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CRIMES CONTRA A PAZ PUBLICA GENERALIDADES O Titulo IX do CP, sob 0 nomen juris genérico de Crimes contra a Paz Paiblica, define os delitos de incitagao ao crime (art. 286), apologia de crime ou criminoso (art. 287) e quadrilha ou bando (art. 288). O legislador protege, neste Titulo, a paz publica. Em outras legislagdes, 0 crimes previstos neste titulo sio tidos como ofensivos a ordem publica. termo ordem publica, no entanto, nao € apropriado para designar, gene- ricamente, os delitos definidos neste titulo. Toda infragdo penal ofende a ordem publica, uma vez que causa dano ou perigo de dano a bens e interes- ses considerados indispens4veis ao convivio social. Os crimes contra a paz publica atingem a ordem publica, como também a ofendem os crimes contra a pessoa, patriménio etc. Logo, o Titulo “Crimes contra a Ordem Publica” nao é elucidativo, visto que nao d4 ao intérprete a ideia exata de seu objeto juridico, A paz piblica, objeto juridico dos crimes previstos neste Titulo, € 0 sentimento de tranquilidade ao qual tém direito todas as pessoas, e sem a qual torna-se impossfvel o desenvolvimento e sobrevivéncia dos componen- tes de uma determinada coletividade. O Direito deve tutelar o sentimento de tranquilidade e de confianga dos cidadaos na ordem jurfdica estabelecida, € 0 faz por intermédio da incriminagdo de fatos que visem a alarmar a co- letividade, com condutas que visem a implantar, no seio da comunidade, a semente da inseguranga e do medo. Os fatos criminosos integrantes deste titulo sao punidos a fim de evitar que deles advenham maiores danos a sociedade. A impaciéncia do legislador antecipa-se as efetivas violagées de bens ou interesses jurfdicos e pune condutas que seriam atos preparatérios de outros delitos, desde que tais atos se projetem no mundo exterior, externados por meio de atos sensiveis. O crime de quadrilha ou bando, por exemplo, nao é punido pelo fato de cada 433 sujeito pensar em associar-se a outras trés pessoas para o fim de cometi- mento de crimes, mas sim porque, efetivamente, cada agente se associa para tal fim, sendo tal associag4o externada por meio de atos e comportamentos que ofendem o bem juridico. Nao se cuida, portanto, de cogitacao puntvel, mas sim de ato preparatério que o legislador entendeu constituir crime. Os delitos contra a paz piiblica protegem, diretamente, o sentimento de seguranca, tranquilidade e sossego da coletividade, sendo de perigo abs- trato, uma vez que o legislador presume a perturbagdo da coletividade em face da prética de qualquer das condutas incriminadas. 434 Incitagao ao Crime SUMARIO: 1. Conceito e objetividade juridica. 2. Sujeitos do delito. 3. Elementos objetivos do tipo. 4. Elemento subjetivo do tipo. 5. Consumacio . Qualificagao doutringria. 7. Pena ¢ aco penal 1. CONCEITO E OBJETIVIDADE JURIDICA O art. 286 do CP pune o fato de alguém incitar, publicamente, a pré- tica de crime. O legislador tutela a paz publica, ou seja, o sentimento de tranquilida- de, sossego e seguranga da coletividade. A impaciéncia do legislador fez com que este punisse a anterior incitagdo A prética de qualquer crime, procurando-se evitar que, em virtude da incitagdo, alguém praticasse fato definido como delito, lesando outros bens juridicos que incumbe ao orde- namento jurfdico tutelar. 2. SUJEITOS DO DELITO Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, uma vez que 0 tipo nao faz nenhuma referéncia a qualidades especiais do agente. Sujeito passivo é a coletividade, titular do direito & tranquilidade, na qual os seus componentes podem encontrar meios de sobrevivéncia e de- senvolvimento. 3. ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO O miicleo do tipo é © verbo “incitar”, que significa excitar, agular. A incitagao deve ser feita em puiblico, i. e., de modo a ser percebida por um niimero indefinido de pessoas, Por isso, a incitagdo feita em ambiente fami- 435 liar ndo caracteriza o delito. Admite qualquer meio de execugdo: palavras, gestos, escritos etc. Pouco importa se o agente incita publicamente a pratica de crime a determinado individuo, desde que, pelo contexto no qual a con- duta é realizada, possa ser percebida por indeterminado niimero de pessoas. A incitagao deve ser a prética de crime. Se o agente incita, publica- mente, a prética de contravengio, o fato é at{pico, o mesmo devendo ser dito se incita publicamente a pratica de ato imoral. A incitagdo deve ser de crime determinado. O agente deve incitar, por exemplo, a prdtica de roubos, estupros etc. Nao é necess4rio que 0 ofendido seja individualizado. Assim, nao é preciso, por exemplo, que o agente inci- te A prdtica de roubo na residéncia de determinada pessoa. Basta que incite A prdtica de roubos. Se a incitago é a prdtica do crime de genocfdio, o delito tipificado ser4 0 previsto no art. 3." da Lei n.° 2.889, de 1-10-1956. 4. ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO E 0 dolo. O art. 286 nao exige nenhum outro elemento subjetivo. Se, entretanto, o sujeito incita 4 prdtica de crime contra a Seguranga Nacional, o crime tipificado € 0 descrito no art. 23, IV, da Lei n.° 7.170, de 14-12-1983 (Lei de Seguranga Nacional). Inexiste punigdo a t{tulo de culpa. 5. CONSUMACAO E TENTATIVA O crime consuma-se com a percepgio, por indeterminado niimero de pessoas, da incitagao publica ao crime. E irrelevante que o crime ao qual foram tais pessoas incitadas no seja praticado. A tentativa é possivel, uma vez que 0 iter criminis é passivel de fra- cionamento no tempo. Exemplo: incitagdo ao crime por meio de panfletos, no caso de o agente encontrar-se em local publico ou acess{vel ao piblico para distribuir tal material a ser obstado por circunstancias alheias A sua vontade. 6. QUALIFICAGAO DOUTRINARIA O crime é de perigo abstrato, comum, simples e vago. E de perigo abstrato porque o legislador presume de forma absoluta a superveniéncia de uma situacdo perigosa ao bem jur{dico tutelado com a 436 realizag4o da conduta, nao necessitando, portanto, ser provado no caso concreto. £ comum porque pode ser praticado por qualquer pessoa. Crime sim- ples: ofende uma sé objetividade juridica, a paz publica. Trata-se de crime vago porque tem como sujeito passivo a coletivida- de, entidade sem personalidade jurfdica. 7. PENAE ACAO. PENAL A pena cominada ao delito de incitagdo ao crime € altemativa: deten- Gao, de trés a seis meses, ou multa. A aco penal é publica incondicionada. 437 Apologia de Crime ou Criminoso SUMARIO: 1. Conceito e objetividade juridica. 2. Sujeitos do delito. 3. Elementos objetivos do tipo. 4. Elemento subjetivo do tipo. 5. Consumagio ¢ tentativa. 6. Qualificagdo doutrindria. 7. Pena ¢ ago penal. 1, CONCEITO E OBJETIVIDADE JURIDICA © CP, no art. 287, pune a chamada “incitagdo indireta”, sob o nomen juris de apologia de crime ou criminoso, com a seguinte redagdo: “Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime”. Objeto juridico € a paz publica. 2. SUJEITOS DO DELITO Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. O tipo penal no exige nenhu- ma qualidade especial, tratando-se, portanto, de crime comum. Sujeito passivo é a coletividade, ou seja, um ntimero indeterminado e indeterminvel de pessoas. 3. ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO A conduta incriminada consiste em fazer, publicamente, apologia de autor de crime ou de fato criminoso. Fazer apologia significa exaltar, enaltecer, elogiar. E necess4rio que a apologia seja feita publicamente, ou seja, em condigdes tais que possa ser percebida por um niimero indefinido de pessoas. A simples defesa, ou ma- nifestagao de solidariedade no constitui delito, mesmo porque a manifes- tac4o de pensamento é garantia constitucionalmente assegurada a todos os brasileiros ou estrangeiros residentes no Brasil. 439 A apologia deve ser de fato definido como crime, ndo configurando o delito 0 elogio de fato contravencional nem de fato imoral. A apologia de fato criminoso culposo nao constitui o delito porque é inconcebfvel que a paz publica, objeto jurfdico deste delito, seja ameagada pela exaltagao de crime decorrente de culpa. E que nao se pode admitir que alguém seja in- citado (indiretamente) a prdtica de fatos criminosos decorrentes da inobser- vancia do cuidado objetivo necessdrio. Tal apologia, se feita, resultaria inécua e no ofenderia o bem jurfdico. O fato criminoso deve ser determinado e ter realmente ocorrido ante- riormente a apologia criminosa. Nao é necessdrio, contudo, que o delito anterior tenha sido reconhecido por sentenga condenat6ria irrecorrivel. A apologia criminosa pode ser feita também em relagao a autor de crime. Neste caso, exige-se que 0 elogio feito pelo agente ao sujeito ativo do delito anteriormente realizado verse sobre a conduta criminosa deste e nao sobre seus atributos morais ou intelectuais. O crime admite qualquer forma de execucio: palavras, gestos, escri- tos etc. 4. ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO E 0 dolo, a vontade de fazer, publicamente, apologia de fato crimino- so ou de autor de crime, Nao se exige nenhum motivo ou finalidade por parte do agente. A apologia de crime contra a Seguranca Nacional constitui © delito descrito no art. 22, IV, da Lei n.° 7.170, de 14-12-1983 (Lei de Seguranga Nacional). 5. CONSUMACAO E TENTATIVA Consuma-se o crime com a percepc4o, por indefinido nimero de pes- soas, dos elogios enderegados a crime determinado e anteriormente prati- cado ou a autor de crime. A tentativa é possivel se 0 sujeito inicia a execugdo do delito € obs- tado de alcangar a consumagao por circunstancias alheias A sua vontade. 6. QUALIFICAGAO DOUTRINARIA A apologia de crime ou criminoso é delito de perigo abstrato, uma vez que este é punido, de forma absoluta, pelo legislador. E também crime vago: tem como sujeito passivo a coletividade, entidade destituida de personali- dade jurfdica. 440 E também instantaneo, uma vez que se consuma em determinado ins- tante, sem continuidade temporal. Também é delito simples, tendo em vista ofender apenas um bem jurfdico: a paz publica. 7. PENA E AGAO PENAL A pena cominada a apologia de crime ou criminoso € alternativa: de- tengo, de trés a seis meses, ou muita. A ago penal é publica incondicionada.

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