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PREVENDO A RECEITA LÍQUIDA DA PETROBRAS

COM O AUXÍLIO DO PREÇO DO PETRÓLEO.


( Texto escrito por Alisson Rocha da Silva1. Encontra-se disponível para visualização em:

http://alissonconsultoria.blogspot.com/2009/09/prevendo-receita-liquida-da-petrobras.html )

RESUMO
Este artigo objetiva fazer a previsão da Receita Líquida da Petrobras, empregando para
isto um modelo estatístico preditivo com o auxílio do preço do petróleo. Assim, é possível
fazer simulações – construções de cenários – e medir qual será a Receita Líquida de
acordo com diversos preços para o petróleo. Concluímos que, de fato, os resultados
financeiros da Petrobras são muito influenciados pelo preço do petróleo. Além disto, o
crescimento da produção da empresa – que espera atingir 5 milhões de bpd em 2020 –
aliado a alta nos cotações do petróleo sinalizam expansão da sua Receita Líquida para os
próximos anos.

Observações para o texto a seguir:


Bpd = Barris de petróleo por dia;
Receita Líquida é igual à Receita Bruta menos as deduções;
03T2008 = terceiro trimestre de 2008, 01T2009 = primeiro trimestre de 2009 e assim
sucessivamente.

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Alisson Rocha da Silva é Bacharel em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Dúvidas,
sugestões, etc., podem ser enviadas para o e-mail alisson.consultoria@gmail.com

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1 – A Petrobras: descrição da empresa e variáveis de interesse.

A Petrobras é uma sociedade anônima de capital aberto, com sede no Rio de Janeiro.
Classificada como grau de investimento, tem ações e recibos negociados em diversas bolsas
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de valores ao redor do mundo, inclusive São Paulo e Nova Iorque. Atua de forma integrada e
especializada nos seguintes segmentos da indústria de óleo, gás e energia: exploração e
produção; refino, comercialização, transporte e petroquímica; distribuição de derivados; gás
natural; biocombustíveis e energia elétrica. Criada em 1953, é hoje a 9ª maior companhia
petrolífera do mundo com base no valor de mercado e está presente em 27 países, além do
Brasil.
Um resumo do desempenho operacional da empresa encontra-se na tabela abaixo:

Tabela 1 – Resumo Operacional das atividades da Petrobras (2007 – 2008).

Fonte: Relatório Anual da Petrobras. Ano: 2008.

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A Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA) é a principal do Brasil. A BOVESPA calcula e divulga o chamado
Índice BOVESPA (IBOVESPA) que é o mais importante indicador do desempenho médio das cotações do mercado
brasileiro de ações. Dentre as diversas empresas que compõem o IBOVESPA, a Petrobras é a que possui maior
peso (18,348%).

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Operacionalmente, os anos de 2007 e 2008 foram bem parecidos para a empresa. A
produção média diária subiu pouco mais de 4% entre 2007 e 2008. O número de poços
produtores caiu de 14.194 para 13.174 unidades, o que, dado o aumento da produção, mostra
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o crescimento da produtividade média dos poços em operação. As reservas provadas
permaneceram praticamente estáveis na faixa de 15 bilhões de barris.
Um resumo do desempenho financeiro, por sua vez, é descrito na tabela abaixo:

Tabela 2 – Resumo Financeiro das atividades da Petrobras (2007 – 2008).

Fonte: Relatório Anual da Petrobras. Ano: 2008.

Financeiramente, a Petrobras apresentou uma boa evolução de 2007 para 2008. A


Receita Líquida passou de 170,578 bilhões de reais para 215,118 bilhões (alta de 26,11%); o
Lucro Líquido cresceu 53,34%, de R$ 21,512 bilhões para R$ 32,988 bilhões; o EBITDA
(também chamado, no Brasil, de LAJIDA) teve expansão de R$ 50,156 bilhões para R$ 57,170
bilhões.
Quando comparamos o desempenho operacional (tabela 1) versus o desempenho
financeiro (tabela 2), por que os resultados financeiros da Petrobras foram tão superiores aos
resultados operacionais? Possivelmente, há vários fatores por trás disto, mas o principal é que
o preço médio anual do barril de petróleo subiu de U$ 71,12 (em 2007) para U$ 97,03 (em
2008).
Como uma empresa do setor petrolífero, o preço do petróleo está entre as principais
variáveis de interesse da Petrobras. Desta forma, uma alta no preço do petróleo parece

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As reservas da chamada “camada pré-sal” ainda não tinham sido incorporadas no ano de 2008. Mais informações
sobre a mesma pode ser obtida em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u440468.shtml

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contribuir fortemente para o crescimento da Receita Líquida da empresa. Esse fato fica bem
visível no gráfico a seguir:

Gráfico 1 – Receita* Líquida e preço* do barril de petróleo (01T1998-01T2009).

* A receita líquida e o preço médio do barril de petróleo são para o período trimestral.
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IPEADATA.

No gráfico (1) vemos o quanto o preço do petróleo e a receita da Petrobras “andaram”


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juntos entre o primeiro trimestre de 1998 e o primeiro trimestre de 2009. A correlação linear
entre estas duas variáveis foi de 0,93 para o período em análise. Entretanto, outros fatores
também afetam os resultados financeiros de uma empresa petrolífera. A própria Petrobras
descreve que os principais riscos a que está submetida são: preço do petróleo e seus
derivados, a taxa de juros interna e externa e as taxas de câmbio.
Assim sendo, existem alguns períodos em que o preço do petróleo cai e a receita da
Petrobras sobe, e vice-versa. Isso fica mais evidente no gráfico abaixo:

Gráfico 2 – Dispersão: variação* da Receita Líquida trimestral da Petrobras versus variação


do preço do petróleo (01T1998 – 01T2009).

* variação percentual em escala decimal. Por exemplo: 0,2=20%


Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IPEADATA.

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Grosso modo, a correlação linear é um valor (entre -1 e 1) que mede o quanto duas variáveis variam juntas. No
entanto, correlação não deve ser analisada como causalidade, ou seja, nem sempre o fato de duas variáveis
“andarem” juntas significa que uma tem influência no comportamento da outra.

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No gráfico (2), a área cinza representa aquela na qual a variação do preço do petróleo e
a variação da Receita Líquida da Petrobras possuem o mesmo sinal (sobem ou caem juntos).
Como é de se esperar, é isto que ocorre na maioria das vezes, pois os pontos de dispersão –
representados pelas “cruzes vermelhas” – localizam-se, quase sempre, na área cinza, ou seja,
em boa parte dos trimestres, entre 1998 e o primeiro trimestre de 2009, a Receita Líquida da
Petrobras caiu nos períodos de enfraquecimento do preço do petróleo e subiu junto com a
cotação do mesmo.
Desta maneira, esta seção (1) mostrou como o preço do petróleo é uma variável chave
na hora de analisar e estimar as receitas das companhias petrolíferas e, especificamente, da
Petrobras.

2 – Previsão da Receita Líquida da Petrobras a partir do preço do petróleo.

É fundamental para qualquer empresa ter uma noção do quanto ela vai faturar em
determinado mês, trimestre ou ano. Melhor ainda é poder simular qual será o comportamento
do seu Resultado Financeiro de acordo com uma determinada variável de interesse.
Os analistas de mercado também precisam prever os resultados das empresas antes da
sua divulgação oficial, pois podem vender suas ações – caso esperem resultados abaixo do
esperado – ou comprá-las se os resultados esperados forem bons.
Nesta seção (2), iremos utilizar os dados entre o 01T1998 e o 02T2008 para ajustar um
modelo de previsão e os valores entre o 03T2008 e o 01T2009 para testar a precisão desse

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modelo. As previsões também incorporarão três diferentes preços médios para o petróleo: 60
dólares, 40 dólares e o preço efetivamente observado no respectivo trimestre.
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Assim, os cenários para a Receita Líquida da Petrobras, de acordo com os preços para
o petróleo anteriormente definidos, encontram-se na figura abaixo:

Figura 1 – Cenários para a Receita Líquida trimestral da Petrobras, de acordo com o preço do
petróleo.

Fonte: Elaboração própria. Resultados estimados no software Gretl6.

Os números nos retângulos verdes correspondem às previsões para as Receitas


considerando o preço médio trimestral do petróleo em U$ 60,00; os números nos retângulos
vermelhos são as previsões para as Receitas considerando o preço médio trimestral do
petróleo em U$ 40,00; por fim, nos retângulos azuis estão as Receitas calculadas de acordo
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com o preço médio trimestral do petróleo observado para aquele período.
Assim sendo, o modelo prevê que, para um preço médio do petróleo em U$ 60,00, a
Receita líquida da Petrobras seria de R$ 53.184.204.000 (no 03T2008), R$ 48.698.412.000 (no
04T2008) e R$ 46.355.940.000 (no 01T2009). Por sua vez, em um cenário com preço médio
do petróleo em U$ 40,00 a Receita líquida seria R$ 49.057.812.000 (no 03T2008), R$
44.920.058.000 (no 04T2008) e R$ 42.759.331.000 (no 01T2009). Como era de se esperar em
uma companhia do setor petrolífero, quanto menor o preço médio do petróleo, menores são as
Receitas previstas para a empresa.
Anteriormente, dissemos que é importante ter uma estimativa sobre o resultado trimestral
de uma empresa antes da sua divulgação oficial. Essa é uma das atribuições dos analistas de

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Neste artigo, chamamos de cenário o comportamento da Receita Líquida da Petrobras de acordo com
determinada cotação do petróleo e determinado trimestre do ano.

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Site: http://gretl.sourceforge.net/gretl_portugues.html

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O preço médio do petróleo foi de U$ 115,47 no terceiro trimestre de 2008, U$ 56,08 no quarto trimestre de
2008 e U$ 44,2 no primeiro trimestre de 2009. Fonte: IPEADATA.

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mercado que são os profissionais responsáveis por estudar determinadas empresas – ou
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setores – e definir se é uma boa hora de investir naquela empresa/setor. As nossas previsões
para os resultados trimestrais da Petrobras estão na tabela a seguir:

Tabela 3 – Receita líquida observada versus estimada (03T2008 – 01T2009)


preço médio do Receita observada Receita estimada
Período petróleo (em U$) (em R$) (em R$) Diferença (em %)
03T2008 115,47 67.459.568.000 60.591.974.000 -10,18%
04T2008 56,08 46.197.176.000 48.048.621.000 4,01%
01T2009 44,2 42.595.572.000 44.920.058.000 5,46%
Fonte: Elaboração própria. Resultados estimados no software Gretl.

Na tabela (3), levamos em consideração o preço médio do petróleo efetivamente


observado em cada trimestre para estimar a Receita Líquida trimestral. Feitos os cálculos,
chegou-se a uma Receita estimada em R$ 60.591.974.000 (no 03T2008), R$ 48.048.621.000
(no 04T2008) e R$ 44.920.058.000 (no 01T2009). Isso representa uma diferença de -10,18%
em relação ao valor observado no terceiro trimestre de 2008, 4,01% em relação ao quarto
trimestre de 2008 e 5,46% quando comparamos o estimado e o observado no primeiro
trimestre de 2009.
O quão boas são estas previsões? Analisando-as, individualmente, o maior erro foi
subestimar a Receita em 10,18% no terceiro trimestre de 2008 e o menor erro foi superestimar
em 4,01% a Receita no quarto trimestre de 2008. Somando as três Receitas estimadas na
tabela (3), chegamos ao valor R$153.560.653.000 versus R$ 156.252.316.000 quando são
somadas as três Receitas observadas, ou seja, uma diferença de -1,72%. Desta forma, um
modelo de previsão como o aqui utilizado nos parece adequado para ajudar os analistas de
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mercado – e demais profissionais interessados – a terem uma boa noção a respeito do
comportamento da Receita Líquida da Petrobras em determinado trimestre.
Assim, vimos nesta seção (2) como um modelo estatístico pode ser utilizado para, dados
determinados preços de interesse para a atividade de uma empresa, prever as Receitas – ou
outras variáveis – da mesma.

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A lista dos profissionais que cobrem a Petrobras encontra-se disponível em:
http://www2.petrobras.com.br/ri/port/ConsensoMercado/AnalistasCobrem.asp

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Convém lembrar que as Receitas calculadas na tabela (3) foram estimadas de acordo com o valor do preço médio
do petróleo efetivamente observado nos respectivos trimestres.

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Vale dizer que é muito difícil ter uma precisão de 100% – ou algo próximo a isso – nas previsões, pois as Receitas
da Petrobras são afetadas por outras variáveis além do preço do petróleo.

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3 – Conclusão: A expansão na produção da empresa e o aumento no preço do petróleo
serão decisivos para que as Receitas da Petrobras continuem a crescer.

A conclusão deste artigo reflete tudo que foi exposto nas seções (1) e (2). A continuidade
do bom rendimento que a Petrobras teve nos últimos anos dependerá da manutenção dos
mesmos fatores que a levaram a ter esse desempenho: aumento na produção e continuidade
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da alta no preço do petróleo. A boa notícia é que a Petrobras tem como meta produzir 5
milhões de bpd em 2020, mais do que o dobro do patamar atual de 2,4 milhões de bpd. No
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tocante ao preço, o Departamento de Energia Americano estima que o barril de petróleo
esteja cotado entre 50 e 184 dólares em 2020.
Mesmo no cenário “pessimista” para os preços do petróleo, a Receita Líquida da
Petrobras irá, muito provavelmente, dobrar de valor e ultrapassar os R$ 400 bilhões por ano.
Para que se possa comparar, em 2008, a Receita Líquida anual da Petrobras foi de R$ 215
bilhões.
Esse quadro, que se mostra bastante favorável, sinaliza que o setor petrolífero brasileiro
– como um todo – continuará sendo um dos principais responsáveis pelo crescimento do
Produto Interno Bruto do Brasil. Por sua vez, no cenário descrito acima (produção de 5 milhões
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de bpd e preço entre 50 e 184 dólares), a Petrobras poderá atingir a sua meta de estar entre
as cinco maiores empresas integradas de energia do mundo no ano de 2020.

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Fonte: Plano de Negócios 2009-2013, Petrobras.
Disponível em: http://www2.petrobras.com.br/ri/port/ConhecaPetrobras/EstrategiaCorporativa/pdf/PN_2009-
2013_Port.pdf

12
Fonte: http://www.eia.doe.gov/oiaf/aeo/pdf/appc.pdf

13
Fonte: http://www2.petrobras.com.br/Petrobras/portugues/visao/vis_index.htm

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