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CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DO
DESEMPENHO DE GERENCIAMENTO
DE PROJETOS: UMA ABORDAGEM DE
ESTUDOS DE CASOS
Daniel Lopes (Poli/USP)
dlopes@usp.br
Antonio Rafael Namur Muscat (Poli/USP)
armuscat@usp.br
1.1
2 Introdução
O interesse e a aplicação de técnicas de gerenciamento de projetos vêm crescendo ano a ano e
uma grande quantidade de profissionais está se especializando na teoria e prática dessas
técnicas. Com isso, aumenta também o interesse por estudos relacionados ao tema e,
paralelamente, ao tema mais específico do sucesso dos projetos.
Porém, apesar de se encontrar uma grande quantidade de publicações que abordam o sucesso
do projeto, muito pouco é encontrado no que diz respeito ao desempenho do gerenciamento
dos projetos, assunto tratado, na maior parte dos casos, como parte do sucesso do projeto, e
não de forma específica.
Neste contexto, o objetivo deste artigo é contribuir para a pesquisa e melhoria do desempenho
de gerenciamento de projetos buscando o entendimento da aplicação de critérios de avaliação
do desempenho de gerenciamento de projetos nas empresas e da influência da natureza dos
projetos e dos objetivos dos stakeholders chave na seleção de critérios.
O método de pesquisa adotado é a combinação de revisão bibliográfica com dois estudos de
casos realizados em filiais brasileiras de empresas multinacionais européias.
O objetivo da revisão bibliográfica é a formação de um conjunto de critérios de avaliação de
desempenho de gerenciamento de projetos já identificados por outros autores. Esta fase da
pesquisa foi iniciada a partir da leitura de referências chave, como de Wit (1988), Shenhar et
al. (2001), Bryde (2003), Fortune e White (2006) e Kerzner (2006), seguida de uma busca das
publicações citadas nestas referências chave.
Com a relação de critérios finalizada, realizamos os dois estudos de casos citados,
entrevistando patrocinadores e gerentes de projetos, buscando o entendimento da importância
e aplicação dada aos critérios identificados, através do foco destes stakeholders chave.
As perguntas a serem respondidas pela pesquisa são as seguintes: por que estes critérios são
os escolhidos? Qual é a relação entre a natureza dos projetos, o papel dos stakeholders e a
seleção destes critérios? Como o conflito entre as necessidades dos stakeholders afeta a
escolha dos indicadores?
3 Revisão da Literatura
3.1 Sucesso do Gerenciamento e Sucesso do Projeto
Embora o sucesso do gerenciamento do projeto tenha sido associado ao resultado final do
projeto, os objetivos do gerenciamento e do projeto em si são diferentes (de Witt, 1988;
Munns e Bjeirmi, 1996). Portanto, há a necessidade de se diferenciar o sucesso do projeto do
sucesso do gerenciamento do projeto e, conseqüentemente, de se definir critérios de medição
de desempenho para um e critérios de medição de desempenho para outro.
Por outro lado, alguns autores (de Wit, 1988; Munns e Bjeirmi, 1996; Baccarini, 1999)
afirmam que um projeto pode ser um sucesso, apesar de ter sido mal gerenciado, assim como
poderá fracassar, apesar do seu bom gerenciamento, devendo, então, haver uma distinção
entre a medição do sucesso do projeto e do sucesso do esforço de gerenciamento do projeto.
Qual pode então ser considerada a parcela de responsabilidade do gerenciamento no sucesso
do projeto? Uma forma de responder a esta questão é identificar aqueles fatores essenciais
para a obtenção sucesso do projeto e cuja responsabilidade pode ser atribuída à função de
gerenciamento dos projetos.
Vários autores discutem a questão do sucesso do projeto citando fatores importantes para que
isso ocorra ou, em alguns casos, para evitar o fracasso do projeto. Por exemplo, para Munns e
Bjeirmi (1996) o sucesso do projeto depende de: uma meta realista e bem definida,
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custos” (Duffy e Thomas, 1989), foi categorizado no grupo “controle e monitoramento”, mas
poderia, também, estar no grupo “metodologia e ferramentas”. Aqui a palavra chave para a
decisão de agrupamento foi “controle”.
Em outra situação recorrente, a uniformização faz com que alguns critérios apareçam mais de
uma vez na mesma publicação. Um exemplo importante disso é o agrupamento de
“gerenciamento de riscos: educação”, “gerenciamento de riscos: manutenção de registros” e
“gerenciamento de riscos: maturidade de atribuição de responsabilidades” citados por Cooke-
Davies (2002) em “gerenciamento de riscos”, que desta forma terá três citações nesta
publicação. Nesse caso, a palavra chave para agrupamento foi “riscos”.
De forma a possibilitar o uso da relação de critérios no questionário de entrevistas, foram
selecionados apenas critérios que foram citados em, pelo menos, três de publicações,
resultando em um total de 15 critérios do total de 80 encontrados.
Além desses, quatro critérios foram selecionados por sua relevância na literatura. O primeiro
deles foi “atendimento a requisitos” também descrito como “atendimento a requisitos
técnicos” (de Wit, 1988; Wateridge, 1998) que, embora citado como fator de sucesso do
projeto (e não do seu gerenciamento), pode ser considerado uma variável sob a
responsabilidade da função de gerenciamento de projetos. Além disso, esse é um critério
diretamente associado ao conceito de qualidade.
Outros dois critérios selecionados pela relevância foram “planejamento de prazos” e
“desempenho de escopo” que fazem parte da chamada “restrição tripla” - escopo, tempo e
custo do projeto - do gerenciamento de necessidades conflitantes do projeto (PMI, 2004).
Além disso, “planejamento de prazos” está considerado no “triângulo de ferro” dos projetos
citado por Atkinson (1999), que consiste das variáveis de tempo, custo e qualidade.
O quarto critério a entrar na relação por relevância de conceito foi “envolvimento dos
stakeholders”, uma vez que vários autores afirmam que é importante para o sucesso do
projeto e do seu gerenciamento que as percepções dos stakeholders sejam levadas em
consideração na definição dos critérios de sucesso e dos requisitos do projeto (Nicholas, 1988;
Bryde, 2003; Bryde e Brow, 2004; Tukel e Rom, 2001).
Um vigésimo critério considerado na relação final é o da ética profissional que foi incluído
como uma contribuição dos autores devido à importância que o assunto tem assumido no país
e por não aparecer em nenhuma publicação consultada.
Os demais, entre os 80 identificados, foram avaliados de forma genérica por uma pergunta, ao
final do questionário, sobre a existência de algum critério usado pela empresa e/ou
considerado importante pelo entrevistado que não está relacionado no questionário.
A Tabela 1 abaixo enumera os critérios selecionados, informando as publicações em que
aparecem, o número de citações por publicação quando maior do que uma por conta do
agrupamento (entre colchetes ao lado da referência da publicação), o número de publicações e
a quantidade total de citações. A lista apresenta um ranking pelo número de publicações em
que os critérios aparecem.
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Outros critérios citados com freqüência pelos entrevistados foram: desempenho da qualidade,
critério identificado por de Wit (1988); satisfação do cliente, identificado por Bryde (2003) e
Kumar e Wolf (1992); contribuição para melhoria contínua, identificado por Bryde (2003); e
eficiência de contratação e compras, identificado por Shenhar et al. (2001).
É interessante, ainda, observar que a ética no gerenciamento dos projetos foi considerada
fundamental por praticamente todos os profissionais entrevistados. Por outro lado, também,
houve concordância de que é um critério de difícil medição, sendo então monitorado por
normas e equipes específicas.
Um critério citado pelos entrevistados que não está na relação proposta é o
empreendedorismo, representando a capacidade do gerente em identificar, durante a
realização de um projeto, oportunidades de implantação de novas soluções que levem à venda
de novos projetos ou à negociação de aumento no escopo do projeto em realização, com
ganho para empresa. Essa é, no entanto, uma dimensão que pode ser usada como forma de
avaliar o desempenho pessoal do gerente do projeto, não sendo necessariamente um indicativo
de que projeto foi bem ou mal gerenciado.
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empresas cujo core business não seja a realização de projetos, ou em empresas que contratem
projetos para implantação de novos processos, equipamentos ou tecnologias, de forma a
permitir a visão do cliente.
Um maior número de entrevistados, considerando uma maior variedade de stakeholders
(como clientes e membros de equipe), poderá, também, aumentar as possibilidades de
análises, com uma avaliação mais clara de como as empresas tratam a questão do desempenho
em gerenciamento de projetos em suas várias unidades de negócio, além de permitir uma
melhor avaliação dos efeitos do conflito de interesses dos diferentes stakeholders.
Outra limitação citada anteriormente está associada ao agrupamento dos critérios encontrados
na literatura para formar a relação final apresentada nesse artigo.
8 Referências
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