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processos se tornaram mais potentes com a mobilidade, portabilidade e conectividade propiciadas pelos
dispositivos tecnológicos digitais, evidenciando um ecossistema aberto, flexível e criativo, caracterizando-se
como uma tendência de ‘educação híbrida’ (Moran, 2015). Ademais, Valente (2015) refere que desde o início
deste século são encontradas publicações que tratam do conceito e de práticas híbridos. Nóvoa (2017) também
se refere à importância de a formação docente se desenvolver no entre-lugar entre instituições formadoras e de
exercício profissional. O híbrido engloba, além da inter-relação presencial e virtual, a vinculação entre
distintas metodologias e tecnologias, entre espaços de prática e de formação (Almeida, 2021). Assim, a
literatura evidencia distintas composições e cruzamentos do ‘híbrido’, que podem resultar em articulações
diferentes entre distintos elementos.

O Colegiado do Programa entende que convém, taticamente, aguardar a conclusão desse processo de
conceitualização do ‘híbrido’ pelo CNE para então se posicionar de modo mais assertivo sobre o tema. Dada a
urgência das circunstâncias, porém, entende também que cabe avançar internamente à PUC-SP desde já, com
a proposição de uma reconfiguração da nossa prática curricular a partir de 1-2022, tal como descrito a seguir.

2. O HÍBRIDO NO PPG EDUCAÇÃO: CURRÍCULO, EM 2022. UMA PROPOSTA.

2.1. Preliminares

Este Programa considera que as tecnologias de informação e comunicação (TIC) não se reduzem a
meras ferramentas; seu uso configura um ambiente cultural, que produz efeitos culturais estruturantes de largo
alcance sobre seus usuários. Sempre terá sido assim, com todas as tecnologias que se incorporaram ao
cotidiano da humanidade; mas certamente tem sido assim com muito mais ênfase com o recente
desenvolvimento em ritmo exponencial das TIC, que criaram um ambiente mundialmente hiperconectado,
ainda que uma parte considerável de crianças e jovens em idade escolar encontrem-se desconectados, fora da
escola, e outra parte, ainda que nela, sem acesso adequado a tais tecnologias. Outrossim, as TIC também não
devem ser entendidas apenas como “meio” ou suporte do processo de comunicação ou do processo de ensino
e aprendizagem; mais do que meio, as TIC são mediadores que estruturam e influenciam as práticas sociais e
educacionais. As tecnologias são elementos da cultura e, portanto, configuram o modus operandi da
contemporaneidade já imersa na digitalidade.

A apreensão e o uso das TIC, notadamente, são mais evidentes nas práticas sociais de crianças e
jovens. Mas o Programa não desconsidera o seu valor e potencial no trato com seu público de mestrandos e
doutorandos, que é formado em sua maior parte por profissionais da educação, em formação acadêmica para a
pesquisa.

O Programa reconhece que acumulou importantes experiências com o uso de TIC durante a pandemia,
até aqui, nas suas atividades em remoto, em dois campos:
- no campo meramente funcional, mesmo nas simples transposições das aulas para o ambiente digital:
aprendemos a nos familiarizar com um leque variado de dispositivos e plataformas tecnológicas para
realizar as atividades de ensino, orientação, gestão pedagógica, prestação de contas institucionais às
demandas da secretaria acadêmica e acompanhamento da vida administrativa do Programa;
- no campo propriamente pedagógico: enfrentamos as dificuldades técnicas imprevistas nas
plataformas digitais, compondo soluções, adaptando as metodologias convencionais de ensino às
novas condições de aprendizagem dos alunos e orientandos e na nova condição de cooperação dos
monitores.

O Programa enfrenta os desafios postos ao período mais imediatamente pós-pandemia como sendo
uma janela de novas oportunidades valiosas de desenvolvimento organizacional (gestão), pedagógico (ensino

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e orientação) e epistemológico (pesquisa). Temos como propósito, no Programa, retornar às nossas atividades
presenciais de Ensino, Pesquisa, Formação e Inserção levando conosco as melhores experiências que vimos
acumulando ao longo do período de isolamento com atividades em remoto.

2.2 Proposta

Considerando que:
• a maior parte dos nossos alunos provém de outras cidades, estados, regiões do Brasil e exterior; e que
eles permanecem fora da cidade de São Paulo durante parte do seu curso (período de pesquisa de
campo e de redação de Dissertação ou Tese);
• em três reuniões abertas da Coordenação com o conjunto dos 140 alunos do Programa, durante a
pandemia, os alunos registraram, sim, a falta que sentem do convívio estudantil; mas igualmente
enfatizaram o valor prático de usufruírem de aulas em ambiente remoto, que lhes é muito conveniente,
e não fizeram qualquer registro de restrição à qualidade do Ensino ou da Orientação de pesquisas que
receberam em ambiente remoto, comparativamente ao presencial;
• as experiências do período remoto potenciaram metodologias que enfatizam o diálogo, o trabalho em
grupo e a colaboração, expandiram a inter-relação com especialistas de diversos países e instituições,
o estudo sobre distintos espaços de conhecimento e múltiplas culturas e a incorporação de múltiplos
letramentos nas produções autorais,
o Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo dispõe-se a operar dos seguintes modos a partir de
fevereiro de 2022, sujeitos a avaliação parcial em junho de 2022 e a avaliação geral em dezembro de 2022.

2.2.1. FUNCIONALIDADES
• Expediente da Assistente Administrativa: predominantemente presencial;
• Despachos da Coordenação: presencial, quando necessário; em remoto quando possível;
• Reuniões de Colegiado: em remoto, via de regra; presencial pelo menos duas vezes por semestre;
• Trabalhos em Comissões (Comissão de Bolsas, Comissão de Autoavaliação, GTs etc.): presencial ou
em remoto, segundo conveniências da ocasião e dos participantes;
• Reuniões das Linhas de Pesquisa, da Revista e-Curriculum e outras: presencial ou em remoto,
segundo conveniências da ocasião e dos participantes;
• Atendimentos individualizados da Coordenação a Professores ou Alunos: presencial ou em remoto,
segundo conveniências da ocasião e dos participantes;
• Reuniões da Coordenação com o conjunto dos Alunos: em remoto, para alcance de maior número de
participantes.

2.2.2. ORIENTAÇÕES
• Sessões de Orientação: presencial ou em remoto, segundo conveniências da ocasião, de comum
acordo entre Orientador e Orientando.

2.2.3. BANCAS
• Bancas de Qualificação e de Defesa: o assunto já se encontra normatizado na PUC-SP: Orientador e
Orientando estarão em presencial no campus-sede, sendo facultada a participação em remoto dos
demais membros das Bancas – sendo esta reconhecidamente uma oportunidade valiosa para a
participação de Examinadores de outros Estados, Regiões, Países. Isso significa que as Bancas serão
uma ocasião especial de realização da “participação híbrida”: parte dos participantes em presencial e
parte em remoto. Esse formato permitirá mais oportunidades de participação também para o público
externo interessado.

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2.2.4. DOCÊNCIA (Disciplinas e Seminários)
• O Programa oferecerá 40% (e, na medida da possibilidade legal/normativa, até 60%) de suas
Disciplinas na modalidade em remoto.
• Essa oferta se distribuirá com oportunidades equitativas para as suas diversas Linhas de Pesquisa.
• As Disciplinas, quando atuando em remoto, deverão ser acompanhadas de forma síncrona por todos
os alunos nela matriculados (excepcionalmente assíncrona, mediante justificativas pontuais).
• As Disciplinas e os Seminários oferecidos em remoto, quando designadas para isso dentro dos 40%
(ou até 60%) acima indicados, atuarão mediante rodízio, a cada semestre.
• As Disciplinas e os Seminários oferecidos na modalidade em remoto terão divulgação especial, uma
vez que poderão acolher um número maior de alunos participantes, inclusive de outros Programas.
• As Disciplinas Introdutórias (ME e DR) serão oferecidas preferencialmente em modo presencial, para
garantia de convívio estudantil dos ingressantes.
• A Aula Inaugural Semestral do Programa, se feita em conjunto com os demais Programas de
Educação, poderá ser realizada em modo de funcionamento híbrido (parte do público presencial, parte
em remoto).

2.2.5. INTERINSTITUCIONALIDADES
• Reuniões inter-Programas, inter-Universidades, inter-Grupos de Pesquisa: presencial e/ou em remoto,
segundo conveniências da ocasião e dos participantes.
• Reuniões com pautas político-administrativas: presencial e/ou em remoto, segundo conveniências da
ocasião e dos participantes.
• Reuniões com pautas de Pesquisas em Rede, especialmente as Internacionais: presencial e/ou em
remoto, segundo conveniências da ocasião e dos participantes.

2.2.6. PESQUISAS SOBRE O CURRÍCULO HÍBRIDO

Este Programa tem o privilégio de contar com uma Linha de Pesquisa (LP), intitulada Novas
Tecnologias em Educação (NTE), reconhecida em âmbito nacional e internacional como uma referência de
excelência em pesquisas sobre o tema. Os trabalhos produzidos nos 25 anos dessa LP acumulam mais de
quatro centenas de pesquisas presentes nas dissertações e teses, assim como se consolidaram em forma de
prestação de serviços na construção de políticas públicas curriculares ao MEC, Secretarias de Educação e TV
públicas (TV Escola/MEC e TV Cultura). Foram implantados produtos tecnológicos de aplicação pedagógica
para gestão do conhecimento em grandes redes públicas (MEC, SEE-SP, SME-SP), como a implantação do
SGP (Sistema de Gestão Pedagógica) da SME-SP por meio de projeto construído com alunos e professores da
LP. Os projetos de pesquisas de docentes e discentes e de operações tecnológicas, seminários internacionais,
parcerias com a Open University UK e com a Universidade de Barcelona, entre outros, revelam o caminho de
pesquisadores e gestores na criação de trabalhos no desenvolvimento de ambientes híbridos de aprendizagem
e ensino.
A partir do início de 2022 os trabalhos de docência, serviços e pesquisas serão ocasião de,
planejadamente e a partir da política geral da Universidade e da proposta do Programa, encetar um
direcionamento da LP NTE para a produção de:
a. Assertivas teóricas sobre o conceito de hibridismo na educação – aprendizagem e ensino;
b. Levantamento do estado da arte no campo de seus usos regulares e fundamentados;
c. Análise de práticas de usos de tecnologias dentro de nossas pesquisas, e para outros graus de
ensino;
d. Estudos sobre a integração entre o currículo e as tecnologias em contextos de hibridismo;
e. Produção de seminário interno à LP e ao Programa, sobre resultados de trabalhos parciais;
f. Publicação de documentos críticos norteadores de tais práticas;
g. Acompanhamento de experimentos internos ao Programa.

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 O período letivo de 2022, assim, será um precioso tempo de oportunidades para o desenvolvimento de
pesquisas sobre os usos e os efeitos das TIC no Currículo durante e após a pandemia da Covid-19. A LP NTE
organizará um programa de pesquisas próprio, envolvendo todos os seus professores e projetos de seus
estudantes, para estudar também experiências de outras instituições, em todos os níveis de Educação Básica e
Superior, inclusive Pós-Graduação; experiências próprias, no interior da Linha e de outras Linhas do
Programa; usos e efeitos dos projetos de “Aprendizagem Híbrida” (a ser definida e normatizada pelo CNE
e/ou por outras instâncias regulatórias do MEC) em ambientes digitais.

2.2.7. MEMÓRIA DO CURRÍCULO NA PANDEMIA

Visando preservar memória do Programa e dispor de materiais para pesquisas do próprio Programa (e
eventualmente outras), o Programa montará um banco de dados intitulado Arquivos do Currículo na
Pandemia, com materiais classificados em “Lives”, “Palestras”, “Dissertações e Teses”, ‘Publicações de
Livros e Artigos”, “Redes de Pesquisa”, “Celebrações do Centenário de Paulo Freire” e “Outros”, que poderão
ser disponibilizados no site do Programa.

3. RECURSOS NECESSÁRIOS

A execução desta proposta, ao longo de 2022 e, eventualmente, nos semestres seguintes, requererá,
por parte da PUC-SP, a manutenção da atual disponibilidade adequada de:
• infraestrutura de hardware e software;
• programas de formação continuada aos docentes, oferecidas pela PUC-SP para o melhor uso das TIC
em atividades de ensino e pesquisa;
• preparação contínua de monitores (mestrandos e doutorandos do Programa) para apoiar o trabalho dos
professores nas atividades desenvolvidas com a mediação das TIC.

4. CONSIDERAÇÃO FINAL

O Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo conta com um relevante diferencial, já

apontado: a presença de uma Linha de Pesquisa voltada para Novas Tecnologias em Educação. Enfatizamos
novamente que não se trata de mera presença, e sim de uma consistente história, com numerosa e variada
produção, e de um notável potencial, com qualidades amplamente reconhecidas. Este fato é o que melhor
justifica e assegura autoridade a este Programa para apresentar esta Proposta, neste momento, com as
melhores condições de segurança institucional. Mesmo que a atual legislação e normas não permitam a
adoção generalizada de práticas híbridas no Currículo, tal como as que aqui propomos, a PUC-SP deverá
considerar a importância de, em caráter de excepcionalidade, permitir a realização desta experiência particular
deste Programa voltado para o Currículo, para o benefício institucional da própria universidade.

08 de dezembro de 2021
Colegiado do PPG Educação: Currículo

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