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| 25 iS SVIOLENCIA DOMESTICA ~ & a OU ALOGICA DO GALINHEIRO Heleieth I. B. Saffioti BO GALINHEIRG se organiza hierarquicamente, 2 “ordem das bicadas". Essa hie- + - m galinhairo semopr 1 @, ha nele um: io 6, ha nal Ure pore melon poder paraogde. Febendoue om or gale cies fd on Sremes = Go gelo pose sexual de todes as galinhas, como (3 oo ge a foes gre adreca demote tate a 5 ‘Uma das galinhas, animero 1, ou “favor nthe Wedronc. IV Guendo se meta de un harém (um homem e virigs Ty eres), é bicada pelo 3s desfruta do direito de us itras nove. A némero 2 @ bicade pelo 5, “taro 1, podends bicer 2s outras co. A / mais forte enfrenta os rivals e domina as alinhas, galinhas narmeros 1 fl | See ta) 2 cata we aoe mae ee, — PTE SEM cada pelo galo e por todas as demais galinhas, N80 po Sh onto bicer nenhuna, Assi, a Fierarquia comeca no 7 eee em CU ' i Niece ggalo e termina na 10 gainha. 0 galo & 0 mais poderosa, Serenda ae gainhes de nimero 1 90 9 diferentes parce (dogs poder estando a 10 exchida dessa possibildede. Ruts ne Fierarqua poder até ser comparade com 2s pessoee que moram nas Tuas, no tendo o que comer Fam ire algum. Trate-ce dos exctidos da mercado de {abso doe Benois do desenvolvimento, enfin, exci dios dos dretos humanos mais elementares. STARS | DebHte sz ¥ Nor: \VIOLENCIA EM DEBATE « em restabelever a Telaodo m Desss forma. um galinheiro & estruturedo segundo. uma escala de poder. No exemplo figurado foi estabelecida uma ‘ordem das bicadas", que pode ser ‘muito duradoura, mas que pade, também, sofrer trans- formacdes. Se for introduzide um novo galo nesse ter reiro, 0 galo numéro 1 faré tude para manter seu po- der no tarritrio. Os dois galos podem brigar até que um deles marre. Nesse caso, o sobrevivente tome-se “dono” do terreiro, dominenda todas as galinhas. Mas pode ocorrer um empate na lute, quando, entlo, 0 galas dividem em dois 0 territério original. Cada galo manda em um deles. O terreiro dos galos correspond @ um espaco fist- co mais as galinhas sob seu daminio, endo pode ser invadido pelo outro galo. Caso isso acontaga, trave-se novamente ume luta entre ambos, a fim de se redef- nirem os mites do terreiro de cada um. O veritério de cada golo é dernarcado geograficamente, Desse modo, 1ndo se estabelece um vinculo entre es galinhas e 0 galo, mas entre este e as galinhas de seu terreiro. Se uma galnha fugi © gala néo @ segue, pois ela deixa de pertencer ao territorio dele. Esse fato permite @ verificagsio de uma grande d= ferenca entre os galinéceos € os seres humanos: quando hé ume separacio, o homem — multas ver 1zes inconformado com a perda de sua amada ou de ‘S2U objeto de dominaséo — passa 8 persequira mu. ihen, ameacando-a de morte, caso ele nao concorde ital e, n80 rero, come- jte esse homi ica que, embora 0 casa: / menco-formal t | Sxistindo para o hamem, | Ge. grande dferenca entre 0 G ea socieds- de, entre os animais e 0 ser humano, reside ne caps cidade hurnene de simboizar, Por construin culture, ‘slemento ausente nas sociedades animais, o ser hu- mano stribui significado a suas aqdes e be dos ov- ‘tos, assim como aos objetos e aos fatos. Em virtude is50, 9 macho da espécie humana estabelece nao apenas Seu termtéria geografico, mas tambem un territorio simboliea no qual reins saberano sobre ‘mulheres, criancas, adolescentes e idosos. Uomem DEBATE NA ESCOLA 6 sociaimente poderoso, e essas Outres categorias S80 frageis. Issa fruto do processo cultural de simbolizagao, AS SOCIEDADES HUMANAS E SEUS TERRITORIOS SIMBOLICOS (Os seres humianos também organizam a sociedade hie- rarquicamente, Em virtude disso pode-se dizer que tam- bem hé uma “ordem das bicedas” socialmente cons- ‘ruida, isto €, convencional, néenetural, Sue construcao & muito meis complexa da que 2 existente entre os ge- lindceos. Nas sociedades humangs no hé_um unico sixo de hieranquizacto, como no galinheiro, Socialmen- fe, 880 construidas varias gramaticas (conjunta de regras) para reger 0 comportamenta de homens € mulheres, de brancos e negras, de ricas e pobres, de criancas, adultos e velhos, das pessoas consideradas normais e dequelas rotuladas como loucas etc. As tres (graméticas principais sao: 1. Rgremétics sexual ov de génera, que regula as rolagées entre homens e mulheres, as relacdes tntre homens e as relacdes entre muheres, especi fcande es conduits socisimente ecezavis quanto a0 sexo. 0 género é uma construcéo social que def ne 0 sef-mulher e 0 ser homem. € das nocdes de mulher e de homem que Rescem as normas que per- miter a treneformacso de um bebé em um sar feri- nino ov masculine. 0 sexo snetomico constitu uma referencia estatistica, mas nada impede que urn bebe om genitalia de fémea seja educado como homem vicewersa 2. Ade reca/einia, que define os relagdes, por ‘exompls, antre brancos © negres, determinando que ‘estes abedenam aqueles. Brencos enegros pertencem a reces diferentes, que sao sacilmentsFierarquizades, Os negros que vieram da Africe para o Brasil perten- cem 0 etnias distintas, Nesse caso, hé varias etnias existentes no interior da reca negra, Mas pode ocorrer \OLENCIA EM DEBATE a © opasto. Por exemplo-os judeus constituem uma etnia, no seo da qual ha brancos de olhos claros e negros de cabelo carapinha, ‘3. _A de classe social, cuja leis exigem compor- tamentos distintos dos pobres e dos ricos. Estes, para se manterem 10 poden precisa dominar/explorar ‘os pobres. O pracesso de dominagio/explaracéo faz ‘tegrante da divis8o de sociedade em classes. 0 bioldgica e social se dé segundo a clas- a classe dos ricos se reproduz enquanto se rica, a dos pobres, enquanto classe pobre, Denere as outras graméticas, que poderiam ser chemadas de secundérias, esta a de idade, que rege Se relacdes entre criangas, adalescentes e idosos, de tim lado, © adultos, de outro, Ao aduto, a sociedade Confers poder er suas relagdes com menores de 18 anos, Stambém com es pessoas que, em razéo de sus idade Svangeda, e80 excuides do process deciséro, Lime grande dferenca entre as irés primeiras gra- rétigas principais e esta, secundéria, que regula es Telacdes entre distintas geracdes reside no fato de que © adulto domina epenas transitoriamente meno- fee e idesos. Da mesma maneina como j fi erianca e adolescente e, portanto, dominado por aduttos, ficaré teh e, consequentemente, submisso aqueles em quem mandou, que é deixaram de ser menores. Dede fue transitoriedade, a dominagao dos adultos sobre pessoas de outres fabes etérias € aqui considerade Secundéria. Todavia, ola tem sua importancia e deve ger lavade em conta num trabalho que fecaliza @ vio lencia domestica Embara ndo seja feel, & possivel pensar em uma nies “ordem das bicadas", combinando-se os quatro x08 normatizedores aqui especificados. As pessoes eis poderoses a0 aquelas stuadas no topo das que- {fo Rierarquias: homens brancos, ricos e adulkos. Em egunde @ tercero lugares ver ‘ou Homans negros, Sem muito poder econémico e adultos, ou mulheres brancas, economicemente remediades e adukas. Es- ‘aS duas categonas no ocupam lugares fixos; tro- cam de posicao de acordo com as circunsténcias. Em DEBATE NA ESCOLA shaman eosubs uci querto lugar vem és mulheres negras, pobres, gerel, mentee adiltas. Em quinto, veri os menores de ida de. que deyem obedecer aos adultas. Dentre estes ha ainda outra hierarquia: os meninos dominem es meni- ‘nas. Essa dominagao se torna meis agud quando 0 garoto é branco e @ garote, negra ‘Assim, considerando apenas uma hisrerquia, inte- grada por quatro escales de poder, ou resultante de quatro gramétioas sociais, conclui-se que, ne fase adult ta da vida, 2 mulher negra viria em ctimo lugar; consi- derendo tadas as hieranquias, concluFse que, sobre a menina negra, pesariam as mais agudas discrimina- Goes. Fazer um esforco pat ie conjuntamenta Sobre todas es hierenquias € extremamente importan- te pare se enalisarem as relagSes de violéncia domésti- 2 e no seio da fami, VIOLENCIA INTRAFAMILIAR A familia @ constituida por parentes consangdineos 2/ou afins: consangUineos so aqueles que tém 0 mes- mo sangue: afins s80 0s que se tornarn perentes pela via da casarnento, Quando uma mulher e& um homem se ‘easam, ambos ganham cunhados, sagros, sobrinhos, pri- ‘mos, seus parentes por afinidade. Atualmente, sobretu- do nas grandes cidades, es farniias tendem a ser nucie- ares, au Seja, a se compor do casal e de seus filhos. AS familias extensas, que reine em um mesmo domictio, trés geractes e/ou parentes colaterais, tém safrida ecentue- da reducao. Hé, por conseguin- 10 minimo, das nocdes de fa- a que reine parentes em Assim, na familia ndo se mi um mesma damictlio, geralmen- mas também o édio. te a fara nuclean, mas eventualmente a extensa; @ a familia em sertida amplo, isto 6, o grupo de parentesco, ‘ocupando varios domictios. ‘A familia @ um grupo de reproducto biolbgica @ rs GUE 08 CESSIE-tentar SEUS INOS. ‘Enpreciso criélos, ensinandoos a desempenhar os papéis sociais espectficos de cada idade, de cada g&- ViOLENCIA EM DEBATE desenvolve somente o amor, Socializar significa culdar com afeto, mas também reprimit. 43 companheira e a seus filhos, os homens destrutam de fato desse poder, na medida em que quase fidra-{masculi ining}, de cade-raga/etnia;- de cializacso, obedece @ varias gramaticas, ‘que estao sendo consideradas aqui. Soci a-cuidar-com_afeto,.mas-também repr 8e apliquem castigos Todavia, ha pais e mes que extrapolam esse tes, espancando duramente as criangas, abusando sexualmente delas (em geral, os agressores so ho- mens) e até matendo-as. Hé, dessa forma, uma vio- éncia intrafamiliar, que se desenrola entre parentes. Embora esses parentes nao precisem necessaria- mente viver no mesmo domicilio para que se caracte- ize a violencia em familia, e probabilidade de ocorrén- cias violentas é maior quando eles habitarn sob o mes- mo teto, convivendo cotidianamente. 0 parentesco é determinado por convenodes sociais, Isso significa que ele se insere no terreno simbdlico: a cada pessoa se atribui uma posi¢o num esquema de significados, que 6 0 parentesco. ‘A familia costuma ser chefiada pelo hamem. No. rasil, a mulher-desempenhe a func8o de chefe em ras cerca de um quinto das fam Tas. Constituem némero pe- queno 8s familias chefiadas ‘por mulher que so tais, isto &, com mée © pai presentes. A maioria é mono- parental, estando presente s6 a mulher. Os nimeros se in- smilia chefiada por ho- munca sae puns. mem:a 2 realizada em 1990 pelo Sistema Estadual de .e de Dados (SEADE) revelou que 17,3 por cen- ias da regiao metropolitana de S80 Paulo ‘s80-chefiadas_por_mulheres. Deste total, 66,2-por Sento s80 monoparentais. Atingem 82,7 por cento familias chefiadas por homens, mas deste total teo-somente 1.2 por centa sao manaparentais: Isso significa que, em geral, quanda o homem chefia a DEBATE NA ESCOLA fa famfla-nao_s2 desenvelve somente 0 aman mas be We ampla retaguarda: ov 8 Mulher tra- , ajudando no or¢amento doméstico, ou cuida da casa e dos filhos, ou ainds desempenha as duas jornades de trabalho. No caso da maioria das, jas com-chefia femining, a mulher deve ser tam- fr Ue case" Te Tredids err GUE ests ‘50 Tihos: as muteres ganham, n média, a metade do que recebem oS homens, as jafiadas-por-muheres S80, em geral, aS pobres. ™ Quando 0 homem 6 0 chefe da familia, € também, fo, Seu amo e senhor, mandanda e desmandando er e nos filhos. E muito alte a frequéncia de relagdes violentas entre o chefe da femilia e sua mu- , criangas e adolescentes. Obviamente, 0 . por ter mais » dade estimulada e apiau i dida pela caciedade, sai \vitariaso nas brigas fa- imiliares. Nao apenas 0 ho- intrafamiliar. Sobretudo em sua auséncia, a mu- 1 PL Mae te ther se torna todo-pode- rosa em relscdo @ seus hos, cometenda nu- merasas atos de violén- cla contra as criancas. ‘Ng-eusénoia_do_chefe Ga fami, @ mulher es- ando-se do poder que ff Gabe aquele, oe sempenher a tarefa de socializar_a —geracao jg jover, atribuids, nna esmagadora maioria Ainda que &imulher pérpetre vi ilhos, 0 homem-é 0 maior agre 1as nao sda somente seus fihos, mulher. Quanto as agressdes sex: —-ocoménaias to-somente- de uma-a trés-s80.cometi ch dee por mutes ier ‘A me, ainds que puna fisicemente os seus fihos, ‘ameaceos, quase sempre, com a autoridade /violéncia patema, porquento @ o psi o detentor reconhecida do meior poden, Mesma que @ me néo bate na crianga frequente a presenca da amea- a, expressa na frase: “Quando seu pai cheger, contarei ‘B®, Fesa ameaca, expressa ver Balmente para intimidar as crian- as, paire também sobre a mu ther. Embora as leis brasileires profoam 0 marido-pai de infigin maustretos @ sua esposa/companheira e a seus filhos, os homens desfrutam de fata desse poder, na medida em que quase nunca s8a punides. Em decorrér ic oda ‘lenis Gs acted: de em relacto @ violencia masculna, © mulher tende a bal. HS mulheres capazes fe torturer emacionaimente seus maridos /companher ros, todos os dias, usando sue lingua afiads. Essa etib- de nao impede que @ mulher responda & violencia fisica do homem cor outra violencia fisica; isso ocorre com certa frequéncia, Todavie, exceto em casos excepcio- nis, a mulher sei pendedora. Ai mar aqui &2 de que nao existe vita passiva ‘pre Teage, Saja fisca, seja verbalmenta, VIOLENCIA DOMESTICA Esse tipo de violencia € possivel gracas 20 estabeleci- ‘mento de um terrtério fisica e de um territério simb6l- .60,_nos_qusis o homem detémn praticamente dominio ‘otal. Seu territorio geografico € constituida pelo espaco do domiciio. Todas as pessoas que vivern sob 0 mesma ‘eto, vinculedas au no por lacos de parentesca aa che- fe do local, devemihe obedisncia, Desta sorte, n8o se Como as mulheres ganham, om tecebem os homens, as familias chefiadas por mulheres séo, em eral, as mais pobres. cia de sua menor fore: ‘se especializar na volénck idéia que se deseja fir trata, pare ohornem, de tor subiugados apenas mulher, filhos © outros perentes que eventualmente. morem no mesmo domictio. Agregados de forma geral deve obe- Giéncia Aquele senhor. Mais do que isso, até pessoas assalariades estén sujeitas a essa condicgo. E 0 casa da ‘empregade doméstice que, contratada para realzer os servigos de casa, é, muitas vezes, obrigada @ prestar favores sexuais 20 chefe do doi Se a violencia doméstica extrepola, por um lado, os limites do-grupo femiier, por outro, também extravese © @spago da residéncia. No & raro que o marido vé ‘Spere" Us mulher quando ela ssi do trabalho para ihe aplicar um exemplar castigo, surrande-s diante de seus colages. Assaltos sexuais do pai contra a filha podem perdurar mesmo depois do afastamento da garota de seu domictio, se ele conseguir driblar a vigilancia e ob- ter acesso a ela. A violencia daméstica, portanto, n&i rem as quatro paredes do domi ‘2 maioria das acorréncias de violénc dé no domictio da vitims, ou nd da vtima e do agresscx Em nimero néo desprezivel de casos, depois de sofre varios espancamentos por parte do marido /companhé ro, a mulher decide separar-se dele, pasando a re em outra casa. Numerosas vezes, 0 marido continu importunando a ex-mulher, £ grande a probabilidade de isso ocorrer quando @ mulher vive s6 ou com seus ft lhos. Todavia, quando ela encontra um novo marido/ companheiro, a situacdo muda, Se 0 exmarido quiser reconquistéa, tera de enfrentar 0 senhor de um novo | fica claro que 2 posse/propriedade das mulhéres pelos homens € regulamentads par es: W256 NSO por aquelas. Os limites nas relagoes huma- iia, no ERO Go gEnero, sA0 fixados por homens, no por mulheres. Eis por que a maioria dos agressores é Canstitulda de homens e a maioria das vitimas, de mu- theres, quer a violencia seja fisica, quer seja sexual. __Nao custa essinalar que ha violéncias cometidas no interior do domiclio que néo constituem nem violencia intrafamiliar nem doméstica. € 0 caso, por exemplo, de assalto com morte e/ou egresséo sexual praticado por estranhos na residéncia da vitima ViOLENC:A EM DEBATE ‘mento come por ‘cai pare © reasons, porent embora ne todos 28.8 semaine 2S ‘Podese a Pei como Te mings a ane © como pe. UT vez ue 2 we Ge 9 anos OO a ge a a0reseoe ge por parents sjeancarn oe eee f.e por cee go worels © ee na faire 0 aoe Paci See ae srianeas © Parga de ca6e- as > oramas a parents so, Nec Bento 560, multe far bs Ne ere root, oponemtee ss 28 rides ir oe 0 ne wjoezeompanneno® 56 Somers os investides ressores erentes iotenci® Facraferniior Conforme ese uirepes renee domes posse 52" ning teie 28 Sis res res ca. A propria mulher, quando vitima, costuma atribuir a perila de controle de marida & bebida aleodlica € /0U a0 coma, por exeriplo, 0 desemprego, estresse pracipita situacdes de violencia, o élcool cons- reterto do que cause de espancamentos e tos de muifieres @/au criances. Figorosamen- io no responde pia violencia, mesmo Parque um numero imenso de homens pratica vi pos @ que nem por isso 15 humanos violaddos. Hé po da mulher para castigé- la, mas que cartam em pe- dacinhos suas roupas, ou destroem seus documen- tos, ou ainds quebram to- dos os seus abjetos de maquiagem. Em qualquer dos casos, ¢ a propria iden tidade da mulher que esta ‘sendo_agredida, sse fenomeno afeta Degativaments a ¢ ‘mental e orgénica da mu- ther. Muitas, dentre as que vera esse tipo de viver cia, separaram-se hé mu tos anos de seus maridos/ $ companheiros e continuam =-apresentar satide precé- ria, A violencia deixa, por- tanto, sequels mais ou ‘Menos graves, muitas das ais incurtveie:Além disso, o-vlencia & um comper- fin} Sement aprendo, Criancas viimas de violencia apre- i, sentam msior probabiidade de se tomar adultos wolen- “Yi, VIOLENCIA SEXUAL A.violéncia sexual é também um fenémeno muito fre- {quente. Nao se dispde de dados globais sabre o pais. Pesquises mais restritas revelam que o alvo prefe- Fenciel dos agreseores sexueis nBo 80 os/as ado Tescentes, mes as cranoas entre 7 e 10 anos de Us. 7 ie idade. A maioria esmagadora das vtimas @ de meni ‘op has, ras nem mesmo os meninos escapam a esse ‘ipo de violencia. Em S80 Paulo, a freqdéncia de vitimizacao sexual de garotos em fernfia esté, a julger pelas poucas in- vestigacées realizadas, entre 5,0 e 7,0 por certo. Ou seja, 86 viimas, entre 93,0 e 95,0 por certo, S80 meninas. Nesses cas0s, os maiores criminosos $80 (8 pais biologioos, Sends que, em segundo luga ‘Tmuito-atrés, vem os padrastos. Ocupands pos menos expressivas, vém outros parentes, come imo, Irmo. Os pais S80 mesmo OS yy moiores preticentes de agresséo sexual, componda “4... SShe-por conto do total dos abusos, sequidos pales < .* “Jadrastos. com 11,1 por cento (Heleisth | E Saffios, — % ‘em 1980, criminalzar —passendo 8 se considerar “/a. Cauda Taiacan sewal ooorrda contre evort = jo da espasa. ‘ioueNCtA EM DEBATE 5 No. Brasil. continua vigente-o.chamads-débito-conju- igniica o dever de-manter relacdes sexuais je. Ainda que essa obrigacéo exista, no constitu um dever para_a mulher-Presas a-esse-com— ceito, as mulheres cumprem seu dever, mesmo quan- do néo estéo a fim de ter uma relacao sexual. Podem_ até se seri violentadas, mas se subme pera evtar qua ele procure urna outra jade conjugel masculina € emplamenta toierada, arido procure na rua aquil que no tam em case”. DESFAZENDO EQUIVeCOS Hé uma ids muito dfundide de que s0 pessoas pobres sem cultura so capazes de praticar violéncias — sejam fisicas, serusis ou emacionais — contra autres com quem Ccoabitam au até mesmo contra membros de sua propria tb fem, Tata's de puro} tp contra pabres @ pouco inctruidos. As volBneias aqui comentadas so preticadas ‘amtodss as classes sociais, em todas as racas/etrias, ios paises de cutura ocdental assim como nos de cular Pe ofiental, nos industriazados coma tember nas néo- industriaizsdos_em todos os continentes da Terra ~ Como 08 costumes variam segundo o pais, ha for- mas de violencis espectficas de uma cultura. Por exem- plo, embore seja proibido por lei, persiste 0 sat, cos- iano Segundo o qual a viva deve Se imolar queimada] na mesme pira onde foi cremada.o_ corpo de seu merido, Ne Africa & muito comum se praticarem mutilagdes sexuais nas mulheres, como: cliteridectomia, que consiste na ablacdo do v—lébios da vulva, de forma a se deixar apenas um p—busjone ance mara. a passage so sang mans. trual Nos dois casos, 8 mulher @ privada do prazer se- xual: quando seu clitoris @ extirpado, ela perde uma DEBATE NA ESCOLA =. ipportante-fonte-de prazer;. com a infibulacso, sada. relagdo sexual passa a ser um martitia, para no men- . que exigiré nova suture, Além disso, 2 ‘As violéncias aqu! comentades ‘40 praticadas enr todas as classes socials, em todas as trengformando @ viva em ume '@¢as/etnias, nos paises de bolsa retentora de urina, liquide cultura ocidental assim como que contém toxins. cultura orienta, nos se mutlam Se industrializados como também iiheres, MAS S° nos ndo-industrializados, em pretica um verdadero crime Cor” todos os continentes da Terra. fra elas, ecteniizando-as. Existe até uma demande da igadura de trempas por parte de trithoes de bresieras que, desejando ter menos fihos, recorrem @ essa intervancéo cirargics, ignorande sues Conseqdncies para a sade e sau carder inreversivel Muitas dassas mulheres separamse de seus maridos / Companheinos € reconstiuiem sues Vides com outros parcairos, Voltem a desejar peocriar, descobrindo, en- fo, quo esto definiivamente estéreis, Como se ob- servo, hé varias formas de se mutilar um ser humane QUEM SAO OS ALGOZES? Uma maneire simples de as pessoas ‘resolverem” esse intrincado problema consiste em afirmar que os homens \iolontos 680 daentes mentais, aloodlatras, perturbados. Quem diz isso esté, a0 mesmo tempo, efirmando que ‘em sua familia nao ha violincia, que 50 a familia dos. outros que enirenta essa vergonha. Como a'familia € considerada um ninho de afeto, as pessoas sentern-se ~ envergonhadas de admitir, mesmo para amigos, que um cies. Assim, quat ia, geraimente se so do-siéncio. Ni membro de sua farnlia pratica uer que seja 2 modalidade de __forma em tamno dela ume consy {ue Fela sobre o assunto. % partir de 1985, quando se comecou a crisr e implantar as Delegacias de Defese da Mulher (00M), ‘muitas mulheres vm encontrando coragem para de- \IOLENCIA EM DEBATE Fy ros 8 p retirada da queiz. € dificil compreender esse vei cia intrafamiiar e 8 daméstica ‘ocorrem no seio de uma relacao afetiva, Por essa ra- tla espancado ou abusado sexx mas, gostando del sua conduta, e decide pedir que esse. Muitas ido, tomando conhecimenta da apresen- ‘3 8 DDM por parte de mulher, ameace- a de morte, caso néo 0 obedega sustando o inquérito. Incapaz de manter @ si propria e a seus filhas, a mu ther cede as pressoes do marido. € raro acarrer um ato unilaterel-de-violéncia, Guanda acontace, envolve pessoas estranhas. Conhecidos, parentes e pessoas que coabitam desenvolvem certos tipas de r que comportam violencia, Dessa forma, a reciproca;-embore-os-prejuizos-sejarr muito" maigres- pare as categorias socialmente mais fracas: mulhe- res, criancas e adolescentes. Mesmo uma crianga Se- rente vitimizada por seu pai aprende mansiras de ‘Acchantagem é, nesses casos, muita comum. 5 DEBATE NAESCOLA Por.meio_dela a crianga obtém vantagens secundé- rigs. Tais vantagens, porém, saem muito Cares para @ crianga, que conviveré o resto da vida com a experién- cia traumatica, jae do agressor sexual de Tur incas e adolescentes. 0 fracasso tem sido total, Apenas 4,0 por cento dos agressores se) apresentam histéria ps cento doentas mentais. Do ponto de vista de so gia, nao faz sentido procurar earacteristices ind: duals nos perpatradores de violéncia, se as casas ~ de sue conduta sao socials. Efetivamente, quase to- dos eles trabalham para ganhar o sustento da fami- eréem em Deus, praticando, muitas vezes, uma 10, mantém relacbes sociais normais com seus colegas de trabalho e amigos, muitos sendo conside- rados acima de qualquer suspeita Os algozes podem. dessa mansira, estar em qualquer star ase classe social, em qualquer raca/emnia, em qualquer pro=— stn din Seas, porticipar Ge quelquer credo reigios, pertencer a fr’wntsa,” ‘quEIQUEF partide POTECS, & qualquer che eto, Aestrub- Sci 7a da sociedade, formada poles hierarqulas comentadas (itt sn ray mais atrés, torna cada um © todos os homens potenciak srentae 55 ViOvENCIA EM DEBATE mente violentos. A conversén da apvessividadle ern mgres- 580 pode ser desencadeada por fatos os mais banzis.¢ corriqueiros. 0 sentimento de posse /propriedade que @ saciedade alimenta no homem, em relaco a sua mulher ea sue prole, €' impunidadé de Miioria esmadedora ‘Gometide no éspeco piblico, seu combate exgaum sem- ‘esses criminosos explica amplamente @ generalizac&o de vioéncie masculna contra mulheres, criancas e ado- lescentes. Guando se trata de mulher agressora, jé se indicou que ela desempenhava a fun¢ao do patriarca, @ quem & reconhecida a direta de submeter os sosialmen- te mais fracos. Gs idosos taribém constituem uma categoria social ‘régi, muitas vezes vtima de abandono e maus-tratos por parte de seus parentes adultos, homens e mulhe- res. A legisiacao brasileira obriga os filhos a amparar os pais na velhice, garantindoJdnes o sustenta. No en- tanto, os asiios estdo cheios de pessoas idosas enjeite- das pelos préprios filhos e/ou outros parentes. CONCLUSOES Sem a velorizacdo das categoriss socialmente frégeis, izarem problema de tamanha ido, no basta. Como pode uma DOM insistir na instauracéa de inquérita contra um homem que praticou 0 crime de leséo co contra sus mulher se ela esté ameacada de m por ele e no hé abrigos pare acolher mulheres ‘mas de violencia? Falta. pois. in as DDM. Alem disso, é preciso dar formacso ‘relagtes entre homens @ mulheres aos profi jue Tidam_com pessoas em situacéo de vi intraferniliar e/au-domestios. NSO SOmente a | deve ter qualiicacdo, mas também os profissionais da salide, da educacgo, enfim todas os que lidar direts- ‘mente com o fenomeno analisaso. DEBATE NA ESCOLA numero de soldados. Cada cidac um desses nu- ‘merosos soldados, cuja tarefa fundamental consiste em 2zelar pele harmonia das relagées familiares e domicilia~ res e, mais amplamente, pela harmonia de todas as relacties humanas. ae 6: Saffiot? VIOLENGIA EM DEBATE

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