Você está na página 1de 77
O LIVRO NO ENSINO DE CIENCIAS Neste capitulo so comentados aspectos importantes do ensino de “signvias & do uso de materiais de leitura cientifica, na escola de primeiro grau. Os principais pontos discutidos s4o: 1. Objetivos do ensino de ciéncias. 2. Papel e importéncia da leitura no ensino de ciéncias. 3. As caracteristicas do livro-texto de cléncias. 4. Como usar 0 livro de ciéncias na escola 5. Selegdo de livros de ciéncias. 6. Outrds materiais de leitura cientifica. CAPITULO 1 - Objetivos do ensino de Ciéncias © avango da ciéncia e da tecnologia tem rapidamente transformado 0 mundo ¢ a vida das pessoas. Cada vez mais 0 homem necessita de conheci- mmentos cientificos basicos para acompanhar 0 mundo e se integrar no grupo social porque o proprio meio esti a Ihe solictar esses conhecimentos. Por. tanto, quando se fala em objetivos do ensino de Ciéneias, a primeira coloca- G80, geral © anterior a outros objetivos especificos, € de que o ensino de Cigncias deve permitir, & crianea e ao jovem passar da posicto de espectador do mundo para a de participante ativo da sociedade onde a cigncia e a tec= nologia ocupam lugar de destaque. Quando se trata de especificar os objetivos do ensino de Ciencias, uma série “enorme pode ser proposta e 0 professor certamente ji tera observado isso, a partic dos manuais e da literatura a respeito. De tim modo geral, 0 ensino de ciéncias no 1° grau deve procurar desenvoiver no aluno as seguin tes. habilidades: identificar e definir problemas cientificos; @ sugerir ou formular hipoteses; @ interpretar informagdes dadas e tirar conclusées; © avaliar criticamente afirmacdes feitas por outras pessoas; @ raciocinar quantitativamente e simbolcamente; @ usar 0 confiecimento da citncia para ag2o social responsivel. Essas habilidades envolvem outras, como. por exemplo, as. seguintes: @ frente a uma quantidade de informagées, isolar "um problema ¢ formulé-lo de modo a permitir um tratamento sistematico, @ reconhecer relagdo de causa-efeito, reconhecer a consisténcia logica ¢ a plausibifidade’ de uma hipdtese, confrontando-a com’ leis, Tatos, experiéncias; ¢ selecionar 0 principio aplicdvel a uma dada situacao, planejar experimentos para obter dados apropriados: formular conclusdes valida; reconhecer ou obter generalizagdes vilidas; avaliar criticamente; © compreender © usar informagdes numéricas, relagées simbélicas, Btificos, mapas, tabelas etc “ A diferenga de nivel de escolarizagdo dos Slunos, nas varias séries do ensino, pressupde adequagio do contetido ¢ no distingdo de objetivos. Muitas vezes 0 professor se vé mais ou menos forgado a cumprir deter- minado programa. Isto ocorre principalmente nas. primeiras series, em decorréncia da oficalizagio, pelos poderes publicos, de’ programas aprovados © recomendados E importante lembrar que 0 objetivo do ensino muitas vezes & confun- dido com 0 cumprimento de um programa e poucas coisas podem prejudicar mais 0 ensino de ciéncias do que essa confusto, Um programa de ciencias no pode ser rigido; ao contratio, deve oferecer opedes, ainda que em nic mero limitado, para que 0 professor possa se desempenhar com mais acerto, Sua flexibilidade permite adaptacdes ¢ ajustamento aos recursos do professor, ais necessidades dos alunos ¢ as condigdes do. meio. © professor deve estar atento para incluir temas fundamentais, a fim de no incorrer no erro de organizar um programa de extensio exagerada. Esta devera estar condicionada ao tempo disponivel © as condigbes da classe — ‘dade, nivel e pré-requisitos dos alunos. Em estudo feito com dezessete professores de cincias de onze paises, verificou-se que mais da metade deles adotam unicamente 0 método expositi- vo; cerea de um quarto realiza algumas demonstracdes em classe, paralela mente ao método expositivo, ¢ apenas dois dos professores em questo ado- tam 0 método experimental. Esses dados indicam que 0 ensino de ciencias de modo geral, se faz através de métodos tradicionals, negando-se ao zluno a oportunidade de. participar, de euvidar, de testar, de experimentar, de con: cluir, de generalizar, de_aplicar os conhecimentos. © professor que’ ensina Ciencias deve, antes de tudo, lembrar-se de que 4 sua fungdo nfo é de interpretar a Ciéncia para o estudante, mas principal- mente, ajudar o aluno a observar fendmenos, aplicar procedimentos ¢ interpretar dados cientificos e familiarizar-se com eles. 2 - Papel e importancia da leitura no ensino de Ciéncias Da mesma forma que programa nfo & um fim, também a leitura a ser desenvolvida pelos alunos ndo deve ser concebida como um fim, nem & sufi- Glente para o'bom cumprimento de um programa com objetivos corretamente estabeleeidos, Apesar disso, a leitura, em um curso de Ciéncias, tem papel importantissimo. ‘De modo geral, os alunos tém interesse em procurar, por si mesmos, res- postas a perguntas que Ihes sejam formuladas. Isto ocorre j& nos primeiros hnos de escola. Portanto, dar ao aluno a resposta pronta, se outro mal no tivesse, pelo menos representaria a privagdo de uma tendéncia natural do intelecto: a descoberta, Entretanto, a iniciativa do aluno predetermina duas condicdes: uma referente a atitude do professor, outra referente @ natureza dos livros (sobre esta tiltima falaremos mais adiante). Em relagdo 20 professor, € necessirio que este desenvolva nos alunos habilidade de leitura critica, seletiva, que, por sua vez, exige habilidade de ocalizagao em indices, diciondrios, glossirios etc. O papel do professor sera também de orientar e dirigir a leitura, a fim de que os alunos obtenham as Tespostas desejadas. O professor, como dissemos, nfo dard respostas, mas, atraves de questdes € mostrando relagdes, conduzira o aluno a descobrir a solugo. Abrira, assim, 0 caminho para o pensamento critico, num programa de leitura ampia. Mas qual € 0 papel da Ieitura, num programa de Ciéncias? © propésito da Teitura varia desde a busca de informagdes para respon- der a uma questo (proposta até mesmo pelo. proprio aluno) até esclareci- Mentos sobre um principio ou conceito evidenciado por um experimento, Isto io quer dizer que as aulas de Citncias devam ser sessbes de leitura. O pro- fessor deve usar a leitura na devida oportunidade, mesmo num curso de ini- ciagao, para atender a objetivos variados, por exemplo: como fonte de informacdes para realizagdo de experimentos, atividades fe para formulagdo de problemas; para confirmagio de experimentos para estabelecer analogias, de- Monstrar teorias, permitir generalizagdes; como fonte de dados para pesquisa; para exemplos adicionais, para reforcar uma atividade anterior; para resumir as idéias importantes de uma unidade de estudo, Eprendizagem cientifica deve ser feita através de leitura. Nao obstante a observagdo ea experimentagdo serem mais diretas, é impossivel realizar todos os experimentos e observagées requeridos pelo ensino de ciéncias ¢ & indispensavel recorrer a textos que orientam, esclarecem e completam as pes- quisas, as priticas de laboratdrio e as observagdes. Nas primeiras séries, a lei- tura de textos ajuda a resumir discussdes, procedimentos, observagdes; nas series mais adiantadas, a leitura tem fins mais amplos e suas formas sio diferentes. Os alunos podem ler para definir melhor um problema ou para encontrar informacdes sobre fatos observados experimentalmente. Se um Experimento no di o resultado esperado, a leitura da indicios sobre 0 que nao estava correto € porque. O ensino de Ciéncias deve orientar o estudante ha destreze para ler informacdo e literatura cientifica em geral, com a pers- pectiva correta, O professor deve esclarecer os pontos obscuros, facilitar a Compreensio © ajudar a interpretaglo dos materiais lidos, Miem de tralar de fatos cientificos, a leitura no dominio das citncias serve para recreagdo e desenvolvimento de atitudes e valores cientificos: vida de cientistas famosos, historias de descobertas, textos simples sobre o desen- Volvimento da tecnologia so particularmente tteis para isso. O valor deste po de leitura nao precisa ser discutido e pode, até, influir na escolha futura da_profissio. 107 A medida que avanga em leitura, 0 aluno se familiariza cada vez mais ‘com 6 vocabulatio correto e especifico das Ciencias. O professor pode, tam- bem, promover atividades em que a leitura intervém para a localizagto de determinada informagdo, ou pode, ainda, programar leituras cientificas para exposi¢ao por grupos de alunos 4 classe. ‘Algumas sugestdes sobre leitura no campo de Ciéncias: fa) A leitura em Cigncias, a menos que tenha cariter recreativo, deve ter uma razio concreta, como: verificar conclusdes, responder perguntas, resolver problemas, encontrar dados, aprender como efetuar observa~ Ses experimentos etc. b) A leitura de temas cientificos deve utilizar-se de varias fontes, para que se complementem umas as outras ¢, dependendo do nivel da Classe, para que os alunos conhegam pontos de vista diferentes. ©) A Teitura em Cigncias pode ser uma atividade inicial, da qual se origi- nam outras atividades. d) Os materiais de leitura sero escolhidos pelo professor pelos alunos. ©) A leitura cientifiea deve proporcionar destreza no uso de indices outros tipos de referencias. f) Os materiais para leitura em Ciencias deverdo apresentar varios graus de dificuldade, para atender as possibilidades de cada aluno e para gue os alunos possam se desenvolver individualmente. g) Os alunos devem entender a distingdo entre a leitura cientifica feita para fins meramente recreativos ¢ a leitura para informacio cientifica, pois embora a primeira também tenha objetivos valiosos, sua_contri- buigao efetiva para a fixaglo e 0 desenvolvimento dos conhecimentos e dos procedimentos cientificos ¢ pequena ou nula. A leitura recrea- tiva é fortuita, temporaria e geralmente no é seguida de releituras. A leitura de textos cientificos para fins de aprendizagem é realizada de modo. sistematico, envolve anotagdes, esforcos de fixagdo, releituras posteriores, uso de dicionarios ¢ consulta ao professor para o esclare- cimento de diividas etc. Ndo se ajusta ao estilo de leitura superficial, muitas vezes inconseqUente, que a pessoa adota quando lé para simples recreagao, 3 - As caracteristicas do livro-texto de Ciéncias © livro-texto & 0 material basico de leitura com que conta o professor para desenvolver o seu curso, Ha muito que dizer sobre 0 livro de Ciencias ¢ Suas caracteristicas, fungdes, usos, processos de escolha e vantagens. Determinados aspecios do livro-texto so tio dbvios que & desnecessirio comenta-los. Ninguém discute, por exemplo, a afirmagdo de que o livro-texto Ge ‘Ciencias, como qualquer livro didatico, deve ter uma linguagem clara, facessivel, que favorega a compreensio por ‘parte do aluno. Este é um requi- sito importante pois a linguagem dificil, além de perturbar a compreensio, pode até colaborar para eriar aversio pelo estudo de Ciéncias e pelas leituras Ge cardter cientifico. Isso ndo significa que o autor nfo deva usar termos téc- hicos apropriados; mas a inclustio destes se fara no momento oportuno, com todos 0s esclarecimentos necessirios para a sua compreensio, nao se esque- cendo nunea das reais possibilidades intelectuais do leitor. Um. livro-texto de Ciencias deve oferecer um conteiido que reflita o estado atual das cigncias. Isto é, deve incorporar os avangos cientificos em faspectos que tenham significagao no momento atual, Mas @ também neces- Sitio que 0 contetido do livro se relacione com as caracteristicas do pais ou da regido. Estes requisites se justilicam pela propria concepcio atual de que 4 educagdo cientifica se constitui de principios ¢ generalizacdes que per- meiam amplamente as atividades humanas em geral. Desse modo, 0 livro- texto de Ciencias, mesmo nas séries iniciais, deve, em primeiro lugar, levar 0 aluno & compreensio dos principios cientificos, Mas a compreensio funcio- nal desses principios s6 se da quando 0 livro oferece condigdes para o aluno 108 associar as _proprias idéias, provenientes de sua experiéncia, aos referidos Principios, © permite a aplicago dos principios a situagdes priticas © desenvolvimento do texto deve corresponder a determinadas exigén- ceias. O tema central, por exemplo, ndo deve ser postulado no inicio. E pre- iso “‘criar 0 problema” do qual, muitas vezes, 0 aluno nio tem consciéncia, © problema, além de ser a forca motivadora, € parte indispensavel do pro- cesso de pensamento cientifico. O texto deve prosseguir de forma a favorecer © racioeinio do aluno, apresentando fatos, para levar o aluno, finalmente, a concluir com o principio em estudo. Apos essa etapa indutiva, segue-se a dedutiva: 9 aluno é levado @ examinar situagdes que mostram como o princi- pio se aplica a casos particulares. Essa sequéncia facilita a compreensio do texto € facilita, também, a assimilagio da nomenclatura técnica, se houver. Nesse particular, t8m grande significado as fotografias, ilustragBes e graficos que, quando apropriados, complementam o texto, ajudando a esclarecé-lo Para as séries mais adiantadas, & recomendavel que os autores incluam nos livros uma selegdo de textos clentificos simples, escritos por autoridades nos assuntos tratados. E recomendavel, também, que cada capitulo inclua uma bibliografia € sugestdes de leituras adicionais, mencionando 0 autor, 0 ti- tulo, 0 local de edicdo, a editora e o ano de edigho de cada obra, para que ‘© aluno tenha contato’ com fontes diferentes orientagdo para estudo mais aprofundado dos assuntos tratados no capitulo, Um texto de Ciéncias para o ensino de 1° grau deve permitir e facilitar a integracao do conteido com outras areas de ensino, principalmente com as Matemiticas © 0s Estudos Sociais. Por exemplo, pode-se propor a expresso matematica de um fenémeno fisico, tecer consideragdes sobre 0 quadro his- torico no qual foi descoberto ou examinar implicagdes desse fendmeno no modo de vida das pessoas ou do grupo social. Dessa forma, 0 texto de Cién- cias tera um valor educativo maior, permitindo ndo somente a integracao das reas de conhecimento como até mesmo a integragfo social do aluno na sociedade em que vive De modo geral, 0 livro-texto de Ciéncias apresenta uma seqiéncia de unidades ou capitulos que correspondem a um programa ou ao nucleo de um programa a ser desenvolvido. Ha, pelo menos, dois pontos a serem consi- derados em relagdo a essa caracteristica dos textos. Primeiro, a seqdéncia dos capitulos permite ao aluno estabelecer uma ordem em relagdo 20 conhe- cimento © oferece os ‘pré-requisitos para 4 compreensio do que € tratado mais adiante, Por outro lado, ndo € facil evitar certa monotonia na seqdéncia obrigatéria do compéndio, pagina a pagina, capitulo a capitulo, A rigidez na observacdo dessa seqiiéncia pode, até certo ponto, impedir a espontaneidade nna proposicéo de problemas e 0 aproveitamento de situagdes que emergem frequentemente nas salas de aula. Estas, apesar de ndo se ajustarem a0 com- péndio, sto igualmente relevantes e devem ser aproveitadas para novas desco: ertas € novas leituras. ‘As unidades ou capitulos do livro devem se basear em atividades experi- mentais € de observagio, oferecendo ao_aluno oportunidade para o desenvol- vimento do raciocinio, do pensamento reflexivo e da criatividade Sera, ainda, de grande utilidade para fins de avaliagdo do aprendizado, que, a cada capitulo, o livro oferega exercicios variados, planejados de forma inteligente para que nao sejam simples questiondrios que conduzem a pura verbalizagdo. Assim, além de itens que possibilitam a avalia¢do do dominio dos principais conceitos e principios, 0s exercicios devem incluir novos problemas “quebra cabecas” perguntas curiosas que levam o aluno a trans- ferit as nogdes assimiladas a situagdes diversas e interessantes para cle Os capitulos dos textos didaticos de ciéncias podem finalizar com trechos de leitura complementar sobre historia da Ciéncia, sobre a vida de cientistas ‘ou fatos sugestivos ligados 20 desenvolvimento da ciéncia e da tecnologia Alguns textos de Ciéncias sio acompanhados de guias para uso do pro- fessor, que representam um apoio, pois contém orientaglo e sugestdes para o encaminhamento do trabalho. ‘Um bom guia deve preencher determinados requisites, tais como: ) 0s objetivos © as idéias principais de cada unidade do livro-texto devem estar bem claros; ) os conceitos apresentados em cada unidade devem ser desenvolvidos de maneira rigorosa, de forma que contribua para 0 aprofundamento e/ou utilizagdo dos conhecimentos do. professor; ©) apresentar sugestdes tanto para ilustrar os conceitos como para felaciona-los com diferentes problemas ¢ caracteristicas locais; d) dar orientagao sobre os modos de introduzir cada assunto © estimular ‘os alunos ao estudo; e) fornecer instrucdes sobre tipos de experimentos ¢ observagdes, desde a formulagdo dos problemas até a apresentagdo das conclusdes; f) dar indicagdes importantes e oportunas: tipos de atividades extra- classe, de atividades de enriquecimento para ampliagio dos conheci- Mentos Obtidos, sugestdes sobre material audiovisual ¢ seu aproveita- mento, indicagdes bibliograficas para o professor e para os alunos. 4 - Como usar 0 livro de Ciéncias na escola Veremos a seguir um exemplo simples de utilizagao de um trecho de livro de Ciéneias, destinado as séries intermediérias do 1° grau RESPIRAGHO E FOTOSSINTESE (0s animais espiram. As plantas tambo respiram, Mas, se todos os seres vivos res pirame como. ainda exisie vida na terra? So so, mundo dos seres vivos s0 howesse 0 Proceso da respiragdo, a vida ft nfo existiia mais na Terra, O oxigen teria acabado & fedogios anima € planar team denapareido mihi, de anos $5 as plantas flo respiram apenas. A fotossintese € um processo que equilibra a sitwagior #000 efeito da Tuz solar, et plantas verdes eonservam 0 carbono elibertam ovigttio. essa mancira, a respragio ¢ a fotosintese se compensam. Peis folossntese, as plantas eolocam novamente no ar'© oxigénio retirado pela res pirasio, Primeiramente, 0 professor leri © texto e assinalaré as idéies principais, podendo anoti-las’ no proprio. livro: TP pardgrafe ~ $e 50 exintsse a respiracdo, nfo haveria seres vivos na 2° parigrafo — A fotossintese conserta a situacio. 3e parigrafo — A fotossintese © a respirago se compensam. 4 pardgrafo — As plantas verdes sio necessarias vida. Se hha algum erro de tipografia ou outra falha qualquer no texto, 0 pro- fessor deve assinalar © ponto correspondente, para lembrar, depois, os alunos. fm sepuide, 0 professor estabelece os objetivos que petende ating. Por exemplo: s alunos deverio ser capazes de 2) ideniicar « manifestacho do processo de respiracto dos vegetsis ¢ da fotossintese; b) identificar as vantagens do processo da fotossintese; ©) identificar as condigdes necessarias aos processos de respiragio das plantas e da fotossintese; 4d) planejar experimentos para demonstrar a respiracHo vegetal e a fotos- sintese, De acordo com o nivel da classe, a vivéncia dos alunos © 0 meio (ur- ano ou rural), 0 professor planejara’a introdugao do assunto, procurando luma razio ou propésito para a leitura, Nos meios urbanos, onde 0 problema da poluigto do ar €fato bastante comentado, o professor pode levantar uma discus- Sto sobre esse problema, de modo que algumas questdes propostas possam ser res~ pondidas pela leitura do texto. Outros textos também deverdo ser pesquisados para complementar e confirmar as informagdes obtidas. ‘Os alunos planejardo os experimentos necessarios a demonstracdo dos fendmenos, devendo o professor ter 0 cuidado de obedecer aos requisitos do método cientifico, no que se refere a: levantamento de hipdtese, organizacio de situagao experimental, obtencdo de dados, conclusdes, novas hipdteses. 110 'A reaizagio de experimentos poderd servir, ainda, para novos estudos © fo professor deverk indicat bibliografia complementat fessor devertessava must importante: as téenicas de ullzaglo de textes ae Rt, Uittaicos sugeridas ndo se destinam exclusivamente 20 profes: tere eos as propries alunos desconhecem procedimentos que Os ay. sor. E sabido aie deity dos livros que tém em maos. Por isso, 0 professor Jar ra og op sentido de criaem nabites de leitara slenciosa, com Ts pods orientilos no serendam a anotar as ideias principas do texto que clo. amo. E bom gue apse sifeuldades (para que pesquiem em outros livros) © tendo, assnal ance gro texto. Paralelamente Aeitra atenta eprodutiva, 0009, bom que quest one pera si uma razto ou propbsto para o extudo gue Teavere, que jh devem ter, pare rz observagao ¢ experimento ou materials omplemen- tares, -. ecessidade do proprio aluno saber usat o livro diditico & vital na edn ean “ReUesoolas se. utiliza, cada vez, mais, de teeniens de educacdo, moderns. AS_Ge_pesquisas individuals ou em grupo, cabendo 20 estudos ings Rengdo de coordenagor e orientador do aprendizade 5 - Selecéo de livros de Ciéncias [A selegto de_um livrocexto & problema que se renova periadicamente, xi nas SE° professor, respostas a uma série, de_ penguntas: Que stop exigind, do Prereseeerios, Quals sto os critérios mais importantes? Qual & see hcterstica. mais importante do livro? acteristics Talmente, preocupe 0 professor é saber se am determ.vace ure ee sats Go onciaimente por autoridades do ensino, Ou. ainda, Se 95 Liv fO aproceyo liv. Muito embora este titimo tipo de, aprovacis, SS colegas Prova eye do.livro, conver lembrar que € 0 proprio, professor indice qian e que, as concigBes de escolha precisam constanemyie Quem deve ee A experiencia ensina muito e uma escolhe, pouco felt, pose ser aprimoradas. 0. ¢SPprofessor faca outra melhor na. proxima oportunidade. vorrer para que © Preolegas podem ter bons critrios para opinar & res pete Heuer Hiro. Mas nao se deve esguecer do fato, d¢ ave € 6 Prapr Bete te ue, provavelmente, tem os_citérios mais validos: 0, protesey professor dbo. ambiente, os alunos e as suas possbildades ¢ Emiaso gus, comhecends 9 io, eo, excolher sic, ov aqucle lvro, Um texto pose deve, 8 Pecerogrequisitos. para determifados alunos ¢ professors, preencher certos toarente ov poco produtivo para outro tip de, pubice, mesmo {EPO pesto. signifiea que o grau de adequa¢do do livro pode Giriat, de. acordo com as cirounstancias. a, de acordo com, 3 ofessores a sclecionar bem os livros, relasionamos bain MPuthas earacteriicas comumente recomendadas para um, yro-esto abaizo, algumas ¢"Tesumem varios pontos examinados neste capitulo: ceitevagem clara, acessivel a0 nivel dos alunos: @) linguagem trafiea de bom gosto, que, a0 mesmo tempo, contribus pare a clareza dO texto; «) Rattrapaes sdequadas ¢ que complementem os textos Qiu raree atual’ de acordo com 08 avancos das ciencias 9) contetgo adequado as condigdes dos alunos; Bante getanizado (em, unidades ou capitulos) que revele imegractoy contelido orga ad? docrencia do autor no tratamento dos Assuntos, eau ia: ordenada, lbyicn, dentro de cad unidade ou capitulo; B) GAedblogia adequada ao ensino de Cigncias; 4») meseragae com outras areas do curriculo: 2p antegragdo Cgblemas, stuagbes moves que exam transferencin da aprendizagem; 1p Mbiogras relative aos assuntos de cada capitulo, ou unidads: bibliog se letras adicionais, para complementagdo, ou entre fugestors, 46 in sclacionadas com os assuntos (divulgacdo cientifice, mente, tambrrricos, aplicagoes praticas, ficgde, biografias, ‘ori do Ora foreninha, professor. de Historia do Brasil do Colégio Pedro Sublicou outra obra. com o mesmo titulo, Uma destinavarse, 30, crete, Pir publicou Ovgutra, em dois volumes, visava a estudantes mais adiantados Oct Oultes ivros. importantes sairam dos prelos no século 19. Sto ember 4 Hindria Geral do Brasil de Francisco Adolfo de Varnhagen, Vis. demas Fs Seguro, publicada em 1854-1875, obra que Capistrano, of conde de Porto Crea enriqueceram com suas notas, a Histérta do, Bras! ae Revert Southey, traduzida por Luiz Joaquim de Oliveira Castro, em mes 122 Joaquim Manoel de Macedo. © autor de A Moreninha escreveu alguns dos primeiros livros didéticos de Histéria do Brasil. dos do século passado, em seis volumes; € 0 Compéndio de Histéria do Brasil, de José Inacio de Abreu e Lima, publicado em 1882. ‘Nos catilogos brasileiros de livros diditicos do fim’ do Império do ini- cio do periodo republicano encontram-se registrados textos escolares como os Seguintes: Histéria do Brasil, Contada aos Meninos, por Esticio de Si e Mene- zes, “impressa e encadernada em Paris”; Episédios da Histéria Patria, Conta- dos @ Infancia, pelo Cénego Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro (primeiro Secretario do Institute Historico e Geogrifico Brasileiro e autor de varios livtos didaticos, poéticds, historicos, religiosos, de historia literaria e retérica), que, por volta de 1872, apareciam em sétima edigio; a Histéria do Brasil, de Aristides Serpa, volume que fazia parte de uma série denominada Curso da Histéria Universal, do Editor Serafim José Alves, © que podia ser adquirido separadamente da colegio; a Epitome de Histéria do Brasil, do Dr. Moreira Pinto, em edigdo ilustrada com retrato de homens ilustres do Brasil; a His- téria do Brasil de Feliciano Pinheiro Bittencourt; e a Histéria do Brasil Ensi- nada pela Biografia de seus Herdis, de Silvio Romero. com quatro edigdes publicadas até 1896. Na passagem do século, aparece a Histéria do Brasil, de Jodo Ribeiro, “primeito manual de Historia do Brasil em que a sistematiza- gio das forcas vivas superava a cronologia, a nominata, a eloqiéncia. Conjugam-se ai tradiglo. e sociologia; absorve a literatura as ciéncias auxiliares; 0 cultural domina o alegérico” (Calmon, 1956, pag. 392). Contribuicées_mai A partir do fim do século 19, intensifica-se 2 produgdo didatica nacional © amplia-se significativamente © quadro da pesquisa historica no pais. Multiplicam-se os estudos, as monografias, as obras de sintese, os artigos em _revistas e jornais e os cursos superiores, durante 0 século 20. Em matéria de livros de Historia do Brasil, avultam as contribuigdes de J. Capistrano de Abreu, Tobias do Rego Monteiro, Rocha Pombo, Manuel de Oliveira Lima, ‘Afonso de Escragnolle Taunay, Joaquim Nabuco, Otvio Tarquinio de Souza, Pandia Calogeras, Afonso Arinos de Melo Franco, Pedro Calmon, Caio Prado Junior, Helio Viana, Luis Camilo de Oliveira Neto, Alfredo Ellis Junior © is recentes outros. A criagtio da Faculdade de Filosofia, Cigncias ¢ Letras da Universi dade de Sdo Paulo (1934) possibilitou a realizago de pesquisas e o apareci- mento de estudos de grande valor, muito acima do antigo padrao de historia mais literdria e popular, que predominou no pais até a década de 20, ou das simples listas de fatos, datas e nomes rotuladas de “Historia do Brasil” “Historia da Civilizagio”. A influéncia de grandes historiadores estrangeiros — como Emile Coornaert, Fernand Braudel, Jean Gagé © outros — foi decisiva, € assim também as contribuigdes de Paul Vanorden Shaw, Euripedes Simdes de Paula, Astrogildo Rodrigues de Melo, Pedro Moacir Campos ¢ outros, para o florescimento das pesquisas historicas de nivel superior, na primeira Metade do século atual, Em 1950, Simées de Paula inicia a publicacio da Revista de Histéria, primeira revista brasileira exclusivamente devotada a publicagio de estudos historicos de alto nivel, nacionais ¢_ internacionais. Eventos igualmente importantes sio os langamentos, pela Editora Difusio Européia do Livro, das colegdes Histéria Geral da Civilizagao Brasileira (sob a diregdo de Sérgio Buarque de Holanda e redigida por numerosos historia dores, cientistas e pesquisadores brasileiros), Histéria Geral das Civilizacées (traduzida do francés sob a ditecdo de Euripedes Simoes de Paula e coorde- nada, na edigdo original, por Maurice Crouzet) © Histéria Geral das Ciéncias (diregdo. de René Taton, também traduzida da edigdo original francesa). Assinale-se, finalmente, 0 prosseguimento, até o presente, da publicagdo de series da mais alta relevancia como Brasiliana (Nacional), Documentos Bra- sileiros (José Olympio), Enciclopédia de Histéria Geral e do Brasil (Editora Del- ta) e outras, da Civilizacéo e Histéria Geral Aplicam-se & maioria dos compéndios do século pasado, no Brasil, © até a alguns dos manuais do século em curso, as observagées que Langlois ¢ Scignobs (1946) faziam em 1897 a proposite dos antigos Hiveosescolares fran- ceses de Historia: “Dava-se ao aluno um livro, 0 “compéndio de historia”; mas o compén- dio, redigido do mesmo modo que o curso do professor, nfo combinava com f ensino oral, de maneira a servir-lhe de instrumento; na realidade, dobrava- (0; €, quase sempre, dobrava-o mal, por ser ininteligivel para 0 aluno. ‘Os autores de compéndios (précis), adotando os processos tradicionais de epitomes (abregés), procuravam reunir © maior numero possivel de fatos, escoimando-os de todos os pormenores caracteristicos ¢ resumindo-os em. expressdes mais gerais e, portanto, mais vagas. O que ficava, pois, nos livros clementares era um tesiduo de nomes proprios e de datas ligados por for- mulas uniformes; a hist6ria se apresentava como uma série de guerras, de tra- tados, de reformas e de revolugdes, que sO se diferencavam pelos nomes dos povos, dos soberanos, dos campos de batalhas e dos nimeros designativos dos anos em que ocorreram” (pag. 227). Essas consideragdes retratam bem a velha linha dos compéndios escolares de historia, que desconheciam “a inutilidade perniciosa, no estudo de His- toria, de empanturrar a meméria, deixando-a crua de indigestio”, de acordo com uma frase de Escragnolle Doria. Somente em anos relativamente recen- tes passaram nossos compéndios a adequar de modo mais satisfatério a lin- guagem, o conteddo © a apfesentacio Brifica as exigéncias dos leitores aos Quais se destinam — os estudantes da escola comum. Certamente a recente reforma do ensino contribuira ainda mais para a reformulagio do contetido & da forma dos livros-texto na area de estudos sociais © em disciplinas como as de cariter historico, Ha poucas informagdes sobre velhos compéndios portugueses de historia universal, geral ou da civilizagdo que teriam sido usados no pais até o inicio deste século, Varios textos apareceram no Brasil, na primeira metade do sé- culo 19. Justiniano José da Rocha traduziu, por exemplo, a Histéria Romana, de Rezoir e Dumond, € a Histéria Antiga, de Poisson ¢ Cayx, ambas publica das no Rio de Janeiro em 1840. Vinte anos apos, impresso pela tipografia de Regenerador, aparecia 0 Compéndio de Histéria’ Universal do proprio Justi- eee EE Adolfo de Varnhagen, 0 Visconde de Porto Seguro, autor da Historia Geral do Brasil 2 esquerda, folha-de-rosto da 1* edigSo (1854). iano José da Rocka, Jornalista brifhante ¢ novelista, Rocha fot professor de niano José 22, Tegio Pedro Il, Iafluiu decisivamente na reforma ¢ Sse Historia sceiror Luiz Pedieira do Couto Ferraz, visconde, Sc, Bort Retiro: 1854, realizads, Per pedro TL passou a ter “duas cadeiras de MstOAa ¢ Bran far devendo 0 professor de uma ensinar a. hiss6ia © ‘geografia antiga © Fi oe yreoy da outra a parte moderna de tais eiéncias, com cespecialidade. a medieval. ¢ Cgrafia nacional”. Alem disso, “de 1854 em distie pase oy his- historia ¢ ge2erja como. preparatorio indispensivel & matrerts cursos \oneriores do Lmpério; ¢ nunca mais desapareceu do Proerimns dos estudos secundarios” (Doria, 1959, pag. 11). ndirio® (ieloe’ compendios de Historia usados durante © Império © 50 inicio da Repablica, figuram os seauintes i, da Repo cfiyarta Universal, de V. Duruy, ex-iministra, £9 Instrugio Conpendie eea iraduzido. pelo padre Francisco Bernardino de Souza, professor do Imperial Colegio Pedro TT. professor do ed Chiversal, de, Monsenhor Daniel, Bispo, de Commn Curso de Hisihradurido continuado até nossos dias” por Torani Maria GA Yiacerda, em quatro volumes: 1) Historia, Antiga, ‘contendo Historia Scgrada, Egipcios, Assirios, Medos, Persas, Gress © Romanos; 2) His- Sagrada. Folch iar 3) Historia Moderna: 4), Hiséria Comenpordie taria da destombo ou 0 Descobrimento da América. de L. Figuier tradu- cao de A. G. Zalular, Ge sendlo. de’ Histria, da Idade Média, de. Justinian, (oe) da Rocha. Compendia Universal, de. Aristides Serpa. vabrangendo, 27 Er Curse de Umeatro. volumes: Historia Antiga, Historia, Mest, Historia divididos materia do Brasil, que podiam ser adquiridos juntos ou 6 separado. separade qistéria Romana, de Tito Livio, coordenado ¢ escolhido por ‘Theil e traduzido por F. Vianna. Noses. de Historia Universal, pelo Dr. Moreira inte Nocdes ae trersal — Nopbes Sumdrias, por Joao Maria da Gime Berqud, Histéria Uriversal de. Pedro Parley, iraducdo de Lourenco Jos, Ribeiro. Fister ia Universal (Rudimentos), sem indicagdes do autor, fraduzido por Dt Maria Emilia Leal Histéria do Oriente e da Grécia (1892), por Joo Ribeiro Historia dos Povos da Antiguidade (sob 0 ponto de vista espirita), de Fran- cisco Raymundo Ewerton Quadros. Durante 0 periodo que se estende da primeira a segunda guerra mundial, no século atual, a bibliografia pedagogica brasileira de historia foi ampliada com varios compéndios ¢ séries destinados aos cursos ginasial ¢ colegial, Exemplos dessas novas obras e colegdes slo a Histéria Universal e a Histéria da Civilizacdo (tres volumes), de Joao Ribeiro, publicados em 1918 ¢ 1932-33, respectivamente; a Epitome de Histéria Universal, de Jonathas Serrano; a His- ‘dria geral da Civilizaedo (1916), de José Verissimo; os volumes de Histdria da Civilizagdo escritos por A. F. Cesarino Jnior ¢ Alcindo Muniz de Sousa, muito ilustrados, com contetido sensivelmente superior ao dos antigos com: péndios, entiquecido com questionarios, exercicios, bibliografia especifica para cada capitulo ete; a excelente série de Delgado de Carvalho, com textos deste ¢ de Hélio Vianna (Histéria Antiga e Medieval, Histéria Moderna e Con. femporanea, Histéria do Brasil em dois volumes, Stimulas de Histéria Ginasial em dois volumes e Stimulas de Histéria Colegial em dois volumes); ainda de Delgado de Carvalho, em colaboracdo com Wanda M. Cardoso, uma Histéria da Civilizagdo: as Nogdes de Histéria do Brasil de A. Guerreiro Lima; a série Histéria da Civilizagao, em cinco volumes, escritos por Joaquim Silva e muitas vezes reeditados, posteriormente convertida em dois volumes de Histdria Geral e dois volumes de Histéria do Brasil, em virtude das mudancas ocorri- das nos programas do curso ginasial; a Histéria da Ciilizaedo de Erasto de Toledo em 3 volumes; a Histéria da Civilizagdo de Alfredo Ellis Jisnior © Fran- cisco Pinto Jinior; a série Histéria Geral e Histéria do Brasil de Ary da Matta, professor da Faculdade de Filosofia do Instituto Lafayette e da Ponti ficia Universidade Catolica do Rio; a Histéria Geral de Pedro Moacyt de Campos; a Histéria Geral de Tibor Devid; a série preparada por Astrogildo Rodrigues de Mello, Rozendo Sampaio Garcia e Pedro Moacyr de Campos para a “Coleco Didatica do Brasil” da Editora do Brasil; a série de Historia de Alcindo Muniz de Souza, publicada pela Editora Anchieta de So Paulo; a série Histéria do Brasil e Histéria da América de Basilio de Magalhtes: ‘0s livros ginasiais de Historia de Orestes Rosolia, Vicente Tapajés, Antonio José Borges Hermida, Victor Messumeci, Miguel Milano, J. Buarte Badard e mui- tos outros. Durante a década de 1950-59 € nos primeiros anos da década de 60, nao ocorreram mudancas significativas nos textos didaticos de histOria destinados aos cursos de nivel médio. Um novo padrao de texto escolar esté emergindo, no entanto: 0 formato © a apresentacdo convencionais esto sendo substitui. dos por aspectos mais atrativos; passou-se a cuidar com mais atengao do pla- nejamento grifico das obras; as ilustragdes ganharam cores e se tornaram mais frequentes; os textos revelam sensiveis progressos, quer no conteiido, quer na forma em que sio vazados; cadernos de exercicios ¢ atividades prati- cas acompanham, agora, os livros de texto. Se ainda no se desfez de todo 0 antigo modelo do livro de historia escrito para adultos cultos © no para ctiangas, € possivel que os novos compéndios, ap6s a reforma do ensino de 1971," sejam mais eficientes ¢ muito mais adequados a massa de criancas ¢ jovens brasileiros de diferentes meios s6cio-econdmicos do que os livros did- ticos que as geragdes passadas conheceram. 2 - Geografia As origens:do estudo e do ensino da geografia sto gregas. Nos antigos poemas de Homero, Mliada ¢ Odisséia, hd informacdes de cunho geografico, misturadas com fantasias. Mas o titulo de primeiro gedgrafo grego é geral- mente atribuido a Tales de Mileto (640-546 a.C., aproximadamente) que, apos visitar 0 Egito, introduziu na Grécia a geometria desenvolvida pelos egipcios para a mensuragdo da Terra. Depois de Tales, Herddoto (484-425 a.C.), 0 “pai_da Historia”, contribuiu também para o lancamento das bases da geografia, @ partir de suas viagens ¢ observacdes ¢ dos documentos que exa- minou. As denominacdes usadas por Herddoto para designar os continentes que circundam © Mediterraneo — Europa, Asia, Africa — permanecem até 126 hoje, Parménides, que viveu por volta de 450 a.C., concebeu pela. primeira ver as zonas da terra a partir de latitudes. Eratostenes parece ter sido 0 pri- mneiro sabio 4 usar a palavra geografia, em 230 a.C.,.aproximadamente. ‘Na contribuigao dos romanos para a geografia, avulta a obra de Estrabio (64 aC... 20 dC). Deixou-nos 17 volumes contendo a descrigio do mundo Conhecide até entio, baseada parcialmente nas viagens que Tealizou. Essa Sbra, durante muitos. séculos, serviu de modelo para os escritos geograficos de cariter enciclopédico. Ouiro nome importante da geografia antiga € o de Cliudio Ptolomen, que viveu no século 2 d.C. em Alexandria. Ptolomeu divulgou © ampliou a geografia dos gregos ¢ fixou as distingdes entre geogra- fia (relativa 20 mundo como um todo), corografia (estudo de partes da terra) € topografia (estudo detalhado de pequenas localidades), Durante 2 [dade Média, estudiosos arabes como Tbn-Khaldun (1332-1406) produziram importantes trabalhos geogrificos. No Ocidente, @ geografia era Reralmente incluida na geometria, tanto nos compéndios como, no ensino, € consistia numa mistura de geografia biblica com nogdes rudimentares de eografia classica, sobre os trés continentes conhecidos. ‘As cruzadas ¢ 0S descobrimentos maritimos dos portugueses e dos espanhois contribuiram extraordinariamente, para o desenvolvimento dos estu- dus geogrdficos, a partir do século 16. Apianus, Mercator, Manster, Cluwer, Varenius e outros sio citados entre os nomes daqueles que mais se desta- caram no cultivo da geografia durante os séculos 16 e 17. No século 18 ¢ no inicio do século pasado, em meio as contribuigdes de muitos gedsrafos ilustres, destacam-se trés alemdes ~ Kant, Humboldt Rit- ter, O filosofo Emanuel Kant ensinou geografia fisica durante varios anos, na Universidade de KOnigsberg, empenhando-se no sentido de se conceder a geografia um lugar de honra entre as ciéncias. Alexander von Humboldt (1769-1859) © Karl Ritter (1779-1859) trabalharam em Berlim, renovando os Conceitos ¢ os métodos da geografia. Em virtude dessas e de outras contribui- ‘Alexander von Humboldt Emanuel Kant Bes, 0 estudo da geografia superou gradualmente o antigo modelo de deseri- Goes de tipo qualitativo e enciclopédico, dominante até o século 15 € cuja faflueneia se fez sentir nos livros didéticos até época recente. A partir, princi- palmente, dos trabalhos de Humboldt ¢ Ritter, “emergiu um conceito novo ¢ Gnificado’ da natureza da geografia”, assinala P. E. James. “A principal linha de estudos geogrificos.... devotou-se A compreensio da significado de Semelhangas ¢ diferengas de um lugar para outro da terra e o significado das lassociagoes e interconexdes entre fendmenos em locais particulares”. Contras- tando com a antiga “geografia de gabinete”, a nova geografia dos séculos 19 € 20 passou a ser essencialmente “uma matéria que se desenvolve ao ar livre, baseada em larga medida na observagdo direta de fendmenos no campo.” ‘Até as primeiras décadas do século atual, o Brasil permaneceu .mais ou menos indiferente as novas orientagdes de ecografia. Concepgdes tradicionais predominavam nas escolas ¢ os livros se limitavam a uma “geografia pura~ frente descritiva e enumerativa, tipo catélogo, que tanto, horror causava © ainda causa, por. ser um instrumento de martirio dos estudantes, obrigados a guardar de memoria listas interminaveis de nomes ¢ de nimeros”; ou confun- diam @ geografia com a topografia e a cartografia (Azevedo, 1954), Foram feallzados, ¢ verdade, estudos e trabalhos de campo de grande valia, por bra~ Slleiros e viajantes brasileiros, mas. os autores brasileiros de obras geograficas escolares raramente fizeram uso dos resultados dessas pesquisas. Somente a partir da década de 30 essa situagdo comecou a sofrer modificagdes significa~ fivas, gracas prineipalmente @ criacio ¢ a0 funcionamento. de novos. organis- mos de ensino e pesquisa superior como a Faculdade de Filosofia, Ciéncias ¢ Letras da Universidade de S20 Paulo (1934) ¢ a fundagio da Associagio de Gedgrafos Brasileiros. Para a Faculdade de Sio Paulo vieram gedgrafos jlustres como Pierre Deffontaines (1934), Pierre Monbeig (1935-46), Emmanuel de Martonne. (1937), Roger Dion (1947), Pierre Gourou (1948), Louis Papy (1950), Francis Ruelian (1952-53). Monografias regionais e estudos de alto va- lor surgiram no pais, em decorréncia dessas ¢ de outras influéncias, como por exemplo, a de Maurice Le Lannou, do gedgrafo germano-ameticano Leo Waibel © varios gedgrafos norte-americanos © outros. Livros e Compéndios antigos de Geografia Em ensaio dedicado a historia da geografiil no Brasil, Pereira (1955) observa que “nfo seria de se esperar que, antes do comeco do século XIX, Se pudesse ter no Brasil uma geografia-ciéncia. Além de ndo existirem, no pais, condigdes de receptividade cientifica, a geografia, na Europa, arrastava~ fe ainda ao sabor das flutuacdes conceituais metodol6gicas”. No ensaio de Pereira, o leitor encontrar um bom roteiro € repertorio de fontes, desde 0 séeulo XVI até meados do século atual, no dominio da gcografia brasileira Historicamente, 0 primeiro conjunto’ de obras sobre geografia do Brasil é constituido pela Notlcia do Brasil, Inventdrio ou Relagdo do Brasil, no comeco da Coldnia (1587), ou Tratado Deseritivo do Brasil, de Gabriel Soares de Souza € por escritos quinhentistas como os de Gandavo, Fernio Cardim, Thevet, Jean de Lery, Hans Staden e textos dos jesuitas, Essas obras refletem, natural- mente, a influéncia dos modelos europeus da época, ¢ a realidade descrita ¢ analisada se confunde aqui e ali com a fantasia. Marcam, de qualquer maneira, 0 nascimento de uma literatura geogrifica sobre o Brasil. No século 16, aparecem também os trabalhos de cartOgrafos desenhistas baseados nas primeiras exploragdes do litoral brasileiro, precursores das, produgdes car- fograficas mais completas ¢ Tigorosas que surgitio nos séculos subseqdentes como, por exemplo, 0 famoso “Mapa dos Confins do Brasil com as Terras da Espanha na América Meridional” (1749), de Alexandre Gusmao e outros Em I817, surge a Corografia Brasilica ou Relacdo Histérico-Geografica do Reino do Brasil, de Manuel Aires de Casal. Seu autor nasceu em Portugal ¢ foi presbitero secular do Grio Priorado-do Crato. Em que pesem as restri- goes feitas & obra, trata-se da primeira visio de conjunto sobre a geografia Go pais — esforco didatico honesto de compilagdo predominantemente descri- tivar que desempenhara 0 papel de modelo metodoldgico para os livros didé- Frontispicio da Histéria da Provincia de Santa Cruz, de Pero de Magalhaes Gandavo, ticos brasileiros de geografia durante século 19 © até no século 20{1) Pereira (1955) lastima que o livro reflta 0 padrio tradicional de cos- mografias como a de Minster (1549) e ndo as novas orientagdes metodologi- cas de Humboldt e Ritter. Pode-se argumentar, todavia, que se as_atuais ‘obras didaticas ainda resistem a incorporagdo de novas concepedes e diregdes Fecentes da pesquisa, nos séculos passados, com muito mais razio os autores de compilacdes ¢ textos escolares.eram dominados pela forca da tradi¢io.e pela autoridade dos autores mais antigos. E sabido, por exemplo, que os Ele- Imentos de Buclides persistiram até épocas relaiivamente recentes, como padrio de compéndio na rea das matematicas, a despeito de mais de duas Gezenas de seculos de progressos nessa matéria (ver capitulo 6). Convem lembrar, ainda, que no inicio do século passado nfo eta muito diversa a siluagdo reinante na literatura didatica e/ou de compilagdo, no exterior, os livros apresentavam-se igualmente sobrecarregados de nomes e informacdes geogrificas nem sempre. rigorosas. ‘As restrigbes que os geogralos de hoje fazem & Corografa Brasilia ~ ‘a- buso de extensa nomenclatura", “falta de correlaglo € entrosamento nos estudos dos fatos", “auséncia quase completa de explicacdes ou tentativas de xplicagdes das paisagens consideradas", “Yalta de vida nas descricdes”, pobreza de apreciacdo sintética” — valem igualmente para a maioria dos compéndios de’ geografia vindos & luz ne século passado, A andlise do con- teiido de tais obras revela que geralmente nio passam de relagdes extensas de paises, cidades, mares, ilhas, montanhas etc., sob o rotulo ‘enganoso de “livro didatico". Dai as queixas de Rui Barbosa em seu famoso Parecer (1883) “O ensino por nomenclatura domina exclusivamente.... Praticado assim pelo bordio da rotina, o ensino da geografia é initil, embrutecedor. Nulo como meio de ‘cultura, incapaz mesmo de aluar duradoura- mente na meméria, no faz sendo oprimir, cansar ¢ estupidificar a inflncia, em vez de esclarect-la ¢ educi-la... O ensino elementar de geografia_ndo pode obedecer a leis diversas das que resem toda a cultura cientifica... (E necessario] banir absolutamente as definigdes abstratas ea priori... Cumpre que a realidade, ou a sua imagem conereta, sensivel, nitida, exata, seja a fonte exclusiva de toda a cul- tura_geografica... Os tragados'topogrificos, as excursdes escolares, auxiliados e orientados pela carta, 0 uso do globo, do atlas ¢ dos planisférios murais so instrumentos indispensiveis, nesta parte da educagdo, Sé pelo método da observacdo real € que 0 aluno conse- guira formar idéia conereta dos fendmenos geogrificos, e fixar indestrutivelmente no espirito as aquisigGes realizadas.” 1) Apoiado principalmente na. Corografa Braslica, J. C. R, Millet de Saint Adolphe publicou 2 Paris um! Disionilo Geogrdficae. Desontvo do Brasi'(\8S8), tido como © primeira trabalho fee enero, ‘Tem razdo Pereira (1955), que transereve as passagens acima, ao afirmar que “Rui Barbosa, em verdade, foi um precursor inconteste da renovagao do Snsino geogrifico’ no pais” (pag. 360). Lastimavelmente, entretanto, obras Eteritas ‘de acordo como modelo verberado por Rui Barbosa continuaram, até epoca relativamente recente, nas mios dos professores e dos alunos do en- sino elementar e médio. Diversos compéndios de geografia geral e do Brasil, impressos na Europa ou no pais, foram utilizados no século pasado. Nao se fez, até o presente, tm estudo pormenorizado dessas obras ¢ nem sequer existe um levantamento completo das mesmas. Citaremos algumas das mais conhecidas. A mais antiga parece sero Tratado Completo de Cosmografia e Geografia Historica, Fisica € Comercial, Antiga e Modema (1825), de Casado Giraldes. De Justiniano da Rocha hi um Compéndio de Geografia Elementar (1838), “oferecido a0 governo de Sua Magestade Imperial © por ele aceito para uso dos alunos do [mperial Colégio Pedro II", com nova edigéo refundida ¢ aumentada em 1840. Foi, também, muito usado durante 0 periodo imperial © Compéndio de Geografia (1851) de Tomas Pompeu de Souza Brasil. Estacio de Sie Menezes csoreveu, as Ligées Elementares de Geografia, segundo 0 Método Gaultier, {mpressas ¢ encademadas em Paris pelo editor Garnier. Sdo de 1873 as Wartes de Corografia do Brasil, nas quais se estuda o Brasil “politica, moral econdmica © fisicamente”, por Joaquim Manuel de Macedo, o ficcionista de A Moreninha que foi professor de Geosrafia ¢ Histéria no Colégio Pedro IL Nas dias ou tres deeadas que precederam a Republica ¢ nos primeiros anos desta, achavam-se em uso nas escolas, entre Outros, os seguintes livros: Epitome da Geografia Fisica (1863), de Abilio Cesar Borges, Bario de Macai- bas; 0 Elementos de Geografta Moderna, de Alfredo Moreira Pinto; Geografia Ustrondmica, do mesmo autor, Curso Elementar de Geografia Moderna, de Lery Santos, Ligdes de Geografia ¢ Cosmografia, de L. H. Ganezza; Breve Tratado de Geograjia Geral edo. Império do Brasil, de Carlos Copsey; Pontos de Geografia e Cosmografia, de L. H. Canezza, com cinco edig6es publicadas até 1882; Rudimentos de Corografia do Brasil, de Alfredo Moreira Pinto; Corogra- fia e Histéria do Brasil, especialmente do Estado de Sdo Paulo, de Antonio Ale~ Kandre Borges dos Reis, professor do Gindsio da Bahia; Geografia-atlas, Neontendo oito mapas, seguida de um esboco cronolégice da Historia do Bra- sive algumas nogdes de cosmografia”, por Monsenhor C. Couturier, com “3? edigao ‘muito melhorada pelo. Dr. Alfredo Moreira Pinto”; Compéndio de Corvgrafia do Brasil, de’ Feliciano Pinheiro. Bittencourt, “ilustrado com humerosas gravuras, contendo um mapa do Brasil*e um de cada um dos Estados", Exercicios: Cartogrdficos, em seis cadetnos, de Olavo Freire; Minha Primeira Viagem a Vola do Mundo, sem indicagdo de autor, em tradugdo de Lact; a Geografia Fisica, de Geikie; a Geografia, de Eleutério Ribeiro; A Corografia do Brasil, de Duque Estrada; ¢ varios compéndios de Horicio Scrosoppi, como Ligdes de Corografia do Brasil, Curso Elementar de Geografia Geral © Curso. Superior de Geografia Geral (para ginasianos) ‘Nenhum dos livros mencionados acima parece ter superado em populari- dade # Pequena Geografia da Inféncia, “‘composta para uso das escolas primarias, enriquecida com seis belas cartas coloridas das cinco partes do mundo ¢ um lindo {naps do Brasil", por Joaquim Maria de Lacerda, “membro da Arcidia Romana”, Lacerda é também o autor de um Novo Atlas Universal da Infancia ¢ de varias foutras obras didaticas. Sua Pequena Geografta da Infancia, lida por numerosas geragdes de escolares, aparecet no século passado ¢ foi reeditada até meados Go seculo atual. As primeiras edigdes eram impressas em Paris por Aillaud, ‘ves e Cia. Posteriormente, Luiz Leopoldo Fernandez Pinheiro reviu, mrelhorou © atualizou o texto. O contetido abrangia: a) nogdes.preliminares Uefinigdes geométricas, nogdes de cosmografia, definicdes geogriticas clas- Sifieagdo dos homens); b) geografia geral (predominantemente descrigées fisi- fas dos continentes); c) geografia particular (resumos de informagdes basicas Sobre cada pais: limites, superficie © populacdo, forma de governo, producio, Cidades principais, religito, clima); d) geografia do Brasil. A obra deixa muito sGesejaP, se analisada como texto diditico, pois a maior parte do conteudo feunido em suas paginas ndo passava de uma simples enumeracdo de cidades, cidentes geogrificos etc. Outra no era entretanto, a linha seguida pelos demais compendios das décadas de transicAo entre 0 século 19 ¢ 0 século 20. 130 E Pereira (1955) quem afirma: “o quadro pungente do ensino da geografia continuou praticamente 0 mesmo até o terceito decénio do século atual. Se ‘nfo havia © ensino geogrdfico em nivel superior, no secundario a orientagio Seguida era_a_pior possivel. Os métodos pedagogicos cram antiquados, a Imatéria geografica absolutamente enfadonha, os livros péssimos. Com excego de poucos, como Temistocles Sivio no Colégio Militar, todos os compendios eram totalmente insatisfatérios. Naturalmente houve algumas excegdes, entre as quais € justo destacar os de Homem de Melo que, infelizmente, jamais teve boa acolhida por parte dos professores sem boa formagao cultural, geogrifica © pedagogica’. Nao menos severo € o julgamento de Azevedo (1954: “as obras. publicadas na época imperial € no periodo republican, antes de 1984, s0b 0 titulo de Geosrafia ou Corografia, nao passa. de modestos compéndios destinados ao ensino primério ou secundario e apare- cem eivadas dos defeitos que tio bem caracterizam a velha geografia, Abra- mos ao acaso, qualquer um deles: sio todos idénticos, diferindo apenas na massa maior ou menor de nomes e informes registrados", Autores estrangeiros Varios autores estrangeiros que divulgaram, no exterior, conhecimentos geogrificos sobre o Brasil, tiveram suas obras traduzidas ou adaptadas para o Rosso idioma e contribuiram, direta ou indiretamente, para o enriquecimento da literatura diddtica brasileira de geografia. Em 1827, na Alemanha, apare- ecu Der Kaisertum Brasilien, de John Christoph Guts-Muths, em 1837, a obra de Jean Ferdinand Dénis sobre 0 Brasil; em 1870, a Geologia e Geografia Fi- sica do Brasil, de Charles Frederik Hartt, publicada em Boston, fruto da importante ExpedicAo Thayer, que Agassiz chefiou no Brasil em 1865-66, ¢ da Expedigio Morgan (1870-72), chefiada pelo proprio Hartt. Em tradugao preparada por Capistrano de Abreu e Vale Cabral, consideraveimente aumen- tada com contribuigdes destes, veio a luz a Geografia Fisica do Brasil (1884) de J. E. Wappaus. Capistrano de Abreu foi igualmente o responsdvel pela tra- ducdo brasileira, com varios acréscimos, da Geografia Geral do Brasil de A. W. Sellin (1889). Textos geogrificos sobre 0 Brasil aparecem em enciclopédias ¢ colecdes feitas no exterior ao fim do século 19. Entre os mais importantes, devem ser mencionados “Le Brésil", preparado por E. Lavasseur e outros para a Grande Enciclopédie, com a colaborago do Bario do Rio Branco, Eduardo Prado, etc.; 0 texto organizado"sob 'a diregao de F. J. de Santana Ana Neri, Le Brésil em 1889, e escrito por varios nomes dos mais representa- tivos da cultura brasileira; © 0 volume da Nouvelle Geographie Universelle, de Elisée Reclus, dedicado ao Brasil (1894), traduzido pelo Bario de Ramiz Gal- vao para 0 nosso idioma sob o titulo Estados Unidas do Brasil (1900), Compéndios de Delgado de Carvalho © modelo tradicional do livro didatico de geografia, adotado durante o século 19, ndo se alterou nas primeiras décadas do século atual, As descri- ges toscas, a mera enumeracdo e a auséncia de generalizacdes, de relagdes causais © de explicacdes cientificas dos fendmenos geograficos continuaram a caracterizar os compéndios brasileiros em geral, a despeito de uma ou outra tentativa isolada de feitura de livros escolares com orientacdo mais consenta- nea com as novas concepcdes de geografia. Pereira (1955) lembra uma dessas excegdes a rotina dos compéndios obsoletos, quando fala da publicagto, por Delgado de Carvalho, em 1913, ¢ “sem grande éxito, na pritica”, de “um modelar trabalho didatico, vazado em processos de ensino franceses escrito com um poder de sintese ¢ clareza admiraveis”, Carlos Delgado de Carvalho & indiscutivelmente 0 pioneiro na renovagao do livro brasileiro de geografia para as escolas. Sua Geografia do Brasil marca © inicio de um trabalho fecundo e vigoroso de transformagio da literatura didatica, no qual tanto o rigor conceitual como a preocupacao com a anilise 131 de elacdes causais representam orientacdes totalmente distintas daquelas que Predominavam nos livros publicados até'a década de 1910-19. A obra de Can, yalho rossegue com a Geografta Elementar (Melhoramentos, sid.) e a Geogris fia Humana, Politica ¢ Econdmica, varias vezes teeditadas, Da Geograta Ele, Mmentar apareceram dezessete edicdes, até a década de 30, Esciltos com jnreligéncia, erudiedo, clareza © completo conhecimento do estado da geopra. fig _na época, esses compéndios revelam cuidados diditicos nao existetes ern obras. congénercs. Desapareceram as fastidiosas enumeragSes de nonce Proprios geogrificos; nas obras de Carvalho, o lugar destas @ ocupado pela Qxploracdo das relagdes causais, pela ligaglo das nogdes apresentades a fisiografia, por diagramas, graficos, mapas esquematicos, folografias, eatatsts Go 90 Contetido abrange aspectos antropogeogrificos e ressalta a importancia da geografia econdmica, desprecados nos demais compéndios da epoca oa fiteriores. "Sendo o homem o objeto de principal interesse sobre o lobo — ftisa Carvalho na Geografta Elementar (pig. 7) — devem ser sempre ectudadas as feigdes © condigdes deste globo sob o ponto de vista humano. de sens efeitos © reagdes. Cada vez que, no estudo de uum continente, voltaren a ant fratadas as questdes de populacdo, raca, religido etc., 0 professor devera veri ficar que nada do que foi estudado no’ capitulo da “Antfopogeogratia se wpa: gou na meméria do aluno”. Alem ‘dos livros referidos acima, Carvalho publicou numerosas obras sobre geografia, historia, metodologia do ensino, Sua extensa, bibliografta inclui titulos como Introdueto d Geografia Politica (1929), Geografia Econbralea (1928), Metodologia do Ensino Geogréfico, Os Continentes'e as Principats Polen, Gas Aexercicios priticos de cartografia), Geografia Regional do Brasil (1948), Geografia Fisica e Humana do Brasil (1949), Diddtica das Ciéncias Soctar, (1949), Geografta Fisica e Humana, Geografia dos Continentes, Geografia Flaca Geografia Complementar do Brasil, Geografia Humana {em colabotacio con Therezinha de Castro, 2+ edicdo, 1967) © varios textos diditicos sobre Ine t6ria, economia, socidlogia, estatistica No periodo que medeia entre as duas guerras mundiais, Carvalho impri- ‘miu uma nova orientagao ao ensino de geografia e 20 livro diditico, Mas a Breferéncia do professorado, aparentemente, parece ter favorecido os livtos de tipo tradicional ou as obras que, apesar’ de conterem inovagSes, mai se assemelhavam @ estes — como, por exemplo, os compéndios de Mario. Vax, oncellos da Veiga Cabral, professor do Institute de Eaucageo. Na Rig Se Janeiro. Cabral comesou a’ escrever manuais escolares muito jovem, a partir de uma Corografia do Brasil. Por volta de 1934, sua bidliogratia ‘de livres 192 didaticos reunia duas dezenas de titulos. Os livros de Cabral ganharam rapi- damente @ aceitagio do magistério, Do Curso de Geografia Geral, por fexemplo, grosso volume com mais de oitocentas paginas, “oficialmente ado- tado nos colégios militares”, sairam onze edicdes em menos de dez anos, com tiragem de dez mil exemplares cada uma. Jodo Ribeiro saudou 0 Curso de Geografia Geral como “*0 nosso melhor compéndio... notavel servigo pres: tado as letras didaticas... o mais informativo ¢ 0 mais completo que. possul- mos neste ramo diditico”, E verdade que nem todos concordavam com esse julgamento tio entusidstico, havendo até quem censurasse, na obra, “a exu- berancia de informagdes, a cansar a memoria do aluno, sem Ihe trazer nenhum luero no conhecimento do pais estudado”, conforme consta de uma nota do jornal O Estado de Sdo Paulo publicada por ocasido do aparecimento do livro. As paginas do Curso de Geografia Geral sio realmente atulhadas de homes, nimeros ¢ minicias de informagdo. Seu éxito, todavia, foi grande, a exempio do que ocorreu com outros livros didaticos de Cabral. Dai a Seguinte observagao de Alexandre Passos: “Veiga Cabral conseguiu, no Brasil, © milagre das grandes tiragens em muitas edigdes, derrotando 0 Sr. Jodo Ribeiro que em livros didaticos era o numero um pela quantidade de livros”. "A edigao de 1934 do Curso de Geografia Geral contém informagdes sobre tiragens e edigdes dos demais textos didaticos de Cabral. Aquela época, a Corografia do Brasil se achava em sua 20* edicdo, com 228 milheiros public: dos; 2 Corografia do Distrito Federal, em 6* edicao, 30 milheiros; 0 Pequeno Atlas ‘do Brasil (anotado), em 6* edicao, 60 milheiros; Nossa Patria (Nodes de Corografia do Brasil), em 10* edigdo, 100 milheiros; 4 Europa Atual, 2 edicao. 20 milheiros; Geografia Primdria, 11 edicdo, 116 milheiros; Ligdes de Cos- ‘mografia, 3* ediga0, 30 milheiros; a série Geografia em quatro volumes (um Volume para cada ‘série ginasial), 8° edicdo, 80 milheiros de cada volume. Cabral publicou também varios livros de leitura destinados ao ensino elementar, tite usados durante as décadas de 2040, e compéndios de historia gcral edo Brasi Livros escolares de Geografia de 1930 4 1950 ‘A expansto.do ensino no pals, as reformas escolares empreendidas nos Estados e a difusio de idéias renovadéras da educacéo favoreceram, no periodo de 1930 a 1950, a transformacdo dos livros didaticos de geografia, Papel muito importante coube as Faculdades de Filosofia no langamento de hnovas bases para o ensino ¢ a pesquisa em gcografia, ‘Um grande passo na reformulagio dos manuais de geografia est ligado ao nome de Renato Jardim. Diretor da Escola Normal de Sio Paulo (hoje Instituto de Educagéo Caetano de Campos) no periodo de 1921 a 1924 e, posteriormente, diretor-geral de instrucio publica do Rio de Janeiro, homem muito culto e polemista brilhante, Jardim entregou-se a tarefa de escrever um livro que traduzisse duas idéias centrais: a primeira, “que € possivel entreter a crianga da escola primiria com o estudo cientifico da geografia, isto &, estudo a que ndo seja estranho 0 senso de causalidade”; e a segunda, “ geografia a oferecer @ mentalidade infantil tem que se despojar de adotar exposigdo que revista, quanto possivel, forma pitoresca e amena” ‘Apos observar que essas duas preocupagdes orientaram a leitura de Geografia da Crianca, Jardim assinala, no prefficio da mesma, que ‘‘o falso conceito de feografia... que faz desta ciencia “catélogo”, tem dado lugar a programas ofi- ciais que dificullam o bom ensino da matéria, mesmo no curso secundario. Esses (programas geram compéndios que Ihes’ so ajustados. Uns © outros, adota-os 0 ensino particular. De tudo resulta um generalizado desconhecido, entre nds, da verdadeira geografia, No ensino primario, a essa causa comum do mau aprendizado da matéria, outra se tem juntado: uma nogio falsa do proceso mental de aquisigdo de conhecimentos, inspiradora de inidéneos pro- Cessos didaticos, que, no seu verbalismo ¢ nos’ seus exercicios de decoracdo, dao as classes de ensino infantil o aspecto de escola de papagaios”. Lanca, entio, na década de 30, seu livro Geografia da Crianca, inspirado nas mais 133 =————— recentes otientagdes do ensino, O comptndio nfo se destina “a memorizagio cree cea quaisquer formulas verbais, mas sim a entreter os pequeninos de noes gas mesmas...prestar-se-4 ele como fonte de consulta nas pesquisas soque se entreguem os allimos sobre assunto de dado “centro de interesse” 2 ae rérias nele expostas, como so, sob o critério da sua natural interdepen- agit em ‘conformidade com o principio da plobalizagdo” — ¢. ser ao sence tempo. “Livro de gcografia e livro de leitura, leitura silenciosa para posterior comentario”, © primeiro tergo de Geografia da Crianea versa sobte poses simples de geografia geral — a Agua, o ar, 0 solo, os acidentes seoers- Fede os movimentos da terra etc. —, apresentadas em linguagem singela, sem Ise de nomes e definigdes a serem decoradas. Outro tergo trata da geogra- fa'Sas Américas, dando, é claro, mais extensto aos capitulos relativos 20 Brasil, Sao, finalmente, estudados’ os demais continentes. K sengvagto da literatura didética destinada as criancas ¢ aos ginasianos se aculern wos anos subseqdentes. Varias novas séries surgem em Sdo Paulo, se fie de Janeiro, no Rio Grande do Sul. Neste ultimo, vém @ luz os com: Péndios de A. Guerreiro Lima, Nopdes de Geografia, ue abrangen ,° Reografia do Rio Grande do Sul (1 volume), a do rasil (2 volume) e a do Rioedo (3° volume). As sucessivas edigdes revistas destas obras relletem Maple acolhida que mercceram, por parte do professorado. Lima escrevey ape aeriea diditicas, entre as quais as Nodes de Cosmografia, um Atlas Teediar muito difundido no pais © compéndios de histéria do Rio Grande do Sul ¢ do_ Brasil $b sBFPaulo, Aroldo de Azevedo, professor da Universidade de Sto Paulos tidera o movimento de reformulagdo dos textos edo ensino de seogrs- Fates indsios em bases racionais © modernas, contra “o vicio da nomencla- fia nos ginlfpito da decoragio”. Surgem, “‘inicialmente, sua Geografia para a fquarta série ginasial e uma Geografia Humana para os cursos pre:Jundicos quarts se 36, Azevedo langa as Geografias destinadas 4 2¥ ¢ 3" séries. Nessa Temtativa bem sucedida de elevar o nivel do ensino de geografia, Azevedo alia ertfnor ef clareza das informagdes, 4 fundamentaclo em pesquisas_e estudos seee°e & preocupaedo de fusir das “enumeragdes enfadonhas, que ja tanto ser fiseram a cieneia geogralica, transformando seu encanto, proprio num Tiwontoado de nomes e de nimeros, verdadeiramente merecedor fa repulsa ate tantos the costumam votar", conforme declara. no prefécio da Geografe que ye erie. Saudados como ‘compéndios que se inscrevem entre as obras a 2 Siavcis no género apafecidas no Brasil", og livros de Aroldo de Aze- wre rapidamente conquistaram a estima do professorado, multipicando-s: Weseens?e ‘ar edigdes. Ainda hoje, modemnizados, com novo aspecto grafico, Grofusamente ilusirados em cores € acompanhados de eadernos de exercicict, Protas de ‘Azevedo difundem nas escolas brasileiras a boa semente de feografia. cientifica, ensinada de modo proveitoso e atraente. Varios ‘outros’ autores participa, no periodo de 1930 a 1950, do empoatto renovador inieiado ‘por Delgado de Carvalho e impulsionado, pelos eepeandios ‘de Aroldo de Azevedo. Moists Gicovate, que publicara ume Som bem acesta de compendios antes da reforma dos programas, langa nova serie MSC" acordo ‘com os programas, vigentes na década de 40, em quasro SBiSnese dois de Geografia Geral c dois de Geografia do Brasil. Os compen. Bum Gleovate sto enriquecidos por numerosas ilustragées, questionarios ¢ dics aSoce bibliogrificas, “As. EdigOes Saraiva publicam as Geografias, de iia is Junior, Sob a direglo do insigne gedgrafo francés Pierre Mon- teig a Livraria José Olympic edita a série Geografia de Hoje, com compen. beig, 2 Uometa de Paula Souza e M. Conceigdo Vicente de Carvalho. dios oe AuBrail lanca a Geografia Geral de Joao Dias da Silveira ¢ Nicia fare Lue. A Editora Nacional, publicadora dos textos de Carvalho ¢ Aze- Viste Jaita um conjunto de quairo compéndios de F. da Gama Filho: Nories Me Geagrafia Geral, em dois volumes, Nogdes de Geografta do Brasil e Woedss te ee erafia Regional do Brasil. Em 1947, aparece um novo livro escolar de a donde Azevedo, destinado a0 ensino primério: Geografia das Criancas. que role ¢* gtusliza a linha de texto clementar seguida em 1930 por Renato Seraim, ‘Devem igualmente ser citadas as obras que, sem ser propriamerts jardim. slaves, vrefletem a. preocupacdo com a traducdo da gcografia tres cna aa linguagem da crianga e do adolescente como, por exemplo, @ 134 strie Viagem Através do Brasil, de Ariosto Espinheira, a Geografia e Atlas Mustrado, ‘em 6 volumes, da Editora Delta, e livros similares Varios atlas escolares enriquecem a literatura didatica da primeira metade do século atual. Incluem-se entre eles, o Novo Atlas Geogrdfico para 08 cursos clementar ¢ médio, de J. Monteiro e F. d’Oliveira, posteriormente tevisto e atualizado por Mario da Veiga Cabral; 0 Atlas. Histérlco-Geogrdfico, para uso das escolas do Brasil, de Jodo Soares; 0 Atlas Escolar de A. Guerreito Lima, Publicado no Rio Grande do Sul; 0 Pequeno Atlas do Brasil, de Mario da Veiga Cabral; e, mais recentemente, 0 Atlas Geogrdfico Melhoramentos, do Pe Geraldo José Pauwels, com trinta ‘edigées publicadas até o presente. Nota curiosa € @ presenga, ‘neste género de literatura diddtica, de um pequenino atlas dos estados brasileiros que os fabricantes das méquinas de costura Sin. ger distribuiram gratuitamente aos escolares, durante muitos anos. O “livrinho de mapas” Singer, em cores, serviu de iniciagdo em geografia do Brasil para milhares de criangas — e deve ter sido, para muitas delas, a Gnica experiéncia direta, ainda que’ limitada, com um atlas geogratico, Tendénci Se 0 periodo referido nos parigrafos anteriores marcou 0 aparecimento ¢ © desenvolvimento, no pais, de uma literatura escolar verdadeiramente geogrifica, sem enumeragses enfadonhas ¢ alicergada em estudos cientificos, € na segunda metade do século atual que se intensificam as preocupagoet metodologicas e sto tentadas varias formulas diddticas com o objetivo de fazer da aprendizagem da geografia uma experiéncia mais envolvente, dindmica, aiva ‘Tanto entre as reedigdes, revistas melhoradas, dos antigos compéndios, como nos novos titulos aparecidos nos iiltimos vinte anos, hd exemplos de trabalhos bem sucedidos, A grande diversidade de obras existentes e o nivel desigual destas, quer no contetido quer na forma, nao impede que se faca uma tentativa de preci. sar algumas caracteristicas dos bons compéndios de geografia da atualidade: 19) Bons textos procuram fazer com que as pessoas e as terras em que vivem sejam reals para o leitor. 2*) O bom planejamento grafico das obras, 0 uso inteligente das cores ¢ 0s cuidados na feitura de mapas, grificos, tabelas e figuras refletem crescente preocypacdo com a simplificagdo e a adequacdo da lingua. gem visual do livro. * Observa-se_nos bons livros, igualmente, um crescente empenho de simplificagdo da linguagem verbal: frases curtas, controle de voca. buldrio (evitando-se as palavras de uso pouco frequente na conversa: Gio comum, pois se & verdade que estas “‘embelezam 0 estilo", nio € Menos exato que comprometem a comunicagdo efetiva daquilo que 0 autor pretende transmitir a0 leitor) Livros ou cadernos de exercicios e atividades acompanham os manuals, fazendo com que 0 aluno va muito além da simples leitura. Os bons cadernos de exercicios abrangem nao somente testes verbais para cada unidade, como também diversos tipos de solictagdes, sob a forma de figuras'e mapas que devem ser completados, atividades semethantes aos passatempos © quebra-cabegas, trechos para pritica de estudo dirigido, sugest6es para trabalhos praticos ete Procura-se fazer com que o aluno ndo aprenda somente fatos geogra- ficos, mas também relacdes entre, por exemplo, certas condigoes geogrificas € recursos naturais, vidas das pessoas, idéias e realizagoes destas ete. Procura-se, também, favorecer 0 desenvolvimento,” no aluno, das atitudes, habilidades ¢ procedimentos que caracterizam a ago ‘dos pesquisadores no campo da geografia. A grande quantidade de informagdes tende 2 ser substituida por menor nimero, cuidadosamente selecionadas em fungdo dos objetivos visados pelo ensino © do nivel de compreensio dos alunos. Deve, finalmente, ser registrado o aparecimento, nos iiltimos anos, de textos de estudos sociais, destinados ao ensino elementar, que integram infor mages de natureza geogrifica com material histérico, eivico, cultural, econd- 135 rico. Um dos esforgos pioneiros nessa diregio foi realizado por Maria de Lourdes Gastal, no Rio Grande do Sul, durante a década de 50, com a série de quatro “cadernos de trabalho”, intitulados Estudos Sociais ¢ Naturais 3 - Moral e Civismo \y/,/-__. Fato signifeativo & o de que os mais antigos textos diéticos conhecidos AYA se destinavam & educagio moral_de criancusejovens, E esse 0 e880, por (°") Sxemplo, dos Ensfamenfoy-de Prabhotep. 6 sutch, eigstro de um farad a Guintedinastia, viveur no Ego por volt de 2300 alc. Os Ensinamentay so quarentapardgrafos de. conselhos sibios, pensumentos’ moras e orienacbes Pritcas, Habtotep aconselha 0: discipule “a ser delicado tolerant, bondoso Erjovial, mas, acima de tudo a ser feto e justo, mesmo”com 0 sacitclo de fels proprios intereses, pols 0 poder da ‘etidto ¢ 0° Unico que perdura™ Nio Obsante sua simpicidade, as ligdes ‘deste remoto. precursor dos atusis Compendios de educagao moral e'civien representam, der scordo com Burns Sgr'primeitas expresses de idalismo: moral em toga 4 lneratura mundial Varios cutros textos representalives dos primordios da Werature didiics destinada & formagio morale & orientagao pritien para a vida sto iguslmente ontecidos. Entre os mais importantes figuram os Ensiaamentos de Akt! (ezerlba etipeio que vveu por vols dos steulos XXI-XT aC); 06 Pusat Mentos de Amenemope (ste, XII 2G), igualmente esipeio: a Sabedoria do Aliger, origntri de Micsopltma: e'o°Livto dos Proves dos Nebrens, Con quanto destinada mals aos sucerdotes do" que’ a0. povo, deve sets tanbem, Tembrada a contribuicao diditica de numerosos textos’ religiosos’ e morais aparecidos no antigo Oriente, em spocas muito remotas, © eomeodo dessas bras, transmitdo, niclaimeste, attavea a tradigho ord, cacroca protinas influéncia na ética e nos costumes dos hindus, chineses, persas, hebreus cte. Na aniguidade’classica (Grecia e Roma), a inflncia ¢ 4 juventude bebetam Iigdes de dhicae civismo nas obras, dos: poetay-sducadotes gregos (Giomero, ireu, ‘Teognis, Sclon ¢ cutros) e dos pastas Limos, aut acto nas dos ilbsofos, historindores ¢ teatrlogos. Livres: como Mada, Ostia © Ende exereeran, uma influéncia fundamental no mundo antigo. bases. da cultura liberal; ensinaram stona e mitlopia, eee © oratoria, ufos, costumes t ideis, servindo, ainda, de modelos permanentes ou inluenciando grande- mente fais de vinte secules, de cultura © educesto, impossivel fazer. aqui" o regisro. comemtado, ainda que sumArio, do grande nimero de obras due, & perur da Grecia antiga, exereeram, drcta ot fidiretamente, papel relevans na formagto morale evica do homém ociden- tal. Nos textos Gedicados a historia da oso em geral e 4 historia de tice tm particular, asim como em indmeros ensaos sobre assuntos de etch, fo. ponsablidade’ social, clencis politica etc. 0 leon poders estufar as lines Mnesttas ‘do. desenvoivimento. dessa erat, No Brau, sto, poucaa co caprectts as informagBes relativis’ ans textos, intencionalmente diditicos ot, nd, usados no passado, para fins de educagao moral e-civiea, As inimas ligagGes existemes, ate 6 seculo.passadd—ene Rdvenpist religizo fizeram com que ensino tmoral © ensino confessional se onfusiasem, nas escolas elementares. Os “eateeismos da doulrina enstd” outros livres de ensino,teligiso, usados no. passado, serviam,” ass no fomente pare 4 inleaeto raligiosa ‘como tamGem para. aprendiagem de deveres morais, responsabilidages soctals ete. Essa siuacto perdurou ate © f\ fim do Império, Na Reforma do Ensino Primério (1883), Rui Barbosa critica com veeméncia'a “niorl eligiosa"contda na lieratura diiteaa_poca, Que “episcopal © imperialmente” se destinava 4 educagio das criancas Sp Segundo ee ° pare fundamental, na educacdo moral e civica, ¢ seats penhado pelo. professor. “Todos os livros, todas_as_matérias, todas.as_licdes, serdio, sob a sua influéncia, Ticd®s,assuntos, obras.de moral, Evitando euida- dosamente as tradicdes _didaticas, insinuativo sempre no exemplo_e—na palavra,”asentardprofundamente nos espintos as bases de_uma, vida. she Justis A’ moralidade hi de encararse como um resultado’ da agio, nlo. da ‘palavra; da impressdo dramatica da narrativa, nao da arida letra dos enunci: dos.” Rui termina dizendo que “a cultura moral, na escola, nao pode ser fei 136 tura, nem objeto de um curso; € uma resultante geral, destes elementos (por sua ordem): 1) 0 mestre; 2) a vida escolar; 3) o ensino inteiro, mas especialmente: a) a cultura cientificarbyargultura historica: 4) os livros de leitura” (Reforma do Ensino Primério, pags.(373-384 Convem notar-qiie essas criticas visavam particularmente a um tipo de livro didatico © moral e civismo — “essa espécie de livros secos, dsperos, autoritérios, estéreis"; mas ao memo tempo, citando Wickersham e outro: lembravam’a necessidade de “livros de leitura” (de moral e civismo) com hi torias dramiticas, exemplos concretos, fatos da vida, realidades tangiveis, cenas vivas de moral e civismo_ativos Algumas das obras de educacdo moral e civica aparecidas durante a pri- meira metade do século atual parecem ter levado em conta as observacdes € os desejos de Rui Barbosa. Ao lado de alguns livros “de pontos”, redigidos em linguagem esdrixula, para criangas e ginasianos, surgiram textos dindi airativos, feitos com 0 objetivo de despertar nas criancas a admiragid ;-pelos, seus homens e~pelas SUuS cOISaS, explicar @ Organi= als & dar_exemplos-de~sentimentos-humanitarios;-responsa- conduta adequada. Em varias dessa obras €—visivel’ a cia do Cuore de Ediiundo De Amicis, traduzido para 0 nosso idioma em 1891 (ver cap. 12, pag. 174), Obras assinadas por Olavo Bilac, Jilia Lopes de Almeida,-Roviig’ Puiggari,y Renato Séneca Fleury, Vicente’ Paulo Gui- maries(Joio Kopke, Francisco Lagreca (autor do belo’ Alma Nova, publicado em trés edigdes até“1925 ¢, infelizmente, pouco conhecido) © muitas outras contribuiram para a construgao dos sentimentos pitrios e das nogdes de moralidade em criangas de todo o Brasil Nao poderiamos deixar de mencionar particularmente Ofélia e Narbal Fontes, que mereceram varios prémios do. Instituto Nacional do. Livro, PEN Club ¢ das Secretarias de Educacdo do Rio de Janeiro e de Sio Paulo, ¢ cujas obras de ontem jf preconizavam a escola atual, em livros ao mesmo tempo de ensino e recreacdo, dando énfase a nossa Historia e seus vultos mais importantes, em linguagem tio acessivel que algumas das historias foram adaptadas para quadrinhos langadas pela Editora Melhoramentos de Sto Paulo, com notavel sucesso. Uma das obras de maior relevo de Ofélia e Nar- bal Fontes foi O Brasileirinho, verdadeiro livro de moral e civismo, langado em 1938, para as 4" ¢ St séries primérias, cujo mérito foi tao grande ‘que levou a Grafica Editora Primor a relangé-lo em trés edigdes sucessivas, 18%, 19° ¢ 20" em novo formato; fartamente ilustrado,a cores, dentro do alto padrio do livro na educagZo moderna, ‘Além dos livros de leitura editados sob numerosos titulos, com contetido total ou parcialmente composto de textos destinados a formacdo moral e ci- via, ¢ dos compéndios intitulados “de instrugio moral ¢ civica”, deve ser ressiltada a contribuicao de diversas séries e obras avulsas para a infancia © a juventude — biografias de grandes vultos brasileiros e internacionais, narrati- vas historicas, livros de poesias, fabulas, cole textos simples. sobre keografia, tradicdes, flora, fauna ¢ riquezas minerais no pais —, que tém sido Usadas, por professores e' pais preocupados com a formagdo moral e civica das criangas. brasileiras, nas ltimas décadas. Letras recomendadas ‘Azevedo, F.As cidscas no Brail. 2 volumes Sto Pavlo, Melhoramentos, 195 (capitulo sobre aGeograia, ‘no Bras), Hollanda, G. Um quartel de séeulo de programas e compéndias de Rtéraparaoensino secundiriobraier, Rio de Janeiro, Ministério da Educacdo e Cultura (INEP-CBPE), 1937. Leite, Miriam M. O ensina dahistria no primdrio no gindsio. Sto Paul, Caltex, 1969 Marrou,H.1 Htstdriada cicada na antiguidade Trad, de ML. Casanova, Sto Paulo, Herder, 1969 APRENDIZAGEM E LIVROS EM ESTUDOS SOCIAIS| lO éxito do professor, no ensino de estudos sociais, depende, em néo pequena medida, da qualidade do livro-texto que utiliza e da lhabilidade com que trabalha com este, junto aos alunos. No presente capitulo, @ propésito da utilizagao de livros didéticos de estudos sociais no ensino de primeiro grau, seréo analisados os seguintes pontos fundamentais: 1.°A natureza dos estudos sociais. 2. Os objetivos do ensino de estudos sociais. 3. Os livros € a leitura em estudos sociais. 3.1 Caracteristicas do livro-texto. 3.2. Como usar 0 livro-texto. 3.3 Uso de textos suplementares, atlas e obras de referéncia. CAPITULO tl 1 - A natureza dos Estudos Sociais Estudos sociais em sentido estrito, sto estudos do ser humano ¢ de todos fos problemas deste, em suas relagdes com outros seres humanos. De forma feral, tratam das pessoas em interagio com o meio social ¢ fisico em que Berar. Incluem as necessidades basicas do homem, as atividades que este Yocenvolve a fim de satisfazer essas necessidades, as instituigdes que criou para perpetuar seu modo de vida e os modos pelos quais enriquecey, sus panteneia, Preocupam-se também com o mundo em que vivemos ¢ analisam aasremeate influi ‘sobre nos, como nos adaptamos ao meio fisico € como codificamos esse meio. Destacam as relagdes humanas ¢ sua importéncia i Realgam também o desenvolvimento de valores e de processos essenciais para ‘a vida democratica cm todas as situacdes. ‘Gs exludos sociais selecionam ¢ adaptam conteédos ¢ métodos das. varias ciéncias sociais, tendo em vista as finalidades do processo. educative. A Geerenga entre ‘estudos sociais e cigncias sociais, assinalam Morse ¢ Wesley (i9de), “esta. mais nos propositos e graus de dificuldade do que na naturezs (io Sontendo. Ambos tratam das relagdes humanas, mas os estudos socials sho Giapliicados apresentados de modo que oferegam estudos introdut6rios de complexidade erescente na senda das ciéncias sociais”. Gerkimente os primeiros anos de estudos sociais, na escola priméria, sto dediggdos 4 compreensio de relagdes humanas mais imediatas, concretas © Cspecificas. Os estudos sociais fornecem as eriangas experiéncias, conhecimen sae eMCompreensdes que funcionam como bases para o desenvolvimento de ter udes democraticas, capacidade de resolver problemas humanos € compor- aametS desejavel, Isto € feito através do estudo do lar, da familia, da escola tae mvgmunidade local, vistos partir do quadro de referéncia do escolar pri- Srario tipico, Sua vida familiar, sua vizinhanga, as coisas, que ocorrem. na meatus as pessoas amigas, as atividades comerciais, de produgio, de servicos Ste Sao focalizadas por’ meio. de incidentes e processos que permitem & cetise ea compreensio de informacdes, modos de proceder, atitudes ¢ valores desejaveis. SELECAO ADAPTAGAO DE CONTEUDO = METODOS 140 Em anos escolares mais avangados, estudos mais sistematicos de geografia € historia local © nacional e de ‘instru¢do civica ¢ moral, embora ainda de cunho introdutério © desenvolvidos a partir de textos simples, contribuem para a ampliagio gradual de atitudes, habilidades, valores e informacoes do aluno. Na escola de segundo grau, set possivel expandir ainda mais os estu- dos sociais, dando-Ihes produndidade ¢ detalhes, através de disciplinas repre- sentativas dos principais campos das ciéncias sociais, como a geografia, a hit t6ria, a organizacdo social e politica, Nao hi noticias de pesquisas realizadas no Brasil para se determinar os conteiidos que efetivamente vém sendo ensinados nas escolas elementares, sob 0 rotulo de “estudos sociais". Nos Estados Unidos, numerosas investi Ses tem sido levadas a cabo a esse respeito, em escala regional ou nacional. De acordo com os resultados dessas pesquisas, os contetidos mais comuns em estudos sociais assim se distribuem, da I? a6 séries elementares: SERIE IDADE CONTEUDO PRINCIPAL ESCOLAR| DOS ALUNOS. " 6 anos Vida no lar ena escola, 2 7 anos Quem nos ajuda na comunidade, ae Banos Conhecimento mais amplo do conceito de comuni- dade © dos modos de satisfazer as necessidades bésicas: @ ialimentacdo ‘outras comunidades ‘ransportes, comunicacdes a anos Historia © goografia do estado e da regito. St 10.anos t6ria © geogratia do pals (geralmente o primei ro dos trés ou quatro grandes perlodos histéricos). e 11 anos Outras regiées e outros paises do mundo. Os estudos sociais so uteis para ajudar a crianga a compreender a socie- dade em que vive. Ajudam-na, também, no processo de integragdo ¢ ajusta- mento a0 grupo a que pertence, Desenvolvem, simultaneamente, qualidades intelectuais © morais © 0 senso de responsabilidade comunitaria imprescindi veis @ formagio do cidadio. Levam 0 aluno a compreender conceitos relati- vos a sociedade humana, maneiras de viver e de trabalhar em conjunto, for- mas de utilizagio do meio ambiente, costumes, institui¢Oes, valores e situa ges vitais. Contribuem para a melhoria das ‘relag3es entre as pessoas, 0 aumento da eficiéncia econdmica ¢ 0 desenvolvimento do senso de responsa- bilidade civica. E Obvio que contribuigdes como as mencionadas acima so se realizam quando ensino n&o se limita a simples decorago de nomes, datas, locais, acontecimentos etc. As informagdes aprendidas ¢ retidas devem ser funcio- nais, isto é, devem concentrar-se em pontos essenciais para a compreensio da forma, das fungdes e dos problemas da sociedade humana, Deve-se evitar o trabalho estéril de memorizagio de grande quantidade de fatos © dados, que podem ter interesse para o gedgrafo, o historiador, o cientista politico ou 0 socidlogo, mas slo desttuidos de valer para o cidadio comum. De acordo com numerosas pesquisas, ndo tem fundamento a suposi- go de que “é bom que o aluno aprenda uma grande quantidade de fatos © informagdes", suposi¢ao geralmente associada a esperanga de que, automati- camente, serio alcangados, dessa forma, resultados desejiveis em’termos de civismo,” responsabilidade social etc. A grande-maioria de dados e fatos é esquecida pelo aluno dentro de um prazo relativamente curto. © ensino de estudos sociais deve, juntamente com a proviso de informa. ‘ges funcionais, desenvolver no aluno a capacidade de pensar de modo cri- 141 tico ¢ construtivo, no campo das relagdes humanas. Cada unidade de estudos sociais deve ser trabalhada de modo que 0 aluno desenvolva a capacidade para descobrir ¢ analisar um problema, reunir e avaliar os dados necessarios ara propor uma solugdo e, se possivel, para comprovar 0 acerto dessa solu- do, Em outras palavras, ‘os estudos ‘sociais devem visar_ndo somente a ampliagdo de conhecimentos, mas também o desenvolvimento de certas habilidades, processos, atitudes interesses que contribuirdo para o desem- penho, pelo jovem, de seu papel numa sociedade democritica ¢ indepen- dente. 2 - Os objetivos do ensino de Estudos Sociais A adogio de uma concepgio integrada de estudos sociais no ensino ele- meniar brasileiro & conquista ‘relativamente recente, Tradicionalmente, eram ensinadas matérias independentes umas das outras, Em 1877, por exemplo, nas escolas piblicas de instrugdo primaria do Municipio da Corte, os alunos aprendiam como disciplinas separadas a Geografia do Brasil, a Historia do Brasil ¢ as Noces Gerais dos direitos e deveres do homem e do cidadio economia social © doméstica (Moacyr, 1937). A passividade dos alunos, a memorizago de fatos © dados isolados (listas extensas de locais ¢ acidentes geogrificas, datas e personagens hist6ricas), 0 uso do método expositivo pelo professor e 0 emprego muito limitado de’ livros caracterizam boa parte do que se fez neste dominio, ao longo da histéria do ensino primario brasileiro. A partir da segunda metade do séeulo atual, todavia, éresceu a conscién- cia de que era necessirio modificar esse quadro, substituindo-o por um trata- mento mais simples e integrado dos. estudos ‘sociais. Uma das. linhas de mudanga nese sentido € representada pelas reformulagdes de curriculo.e programas em varios Estados, como, por exemplo, a do Estado de Sto Paulo, realizada em 1967, na qual os estudos sociais foram introduzidos como area do curriculo, devendo ser “tratados de maneira simples, com 0 objetivo de contribuir para sociabilizar a crianga” e “dando maior relevo 4 agdo © a0 comportamento € no assimilacdo passiva de conhecimentos”. O programa paulista, na primeira e na segunda stries, menciomava os objetivos seguintes: 4) conhecimento do meio fisico e humano que rodeia a crianca e das maneiras de usar 0s recursos. disponiveis; b) comego da percepgo de que ha interdependéncia entre pessoas € povos e de que o respeito ¢ a tolerincia miituas devem_prevalecer; ©) percepgio de que as sociedades evoluem com o passar dos tempos: 4) conhecimento dos problemas existentes no meio em que a crianca vive, para que esta sinta a possibilidade de participar como membro atuante na solugio dos mesmos; ©) aprendizagem de localizagao, selecdo, organizacao ¢ apresentaclo de informagdes; 1) uso adequado de termos especificos da area de estudos sociais, assim como simbolos e convengdes para leitura e interpretacdo de plantas, mapas, globos © grificos simples. Os objetivos fixados para o terceiro ¢ quarto ano eram sete: 4) ampliar_gradativamente os conhecimentos do meio fisico ¢ conhecer suas influencias na vida do Estado; b) concluir que hd imterdependéncia entre os diversos Estados ¢ Terri torios do. Brasil ¢ outros Paises; ©) comhecer 05 direitos ¢ deveres do cidadio ¢ sua importincia para o rogresso ¢ a unidade nacional; 4) conhecer os principais fatores sbciais, politicos ¢ religiosos que influenciam a evolugdo do Estado e do Pais e que explicam nossas atuais condigdes de desenvolvimento; 142 ©) ser orientado, gradativamente, no sentido de tomar conscitncia de nnossos principals problemas de desenvolvimento e de analisar critica- mente & tentativas de solucdo; ampliar a habilidade de recorrer a fontes diretas e indiretas de infor- mages; 2) tilizar adequadamente terminologia especifica, convengdes geografi- as, graficos, mapas € globos, Programas com objetivos mais ou menos semelhantes foram preparados & adotados em outros Estados, durante a década de 60. Os topicos ¢ a seriagao destes apresentam, certamente, diferencas de um Estado para outro, mas, de modo geral, os objetivos visados assemelham-se aos transcritos acima, 3 - Os livrose a leitura em Estudos Sociais ‘A importancia que se atribui, presentemente, a aprendizagem decorrente de experiéncias diretas (projetos, excursbes, dramatizagdes etc.) ndo diminui, de nenhum modo, 0 papel relevante que a leitura deve desempenhar, a0 Tongo dos oito anos de escolaridade basica. Tanto os compéndios © textos suplementares como 0s artigos de revistas, as enciclopédias, os jornais etc Constituem vias de informago, eselarecimento e reflexdo indispensiveis para a crianga ou 0 adolescente, na area de estudos sociais. Preston (1967, pags 397-298) assinala, com rizio, que “0 aumento da capacidade de leitura da crianga tende a ser acompanhado pelo aumento da capacidade de compreen- Hlo dos estudos socials, Os dois atuam um sobre o outro: a leitura auxlia na aprendizagem dos estudos socials ¢ estes, por sua vez, desenvolvem a capaci- dade de leitura.. A leitura tem um poder muito maior de ampliar ¢ aprofun- Gar 0s conhecimentos do que qualquer outra atividade educacional, Além disso, quando Ie, (0 aluno) tem mais possibilidade de analisar do que durante as explicagdes do. professor, os debates, os filmes, ow programas de_televi- Sto... Incentivar a leitura ¢ uma das maneiras mais eficientes de ajudar a Griatiga a compreender seu mundo”. 5 Lembra. Preston que, num programa” de estudos sociais, a leitura tem numerosas utilidades, E um meio de coligir dados, ajudando a crianga a encontrar respostas para problemas especificos. Possibilita a comparacao de fontes, que pedem expor ou interpretar fatos de modo divergente, Pode ser experimentada como recreasto, quando, por exemplo, a riangn JE obras o frligos interessantes sobre Vidas de outros povos, personagens historicas, epi sédios do. passado. Assume a forma de atividade social, quando se le em grupo ou quando se le para representar um papel em pesa cujo conteddo se Fefere a algum aspecto dos estudos sociais. A leitura é, também, meio de organizagdo ¢ resumo de conhecimentos, Um ensino eficiente de estudos sociais requer no somente bons livros- texto ou compéndios, mas também o uso permanente de certa variedade de outros materiais impressos. Os alunos néo devem trabalhar somente com um livro-texto adotado, mas precisam dispor de livros sobre assuntos especificos (por exemplo, Como os paises sdo governadas, O Bardo do Rio Branco, Histéria fos mielos de transporte etc.) livTos.€ artigos de ficgdo baseados em fatos veri- dicos, revistas para adultos e eriangas, publicagdes oficiais, folhetos, atlas, enciclopedias, recortes de jornais e revistas, mapas rodoviérios, boletins cien- Uificos, histéricos, geograficos © outros 3.1 - Caracteristicas do “Os livros de texto sto iiteis para todas as’ stries da escola primaria", escreve Preston (1967). "Muitos so preparados com grande cuidado, levando 143 livro-texto fem conta fatores importantes, como vocabulirio, organizagao, tamanho dos periodos, apartneia, simplicidade de idéias, precisdo do texto e ilustragdes, Gin"bom iivro coniplementa o ensino de qualquer unidade” (pag, 307). Os professores geralmente selecionam para adogdo em suas classes um livro-texto Gue se ajusta mais a0. programa que pretendem desenvolver. Altm disso, Sinpregam livros-texto auniliares, na biblioteca de classe ou na biblioteca da escola, como recursos subsididrios ou complementares da apredizagem. A Selegio eso dos. livros-texto de estudos sociais aplicam-se os principios gerais referidos ia primeira parte desta obra. Alem éisso, cuidados'especiais, Gevem ser tomados ‘no sentido de se verificar se 0s compéndios adotados ou fos textos auxiliares S80 coerentes com a cultura brasileira Em virtude do sistema de ensino vigente no pais até 1971, que mantinha separados os cursos primario e ginasial, e por forca dos curriculos e progra- mis adotados até recentemente, somente ‘agora comecam & surgit a pri mneiras series graduadas de livros-texto de estudos sociais destinadas @ cada tim dos oito anos de escolarizagdo basica. Vem sendo, por outro lado, man- {ida ‘a pritica de juntar “linguagem c estudos socials" num s6 livto-texto (0 jue no € recomendavel), no. caso das primeiras series, e livros-iexto especi Heo de geourafia, historia etc. provavelmente continuarlo a. ser publicados para os anos mais avangados © para o segundo grau. E interessante, a esse Fespeito, conhecer 0 que se pasta nos Estados Unidos “0 uso sistematico desses livros (livros-texto de estudos sociais) ¢ mais comum nas séries intermedidrias do que nas primeiras séries do ria das escolas prefere os livros ‘unificados’ (que fundem historia, geografia e outras ciéncias sociais) aos que tratam os assuntos separadamente. ‘Algumas escolas nfo adquirem livros de estudo sociais, apresen- tando. justificativas tais como ‘os estudos sociais devem basear-se nas experiéncias das criangas’, ‘a aprendizagem de estudos sociais deve ser indutiva’ e ‘os estudos Sociais nfo devem ser ensinados como um assunto que tem-de-ser aprendido’ ‘critica mais comum aos livros de estudos sociais ¢ a de que sto demasiadamente dificeis: contém conceitos demais, siomuito compac- tos, mal explicados, ¢ a jlustracdo também ndo é satisfatoria” (Preston, 1967, pag. 307). a Em reunifio realizada em 1968 (II Semana de Estudos COLTED), espe- cialistas brasileiros analisaram 0 problema do livro-texto nesta area © con- cluiram com a definiglo dos seguintes critérios de selecio © uso do livro- texto de estudos sociais: Autemicidade e precisio do conteido. contetdo deve: a) apresentar os conceitos ¢ aspectos bisicos do assunto © ndo acentuar pormenores em detr- mento de informagdes importantes; b) trazer fatos, informagdes © generaliza- Goes acuradas, precisas, atualizadas; c) evitar os faios apresentados em confu- Slo com teorias, hipoteses, para que a crianga nfo os confunda; d) apresentar Cuidadosamente, algumas informagées, de modo a suscitar no leitor a busca de novos elementos, novos fatos para informa¢do mais acurada e exata; f) apresentar informagdes precisas ao invés de informagies falsas, duvidosas; f) evitar os esteredtipos; ) apresentar os fatos, informacdes e idéias bem in- terrelacionados, h) trazer os fatos e informacoes significativamente relaciona- dos nos seus aspectos geograficos, historicos, socioldgicos e econdmicos; i) dar realismso a0 livro; j) evitar algum preconceito expresso ou latente, de modo a influir de maneira indesejavel, na formagio de atitude e no comportamento Social da crianga; I) trazer uma selegdo de aspectos mais significativos com relagdo as unidades sobre a comunidade local, o Estado, a religifo, 0 pais, 0 Coftinente e'0 mundo, m) apresentar problemas da realidade brasilira e esta- belecer relagdes com problemas de outros povos,semelhantes; n) desenvolver compreensio e conhecimento sobre a interdependéncia do homem com o seu meio fisico social, compreensio da interdependéncia de comunidades regides, ¢ de interdependéencia internacional dos povos; 0) expressar os fatos, 144 as mudangas sociais da ciéncia ¢ da tecnologia operadas no mundo moderno; p) dar margem para a obten¢do de objetivos de formacao de atividades e de habilidades sociais e de estudo previsto em estudos sociais. Objetividade ¢ equiltbrio. a) O autor deve apresentar os fatos ¢ informa- Bes de forma objetiva e correta, nfo devendo misturi-los com opinides pes- Soais sem fundamenti-las, ou fazer distorgdo dos fatos; b) deve revelar uma atitude construtiva, levando a erianga a acreditar no valor do esforgo do \omem, Filosofia para orientar o livro, © livro deve refletir uma orientagdo no sentido dos valores democraticos e contribuir para a formagio do cidadio nacional e internacional. Estrutura e organizagao. a) O livro deve estar organizado em unidades fundamentais bésicas, e ndo em topicos isolados; b) as varias unidades devem apresentar seqéncia’ e conexio; ¢) 0 livro deve conter um indice bem orde- nado; indice remissivo bem organizado e claro, para ajudar a crianca na sele- ho dos assuntos especificos de que precisa. Adequapdo. a) © livro deve ser adequado pelo seu contetdo e forma, 20 nivel de’ conhecimentos compreensio do aluno, ndo apresentando, porém, simplificagdo deformadora dos fatos; deve, ainda, ser adequado a série, ou 20 nivel de estudo a que se destina; b) os exemplos também devem ser adequa- dos, ) 9 liv deve estar de acordo com o programa vigente no Estado ou no Territorio. Forma e estilo. a) Os fatos e informacées devem ser apresentados de forma objetiva e interessante, sem utilizar recursos artificiais, tais como narra- tivas do vovd ou do titio, 6) As palavras novas devem estar explicadas ou apresentadas no contexto de modo a facilitar a compreenstio da crianga; c) O autor, pelo seu estilo, deve dar idéia 4 crianga de que ha mais para aprender, isto €, suscita questdes problematicas ¢ lanca desafios & sua mente; deve con- duzir ‘0 aluno & descoberta; d) o autor deve ampliar a visio da crianga e abrir-lhe visOes de beleza, de conhecimentos, de apreciacdes; ¢) 0 texto deve conduzir & formacdo e desenvolvimento de pensamento critico, a solugdo de Broblemas ¢ & generalizagdo para que possum ser aplicados a outras situa- GOes. = td » » fd ~ al al Val al al = al Lal ~ al al al al al =~ Lal Ilustragées. a) As ilustragées © representagdes grificas ¢ pictoricas devem ser adequadas as idéias do texto, esclarecer e completar esse texto, parecer fluir dele; b) devem mostrar pormenores necessérios ¢ distribuidos de modo a no confundir 0 leitor; e) os diagramas devem estar claramente explicados, d) os mapas devem ser atualizados, apresentados de acordo com o nivel de desenvolvimento da crianga e com 0s aspectos de que fala 0 texto; e) a5 ilustragdes devem conduzir a comparacdes entre aspectos similares e aspectos de outros lugares; f) devem evitar os esteredtipos nas ilustragdes (os japone- Ses, como simples figuras de porcelana, com quimonos brilhantes: os holande- Ses'em tamancos, os carigcas com as cenas de carnaval etc.) (COLTED Noti- cias, 1968, n° 5, pags. 17-19), 3.2 - Como usar 0 livro-texto de Estudos Sociais H& muitos modos de trabalhar com o livro-texto de estudos sociais, em classe ou fora dela, Alguns professores preferem adotar um procedimento constante, a0 longo do ano escolar, para esse trabalho, seguindo, por exemplo, 'o esquema de ““leitura prévia em casa; explicagdo ¢ discussdo em sala de aula”. Outros fazem variar o uso do livro-texto de uma unidade para Outra: 0 primeiro capitulo, por exemplo, & lido em fungdo de uma unidade a ser desenvolvida pelos alunos, o segundo decorte de um projeto de dramati- zagfo, 0 terceiro se destina a'preparagdo para uma excursio ou visita e assim por diante. Independentemente do modo de trabalhar adotado, € evidente que fe aplicam & utlzagdo do livro-texto de estudos socials 0s vitios inc Dios explicados na primeira parte desta obra, em eada uind dos Guitta wane des etapas referidas. preparagdo. do. professor, preparaclo dos alines para a Ieitura © leitura propramente dts. Algumas culty ebservagbes, mencionedas 4 seguir, todavia, poderdo ser uicis Livros "usados "na fase inicial'da aprendizagem de estudos sociis sto geralmente constituidos de muitas iusttagdes.€ pouguisimo texte, Ae gee Wuras slo isoladas ou agrupadas em tornd de um concello. oly asunto, ou, ainda,” representam ume" seqléneia clara, “As. Tipuras, teprodusen Geng familiares as eriangas e-situagoes que envelv , us os alunos se identifquem com'o materi do ivro e entendam 0 seni ado daquilo que These: mostrado, Os textos diditigos: essa fase, vise a fornecer a erianga experigncias, conhecimentos e enteadimento aie const tuem as bases das aitudes democritiea, da hablldade de resolver problemas g dos comportamentos desejaveis. Os contetidos que’ melhor se. adapvaih a tsse’ objetivo abrangem, tens om os seasintes 4 Jamila: Papeis.desempenhados na familia pelo pai, pela mae, pelas erianess, por parentes. Responsabiidades familiares, “HAplog de. higicne no lar,"divsto do’ trabaiho doméstico, nodes de_ordemn, de concsia sie 4 escola: Desenvolvimento. de. comportamentos desejivels com reapeito a sscola, a clase, 20s colegas, a0 trabalho, 1 responsabilgade, ©. brinqueds: Como brincar (ordem). Modo correo de brincar (seguran- ga). Como ‘comportarse em relagio. aos colegas (paricpagto em iigdade Comurm, sjuds motun, diseiplinn ete), 4 Comunidade: Como se comportar em lugares pblicos. Liberdade (0 que se pode, o-que se deve ¢ 0 que no se deve fazer), Come atravessay aga fon com seguranca. Servigos oferecidos pela comunidade. Como cada cidadio pode colaborar para 0 bem-estar de todos etc Bons livros didaticos para a fase preliminar de estudos sociais, fartamente ilustrados, contém palavras muito simples e frases bem curtas, pois as criane gas se acham igualmente na fase inicial da aprendizagem da leitura. Convem que 0 vocabulario usado nesses primeiros livros seja bastante limitado ¢ cons. tituido predominantemente de palavras bem conhecidas. Palavras novas devem ser explicadas e obedecer a uma repeticio sistematica. ‘A medida que os estudos avancam, cresce a variedade de materiais de leitura que a crianga pode dominar. Em aritmética, o aluno comega a interpretar graficos, escalas ¢ tabelas simples. Em comunicacdo, sto desenvolvidas habilidades que facilitam a compreensio de textos ¢ a identificagio dé simbolos e convencoes em mapas, plantas, graficos, esquemas etc, Pode, portanto, o texto didatico panhar complexidade relativamente maior Se, na primeira fase de aprendizagem, o que se oferecia a crianga era 0 fato ou o conhecimento concreto, intimamente relacionado com as experién- cias pessoais, na fase seguinte a crianca & crescentemente envolvida em pro- cessos de abstragtio e generalizacdo que vio muito além das experiéncias coneretas diretas.' Além disso, a crianga, agora, € capaz de ler melhor, pode concentrar sua atengio durante periodos mais longos, diferencia melhor trac balho € brinquedo, nao depende tanto das gravuras, Pode, pois, deslocar-se, agora, dos fatos para o significado destes, para as relagdes causais entre eventos etc. Ainda que de modo limitado, a crianga pde as habilidades © aptiddes recém-desenvolvidas a servigo da ampliagao de sua experiencia, que Passa de um ambito mais pessoal € concreto para um outro, mais geral ¢ abstrato, Durante esta fase intermediaria, “a compreensio das relagdes casuais esta em desenvolvimento © manifesta-se em perguntas sobre 0 porqué co como © na capacidade de explicar fendmenos tais como o movimento dos barcos © moinhos e as diferengas entre pessoas que vivem em ambientes diversos. As criangas fazem generalizagdes simples... Os interesses ampliam-se € diversificam-se... Os conceitos sociais desenvolvem-se gradualmente a pro- Porgtio que as crianeas amadurecem, embora haja muita imbricagao de um Brau a outro e grande variagio entre as criangas do mesmo gra... As erian- Gas também formam conceitos falsos e idéias estereotipadas que. necessitam Ser corrigidos... As atitudes sociais assumem crescente importancia 10s graus intermediarios". Michaelis (1967), que assinala essas mudancas (pags. 76-84), 148 lembra que é essencial uma passagem suave dos primeiros anos de escolariza- tra pard os seguintes —“"ndo devem ocorrer mudancas abruptas, pois multas see pas: desenvolverdo um sentimento de inseguranga ¢ uma falta de fiteresse pelo programa sea continuidade for rompida”. Ter see arermediaria que estamos considerando, ainda segundo Michaelis (pigs 85°86), “as experitncias dos anos anteriores estabeleceram bases, ade (iiglas para’a consideragdo dos processos de vida em comunidades © culluras quadat Panbiente imediato da crianga. Os modos de vida do Estado natal da Changs ede outros lugares poderio ser estudados de maneira compreensiva criang® Scados forem relacionados com o ambiente imediato da crianca ¢ 5° Fe ate ede materials audiovisuais cuidadosamente sclecionados, da confeceio ser abjctos, e modelos ¢ da manipulagdo de materiais... AS, situagdes, que oe Piero olugdo de problemas devem por em relevo 0 como € o porqué, eRe menos que 0 quem, qué, onde © quando. As informacdes € os fatos Sho nao mens como’ dados a usar na solugo de problemas ¢ ndo como conterigl que se deva aprender de cor... A leitura, a redacdo de cartas, a sate dedl breves, as entrevistas ¢ discussées ¢ os relatérios podem ser usados sees ieecente facilidade. Os mapas, globos e materiais de consulta assumem uma importancia cada vez maior”. Ar portitermediaria aqui Teferida corresponde a livros diditicos que scr~ vem Mle transigdo dos textos simples do 19-2* anos (centrados na crianca no Taam ie escola’e na comunidade) para os textos mais avancados_dos times lar, asics focalizam mais diretamente a geografia, a historia ¢ © civismo, fiendo uso, também, de material proveniente de outros campos: recittima etapa de aprendizagem de estudos sociais. na escola de primero rau orresponde aos anos finals da infincia € ao inicio @@ adolescencie. Os Bec onesta etapa, sio muito mais capazes de pensar de modo abstrato, ‘ureaiizar ¢ diseriminar. Por essa razio, 0 professor pode trabalhar com. Wrt- generalizar ¢ Gmplexas ¢ ampliadas © introduzir problemas ¢ leituras envol- gads Conceitos socials, econdmicos, politicos, civicos ¢ morais que, nas etapas rong cor ado poderiam set compreendidos pelas criancas. Uma palavra de cay aaterieavia, deve ser mencionada: apesar da maior maturidade dos alunos nests Skapa Tinal, existe ainda limitagdes naturais que impedem que a criancs oe ctapa fing! eNtenda ¢ aprecie devidamente textos preparados para leitores adul- Rdolesrade aqui o papel Go livro didatico é tradurir, em linguagem simples © Vive» tos. aindados especigis na organizacdo do texto, conteados que poderiam ser Sr Sooner sos para 0 aluno, em suas formulagdes originais, nos livros de geografie oe coeys vel colegial ou universitario, Cuidados especiais devem ser tomados fara que no se superestime a capacidade das criangas nesta fase «nd se abarrots para que falas com grande massa de nomes, datas histOricas, acidentes geograficos aaa eesisocials © econdmicos complexos, como se fazia no passado, tanto na sala de aula como nos compéndios. ee ae cderradeiros da escola de primeiro grau, a gcografia ¢ a historia propriamente ditas ocupam posigdes importantes, nos estudos socials. Vérias Pronuisas foram realizadas, a fim de se determinar as habilidades de leitura Pedeificas que conteldos dessa natureza exigem dos leitores. Gray ¢ Reese (IDS) ‘assinglam que € necessirio ensinar diretamente 2s eriancas, no. caso do (Cogeafia, os seguintes tens: a) avaliar corretamente, relacdes eapaciais: por seeetnlon duzenios quildmetras, norte, fronteira etc.; b) compreender como & geogtalta. influl, sobre as pessoas eos eventos; ¢) preparar relatorios bem Sremizados ¢ detalhados, para discussto em classe, a partir de-materiais ides orzatiatentes, livros; 4) it diretamente aos fatos, aos pontos importantes: ¢) Spreciar devidamente as relagdes de causa ¢ efeito; 1) reconhecer generalida ger somo. por exemplo, 0 fato de que maior altitude indica clima mais frie, Gysescobrir as ideias.centrais num pardgrafo; h) teconheeer detalhes, de Bolo no texto; i) compreender a terminologia. geografica; j) classificar Os apole tos. geogrificos de acordo com as necessidades humanas basicas: ali Soins abrige,. vestimenta, ocupacdes, recreado, comunicacdo, transporte, Tpreclagdo.estatica, governo, educagio, religito; I) ler gréficos, mapas, ete Coven ressaliar que a crianga ndo domina naturalmente os itens acima referidos E necessario que 0 professor ensine cada uma das habilidades men- Tfonadas, para que a leitura ¢ 0 estudo sejam feitos com proveito, Com Fespeito a histéria, os autores eitados registram que os seguintes Pontos devem ser objeto de aprendizagem pelos alunos: a) ler historia como historia de verdade, que apresenta implicagSes importantes para o individuo que vive em nossos dias; b) entender relagdes de catisa e efcito; c) familiarizar-se com fontes de materiais nesta disciplina; d) ler voluntariamente textos historicos; e) comparar materiais paralelos em diferentes. livros; {) conhecer as diferencas entre materiais originais (fontes) © fontes secundarias, ) comparar 0 pasado com o presente; h) distinguir entre materiais ¢ aspec: tos relevantes e irrclevantes; i) desenvolver interesse pelos fac-similes de documentos histérices; j) compreender a “prova interna” eo papel impor fante que esta apresenta, em certas dificuldades hist6ricas; |) anotar 0 tempo da ocorréncia dos eventos; m) prestar atengio as seqiéncias cronologicas: n) aplicar conhecimento antigo a situagdes novas; o) selecionar e organizar materiais para fazer resumos; p) compreender a importancia dos dados referentes a fatos; q) grupar itens que devem ser aprendidos de acordo com uma associacdo, significativa, em lugar de decora-los um a um; r) formar 0 habito de associar personatidades com eventos, em lugar de procurar lembrar fatos isolados; s) compreender 0 vocabulario especifico utilizado em historia. Independentemente da fase em que se. encontram os alunos, um Programa de estudos sociais deve ter sempre em vista os conhecimentos, compreensdes, atitudes © habilidades que ajudardo a erianga a viver inteligen. temente € de modo cooperative em seu mundo em expansio. Dirigir-se-a Para o alvo da cidadania ativa e eficiente, ensinando a pritica da democra- cia, as atitudes © os padres desejiveis de comportamento. Professor ¢ alunos devem envolver-se num empenho vigoroso de pensamento, planejamento, coo- Perado ¢ avaliagio, a0 longo dos varios anos escolares. Os bons livros’ dids. ticos’ podem contribuir grandemente para a realizagdo desses objetivos, 3.3 - Uso de textos suplementares, Atlas e obras de referéncia As modernas séries de estudos sociais incluem, geralmente, além do texto biisico destinado a0 aluno, um caderno de exergicios ¢ atividades © um manual do professor. O caderno de exercicios e atividades oferece a0 estu- dante varios tipos de materiais (itens de testes, mapas e graficos para comple. tar, instrugdes para trabalhos simples etc.) que facilitam a retencao dos conhecimentos aprendidos ¢ proporcionam pratica das habilidades requeridas em estudos sociais. O manual do professor indica procedimentos cuidadosa- mente planejados para cada capitulo do livro diditico a que se refere ¢ Fegistra objetivos visados, novos termos e conceitos e sugestoes detalhadas para atividades em classe, leituras suplementares, trabalho individual ¢ em grupo, discussdo, avaliacdo etc, lZo basta que 0 aluno aprenda a estudar por meio do livro didatico ¢ do caderno de exercicios. E necessirio que aptenda, também, a recorrer outros livros, a usar obras de referéncia, a colecionar recortes de jornais ¢ revistas etc. 'Essas aprendizagens demandam orientagdo sistemitica por parte do professor ¢ implicam em cuidados didaticos semelhantes aqueles que si0 tomados com respeito ao ensino do conteido de estudos sociais. “Muitas eriangas © jovens provém de lares nos quais se desconhece a maneira pela qual um atlas é consultado, uma enciclopédia € utilizada, um mapa é anali- sado, E ainda que o aluno tenha observado pessoas adultas de seu circulo familiar a realizarem essas atividades, a simples observagdo nao basta, para © desenvolvimento. adequado dessas habilidades. Requer-se instruco. sistematica esse respeito. Assim, varias sessOes, em sala de aula, serio devotadas ao ireinamento de localizagdo de acidentes geogrificos nos’ mapas, a descoberta de artigos relevantes sobre um dado assunto em enciclopedias c livros suple- mentares, & compreensio do significado de diferentes tipos de grificos, 4 tarefa de localizar artigos de jornais e revistas, sublinhar trechos importantes, classificar e reunir os recortes em pastas apropria 148 s estudos sociais apenas aps a altima reforma (Lei 5.692/71) terio con- digdes de se desenvolverem como tal. Tanto o ensino como a maior parte dos livros didaticos disponiveis no mercado ainda esto presos ao contendo tradicional de historia, geografia e organizacio social e politica. E de se es- perar uma teformulagdo e programas e¢ de material didatico nesta area, luma das mais carentes em temas de livros adequados. etwas recomendadas ‘Carvalho, . D,Lahistéra, la geografaylalnsruccn chica. Buenos Aires, Kapelusy, 1952. Dornelles, LW. Devsdari, 1 Estados socials ntrodupdo, Ride Janeiro, Ao Livro Técnico, 1967 Leite, M. MO ensin de histria Sto Paulo, Cult, 1969. “Michaelis. JU. Esnudos socalsparecriancas numa democracia. Porto Alegre, Globo, 1967. Preston, RC, Eninando estado sctts ma ercolaprimdvia. Rio de Janeito, Fundo de Cultura, 1967, Ministerio da Educagio. Cultura. Etudes sociatrna escolapriméria Riode Janeiro, MEC, 195 149 QUINTA PARTE Comunicacao e Expressao CARTILHAS, GRAMATICAS, LIVROS DE TEXTO Neste capitulo, 0 leitor encontraré um quadro das raizes, das origens ‘e do desenvolvimento dos livros destinados ao ensino da lingua nacional, nas escolas brasileiras de primeiro grau (antigos cursos primario e ginasial). © contetido do capitulo inclui os seguintes assuntos: \Antigas cartilhas portuguesas e brasileiras, © 0 aparecimento ddsnovos métodos de aprendizagem da leitura, ‘a partir das palavras, frases e historias, e as cartilhas baseadas nesses métodos, no inicio do século XX. © Mudancas ocorridas nos textos destinados @ aprendizagem inicial da leitura, durante 0 século atual. © Material diddtico destinado a alfabetizagao de adultos ¢ : ‘ao ensino da escrita © Evolucdo das séries graduadas de leitura no século 19, a partir da colego de Abilio Cesar Borges, Baréo de Macadbas. Contribul antiibuigbes ‘de Hilério Ribeiro, Felisberto de Carvalho e outros. © 0 Cuore, de Edmundo de Amicis, sua importancia e sua influéncia na literatura didética brasileira. @ Renovacdo dos livros de leitura nas primeiras décadas do século atual: Puiggari, Kopke, Vianna, Bilac_e outros. © As contribuigdes de Thales de Andrade e Monteiro Lobato, © “Pedrinho”, de Lourenco Filho, e o nove padréo das colecdes de leitura no Brasil. © Enciclopédias e cademos de pontos e exercicios. © 0 latim ¢ os primérdios do estudo do idioma patrio. O curriculo jesulta. © As primeiras graméticas da lingua portuguesa e a gramética tupi de Anchieta, pontos de partida da literatura didética gramatical © Historia das graméticas brasileiras do século passado e do. século atual. © As antigas antologias e seletas. Séries de leitura avancada. © Prestigio e decadéncia da retérica. Os compéndios de retérica no Brasil. CAPITULO Sto poucas © confusas as informagdes disponiveis a respeito da origem ¢ do desenvolvimento da literatura didatica no Brasil. As historias literarias geralmente silenciam sobre isso. Se o passado da literatura infantil de cardter ecreativo tem encontrado seus pesquisadores, praticamente nfo ha estudos sistematicos sobre a literatura diditica brasileita. Desprestigiados pelos espe- cialistas de historia Wteriria, menosprezados tanto pelas bibliotecas come por aqueles que estudaram em suas paginas, os velhos livros escolares — ¢, dentre estes, notadamente os mais modestos, ‘como as cartilhas, os “livros’ de lei- tura”, as primeiras aritméticas etc. — t@m sido freqlentemente abandonados e destruidos por aqueles que os consideram objetos initeis, destituidos de valor. De muitos textos escolares do passado, resta somente uma vaga referencia \ em antigos catilogos — nada mais. Um dos raros estudiosos de literatura, infantil que se ocuparam, também, da literatura escolar, Arroyo (1968), assi- nala que: a —— “os livros colhidos nas paginas dos catélogos antigos sio de dificil consulta. Somente 0 acaso nos leva a encontri-los. Embora a obriga- toriedade da entrega de exemplares A Biblioteca Pablica Nacional e, nas provincias 4 Biblioteca da Capital, date de 1847, a verdade & que tal dispositivo legal ndo parece ter sido cumprido i risca. Trata- se do decreto de 3 de julho de 1847, de n° 433, que estabelecia a obrigatoriedade daquela’ remessa aos impressores: um exemplar de todos os impressos que sairam das respectivas tipografias. Nao foi cle espeitado talvez nunca. Nao houve fiscalizagdo a respeito ¢ isto explica a auséncia de tantas obras impressas das estantes de nossas bibliotecas oficiais” (pig. 81) ‘A vida relativamente efémera de grande nimero de velhos livros escolares, a desvalia destes ¢ 0 desinteresse dos pesquisadores convertem a tarefa dé_quem procura esbogar as principais linhas da evolugéo do livro didético brasileiro em empresa sobremodo dificil, repleta de problemas. Ao ‘mesmo tempo, contudo, a medida que se exuma ‘das estantes empociradas ¢ dos desvaos mais humildes dos “sebos” uma gramatica escolar do século 18, uum livro de leitura do século passado ou alguma raridade como aquelas que Alcantara Machado! encontrou citadas em testamentos de bandeirantes, na verdade € impossivel deixar de concluir que na forma ¢ no contetido dessas obras se encontra um dos mais surpreendentes ¢ reveladores capitulos da his- toria do ensino ‘no Brasil. ~ AS limitagdes referidas acima explicam por que, no presente capitulo, sobre antigos' livros usados na aprendizagem do idioma patrio, ndo se vai além, muitas vezes, de um simples registro dos nomes de uma obra e seu autor. Aprofundar a andlise do passado da literatura escolar, determinar-the as coordenadas, precisar melhor seu espirito e sua influencia, € tarefa que no. cabe nestas paginas. O propésito, aqui, & simplesmente ode comecar a desfazer 0 desconhecimento que verca esse passado, fornecendo ao leitor & , a0 futuro estudioso um primeiro conjunto de informagSes e perspectivas, Limitamo-nos, portanto, aos livros destinados & aprendizagem da leitura ¢ di gramatica: cartilhas, livros de leitura, séries graduadas de portugués e grami- ticas que os mestres, as criancas das escolas priméarias ¢ 08 estudantes sccun- darios do passado conheceram e usaram, A informago disponivel sobre os primeiros livros usados no Brasil pard © ensino de leitura € muito pobre. Sabe-se que em fins do século 15, existiam Machado (1930) menciona alguns livros diditicos que paulistas dos seculos 16 e 17: Eplome Hixtaral, Floro Hisérco, Pros Imatica, Cartiha Pastoral, Repertérlc, Segredos. da Natureza ratado Prétcn de Arie 154 & gar \ conKinhoy GM PoRueal as caries, poserormente. denominedes crtas, pequencs livtos gue reuian abecedirio, 0 lsbarion soda ae pequener polls de remessa de vos escolares para se “enter sce eee He orosal para’. Guine (L488) Congo (1290 ¢ 1554) eo" eam ere ie 1sts,D: Manuel remeteu 2.300 volumes para a Btpiay Goch, (S13) Em mil cartnhas"¢° "48 cahacotost coral i ney ns pbcn noms porapts& + ara de Aprender a Ler, de TOROrderEaTY impress asp ees 8 Lz Rodrigues, em Lisboa Pesumeae oe eget 1539 pele Bras lem de nsinr ah primes letras, reuna & peers Calg me Bras Santa Madre Tere” O ‘ctor eontemportneo poder talvez,estanhar a reunito do ensing in gil letra com 0" da rele em antias: Contain Barros. Acontece que, no ‘pasado, ensino © cgi see es 2080, de reeomendasdes de D.'Jofo'lil'« Tome. de Sours (a) nla ara Ns fet desenalvido por esteem terra brsilefas ha, Ct cone 9 tabalho gees, cares, tobe a insrugte © simultneumtace a trae bse as cranvas indigotes baescememiRos, Porque neles imprimirdo melhor a doutrina, tra Gathareis por dar ordem como se facam cristios que sejam ens, Ph Gos € sitados da conversto dos gentios... Porque © prinsral ne, Gus agency Sit Mandar povoar as ditas terras do Brasil foi pare que a gente dela se convertesse 4 nossa Santa Fé Caishea® naconyidamos os meninos a ler e escrever e conjuntamente Ines ens ® Moe ter te uttina cristd... porque muito se admiram de come satsi| Bor act G,cserever e tem muita inveja e vontade de aprender e aoe Jam ser cristdos como nds" cee sapandéncia jesuita mais ou menos dessa época, & dito que “a samnsag, ttes, Manda (20s meninos edueados pelos jeaultass eitins © Yoo de Barros $0 autor de uma las mais-antigés cartihas pera © ensino do idioma portugues (1539). x 1.2 - O “Método Castilho” e a Cartilha » (,/)) de Jodo de Deus meet Quais eram os livros remetidos pelo governo portugues aos discipulos dos jesuitas? Pouca coisa se sabe com certeza a este respeito, Pode-se, contudo, ter uma idéia dessa literatura a partir da documentagdo existente sobre ensino ¢ livros didaticos em Portugal, em meados do século 16. Portugal, aquela época, era bastante atrasado em matéria de livros ¢ de instrugdo. Havia poucas tipografias © 0 analfabetismo atingia nfo somente a gente do povo ¢ a burguesia, como também no poucos membros da nobreza € até da familia real. Situavam-se cm Coimbra e Lisboa os tnicas focos de cultura do reino. O ensino limitava-se aos religiosos e filhos de nobres. As escolas de primeiras letras, ou eschollas de ler e escrever, eram poucas e acei- tavam somente alunos de’ sexo masculino, Funcionavam como preparatérios para as igualmente raras — pouco mais de uma dizia — escolas de segundo grau, as eschollas de grammatica. Grammatica, neste caso, referia-fe principal- mente & gramética latina. As escolas de gramética recebiam meninos ja alfa betizados. Visavam a preparagdo destes para os estudos superiores, 0 sacerdo- cio, a vida monastica. Esta situago nao era diferente da de outros paises. Conforme registra Hall (1966), “a despeito do fato de ser conhecida ha seis mil anos ou mais, a escrita, ate’ época muito recente, cra uma habilidade ciosamente guardada, e limitada a uma minoria, extremamente pequena, de clérigos, advogados ‘ou aristocratas. A alfabetizagdo no comecou a se disseminar, mesmo na Europa ocidental, até 0 século dezenove e a difusto da educacio universal... A época de Carlos Magno (cerca de 800 4.C.), um por cento, talvez, da’ populagio total sabia ler ¢ escrever. Por ocasido da Revolugdo Francesa (1789), 0 total de alfabetizados era de 20 a 30 por cento da populacdo, nas nagdes européias mais avangadas, ¢ muito menos nas demais” (pig. 27). Ainda que usadas por um numero exiguo de professores e alunos, as car finhas portuguesas marcam o nascimento da literatura didatica em nosso idioma, para o ensino elementar Além da cartilha ¢ Joo de Barros, ha noticia’ da Cartinha Para Ensinar a Ler com as Doutrinas da Prudéncia, Adjunta uma Solfa de Cantigas para Aticar Curiosidade, do eremita agostiniano Frei Jo&o Soares (posteriormente Bispo de Coimbra), impressa em 1539 e reedi tada varias vezes.* Data igualmente do século 16 0 mais antigo texto em portugues para o censino da escrita. Trata-se dos Exemplares de diversas sortes e letras tiradas da Poligrafia de Manoel Barata, escritor portugués; acrescentadas pelo mesmo Autor, para Comum Proveito de Todos. Antonio Alvares, de Lisboa, encarregou-se da impressto do texto, em 1590. 0 autor, Manuel Barata, foi “mestre de escri- ta" do Principe D. Joo, filho do Rei D. Joao Il. Mais recente, mas apresentando a curjosidade de ser um livro escolar de autor brasileiro, € a Nova Escola (1722), de Figueiredo. Esta cartilha para 0 ensino da leitura, escrita e rudimentos de célculo, apresenta o tipo de caligra- fia criado pelo autor ¢ adotado em Portugal durante a primeira metade do século 18. 0 titulo completo do livro € Nova Escola para Aprender a Ler, Escrever © Contar. Manuel de Andrade Figueiredo nasceu na Capitania do Espirito Santo. Filho do Governador desta, lecionou em Lisboa e tornou-se caligrafo famoso em Portugal. Wr bv / 2 0. Ay oy vt Nio hi noticia de pesquisas sobre a origem e o desenvolvimento das car- tilhas no Brasil. Sabe-se, contudo, em virtude do testemunho de pessoas que viveram no século pasado e de alguma documentacdo pedagdgica, que livros Portugueses, e, entre estes, possivelmente a cartilha de Antonio’ de Araujo | Em 1550, a carttha de Frei Jolo Soares apresentava o seguinte tule: Cartinka para Ensinar 2 Lerve Escewr como Tratado dos Remédie Contra ot ‘Sete Pecadas Mortis (Coimbra. Toto Aivates'e Soto de" Barreira, 1550. 156 Travassos (1820) ¢, com certeza, 0 Método Castilho (c. 1850)' ¢ a Cartitha Maternal (1877), de Joo de Deus, foram usados no Brasil ‘Quanto. a0’ Método Castilho, Saraiva e Lopes (c. 1966) anotam que era “simples adaptagiio,... de um método francés, que © nosso posta propagan- deou pessoalmente, sem éxito, nos Acores, no Continente € no Brasil, susten- {andoruma aspera polémica, através de folhetos demagogicos” (pig. 752). Outra, contudo, € a opiniio de D. Antonio da Costa, que no esconde seu entusiasmna pelo Método e pelos, resultados obtidos com o mesmo (Costa, T871, Cap, [1). Ao que tudo indica, esté, ainda, para ser feita uma analise serena, objetiva, do metodo Castilho?. No capitulo que dedica ao método, Costa esclarece suas origens, Antonio Feliciano de Castitho foi encarregado pela “Sociedade Promotora da Agricultura”, na iha de S. Miguel, de coorde- Rar “uma cartilha onde a clareza se juntasse o atrativo para as criancas” Castilho aplicou, entdo, a0 portugués, 0 método figurado de Lemare (1818), Smas com’ bases novas, fazendo dele um meétodo incontestavelmente nacio- nal” (pag. 206). E mais adiante: “O Método Portugués, como ensinamento do Ter, fol bom pelas vantagens de ameno e aprazivel,’ de fazer aprender em muito menos tempo e de se ficar sabendo muito melhor... O atague foi aos Tuessorios © no 4s bases... A obra de Castilho se tornou mais relevante: 1", porque além de levantar 0 penddo para a facilitagdo do ler, levantou-o impli- Piamente para a facilitagdo de todo o ensinamento primario; 2%, ¢ mais {mportante ainda, pela espécie de producdo que, ele ocasionow na matéria da instrugdo popular, pelo movimento que produziu” (pag. 212). Adotando o mé- todo sintetigo, Castilho, contudo, procurava amenizar o aprendizado das letras, assoeiando-as a figuras que reproduziam seu aspecto, referindo-se a sons natuais ete oe ie Em. 1876, surgiu o segundo texto portugués de importancia para o ensino da leitura, no século pasado: a Cartiha Maternal, do poeta Joko de Deus Ramos, Féla por solicitacdo de um livreiro, ¢ iniciou, assim, sua carreira de pedagogo “que Ihe acarretou sérios dpsgostos até ao fim da vida, fazendo-o Feagit com polémicas e satiras, mas que também lhe valeu em 1895, a poucos meses do falecimento, uma das mais entusidsticas consagracdes publicas de {ue foi alvo um escritor portugues” (Saraiva © Lopes, c. 1966, pags, 949-950) Nos depoimentos recolhidos por Freyre (1959), a cartilha de Joto de Deus € mencionada como texto para aprendizagem das primeiras letras no Brasil. 20 fim do Império. Rodrigues (1930) registra que se deve a Antonio da. Silva Jardim, entio professor da Escola Normal de Séo Paulo, na década de 80, “a introdugio em'Si0 Paulo do método de Jodo de Deus para o ensino elemen- tar da feitura, metodo que veio desbancar a obsoleta aprendizagem por meio Ga soletracdo, Silva Jardim teve para isso um prestimoso auxiliar na pessoa do jovem Antonio Victor de Macedo” (pag. 123) 'No preficio da Cartilha Maternal, diz Joio de Deus que 0 aluno que aprende pelas letras ou pelas silabas, “‘conduzido através de elementos inertes inexpressivos do. pensamento, reduz-se posicdo de repetidor de uma cam- ©” Buthada de miudezas trivialissimas, que noo divertem, nem instruem, atrofiam-Ihe 0 espirito e deixam nele, impresso o habito da leitura mecinica, senio, muitas vezes, o selo do idiotismo”. (Cit. por Kopke, 1945, pig. 1 Com sua oposicdo aos métodos de soletragao € silabagho como pontos| de ponte tare" abrendizado da feitura, e seu-empenho no sentido de “evi-\ tar 0 flagelo da cartilha tradicional”, por meio de um sistema mais, pratico simples, Joao de Deus ¢ sua cartilha marcam a transi¢ao do abecedario ¢ do beabé, dominantes no pasado, para os métodos de ensino baseados na mareha analitiea, que serio difundides no pais durante a Repablica. T Gio Weinivamente civamas ws (lerincian sabre o uso do Método Castilho no Brasil. Primitive Mie tliucrene depolmentos sobre difculdades encontradas © resultados obtidos em Macei®, Niggoss, ume escola que adotou 0 metodo, (¥. Moacyr, 1939) tes, au cor dd abra ve Castlho. € Método Casto. para o Ensino Répido ¢ Apraztel do er resi ana e umeraa«', Ekee, Fs om ee Pa abo Le Ao Roba apareceu em segunda edigdo, refundida e aumentada, ¢m 1853. Inciia abece- Gare taba e textos de leiture, sendo marcada por preocupacdes foneticas Sita ard — ainda € Rodrigues que informa ~ ¢ifundiu, também, o método de « turn de Jodo. de Deus na provincia do Espirito Santo. A convite do presidente €a provincit, Thales Ue Sousa, proferiu varias eonferenclas sobre 0 método, em Vitoria, em 1886 Conquanto existam referénelas a0 uso, no pais, das cartilhas portuguesa, esse sao deve ter sido, limitado. Eram freqientes, até quase o fim do século CwGade, as quetas sobre falta de livros e materiais didéticos nas provincias. Paseo aamiperitos, elaborados pelos proprios professores, eartas, oficios & Gomes mae ge carries fasiam as vezes de material de aprendizagem de le Cee teenie, Jono Lourengo Rodrigues (1930), aluno de escola primaria urdista om 1878, conta, que 0, professor preparava um ABC, manuscrito, em ha de papel, gus se pegsun “rom pega para nfo sac, En Seuids 8 TONE thanucrita!do ABC, “vei 0 baba, que servia de inlcio série bas- {ante fonga das. cavtas, de sflabas. Depois destas vieram as carias de nomes © Bars lume. as cortas de fora, que sewviam de temate aprendizagem da lei- Pom O método adotado era 0 da soletraglo. As carias de fora, cedidas, ao tit cor por emprestimo, serviam para cxercitar os alunos nas difieuldaes Be lethe, ihenusenta.. Os’ meninos taham. direito de escolha ¢ davam pre- $a ete Ieartas dessas cartas, de formato maior e conteddo menor. Eram feréncia tigidos ao professor ¢ alguns deles (raziam a assinatura do Inspetor Geral” (pis. 53). Prossegue 0 depoimento cifravarse naquilo que os ing fray Sus’ estava no. primeiro plano, Comecava pela letra manuscrita, mas (ar ami das cartay de fora, a letra de forma’ vinha alternar com a letra de a Part ata entdo em cena os livros escolares. O primeiro que me caiv rn a un silabario portugues. Agradou-me em extfemo por causa, das Temas. ApoS 0 sllabéno, velo a Cartiha da Doutrina Crista. também ilustrada.... O professor mandava aprender de cor, os capitulos_relativos a Heraee Ceathe que. forma o primeiro catecismo” (pag, 54). © ensino da ura era, segundo Rodrigues, completado como "o estudo da disciplina gra regal o'qual consistia apenas em decorar o compendio de Coruja’. Quanto mica lg professor “quem feria os debuxos para os principiantes © os ineladospara os" mais adiantados” (pat. 56) eet Pireitos Textos brasileros de_iniciagdo a leitura consagrados pelo profecorade durante varias décadas foram os de Abilio Cesar Borges ¢ Felis Bt ee Cawvalho, a Cartlha Nacional, de Hilério Ribeiro © a Cartfha de Mafikeia, de Carlos ‘Galhardo. Dos livros de Borges ¢ Carvalho falar-se-8 mais Inftncla e Sarte relativa.a0s livros de leitura. Aqui, trataremos somente das Sartihes de Ribeiro © Galhardo. MMator ‘de varios livros. didaticos. muito populares desde. fing do século passed que: chegaram a obter premios na Europa, Hilario Ribeiro escreveu E*Ganttha! Nasional para o “ensino simultaneo de provavel- 2 Carta Nacional Dats os Se por vivos mermonalstas que ments To século. passado, fol, juntamente com os demais livros de Ceram Re beas (que mais’ coniribuiram para @ “nacionalizagao” da literatura Giditica no Brasil Weulsrigade igual, se nfo maior, alcangou a Cartitha de Infancia, de Galnado cducador paulista. Thomaz_ Paulo do Bom Sucesso Galhardo foi GalnarGe anos da primeira turma da. Escola Normal de. Sto Paulo, matricula- eos aes nd da inauguragdo da escola. Aluno diligente, aplicado, con- {prem Curso. em ‘dezembro. de 1876, tendo merecido mengo honrosa, Sua cu Ne deve ter surgido pouco depois, talvez no inicio da década de 80. Em 1890, Romao Puig jodificou-a, e ampliou-a, esclarecendo, em nota. preliminar, tee Rando nie tizera, ele proprio, s corvevbes e aeréscimos por {er abando- aes Canapistério € dedicadorse a outros afazeres, Mencionava, ainda, a grande aa oe untrada pela cartlha, aerescentando que “o método... tem oferecido aceite atraordindrias sobre todos os metodos até hoje empregados em nossas WSCOLESE Sito atestado por todos quantos o tém empregado” No prefucio da, Cartlha da Inféncia, Galhardo se tefere aos tres métodos de ehgnd da Tettura em fins do seculo passado: “o antigo ou da soletraedo, 0 oe Sai ou, da silabagdo, 0 modernissimo ou da palarraedo™. E diz ter ado- moderne aio terme pois se 0 metodo antigo “é 0 método do absurdo”, ¢ tag Ginda, para se’ adotar 0 metodo da palavragdo, “em vista do estado atual do ensino primario do Pais”. A Cartilha da Infancia adotava, portanto, 0 método silabico. Galhardo diz ter feito, também, “experiéncias sobre os mé- todos fonicos, fonotipico e outros, mas sem colher os resultados admiraveis do emprego do método silabico, seguido de imediata aplicacio das silabas em palavras, e da aplicacdo destas em frases curtas e de facil compreensio” A primeira licdo da cartilha de Galhardo apresenta as vogais, os ditongos ¢ as vogais acentuadas. Da 2* a 33¢ ligdo, 0 aluno trava conhecimento com as consoantes, uma a uma, observando 0 autor a seguinte ordem: a) apresen- taco das consoantes e sua classificacio (p.ex., “V, labial sibilante”); b) grafe- mas do tipo consoante-vogal (p.ex., VA, VE, VI, VO, VU), em varias ordens: ©) vocabulos formados pelos grafemas (p.cx., VO-VO, VI-VA, OU-VE, VI-VI-A); d) exercicios com frases simples: VO-VO VIU"A AVE, A A-VE VO-A-VA. So tam- bem apresentados casos especiais: os ditongos nasais (AO, OE, AE) 0 PH, o Cetc Nas paginas subsequentes da cartlha, ha varias leituras simples: a escola, a carta, a oragio, poesias A ‘despeito das reformas do ensino ¢ da introdugdo de métodos moder- nos, a Cartitha, de Galhardo acumulou novas ¢ crescentes tiragens no século alual. At 1931, 122 edigdes tinham sido impressas. Endo obstante os progressos posteriores, continuou a ser editada até nossos dias: nas décadas Que vio de 1931 a 1970, outra centena de edi¢des se acrescentou a centena anterior, com duas a trés edigées por ano, em media. Em 1968, apareceu a 219" edigo da Cartilha, que, como a Aritmética, de Trajano ¢ a Taboada, de Baker, figura entre os raros livros didaticos brasileiros usados no pais desde 0 século pasado até o presente. De Hilirio Ribeiro, 0 autor da Cartitha Nacional (refetida anteriormente), apareceu também, 0 Primeiro Lio de Leitura (silabario), “premiado pelo juri ‘da Exposicio Pedagogica da Capital em 1883 com diploma de primeira clas- se” e reimpresso pela editora Francisco Alves numerosas vezes. Ate 1924, as edigdes aparecidas atingiam o total de 112. Apos a apresentacdo das vogais na primeira licdo, € das combinacdes destas na segunda ligdo, passava-se a0 estudo de grafemas do tipo consoante-vogal, e palavras e frases breves, em quarenta ligdes, que terminavam com o alfabeto maidsculo e mindseulo. Algumas leituras simples ¢ uma ligo sobre nimeros completam esta cartilha de 70. paginas. ‘De’ outras cartilhas do século passado, restam somente vagas referencias. Em Casa Grande e Senzala, Gilberto Freyre menciona as Cartas Syllabicas com Exercicios Parietais, usadas no século 19, no Espirito Santo, mas nada diz sobre 0 autor ou 0 contetido da obra. Em 1880,"0 catalogo do editor Sera- fim, no Rio de Janeiro, registra um Silabdrio ou Compéndio de Leitura Elemen- tar, do Dr. J. M, Velho da Silva, No catélogo do editor Garnier, de 1872, sio arrolados uma Primeira Coleedo de Cartas para Os Meninos e Meninas Aprenderem a Ler e um Método Facil para Aprender a Ler, de autores no identificados, assim como a famosa Colecdo de Translados, do cearense Cyrillo Dilermando ‘da Silveira, Diretor do Colégio de Valenca, na Provincia do Rio de Janciro. Ha noticia de um Abecediirio Mascarenhas, ou Método Repentino de Aprender a Ler, de Francisco de Paulo Mascarenhas Junior, publicado em 1882 no Rio de Janeiro. Em 1884, em-A Lei Nova do Ensino Infantil, 0 Baro de Macaibas, Abllio Cesar Borges, apos, citar textos franceses © portugueses, fala do “Método Pinheiro (Ba-ca-da-fa)” que parece ter sido alguma antiga cartilha usada no pais. Além disso, varios Primeiros Livros de Leitura eram, também, cartilhas, como, por exemplo, 0 de Hilario Ribeiro, citado anterior mente. ‘A despeito da precariedade do sistema de ensino que o Império legou & Repablica, © a despeito dos numerosos.fatores — econdmicos, politicos, geogrificos, sociais — que limitavam a qualidade, 0 alcance © as intengdes da Iiteratura didética brasileira no século passado, & inegavel que, tanto no dominio das cartilhas como nos dos textos mais adiantados de leitura, as ul mas décadas do século 19 ¢ 0 inicio do século atual correspondem a um Periodo de transicdo importante: 0 da nacionalizacdo da literatura didética ¢ do aperfeicoamento sensivel do conteddo ¢ dos métodos de ensino. Ainda que, & luz dos progressos metodolégicos do século 20, cartilhas © “primeiros livros” como os de Borges, Carvalho, Galhardo e Ribeiro possam ser objeto de criticas, ndo se deve deixar de reconhecer que representam um passo a 160 frente com respeito a aprendizagem de leitura, que, até entdo, era feita em abecedirios € textos manuscritos dos professores © antigas cartilhas importa- das de Portugal. 1.4 - Introdugdo das “Cartilhas Analiticas” No comego do século atual, acirrou-se o debate entre os professores ino- vadores, partidarios dos métodos analiticos (ou. globais), ¢ 0s tradicionalistas, adeptos dos métodos sintéticos, para o ensino de leitura. Os primeiros realca~ vam a importancia de aprendizagem “significativa", ou com compreensio, desde o inicio da leitura, cujo ensino deveria comegar com pardgrafos, frases ou palavras. Os defensores do método sintético adotavam © ponto de_ vista tradicional, do ensino a partir do alfabeto, dos sons (fonemas) ou das silabas, ‘Os mais antigos textos usados para 0 ensino das primeiras letras, na Antigui- dade Classica, partiam das letras, para em seguida, passar as silabas ¢ final- mente as palavras. As cartilhas para o ensino do idioma portugués, até mea- dos do século pasado, adotavam igualmente a marcha sintética. Quanto aos métodos analiticos, embora existam esforgos precursores no exterior desde 0 século 17 (no. Orbis Sensualium Pictus, de Coménio, ¢ posteriormente, nos livros de Heinicke, Graffunder, Wercester, Brumstead, Fernham, Huey ¢ mui- tos outros), sua penetragdo no’ Brasil so se fez nas décadas de transi¢ao entre 08 séeulos 19 €.20, em virtude de influéncias tanto norte-americanas como européias, “Jé em 1884”, registra Morais (1945). “Silva Jardi janifestava com desassombro ... que a palavracdo é 0 unico processo racional”. Stiya_Jar- dim preconizava_o emprego da Cartilha Maternal, de Joio de Deus, afit- ‘mando, em conferéncia sobre “A reforma do ensino na lingua materna”, a 21 de abril de 1884: “A arte de leitura tem, sem divida, como as nossas.concepedes, pas: sado por fases distintas: ficticia, transitdria ¢ definitiva. E ficticia a Soletracdo, emi que se rednem nomes absurdos exigindo em seguida valores; transitoia @ siabacdo, em que, se retnem slabas,isolada- mente, para depois ler a palavra; definitiva a palavragio, em que se Te desde logo a palavra, partindo’ da mais facil para a mais dificil, da simples para a composta”. " Pouco antes da passagem do século, comecaram a circular no pais con- cepedes inovadoras do ensino inicial da leitura. Em carta datads-de_margo de 1890, Caetano de Campos, entdo a frente da reforma do ensifio normal em ‘So Paulo, relata a descoberta que fez, “por intermédio do.Dr. Lane, da Escola Americana”, de-‘uma mulher que mora al ne, Rio, adoentada,"des- conhecida, e que esteve quatro anos estudando nos Estados Unidos”. Esta mulher, Maria Guilhermina Loureiro de Andrade, veio para Sio Paulo, contratada por 500 mil réis mensais, para dirigir uma das escolas-modelo ane- xas 4 Escola Normal de Sio Paulo. Ao mesmo tempo, para diregao de outra eicola “modelo, Cgetano de Campos, contratou uma, professors. nore: ‘Americana, Miss Marcia Browne, que tinha vindo para a Escola Americana © dirigia um Jardim de Inffncia na capital paulista, Miss Browne dirigira, antes nos E.U.A., uma Escola Normal, em Saint Louis e uma “High School”, em Malden, perto de Boston. Entre as inovacdes introduzidas por Guilhermina de Andrade ¢, Miss Browne na Escola Normal, figuravam os “métodos modernos de leitura’, cer- tamente baseados nas inovagdes dos professores progressistas dos E.U.A., que fambas conheciam, Maria Guilhermina Loureiro de Andrade, informa Leite (1930), foi autora ‘de uma cartilha ¢ também “de uma série de livrinhos de leitura e de uma Hist6ria do Brasil, a melhor que conhecemos para o ensino clementar dessa matéria”. O mesmo informante, contudo, revela que “tanto a cartilha, como os livros de leitura e de histéria, a0 que saibamos, nunca foram adotados nas nossas escolas, e s6 os vimos adotados no Colégio Mcto- dista local, ¢ provavelmente 0 eram nos outros colégios americanos. Em carta ‘que nos dirigiu em 1909, ela se queixava amargamente do prejuizo total que : sofrera com a edigdo desses livros nos Estados Unidos”. Leite conta, também, que 0 metodo vsado na carta de Andrade era'o de palavragho, passando ¢ fer conhecido como o “metodo do gato", porauc a primeira ligao" grave ect toro’ de uma ‘elanga © um gatinho, que brineavam com uma bola ‘Alem da atividade desenvolvida pelos professores que. Castano de Cam- pos contratara, © da cartilna de Guilherming de Andrade, que parece ter sido © peimeiro texto brasileiro baseado na marcha anaitica do-ensino de eit, Tmanifesagoes ocorTeram, ao-fim do secu © no-micio Uo stCUD 20, oniribuindo para a introdugao, no pals, das fovas concepedes Ge ensino Mennucet (1930) alude, ‘esse sentido, A conferencia. proferida ‘por Joto Kopke em 1896, em S40 Paulo, sobre 0 “método. das sentencas” confetTéncia que, # feu ver, foi a primeira exposigao sistematica a respelto desse metodo cm Sto Paulo, “Em vinte e trés anos de ensino", aftmou Kopke nessa con Feréacia, “tendo, antes da minha experiéneis, a de meu pal, educador como cu tendo comegada, como ele, pelo metodo sintético na Sun fase mais adian tada ~ 2 da silabaglo, o que venfiquel me Te¥Ou a0 que empreendi-s do. que aleanee!arraigouse a minha. convicea0: abandonel 0, process sinttico de Fesultados aparenies mais prontos © procurados, portanto, contra 0. conselho 4: economia, © adoto e aconselho-o analitico, mais trabalhoso para meste, "mais tardonafrutificagio que” agrada a0 interessado”. Em 1904, regressando'Ge-viagem dos Estados Unidos, o entio diretor da Escola Normal de Sio Paolo, Oscar Thompson, trouxe visios textos sobre o mméiodo de sentenciagZo e unia famosa earth feita de acordo com esse me, todo, 2 carttha de ‘Sarah Louise Amol, difundindovos entre os. professes. De {910° 1930, varias carts surgiram algumas dclas com aspecto grafico sensivelmente melhor do. que o dos livos do século passado, © baseadas nos Iétodos analticos da sentenciagfo ou. pelavragio. A primeira foi a carina de Theodoro de Moraes, Mew Livro (Método Analiico)” A esa juntaram se. 2 Gartha Ian S6" Caton 'h. Gomes Card, 8 Nm Cara. dna Sintrea, de. Mariano de Oliveira, a Carta Moderna, de. Rarnon Roca: Dor. ial a. Cartfha (Letturas Infants) de Francisco Furtado. Mendes Vianna. Coraha das ‘Maes. de (Apnaldo’ de Oliveira Barreto © outs” Em. 1316, 0 Eleorsoacadoe “Iolo WUpie" opto sacs dies. conlna pele ety So. Posteriormente. apareceruin Cartha-(I920)<-de_ AIioa Rodrigues de Freitas, com algumas pravuras em cores, ¢.a Carttha de Afabetizardo, Se Benedito M. Tolosa (1926), ambas pelo método de sentenciagio, a Carte Proenga, de’ Antonio. Firming “de Proenga, iystrada. com csinero ©. com numerosas gravuras coloridas; @ Cortiha analica (metodo de palavracio), de ‘Arnaldo de" Oliveira Barreto; e finha Cartlha, de Olga, Borel Datam, tambem, da decada de 20 as cartihas que maior ntmero de ed- ees aleangaram no pals:'a Carta Ensino Répido da Lettura, de Mariano de Oliveira, langada ‘no inicio da década ey mais tarde, a Cartilia do Povo, Pore Ensinar'a Ler Raptdamente, de Manoel ‘Bergsttori Lourengo Filho, ambas Publicadas pela Compania Methoramentos, Centenas de edigoes desias Guas Earithas foram impressas ate. nossos dss, A cartiha ‘de. Mariano de Oliveira tingiuo total de 1-134 edigdes em 1963, com varios milhdes de exemplares Vendidos. Da carttha de Lourengo Filho, 1.116 edigoes apareceram ate 1961 Uma'e outra carttha comegam cada ligio com palavras. Olivera, em sepvida, apresenia frases e encerra a ligho com « decomposigao das palevras emt sil * Autor de varios tivtos diddticos, entre os quais os da stie de livros de Ietura Sef Ler The ddoro de ‘Morass esereveu uma das primeitas cartihas braslitas para lfabetzaga de adullon, = fovada pela Diretoria Geral da Tasrugdo Publ i etwas do Operdrio,surgiu por voi de 1930, Outras carihas para ale betizagto de sdutior apereceram em 1982 (Cariha de A¥abeizacdo, de Rachel Amazonas, Sam ios tm Sto" Paul) ©1950 (Contha de Aasas, de. Debora Fey, da ence, 01 do, lpi, ete), que earacterzwam via ee ata J “Cdigbesanterores de Onde Esto Parinko? + As carhas encadernadas,comins ata década de 30, pratiamente alo exitem mais, Foram satu por acre renin, Sra mas peer Ay esate, Geo sarees Reade: provihamn Gus pena de-artntasTamoson pssaram ei slo cus a Set carn Se EScanis,prmaros,ineapares de superat © bakimimo pudrto de deicnho ale st sare cert hstfas de Guaarinvos, A queda da qualidade geen ¢ dae dunracdes dis ceritas ‘basics fol mals ou menon peal a pare da\sequnda guerra mundial. Um simples CS de alguns minutos entre uma duzia de cartihas brasleiras Contemporineas ¢ 0s primers SPorcpimes ‘eblndor no exteor sek auciente para fevlar nota atraxo new SO de Sylvia Alves € colaboradores (Abril): O Presene, de, Magia, Lisboa Bacha 8c Sl rae, de Daisy Brescia (Francisco Alves); Marcelo, era & Fate, (oe in. grupo de professoras (Norma Menezes de Olivers ¢ Outras), sob a Por via de Martha Silva de Carvalho (Tabajara; Cotta do Gir de Elbio SuPrvisisles, Rosa M. Ruschel e Flavia E. Braun (Tabajara). As Périar fon @ N. Gonzales. Chea Serena Otto Beyer (Tabajara); Hora Alegre com Paulie ¢ Vows, de, ACids de: Guimaraes Piedade (IBEPY: Domingo de Sol, de Thelma Marita, de OdS ea Jacy.Crosso (J. Ozon); Sof ¢ Chuva, de Wanda, Matra Bellott cigs Sylvia Rocha (Jose Olympio); Meninos Travessos (Prélvro} Vera Joullié Srigeio de Araujo (Vigiliay, Vou Ler — Caritha, ae Navi Ear, Maria teemuistay Carttha. do. Tutu, de Daisy Brescia (Nacional, 0, fale do oso (Congest tea Silva © Souza (edicao du Autora): Vamos Aprendr’. de Saber. eB 'Schebcla e leda Goulart Beirio (Tabajara); Brinquedos & Brinct Idalina C- B, cette Bollini, Moreira. da Silva (Irradiante): Nossa Amiguinta, deras, de Laer da Pacheco Werneck (Irradiante), Cirande, de Vilma Cone via, de vere saadim (Oz0n); © Circo, de Hildebrando de Lima ¢ Kley Ozon Monfort (Ozon).! 1.6 - Cartilhas e textos para adultos © problema do anafabetismo no Brasil estimulou a criagto ¢ a publicagi oe vari rhitan Jentinadas a adultes. Mencionou-se anteriormente alguns textes Fates carats sentido, Em 1947, o Departamento Nacional de Educasto, arsov, pioneiros neste sem de Leitura, baseado no sistema Laubach e nos estudos do INEP Ler Primeiie Cake dos adultos. Ler foi eserito por Dulcie Kanitz Vicente Vianna sobre oadront ¢ Orminda Isabel Marques. Até 1960 foram tiradas onze edi¢as Helena Madr ovtatizando 5,450,000 exemplares, para distribuicZo gratuita nos cr: sess cart egdo de adultos. Um Segundo Guia de Letura, com o titulo Saber, fo) $05 de alt petdo. om 1947, sendo impressos 3.330.000 exemplares do mesmo, até 1960, em sete edigdes. o£ Sele edicea de 50, 0s escritores Marques Rebelo e Herbert Sales « 0 artist Bans Rosa prepararam para a editora "O Cruzeiro", a Cartitha O Cruze, arti als como colaboragio da referida editora ¢ da Schring S/A pars a Caro: Puri de Mobifizagto Nacional contra o Analfabetismo, durante a gestio de Clo- Pangaigado.a frente do Ministerio da Educacdo ¢ Cultura. algad & fronts {> Mamtifta ABC, também editada pela revista “O Cruzeiro’ om ee om 0 Ministerio da Educagio. Posteriormente, sem indicacto gm golaboracte temento Nacional de Educagdo lancou O Povo. de Allredina. oe Ce at oer es uitora Irradiante publicou Luiz e Maria, cartilha de Marion Villas Boas Si Rego ¢ Rachel de, Queiroz one thease petiodo (1961/63) foram editados varios livros para adultos, Con nee tne bisicos apresentando um forte conteudo ideoldgico. O primeira Coote Ode Leltura para Adulios, de Josina Maria Lopes de Godoy © Norma tele To ony Coelho, eaitado pelo movimento de Cultura Popular de Recife, Hlustrado com fotos e desenhos nordestinos, strado com. (jseutido, no entanto, principalmente na imprensa, foi Pier ¢ Lula edna orto Movimento de Edueagio de Base — MEB no final de 1963, Preparsce edt Peres de professares, 0 conjunto didatico compunha-se de um tare oe Bor ua CaP Sse afabetizados, de uma fundamentacdo ilosofiea de wma os Tetura, part Seca ¢ dc textos complementares de fundamentagdo evang@lics (et Sac cat professores, Una Familia Operdria — manual de slfabet acto fr Sagem) ald ereentes, editado pelo Centro de Cultura Popular de Belo Horizonte, adultos § para o meio operdrio, € também muito significativo Pad Pare SHEB lancou. o Conjunto Didatico Mutirdo, composto de uma coy. thn ae Fic texto de leitura ¢ de um encarteinttulado Mutirdo pra Sade, Os ee ee Te acordo com or retados de uma pesquisa ralzada pela Fundacte. do Lins, Osco 1D card, com, OF Tina ais wads os grupos cacolares estaduas dg Sto Pauls <0 &° So rule, a» tage da, decadn passa LOGOS. Caminho Sune, adorads Pe Sequim, em mes a pofestoen, Cara Sod 64; Nowa Crt, 10 ee ae sores Que Sou Pa Paoraplo, 35 Hora Alegre se Crlanct, 297; Mennas Trowesos. 17: cas Cielinho!. 163. adactes (Azevedo, 1969) textos foram elaborados em func&o de um excelente programa didatico, que dis- punka também de instrucdes metodoldgicas e de uma série de textos (mimeografa, Bos) de fundamentagio dedicados aos professores e supervisores do movimento. O texto de leitura e do encarte era versificado, em forma comum nos Estados do Nordeste, onde funcionava a maioria das escolas do MEB. Também as ilustra~ gdes e desenhos de tipos nordestinos, caleados nos bonecos de barro, merecem des- faque. ‘Nos iiltimos anos, milhares de brasileiros de todas as regides esto sendo alfa- betizados com as cartilhas e textos de escrita e matematica distribuidos gratuita mente pelo MOBRAL: Alfabetizacdo (Editora Abril Cultural), de José Carlos Monteifo da Silva, Maria Cristina Machado da Costa e Pedro Paulo Demartini, ¢ Roieiro (Edigdes Bloch), de Vilma Cunha e Maria Dulce C. Pires Vaz, Mais recen- temente, a Grafica Editora Primor passou a colaborar com o MOBRAL, lan- fando seus tres textos de Leitura, Escrita e Matemdticas, preparados pelo gru 5o Matética de Sto Paulo, sob a coordenacdo de Samuel Piromm Netto ¢ Nel- Fon Rosamilha (leitura e escrita) e Claudio Zaki Dib (matematica). Outros textos Fecentes, visando igualmente os alunos do MOBRAL, sio Eu Agora Sou Mais Eu (Abril), Via Methor (Abril), Quemt 18... Vai Longe (Melhoramentos), Leia e Faca Voce Mesmo (José Olympio) ¢ Boa Pergunia (Abril) 1.7 - Cadernos e livros para ensino da escrita Mencionou-se, no inicio deste capitulo, dois textos precursores, publica- dos em Portugal, nos séculos 16 © 18, para ensino de escrita. Até os tempos Go Império, contudo, era raro o uso de materiais impressos nesse ensino, “Nao havendo, como agora, cadernos de caligrafia impressos, era 0 proprio professor que fazia os debuxos para os principiantes ¢ os traslados para os mais adiantados", anota Rodrigues (1930). Desde a segunda metade do século passado, os diferentes modos de escrever foram objeto de estudos e debates. Na Franca, na Alemanha, ¢ mais tarde nos Estados Unidos, a escrita inclinada passou a concorrer com @ fantiga eserita vertical. Surgiram cadernos de modelos ¢ exercicios de escrita, baseados em teorias sobre os movimentos musculares na escrita. Os primeiros cadernos de exercicios usados: no Brasil, para o ensino da caligrafia, parecem ter sido os Cadernos Garnier, de acordo com infofmacao de Carneiro (1953), Continham “debuxos para cobrir” e levavam o aluno “copia em papel transferéncia, A seqiéncia da aprendizagem era esta: pauzinhos, elementos de Tetras, letras, silabas, palavras, frases". Em fins do século passado ¢ nas pri- meiras décadas do século vinte, apareceram varias colegdes de cadernos bra- Sileiros, Francisco Vianna, autor de cartithas ¢ livros didéticos, lancou seu Now Método de Caligrafia’ Vertical (8 cadernos) e 0 Novo Método de Caligrafia Americana (Inclinada), em. seis cadernos, e 0 Caderno de Eserita. De Olavo Freire, apareceram os Cadernos de Caligrafia, recomendados por Felisberto de Carvalho em seu Tratado de Metodoiogia, no inicio do século atual. Em 1914, 2 editora Globo, de Porto Alegre, anunciava um Método Prético de Caligrafia, de Oswaldo Vergara. Por volta de 1950, Orminda Marques publicou os resul- tados de experiencias com scu sistema de aprendizado da escrita inclinada, no livro A Eserita da Escola Primdria. Da mesma autora, apareceram 0s cinco cadernos de Eserita Brasileira, com exercicios graduados para aprendizagem funcional de escrita na escola priméria, Orminda Marques publicou, ainda, Brincando como Lépis, caderno com exercicios gréficos ritmicos, para © ensino. pré-primario e classes de adaptacio de escolas primérias. Durante as iltimas décadas, ganhou adeptos, nas escolas brasileitas, 0 emprego da chamada letra “script”. Trata-se de um tipo simplificado de Gscrita, semelhante & imprensa, composto de letras feitas com linhas retas © "Durante a década de 40, Norberto de Souza. Pinto introduziu 0 ensino de letras script em cearaete oc ieecta ¢ cxctcteios muscularer de sua auloria, preparado para eriangas exeepcio~ cae oe caetno, gue’ tera sido impresso com a colaboragio’ da Fundaeio Getulio Varzas, parece ar © primsirs. feito no pals, para a aprendizagem Ga escritura script. 168 circulos, que, segundo seus defensores, permite a escrita de palavras ¢ frases desde 0 inicio da aprendizagem. Em varias cartilhas recentes, no somente a escritura “script” & preconizada, como também o proprio texto da cartilha ¢ impresso em caracteres “script” (veja-se, por exemplo, Alegria de Ler, de Syl- via Alves, Marcelo, Vera e Faisca, de Alzira Tavares de Lima ¢ outras, ¢ As Férias com Vovb, de Angélica S. Otto Beyer) No atual programa de alfabetizacdo de adultos, dois cadernos para exercicios de escrita (Editoras Bloch e Primor) empregam a letra cursiva inclinada, enquanto outro (Editora Abril) usa uma versao ligeiramente modificada da eseritura seripr, sugerindo, contudo, a passagem desta para a cursiva, durante o processo de alfabe- tizagao. 2- SERIES GRADUADAS DE LEITURA PARA CRIANGAS As eriangas brasileiras no conheceram as séries, graduadas de livros de leitura ate meados do século passado. Conforme foi dito anteriormente, eram ‘escassos 0s livros diditicos, pobres as escolas ¢ primitives os procedimentos, Ge ensind!. A Conslituigas do-Império, 0 Codigo Criminal, os Evangelhos, e, Ts-vezes, tim opiseulo contendo o resimo de Historia do Brasil, eis tudo de quanto dispunkam as escolas dos centros mais populosos para ‘a pritica da _) eitura, A” esses. materiais impressos acrescentava-se geralmente um cOnjunto je textos manuseritos, cartas, documentos de cartorios, etc. E possivel que, aqui e ali, algum livro portugués tenha sido, também, empregado no ensino elementar de leitura. Nao ha, entretanto, indicacdes precisas sobre Jivros portugueses de leitura e sua utilizagdo. O abandono em Que permaneceu a escola clementar no pais, do Descobrimento ao Império, © Os objetivos extremamente modestos desta, limitada a simples alfabetizacdo © dos rudimentos de aritmética, permitem supor que, de modo geral, o ensino elementar do Brasil foi um ensino sem livros, durante trés séculos © meio de historia “Até meados do século XIX, quando vieram as primeiras estradas de ferro, © costume nos engenhos foi fazerem os meninos os estudos em casa, como capelio ou com mestre particular. As casas-grandes tiveram quase sempre sala de aula, e muitas ate cafua para o menino vadio que no sou- esse ligdo”, conforme Gilberto Freyre (1954, pag. 673). “Muitas vezes, aos meninos se 'reuniam erias e muleques, todos aprendendo juntos a ler e a escrever; a contar e a rezar. Noutros engenhos cresceram emi igual ignorancia meninos ¢ muleques.” Além da aprendizagem junto aos pais, a0 capelio, a0 tio-padre, lembra Freyre que “‘houve meninos brancos que aprenderam a ler com. professores negros” “WE felizes dos meninos que aprenderam a ler e a escrever com professores rnegros, doces ¢ bons. Devem ter sofrido menos que os outros: os alunos de padres, frades, “professores pecuniarios”, mestres-régios estes uns ranzinzas terriveis, sempre fungando rapé; velhos caturras de sapato de fivela e vara de marmelo na mio, Vara ou palmatéria.” Gradualmente, todavia, esse panorama se modificou. Apareceram os colé- ios particulares, internatos e externatos. Na capital do_pais-e tas provincias, Eresceram as teivindieagdes de mais-e melhor instrugso publiea)O amparo 20 ensino, -antes limitado aos niveis superior e secundario, Comecou a favorecer 2 escola priméria. Projetos de reforma, leis e medidas adotadas durante © Império refletem a preocupagio com esta. titima, GE, Peixoto (1936, pis, 2). “Oe los esclaes cram descoaecidos nas nosis_grincicas — scoiag, ate muito lange, no Jeculo XIX. A Constituinie predeupouse com um Tvro. modelo para Sr escolas primaria, lvfo.pafa letura e de contetdo educaciooal. Nesses tempos lam-se_ prin palmente carts manuscritas, fue professores e pais de alunos forneciam. Dal a importancia, mais re. No Tivrfdestinado a ensinar ax letras antiquadas, compendio que chepou 20s ye Des ; exw yore f oN Em_ 1836, nto ia além de 640 © niimero de alunos das escolas primarias ‘no municipio 'da Corte. De meados do século a 1870, 0 total de alunos matri- culados elevou-se de pouco mais de setenta mil para quase cento © noventa mil. Em_ 1886, 0 pals contava com 213.670 alunos matriculados em 6,603 escolas primarias publicas. Em algumas provincias ~ que, apds 0 Ato Adicio- nal de 1834, passaram a legislar sobre o ensino piblico — cresceu significati- vamente 0 movimento em favor da escola elementar, na segunda metade do séeulo passado. Surgiram assim, condigdes favoriveis que estimularam, em educadore brasileiros, © desejo de elaborar livros de leitura ¢ outros textos diditicos fa uso dos alunos ¢ professores do ensino elementar. 0. sar Borges, primeiramente, e mais tarde, Felisberto de Carvalho, Hilario Ribeiro, Romao Puiggari,-Arnaldo de Oliveira Barreto, Francisco Viana, Joto— Kopke ‘¢ outros, produziram nossas.primetras. series: graduadas de. livros “de leitura. Livros que, conforme assevera Freyre (1959), “foram verdadeiramente nacionais... eoneorrendo de modo nada desprezivel para a unidade brasileira de sentimento” (pag. 191). Um precursor quase desconhecido da literatura didétiea para ensino de leitura’ no Brasil fol José Saturnino da Costa Pereira, Seu livro Leitura para Meninos surgi em 1818 € teve novas edigdes em 1821, 1822 ¢ 1824. Arroyo (1969) informa que 0 livro de Pereira foi aprovado para as escolas, © € um dos raros textos diditicos que cobriram o Brasil Colonial e Imperial 2.1 - Da Medicina para a educagéo: Baréo de Macatibas e Menezes Vieira Em 1856, 0 baiano Abilio Cesar Borges (1824-1891) trocou a carreira de médico pela ‘de professor. Nove anos apos receber a ldurea de doutor em medicina € se impor nos’ meios cultos com estudos cientificos, historicos e literarios, o filho da vila de Minas do Rio de Contas, que chegou a ser indi- cado para dirigir Faculdade de Medicina, decidiu consagrar-se exclusivamente ao ensino. Durante trinta e cinco anos, até a morte, Abilio Cesar Borges, Bardo de Macabas, empenhou-se em vasta obra educacional, quer nas escolas que criou e dirigit, NOS TivTOS, aTtigOs, relatOrios e planos que escreveu, Caluniado, ridicularizado-€-Intompreendidd-durante-ay primeiras d&- cadas deste século, somente apds 0 aparecimento, primeiro, do depoimento de Eduardo Ramos, seu ex-discipulo e, depois, gracas a publicacdo da Vida e Obra do Bardo de’ Macahubas, de Isaias Alves (I* edigio, 1934; 3* edigdo, 1942), foi possivel avaliar devidamente a amplitude ¢ 0 pioneirismo da obra do insigne pedagogo. A medida que uma apreciagdo mais serena e aprofui dada da histéria da educacdo brasileira ganha corpo, cresce cada vez mais @ consciéncia da importancia’ da contribuigio do Bario de Macatbas, Nao cabe aqui o relato © a apreciagao de seus esforcos em miltiplos setores, mas to somente breves referéciasd obra diditica que deixou. O leitor interessado em conhecer outros aspectos de sua contribuigdo & educagio brasileira con- sultaré com proveito 0 livro de Isaias Alves, acima citado, onde € analisada a Pedagogia de Borges, suas ideias sobre educagdo, 05-4 escolares que Consiruiu, seus felatorios--conferénetas: Thtos-e-Sacttos.diversos ‘A. primeira noticia a respeito dos-compéndios de Abilio-Cesar_Borges aparece numa carta escrita por este na Europa: “Estou aproveitando minha demora forgada”, diz ele, “na composicao, segundo o que me tem ensinado a pritica, © 0 que por cit tenho visto, de algumas obrinhas elementares para as escolas brasileiras. Espero que serio apreciados no pais estes pequenos tra- balhos, dos primeiros dos quais me acho muitissimo satisfeito.” O contato com 0 que se fazia de mais avangado no campo do livro didatico europeu deve ter exercido forte influéncia sobre Abilio Cesar Borges. Seu patriotismo € sua cultura recusavam-se, entretanto, & aceitar a cOmoda soluglo da simples tradugdo. Era necessario escrever livros originais, destinados especifi- camente & infincia brasileira. Abilio fizera, j&, em 1860,'um primeiro ensaio no campo do livro escolar, publicando sua Epliome da Gramética Portuguesa (1860), redigida exprestamente para os alugos do Ginasio Bahiano. Sob, sua Girecdo, fezse, tambem, a tradugdo do texto de Ahn para o ensino de fran- ‘és (1889-1960) € a do de Groeser, para o mesmo fim (1872). Uma Geografia Fisica de sua lavra surgiu em 1863, Mas @ obra que maior éxito alcancou foi se"Gluseacima, eimpressos 2 partir deLT i oie ettra Go.“ MetOdO-Rbilio™ representa tm surpreen-~ dent cian? pedewopia brasileira, Ate onto, a aprendizagem de leitura se gente stl pe atofos manuscrtos, papels de carorios « toscas cartihas inicava 0m) ro dota a_silabagao, mat se opbe 4 soletracto de silabas sem oer tire aeteaidade da imarcha do coneretO para o abstrato, real- sentido. Saancia disso. no. ensino metodico do. calculo, Seguir-seA 0 gando 2 impornciaives aponta. como “a. mais perfita composi¢ao do sé secant Cie cae ainda hoje exercido em natualidade © equilbrio de I te sae Cfenmos' 0. Terasiro Livro, entretanto, parece desequilibrar dei por Pouavcl da colegtor, Alves considera, na primeira edicao, “um tamed pesado para criangass bio, procurara atenuar em edigbes tanto pesado Fium curtter(gneiclopetieg) reGne a Consttuigdo, « Historia © 2 Cece go Brasil higiese, industria agricullura...¢ até textos de Vieira ¢ CeoRrati Be gouvas eves ultimos demasiados compiexos para a mente infan- Hoe Se gBs, am ano ‘antes de. sua morte, 0 Quarto c 0 Quinto Lino, ced Datum de Jeatoracdo” com 0 iho, Joaquim Abii. Borges, também com. a Fidos emo de, transmit conhecimentos cienificas, tecnicos ¢ ‘iterdrios Preocupado Cas introducbes, dos. virios. volumes, Borges expde, com mint: Tudo ares mpios metodologicos. Alem da_série_mencionads, devem ser ce ea een ose primeira Liwo de Lettura ~ Leitura Universal (1888), uma a serie de livros de leitura, trabalhados primeiramente na Europa, conforme fiseil eepc te pe Pore COM A formacio de novos professores esté passando por uma grande transformago a fim de atender reforma do edigilo escolar dos Lusiadas, de Cambes (1879), 0 Desenho Linear ou Geo- ‘metria Pratica Popular (1876), 0s Cantos para ensino de musica (1888) © outros. As primeiras edi¢des dos livros de Borges foram impressas na Europa (Pa Bruxelas), a exemplo do que ocorreu com outros livros didéticos brasileiros, até 0 inigio do século 20. “Nao se deve obrigar a mocidade a aprender, que i The nao seja de utilidade para a prossecucdo dos seus estudos", escrevia Bor- ges, lastimando 0 tipo de ensino que desce até “minudéncias antipaticas, em a que desperdica-se um tempo precioso, porque tudo esté de antem&o votado 40 esquecimento, desde que for transposto 0 precipicio do exame” (cit. por Alves, 1942) “Abilio foi avangado, adotando aqui métodos novos ¢ priticas modernas de ensino”, afirma, com justica, Afranio Peixoto (1936). “Aboliu os castigos corporais.... novou’ métodos de leitura, escrita, desenho.... introdugio a cién- cla nas ligdes de coisas ¢ na leitura, No ensino secundario pelo método ativo direto. das linguas vivas, material escolar novo, laboratérios, saraus literirios, renovando, como diz o seu competente bidgrafo Dr. Isaias Alves, “a educagdo coletiva no Brasil”. : ———_Tambem médico e contemporineo do Bardo de Macaébas, foi o profes ®) sor Joaquim José de Menezes Vieira (1851-1897), fundador do famoso colegio que tinka seu nome e, diretor nos primeiros anos da Repiiblica, de impor- {ante instituigdo devotada a educacdo, o Pedagogium do Rio de Janeiro, Redi- ; gi. diversas obras didaticas. Em 1889, em Paris, recebeu a medalha de ouro do Jiri Pedagégico da Exposiedo Universal, pelos trabalhos que ali apresen- tou, Muitos escolares do fim do Império aprenderam a ler através das pagi- nas de O_ Livro do. Nené (1877), ilustrado com 64 gravuras, O Amiguinho de Nhonko (1882) e Vinte contos Morais. A bibliografia de Menezes Vieira inclui ainda, além de muitos outros escritos, Pontos de Retérica (1868), Primeiras Nocdes de. Gramdtica Portuguesa (1817), Exeretios de Escrita para Aprender a Ler Brincando, Ensino Pratico da Lingua Materna (1883), Conhecamos Nossa Patria (1894), Conhecamos Nossa Historia etc. Seu Manual para os Jardins da Infancia, publicado em 1882, parece set o primeiro livro brasileiro sobre edu- acto pré-priméria. “Homem de agio ¢ de coragem”, escreve. D’Avila (1944), idealista sem apego aos bens materiais, de par com uma, bibliografia copiosa fe fica de valores pedag6gicos, deixou ‘especialmente assinalada a sua traje- Loria de trabalhos com 0 seténio de lutas pelo Pedagogium... Pioneiro de mui- tas idéias hoje postas em relevo, dele tivemos a propaganda a favor dos jar- dins de infaneia, do manualising escolar, do bom eompéndio ¢ das publica- ges ‘infantis e juvenis™ (pag. 218) 2.2 - Livros de leitura de Hilario Ribeiro e Felisberto de Carvalho Entre os livros didaticos submetidos @ apreciag&o do jiri da exposicio, uma série foi consagrada com o,Diploma de Primeita Classe: a Série Instrutiva, de |} de Lettura{Silabario). O segundo livro de leitura_chariGU-3e—Centarto—tmyanml. © terceiro livro era Na Terra, Wo Mar eno Esparo. A serie completava-se / | com Pdiria e Dever, Elementos-de-Educarao Moral € Civica, quarto livto de lei- ie ‘Adotados inicialmente na capital federal, os livros de Hilério Ribeiro Tapidamente se difundiram nos Estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, So Paulo, Pernambuco, Cearé e outros. Até 1930, cada um dos titulos mencionados tinha atingido’ mais de uma centena de edigdes, sendo as iltimas edigdes revistas ¢ atualizadas por Arnaldo de Oliveira Barreto. Alguns capitulos do terceiro livro, Na Terra, no Mar e no Espaco, 172

Você também pode gostar