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Os Weblogs Como Propulsores Do Alargamento Do Campo Jornalístico
Os Weblogs Como Propulsores Do Alargamento Do Campo Jornalístico
MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO
JORNALÍSTICO
por
elaborada por
Leonardo Feltrin Foletto
COMISÃO EXAMINADORA:
_______________________________________
Prof. Drª Luciana Mielniczuk (UFSM)
(Presidente/Orientadora)
_______________________________________
Prof. Drª Márcia Franz Amaral (UFSM)
_______________________________________
Prof. Drª Raquel Recuero (UCPEL)
_______________________________________
Prof. Dr. Rondon de Castro (UFSM)
(suplente)
À cidade de Santa Maria, por ser, provavelmente, um dos melhores locais para se viver
dos 15 aos 20 e poucos anos de maneira “plena”.
Este trabalho apresenta os weblogs e alguns dos questionamentos que eles provocam
no campo jornalístico. Para isso, inicialmente faz uma revisão histórica e conceitual do
que vem a ser um weblog e apresenta as suas características e subdivisões principais.
Após, relaciona os weblogs com o jornalismo, trazendo as primeiras discussões e
algumas conclusões acerca dessa relação. Por fim, explica como se dá a aproximação
da blogosfera com o campo jornalístico e apresenta as diretrizes de alargamento do
campo ocasionadas por essa aproximação. A conclusão que se chega é de que as
diretrizes de alargamento propostas pela blogosfera levam o campo jornalístico em
direção a um jornalismo mais articulado, que vem a ser chamado de ‘jornalismo
sistema’. O objetivo deste trabalho é sistematizar elementos decorrentes da
aproximação entre o campo jornalístico e a blogosfera para, a seguir, apresentar
algumas diretrizes de alargamento do campo propostas por esses mesmos efeitos. O
trabalho está dividido em quatro capítulos: os Weblogs, Weblogs e Jornalismo,
Blogosfera e Campo jornalístico: Aproximação e Conseqüências e Considerações
Finais.
This work presents weblogs and some of the questions that they are provoking in the
journalistic field. First, it makes a historical and conceptual revision of what it comes to
be one weblog and presents its main features and divisions. After, it relates the weblogs
with journalism, bringing the first discussions and some conclusions about this relation.
Finally, it explains as if it gives the approach of the blogosphere with the journalistic
field, and it shows the increase lines caused by this approach. This work brings current
concepts and considerations for to point out the discussion that occurs between weblogs
and the journalism. It concludes pointing a direction that can explain some of the
tensions in the journalistic field provoked by the blogosphere. It is divided in four
chapters: the Weblogs, Weblogs and Journalism, Blogosphere and Journalistic Field:
Approach and consequences and Final Considerations.
RESUMO ........................................................................................................... 5
ABSTRACT ....................................................................................................... 6
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 8
2. OS WEBLOGS ............................................................................................... 10
2.1 Nomenclatura e conceito ........................................................................... 10
2.2 Os primórdios do weblog e a definição das suas características ......... 12
2.3 Os elementos principais de um weblog..................................................... 16
2.4 Classificação dos weblogs ........................................................................ 19
2.4.1 Classificação por gênero e estrutura ......................................................... 20
2.4.2 Outras classificações ................................................................................. 23
25
3. OS WEBLOGS E O JORNALISMO................................................................
3.1 Os weblogs são descobertos pelo jornalismo ........................................ 25
3.2 Os weblogs são questionados pelo jornalismo...................................... 27
3.3 Os weblogs são adotados pelo jornalismo (ou será que não?) ............ 29
Este capítulo trata unicamente dos weblogs. Desde os pioneiros do formato - que
surgiram junto das primeiras páginas da web, no início da década passada - até hoje,
consolidado e reconhecido como uma importante ferramenta de uso na web, o weblog
teve várias definições e subdivisões até chegar as que hoje são mais usadas e
difundidas. Pretende-se aqui explicar algumas dessas e contar como que se deu a
evolução histórica dos weblogs até agora.
Essa estrutura-padrão dos weblogs citada por Silva tem por característica estar
organizada em função do tempo, ou seja, com as últimas atualizações na parte superior
da página e as mais antigas logo abaixo, ordenadas de acordo com a data de
publicação do bloco de texto, em ordem cronológica reversa. O outro elemento
fundamental é aquele que, além de Silva (2003), Recuero (2002) e Orihuela (2004),
dentre outros, também apontam: os weblogs são espaços na internet eminentemente
pessoais, criados por uma pessoa (ou mais de uma, em muitos casos) que coloca
determinado conteúdo neste sempre sob o seu ponto de vista, a partir do seu
conhecimento de mundo.
A partir do conceito base, e dos dois elementos fundamentais que devem ser
usados para a sua compreensão, pode-se partir para uma outra definição mais
completa e definitiva, elaborada por Alonso e Martinez (2003 apud Díaz Noci,
Salaverría):
1 “Um médio interativo definido por cinco rasgos: es um espacio de comunicación personal, sus
contenidos abarcan cualquer tipologia, los contenidos presentan uma marcada estructura cronológica, el
sujeto que las elabora suele adjuntar enlaces a sítios web que tienen relación com los contenidos que se
desarrollan y la interactividad aporta um alto valor añadido como elemento dinamizador em el proceso de
comunicación”. [Tradução do autor]
2 Tim Berners-Lee foi o criador do que hoje conhecemos por World Wide Web. Em 1989, juntamente de
outros pesquisadores do Laboratório Europeu de Física das Partículas (CERN), em Genebra, ele
desenvolveu um programa chamado World Wide Web, um editor de hipertexto no estilo apontar e clicar
que em pouco tempo se popularizaria como a principal ferramenta de navegação em rede do planeta.
Figura 1: What’s new em ‘92’, o primeiro site considerado um weblog.
O site (veja na figura 2, abaixo) está vinculado à idéia de blog por apresentar
arquivos em ordem cronológica reversa.
A maioria dos blogs desta primeira fase, como diz Paquet (2002), foi criada e
mantida por webdesigners e desenvolvedores de programas para a internet, que,
atentos ao que acontecia na rede, tiveram a iniciativa de organizar um “filtro” daquilo
que achavam de mais interessante na web:
O conteúdo dos primeiros blogs era, em sua maior parte, uma mistura
de links com comentários feitos de acordo com o gosto de cada editor. Algum
tempo depois, esses blogs passaram a deixar um bom número de seguidores
pelo fato de que eles providenciavam uma seleção única de conteúdo novo e
atrativo para um segmento da população online que tinha gostos parecidos 5.
(PAQUET, 2002).
5 “The content of early weblogs was most often a mix of links and commentary that was tailor-made to
their editor's taste. Over time, those weblogs built sizable followings because they provided a unique
selection of fresh content that appealed to a segment of the online population and because of their
personal flavour”. [Tradução do autor].
6 http://www.blogger.com
7 http://www.grouksoup.com
8 http://www.editthispage.com
9 http://www.velocinews.com
10 http://www.weblogger.com
11 http://squishdot.org
Grohol 12 e GreyMater 13, todos estes gratuitos e disponíveis em toda o planeta.
Como esses softwares gratuitos de edição de weblogs ofereciam um formato
padrão para a criação de suas páginas, estes “moldes” passaram a, também, ditar as
características do formato de um blog. Basicamente, eram quatro estas características:
os layouts disponíveis apresentam o conteúdo ordenado de acordo com a data de
publicação do bloco de texto, os mais novos em cima e os mais antigos em baixo; há
um espaço para a interatividade, na forma de comentários; é oferecida a possibilidade
para o blogueiro utilizar de links para outras páginas da web; a atualização pode ser
feita a qualquer momento, sem qualquer restrição; e, por fim, não há controle, por parte
do software, quanto ao tipo de conteúdo que será abordado na página, deixando isso a
cargo exclusivamente do blogueiro.
É então que, em torno dessas características apresentadas e oferecidas pelos
softwares gratuitos, começam a surgir conceitos mais sólidos de weblog, como o que foi
apresentado no início deste capítulo.
Como diz Orihuela (2004 a), o elemento primordial do blog, sob o qual todo ele
se baseia, é o chamado post, que é o nome dado a publicação de qualquer conteúdo
na página de um blog. Normalmente, esse post contém um título, e ao seu término, são
mostrados data e hora de publicação, bem como quem o produziu e o levou ao ar.
Esses posts (veja na figura 3) estão ordenados segundo uma cronologia reversa, cada
um dos quais com um endereço URL14 permanente, o que facilita o seu enlace com
outras páginas.
12 http://www.grohol.com
13 http://www.noahgrey.com/greysoft
14 Uma URL (sigla de Universal Resource Locator, em português Localizador Universal de Recursos) é o
endereço de um recurso (um ficheiro, uma impressora, etc.), disponível em uma rede; seja a Internet, ou
uma rede corporativa, uma intranet. Uma URL tem a seguinte estrutura:
protocolo://máquina/caminho/recurso.
Figura 3: Na área circulada, um exemplar simples de post.
Orihuela (2004 a) acrescenta que a maior parte dos weblogs inclui ainda uma
seleção de links (blogroll), que levam o visitante a alguns sites recomendados pelo
blogueiro, um link para ficha com dados pessoais do(s) editor(es), uma descrição dada
ao blog e o título da página (veja na figura 5).
Figura 5: Localização de alguns elementos do blog.
2. blogs coletivos, onde vários autores têm acesso às ferramentas que permitem a
atualização do conteúdo. (veja na figura 7)
Figura 7: Blog coletivo
b) Gênero;
1. Blogs temáticos, produzido individualmente ou em grupos e concebido com base
em um tema específico ou numa área de interesse em comum. (figura 8; o tema,
neste caso, são as Histórias em Quadrinhos)
Figura 8: Blog temático
2. Blogs livres, que, como o próprio nome sugere, são publicações que não
procuram se deter em único tema. (figura 9)
Figura 9: Blog de temática livre.
A autora salienta que essas categorias não são estanques e absolutas, mas
objetivam uma melhor compreensão das múltiplas facetas do blog e, evidentemente,
podem passar por novas revisões.
Até aqui, fizemos um balanço da história dos blogs e da definição de suas
características e nomenclatura. No próximo capítulo, trataremos também do blogs,
relacionando-os com o jornalismo.
.
3. OS WEBLOGS E O JORNALISMO
17 “While I consider weblogs a vital component of a healthy media diet, in the end, weblogs and
journalism are simply different things. What weblogs do is impossible for traditional journalism to
reproduce, and what journalism does is impractical to do with a weblog. To my mind, news reporting
consists of interviewing eyewitnesses and experts, checking facts, writing an original representation of
the subject, and editorial review: The reporter researches and writes a story, and his editor ensures
that it meets her requirements. Each step is designed to produce a consistent product that is informed
by the news agency's standards. Weblogs do none of these things. Weblogs have no gatekeepers.
They are generally produced in the maintainer's spare time. Webloggers do not employ fact checkers,
and they answer to no one but themselves. Neither do webloggers”. [Tradução do autor]
18 “On Super Bowl Sunday, a 22-year-old blogger in Los Angeles named Jessica braved the freezing
cold to attend a televised outdoor concert by the British group Coldplay. She came home and blogged
Orihuela (2006) considera equivocada essa associação dos blogueiros a
jornalistas amadores. Para ele, os weblogs podem até ser jornalismo, porém não
pelo simples fato de serem weblogs, e sim por seguirem determinadas regras da
profissão que, também, podem ser praticadas nos blogs. Se estes blogueiros
conseguirem adotar as normas éticas e profissionais do jornalismo, eles farão
jornalismo; caso contrário, assim como ocorre em qualquer outra profissão quando
uma pessoa não tem o conhecimento para praticá-la e, portanto, não pode adotar as
normas éticas e profissionais dela, um blogueiro também não será um jornalista se
não respeitar estas mesmas regras referentes ao jornalismo. Pelo menos não ao
jornalismo como conhecemos hoje.
3.3 - Os weblogs são adotados pelo jornalismo (ou será que não?);
it, giving her take on the concert and reporting the band's play list. Like hundreds of others who
watched the show and wanted to learn the names of the songs played, I turned to the Internet. I came
up empty when I visited abc.com and coldplay.com. But hundreds of us found them (through Google)
on Jessica's blog. Jessica probably didn't know it, but she was committing a random act of journalism.
And that's the real revolution here: In a world of micro-content delivered to niche audiences, more and
more of the small tidbits of news that we encounter each day are being conveyed through personal
media-chiefly Weblogs” [Tradução do autor].
19 http://www.noblat.com.br
20 http://oglobo.globo.com/blogs
21 http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br
22 http://www.jblog.com.br/marceloambrosio.php
Nos Estados Unidos a ocupação é ainda maior, tanto que, hoje, passados quatro
anos do “boom” do uso dos weblogs, 86% dos 100 maiores jornais americanos 23
utilizam-se de blogs em suas versões na web.
Porém, tanto no Brasil, nos Estados Unidos e em grande parte do planeta,
esses blogs usados nos jornais online, em sua maioria, nada mais são do que a
transposição de uma coluna de opinião que já existia (e continua existindo) na
versão impressa do jornal. Como diz Palacios (2006 b), essas colunas apenas
“mudaram de nome e se tornaram mais dinâmicas, com atualização contínua e a
possibilidade de inserção de comentários dos leitores”. Ainda mais importante do
que isso é a questão de que esses blogs, independente do conteúdo abordado, não
utilizam links para outros sites que não os do próprio grupo midiático no qual estão
inseridos, contrariando um dos cinco pontos fundamentais da constituição de um
blog apresentado por Salaverría e Nocí no primeiro capítulo deste trabalho: o de
possuir links para outros sites que tenham relação com o conteúdo abordado no
post. Em outras palavras, são blogs que funcionam em uma espécie de “circuito
fechado” particular, ignorando a existência de toda uma comunidade de informação
externa que se retroalimenta constantemente. O resultado é que eles acabam por
não fazer parte da produção da multivocalidade característica da chamada
blogosfera, a comunidade a qual todos os blogs estão inseridos - quer dizer, todos
não, pois esses, como diz Palacios, enganam o leitor, “que julgam estar sendo
lançados na blogosfera enquanto de fato permanece firmemente ancorado à velha e
segura “Globosfera”, com o perdão do trocadilho” (2006 b). O autor ainda conclui a
discussão de forma contundente:
4.1 – A blogosfera;
Desde o seu surgimento, no início dos anos 90, quando ainda nem eram
conhecidos pela atual nomenclatura, os weblogs se caracterizaram por ser uma
espécie de filtro do emaranhado de conteúdos disponíveis na rede. Esse filtro se
manifestava na forma de links para outros sites da rede escolhidos pelo editor do
site, posteriormente chamado de blogueiro, que, nesta época, quase se utilizava
somente desse recurso para construir a sua página - tanto que o significado do
primeiro termo usado para definir blog, de 2001, é o de uma coleção de links com
comentários. O esquema de funcionamento dessa “linkagem”, como diz Giuseppe
Granieri (2005), é simples:
“O blogueiro A publica uma opinião em forma de breve comentário,
artigo ou como um post-teste em seu blog. O blogueiro B lê e o adiciona,
comentando no post original ou mesmo escrevendo um outro post em seu
próprio weblog, linkando o blog A nele. O blogueiro C faz o mesmo (que o
B) e assim a coisa vai. Não é incomum encontrar casos como de um
blogueiro R, que reconstrói a discussão linkando as contribuições do A até o
Q e linkando tudo no seu próprio blog24” (GRANIERI, 2005, p. 35).
24 “Il blogger A individua uma risorsa sul web o pubblica um’opinione sotto forma di breve commento,
articolo o anche saggio. Il blogger B legge e há qualcosa da aggiungere, quindi commenta il post
originale o ne scrive uno sul suo weblog, linkando il blogger A. Il blogger C f alo stesso, e cosi va. Non
è infrequente trovarsi nel caso del blogger R che ricostruisce l’intera discussione linkando tutti i
contributi dalla A allá Q e aggiungendoci del suo”. [Tradução do autor]
Como um nó de uma grande obra coletiva hipertextual, cada blog abria
caminho para outros quantos, e quem entrasse em um dificilmente não iria para
outro, e outro, assim sendo que, desta maneira, cada leitor tinha a oportunidade de
criar uma experiência de leitura fragmentada de acordo com o seu interesse, sem
responder a qualquer seqüência lógica pré-programada.
Cada novo blogueiro que adentrava a essa rede incorporava de modo natural
o modus operandi dela, linkando outros blogs sucessivamente, incentivado pelo fato
de que, como diz Granieri (2005), o sistema de geração de conteúdo dos weblogs é
marcado pela generosidade: um blogueiro lê um post interessante e o cita em sua
página linkando a fonte sem qualquer receio, pois é assim que o esquema funciona:
“o que em um sistema competitivo seria um suicídio, no sistema dos weblogs é
praxe”, afirma Granieri (2005).
Esse sistema, baseado fundamentalmente nos links e a cada blog adicionado
mais complexo, se convencionou chamar de blogosfera, que é definido por Orihuela
(2006) como “um espaço na web em que tem lugar as múltiplas conversações que
se estabelecem entre os blogs e a cultura que geram os blogueiros”. Como dito
antes, por proporcionar um esquema de leitura fragmentado de acordo com o
interesse da cada pessoa e por não ter regras rígidas para serem seguidas, a
blogosfera tem por características, segundo Orihuela (2006),
25 “La blogosfera es um espacio virtual y uma cultura real: es el espacio de la web em que el que
tienen lugar las múltiples conversaciones que se estabelecen entre los blogs y es la cultura que
generan los bloguers”. [Tradução do autor]
analisado, o jornalismo. Através da leitura da bibliografia sobre o assunto, chegou-se
a definição de adotar o conceito de campo, e conseqüentemente o de campo
jornalístico, para mais a frente se trabalhar com alguns aspectos específicos vindos
da aproximação da blogosfera e do campo jornalístico. Antes de se entrar no
assunto propriamente dito, cabe aqui realçar que não é objetivo deste trabalho se
aprofundar no conceito de campo, que já tem uma longa tradição de estudos na área
das Ciências Sociais, mas sim usá-lo de maneira inicial como um possível caminho
para estudar o fenômeno em questão.
26 Não convém a este trabalho se aprofundar no conceito de ‘habitus’, que, assim como o de ‘campo’,
tem uma longa tradição de estudo na área das Ciências Sociais.
podem existir, mas a luta que, por exemplo, quem não pertence ao campo faz para
manter esta posição que ocupou é de tal forma desigual em comparação com outros
agentes já consolidados no campo que ele dificilmente consegue resistir e acaba
sendo expulso deste campo.
Em “Sobre a Televisão”, Bourdieu (1997) afirma que “o mundo do jornalismo é
um microcosmo com leis próprias (...), o que significa dizer que o que nele se passa
não pode ser compreendido de maneira direta a partir de fatores externos”. Ou seja,
as leis vigentes no mundo do jornalismo - como, por exemplo, o critério de
noticiabilidade usado por determinado jornal diário – não podem ser entendidas de
maneira direta a partir de questões trazidas por agentes externos ao campo. Para
continuar no exemplo, um empresário de uma empresa metalúrgica tradicional –
pertencente ao campo metalúrgico, portanto - não irá compreender objetivamente o
porquê de a sua empresa, que teve um lucro astronômico durante o ano, não ter
ganhado destaque extra na capa de determinado jornal diário da sua cidade. O fato
de o empresário ser um agente externo ao campo jornalístico tornará difícil a sua
compreensão de que, por mais importante que a empresa for para a cidade, ela não
poderá ganhar um espaço demasiado na capa pois os seus lucros não são
diretamente de interesse público, que é um dos critérios fundamentais de
noticiabilidade.
O campo jornalístico, de forma simplificada, pode ser caracterizado ainda
como um espaço estruturado em determinadas posições. Este “espaço”, ou
“sistema”, é o local onde estão presentes os agentes do campo, os jornalistas, que
são regulados por regras e leis próprias que caracterizam e também regulamentam
a profissão – é o habitus do jornalismo. É importante a compreensão do conceito de
campo jornalístico, bem como a sua visualização, para que se consiga entender
como que se dá a aproximação da blogosfera – que não é um campo estruturado
como o jornalismo, mas ainda um fenômeno disperso – junto a ele.
Por ser gratuito e de fácil acesso, qualquer um pode criar um blog e postar o
que quiser nele, inclusive informação de relevância jornalística. Assim, ocorre a
liberação do pólo de emissão da informação para qualquer um que tenha o interesse
em obtê-lo, não o deixando somente com os agentes do campo jornalístico.
Subverte-se o tradicional lugar de emissão; é aberta uma brecha para que outros
emissores possam ocupar um espaço que até então não existia, fazendo com que
mais pessoas tenham o seu lugar para informar e o use da maneira que achar
adequado – muito embora ter esse espaço, por si só, não garanta uma visibilidade
significativa a ele.
A facilidade já citada de se criar um blog faz com que qualquer pessoa que
queira disponibilizar sua informação tenha possibilidade de fazer isso. Dessa
forma, cresce ainda mais a possibilidade de qualquer cidadão participar na
produção e veiculação da informação, aumentando o potencial do chamado
jornalismo participativo27 e provocando ainda mais discussões se este novo
“cidadão-repórter” pode ou não se tornar agente do campo jornalístico.
7) De audiência a rede;
27 O jornalismo participativo é definido por J.D. Lasica como “O ato de um cidadão ou grupo de
cidadãos, desempenhar um papel ativo nos processos de recompilação, cobertura, análise e difusão
de notícias e informação” (LASICA, 2003 b)
8) Novo ecossistema informativo;
28 “El periodismo sistema explica procesos en los que los hechos aparentemente nuevos o
inesperados son las sucesivas puntas de muchos icebergs sociales cuyas partes ocultas nunca
fueron lo suficientemente mostradas.Y para ello sabe que las noticias necesitan ser explicadas,
analizadas e interpretadas desde su principio (o desde su eclosión a la luz pública) hasta su fin.(...)
Ello significa en primer lugar la búsqueda de la máxima transparencia en la producción de sus pautas
periodísticas, en los criterios empleados para la inclusión (…) Implica ofrecer una explicación y un
seguimiento de los hechos noticiables que tenga en cuenta el proceso de su desarrollo desde todas
las perspectivas necesarias para su comprensión pluridimensional.” [Tradução do autor]
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOURDIEU, Pierre. Sobre a televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 1997.
HILER, John. Blogosphere: the emerging Media Ecosystem. How Weblogs and
Journalists worktogether to Report, Filter and Break the News. 2002. Disponível
em:
<http://www.microcontentnews.com/articles/blogosphere.htm> Acesso em: 15 out.
2006
LARA, Tiscar. Weblogs y Periodismo Participativo. Pauta Geral, nº6, jun. 2004,
pág. 216-239.
LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência. 10º ed. São Paulo: Ed. 34, 2001a.
OLIVEIRA, Rosa Meire Carvalho de. Diários públicos, mundos privados: Diário
íntimo como género discursivo e suas transformações na contemporaneidade.
214 p. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Culturas Contemporâneas) –
Faculdade de Comunicação Social da Universidade Federal da Bahia.