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C-4 Ciência Tecnologia e

Meio Ambiente
A TRIBUNA
www.atribuna.com.br
Segunda-feira 31
agosto de 2009
Segunda-feira 31
agosto de 2009
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Tecnologia e
Meio Ambiente Ciência C-5

Ciência
cienciaat@uol.com.br

Tecnologia &
Meio Ambiente
Ciência Tecnologia e
Meio Ambiente Ano 6 - nº 414 Produção: MF Assessoria de Comunicação. Telefone: (13) 3284-5894. Editor: Marcus Neves Fernandes. Diagramação: Luiz Sérgio Moura. Revisão: Glauco Braga. Publicidade: A Tribuna - Telefone (13) 2102-7181 Fax (13) 3219-6783

LUZ VILLA

SUSTENTÁVEL. Nem tudo que reluz é ouro, nem tudo que se biodegrada, desaparece

O mito da Bioplásticos, um sonho verde


❚❚❚ Óleo de soja, de buriti ou de No Brasil, cientistas da Uni- DARWIN BELL
Nunca no lixo

biodegradação
orégano. Cascas de laranja ou versidadeFederal do Rio Gran-
maça. Penas de galinha ou fi- de do Sul desenvolveram um
bras de curauá, uma planta da polímerocom propriedades se- A chegada dos
família do abacaxi. Parece re- melhantes, só que feito a partir bioplásticos pode dar a
ceita culinária, mas é pura quí- de bagaço de cana ou cascas de impressão de que
mica, substâncias que estão arroz. eles poderão ser
dando origem aos chamados Na Universidade de Brasí- descartados em
bioplásticos. lia, a química Jussara Durães lixões ou aterros.
Essas resinas, feitas a partir optou pelo óleo de buriti, uma Mas esse é outro
de recursos renováveis, são ho- palmeira abundante no Norte- mito. O grande
je uma das maiores tendências Nordeste. Com ele, é possível diferencial desse
da indústria, pressionada a fabricar de óculos escuros a tipo de resina é não
substituir o petróleo como a janelas de aeronaves, além de ser feita de petróleo.
principal matéria-prima dos computadores, celulares e até Porém, se for para o
ARQUIVO
polímeros. Afinal, só nos auto- semáforos. lixo comum e daí para
Várias cidades pelo mundo, di- res, mas o material está lá, ele aterros ou lixões, ele
móveis o peso do plástico che-
versas no Brasil, já convivem não desaparece”. vai se degradar e
ga, em média, a 200 quilos. VALORIZAÇÃO
com leis que buscam coibir o Jaime Caettano, engenheiro gerar metano, um gás
Mas, com a ‘química verde’ A popular bandejinha de iso-
uso das sacolinhas de super- agrônomo e diretor da ONG 21 vezes mais agressivo
dos bioplásticos, é possível ob- por, muito utilizada no comér- com o curauá, muito comum
mercado. Aqui mesmo na Bai- Recicla Brasil vai mais longe. em termos de
ter espumas feitas com óleo de cio de frios e laticínios, já pode no Pará. Adicionada à fibra de
xada Santista já se estudam “É comum ouvir que determi- aquecimento global do
soja, que nos Estados Unidos ser feita com fécula de mandio- vidro, ele barateia a recicla-
legislações nesse sentido. Na nado tipo de plástico, por que o gás carbônico. “E
já equipam o Chevrolet Impa- ca e substâncias presentes na gem do produto.
maioria dos casos, a proposta é exemplo, demora 100, 200 ou pior, ao fazer isso, você elimina
la e o Ford Five Hundred, en- casca da laranja. A tecnologia “Além disso, uma vez viabili-
a adoção de plásticos bio ou até 400 anos para se degradar outro grande diferencial desse
tre outros. foi desenvolvida na Universi- zada a técnica, as comunida-
oxibiodegradáveis. Mas será na natureza. Mas não é assim tipo de produto, que por ser de
dade de São Paulo e na Univer- des paraenses ganham um no-
mesmo que essas opções resol- que acontece. A degradação fonte renovável, pode ser
BURITI sidade Estadual Paulista vo mercado com o curauá,
vem o problema? de qualquer material vai de- compostado, ou seja, se
Na Espanha, a mistura de (Unesp). gerando, ao mesmo tempo,
Para os especialistas consul- pender de uma série de fato- transformar em adubo e voltar
casca de maçã com óleo de Já no Instituto de Química uma possibilidade de renda e
tados pela reportagem, além de res, tais como umidade. E isso à agricultura. Esse é o ciclo
orégano permitiu o surgimen- da USP, o professor Marco Au- valorização da natureza, por
não resolver, essas alternativas também vale para os bio e virtuoso, onde nada se perde,
to de embalagens antibacte- relio De Paoli trabalha na pro- meio da qual se evita a ativida-
acabam porconfundir osconsu- oxidegradáveis”. tudo se transforma”, explica
rianas, ideais para a proteção dução de uma fibra, semelhan- de meramente predatória”,
midores, mudando o verdadei- Eloísa Garcia (Ital/Cetea).
de alimentos. te à de vidro, só que produzida avalia o especialista.
ro foco da questão. ARQUEOLOGIA
Segundo o professor Sabetai Para entender melhor essa
Calderoni, da USP, “o vilão não questão, recorremos a um ar-
é a sacolinha plástica em si, queólogo. André Wagner Olia-
mas sim o destino que damos a ni Andrade, da Universidade
ela”. de São Paulo (USP), faz um

O curioso mundo ‘novo’ das embalagens


trabalho inédito no Brasil. Ele é
INEFICIENTES ‘arqueólogo de lixo’ (veja qua-
Hoje, estima-se que mais de dro na página).
70% das sacolas utilizadas no Oliani escavou o aterro de
País são jogadas fora no lixo Volta Fria, na cidade de Mogi
comum. Esse rito sumário tem das Cruzes, na Grande São Pau-
várias origens. A primeira é a lo. No total, coletou cerca de 10 FOTOS DIVULGAÇÃO
falta de conscientização da co- mil itens, retirados de uma pro- ❚❚❚ Para muitos, a embalagem
chega a ser mais importante
munidade, aliada a programas
públicos ineficientes, tanto de
coleta de lixo limpo como de
educação ambiental.
fundidade de até 12 metros. Pa-
ra isso, utilizou técnicas e méto-
dos da arqueologia, ou seja,
“quanto mais fundo descemos,
do que o produto. O raciocínio
pode parecer estranho, mas
pesquisas feitas ao longo de
5 1
Na Baixada Santista, por mais voltamos no tempo”. vários anos comprovam o seu
exemplo, menos de 2% dos reci- Em termos de datação, os 12 alto poder de persuasão. Hoje,
cláveis gerados pela população metros equivalem a recuar dez com a preocupação ambiental
chegam aos centros de triagem anos no passado, explica Andra- em alta, os designers voltaram
– média que se repete em todo o
País, com raras e honrosas exce-
ções, segundo o Compromisso
Empresarial para Reciclagem
de, que acabou descobrindo
que o lixão tem as suas próprias
regras.
“Encontramos um rolo de
a sua criatividade para o sus-
tentável. Já existem várias op-
çõesno mercado,algumas mui-
to curiosas.
2
O efeito bolha de sabão. Parece sumir quando estoura,
(Cempre). mas apenas se transforma em resíduos menores papel higiênico a seis metros Na Colômbia, por exem-
Por esses e outros motivos, de profundidade. Isso equiva- plo, o fabricante de um doce
começaram a surgir as sacoli- le há cerca de cinco anos. Deve- muito consumido naquele
nhas biodegradáveis e as oxi- ria estar decomposto, mas es- país aboliu a velha embala-
biodegradáveis. Há casos, co- EDUCAÇÃO do Centro deTecnologia deEm- é solução. Gestão integrada, Brandini, da Universidade Fe- tava quase intacto. Já uma em- gem plástica. No seu lugar,
mo nas cidades de Caçapava e No meio de todo esse imbróglio balagens (CETEA), do Institu- consumo consciente e educa- deral do Paraná. Segundo ele, o balagem plástica, localizada passou a usar a própria cas-
Guarulhos, em que leis foram jurídico e de termos por vezes to de Tecnologia de Alimentos ção ambiental são os instru- termo biodegradação se trans- em uma área mais úmida do ca do fruto (um tipo de me-
sancionadas visando tornar incompreensíveis estão os con- (ITAL), órgão ligado à Secreta- mentoseficazes para uma socie- formou em sinônimo de sumi- aterro, a quatro metros de pro- lão, foto 1), que normalmen-
obrigatórias essas duas op- sumidores. Novamente, a parte ria de Agricultura e Abasteci- dade que busca o desenvolvi- ço, desaparecimento, quando, fundidade, praticamente se es- te era jogada fora. A novida-
ções. Hoje, porém, são motivo principal do problema está sen- mento do Governo do Estado mento sustentável”, afirma. na verdade, isso não ocorre. farelava ao ser tocada. Teorica- de agradou em cheio e ainda
de liminares que questionam a do deixada de lado, como expli- de São Paulo. Opinião semelhante tem o “Apenas transformamos peda- mente, não deveria estar tão trouxe uma sensível econo-
sua constitucionalidade. ca Eloísa Garcia, pesquisadora “Biodegradação também não oceanógrafo Frederico Pereira ços pequenos em outros, meno- degradada”. mia ao produtor, pois a úni-
ca parte não degradável pas-
sou a ser um filme que reco-
bre a iguaria.
Aos poucos, esse tipo de pro-
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Briga de interesses? Garbology - olhar na intimidade posta começa a mudar o visual
de produtos bem tradicionais,
LLUIS RIBES PORTILLO
tais como os curativos do tipo
Afinal, o que é melhor para o meio ambiente No início da década de 1970, alguns arqueólogos ‘band-aid’ (foto 2). A empresa
(leia-se qualidade de vida)? As sacolinhas bio ou começaram a estudar o lixo produzido nas cidades. chinesa Broadhong topou o de-
SHLOMIT WOLF
as feitas com plásticos oxibiodegradáveis? A Nascia a ‘garbology’, ou ‘arqueologia do lixo’. A ideia safio e acabou por reinventar a lar ecológico construído a par- dos nos aterros e lixões, irão los para a Cooperativa, onde
diferença básica está no processo de produção (e era aplicar métodos científicos para compreender a tradicional caixinha. tir de bioplásticos. sedesprender e podem conta- sãorecicladosemtrocadepon-
nos interesses que envolvem seus fabricantes). comunidade moderna. “Se temos o costume de Ao invés de serem revestidos A parte exterior do aparelho minar o meio ambiente. toseretornofinanceiro.
Ambas são feitas com derivados de petróleo. Os
produtores do plástico ‘oxibio’ afirmam que elas
se decompõem com mais rapidez do que as
biodegradáveis. Já os representantes deste
entender as sociedades passadas por meio de seus
resíduos, porque não fazer o mesmo com o lixo
atual?”, questiona André Wagner Oliani Andrade,
arqueólogo. Hoje, escolas norte-americanas e
unitariamente, passaram a ser
oferecidos em rolo, do tipo ade-
sivo. A mudança, ainda restri-
4 é feita com 40% de resina pro-
duzida a partir de amido de
milho. Dessa forma, além de
não utilizar PVC (poli cloreto
JOGO DA RECICLAGEM
Emtodosesses exemplos, per-
cebe-se não só a preocupação
Cada jogador movimenta
umaequipedeatéquatroCata-
dores, que disputa a coleta de
materiais, e administra uma
ta ao mercado asiático, redu-
último tipo dizem que as ‘oxibio’ contém europeias adotam a didática. A ideia é ‘conheça-te ziu o tamanho da embalagem de vinila), foi possível reduzir com o uso de materiais me- Cooperativa, com área de reci-
substâncias tóxicas, ou seja, se por um lado se por meio do teu lixo’. Tanto aqui como no exterior, de papelão em até dois terços, drasticamente o emprego dos nos nocivos, como, também, clagemeaterrosanitário.Aspe-
degradam mais rápido, por outro contaminam o algumas constatações são idênticas: entre 80% a economizando no seu trans- chamados ‘BFR’, substâncias procura-se facilitar o descar- ças do jogo são feitas com resi-
meio ambiente. Para Eloisa Garcia (Ital/Cetea), o 90% dos resíduos eram reaproveitáveis. “O grande porte e estocagem. químicas tóxicas empregadas te, incentivando o máximo nadePETepedaçosdeembala-
ideal não é acabar com a sacolinha, mas evitar problema é a ineficiência das políticas públicas em caixa que ao invés de plástico, como retardantes de fogo. possível a reciclagem. genslonga-vidareciclados.
que ela vá parar na natureza ou em aterros relação ao lixo”, afirma o professor Sabetai PAPEL HIGIÊNICO também usa papel reciclado. Já a embalagem exterior do E por falar em reciclagem, O ‘Recicle’ é uma criação
sanitários e lixões. “Ela deve ser reaproveitada e Calderoni (USP). Segundo dados do Ministério das E por falar em produtos tradi- Além disso, ele não usa subs- celular é composta por 70% de acaba de ser criado no Brasil do designer Luish Coelho e
só descartada no lixo limpo”. Mas, em um ponto, Cidades, R$ 23 milhões são gastos diariamente no cionais, o papel higiênico tam- tâncias químicas no clarea- papel reciclado. As imagens e um jogo de tabuleiro cujo te- está sendo comercializado
todos concordam: a melhor alternativa é a boa e País apenas para coleta e transporte dos resíduos bém já possui a sua versão de mento da fibra. texto na caixa são impressos ma gira em torno de materiais (R$89,00 + frete) pela sua
velha sacola retornável. Atualmente, o Brasil urbanos. Calderoni é taxativo. “A ordem correta, na baixo impacto ambiental. O mercializada em vários países. Um dos mais recentes lança- com tinta à base de soja. Esse é orgânicos e recicláveis (papel, empresa, a Bico de Lacre
consome 12 bilhões de sacolas plásticas por ano e hora de pensar soluções para o lixo, é a redução da primeiro passo foi utilizar fi- Recentemente, surgiuna Eu- mentos na linha sustentável é um detalhe importante, já que vidro, longa-vida, plástico e (www.bicodelacre.com).
cada brasileiro usa cerca de 66 sacos por mês, geração em primeiro lugar, seguida da reutilização, bras oriundas de papel recicla- ropa a versão Ever-Green (foto o Samsumg Reclaim (foto 4), essas tintas, em muitos casos, metal). Batizado de ‘Recicle’
segundo dados da Associação Brasileira de reciclagem e, por fim, o seu aproveitamento do, versão industrial ainda ine- 3). Feito com 100% de fibras que está sendo comercializado utilizam elementos como o (foto 5), sua mecânica envolve
Supermercados (Abras). energético”. FONTE:HTTP://EMBALAGEMSUSTENTAVEL.
xistente no Brasil, mas já co- recicladas, ele vem em uma nosEUA como oprimeiro celu- chumboque, uma vez descarta- coletar esses resíduos e levá- WORDPRESS.COM

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