CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

ARQUITETURA V - 1º semestre 2010

PROFESSORA: Luciana Rocha Féres

TP I: OBRAS ANÁLOGAS
AUDITÓRIO NICCOLÒ PAGANINI
RENZO PIANO

ALUNAS: Aline Moraes

Gabriela Theodoro
ABRIL/2010
 O
 A Fábrica Eridânia foi construída em 1899 em uma área
A antiga Eridânia, com seus telhados e aberturas
distintos do atual.
Fonte: www.parmaitaly.com

Início da reforma da antiga fábrica Eridânia.
Fonte: http://www.parmaitaly.com
Auditório Niccolò Paganini foi projetado por Renzo
Piano, em 1997, reciclando um antigo engenho de
açúcar – a Fábrica Eridânia – para uma sala de
concertos na cidade de Parma, Itália.
de cerca de 10 hectares fora dos muros da cidade, e
implantado no modelo de estabelecimentos ativos na
Alemanha por técnicos alemães. A fábrica permaneceu
em operação até 1968.
A área foi adquirida pela cidade de Parma e foi
transformada, com a contribuição da Barilla, em um
grande parque público, além do auditório, um centro de
convenções, salas de ensaio e edifícios de serviços,
preservando a memória de um estrutura significativa da
arquitetura industrial
 O Auditório de Parma trata-se de uma intervenção no
redesenho de um importante compartimento urbano
do início do século XX, onde se encontram os
primeiros estabelecimentos industriais da região,
como o Consórcio Agrário e o Pastifício Barilla,
juntamente com a estação de trem e o gasômetro.

O Auditório de Parma é trabalhado como um objet

trouvé , o espaço vazio da antiga fábrica torna-se a
ocasião para a criação de uma paisagem de grande
sugestão emotiva e de estreita lógica funcional.

O conjunto arquitetônico antigo era composto por

galpão linear com três pisos, onde uma divisão no
nível da cobertura indicava um acréscimo na
construção inicial.
Entrada do Auditório de Parma.
Fonte: www.flickr.com
 A distinção entre estes telhados caracterizava a formação
de blocos conectados, em um espaço uniforme.

A fachada lateral aponta para um tratamento diferenciado

Lateral do auditório.
Fonte: www.congressi.comune.parma.it
nas aberturas dos vão das janelas para estes dois volumes,
bem como a existência de lanternim em um deles. Um
corpo anexo, evidenciado por volumetria independente,
compunha o restante do complexo, com funções
diferenciadas. A chaminé explicitava a função fabril,
destacando-se na paisagem.

Esta intervenção compreende uma operação de

requalificação urbana, em uma fábrica inutilizada a 30
anos, que propõe a reutilização da estrutura existente,
conservando a arquitetura mais significativa, inserindo-
Chaminé mantida com a lhe diferentes funções de relevância urbana e territorial,
reforma.
que prevê investimentos públicos e privados no campo
Fonte: www.flickr.com
social e cultural.
 Piano buscou, na antiga fábrica, a possibilidade de
abarcar nova função, através da simplicidade da forma
preexistente. Para tal, trabalhou com conceitos de
opacidade e transparência. Aos restos do passado atribuiu
o testemunho material de uma opacidade característica da
época, através das robustas paredes de tijolos; em
contraposição trabalhou com a transparência, buscando
dar leveza ao conjunto, metaforizando a apropriação à
época da cultura imaterial. Trabalhando com o som e
com a luz, codificou o novo espaço que se desenvolveu
em sintonia com o antigo, sem renunciar a expressar
intervenção de seu tempo.

Fachada de vidro e estrutura metálica.

Fonte: www.congressi.comune.parma.it
 Piano utilizou as paredes perimetrais da velha fábrica
como envoltório, demoliu as duas testadas do galpão, o
que permitiu uma continuidade visual do exterior para o
interior. O maciço que caracterizava a antiga Eridânia
transformou-se, assim, em invólucro. Os espaços deixados
para o exterior, ao recuarem-se as vedações transparentes
nas testadas desmaterializadas, transformam o antigo
Conjunto restaurado. galpão em hangar, aparentando estar sempre aberto.
Fonte: www.flickr.com

O antigo e o novo estabelecem uma relação de inclusão,

onde toda inserção de elemento novo proposta por Renzo
Piano está contida dentro da caixa arquitetônica
preexistente.

O espaço da sala de concertos traduz-se pela história

maciça e pesada, bem definida, das paredes da antiga
Detalhe acesso. fábrica e a imaterialidade do novo, quase casual, ilimitado,
Fonte: www.flickr.com infinito, tão impalpável quanto a própria música.

Vista do palco para o auditório.
Fonte: www.congressi.comune.parma.it
Vista do foyer.
Fonte: www.congressi.comune.parma.it
Na intervenção restaurativa, as antigas paredes foram
regularizadas, os ressaltos e desnivelamentos foram
alinhados para proporcionar uma superfície mais
contínua,
mais favorável à acústica e à inserção da intervenção.
A espessura final destas paredes atingiu, assim, 1,07 m de
espessura, devido ao aprumamento destas, o que favoreceu
sua resistência para suportarem o peso da cobertura que
foi aumentado. O desalinhamento das coberturas do
galpão foi anulado e uma parede contínua deu lugar
àquelas preexistentes. As aberturas das janelas, que eram
diferenciadas nas duas paredes, foram uniformizadas, uma
busca de neutralidade formal para a caixa envoltória do
novo auditório.
Os pisos intermediários, que estavam arruinados, foram
retirados totalmente, dando lugar ao grande vazio que
abrigou o auditório.

Corte com esquema da acústica do auditório.
Fonte: www.congressi.comune.parma.it
Apresentação no auditório.
Fonte: http://www.culturadeuropa.it
A cobertura foi substituída por nova, com volumetria
uniforme, onde foi abandonado o desnível e reintroduzido o,
lanternim que agora tem extensão mais ampla. Com
tesouras metálicas aparentes, que evidenciam a linhagem
arquitetônica do autor, a cobertura foi recomposta em cobre
pré-tratado, que lhe dá a tonalidade verde, devendo sofrer
alteração cromática com o tempo, o que vai aproximá-la da
antiga cobertura.
Ao reconhecer nas paredes arruinadas da antiga indústria
abandonada a força visual de um símbolo capaz de traduzir
uma matriz do novo, explorou a coincidência entre o vazio
da Eridânia e a tipologia do auditório como boîte à
chaussures. Com 780 lugares, a acústica garante um nível
homogêneo em cada ponto da sala e permiti à orquestra de
ouvir a mesma intensidade de som que vem em retorno da
sala.

Fachada de vidro, relação interior/exterior.
Fonte: www.congressi.comune.parma.it
Planta do auditório
Fonte: www.congressi.comune.parma.it
A tipologia de “caixa de sapatos” do espaço gerado a
partir do galpão da antiga Eridânia, com palco frontal,
é um modelo já consagrado pela música sinfônica que
se adaptou perfeitamente às proporções do edifício,
caracterizando, entretanto, um defletor acústico natural.
Neste espaço foram introduzidos elementos para
garantir a grande variedade de ângulos de refração da
onda sonora, que caracteriza a complexidade acústica
necessária. a pressão sonora na sala e favorecem a
homogeneidade do som.
A continuidade das superfícies das duas paredes
internas é interrompida pelos nichos das janelas, que
estão alinhadas na superfície externa. Tal irregularidade
gera um complexo sistema de “refletores naturais”, que
modificam continuamente os ângulos de reflexão do
som, quando este encontra as paredes.

Cobertura.
Fonte: inparticolare.splinder.com/post
Detalhe escada.
Fonte: www.congressi.comune.parma.it
As duas testadas transparentes atuam acusticamente, através
de engenhoso sistema de defletores horizontais reguláveis
para refletir o som. Na zona do palco foram introduzidos
elementos auxiliares para corrigir a acústica, planos
inclinados de filetes de madeira, que também protegem a
orquestra do exterior e impedem ao público de espelhar-se
no pano de vidro que limita o palco.O assoalho elevado
funciona como uma caixa harmônica e permite aos artistas
de sentirem as vibrações musicais.
As quatro superfícies perimetrais refletoras são
contrabalançadas pela cobertura, perfeitamente isolada dos
ruídos externos e tratada com uma alternância de zona
refletora e absorvente, onde os espessos painéis acústicos
pendurados, também em cedro americano, aumentam o
efeito de reflexão e a conseqüente complexidade acústica,
enquanto o lanternim superior funciona como sound trap,
absorvendo a energia acústica.

Interior do auditório.
Fonte: www.congressi.comune.parma.it
Visão do palco.
Fonte: : inparticolare.splinder.com/post
Nas palavras de Renzo Piano: “Reportar a estrutura ao
essencial significa trabalhar pela subtração. Tirar é uma
aposta, um jogo. Quando se procura a leveza,
automaticamente se encontra uma outra coisa preciosa,
importantíssima no plano da linguagem poética: a
transparência.
A opção projetual tomada por Piano valoriza o edifício
preexistente, mesmo interferindo em sua configuração
original. Evita construir novas edificações que
concorreriam com a existente, destacando assim esta na
paisagem do parque.
Ao vazar o galpão em suas testadas, atribuiu-lhe o
caráter de casca, sugerindo exteriormente a intervenção
ocorrida no interior.
O volume anexo, já existente, foi mantido para abrigar a sala de ensaio, camarins e demais serviços e apoio, bem
como um bar que tem acesso pelo foyer. Este volume, mais baixo que o galpão da sala de concerto, apresenta o
mesmo tratamento externo, mantendo a idéia do conjunto industrial original. A chaminé foi mantida como
símbolo e marco do lugar.

Planta completa do conjunto.

Fonte: www.congressi.comune.parma.it

Imagem - Fonte: www.flickr.com
Os detalhes tecnológicos apresentam-se em harmonia com
a composição do edifício; nem se escondem, nem se
evidenciam com exagero. Apontam para o tempo da
intervenção, respeitam as proporções e a função do novo
espaço.
Como as paredes foram tratadas, recebendo acabamento
com novo emboço, reboco e pintura, a pátina desta
edificação foi abolida, dando-lhe configuração de obra
recente.
A leitura figurativa da obra resultante desta intervenção
aponta para o vigor destes materiais e acabamentos,
ficando a composição formal, através das proporções de
sua volumetria, do ritmo de cheios e vazios das aberturas
sobre as densas paredes e da evidente chaminé que
assegura com firmeza sua presença, a leitura da
antiguidade da obra que serviu de receptáculo.

Imagens - Fonte: www.flickr.com
Marcas e histórias foram, assim, esquecidas, dando
lugar a uma nova história que inicia agora com o
auditório.
O edifício antigo que contém a nova arquitetura foi
travestido por ela, em todo seu espaço interno e
externamente pelos grandes panos de vidro e pela nova
cobertura. O espaço intersticial entre o novo e o antigo
chega a ser desprezível, o edifício antigo veste, com
medidas ajustadas, a nova arquitetura que brota de seu
espaço interno.
O Auditório Niccolò Paganini empresta da velha
Eridânia sua historicidade, traduzida na materialidade
de suas paredes e proporções espaciais, que traduzem
sua antiguidade, mas não se deixa intimidar por esta
antiguidade, traduzindo-a por acolhimento e
conveniência.