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DOM TIHAMER TOTH O BRILHO DA MOCIDADE ‘VI EDICAO Mi 1959 EDITORA VOZES LIMITADA PETROPOLIS RJ M oP Rot om POR COMISSKO ESPECIAL DO EXMO: B REY, SK, DOM MANOEL PEDRO DA CUNIA CINTRAL BISPO DE Thopolls: TREN DESIDERIO. KALVER FM. PETROPOLIS, 12-2-1959, © direito de tradugio déste livre pertence a Congrega- cdo do Sagrado Coracio de Jesus © foi cedido temporaria mente a EDITORA VOZES LTDA. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS PROEMIO Meu filho: Junto 4 minha secretaria vém, nao raro sentar-se jovens estudantes. Apenas iniciado o ano escolar, comecam também para mim as visitas dos jovens. Os novatos batem ti- midamente A porta, e os antigos, os conhecidos, batem com ousadia, mas alegremente. Sentam-se junto a minha secrétaria e, na calma eno recolhimento do meu quarto, abre-se o precioso reino, fechado por mil fechaduras, duma alma de jovem, Quando éles contam os seus aborrecimentos, bem pe- quenos (mas que éles enxergam com abatimento intini- to); quando se lamentam sGbre as suas mil dificuldade- zinhas (mas que tomam terrivelmente a sério); quando pdem a descoberto a sua alma com as suas grandes tempestades, com os seus profundos problemas; ¢ quan- do, de olhos arregalados, dizem com transporte: “Dé- me um conselho: que devo fazer?” — nesses momen- tos inspirados é que tenho aprendido a conhecer que alma do jovem é um imensa campo de diamanies espi- rituais que encerra uma promessa de desenvolvimento futuro ilimitado, Para nés, os adultos, & nado sdmente um santo dever, mas também grande honra, 0 contri- buirmos para ésse desenvolvimento. Aquéle que se nao ocupa da juventude nao sus- peita a quantas questées, combates, passos em falso —e certamente também naufragios definitivos — esta exposto o desenvolvimento das vossas almas, 6 jovens, nem quanto, nas tempestades da primavera da vida, 0 5 batel da vossa alma, precisa de im4o robusta para o fazer singrar na boa diregao, Quando tenho querido fortiticar os que est40 em Plena luta, acalmar-lhes as tempestades da alma, ali- vid-las com os meus conselhos nas suas diividas, reti- ri-las do lédo com mao firme, tem-me parecido que hao somente um jovem estucante estava sendo junto a mim, sendo que milhares de jovens de alma atraente, de olfiar penetrante, estavam em todo o nosso pais a bragos com as mesmas graves questies, e talvez nao soubessem onde achar resposta, consolacao, conselho, esclarecimento, e assim, entregues a si mesmos, eram obrigados a sustentar um prélio dificil na idade criti- ea da adolescéncia. Tais foram as idéias que fizeram surgir a publi- cidade esta série de obras dedicadas “A Juventude Catdliea” Bem sei que a palavra impressa nao tem o poder da palavea viva, mas talvez nao seja imitil reunir par- cialmente nalguns livres os pensamentos que costumo expor aos meus alunos, sei, 6 jovem, como fe chamas. Nao sei que escola freqiientas: se o colégio, a escola primaria ou secundaria, a escola industrial, a escola de comércio, a escola normal ou, talvez, a Universidade. De ti s6 sei uma tinica coisa: é que és um jovem estudante, que trazes na alma a sorte futura da nagdo, que te preocupas com graves problemas, aos quais temos o sacratissimo dever de car respostas sérias. Porquanto ndo ha nada mais nobre nesta vida do que abrir a fon- te da verdade eterna as almas sequiosas, Fundar reinos ndo pode fer maior mérito perante a humanidade, e consiruir igrejas nfo pode ser mais agradavel a Deus do que preservarmos da ruina, por nossos conselhos, 6 ‘uma sO alma de jovem, que ¢ 4 principal esperanga dos estados, o “templo vivo” de Deus. Cada letra déste livro foi escrita por amor de tua alma; foi escrita por me haver persuadido de que en- cher de sublime ideal um coragao de mogo é ato de valor inestimavel e eterno. Esse amor merece que re- flitas sériamente no que puderes ler neste livro. E a maior recompensa dos meus esforgos seri que estas Tinhas possam repor ou manter no bom caminho ao menos uma sé alma de adolescente. O Autor. OS DOIS LAGOS ‘Quando eu era jovem estudanie, ia muitas vézes passear A beira de um lago situado na montanha. Os raios do Sol alegremente lhe dangavam no espelho cris- talino, A sua onda pura deixava perceber a vida buli- gosa dos séres que Ihe povoavain 0 fundo de cascalho. Nadavam lindos peixinhos aqui e acolé, mal podendo conter a sua satisfagio ao contacta dos cdlidos raios solares. Na margem, sonhavam as miosdtis, e os nentifa- res montavam guarda gravemente com as suas félhas como laminas de sabre. A superficie da 4gua, inclina- vam-se com dignidade os salgueiros, que, com ar medi- tativo, fruiam do céu sorridemte e sem nuvens o azul que se refletia. Uma aura de ar fresco circulava atra- vés dos ramos, e os canigos baixavam a cerviz 4 sua passagem. O lago da montanha era uma como alma de jovem transbordante de vida, de sorriso, de ven- tura, como um élho de crianga arregalade, brilhante qual estréla Ultimamente, apés longos anos, encaminhei-m outra vez para 14 . Foi com espanto que vi em que se transformara o meu querido lago: um atoleiro lodoso de cér ama- relo-esverdeada, A agua estava-Ihe turva e suja, O que @le encerrava nao se via por causa das ervas, mas © ar pestilento que déle se exalava trala a podriddo 9 que méle se achava, Da vasa ascendia o coaxar das ris. Quando passava alguém, répteis hediondos pula- vam assustados nas ervas ou na Agua Iutulenta, ‘Onde estdo os neniifares que altivamente monta— vam guarda? Para onde se foram os salgueiros da margem que balougavam as suas coroas de folhagem? Para onde se foi o céu azul que sorria, que se re~ fletia na superficie da 4gua? Tudo desapareceu. E’ debalde que os canigos bro- tam na margem; inclinam-se frouxamente ao mener vento. Por t6da a parte, € sé podridio e isolamento. E 0 corag&io confrangeu-se-me. Entéo, era aque- Je © formoso lago cristalino da minha juventude? a 8 Qs olhos dos jovens sio t4o belos quanto a mi sotis, e a alma déles é como o lago cristalino da mon- tanha. Ail quantas mais tarde se tornam pantanos senagosos! ee @ Foi para que tua alma sempre permanecesse pura como um cristal, mex filho, que escrevi éste livre. Por- que conservar pura a prépria alma, e assim cheger & idade de homem, é a mais sublime taréfa da vida. PARTE | OS PLANOS DO CRIADOR “E Deus criow o homem & sua ima- gem; criow-o & imagem de Deus: criou homem e mulher, E Deus abencoau-os € disse-lhes: Crescei, multiplicai-vos e enchei a Terra” (Gn 1, 27-28). Havia milénios que a Terra prosseguia a sua rota em {Oro do Sol. Dentro dela refervia a lava incandes- cente; com estrupidos tremencos, quebrava ela a cros- ta exterior endurecida, mas o esfriamento continuava incessantemente. Na superficie do globo, verdejava ja a floresta virgem. Florescia a primavera com aspecto deslumbrante, e as aves cantavam alacremente na asa dos ventos. Era em téda a parte a vida, a forca, a energia, a atividade. Mas faltava ainda alguma coisa, Alguma coisa ou, antes, alguém, N&o havia ninguém para escutar o canto do rou- xinol. Nao havia ninguém para aspirar o perfume das fléres. Nao havia ninguém para saborear os frutos. Faltava o ser inteligente e consciente que absorvesse t6da aquela beleza imensa numa alma avida, que n4o fsse apenas uma peca do grande mecanismo da nature- za, mas que se volvesse conscientemente para. todos 11 aquéles cantos de aves, para todos aquéles murmui de regatos, para o perfume das fléres, para o ciciar das florestas, para a dignidade severa dos macigos nevosos, para o zumbido das abelhas, e que clevasse com amor para o Criador de todas aquelas coisas, nas asas da gratid’o, uma alma inebriada pelas belezas da natureza. 1. O primeiro homem e a primeira mulher. Foi entio que Deus criou o primeiro casal huma- no; um homem e uma mulher, O homem e a mulher so dois stres completos em si mesmos, e, no entanto, devem-se completar um ao outro. Nos dois sexos o Criador realizou conjuntamenfe, de modo completo, a de “homem”. Cada sexo tem o seu carater pe- culiar, porém o homem e a mulher, completando-se mituamente, dio a idéia completa de “homem’. O cunho caracteristico do homem & o trabalho criador que reclama coragem e atividade. A sua von- tade é forte, o seu cardter firme, perseverante nas reso- lucbes. Ele se enche de alegria quando pode afrontar vitoiosamente, com fronte dura como o granito, as mil tempestades do combate da vida, A mulher seria esmagada na luta continua pela vida. O terreno melhor para ela 6 o doce ninho da familia, onde com amor inexaurivel e com dedica- go incessante, cuida do lar, dos filhos, e desenruga com um sorrisa os tragos severos do espéso que entra apés o trabalho penoso. A sua férca criadora nao & tao elevada quanto a do homem, mas sio maiores a sua paciéncia e a sua perseveranga. Deus realizou para a humanidade o mais belo ideal, criando dois sexes, Fundou sébre a diferenga dos sexos o encanto inesgotavel da vida familiar, o 12 amor do espéso ¢ dos filhos, ¢ mesmo, em parte, o amor do pais. Sao, pois, precisos no mundo @ homem e a mi Iher, Faz-se mister a forca do homem ao lado da ter- nura da mulher, E’ necessdria a energia ardente do homem ao lado da ternura da mulher. E’ indispensd- vel a energia ardente do homem ao lado do amor, da beleza e da sensibilidade mais profunda da mulher. Os dois sexos sio inseparavelmente feitos um para o outro, Foi por isso que o Criador colocou a primeira mulher ao lado do primeiro homem, e fundou desde © comégo da humanidade a primeira familia, 2. Os planes do Criador, Criando, porém, os dois sexos, Deus tinha ainda designios mais profundos e mais santos. Com a uniao dos dois sexos, deu éle também aos homens uma for- fa criadora, Queria que @les tivessem parte na sua obra criadora e que preenchessem por uma geracdo nova 0 vacuo que a morte cava entre os homens. Foi @sse o plano infinitamente sublime e misterioso do Criador quando fundou o matriménio. Segundo a in- tengio de Deus, devemos encarar 0 jovem e€ a jo- vem na plenitude da sua integridade ¢ da sua t6rga, como uma incorporagéo da idéia criadora divina, Todos vés aprendestes no catecismo que o pré- prio Deus criou diretamente os dois primeiros séres humanos, Addo e Eva, Porém, mais cedo ou mais tar- de, todo menino faz a si mesmo esta grave pergunta: “Quem criou entéo os outros homens? Deus nao os criou diretamente, como aos primeiros homens; en- tao, como vieram éles 4 Terra? E como foi que eu proprio vim a Terra? Enfim, como é que vém ao mun- do as criancinhas?” 13 Certamente é uma questio extremamente grave. E todo menino, mais cedo ou mais tarde, & agitado pelo desejo de saber. Prefiro responder-te a deixar-te inquirir os outros. Presta, pois, bem atengao, meu caro filho. Sabes certamente muito bem que os sdbios dividem o con- junto das criaturas do universo em duas grandes clas- ses: os séres organicos e os séres inorganicos. Deus nao sémente criou os séres pertencentes & primeira classe (as plantas, os animais e o homem), sendo que os proven de uma parcela da sua propria fora criadora, de tal arte que ésses sCres, gragas a essa | forga geradora, podem dar a vida a pequenos séres vivos semelhantes a Cles. A planta produz uma nova planta, o animal da a luz o seu filhote, e o homem dA origem a criancinhas. ‘Aos s@res inorganicos (0 Sol, as estrélas, os mi- nerais, as montanhas, 0 mar, etc.) Deus mao deu a fora criadora. E por qué? Porque @les néo perecem to {Acilmente quanto os stres vivos, ¢ assim nfo preci- sam chamar A exist@ncia outros séres pequenos em seu lugar. Mas isso é necessdrio para os séres orga- nicos. O peixe e a ave, a drvore e a planta, o animal e o homem, envelhecem, perecem, deixam de existir — isso aos milhées, ano por ano. Porém se isso du- rasse continuamente e ndo houvesse outros stres novos no lugar déles, rdpidamente a vida cessaria na Terra. E’ verdade que Deus pode no lugar de cada sér vive desaparecido, criar diretamente um novo. Mas a sua santa e misteriosa vomtade realizou coisa ainda mais grandiosa: a cada sér vivo deu dle a fdrga de poder dar vida a outros, porém de maneira tao misterio- sa, que até agora os homens mais sdbios do mundo nao lhe conseguiram penetrar os segredos. 14 Ja viste, meu filho, durante inverno, na drvore adormecida, o botao apenas visivel? Cada botdéo é | 0 ainho de um rebento novo, de uma flor nova, de um | novo fruto, de uma arvorezinha nova. Os botdes aguar- dam s6 a caricia de um raio de Sol primaveril para | pela visita dos insetos de maio ou de um vento leve, confiam que as asas do vento, as patas das abelhas tragam © pélen masculine e 0 semeiem no pistilo de uma flor fémea. Quando o pdlen atinge o pistilo, as duas fléres nesse instante sfo unidas, pelo assim di- ‘t, por um amor reciproco. O pistilo fecundado co- mega a crescer ¢ a aumentar. Torna-se cada vez maior, cada vez mais desenvolvido, até que, finalmente — ao cabo de algumas semanas on de um par de meses — chegado 4 maturidade, cai dos pés um fruto ma- duro, © no frutto est& umia semente nova, germe de nova drvore, de nova vida. E’ assim que o Criador ida de que a natureza se renove continuamente a propria. A tonte da vida. E’ do mesmo jeito que éle quer velar também pela renovago, pela conservagéo da humanidade. Deu ao homem a férga criadora: forca misteriosa propria~ mente falando, faculdade realmente divina, em virtu- de da qual pode éle dar ao mundo uma vida nova, um homem novo. Colocon no homem uma forea ctia- dora, uma semente vital, e na mulher um germezinto humano, a fim de que da reunido dos dois surja um novo str vive, um nove homem. Essa {orga geradora, essa semente de vida e @sse gertme dormitam durante anos na crianca, sem que essa tenha disso consciéncia, como os botées das 4rvores durante o frio do inverno. 15 porem a abrir, a crescer, a florir; as flores esperam | Mas a primavera da vida chega, quando o me torna jovem, quando a menina se converte em donzela; o raio de Sol sorridente ¢ vivificador pée-se a brilhar, o jovem inflama-se de amor pela jovem, toma-a por esp0sa e, no santudrio da vida conjugal, verdadeira- mente unidos um ao outro, unem éles as duas almas ‘os dois corpos, E essa unio corporal, ésse amor que une os esposos, nfo s6 os enchem a ambos

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