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53] Aooe Movimentos socials, ONGs © redes solidérias cop-201 Thalces para caaloge sitemco 1 Prtagonismo da soeiedae civil : Sociologia 301 2 Bocntade svi Poargumiga!Socolope 01 Sains Moviments soca, ONGS eredes soins Mara de Glia Gobo Cape: Estilo Grat Preparagao de originals: Sci Dantas, ‘evo! Maria Se Lourdes de Almeida Componoto: Dany Bator Lida. Coondenagdo editorial: Danilo A. Q. Morales [Nenhuma parte dest obra poe sr reprodusida ou dupliada sem Discos para eta eigso CORTEZ EDITORA. ua Baris, 317 — Peedizes {05008-000 — Seo Palo-SP “Tels (11) 3864-0111 Fax: (11) 3864-4290 Erma cones@ conezeditors come sora conereitra comb Para meu irmto,Joré Marie Azevedo Marcondes ” sa 0 ao coe A primeira analisa alguns conceitos fundamentais para o entendimento da conjuntura brasileira, presentes no de- bate intelectual da atualidade, especialmente os concei tos que balizam as agdes coletivas neste novo milénio, tais como cidadania, cultura e direitos culturais, comuni dade, teritério e sociedade civil. A segunda parte aborda © protagonismo da sociedade civil no Brasil apresentan- do um breve cendria dae mavimentos coviaia ¢ ONGs na atualidade. Conclui-se que 0 “novo”, no plano local, re sulta no apenas do desdobramento de formas participa. tivas que estio sendo geradas hé vérias décadas, mas tam- bbém de inovagdes introduzidas recentemente na politica fave « nova conjuntura sociopolitica e cultural do mundo ‘lobalizado, Primeira Parte PARADIGMA TEORICO NA ANALISE DA REALIDADE BRASILEIRA: 0 sentido e o significado dos conceitos As diferentes visdes sobre a questio da participa da sociedade civil partem de referenciais tebrice-mato. ol6gicos distintos, ¢ tgm por base um conjunto de con. ‘estos, novos ou ressignificados, que devem ser explicit. dos. A primeira parte deste livro destaca alguns destes cconceitos. tais como: cidadania, cultura politica, partici papi, identidade, reconhecimento, autonomia, dircitos Cculturais © comunidad, territsri, capital social ¢ socie, dade civil. Hé, entretanto, outros conceitos e categorias igualmente relevantes que estario incluidos na discuscio, tis como: exclusdo/inclusao social, equidade social (vis, {a como o tratamento que deve ser dado aos que vivem itwayOes de desigualdade, buscando-se a igualdade com ‘espeito as diferengas); espaco pablico e esfera paiblica, oder local, solidariedade (em termos de interesses co. 'muns, criadora de lagos de identidade e pertencimento) Resistencia 6 uma eategoria-chave para nqucles que acie, dlitam e lutam por um projeto de emancipagio social, as_ sim como a propria categoria da emancipasto social. Hi ” su 00 LOR cove ‘categorias citadas brevemente como voluntariado, susten- tabilidade, redes, e outras de ordem mais empirica, que ccarecem de um estatuto tedrico mais abrangente, além de cenvolverem grandes polémicas quanto as suas matrizes te6rico-paradigmaticas. 1. Cidadania Dentre 0s conceitos utilizados pelos intelectusis, po- Iticos, administradores pablicos, © pela midia, cidada- nia 6, provavelmente, 0 que tem tido 0 maior uso (e abu- 50) de significados ¢ ressignificados. Segundo’ Pinsky, “cidadania nfo é uma definigio estanque, mas um con- ccelto historico, 0 que significa que seu sentido varia no tempo e no espago. E muito diferente ser cidadio na ‘Alemanha, nos Estados Unidos ou no Brasil (para no falar dos paises em que a palavra é tabu), no apenas pelas regras que definem quem é ou nfo titular da eida- ania (por dircito territorial ou de sangue), mas também pelos direitos e deveres distintos que caracterizam 0 dadio em cada um dos Estados-nacionais contempori- nneos. Mesmo dentro de cada Estado-nacional, 0 concei- to € a pratica da cidadania vem se alterando 20 longo dos sitimos duzentos ou trezentos anos. Isso ocorre tan- to em relagao a uma abertura maior ou menor do estat: to de cidadao para sua populacio (por exemplo, pela maior au menor incorporacto dos imigrantes & cidada- ), a0 grau de participagio politica de diferentes gri- pos (0 voto da muther, do analfabeto), quanto aos direi- tos sociais, A proteso social oferecida pelos Estados 20s ue dela necessitam”. (Pinsky, 2003: 1) —~* Os pesquisadores sio unanimes em localizar as or gens do conceito de cidadao na Grécia classica, nos séculos V e IV aC. Ele surgiu associado as primeiras formas de democracia. Arst6teles definiu 0 cidadio como todo aquele que tinha 0 direito (e consequentemente 0 ‘aever) de contributr para 8 formagao do governo, partici- pando ativamente das assembléias onde se tomavam as de que Participam, e produzem novos significados, porque, tembora os significados sejam conceitos, eles nao fixos nem imutéveis; no so eternos, inativos, e sim ferramentas dindmicas que nos ajudam a decodificar 0 ue e uma coisa. No entanto, a pr6pria dindmica da Hi {ria transforma continuamente esses significados. Por isso sempre estio abertas as portas e as possibi para as mudangas, segundo os significados er .caréter das mudancas no é dada a prieri, podendo zor no sentido de transformagio ou de reiteracdo de valores € préticas existentes. ‘A transformagio também tem vérios sentidos: poders ser reiterativa do existente, apenas mudando sinais, mo- \ernizando algo — mas assentada nos mesmos presti- ppostos antigos: ou emancipadora e emancipatéria, que © morAcowsi ox SocHDADE 2 ‘agrega um sentido, uma qualidade nova, que aponta para uma nova correlacio de forga sociopolitica dos sujitos ‘envolvidos. Neste eato, & uma transformasio baveada na teoria da Emancipago Humana, que busca na liberdade, Justiga e direitos, o rumo de suas ages. Nao € apenas ‘ormativa, um simples receitudrio de regras. orientagdes, fruto dos desejos de individuos isolados, que muitas ve. 2s 36 mantem na prética discursiva o tema da emancipa- .¢40, como um ideal para outros seguirem — a popular “receita". A emancipagio real & proativa, constroi-se na prética cotidiana, no jogo didrio dos relacionamentos © sua meta é » autonomia dos sujeitoe. © que significa a autonomia dos sujeitos, ermo tio proclamado mas pouco esclarecido? Entendemos que a ‘autonomia se obtém quando se adquire a eapacidade de Ser um sujeito historico, que sabe ler e re-interpretar 0 ‘mundo; quando se adquire uma linguagem que possi ‘a 20 sujeito participar de fato, compreender e se expres. ‘Sar por conta prépria. Os sujeitos autGnomos véemn ¢acei tam as diferengas e as singularidades das pessoas e das ‘eeifes do mundo; acatam e assumem a diversidade ul tural dessas pessoas, olham para suas crencas e valores ‘como algo constitutive do ser humano; aprendem 4 dialo. gar com o diferente e as diferengas sem ter como meta aniquilé-los ou veneé-1os a qualquer custo; buscam o dié- Jogo para uma aprendizagem que leve a0 entendimento,3 ‘construgo de consensos, e nio para apropriar-se/apode- rar-se do saber do outro, aniquilando-o. Os individuos ‘adquirem autonomia quando constroem um campo ético € politicn de respeito a0 outro, baja amigo ou adveraério, Jamais vendo este outro como membro de sua teia pes. Soal de relagdes, subordinado A sua dominagio, ou um » a on cba coms cesteio para sous intereseee particulares @ particularisias de poder e, muito menos, como um inimigo. A autono- ‘mia emancipatéria dos individuos € construfda com base na clareza, visibilidade e transpaténcia das ages, que prioriza a dimensio comunicativa de reunir informagoes € disponibilizé-Ias, como parte do campo ético. 3. Cultura Politica, Projeto Sociopolitico e Cultural Concebemos a cultura politica como 0 conjunto de valores, crencas, atitudes, comportamentos sobre a poll- tica, entendida como algo além daquela que se desenrola nos parlamentos, no governo, ou no ato de votar. Polftica com “P maiisculo”, relativa & arte da argumentacao e do debate dos temas e problemas pablicos e constréi uma cultura politica pablica. A cultura politica publica envol- vve também sfmbolos, signos, mitos e fcones que expres- sam c catalisam os sentimentos, as crengas compartilha- das, sobre a ago dos individuos, agindo em grupos, em funeao da politica. O conjunto de percepebes e de visves ‘de mundo que um grupo constr6i no processo de expe- éncia histérica ao atuarem coletivamente, aliado as re- presentagGes simbélicas que também constroem ou ado- tam, so a parte mais relevante da cultura politica de um ‘grupo porque 6a partir destes elementos que 0 grupo cons- \r6i sua identidade. Hé mais um elemento importante & Sestacar na cultura politica: as idcologias, que s8o 03 va- lores e as crengas que permitem agregar, dar coesio © coeréncia interna a um dado coletive, Concordamos com, ‘Bell (2000), quando afirma: “A cultura politica serve como filtco importante, que afeta a acto politica, constrangen- do’ as percepsties acerca da politica, nogées toher quais ‘0 problemas que devem ser considerados como politicos ‘equals as prescriges para a resoluco desses problem: (Bel, 2000: 31) ‘A interlocugto ¢ 0 exercicio da vida politica/cultural naesfera pablica contribu para o desenvolvimento de uma nova cultura politica publica no pals, construfda a partir de crtérios do campo dos direitos humanos (entendido ‘como a somatéria dos direitos sociais, econémicos, poli- ticos¢ culturais,¢ no como uma estrutura hiererquizada de direitos). A cultura politica publica pressupse uma cultura éica, com civilidadee respeito a0 outro. Essa nova cultura politiea se contrapBe & tradico autoritéria que desconhece a existencia de esferas pdblicas, assim como se contrapde também as préticas clientelistas ou corpora- tivas de grupos patrimonialistas oligérquicos, ou moder- nnos/privatistas. Trata-se de uma cultura politica gerada “por processos nos quais diferentes interesses so reco- nhecidos, representados negociados, via mediagSes 30 ciopoliticas e culturas. Entendemos como projeto sociopolitico ¢ cultural de tum grupo, organizago ou movimento social, 0 conjunto de crencas. valores. ideolosias, formas de conceber e de fazer as agdes sociais coletivas concretas. Este conjunto é ‘compartilhado por todos os membros no que tange a seus valores principais. O contetido desse conjunto, principal- mente no que se refere as crengas, usualmente € anterior A eaisiéncia do grupo, extrapola sous limites ¢ fronteiras Para encontrar sua origem ou génese, temos que resgatar as redes de articulaglo e de comunicagSes do grupo, or- ‘ganizago, movimento ou associago. Na maioria das ve- es, 0 cnteido do projeto modifica-sea partir da prética, * Man on abe conn dda experigneia cotidiana. Mas ele se modifica também pela incorporacio de temas que buscam dar solugdes aos problemas; por isso a maioria das lutas centralizam-se ‘em temas especificos e no em grandes projetos societé- Flos. A inovagio e a criatividade surgem deste processo © «las nio se resumem ao grupo que as criou, Uma vez eria- ddas, passam a ser de dominio pablico e tendem a se universalizar © niicteo central do projeto politico 6 constituido por ‘seus principios cujos pressupostos tm longa duragao, Ele ‘muda quando 0 conjunto das inovagées introduzidas nas Dréticas internas'e extemas do movimento altera a reali- dade existente, num processo mais estrutural, Quando isso ‘corre hé uma mudanga no paradigma balizador dos prin cipios articuladores do movimento, grupo ou organiza #0, eria-se uma nova dimensdo ao projeto politico exis- fente, desenvolvem ce noves clementos ideutitérivy. A

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