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O homem no facebook lembra o homem dentro do automvel.

Sem ter que agir


com os olhos nos olhos do outro, acovarda-se quando bem lhe convm.
Escrevi que o automvel uma "caverninha de metal". Dentro dessa carcaa
metlica, sem ter que se dirigir humanamente ao prximo, a maioria dos
homens abrem as comportas de sua primitividade reprimida e mal sublimada.
No facebook semelhante: a distncia fsica substitui a carcaa de metal e os
vidros com pelculas escuras. A ausncia da relao "cara a cara" (marca
registrada da Modernidade Tardia) alimenta o desprendimento negativo.
Ningum sabe se eu vi ou no vi tal ou tal postagem de qual ou qual "amigo". O
homem em sua caverninha de distncias, de ausncias, pensa que , ali, na
rede social. E , parcialmente, parte do tempo. O que ele no desconfia que
pela espaonave o vrus aliengena (mais puro e belo que o humano, de acordo
com o androide) entra em seu corpo e alma e sacia hbitos hostis e negativos
de sua triste natureza humana (nossa triste humanidade, como escreveu Lima
Barreto). Mas sobrevivemos por aqui. Sobrevivemos ainda humanos? Como
reagir a esse "legado da nossa misria" (Machado de Assis)?

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