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17 Maio 2008 - 17h25


Banco de Portugal: Vítor Bento tem licença sem vencimento há oito anos

Promovido sem trabalhar


O Banco de Portugal promoveu, por mérito, o presidente da Sociedade Interbancária de Serviços
(SIBS), empresa que gere o sistema multibanco, ao cargo de director de nível 18B. Vítor Bento, que é
quadro do banco central, encontra-se em regime de licença sem vencimento desde 8 de Junho de
2000, altura em que foi nomeado presidente da SIBS/Unicre. A promoção, que vale mais 720 euros
mensais (quando o economista regressar ao banco), foi comunicada em Fevereiro e tem efeitos desde
o dia 1 de Janeiro.

Esta decisão causou um evidente mal-estar em vários departamentos do Banco de Portugal e chegou
ao Parlamento através do Bloco de Esquerda que, ontem, questionou Vítor Constâncio sobre esta
decisão.

Segundo documentos a que o CM teve acesso, a justificação dada pelos serviços do banco central para a promoção de um quadro que
não se encontra no banco há oito anos foi a de que 'o dr. Vítor Bento se encontra em situação de licença sem retribuição [...] ao abrigo
de acordo celebrado nos termos da cláusula 91ª do Acordo Colectivo de Trabalho (ACT) para o sector bancário'.

Mas essa mesma cláusula estipula no seu nº 5 que a licença sem retribuição vale 'até ao máximo de três anos'. Também o normativo
interno do banco central prevê a hipótese de licenças sem vencimento por um ano, até ao máximo de três anos, seguida ou
interpoladamente.

A figura da licença sem vencimento não tem os mesmos contornos jurídicos da ‘requisição’ e mesmo esta, no caso do Banco de Portugal,
é apreciada a cada três anos.

O Banco de Portugal fundamentou a promoção de Vítor Bento com 'critérios de gestão e de equidade interna'.

Um director do banco central com o nível 18 tem um vencimento mensal da ordem dos 11 mil euros, onde se integra o ordenado
contratualizado ao abrigo do ACT, as diuturnidades e o complemento remuneratório da isenção de horário equivalente a mais 47 por
cento do salário-base.

A decisão de promover Vítor Bento por mérito tem reflexos a dois níveis; na promoção salarial (passagem do nível 18A para o nível 18B, o
que equivale a um aumento de mais 368 euros por mês) e na progressão na carreira (passagem do grau oito para o grau nove, o que dá
direito a mais 452 euros).

O CM tentou contactar o presidente da SIBS, mas Vítor Bento encontrava-se em Madrid. Fonte oficial da empresa adiantou que o
presidente apenas prestaria esclarecimentos após uma reacção oficial do Banco de Portugal.

SEM ENCARGOS PARA OS COFRES

O ministro das Finanças – que esta semana em Bruxelas disse que era preciso 'transparência' e justificação das políticas remuneratórias
'com base no desempenho' – recusou comentar a situação.

O banco central disse, em comunicado, 'que a reclassificação do drº Vítor Bento não comporta encargos para o Banco de Portugal'. A
instituição liderada por Vítor Constâncio refere ainda que 'tem sido entendimento do Banco de Portugal, no que diz respeito aos seus
quadros nesta situação, que estes não devem ser prejudicados na evolução das suas carreiras, pelo que, em regra, são objecto de
reclassificação, de acordo com o tempo em que exerceram funções fora do Banco'.

PERFIL

Vítor augusto brinquete bento licenciou-se em Economia em 1978 pelo Instituto Superior de Economia e foi assistente na cadeira de
Política Monetária. Em 1980 entra no Banco de Portugal para o departamento de Estudos Económicos, para, em 1987, ser responsável
pelo Instituto Emissor de Macau. De 1992 a 1994, ocupa o lugar de director-geral do Tesouro. Em 2000 é nomeado administrador da
VISA.

SAIBA MAIS

REQUISITADOS

Os quadros do Banco são muito requisitados para outras funções. Foram caso disso Cavaco Silva, Ferreira Leite e Octávio Teixeira.

1846

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O Banco de Portugal foi criado por decreto régio em 1846.

1998

O Banco integra o Sistema Europeu de Bancos Centrais.

Miguel Alexandre Ganhão


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17 Maio 2008 - 16h50


Dia a Dia

Offshore salarial
Já se sabe que o Banco de Portugal é uma espécie de offshore salarial do Estado, onde um alto
funcionário recebe o dobro do primeiro-ministro e os administradores, além do excelente salário, têm
direito a reformas milionárias, sem ligação directa ao conjunto da carreia contributiva. Não se sabia era
que a autoridade bancária também promovia técnicos que não exercem funções na instituição, que
mesmo em licença sem vencimento tiveram direito a notas de mérito.

Vítor Bento é um excelente economista com um óptimo currículo e não tem culpa directa nesta
promoção que o Banco de Portugal lhe outorgou. A responsabilidade é exclusiva da administração
liderada por Vítor Constâncio, que enquanto economista e defensor da estabilidade dos preços tem
alertado sistematicamente para a "moderação salarial".

O caso desta promoção por ‘mérito – que equivale a um aumento salarial extra de 720 euros mensais, mais do que o valor médio do salário
dos trabalhadores por conta de outrem – é escandaloso num momento em que o Estado quer impor rigor e limites apertados nas
promoções da Administração Pública. Quando os funcionários públicos ouvirem os avisos de Constâncio podem lembrar-se da história de
frei Tomás: "Façam o que ele diz, não o que ele faz."

Armando Esteves Pereira, Director-Adjunto

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