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Amor
O professor Cristiano era mdico, mas no exercia a profisso. Sempre lecionou; gostava
de dar aulas s para as moas do curso de Letras. Dizia que ensinava a quem iria
ensinar.
Quando sua aluna Glria lhe falou que queria bater um papo em particular, o professor
ficou intrigado; marcaram encontro num local discreto.
Estou sem jeito de comear, Glria disse.
Cristiano, com modos de confessor, mentiu: te considero como filha.
Ento a moa se queixou do pai que, aps a viuvez, se tornou ciumento.
Sente falta da mulher, explicou o professor.
Sente nada. No gostava da mame. Implicncia mesmo. Diz que a gente precisa de
psiquiatra.
O professor havia notado, por mais de uma vez, que Glria retocava o batom nos recreios
e passava para Graa o batom aberto; o esmalte das duas era idntico. Cristiano
continuou perguntando o motivo dessas sutilezas.
Graa igualmente s tivera experincia de namoro, em toda sua existncia, durante
somente uma semana; o moo tentou lev-la a um motel, houve o rompimento. Era um
companheiro do teatro amador.
Cristiano perguntou a Glria se ficaria nua no palco.
Glria respondeu depende, o professor mais que depressa de qu?
Ela:
Sei. So gmeas.
Univitelinas. O senhor parece o papai.
Em que sentido?
Desconfia da gente.
Eu no. Voc que desconfia que eu desconfio.
Vou mostrar lhe o segredo.
Que ?
Um poema que fiz pra minha irm.
Me mostre.
Ah, me esqueci de traz lo.
No sabe de cor?
A gente nunca decora o que escreve.
Isso verdade. Voc fala em qu?
Em rabo de cavalo, crina de potra, anca para garupa, calipgia com fogo.
Poesia serve para isso.
Isso, o qu?
Para esconder o amor, revelando o. Como a roupa que esconde o corpo e revela a forma.
Papai no conversaria assim comigo.