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FLEMENTOS PARA UMA TEORIA MARXISTA DA SUBJETIVIDADE® Ricardo Antunes Professar de Sociologia do Insivzo de Filosofia e Giénc Humans da Unicarg © autor, ferire outros, de A rebelcia do tabalho, Ed. de Unicamp, Este livro tematiza sobre uma dimen- so central do ser social: seus autores tim como preecupaciic comum o resgate da pro- blematica da subjetividade, isto é, buscam entender a questéo da individualidade na histéria, das formas de subjetivagaio que Ihe correspendem, conforme a Apresentagio de Paulo Silveira que, junto com Bemard Doray, fol responsavel pela organizagic do livro. Tema desconsiderado por diversas ver- tentes do pensamento “marxista” (basta pensar na brutalizagao stalinianae stalinista, de um lado, © na negagao do sujeito pre- sente nas leituras de corte estruturalista & anti-humanista). Este livre procura resgatar os nexos existentes entre a subjetividade e a objetividade, entre a coisidade do mundo real e as formas da consciéncia. ‘O ensaio de Paula Silveira procur acorn panharo pensamento de Mane, desde aformu- lagde acerca da Alienagdo ¢ do Estra- nhamento até o fetichismo, centrando esse resgate nos Manuscrios de 1844, em um pequeno excerto dos Grundrisse e na tema- tizago da mercadoria feita em © capital Trata-se, segundo 0 autor, de apreender a dialeticidade "do sujeito ¢ do objeto, do homem ¢ da natureza, do homem consigo mesmo e com os outros homens, do homem edacoisa, do homeme dotetiche, dohamem e da histéria, do homem na histéria, numa palavra: da praxis humana”, e desse modo procurar caplar os elementos centrais cons- titutivos da teorfa manana da subjetividade, suas complexas conexées com o mundo da materialidade, enfim, daquilo que, nas Teses sobre Feuerbach, Marx chamou de atividade humana sensivel Paulo Silveira parte da importante © pouco usual distin¢o entre Alienacao (En- tausserung) e Estranhamento (Enttrerndung) © primeiro, diz, refere-se & “alguma forma de perda, de privacdo, por parte de um sujei- ta” ea segundo designande “um alheamento (implicande @ autonomizagae de um poder hostil), que se situa do lado do ebjefo, ainda que seja referide a um sujeite’, para, a0 final desse percurso, indicar nexos possi- veis, a partir da andlise do fetichismo, entre essa formulagéo marxiana € a psicandlise de inspiragao treudiana. Em suas palavras: “Manx, como vimos, distinguiu a alienagao © © fetichismo da religifo dos mesmos pro- cessos em relagdo & mereadoria; aqueles por circunscreverem-se & dimensao da cons- Giéncia e estes ditimos por abrangerem a propria vida efetiva, Essa distingao nao ape- nas permite que se considere 0 fetichismo da mercadoria irredutivel as formas de cons- ciénela, como o situa como uma internall- Zagao, a tal nivel de profundidade que, indisou- tivelmente, néio pade ser outro seniie o do inconscient * Paulo Silveica © Bernard Doray (org,), Ed. Vértice. SP, 1989, pp. 206. 7 fe No ensaio “Da produgao a subjetividade — referéncias para uma dialética das for- mas", 0 psiquiatra francés Bemard Doray também caminha tentande apreender ele- mentos de conex4o entre marxismo e psica- nalise: ambos “ndo se situam no mesmo terreno, e todas as tentativas de sintese “freudo-marxistas’ forgadas revelaram-se geralmente estéreis. No entanto, se, como penso, a teoria psicanalitica ¢ algo bem dife- rente de uma fenomenclogia dos processes induzides pelo tratamento, entao, o marxismo, por levar em conta os homens reais, deve aprender a assimilar de maneira criti ° gue a psicandlise nos ensina sobre a subje- tividade” Além destes, o leltor encontraré um con- junto abrangente e multicisciplinar de ensaios, como 0 da filésofa francesa Michéle Ber- trand ("O homem clivade - a crenga e 0 imaginaric"), do filésofo argentino Leén Rozitc- ner (“Mare Freud: a cooperagii eo corpo produtivo”), e dos franceses Lucien Séve ("A personalidade em gestagao") ¢ Yves Clot ('O marxismo em questo”), tedes buscando redimensionar 28 questées referentes “a0 carter relacional ¢ histérico de homem eda natureza, do sujeite 2 do objeto e das pré- prias relagdes dos homens entre si e consigo mesmo”. Este livro é, portanto, uma contribuigéo na busca do entendimento das miiltiplas for- mas de estranhamento, que tém tolhido & impossibilitado a efetiva identidade entre indi viduo e género humano. E essa desiden- tidade, que se universaliza na sociabilidade do capital, absta a efetivagao da individuall- dade humana emancipada.

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