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danca__ foco 2007 de 14 de agosto a 2 de setembro www.dancaemfoco.com.br FuTURO Elements Garang Bar Nott Seno Khe Cmpabs sabes o1 (CIPBRASIL. CATALOGACAONAPONTE SINDICATO NACIONALDOS EDITORES DELIVROS RJ Divs 2 ‘Danga em fico, v2. ; videodanga / curadores Paulo Caldas e Leonel Brum ; traducio. [erevisio) Tradugées Corporativas.- Rio de Janeiro: 158.4. - (Arte tecnologia) ‘Textos em portugats, espashol einglés “Textos de: Alexandre Veras, Claudia Rosiny, Johannes Bisringer, Rodrigo Alonso, Joio Lu ‘Vieira Onginizadores: Paulo Caldas, Leonel Brurn, Regina Levy ¢ Eduardo Bonito Festival Inemnacional de Video & Danga, realizado no Esparo SESC, de 13 de agosto a2 setembro de 2007, sob o patrocinio da Oi Futuro e do SESC Rio ISBN 976-85-99247-10-5 1. Danga- Inovages tecnoldgicas. 2. Danga. 3 Linguagem corporal. 4. Multimdia intera Caldas, Paulo Il Brum Leonel. 10. O1 Futuro. 1V. Titulo: Videodanca, V. Série. orsim = CDD 792.82. cpu 79294 2008.07 21.9807 0317 14® Ang N° | dejaneivo de 1991, plas 2229 923. Veja Karaper Dietrar and (Chrssoph Wilf (ed): Die eke spe kan Taal rem: Blt ppls0-187. Bob Beate. em: Magny, Chris secant Aleit: ‘Done Theat Jorn ts yar, No. 2 FAll1991 pp. 3435p: VIDEODANCA CLAUDIA ROSINY Estrutura histérica, estética e narrativa de uma forma de arte intermididtica 1 Aintermidialidade, as ates de fronteira ea mudanga de percepgio da arte no século XX. Avideodanca se desenvolveu paralelamente ao interesse crescente pela danca cénica—com. novas Vatiantes no teatro-danca e na danca pés-modema. Aqui hi - numa visdo superficial — ‘uma contradicio, Todas as artes ctnicas contemporineas tém uma objetividade fisica que se dirige a todos os sentidos, enquanto que as imagens de filmes e videos podem produzir um efeito que ¢, fandamentalmente, apenas visual ¢ acistico. Mas esse possivel antagonismo dea origem, a0 longo da hist6ria, a uma interessante influéncia miitua. Hoje em dia, nos palcos contemporineos, vemos muitos movimentos que - a exemplo das fragmentagies - so influenciados pela estética do filme, resultado de estraturas de percepgSo que mudaram_ no século XX. Bernard Noél registrou no anuério da revista Ballet International, de 1991, que: O cere doproblema atual é que talvez nosso ponto de vista tenha mudado da mesma maneira como, certa vez, a descoberta da perspectiva mudou 0 ponto de vista na ‘Renascenga. Nés temos que aprender a ver as coisas de um nove modo.” Além do mais, a videodanea é sintomitica, tanto para um discurso sobre 0 corpo quanto para suas imagens” e é paradigosdtica para a discussio de um género particular de discurso sobre intermidialidade?, O diretor britinico Bob Bentley descreveu a videodanga em 1991 com as seguintes perguntas e declaracoes: © que é danga e 0 que é televisio? Além disso, o que é videodanga? O que eu gosto no ‘trabalho com a danca é que ainda hé a possibilidade de criat idéias novas para plateias novas. A forma néo ¢ fixa, nfo ¢ estabelecida’. ‘Tal abertura da forma nao sé pode ser vista no género da videodanca, mas também em ‘outra possivel interagao com outras manifestagées do intermididticas como a videoarte, videoclipe ou os filmes publicitérios. Artes de fronteira ~ mudanga de percepcio A videodanca nao € um novo tipo de arte genuina; sua estética ¢ mecanismos de percepcio podem ser localizados em antecessores histéricos de outras artes. De qualquer modo, a videodanga faz parte de um desenvolvimento geral em direcao a intermidialidade e a mistura de tipos de arte, como ficou evidente desde a virada do século XX. Erika Fischer- Lichte, professora de teatro alemi e conferencista na Universidade de Berlim, descreve essa mudanga na introdugéo do seu livro sobre teatro de vanguarda, como uma mudanca em direg4o a novos padrdes de recep¢ao, como, por exemplo, a forte influéncia do cubismo na superacdo dos padrdes de perspectiva que estruturavam anteriormente o palco teatral. Outro exemplo dessa mudanga é a influéncia da miisica atonal de Amnold Schonberg para ‘uma nova compreensio da musica’. Nesse sistema de artes, a danga tem uma significagao especial: ‘De um lado, a produgao em série, a metrificacao do tempo, a taylorizacao etc. fizeram com que 0 corpo humano tivesse que adaptar seu ritmo de movimento ao ritmo determinado pela miquina. De outro, membros do movimento jovem Wandervogel, do Movimento Garden City, da Educacio Fisica e do Movimento Life Reform proclamaram a liberagao do corpo das obrigacdes tradicionais, responsabilizadas, de ‘um lado, por um falso senso de pudor e, de outro, pelas condigées de vida criadas pela urbanizagao e pela industrializacao®. No teatro e na danga de la, esses novos conceitos espaciais, que rompem com —————— ———- ~~ Ico italiano e buscam novos espacos teatrais, constituem passos importantes para 0 desenvolvimento da mistura das artes. Além disso, praticas corporais como a Biomecinica, de Meyerhold, ¢ uma propagada “desliteralizagéo do teatro” também podem ser entendidas como exemplos do fortalecido papel da danga nessa abertura dos conceitos teatrais. Por outro lado, verifica-se 0 rapido desenvolvimento da midia audiovisual, assim como sua influéncia nas outras artes. Hans Scheug] que, juntamente com Emst Schmidt, escreveu um dicionério sobre filmes de vanguarda, experimentais underground, relaciona um filme (Le Raid Paris-Monte Carlo en 2 heures), que Georges Méliés realizou em 1904/1905, com 0 musical do mesmo titulo do Folies-Bergére”. Notavel é 0 fato de que o titulo do filme também responde a uma recepcao de tempo modificada por meio do cinema. Meyerhold, também, interessou-se por procedimentos filmicos no teatro, préximos as mais conhecidastentativas S — WpFischerliche Bika (x): Theaters de Erwin Piscator, que permitiu que registros dé filmes documentérios comentassem. Keer ye Tien os eventos no palco. “Utilizemos técnicas de filme no palco (mas nio no sentido de 1995p 2f simplesmente colocarmos uma tela no teatro) [.]8" Piscator, aolongo da discussio acercado 6 —thidem.p20 filme sonoro, menciona possibilidades relativas ao intermidistico: “Freqiientemente tenho, Shogo explicado que néo ha nenbum principio de arte num sentido estético, especialmente nos tempos atuais, simplesmente porque os limites e as intersegSes so fluidas e tm diferentes poic ad formas”.” Além disso, suas reflexdes foram parte de um plano para um teatro total -no qual ele ora i cinema também deveria ter seu lugar - comparivel as consideragdes do grupo Bauhaus ee PHS nos anos 1920. Pay dren Na danga, jé as Serpentine Dances, de Laie Fuller - nas quais o papel da luz e das cores rsuneck Mand: Teton 2 permitin relacSes especificas entre movimento ¢ espago -, emergiram de uma estética eee emer influenciada pelo cinema. Reinbek 1982680 1986 stoned, pp. 252-260 2254 Outro ponto alto na confluéncia das artes na danca foram os espeticulos dos Ballets vested Russe, de Sergei Diaghilev. Nao 86 os cendrios e igurinos foram desenhados pela vanguarda Passov. Tent Fe axtistica da época: em Le Tran bleu, de 1924, por exemplo, balarinos moviam-seemecimera —-‘ieieuaePg Bean lenta, mostrando assim uma sofisticada compreensio do uso filmico do tempo. Soba diregao cae ig ee de Rolf de Maré, que tomoua concepgio de Diaghilev para o seu Ballets Suédois, foi rodado, Teaosin Fine Zaring ‘no mesmo ano, um filme dirigido por René Clair, Entr‘acte exibido como um interhidio no ‘Bol, Rolf Pete Seibert ed} balé dadaista Relache. Até hoje, esse filme é reconhecido como um dos mais importantes en os filmes de vanguarda. Além disso, Entracte 6 um exemplo do chamado “Cinema Expandido’, mibiep 20 uma tentativa de “romper os limites da tela do cinema e reintegrar o valor do filme como iq. js tounghoo, Gane meio!®” Ao final de Entrlacte o maestro pula da tela, senta-se no pédio e comeca a reger de Ci dtd Novag 4, Ed Emshwiller, que realizou varios filmes com a Alwin Nikolais Dance Company e que se ee ae. assemelhavam a sua produgSo experimental -também produziu filmes que eram projetados 4, vaaschmgleSehmidv Ene sobre os bailarinos ¢ em telas méveis carregadas por eles!!, So. 19 a cultara da performance historia Sat cent Tal projtor de multimidia foram criados, desde os anos de 1960, especialmente pela danga - por aqueles representantes da danca pés-modema infiuenciados por Merce Cunningham: ‘Meredith Monk ¢, sobretudo, os fundadores da Judson Church, como Ywone Rainer e ‘Trisha Brown, assim como Twylla Tharp. Também Lucinda Childs, que trabalhou com Rainer e contribuiu em algumas obras de Robert Wilson’, O intercimbio entre os criadores da danca e do cinema vai tio longe ¢ queaté ‘mesmo a profissdesparecem ser intercambidves, Lembremos do belgafan Fabre, ofiginalmente um artista plastico que, como coredgrafo, trabalha fre . com imagens de movimento em camera lenta. E també fim Vandekeybus, ‘que usa filmes em quase todos os seus trabalhos de palco e qué staa Fabre, tem um estilo de movimento estabelecido a partir da velocidade; nao é um bailarino treinado, mas depois de breves estudos em cinema, atuou nos primeiros trabalhos de Fabre; ou Frédéric Flamand e sua companhia Charleroi/Danses ~ Plan K, atual diretor do Ballet National de Marseille, que também nao veio do \ ‘campo da danga, e trabalha como coreégrafo juntamente com videoartistas ou arquitetos para produzir seus espetdculos maltimfdia!?, Annie Bozzini resume a situagio da Franga no comeco dos anos de 1990; no entanto, considerando os Veiabiogaasconepondentes _desenvolvimentos histéricos hd pouco mencionados, nio se pode avalié-la como SnadanandMeDorghDen; —_sendo nova: “Meredith Monk: Mixed-media f - Kid’ in: McDonagh, Don: - "Racal a Essanova dana [..] procura[... umidioma nove queintegraarteemisica, _ Ae on, ssanova dane ion aes Se sa sigaiicalo como uma feraments, 0 Patten inden hs perforniande® costumam Ser apresentadas com trechos de filme ou ~Tegistros de-viden etibidis dinetainedts cobre-o.que-eetd.acontecendo ao pices Bachar These od __-wideo rapidamente se desenvolve'comio um modo de producio artistica. ‘ ‘Um exemplo precoce e, em sua intensidade, quase nunca aliens Ale Der Boom des alcangado de tal interagio direta entre danca e imagens ae ee de video no palco € a producéo Live, de 1979, coreografia 2 Reba 9 pp 1827 de Hans van Manen; que teve uma uma adaptagio para Dis Genoa televiséo produzida em 1986 e que alguns anos mais tardefoi eee oes, novamente apresentada pelo Het Nationale Ballett. O que era (N61 1989, ppi3-19. constantemente experimentado ¢improvisado na cultura da Bow Annie "Sefimen performance's, aqui se torna o elemento constitutive de um sw lta ano trabalho de paleo: o didlogo entre obailarino eo cameraran, rors entre 0 corpo em performance e a’ duplicacéo simultinea ou substituls2o no enquadramento, quando as imagens de Pere tl Peas video s80 a0 mesmo tempo projetadas em uma grande tela Eee Meo a ¢ em cenas adicionais do trabalho - 0 encontro do bailarino vee com um partner no foyer do teatro, como também o seu Rosny Cine Tarand ea desaparecimento no canal de Amsterda, s6 pode ser visto Die cvinge Keopertion © no teatro se for assistido na tela’, 49-1986, pp. 29-32 pp BIE Liv, Coneogr Hlansvan Manes, 9 2. Antecessores histéricos da danga no cinema Os seguintes esbocos tém por objetivo fazer uma curta avaliagao do percurso histérico da interferéncia da danga e do cinema. Como duas linhas na historia do cinema, reconstrugio € ctiagio representam uma dicotomia, ainda que a imprecisio dos limites também favorega aliangas. Da mesma maneira, a sucessao histérica das diferentes midias - filme, televisio e video - nio pode ser vista como um desenvolvimento linear, ja que cada uma delas est baseada em seus préprios antecessores técnicos e que, hoje, as manifestagées mididticas so contiguas ou sobrepoem-se umas as outras. Pioneiros do cinema ‘As primeiras tentativas de registrar a danca em imagens em movimento jé haviam sido feitas pelos pioneiros do cinema, antes da virada do século, A dangaincorporou.o movimento como tal e atestou 0 fato de que pudesce ser representado em filme. Naquele momento, a camera tinha, exclusivamente, um ponto de vista fixo, nao se movendo em panorimicas ou travelings. Esses primeiros filmes de danca eram reproduces curtas de dangas simples que aconteciam em uma érea de um metro quadrado. Em 1894, Thomas Edison, por exemplo, flmou uma danga de dois minutos de Ruth Dennis. Citemos também a Sicilian Peasant Dance, que os Irmos Skladanowski mostraram em 1895, no Wintergarten, em Berlim, Os registros das Serpentine Dances, de Loie Fuller eram familiares a Skladanowski, Edison, Méliés, Nadar e a uma das primeiras diretoras de cinema, Alice Guy - embora a maioria desses filmes mostrem apenas interpretacdes de suas be L 2 Dew rel es 22 4 Paces Pls p62 imitadoras. Os movimentos de cAmera s6 foram usados mais tarde - por exemplo, no Slime Intolerance (de 1916), de DW. Griffiths, no qual Ruth Denis reaparece dangando sob 0 pseuddnimo de Ruth St, Dennis. Supostamente, Georges Méliés também filmou a danga, entre as quais o Folies Bergere e a bailarina italiana Pierina Legnani. Méliés - como também Emile Cobl - j4 naquela época testou técnicas de animacdo para trazer objetos e figuras para a danga. Por isto, sio predecessores de cineastas experimentais como, Femand Léger, Maya Deren, Ed Emshwiller, Norman McLaren ou Hilary Harris. Como em boa parte da videodanga, hoje, 08 conceitos de muitos desses filmes eam, todavia, pouco compariveis entre si. Filme experimental - Filme de vanguarda Os filmes Entriacte, de René Clair, e o Ballet Mécanique, de Fernand Léger, feitos por artistas visuais, representam realizagdes do cinema abstrato, Outros representantes podem ser aqui mencionados, como por exemplo, as obras de Walter Ruttmann, Oskar Fischinger ou Viktor Eggeling. ‘A obra de Maya Deren, A Study in Choreography for the Camera, de 1945 - com sua concepgao de espaco-tempo -, poderia ser descrito como um marco da génese da videodanga. “Ele se move no mundo da imagina¢Zo, no qual, como nos nossos sonhos diumos e noturnos, alguém se encontra, primeiro, em um lugar e entdo, subitamente, em ‘outro, sem ter que percorrer pelo espaco intermedisrio!”, Acdigao de clementns de espagoe tempo em longus tomadas& caracteristica nos filmes mudos de Deren. Em parte, eles foram gravados como uma série de imagens artificiais em que freqientemente se perde a refertncia cinestésica para a gravidade, de forma a que a imagem transmita um efeito de suspensio. Em contraste, Ed Emshwiller, em Totem, um filme realizado em 1963 com a companhia de danga de Alwin Nikolais, usou uma edigso répida para expressar 0 movimento da dana apenas pelos cortes. Em 1966, Hilary Harris fez 0 filme de danga Nine Variations on a Dance Theme, no qual uma cena de danga solo, de $0 segundos, foi interpretada nove vezes pela bailarina, mostrada de forma diferente em relagio ao uso da cimera e da edigao em cada uma dessas repeticbes, Variagées entre ‘um simples movimento da cimera ao redor da bailarina, do close-up e da seqiéncia de -visdes parciais diferentes dos movimentos contrarios da cémera. “O filme pode partir da danga, acrescentarthe algo, enriquecé-la; mas nunca poderd destruir o que o bailarino estd expressando’, disse Harris em 1967, em uma edigio especial sobre cinema da revista americana Dance Perspectives. Como um tltimo exemplo dos antecessores do filme experimental, gostaria de mencionar os trabalhos de Norman McLaren que, desde 1933, incluem incontiveis filmes com diferentes técnicas, Jé em seus filmes de desenho animado feitos mao - influenciados pelostrabalhos de Oskar Fischinger-,asfigurasexecutammovimentoscomoos deumadanca. ‘Em Pas de deux, de 1968, 1um casal que danca vestido com uma malha branca foi flmado em. ‘tempo real, masfoi editado em cAmeralentae multiplicadoem imagens quese dissolviamem. até onze vezes. Esse efeito estroboscépico, que evidencia imagens das fases do movimento, pode ser atualmente alcancado de forma semelhante com técnicas de video e digital. Filme musical Com o desenvolvimento do filme sonoro, a musica péde ser sincronizada a partir dos anos de 1920, o que foi muito importante para a danca, Notével era que, no infcio, a cimera era pouco movimentada, e mais uma ver tomou um lugar fixo no auditério. ‘Asccenas de danga eram apenas os interhidios em um filme narrativo. Tais filmes, com longas passagens de danca ficaram populares nos musicais americanos, com Fred Astaire. Entre 1933 e 1957, Astaire criou aproximadamente 150 niimeros de danga. Ele deu forma a um estilo conservador de registrar a danga: no sé a cAmera devia permanecer inerte, mantendo © corpo inteiro enquadrado todo o tempo, como também nio era permitido que os cortes perturbassem a integridade da coreografia; de qualquer maneira, quando eram usados, eram dificilmente perceptiveis. John Mueller descreve o “estilo Astaire de filmagem” na Dance Magazine n° 5, de 1984: A grande maioria dos cortes constitui trocas modestas de perspectiva para seguit os dangarinos enquanto eles se movimentam, ou para melhor mostré-los, ou a coreografia. [..] Os cortes geralmente acontecem quando a coreografia estiver em transigo ou durante um padréo de danca que se repete, e nio quando um ponto de movimento destacado ou especial estiver sendo realizado, Eles nunca sio previsiveis, nem muito perceptiveis!®, Apesar da simplicidade da chmera eda edicSo, Astaire uson um pouco de efeitos especiais. Eles ndo foram construidos em efeitos filmicos; de fato, eram puros efeitos cenogrificos. ‘Mesmo seu solo em Royal Wedding, no qual dangou em uma parede e no teto, foi filmado em ‘uma unica seqiiéncia, apesar da mudanga da cmera e do cenério. Suas reformas nao influenciaram somente os musicais de Hollywood nos anos de 1950, especialmente Gene Kelly; o filme musical preparou principios gerais para a recriagio da danga no cinema, como se pode constatar nas seqiiéncias e temas de danca presentes nos filmes de Hollywood desde 1945 208 nossos dias. Para citar alguns deles: The Red Shoes (1948), An American in Paris (1951), West Side Story (1961), Saturday Night Fever (1977), Grease (1978), Fame (1979), All that Jazz (1979), Stayin’ Alive (1982), A Chorus Line (1986), Dirty Dancing (1987), Strictly Ballroom (1992) ou, mais recentemente, Salsa. O ponto de vista oposto a0 modo de Astaire flmar a danca foi desenvolvido nos filmes musicais de Busby Berkeley. Para Astaire, a cimera tinha que estar a servico da danga; de modo oposto, para Berkeley, a danga servia a clmera, As dangarinas formavam parte dessas imagens ornamentais, Era a cAmera que criava a coreografia. As “meninas” em uniforme foram organizadas em filas, mandalas ou outros padréés geométricos — movimentos em ‘grupo e dangas que alcancaram seu apogeu. Seria possivel encontrar essa forma, até pouco tempo atrés, em certas coreografias de companhias de balé de televisio, Foi creditada a Berkeley, pela filmagem desses ornaments - que s6 eram vistos efetivamente de cima -, a invengio do fop-shot. Com isto, historicamente, ele liberou a danga das perspectivas frontais. Além disso, usou outras possibilidades dos meios cinematogrificos, tais como trucagens com distorgao das lentes ¢ efeitos de espelho, tracking expansivo e tomadas panorimicas, uma edigdo que, através de perspectivas incomuns e manipulag6es de tempo e espaco, ia diretamente contra as regras impostas por Hollywood. Douglas Blair Turnbangh descreve prineipios de Berkeley no Boletim Informativo de Diretores de Cinema N° 1, de 1970: Os mosaicos eram cinemiticos [,]..A fotografia de Berkeley era a coreografia. [.] Sua genialidade estava em ignorar 0 conceito de coreografia de palco e coreografar com elementos cinemiéticos - hd movimento no zoom, no fade. Berkeley estava trabalhando com lentes ¢ filme - nao com a formagao em linha do Roxy ou os bailarinos dos Ballets Russes. Seus mosaicos tinham toda a relagSo com o cine-danga tal como o concebemos agora, e esses fragmentos que nunca sera igualados (de onde viria o orcamento?), sdo tesouros em meio a um material, de resto, banal’? 18, John Moeler ‘Astaire Ste Film anamecean screen Weiansese 1% orem Bical rc in: Filmmakers Newsleter, 4th yeu, NPL, Novernber1970,pp. 13h pl 23 Bob: "ls Video Dance aa ‘Act Form? in Catalgpt Dance Soren, 1982, pp 48, Vertambein Davis net Rowson: Ble or Bak Tis RSL Dance Crone Sth yeas N° 3, 1983 p45 308 pp 2 Clery, Birgit "Teevson 1892 pp. 137143 p38, Apesar dos mimeros de danca de Berkeley fazerem parte de um enredo, ambos os elementos estavam separados um do outro, enquanto que Astaire e os posteriores diretores de musicais, como Vincent Minelli, Stanley Donen on Gene Kelly lotaram por uma unidade do enredo e da coreografia. A diresio de Berkeley foi limitada até mesmo as cenas de danca, enquanto as de enredo eram dirigidas por outros diretores de Hollywood, Adanga na televisio A BBC jé difundia a danga antes mesmo da Segunda Guerra Mundial, Um desses programas era de fato um filme de demonstracio para atrair os compradores de televisio. ‘Nesse, a bailarina Margot Fonteyn dancou um solo de dois minutos. Depois da Segunda Guerra Mundial edo estabelecimento de estagbes de TV,a danga recebeu delaum tratamento tipico dos programas de transmissio ao vivo: de Londres, Live from Covent Garden, e de Nova Torque, Live from the Met ¢ Live from Lincoln Center. Hoje, programas semelhantes existem na maioria das redes de televiséo publica; enquanto isso, registros e adaptagoes substituem a maioria dos espetaculos ao vivo, embora poucos programas tenham sobrevivido. As primeiras tentativas para coreografar danca para a televisio também foram realizadas pela BBC. Em 1937, Antony Tudor fez, Fugue for Four Cameras com quatro imagens damesma bailarina — um truque que foi muito usado, de modo semelhante, por Merce Cunningham, tempos depois. A bailarina Maude Lloyd comenta o evento com Bob Lockyer: Fugue era, cbviamente, uma experiéncia em cimera e nio em coreografia; quando (Stephen) Thomas, o diretor, escolheu o tema de uma fuga para ilustrar suas idéias, escolheu Tudor e a mim porque tinha trabalhado muito conosco, e também porque admirava muito o trabalho de Tudor. A coreografia era puramente clissica, com passes terre & terre - nenhum salto, que eu me Jembre; certamente, nenhum grande salto - executados em um espaco extremamente limitado. Por conta de aspectos técnicos — angulagaio e uso das quatro cimeras como tema para a progress3o da fuga -, fomos limitados a trabalhar num espago que media, aproximadamente, 3 por 2 metros. A mésica era a Fuga em Ré Menor, da obra de Bach, The Art of the Fugue, ea bailarina do solo era Lloyd. A principio, ela era vista dangando no centro da tela - entio, & medida em que 0 segundo tema era introduzido na mtisica, seus movimentos a levavam para um dos lados e a ela se juntava uma réplica de si mesma, e assim por diante, até que ela estivesse dangando em quadruplicacao. Era altamente original e impressionante a forma como podiam combinar-se o balé ea televisio”, ‘Como pioneiros no campo da coreografia para a cimera, podemos considerar tanto 0 protagonista da danca pés-moderna americana, Merce Cunningham, como a coredgrafa ‘sueca Birgit Cullberg. J4 ao final dos anos de 1960, Cullberg intencionalmente usou um ‘pequeno monitor de TV como um mini-palco. Sens bailarinos moviam-

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