Dilogo juiz vara da infncia e juventude, rapaz e me
- Quantos anos voc tem?
- 16. - Est na escola? - Sim - Qual srie? - 4 srie. - J usou drogas? - Sim - Qual? - Maconha e cigarro. - Quando aconteceu o crime, onde sua me estava, ao lado do seu pai na cama? - No. Minha me estava dormindo em cima da laje. - Em cima da laje? Por que? - Porque meu pai tinha batido nela e ela no tava conversando com ele. - Seu pai lhe espancava? - Sim. Todos os dias. - Por que? - Ele chegava doido do servio e vinha batendo. - Ele batia muito? - Sim. J desmaiei de tanto apanhar algumas vezes. - Ele batia na sua me? - Sim. Um dia ele quebrou a fivela do cinto na cara dela. - Voc est arrependido? - Sim. - Sente falta do seu pai? - No, ele no me dava nada. - O que ele devia te dar? - Sei l, carinho? Ele nem conversava comigo. - Voc estava matando aula? - No. - Mas aqui no processo diz que voc estava matando aula e seu pai lhe deu um castigo. - Eu tava matando aula, mas tava dentro do colgio, jogando bola. - Onde voc conseguiu a faca? - Em casa. - No mesmo dia? - Sim. - Quando voc matou seu pai, ele estava dormindo? - Sim. - Mas se ele estava dormindo no estava te batendo. - Mas ele tinha batido antes de dormir. - Se eu te perguntar qual a lembrana boa que voc tem do seu pai, qual voc diria? - Nenhuma, ele s me batia. Batia em mim e na minha me.
- Onde vocs moravam?
- No Morro da Pedreira. - Certo. Vamos chamar a testemunha, a me. - Boa tarde, senhora. O seu marido lhe espancava? - Sim, todos os dias. Batia em mim e no meu filho. - Mas ele batia todos os dias? - Sim. J desmaiou o menino, a ponto de ter que leva-lo pro Pronto Socorro, mas no levei por medo. - A senhora denunciou seu marido? - No. Se eu denunciasse, ele me matava. - Seu filho vivenciou essa situao desde quando? - Desde criana. - A senhora se sente aliviada? - No. - A senhora sente falta do seu marido? - No. Eu no me conformo com a situao em que ele me deixou. - A senhora no se conforma com o seu filho ter matado seu marido? - No. Eu no me conformo com o que ele fez. Ele no dava carinho, nunca educou. Era s pancada, pancada, pancada. - E agora, senhora? - Agora est nas mos do Senhor!